1. Auto-Hemoterapia
Pode o teu próprio sangue te curar?
Coletânea de artigos e entrevistas reunidos através de pesquisa em artigos, livros e páginas
da Internet em alguns países.
2. Entendendo o sistema imunológico.
Este texto está na comunidade medicina entegrativa 20/03/2006 11:40
O sistema imunológico combate microorganismos invasores e é responsável pela "limpeza" do
organismo, ou seja, a retirada de células mortas, a renovação de determinadas estruturas, rejeição
de enxertos, e memória imunológica. Atua contra células alteradas, que diariamente surgem no
nosso corpo, como resultado de mitoses anormais. Essas células, se não forem destruídas, podem dar
origem a tumores.
Células do sistema imune se organizam como um exército. Cada tipo de célula age de acordo com
sua função. Algumas são encarregadas de receber ou enviar mensagens de ataque, ou
mensagens de supressão (inibição), outras apresentam o "inimigo" ao exército do sistema imune,
outras só atacam para matar, outras constroem substâncias que neutralizam os "inimigos" ou
neutralizam substâncias liberadas pelos "inimigos".
Além dos leucócitos, também fazem parte do sistema imune as células do sistema mononuclear
fagocitário, (SMF) antigamente conhecido por sistema retículo-endotelial e mastócitos. As primeiras
são especializadas em fagocitose e apresentação do antígeno ao exército do sistema imune. São
elas: macrófagos alveolares (nos pulmões), micróglia (no tecido nervoso), células de Kuppfer (no
fígado) e macrófagos em geral.
Os mastócitos são células do tecido conjuntivo e sua principal função é armazenar potentes
mediadores químicos da inflamação, como a histamina, heparina, ECF-A (fator quimiotáxico - de
atração- dos eosinófilos) e fatores quimiotáxicos (de atração) dos neutrófilos. Elas participam de
reações alérgicas (de hipersensibilidade), atraindo os leucócitos até o local e proporcionando
uma
vasodilatação.
nosso organismo 20/03/2006 11:41
O nosso organismo possui mecanismos de defesa que podem ser diferenciados quanto a sua
especificidade, ou seja, existem os específicos contra o antígeno ("corpo estranho") e os
inespecíficos que protegem o corpo de qualquer material ou microorganismo estranho, sem
que este seja específico.
O organismo possui barreiras naturais que são obviamente inespecíficas, como a da pele
(queratina, lipídios e ácidos graxos), a saliva, o ácido clorídrico do estômago, o pH da
vagina, a cera do ouvido externo, muco presente nas mucosas e no trato respiratório, cílios
do epitélio respiratório, peristaltismo, flora normal, entre outros. Se as barreiras físicas,
químicas e biológicas do corpo forem vencidas, o combate ao agente infeccioso entra em
outra fase. Nos tecidos, existem células que liberam substâncias vasoativas, capazes de
provocar dilatação das arteríolas da região, com aumento da permeabilidade e saída de
líquido. Isso causa vermelhidão, inchaço, aumento da temperatura e dor, conjunto de
alterações conhecido como inflamação. Essas substâncias atraem mais células de defesa,
como neutrófilos e macrófagos, para a área afetada.
3. Biblioteca de Doenças
Auto-Hemoterapia
Dr. Luiz Moura
Prof. Dr. José de Felippe Junior
Dra Berenice Wilke
Definição
É um recurso terapêutico de baixo custo, simples que se resume em retirar sangue de
uma veia e aplicar no músculo, estimulando assim o Sistema Retículo-Endotelial,
quadruplicando os macrófagos em todo organismo.
LuizMoura
Sumário
A técnica é simples: retira-se o sangue de uma veia comumente da prega do cotovelo e aplica-
se no músculo, braço ou nádega, sem nada acrescentar ao sangue. O volume retirado varia de
5ml à 20ml, dependendo da gravidade da doença a ser tratada. O sangue, tecido orgânico,
em contato com o músculo, tecido extra-vascular, desencadeia uma reação de rejeição do
mesmo, estimulando assim o S.R.E. A medula óssea produz mais monócitos que vão colonizar
os tecidos orgânicos e recebem então a denominação de macrófagos. Antes da aplicação do
sangue, em média a contagem dos macrófagos gira em torno de 5%. Após a aplicação a taxa
sobe e ao fim de 8h chega a 22%. Durante 5 dias permanece entre 20 e 22% para voltar aos 5%
ao fim de 7 dias a partir a aplicação da auto-homoterapia. A volta aos 5% ocorre quando não há
sangue no músculo.
As doenças infecciosas, alérgicas, auto-imunes, os corpos estranhos como os cistos
ovarianos, miomas, as obstruções de vasos sanguíneos são combatidas pelos macrófagos,
que quadruplicados conseguem assim vencer estes estados patológicos ou pelo menos,
abrandá-los. No caso particular das doenças auto-imunes a autoagressão decorrente da
perversão do Sistema Imunológico é desviada para o sangue aplicado no músculo,
melhorando assim, o paciente.
Histórico
Em 1911, F. Ravaut registra: modo de tratamento auto (uno mismo, haima – sangra)
empregado em diversas enfermidades infecciosas, em particular na febre tifóide e em
diversas dermatoses. Ravaut usa a auto-hemoterapia em certos casos de asma, urticária e
estados anafiláticos (dicionário enciclopédico de medicina, T.1 de L. Braier).
Em 1941 o Dr. Leopoldo Cea, no Dicionário de Términos Y Expressiones Hematológica, pg
37, cita: auto-hemoterapia, método de tratamento que consiste em injetar a um indivíduo
cierta, cantidad de sangre total (suero Y glóbules) tomada de este mismo indivíduo.
4. H. DOUSSET – AUTO HEMOTERAPIA – Técnicas indispensáveis. E útil em certos casos para
dessensibilizações – 1941.
WWW.MEDICINAINTERATIVA.NET
COMUNIDADE NO ORKUT: AUTO_HEMOTERAPIA
Stedman - Dicionário Médico - 25a edição - 1976 - pág 129 - Auto-hemotherapy - auto-
hemoterapia - tratamento da doença pela retirada e reinjeção do sangue do próprio
paciente. '
1977 - Index Clínico - Alain Blacove Belair - auto-hemoterapia - terapêutica de
dessensibilização não específica.
Entretanto foi o professor Jesse Teixeira que provou que o S.R.E era ativado pela auto-
hemoterapia em seu trabalho publicado e premiado em 1940 na Revista Brasil - Cirúrgico, no
mês de Março. Jesse Teixeira provocou a formação de uma bolha na coxa de pacientes,
com cantárida, substancia irritante. Fez a contagem dos macrófagos. antes da auto-hemoterapia,
a cifra foi de 5%. Após a auto-hemoterapia a cifra subiu a partir da 1a hora chegando após 8
horas a 22%. Manteve-se em 22% durante 5 dias e finalmente declinou para 5% no 7° dia após
a aplicação.
Ação Terapêutica
Entre 1943 e 1947, quando cursava a Faculdade Nacional de Medicina apliquei a auto-
hemoterapia cumprindo ordem de meu pai, Professor Pedro Moura, nos pacientes que ele
operava na Casa de Saúde S. José no Rio de Janeiro. A primeira aplicação era feita na
residência do paciente e a 2a , 5 dias depois na Casa de Saúde no quarto do paciente e era
sempre de 10ml.
A finalidade da aplicação era evitar infecção ou outra complicação infecciosa pulmonar, já a
anestesia na época era em geral com éter que irritava bastante os pulmões. O
cirurgião geral, Dr. Pedro Moura adotou este método face ao sucesso do Professor Jesse
Teixeira que registrou em 150 cirurgias as mais variadas, 0% de complicações infecciosas post-
operatórias em 1940.
Depois de formado continuei a aplicar a auto-hemoterapia apenas em casos de acne
juvenil e algumas dermatoses de fundo alérgico.
5. Entretanto, devo ao Dr. Floramante Garófalo, em 1976, quando este tinha então 71 anos,
conhecimento que resultou em mais abrangência da ação terapêutica da auto-
hemoterapia. Em março de 1976 o Dr. Garófalo queixou-se de fortes câimbras em sua
direita quando caminhava mais de 100 metros.
Sugeri ao colega que procurasse o angiologista, Dr. Antonio Vieira de Melo. Este decidiu fazer
arteriografia da femural direita sendo constatada obstrução de cerca de 10cm ao nível do
terço médio da coxa direita. O angiologista disse ao Dr. Garófalo que resolveria o problema com
uma prótese que substituiria o segmento da artéria femural obstruída.
O Dr. Garófalo disse ao angiologista que "não quero me tornar um homem biônico, amanhã
terei outra artéria obstruída e terei que colocar novas próteses". Vou resolver o problema com a
auto-hemoterapia.
Eu então me ofereci para fazer as aplicações. Durante 4 meses, de 7 em 7 dias aplicava 10 ml
de sangue no Dr. Garófalo que então decidiu se submeter à nova arteriografia de femural direita,
já que podia caminhar normalmente, porém o Dr. Antonio Vieira de Melo acreditava que era
impossível que a artéria estivesse livre da obstrução atribuíndo a melhora à sugestão. Repetida
a arteriografia, não havia mais nenhuma obstrução na femural direita. Foi então que o Dr.
