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O VELHO O RAPAZ E O BURRO
 
Era uma vez um velho que tinha um neto e um burro. Um dia teve que ir com o seu neto até à aldeia. Mas como ficava ainda um pouco distante da sua velha casinha, decidiu levar o rapaz montado no seu burro.
 
E quando iam a caminho, cruzaram-se com uns homens que disseram: —  Parece impossível que o rapaz que é novo vá montado no burro e o velho, coitado, meio trôpego, vai a pé! O velho ficou incomodado com este comentário e decidiu trocar com o seu neto. Assim sentia-se muito mais tranquilo e melhor com a sua consciência.
 
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Continuaram o seu caminho e, ao chegarem a uma fonte onde decidiram ir matar a sua sede, encontraram duas mulheres que aí enchiam os seus cântaros e que, mal viram o velho em cima do burro, apressaram-se a comentar:
—  Devia ter vergonha, seu velho mandrião! Então o seu neto é que vai a pé, um rapazinho ainda de tenra idade? O velho ficou outra vez surpreendido, mas agora sem saber o que fazer. Pensou um pouco e achou que o melhor era os dois irem em cima do burro.
Assim fez e prosseguiram em direcção à aldeia. Passaram por um campo onde um homem que juntava o feno para os animais, ao vê-los, disse:
—  Ó compadre, coitado do animal! A carregar com duas pessoas! Por amor de Deus, dê-lhe algum descanso, alivie-lhe os costados! E, desesperado, o velho disse ao rapaz: —  Ó meu rapaz, agora é que eu não sei o que fazer! Dá-me uma ideia, ajuda-me a calar esta gente
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Ficou contente o avô. Agora tinham encontrado a solução. Era impossível que alguém comentasse também esta atitude do velho e do rapaz. Estavam já a chegar à aldeia, quando dois homens que seguiam numa carroça se atreveram a dizer:
—  Estes dois endoideceram! Em vez de irem descansados em cima do burro, vão a pé e assim o burro não se cansa!
Depois de ouvir isto, disse o avô ao neto: —  Sabes uma coisa, meu rapaz, o melhor que temos a fazer é não darmos ouvidos ao que dizem os outros, pois vai haver sempre alguém a criticar as nossas opções, por melhor que nós as achemos Para a todos agradar Foi fazendo o que ouvia. E só no fim percebeu Que a sua razão é que valia. FIM
 
O VELHO; O RAPAZ E O BURRO Tradução do original de La Fontaine feita por Curvo Semedo (poeta do séc. XIX)

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O velho, o rapaz e o burro expresso

  • 1. O VELHO O RAPAZ E O BURRO
  • 2.  
  • 3. Era uma vez um velho que tinha um neto e um burro. Um dia teve que ir com o seu neto até à aldeia. Mas como ficava ainda um pouco distante da sua velha casinha, decidiu levar o rapaz montado no seu burro.
  • 4.  
  • 5. E quando iam a caminho, cruzaram-se com uns homens que disseram: — Parece impossível que o rapaz que é novo vá montado no burro e o velho, coitado, meio trôpego, vai a pé! O velho ficou incomodado com este comentário e decidiu trocar com o seu neto. Assim sentia-se muito mais tranquilo e melhor com a sua consciência.
  • 6.  
  • 7.
  • 8. Continuaram o seu caminho e, ao chegarem a uma fonte onde decidiram ir matar a sua sede, encontraram duas mulheres que aí enchiam os seus cântaros e que, mal viram o velho em cima do burro, apressaram-se a comentar:
  • 9. — Devia ter vergonha, seu velho mandrião! Então o seu neto é que vai a pé, um rapazinho ainda de tenra idade? O velho ficou outra vez surpreendido, mas agora sem saber o que fazer. Pensou um pouco e achou que o melhor era os dois irem em cima do burro.
  • 10. Assim fez e prosseguiram em direcção à aldeia. Passaram por um campo onde um homem que juntava o feno para os animais, ao vê-los, disse:
  • 11. — Ó compadre, coitado do animal! A carregar com duas pessoas! Por amor de Deus, dê-lhe algum descanso, alivie-lhe os costados! E, desesperado, o velho disse ao rapaz: — Ó meu rapaz, agora é que eu não sei o que fazer! Dá-me uma ideia, ajuda-me a calar esta gente
  • 12.
  • 13.  
  • 14. Ficou contente o avô. Agora tinham encontrado a solução. Era impossível que alguém comentasse também esta atitude do velho e do rapaz. Estavam já a chegar à aldeia, quando dois homens que seguiam numa carroça se atreveram a dizer:
  • 15. — Estes dois endoideceram! Em vez de irem descansados em cima do burro, vão a pé e assim o burro não se cansa!
  • 16. Depois de ouvir isto, disse o avô ao neto: — Sabes uma coisa, meu rapaz, o melhor que temos a fazer é não darmos ouvidos ao que dizem os outros, pois vai haver sempre alguém a criticar as nossas opções, por melhor que nós as achemos Para a todos agradar Foi fazendo o que ouvia. E só no fim percebeu Que a sua razão é que valia. FIM
  • 17.  
  • 18. O VELHO; O RAPAZ E O BURRO Tradução do original de La Fontaine feita por Curvo Semedo (poeta do séc. XIX)