Garófalo me presenteou com os trabalhos de Jesse Teixeira, de 1940 e de Ricardo Veronesi, de
1976. O estímulo do S.R.E. comprovado por Jesse Teixeira e as ações deste bem explicados no
trabalho de Ricardo Veronesi explicavam a desobstrução da artéria femural de Garófalo e
abriam um enorme campo no tratamento das doenças auto-imunes.
Em setembro de 1976 internou-se na Clínica Medica do Hospital Cardoso Fontes uma
paciente cujo diagnóstico foi esclarecido pela consultora dermatológica da Clínica, Dra.
Ryssia Alvares Florião. Feitas as biópsias nas mamas, abdômen e coxa de A.S.O. (F) - 52
anos, encaminhadas estas à patologista do Hospital, Dra. Glória de Morais Patello, o
diagnóstico foi: esclerodermia, fase final.
A Dra. Ryssia que tinha sido residente em Clínica Dermatológica nos Estados Unidos da
América, em Nova York para onde convergiam os pacientes com E. S. P., disse que pouco
podia fazer pela paciente, pois aquela Clínica era nada mais que um depósito de
esclerodérmicos"
Iniciei o tratamento da paciente com E.S.P., no dia 10/09/1976. Para provocar o desvio
imunológico e assim aliviar a paciente apliquei. 5ml de sangue em cada deltóide e 5m em
cada glúteo, de 5 em 5 dias. A paciente já não caminhava há 8 meses e não deglutia
sólidos, só líquidos, devido a estenose do esôfago. Dia 10/10/1976 a paciente saia
andando do Hospital, com alta melhorada assinada pela Dra. Ryssia.
A paciente continuou o tratamento com a dose reduzida para 10 ml de sangue por semana. Em maio
de 1977 a paciente A.S.O. foi reinternada para avaliação, sendo constatada grande
melhora em relação ao dia 10/10/1976 quando teve alta no ano anterior.
6. Surgiu na ocasião um concurso patrocinado pelo Laboratório Roche – Hospital Central da
Aeronáutica. Redigimos então um trabalho minuciosamente documentado tanto com exames
complementares como também com fotografias em slides da paciente em setembro de 1976
e maio de 1977. O concurso cujo tema era originalidade não publicou o trabalho.
A partir deste caso em que a auto-hemoterapia comprovou ser poderosa arma terapêutica
em doenças auto-imunes passei a aplicá-la também em doenças alérgicas com excelente
resultado. Apresentarei resumidamente alguns casos que merecem destaque:
• 1980 – M. das G.S. – 28 anos, funcionária da Petrobrás. Diagnóstico esclerodermia
sistêmica progressiva – Decisão da chefia médica da Petrobrás – aposentar a
paciente. Há 22 anos vem se tratando com a auto-hemoterapia. Está assintomática e
deverá se aposentar em 2005 por tempo de serviço.
• 1980 – G.S.M. (F) 55 anos – Diagnóstico – MIASTENIA GRAVIS pelo Instituto de
Neurologia – Av. Pasteur – RJ. A paciente atualmente, embora com a doença, vive
normalmente, toma ônibus. É a única paciente que sobrevive entre aquelas
diagnosticadas em 1980 como miastenia gravis, no Instituto de Neurologia
• 1982 - J da SR (M) 30 anos - diagnóstico - Doença de CROHN - Tratou-se com a
auto-hemoterapia de 10ml semanais durante 1 ano. Até a data atual nenhum
sintoma teve da moléstia que o acometeu em 1982.
• 1990 - M. da RS (M) 22 anos - Doença de CROHN - Curiosamente a moléstia
começou após o paciente ser assaltado, quando na ocasião fazia o vestibular para
Odontologia. Prescrevi a auto-hemoterapia que foi aplicada pelo próprio pai do
paciente. Até hoje assintomático.
• 1997 - RS (F) 35 aos - Diagnóstico - L.E.S - A auto-hemoterapia permitiu à paciente
ter vida normal, viajando para o exterior com crianças de rua que ela ensina a bailar.
• Em 1978, minha filha que vive na Espanha tinha ovários policísticos, não ovulava,
era estéril. Solicitei ao Dr. Pedro - ginecologista e obstetra - que fizesse a auto-
hemoterapia de l0 ml semanais.
• Após 6 meses ela engravidou, e repetido o exame com insuflação tubária, já não
haviam mais cistos. O Dr Pedro fez o parto de meus netos, um casal hoje com 20 e
21 anos respectivamente e prosseguiu aplicando DIU ao longo de 20 anos a fim de
evitar gravidez indesejada.
• 1390 - M.D.C. - 24 anos (F) - A paciente começou a apresentar petequias e
epistaxis frequentes. Quando apresentou otorragia foi encaminhada a um
hematologista que diagnosticou como púrpura trombocitopênica. Durante 6
meses foi tratada com corticoesteróides em altas doses, até que estes não mais
surtiram efeito e as plaquetas baixaram para 10.000mm3 de sangue. O
hematologista decidiu usar quimioterápico conseguindo a elevação das plaquetas
para níveis quase normais durante 2 meses. Os quimioterápicos não surtiram mais
efeito e a paciente foi encaminhada para um cirurgião para se submeter à
esplenectomia. A paciente se recusou quando o cirurgião não garantiu que o fígado
7. assumiria a função do baço. A paciente me procurou e eu mandei aplicar a auto-
hemoterapia. As plaquetas se normalizaram, a paciente depois teve mais 2 filhos,
e vive vida normal com o seu baço.
• 1982 - M - (F) - A paciente aluga cavalos para turistas em Visconde de Mauá. Foi
picada por uma aranha armadeira em sua perna direita, que gangrenou, ficando
exposta a tíbia. Foi internada na Sta. Casa de Rezende onde foi decidida a
amputação. Já na mesa de cirurgia a paciente decidiu que não aceitava a
amputação da perna, como preconisava o instituto Butantã para estes casos.
Assinou termo de responsabilidade e foi liberada. Me procurou e eu institui a auto-
hemoterapia e a lavagem da ferida com solução de cloreto de magnésio como fazia
Pierre Delbet, cirurgião na guerra de 1914 a 1918. Em 20 dias a paciente estava
curada, trabalhando com sua perna até hoje.
8. VOL. II MARÇO DE 1940 N U M: 3
B R A S I L - C I R U R G I C O
ORGÃO OFICIAL DA SOCIEDADE MEDICO - CIRÚRGICA DO HOSPITAL
GERAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO RIO DE JANEIRO
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HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO — Rio de Janeiro
Serviço Daniel de Almeida
"COMPLICAÇÕES PULMONARES POST-
OPERATORIAS" ( 1 )
CONTRIBUIÇÃO A´ SUA PROPHYLAXIA
Pelo DR. JÉSSE TEIXEIRA.
Com o intuito de contribuir para o estudo das complicações pulmonares post-
operatorias, principalmente no que se refere á sua prophylaxla, apresentamos aqui o
relato de nossas conclusões, baseadas em 150 casos, dos quaes cerca de 60% observados
no Hospital de Prompto Soccôrro.
A circumstancia de ser o Hospital de Prompto Soccôrro, estrictamente, um
hospital de urgência, confere ao methodo preventivo, que empregamos, segura garantia
de efficacia e utilidade. Sabem todos que os imperativos da cirurgia de urgência afastam
qualquer cuidado pre-operatorio, ficando asslm os doentes desamparados, ante a ameaça
da complicação pulmonar post-operatoria, uma vez que a tão decantada vaccina anti-
bronchopneumonica é de uma fallibilidade comprovada.
_______________________
(1) — Trabalho premiado pela Sociedade Acadêmica de Medicina e Cirurgia — premio de
Cirurgia de 1939.
9. V — PROPHYLAXIA
Fora do ambito da cirurgia de urgência, são numerosos os meios prophylatlcos
das complicações pulmonares post-operatorias (eleição do doente e da anesthesia, cura
de catharros das vias respiratórias, saneamento da bocca, prevenção de resfriamentos,
exercícios respiratórios, inhalações de carbogenio, etc.). Todos, aliás, muito precários.
Para a prophylaxla destas complicações ha, comtudo, um recurso, que,
segundo as observações do seu autor e as nossas próprias, ao que parece únicas em
nosso meio, é da mais alta valia, podendo ser vantajosamente empregado, quer na
cirurgia de urgência, quer nos casos em que o doente pode ser preparado.
Trata-se da autohemotransfusão de 20 cc. logo após a operação; estando o
doente ainda na mesa de operação, retiram-se 20 cc. de sangue de uma veia da prega do
cotovello, que são immediatamente injectados na nádega.
Baseamo-nos em 150 observações (1) das quaes, a maioria, pertencentes á
cirurgia de urgência, através dos casos passados pelo Serviço "Daniel de Almeida" a
cargo do Dr. JORGE DORIA, no Hospital de Prompto Soccôrro.
Deixamos de publicar aqui grande numero .de observações também favoráveis á
utilidade do methodo, que foram feitas por collegas nossos nos seguintes serviços : 13.a
Enfermaria da Santa Casa (Serviço do Dr. DARCY MONTEIRO) pelo doutorando CARLOS
TEIXEIRA, serviço do Dr. G. ROMANO (Hospital da Gambôa) pelo doutorando OSCAR DE
FIGUEIREDO BARRETTO e Serviço Chapôt-Prevost (Hospital de Prompto Soccôrro) a
cargo do Dr. DARCY MONTEIRO, pelo doutorando MONTEIRO DE FIGUEIREDO.
_______________________
(1) — Agradecemos a intelligente e proveitosa collaboração do Dr. Annibal Luz, distincto
collega e amigo de todas as horas.
Março – 1940
10. COMPLICAÇÕES PULMONARES POST-OPERATORIAS
Foi-nos suggerida a attenção a o assumpto em fins de 1937, pelo jovem e brilhante
docente Dr. SYLVIO D'AVILA, que chefiava a 12.a enfermaria da Santa Casa, de que éramos
interno, sendo as primeiras 60 observações alli colhidas.
A suggestão do nosso chefe de então se prendeu a um artigo publicado no
"The American Journal of Surgery" (May, 1936 —pag. 321), intitulado
"Autohemotransfusion in Preventing Postoperatlve Lung Complications" e assignado por
MICHAEL W. METTENLEITER (cirurgião do Post-Graduate Hospital, de Nova York).
METTENLEITER, considerando os excellentes resultados do processo, como
methodo curativo das pneumonias post-operatorias declaradas, onde foi aconselhado por
VORSCHUTZ, reslveu empregal-o, como prophylatico, em 300 casos de sua clinica
particular e não teve uma só complicação pulmonar, a não ser pequena área
thrombótica em um pulmão, cinco dias após a operação.
Antigamente, o emprego da autohemotransfusão se submettia ás influencias
fecundas, nas anti-scientificas do empirismo. Hoje, porém, temos uma explicação
razoavelmente clara e perfeitamente acceitavel de sua acção. Quando o sangue
empregado fora de sua situação normal, no apparelho circulatório, elle se torna uma
substancia completamente differente para o organismo.
O sangue extrahido por puncção venosa é um sangue asphyxico que, por curto
lapso, se põe em contacto com um corpo extranho (seringa), o que é sufficiente para
provocar modificações na sua physico-chimica e, por isso, injectado no organismo, actua
como si fora uma proteína extranha. De todos, é conhecido o effeito estimulante das
proteínas paren-teraes sobre o systema sympathlco e o para-sympathlco, pelo que
occorrem reacções vaso-motoras e teciduaes em todo o organismo.
WIDAL observou accentuada diminuição dos leucocytos em todo o systema
vascular perlpherico. Porém, mais tarde, MULLER e PETERSEN demonstraram que essa
diminuição peripherica corresponde a um aumento destas cellulas nos órgãos
abdominaes, e consequentemente, a um incremento nas funcções orgânicas, particularmente do
fígado, accelerando-se a secreção biliar e os processos de desintoxicação. Nenhum efeito sobre
o systema vaso-motôr, sangue ou tecidos se observa nos órgãos cuja innervação autonoma
foi supprimida antes da injecção.
O sistema retlculo-endothelial de ASCHOFF-LANDAU também é poderosamente
estimulado pela autohemotransfusão.
As seguintes experiências provam essa affirmação:
11. a) — um emplastro de cantharidas, collocado sobre a pelle da coxa, determina a
formação de pequena vesícula. Pois bem, si aspirarmos o conteúdo dessa vesícula num
tubo em U e o centrifugarmos, depois de sêcco e corado, a contagem differencial nos
revelará uma incidência de monocytos por volta de 5 % (os monocytos são os
representantes no sangue circulante do S. R. E.). Após a autohemotransfusão, a cifra
de monocytos, no conteúdo da vesícula, se eleva, em oito horas para 22 % e, após 72
horas, ainda ha 20 %, cahindo a curva gradualmente para voltar ao normal, no fim de sete
dias;
b) — pela prova do Vermelho Congo se evidencia a capacidade de armazenar
corantes do S. R. E. — essa capa cidade accentua-se consideravelmente após a injecção de
sangue;
c) — outro test utiliza a determinação do índice bactericida dos humores,
segundo o methodo de WRIGHT. Após a injecção, o índice mostra um accrescimo, que,
dentro de oito horas, chega a um máximo de 15 a 20 valores normaes. Como
a elevação dos monocytos, a elevação do índice bactericida dos humores prova a
estimulação dos poderes defensivos do organismo, através do S. R. E. ou melhor, para
ceder aos impulsos de um são nacionalismo, sem desattender ás exigências
da boa sciencia, através do systema angio-histio-lacunar de PÓVOA - BERARDINELLI (o
alveolo pulmonar é parte integrante do systema lacunar).
Para os que acceitam as idéas de PIERRE DUVAL, podemos concluir que a
autohemotransfusão actua como elemento desensibilizante, contra a aggressão dos
polypeptidios, que só agem em indivíduos sensibilizados.
Finalmente, estamos inclinados a acceitar a efficacia da autohemotransfusão nas
complicações da tuberculose, visto como ella parece remediar a phase de inferioridade
ou anergia, que a intervenção cirúrgica desperta nos tuberculosos.
A propósito da desprezível quantidade de sangue, que se accumula na ferida
operatória, suggeriu-se que a observação deste sangue poderia tornar uma addicional
autotransfusão desnecessária.
São de METTENLEITER as seguintes palavras : "as alterações physico-chimicas,
na totalidade do sangue e do soro, são tão delicadas e occorrem tão rapidamente, que
nenhuma comparação pôde ser feita entre o sangue retirado de uma veia e reinjectado
intramuscularmente e o sangue accumulado numa ferida para ser absorvido; estes dois
processos são inteiramente differentes".
O sangue tem sobre os outros agentes proteino-therapicos, além das vantagens
de commodidade e economia, a de que a sua absorpção se faz mais promptamente.
12. Para terimnar, em vista dos nossos excellentes resultados, que confirmam
amplamente as verificações de METTENLEITER, podemos fazer nossas as suas palavras :
"as complicações pulmonares podem surgir, com qualquer espécie ou methodo de
anesthesia, mas a ausência de accommettimentos pulmonares, em nossa série, prova que a
autohemotransfusão e não o typo de anesthesia, responde pelos bons resultados".
Casuística — 150 casos.
1) — intervenções :
Appendicectomias............................................................... 56
C. R. hérnia inguinal ....................................................... 29
Laparatomias exploradoras .............................................. 11
C. R. hérnia inguinal estrangulada .................................. 7
Gastrectomias ...................................................................... 5
Fistulotomias........................................................................ 5
Hemorrholdectomias ............................................................ 5
Inversões da vaginal .......................................................... 5
Sepultamento de ulceras gastro-duodenaes perfuradas.... 4
Operação de Ivanissevitch................................................. 3
Operação de Ombredanne (ectopia testicular) ............ 3
Emasculações totaes............................................................. 3
Anus ilíacos .......................................................................... 3
C. R. hérnias cruraes estranguladas................ .............
Resecções intestinaes .. ........................................ ..............
Exerese de kysto dermoide................................. .............
Salpingectomia ...................................................... ............. 2
Exerese de kystos torcidos do ovário ............. .............
C. R. de fremia umbilical estrangulada......... .............
Amputações de membros .................................... .............
14. Hydroceles da vaginal ............................ ........... .............. 5
Ectopias testiculares .........................................................
Ulceras duodenaes....................... ..................................... 4
Ulceras gastro-duodenaes perfuradas ...........................
Varicoceles ...........................................................................
Epithelíomas do penis ...................................... ................
Canceres do recto.............................................................. 3
Hérnias umbilicaes estranguladas ...............................
Peritonites agudas generalizadas.....................................
Canceres do estômago ......................................................
Kystos dermoides...............................................................
Roturas de prenhez ectopica .......................................... 2
Kystos torcidos de ovário................................................
Esmagamentos de membros ............................................
Cholecystite.................................... .....................................
Gangrena do pé ...........................................................
Fractura de rotula ...............................................
Mal de Pott ..................................................................
Fistula estercoral ......................................................
Tuberculose renal .....................................................
Lithiase renal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Osteomyelite aguda .......................................................
Adenoma prostatico ......................................................
Hérnia crural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Varizes da perna .......................................................
Arthrite suppurada do Joelho ................................... 1
Ulcera de perna.. ................................................ .............
Occlusao intestinal .......................................................
Câncer de bexiga ...............................................................
Rotura traumática de baço ............................................
Varicocele pelvice ..............................................................
Ferida penetrante do thorax ..........................................
Pancreatite edematosa, com peritonite biliar sem per-
Furação ...............................................................................
Abscesso appendicular ......................................................
Volvulo da sigmoide..........................................................
15. VI — RESULTADOS E CONCLUSÕES
1°. — As complicações devidas ao shock : — Só cedem, evidentemente, ao tratamento
do shock (sol. chloretadas hypertonicas e, eventualmente, infusão massiça de café em
clyster). Comtudo, a autohemotransfusão contribue, seguramente, para que sobre ellas
deixem de enxertar-se as complicações do 2°. typo ou infectuosas.
Tivemos muitos casos de manifestações segmentarias de shock na frlbra lisa
trachéo-bronco-pulmonar, porém nenhuma dellas evoluiu para a infecção.
2.° — As complicações infectuosas — não surgiram em nossos 150 casos.
Em vários dos numerosos casos em que deixámos de fazer a autohemotransfusão, a titulo
de contraprova, as complicações infectuosas appareceram, sendo tratadas pela
autohemotransfusão curativa em altas doses (40 a 80 cc.), pelo soro chloretado
hypertonico, álcool, digital, vitamina C, etc.
Commentemos alguns casos interessantes : numerosos doentes se
submetteram à operação com bronchites chro-nlcas ou sub-agudas. Pois bem, após a
operação, fez-se a autohemotransfusão e essas bronchites ou continuaram na mesma,
sem se aggravar ou, então, desappareceram.
De dois doentes que soffreram esplenectomia por ruptura traumática do baço,
em um foi feita a injecção de sangue — alta, curada, em oito dias. Em outro não se fez
a autohemotransfusão e manifestou-se-lhe um foco de condensação na base direita.
Um velho prostatico suffreu uma talha hypogastrica, como tempo prévio á
prostatectomia. Dada a benignidade da intervenção, não lhe fizemos a
autohemotransfusão e se constituiu uma cortico-pleurite.
Curou-se e, operado de prostatectomia, foi-lhe feita a injecção de sangue,
tendo um post-operatorio respiratório normal.
Outro doente, que padecia de mal de Pott, submetteu-se á operação de
ALBEE (enxerto vertebral). Era portador de catarrho chronico das vias aéreas superiores;
foi operado sob anesthesia geral pelo balsoformio e ficou três mezes no leito gessado
sem apresentar a mínima complicação pulmonar, tendo-lhe sido feita a
autohemotransfusão após a operação.
3°. — Complicações devidas á embolia pulmonar. — Não podemos tirar
conclusões seguras a respeito deste ponto,em primeiro lugar, porque tivemos apenas
dois casos e, em segundo, porque só em um foi feita a autohemotransfusão, aliás no
que não morreu. Comtudo, parece-nos que a autohemotransfusão não pôde impedir a
formação de uma thrombophlebile nem que desta se desprendam êmbolos.
16. 4°. — Quanto ás complicações pulmonares post-operatorias nos indivíduos
tuberculosos, parece-nos que a autohemotransfusão age beneficamente no sentido de
corrigir a phase de inferioridade orgânica que o acto cirúrgico desperta nesta classe de
pacientes.
Tivemos quatro casos de intervenções, em indivíduos tuberculosos comprovados,
sem complicação pulmonar post-operatoria : duas appendicectomias, uma nephrectomia por
.tuberculose renal e uma nephrostomia com retirada de calculo coraliforme, em
indivíduo que se havia submettido a pneu-mothorax therapeutico.
Só num caso se desenvolveu uma pneumonia tuberculosa, mas o indivíduo era
portador de tuberculose evolutiva e, operado de appendicite aguda, foi-lhe feita somente
injecção de 10 cc. de sangue, portanto dose insufficiente, metade da que aconselha o
autor do methodo.
Esses casos não nos permittem ainda uma conclusão segura, do mesmo modo
que os de embolia pulmonar.
Não resta duvida que as complicações infectuosas, segundo o critério por nós
estabelecido; são prevenidas seguramente pela prática da autohemotransfusão.
17. AUTOHEMOTRANSFUSÃO COMO PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES PULMONARES
PÓS-OPERATÓRIA.
Michael W. Mettenleiter, M.D., FAC.S.
Instrutor em cirurgia, Pós Graduado pelo Hospital Escola de Nova York
Nova York
A administração do sangue como um agente terapêutico é um procedimento muito antigo, primeiramente
em casos de anemia onde a substituição das principais substâncias é bem conhecida. A aplicação que temos em
mente é a retirada de uma pequena porção do sangue, da veia do paciente, e a re-injeção direta em seu corpo.
Em 1898, Grasfsron e Elfstron1 aplacaram a autotransfusão em um caso de pneumonia.
Dez anos depois Balfour2 usou este método como uma terapia específica. Todos os autores empregaram-na
puramente sem explanações a respeito das ações.
Em 1913 a auto-hemoterapia foi defendida por Spiethoff3, em dermatologia, e considerada uma terapia protéica
não específica. Auto-hemoterapia, desde então, vem sendo extensamente usada em uma variedade de doenças e
condições. Os resultados foram encorajadores na pneumonia pós-operatória, furunculoses, bronquites, enfisemas e
urticárias.
Um bom resultado nas complicações pulmonares pós-operatórias é manifestado pelo declínio da temperatura,
no período de vinte e quatro a quarenta e oito horas, depois da administração e do desaparecimento dos sintomas.
Existem cinco métodos diferentes de aplicação:
1. Injeção intramuscular de sangue desfibrinado; 20 c.c. de sangue são desfibrinados pela mistura em
recipiente de vidro e injetados imediatamente.
2. Injeção intramuscular de 16 c.c. de sangue fresco, misturados com 4 c.c. de água destilada.
3. Injeção intramuscular de sangue fresco inalterado.
4. Injeção intravenosa de sangue desfibrinado ou sangue mantido no gelo por algumas horas ou
mesmo dias.
5. Injeção intradérmica em pequena quantidade, de 1 ou 2 c.c. de sangue fresco.
________________________________________
1 ELFSTROM, C. and GRAFSTROM, A.A.
relatório preliminar de experimentos com sangue aquecido no tratamento de pneumonia crupe. N. Y.
Méd.Jour., 68: 307, 1898
² BALFOUR. Brit. Med. Jour., 1990. Cit. Holfheinz, S.: Eigenbluttherapie in der Cirurgie. Ergebn. d. Cbir. u.Ortb., 22: 152, 1929.
³ SPIETHOFF, B. Zur therapeutischen Verwendung des Eigenserums. Muncb. Med. Wcbnscbr., 521: 1913.
18. A injeção intravenosa ocasionalmente produz zumbidos, palpitação ou outros sintomas portanto a aplicação
intramuscular é preferível. Até 40 c.c. podem ser injetados no músculo sem dificuldades técnicas ou desconforto para o
paciente.
Embora, no passado, a auto-hemoterapia foi usada empiricamente, temos atualmente uma clara explanação
sobre suas ações.
Os componentes ásperos do soro sanguíneo bem como as mudanças sutis das proteínas e dos derivados, foram
abordadas em anos recentes. Benhold4 reivindica que a variação da albumina, glóbulos, pseudoglóbulos e dos
endoglóbulos, possuem propriedades físico químicas, permitindo várias graduações de um ou de outro, porém
permanecem com suas funções características separadas. Quando o sangue é empregado fora da corrente sanguínea ou
seja, de seu meio natural, ele se transforma em uma substância diferente para o corpo humano. Sua característica
química é alterada imediatamente após sua retirada do vaso sanguíneo.
O efeito estimulante da proteína parenteral no sistema simpático e parassimpático, é demonstrado pelo teste a
seguir:
A ação da injeção do sangue desfibrinado na corrente intravenosa, provoca a imediata dilatação dos vasos
sanguíneos e a hiperemia periferial na pele, do ponto da injeção. Este hiperemia torna-se, mais tarde, um azul desbotado.
Os efeitos gerais após a autonomia do sistema nervoso, são ainda mais admiráveis. Após a injeção do sangue
desfibrinado, acorre uma reação vascular juntamente com uma reação dos tecidos do corpo.
Widal, e alguns outros5, observaram uma latente diminuição do número de leucócitos em todo sistema vascular
periferial. Mueller e Petersen6 demonstraram que esta diminuição corresponde a um crescimento destas células nos
órgãos abdominais. Com este crescimento no número de leucócitos nos órgãos abdominais há um crescimento
correspondente das funções dos tecidos, particularmente no fígado, acelerando a secreção biliar, bem como o processo
de desintoxicação7.
Parece evidente que estas reações dependem dos estímulos dos sistemas simpático e parassimpático, iniciado
pela injeção do sangue desfibrinado. Isso ocorre também com outras proteínas. Sem efeito sobre o sistema vasomotor,
sangue ou tecidos, tais reações ocorrem após a injeção, onde a autonomia do nervo serve aos órgãos respectivos.
________________________________________
4CIT. KYLEN. 1st, es berechtigt, das Bluteiwess als ein spezifisches Organ aufzufassen? Med. Klinik. 6:171, 1935
5 WIDAL, F. L’anaphylexie. Press Med., 37:4, 512, 1926.
6MUELLER, E.F. And Wiener, P. The mechanism of insulin action. Arcb. Of Int. Med., 37: 4, 512, 1926
7MUELLER, E. F. And Brutt, H. Die zentrale Bedeutung der Leber bei der natuerlichen. Abwehr von Infeklion. Munbc. Wcbnscbr., 2044:1929.
19. O sistema retículo-endotelial também é estimulado pela auto-hemoterapia. Recentes investigações fornecem
bases fundamentadas para estes efeitos. (Schurer.8)
Existe um método simples para testas os efeitos do estímulo dos tecidos subcutâneos e das células da parede
vascular. Uma cantárida de 1sq. cm, é aplicado na coxa por vinte e quatro horas. Uma vesícula que se forma, é aberta. O
fluido é retirado, centrifugado e colocado por um tubo em forma de "U". O sedimento é, então, embalado a vácuo e a
contagem dos glóbulos brancos é feita. (Kauffman.) A incidência normal de monócitos é por volta de 5 por cento. Após
oito horas da autohemotransfusão, a contagem dos glóbulos brancos, aumenta em 22 por cento, sendo que 20 por cento
ainda encontram-se presentes após um período de setenta e duas horas. A curva decresce gradualmente no período de
sete dias, retornando ao normal após algumas semanas.
O sistema retículo-endotelial também é capaz de armazenar matéria corante. A determinação
calorimétríca com Kongored (Schurer) revela uma grande reserva após a autohemotransfusão. Um outro teste utiliza um
índice bactericida após o método de Wright. Algumas horas após a injeção, o índice revela um crescimento; e após oito
horas alcança o pico máximo de 15 a 20 vezes o normal. Como o crescimento de monócitos, as mudanças no índice
bactericida provam o estímulo das forças defensivas do organismo, resultando em um aumento da resistência do corpo.
As investigações de Schurer sugerem que a absorção do sangue injetado inicia-se rapidamente. Sabemos
que a absorção de leite, monoproteicos e outras substâncias protéicas podem ser demonstradas após um período de
quatro a seis horas9. O sangue, em quantidade suficiente, é absorvido após nove horas e assim produzirá, nas vias
sanguíneas, o fermento chamado glycyltryptophanase.
Estímulos sanguíneos que formam tecidos no tutano dos ossos são reconhecidos, também, após as
injeções intramusculares de sangue ou outras fontes proteicas. Hoff9 e alguns outros puderam demonstrar estes importantes
sintomas como parte da terapia protéica.
Estas conclusões apontam para a sabedoria da autohemotransfusão imediatamente após a cirurgia, num
esforço para prevenir complicações pulmonares pós-operatórias.
Temos usado a autohemotransfusão em uma série de 300 casos cirúrgicos, injetando 20 c.c. de sangue fresco,
intramuscular, imediatamente após as cirurgias. Não foram registrados casos de complicações pós-operatórias como
bronquites ou pneumonias. Somente em um caso desenvolveu-se uma área de trombose nos pulmões, após a
operação. Tratavam-se de gastroenterostomia, colecistectomia, apendicectomia, histerectomia, ooforectomia, herniotomia,
tireoidectomia, mastectomia, etc., sob anestesia geral com gás e éter, ao invés de anestesia local. Complicações pós-
operatórias podem ocorrer em qualquer tipo de método anestésico, contudo a ausência de complicações
pulmonares, em nossas séries, indica que é a auto-noterapia responsável por bons resultados, e não o método
anestésico utilizado.
________________________________________
8 SCHURER-Waldeheim, F. Ueber die Wirloingsweise der Eigenblutbehandlung. Deutscb. Ztscbr. f. Cbir., 239:352:1933.
9 HOFF. F. Klinische Beitraege zur Frage der zcntralncrvoscsn Regulation dês Blutes. Klin. Wcbnscbr., 42, 1751. 1932
20. Existem, algumas vezes, insignificantes quantidades de sangue deixadas na feridas, sugerindo que a
absorção deste sangue pode render uma autohemotransfusão adicional necessária. As alterações físico-
químicos em todo o sangue a em seu soro, são tão cadas e rápidas que não há comparação que possa ser feita
entre drenar sangue das veias re-injetá-lo no músculo ou sangue deixado sobra a ferida para ser absorvido. Estes
dois processos são inteiramente diferentes.
CONCLUSÃO
1. A administração intramuscular de 20 c.c. de sangue autógeno, após cirurgias, tem efeito estimulante sobre
o sistema retículo-endotelial, bem como sobre o sistema simpático, que aumenta a atividade e resistência dos tecidos.
2. Este método não é perigoso. Estes procedimentos vem sendo usados em 300 casos, com bons
resultados na prevenção de complicações pulmonares pós-operatórias, com evidente redução de embolismo pós-
operatório.
21. AUTOHEMOTRANSFUSION IN PREVENTING POSTOPERATIVE LUNG
COMPLICATIONS*
MICHAEL W, METTENLEITER , M . D., F . A . C . S .
Instructor in Surgery, New York Post-Graduate Hospital Medical School and Hospital
NEW YORK
THE administration of blood as a glassbeads and injected iramediately.
therapeutic agent is a very old procedure, 2. Intramuscular injection of 16 c.c.
and in primary anemic cases where the of fresh blood mixed with 4 c.c. of distilled
replacement of substance plays the main role, water.
is, of course, well known. The application we 3. Intramuscular injection of unaltered
have in mind is the withdrawal of a small fresh blood.
amount of blood from the patient's vein and 4. Intravenous injection of defibrinated
reinjection directly into the body. fresh blood or blood kept on ice for several hours
1
ln 1898, Grafstrom and Elfstrom or even days.
applied autotransfusion in a case of pneumonia. 5. Intradermal injection of smalí
Ten years Jater Balfour² used this method as a quantities I to 2 c.c-, of fresh blood.
specific therapy. All authors employed it purely The intravenous injection
empiricalIy without explanation of its action. In occasionally produces tinnitus, palpitation or
1913 autohemo-therapy was advocated by other shock symptoms, therefore
3
Spiethoff in dermatology and considered an intramuscular application is preferable. As much
unspecific protein therapy. Autohemotherapy as 40 c.c. can be injected intramuscularly
has since been used extensively in a varrety without technical difficulties or discomfort to
of diseases and conditions. The results were the patient.
encouraging in postoperative pneumonia, Although autohemotherapy was
furunculosis, bronchitis, eczemas and urticaria. formerly used empirically, we now have a clear
A good result in postoperative lung explanation for its action.
complications is manifested by the decline of The rough constituents of blood
temperature within twenty-four to forty-eight serum and the subtle changes of the various
hours after administration and disappearance of proteins and derivatives have been brought to
symptoms. light in recent years. Benhold* claims that the
There are five different methods of various albumins, globulins, pseudoglobulins
application: and euglobulins possess physiochemical
1. Intramuscular injection of properties permitting various graduations from
defibrinated blood; 20 c.c. of blood is one to the other but still retaining their
defibrinated by shaking in a flask with separate specific functions. When blood is
22. employed outside its natural place in the sympathetic system is demonstrated by the
circulatory system it becomes quite a different following simple test: when defibrinated blood
substance for the body. Its physical chemistry is is injected intravenously it immediately
changed immediately after withdrawal from a produces dilatation of the blood vessel and
blood vessel. redness of the skin, peripheral from the point of
The stimulating effect of parenteral injection. This redness changes later to a bluish
proteins on the sympathetic and para- discoloration.
• Based upon 300 private surgical operations. 321
The general effects upon the autonomic There is a simple method for testing the
nervous system are even more striking. After the effect of stimulating subcutaneous tissues and
injection of defibrinated blood, vascular reactions cells of vascular walls. A canthariden-plaster, i sq.
combined with reactions of the respective tissues cm. in size, is applied on the thigh for twenty-
occur ali over the body. four hours, A vesicle which formed is opened.
Widal and several others* The fluid is evacuated and brought into a "U"
observed a marked decrease in the number of tube and centrifuged. The sediment is air dried,
leucocytes in the entire peripheral vascular stained and a differential whrte blood count is
system. MuIIer and Petersen* demonstrated later done. (Kauffman.) The normal monocytes
that this peripheral decrease corresponds to an incidence is about 5 per cent. After an
increase of these cells ín the abdominal organs. autohemotransfusion the monocytes in the
With this increase in the number of leucocytes diíferential count increase to 22 per cent in eight
in the abdominal organs there is a corresponding hours and 20 per cent are still present after
increase of the tissue functions, particularly the seventy-two hours. The curve drops gradually
liver, accelerating the bile secre-tion and the within seven days and returns to normal after
7
detoxication procedures. several weeks. The reticulo-endothelial system is
It seems evident that these reactions also able to store dyes. Colorimetric determination
depend upon sympathetic or parasympa-thetic with Kongored (Schurer*) revealed a greater
stimulations initiated by the injection of reserve after autohemotransfusion. Another test
defibrinated blood. This also occurs with other utilizes a bactericidal index after Wright's
proteins. No effect upon the vasomotoric method. After injection the index shows an
systera, blood or tissues takes place after increase in a few hours and after eight hours
injection where the autonomic nerve supply of reaches a maximum of 15 to ao times normal. Like
the respective organs is severed. the increase in monocytea, the changes in the
The reticulo-endothelial system is also bactericidal index prove the stimulation of the
definitely stimulated by autohemotherapy. Recent defensive powers of the organism, resulting in
investigations give a well founded explanation for higher body resistance.
this effect. (Schurer.8)
23. Schurer's investigations suggest that that the afasorption of this blood may render an
the absorption of the injected blood starts rather additional autotransfusion unnecessary. The
quickly. We know that the absorption of milk, physiochemical changes in the whole blood and in
the serum are so delicate and occur so rapidly that no
novoprotein and other protein substances can
comparison can be made between blood drawn from
be demonstrated after four to six hours.9 Blood is
a vein and reinjected intramuscularly and blood left
absorbed after one hour in sufficient quantity to
in a wound to be afasorbed. These two processes
produce the ferment called glycyltrypto-phanase
are entirely different.
in the blood stream.
CONCLUSION
Stimulation of the blood forming tis-
sues in the bone marrow has also been definitely 1. The intramuscular administration
recognized after intramuscular injections of blood of 20 c.c. of autogenous blood after operation
or other foreign proteins. Hoff' and several others has a stimulating effect upon the reticulo-
could demonstrate this important symptom as a endothelial systera and the sympathetic
part of the therapeutic value of protein therapy. nervous systera which in turn increases
These conclusions point to the wisdom activity and resistance of tissues.
of autohemotransfusion immediately after 2. The method is without danger.
operation in an effort to prevent post-operative This procedure has been used in 300 cases with
lung complications. good results in the prevention of post-operative
We have used autohemotransfusion in a lung complications and possibly less frequent
series of 300 surgical cases, injecting 20 c. c. occurrence of postoperate embolism.
fresh blood intramuscularly immediately after REFERENCES
operation. No lung complications, as
1. ELFSTROM, C. and GRAFSTROM, A. A
postoperative bronchitis or pneumonia, were
preliminary report of experimente with heated blood
observed. Only one case developed a small
in the treat-ment of croupous pneumonia. N. Y,
thrombotic área in one lung five days after
Med. Jour., 68: 307, 1898.
operation. The operations performed were
2. BALFOUR. Brít. med. Jour., 1909. Cit.
gastroenterostomies, cholecystectomies,
Hoffheinz, S.: Eigenbluttherapie in der Chirurgíe.
appendectomies, hysterectomies, ovariotomies,
Ergebn. d. Cbir. u. Ortli., 22:152, 1929.
herniotomies, thyroidectomies, mastectomies, etc.,
3. SPIETHOFF, B. Zur therapeutischea
under general anesthesia with gás and ether,
Verwendung dei Eigenseruras. Muncb. med.
avertin as base and local anesthesia.
Webnsebr,. 521: 1913.
Postoperative complications may arise with any
4. CIT. KVLEN. Ist es berecfuigt, das
kind or method of anesthesia, but the absence of
Bluteiweiss ais ein spezifisches Organ
lung involvements in our series indicates that
aufzuíassen? Med. Klinik, 6: 171. 1935.
autohemotherapy and not the typc of
5. WIDAL. F. LVnaphylaxic. Presse
anesthesia applíed accounted for the good
med., 79; 781, 1921.
resulta.
6. MUELLER, E. F. and WIENER, P. The
There is sometimes a negligible amount of
mechanism of insulin action. Arcb. of Inl. Med.,
blood left in the wound, and it hás been suggested
24. 37: 4,512,1926. Deutseb. Ztsebr. f. Cbir., 239: 352: 1933.
7. MUELLER, E. F. and BRUTT, H. Die 9. HOFF, F. Klinische Beitraege zur Frage
zentrale Bedeu-tung der Leber bei der natuerlichen der zentrol-nervoesen Regulation des Blutes. Klín.
Abwchr von Infektioneo. Muncb. med. Webnsebr., Webnsebr., 42, 1751, 1932.
2044: 1929.
8. SCHUKER-WALDHEIM, F. Ueber die
Wirkungsweise der Eigeoblutbehandiung.
25. IMUNOLOGIA
Imunoterapia:
o impacto médico do século
INTRODUÇÃO outras, as especialidades intimamente
Os modernos conceitos envolvidas nesses modernos conceitos
imunológicos e suas implicações na imunológicos. Os conhecimentos que
patologia humana irão acarretar, rapidamente se acumulam nesse
seguramente, um impacto maior que setor terão papel importantíssimo na
o causado com o surgimento dos prevenção, correção, limitação,
antibióticos nas décadas de 40 e 50. controle ou cura de inúmeras doenças
Em verdade, os antibióticos têm catalogadas nas especialidades
R i c a r d o V e r o n e s l
seu campo de ação quase que Pr ofessor de Do enças infeccio sas e mencionadas. Sarampo, rubéola,
Parasitárias da Faculdade de Medicina da
limitado às doenças infecciosas, herpes simples e zoster, hepatite por
Universidade de São Paulo, da Faculdade
principalmente as bacterianas, de Medicina de Jundiaí e da Faculdade de vírus, tuberculose, lepra, brucelose,
Ciências Médicas de Santos; Membro do
enquanto a imunoterapia específica e Comitê de Peritos em Doenças Bactorianas mononucleose, verrugas,
inespecífica abrange horizontes bem
da O rga ni zaçã o Mu ndi al d e S aú de;
toxoplasmose, leishmanioses,
P re si de nt e d o Co mit ê d e Do en ça s
mais amplos, quase não restando ne- Infecciosas, da Panamerican Medical blastomicoses, doença de Chagas,
Association; Chairman do Comitê Latino-
nhum campo da patologia humana . Americano de Medicina Tro pical da
malária, doença de Crohn, linfomas,
ern que imunologia não tenha maior
A sso ci a çã o M éd i ca P a n a me ri c an a i carcinomas, leucemias, aterosclerose,
Consultor da Academia de Ciências dos
ou menor participação em seus Estados Unidos; e edltor coordenador do artrite reumatológica, lúpus
livro Veronesi Doenças Infecciosas e
mecanismos patogênicos. eritematoso, doenças auto-imunes
Parasitárias.
Doenças infecciosas e parasitárias, (várias), candidíase generalizada são, entre outras,
neoplásicas, degenerativas e doenças auto-imunes as doenças em que se tem demonstrado a
têm, todas, uma participação decisiva do sistema possibilidade de, intervindo no setor imunitário,
imunitário em sua iniciação, evolução, controle e curar ou impedir a sua progressão.
cura ou morte.
Para facilitar a compreensão desses
Quase não encontramos especialidade médica que
conhecimentos, apresentaremos, numa sequência
possa, hoje, dispensar os conhecimentos da
didática, os elementos fundamentais implicados na
moderna imunologia para melhor atender os
dinâmica imunológica, desde sua origem,
mecanismos íntimos, fundamentais, dai doenças.
diferenciação e, finalmente, sua atuação na
Infectologia, Cardiologia, Nefrologia, Hepatologia,
imunopatologia humana e animal, incluindo as
Gastren-terología, Cirurgia, Oncologia, Der-
matologia, Oftalmologia, Hematologia, Fisiologia,
Hausenologia, Nutrição e Ceriatria são, entre
26. possibilidades da imunoterapia específica na tecido linfóide se faz à custa de células
correção dos defeitos imunológicos detectados.
indiferenciadas da medula óssea (célula-mãe,
Origem e diferenciação do totipotente). A diferenciação dos linfócitos se
sistema imunitário na fará no timo e nos folículos linfóides. do intestino
espécie humana
e, através desse processamento, os linfócitos
A origem do sistema imunitário estarão aptos a participar, por mecanismos
confunde-se com a origem dos primeiros órgãos
linfóides, constituídos pelo timo, baço, gânglios diferentes, das reações imunológicas responsáveis
linfáticos e tecido linfóide intestinal, órgãos ou pela homeostase, vigilância imunológica e
agrupamentos de tecidos que constituem o
chamado sistema linfóide. equilíbrio funcional dos componentes do sistema
O timo se forma à custa do intestino imunológico de defesa do organismo. Esse sistema
primitivo, aos 84 dias da embriogênese; o baço e imunológico repousa, essencialmente, na
gânglios linfáticos aos 140 dias; e o tecido linfóide imunidade mediada por células, na imunidade
intestinal aos 175 dias. Há uma correlação direta, mediada por anticorpos e na atividade fagocitária
na filogênese animal, entre o período de gestação dos rnacrófagos do tecido retículo-histiocitário. E
e o surgimento do sistema linfóide. através do processamento do timo e no equivalente à
Acredita-se que a Bolsa de Fabricius, bolsa de Fabrícius que os linfócitos passam a
órgão importante na diferenciação dos linfócitos participar da imunidade mediada por células
nas aves (e que se encontra junto à cloaca das (linfócitos T ou timo-processados) ou da imunidade
mesmas), se localize, na espécie humana, no te- por anticorpos (linfócitos B ou bolsa-processados)
cido linfóide intestinal, placas de Peyer e (fig. 1). Ambos os Iinfócitos apresentam íntima
apêndice. interação através de enzimas (linfocinas), podendo
Os elementos celulares (linfócitos) tanto estimular como inibir a ação um do outro.
originam-se no embrião humano, nas ilhotas Também, tanto o linfócito T como o B atuam
sanguíneas do saco vitelino e do tecido sobre os macrófagos desejados, assim como
hemopoiético do fígado, enquanto, no adulto, se estimulando-os em suas várias funções que
originam na medula óssea. A regeneração do enumeraremos mais adiante.
27. O linfócito timo-processado passa a ser macrófagos na área onde estão os linfócitos
antígeno sensível, específica ou inespecificamente, sensibilizados. O fator M.I.F. pode ser detectado
ocorrendo, em função dessa sensibilização, a precocemente dentro de 6 horas), antes que se
chamada transformação blastóide, em que ocorrem positivem os testes 1 e 2.
alterações estruturais na célula, acompanhadas de 4. Pela identificação de outras linfocinas.
atividades blástlcas e síntese de RNA e DNA (fig. Existem mais lê 24 linfocinas produzidas pelos
2). Há métodos de laboratório para detectar essas linfócitos T. (Fig. 2).
transformações e, dessa maneira, diagnosticar
Linfócito B (ou bolsa-processado)
qualquer defeito, funcional ou estrutural, dos
elementos. Após a transformação blastóide, o Este linfócito, à semelhança do linfócito
linfócito T se transforma no pequeno linfócito T, é antígeno sensivel, transformando-se, em contato
sensibilizado que se responsabiliza pela com o antigeno, em célula blástica (plasmoblasto),
imunidade mediada por células e que tem como precursora da linhagem )Jasmática (plasmócitos e
manifestações fundamentais: ........ ' células da memória). As células Ia memória da
1. Hipersensibilidade retardada (P.P.D., linhagem plasmática (B), como as da linhagem
Mitsuda, Montenegro, D.N.C.B., levedurina, etc); linfoblástíca (T), são capazes de reter a "imagem
2. Rejeição de enxertos heterólogos; antigênica" por muitos anos e de reagir com o
3. Produção de enzimas atuantes nos antígeno que a sensibiliza. (Fig. 2 e 3.) As células
outros setores do sistema imunológico (linfocinas), da memória B elaborarão anticorpos ao
tais como o S.R.H., granulócitos, linfócitos B e constatarem novamente o antígeno (efeito de
glânglios linfáticos. reforços) e as células da memória T se
Para testar a normalidade funcional do responsabilizarão pela positividade da reação de
sistema no setor T podemos lançar mão de: hipersensibilidade retardada e rejeição de
1. Testes cutâneos de hipersensibilidade enxertos quando constatarem novamente o
retardada, tais como reação ao PPD, .N.C.B. (di- antígeno sensibilizante.
nitro-cloro-benzeno), levedurina, tricofitina, Os plasmócitos são, por excelência, as
Mitsuda e outros. células produtoras de imunoglobulinas (IgE, IgM,
2. Estimulação ou desencadeamento da IgA IgD IgE) que respondem pela imunidade
atividade blástica (transformação blastóide) à custa mediada por anticorpos.
da fito-hemaglutinina (substância vegetal extraída do Tanto a imunidade mediada por
feijão). A atividade blástica pode ser detectada anticorpos como a mediada por células podem ser
através da síntese de D.N.A. (medida pela captação benéficas, favoráveis ou, ao contrário, maléficas,
3
de tímidina títrica H ), ou pela contagem de células prejudiciais, responsáveis por inúmeros processos
em divisão (índice mitótico). imunológícos (ex. doenças auto-imunes).
3. Pela identificação do M.I.F. Sistema reticulo-endotelial (ou
(Migration-inhibiting factor), uma substância retículo-histiocitárlo), S.R.H.
protéica sintetizada e liberada pelos linfócitos Este componente do sistema imunológico
sensibilizados e capaz de inibir a migração dos é, provavelmente, o mais importante dos três,
28. funcionando, todavia, em íntima interdependência linfócitos B eT. 5. Biotransformação e
com os sistemas T e B, que influem, excreção do colesterol.
profundamente, em sua fisiologia através de 6. Metabolismo férrico e formação de
enzimas por eles elaboradas (linfocinas). Assim, bilibirrubina.
as enzimas linfocitárias tanto podem estimular
como inibir o S.R.H., influindo no controle,
limitação ou erradicação do processo mórbido,
seja ele de natureza virótica, bacteriana,
neoplásica ou auto-imune.
O sistema R-H é constituído por células
macrofágicas dotadas de intensa capacidade de
fagocitar, lisar e eliminar substâncias estranhas,
quer vivas quer inertes. A localização do sistema
R-H é demonstrada na figura 4.
As células macrofágicas se originam de
monócito da medula óssea, de onde são lançadas
na corrente sanguínea para, finalmente, colonizar
os tecidos e órgãos (concentradas principalmente
na pele, peritônio, pulmões, ossos, sinusóides
hepáticos (células de Kupfer) e sinusóides linfáti-
cos). Os macrófagos podem ser estacionários ou
errantes, conforme se demonstra na figura 4.
7. Metabolismo da proteínas e
Todavia admite-se que macrófagos estacionários
remoção de proteínas desnaturadas.
(tissulares) possam migrar através da parede dos
8. Destoxificação e metabolismo de
sinusóides, tornar-se, assim, livres e penetrar na
drogas. Respondendo por tantas e tão importantes
região sede do processo inflamatório.
funções, fácil de se entender o papel
As principais funções do sistema R-H
desempenhado pelo sistema R-H no
são:
determinismo favorável ou desfavorável de
1. Clearance de partículas estranhas
processos mórbidos tão variados como sejam os
provenientes do sangue ou dos tecidos (inclusive
infecciosos, neoplásicos, degenerativos e auto-
células neoplásicas), toxinas e outras substâncias
imunes.
tóxicas.
2. Clearance de esteróides e sua
Defeitos do Sistema Imunológico e sua
biotransformação.
Importância na Patologia-Humana
3, Remoção de microagregados de fíbrina
e prevenção de coagulação intravascular. Doenças Infecciosas e parasitárias.
4. Ingestão do antígeno, seu Quando o organismo humano ou animal é agredido
processamento e ulterior entrega aos por agentes infecciosos ou parasitários, é acionado
o sistema imunitário, em seus vários
29. compartimentos, a fim de destruir ou neutralizar o "defeito" no setor T-RH. Através da
agressor. Tanto a imunidade mediada por células, imunoestimulação ou de introdução de fator de
como a mediada por anticorpos, complementadas ao transferência nesses indivíduos, a evolução da
final pelos macrófagos, são movimentadas para doença poderá ser bloqueada. No herpes simples
impedir a ação patogênica do agente invasor. recidivante (labial ou genital) também os testes
imunológicos detectam "defeito" no setor T-
Conforme a natureza do agente
RH, enquanto o setor B permanece
etiológico, variará o setor mais importante de
funcionalmente perfeito (formação de anticorpos
defesa, ora sendo os anticorpos humorais
humorais). A literatura está cheia de observações
(como, por exemplo, o poliovírus), ora os
de curas de herpes recidivantes pelo tratamento
anticorpos secretórios (IgA) ira a imuidade
com imunoestimulante do tipo do Levamisole-
mediada por células, complementadas pela
tetramisole. Igualmente se beneficia desse
fagocitose dos macrófagos e dos micrófagos
tratamento o herpes-zoster.
(polimorfonucleares neutrófilos).
Como o tratamento imunoterápico ativo
Além dos anticorpos, são movimentados
sempre leva mais de quatro semanas para ser
outros elementos humorais com capacidade de
eficaz, é indicado o tratamento antiviral específico
neutralizar os vírus ou indiretamente, favorecer ou
(quando disponível) enquanto se aguarda o efeito
auxiliar a ação dos elementos de defesa do sistema
do imunoestimulador. Assim, a Cytarabina está
imunitário. Assim, são produzidas pelos linfócitos
indicada como substância antiviral na fase aguda do
T, 24 linfocinas, entre elas o interferon, o M.I.F., as
herpes, quer simples quer do zoster.
linfotoxinas, a IgA.
Hepatite por vírús: Existem muitas
Certos vírus não são destruídos pelos
observações de que a persistência do vírus da
anticorpos humorais mesmo em grande hepatite do tipo B (HBAg ou antígeno Au) é
quantidade no sangue. Desse modo, na síndrome responsável pelo quadro de hepatite crônica
da rubéola congênita, a despeito de títulos
agressiva que conduz, finalmente, a um quadro de
protetores de anticorpos anti-rubéola no sangue, o
cirrose hepática. A persistência do antígeno HBAg
vírus rubeólico é isolado do sangue, humores e seria condicionada por um defeito no setor T-RH,
tecidos. Esta é uma demonstração inequívoca de defeito este que poderá ser remediado através de
que a imunidade mediada por anticorpos é imunoestimulaçãa ou inoculação de F.T. Também o
insuficiente, no caso, para erradicar o agente
defeito no setor T condicionaria uma menor inibição
patogênico. Tais indivíduos apresentam um
dos linfócitos B e, consequentemente, uma maior
"defeito" imunológico no setor dos linfócitos T, produção de auto-anticorpos responsáveis pelo
diagnosticados pelos testes que descrevemos. mecanismo de auto-agressividade da entidade.
Através de correção do "defeito", os macrófagos
Verrugas por vírus: É uma virose
são ativados e a fagocitose é estimulada,
cutânea causada pelos papovavírus e caracterizada
destruindo o vírus. O mesmo fenômeno se pelas recidivas frequentes e curas, espontâneas ou
observa na panencefalite subaguda esclerosante, com auxílio de "benzeduras", amuletos e "rezas". A
onde o patógeno parece ser o vírus do sarampo, persistência ou recrudescência do vírus também
persistente no S.N.C., em consequência de um
está condicionada a um defeito no setor T-RH.
30. imunoestimulação nos três setores T, B e R: H,
ocorre a fusão das organelas e o T. gondii é
fagocitado mais intensamente e lisado pelo
macrólago. Explica-se, assim, o porquê do
surgimento de toxoplasmose em imunodeprimidos
(por neoplasias, corticosteróides, gravidez, drogas,
fatores genéticos, etc.) e abrem-se novos horizontes
terapêuticos pela associação de quimioterápicos à
imunoterapia estimulante inespecífica.
Hanseníase: Sempre constitui uma
curiosidade científica o conhecimento dos fatores
determinantes das várias formas de hanseníase. Por
que a grande maioria dos indivíduos que entram em
Figura 4. Não visualizada, indicando os
contato com o M-leprae são apenas infectados e
componentes do Sistema reticulo-histiocitário e suas
desenvolvem sólida imunidade, principalmente
localizações.
relacionada à imunidade mediada por células? Por
que uma ínfima minoria contrai a doença e apenas
Através da imunoestimulação com
uma pequena parcela é vítima da temível lepra
drogas do tipo, Levamisole-tetramisole, têm
lepromatosa, contagiante, mutilante, resistente aos
sido curados, em quatro à seis semanas, esses
quimioterápicos, enquanto a outra parte contrai a
tipos de verrugas. A recidiva é evitada pelo
lepra tuberculóide, benigna, não contagiante?
prolongamento da imunoestimulação (12 meses) ou
Sabe-se, hoje, que os fatores
pela correção do defeito fundamental
determinantes estão subordinados ao sistema
(imunodepressão endógena ou exógena: por drogas,
imunológico e que a forma L-L (virchowiana) é
por fatores psíquicos (depressões), por fatores
condicionada à presença, no soro de tais indivíduos,
estressantes, velhice, ele.).
de uma enzima inibidora da transformação blastóide
Toxoplasmose: Tomando a toxoplasmose
dos linfócitos T. Tal inibição impede a elaboração
como modelo, podemos, por extensão, extrapolar
de linfocinas que estimulam o sistema
as experiências que já se fizeram com esta doença
macrofágico (R:H) e, igualmente, a imunidade
para outras entidades infecciosas ou parasitárias em
mediada por células (tais indivíduos são Mitsuda-
que os mecanismos imunopatogênicos
negativos). Tornou-se, assim, possível a cura ou
fundamentais são semelhantes. Assim, sabe-se,
bloqueamento da evolução da lepra lepromatosa
por experiências em animais de laboratório, que o
pela imunoestimulação ativa, inespecífica, através
toxoplasma gondii se assesta e se reproduz, no
do BCG, levamisole-tetramisole, e outros, ou,
interior de células retículo-histiocitárias, graças à
ainda, pela inoculação do fator de transferência,
elaboração de uma enzima que impede a união do
capaz de reverter à positividade os testes de
fagossoma com o lisos-soma, união esta
lúpersensibilidade retardada, antes negativos.
indispensavel para que ocorra a fagocitose e lise dos
organismos intracelulares. Todavia, através de
31. Os modelos mencionados (lepra e antineoplásica específica se faz à custa da própria
toxoplasmose) podem ser extrapolados para massa tumoral do hospedeiro que poderá ser
inúmeras doenças infecciosas e parasitárias, tais incrusive marcada com radioisótopos de atividade
como: leishmanioses, tripanosomíase americana anti-humoral e com tropismo especial para o órgão
(doença de Chagas), blastomicoses, malária, afetado.
tuberculose, esquistossomose, brucelose, linfoma A imunoestimulação antineoplásica
de Burkitt. inespecífica se faz à custa de antígenos de
O mecanismo imunitário de defesa é composição antigênica diferente da tumoral, mas
comum a todas essas doenças, apenas variando a que atuam pelo estímulo da fagocitose pelo sistema
natureza e composição antigênica do patógeno. R:H. Estes fagocitam e lisam, indistintamente, as
Através de uma combinação ou alternância substâncias estranhas que ingerem; inclusive as
adequada de quiomioterápicos e células neoplásicas.
imunoestimulantes, poderá o médico, no futuro, O engolfamento das células neoplásicas
vislumbrar perspectivas mais otimistas para poderá ser facilitado pelas opsoninas,
doenças infecciosas e parasitárias, até então de imunoglobulinas que parecem ter seu papel
difícil ou nenhum tratamento eficaz. ressuscitado na atualidade, juntamente com a nova
Doenças Malignas: A imunidade conceituaçâo imunológica das doenças.
mediada por células está "defeituosa" na maioria As primeiras indicações, convincentes,
dos indivíduos com doenças neoplásicas, sendo o do papel da imunidade nas doenças malignas
defeito reversível pela inoculação de fator de foram oferecidas pela observação de uma
transferência ou imunoestimulação, específica ou significativa baixa de incidência de leucemia em
inespecífica. crianças vacinadas com BCG, quando comparadas
O "defeito" imunológico pode ser com as não vacinadas. Posteriormente, a imuno-
primário, isto é, transmitido pelo código de estimulação passou a ser usada como terapêutica
genética, ou secundário, em consequência de antineoplásica em vários tipos de neoplasias,
fatores imunodepressores, endógenos ou exógenos. surgindo, inclusive, outros imunoestimulantes
A favor do "defeito" primário falam as inespecíficos como o Levamisole-tetramisole, o
observações de famílias com vários casos de Corynebacterium parvum. e outros. Hoje, em
leucemia, câncer, linfomas, etc. grandes centros de Oncologia da Europa e dos
Os fatores secundários podem ser Estados Unidos, os imunoestimulantes são larga-
encontrados em drogas imunodepressoras, mente usados, juntamente com as medidas
radioterapia, stress psíquico (depressões), clássicas anti-neoplásicas (cirurgia, irradiações,
subnutrição, velhice, gravidez, etc. quimioterapia). Inclusive, a droga de escolha para
A localização do "defeito" está, o tratamento do melanoma maligno passou a ser a
fundamentalmente, no setor T-R:H, conforme o imunoestimulação pelo BCG, local (intralesional)
demonstram os testes imunológicos. e/ou sistêmico (intradérmico ou percutâneo) a
A imunoestimulação antineoplásica pode cada quatro dias, no primeiro mês, e, posterior-
ser específica ou inespecífica. A imunoestimulação mente, a cada semana, durante vários meses,
32. espaçando mais as doses após dois meses entre os vacinados, enquanto permaneceu alta
(bimensais e mensais). Em 1975 comparou-se, na entre os não vacinados. O emprego de
Universidade da Califórnia (Divisão de Corynebacterium parvum, em substituição ao
Oncologia), a frequência de recidivas de mela- BCC, parece trazer vantagens, principalmente
noma em operados, dos quais um grupo havia porque o C. parvum é inativado, e não se corre o
recebido, ao acaso, BCG, e o outro grupo, somente risco de Becegeite, mormente entre
cirurgia. A conclusão foi categórica: a incidência aqueles com intensa imunodepressão.
de recidivas de melanoma quase se reduziu a zero
retardada, em uma ou duas horas, e, desse
modo, levantar o estado imunitário mediado por ce-
las e, até, por anticorpos, de várias entidades
mórbidas e inespecificamente, dos indivíduos sob
"alto risco" para contrair quaisquer das doenças para
as quais é suscetível e que poderão ser uma
neoplasia, uma leucemia, uma hanseníase, ou uma
das muitas doenças que mencionamos. Caberá ao
clínico do futuro o papel de diagnosticar e corrigir
Além do tratamento das doenças malignas
os "defeitos imunológicos". inclusive realizando,
já declaradas e, frequentemente, em grau avançado,
no consultório, os testes de hipersensibilidade
com metástases em vários órgãos, poderemos
retardada, agora padronizados e fornecidos em kits.
antecipar a imunoestimulaçâo inespecífica fazendo
Ao imunologista de laboratório caberá a feitura de
uma imunoprafilaxia em todos aqueles que,
testes mais refinados, como os de fito-
submetidos aos testes imunológicos, apresentarem
hemaglutinina, captação de tiinidina títrica,
algum "defeito" imunológico.
formação de rosetas.
Independentemente da origem do "defeito"
A imunoestimulação não oferece
imunológico, genética ou adquirida, transitória ou
dificuldades, uma vez que os imunoestimulantes
permanente, esse indivíduo será declarado sob
são de fácil manejo e os esquemas são muito
"alto risco" e candidato, assim, a uma terapêutica
simples. Acreditamos que em cursos de apenas seis
corretiva (ativa ou passiva), com duração enquanto
meses, em pós-graduação, os clínicos estarão aptos
os testes indicarem a persistência do "defeito
a associar a imunoterapia à químio e radioterapia e
imunológico". Concomitantemente, serão
colher resultados bem melhores que aqueles onde
tomadas as medidas profiláticas possíveis para
não se associa tal terapêutica.
afastar os prováveis agentes etilógicos da
O importante é atuar correta e
imunodepressão (stress psíquico, má nutrição,
oportunamente, conforme o "momento
anemia, drogas tóxicas, gravidez, etc).
imunológico" da doença, evitando erros
Com a ajuda de aparelhos ue injeção
imperdoáveis, como os de fazer imunossupressão
intradermica a jato (dermo-jet), poderemos
quando, em realidade, o que o paciente está
realizar milhares de testes de hipersensibilidade