E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
Roselene
1. O USO DO COMPUTADOR NA ESCOLA: DIÁLOGOS ENTRE A
TECNOLOGIA EDUCACIONAL E A CULTURA ESCOLAR
QUILES, Cláudia Natália Saes – UFMS / PPGEdu – natalia@uems.br
GT: Educação e Comunicação / n.16
Agência Financiadora: Sem Financiamento
Nesta pesquisa, em fase de desenvolvimento, focalizamos o uso do computador
na escola, nas salas de informática, como lugar privilegiado para o estudo da relação
tecnologia educacional e cultura escolar. Trabalhamos, para tanto, com a concepção de
que a cultura influencia as ações do/no cotidiano da escola, atuando diretamente nas
atividades, nas práticas, nos discursos, e dessa forma, temos a escola como produtora de
uma cultura própria. Vinão-Frago concebe a cultura escolar como:
[...] modos de pensar y actuar que proporcionan estrategias y pautas para
organizar y llevar la clase, interactuar con los compañeros y con otros
miembros de la comunidad educativa e integrarse en la vida cotidiana del
centro docente. Dichos modos de pensar y actuar constituyen en ocasiones
rituales y mitos, pero siempre se estructuran en forma de discursos y acciones
que, junto con la experiencia y formación del profesor, le sirven para llevar a
cabo su tarea diaria (2000, p. 100).
Dessa forma, analisamos a escola como uma “instituição bastante ímpar,
estruturada sobre processos, normas, valores, significados e rituais que constituem sua
própria cultura, a qual não é monolítica, nem estática ou repetível” (SILVA, 2001, p.
04).
Diante disso, nos orientamos por alguns questionamentos: como se desenham os
processos de ensinoaprendizagem nas salas de informática? De que forma a inserção da
cultura tecnológica determina a produção da cultura escolar?, a fim de analisar as
dinâmicas materiais vivenciadas nas escolas como: condições de trabalho, as ações e
valores subjetivos do/no uso do espaço das salas de informática, os critérios
estabelecidos e padronizados sobre o uso do computador, o investimento na relação
aluno-linguagem informatizada e de leis que equipam a escola e garantem, de alguma
forma, outro “status” ao professor que trabalha nessas salas.
Uma vez que a escola se modifica com a utilização desses recursos, acreditamos
na importância de se refletir sobre a existência de uma nova “consciência do ensinar e
do aprender”. Percebemos essa inserção não apenas com a instalação de computadores
na escola, mas sendo necessário repensar questões tais como a dimensão do espaço e do
2. 2
tempo da escola, a formação dos professores, as novas práticas pedagógicas, os
discursos, ações administrativas e outras.
A implantação da informática, como auxiliar do processo de construção de
conhecimento, implica em mudanças na escola que vão além da formação do
professor. É necessário que todos os segmentos da escola – alunos,
professores, administradores e comunidade de pais – estejam preparados e
suportem as mudanças educacionais necessárias para a formação de um novo
profissional, nesse sentido, a informática é um dos elementos que deverão
fazer parte da mudança, porém essa mudança é muito mais profunda do que
simplesmente montar laboratórios de computadores na escola e formar
professores para a utilização dos mesmos (VALENTE, 1999, p. 4).
Portanto, se a cultura tecnológica influencia a construção da cultura escolar por
estabelecer mudanças no ambiente escolar, que vão desde mudanças administrativas até
mudanças nas relações, acaba envolvendo não só seus grupos internos, mas também
pais e comunidade.
Segundo Tajra (2002), o computador é definido dentro do ambiente escolar
como uma ferramenta pedagógica capaz de potenciar a aprendizagem de campos
conceituais nas diferentes áreas de conhecimento, de introduzir elementos
contemporâneos na qualificação profissional e de modernização da gestão escolar.
Contudo, o acesso às tecnologias da informação e comunicação não acontece
simplesmente com a instalação dos laboratórios de informática, como são chamados na
escola, mas pela necessidade de mediação de professores, por meio do desenvolvimento
de habitus1 e saberes docentes para trabalhar, acessar e interagir com essas tecnologias
no cotidiano da escola.
É preciso avançar para além da simples implementação técnica de computadores
nas escolas, entendendo como as relações didático-pedagógicas acontecem com as
novas tecnologias e que dificuldades há nessas relações. Na perspectiva desse avanço,
acreditamos importante o aprofundamento nas formas de observação das práticas pelas
quais os atores da/na escola estão interagindo e se relacionando cotidianamente com
essas novas tecnologias.
Diante disso, acreditamos que o estudo da cultura escolar ilumine aspectos que
aproximem o objeto da realidade. Argumentamos, em decorrência disso, que a
sociedade atual vive um contexto político, social, cultural e econômico, que exige da
1
Para dar conta das condutas humanas, é preciso admitir que os agentes sociais possuem estratégias "que
só muito raramente estão assentadas em uma verdadeira intenção estratégica” (BOURDIEU, 1996, p.
145).
3. 3
escola o cumprimento de seu papel social no sentido de aquisição, de construção e de
reconstrução dos conhecimentos científicos e tecnológicos necessários à inserção de
todos, como cidadãos, nas práticas sociais e nas relações sociais do trabalho. Relações
essas que têm, atualmente, na ciência e na tecnologia, os seus principais fundamentos.
Metodologia da pesquisa
Estamos analisando o cotidiano de duas escolas2, a partir de três variáveis – a
escola, o uso do computador e o ambiente informatizado – na condução da apreensão da
cultura escolar. Para tanto, estamos trabalhando com a perspectiva do estudo
comparado, o qual “não é um simples método, é uma ciência cujo objeto é patentizar as
semelhanças e diferenças dos sistemas educacionais” (BEREDAY, 1968, p. 12).
Alimentamos o estudo comparado com dados recolhidos por meio de observações e
entrevistas orientadas por roteiros semi-estruturados, próprios da pesquisa etnográfica,
na perspectiva de mapear o uso do computador e as interferências ou produções da/na
cultura escolar. Nesse sentido, esse estudo se compõe de três grandes etapas que
interagem e se completam, a saber:
• na primeira etapa, contextualizamos e fundamentamos as temáticas – da
cultura escolar, da tecnologia educacional e do uso do computador na escola,
destacando a análise dos materiais curriculares disponibilizados pelos
programas de informática educacional (no âmbito do MEC), bem como os
das respectivas Secretarias de Educação e/ou apresentados pelas escolas
(documentos normativos jurídicos, normativos administrativos e
informativos e publicitários);
• na segunda etapa, a qual já iniciamos, estamos imersos no cotidiano das
escolas objetivando escutar/observar os produtores e os produtos da relação
escola—uso do computador—cultura escolar;
• na terceira, exploraremos o contexto das percepções, problemas, significados
e valores dos intervenientes levantados, bem como as ações e os
comportamentos estruturados na perspectiva da organização e classificação
2
Considerando a especificidade e a singularidade das relações tecnologia educacional — o uso do
computador na escola — e cultura escolar em cada espaço escolar, pretende-se examinar a significação
das semelhanças e das diferenças que existem nos dois ambientes informatizados selecionados.
4. 4
das informações para contextualizar aspectos agrupados nas categorias
analíticas.
Algumas conclusões preliminares...
O papel da tecnologia nas sociedades atuais é tão profundo que se torna difícil
pensar um espaço em que não se faça presente, pois as informações chegam aos
diversos lugares em tempo e quantidades recordes. Impõe-se, então, a necessidade de
reflexão sobre o papel da escola, ciente do quanto estamos inseridos em processos
interativos que modificam categorias de espaço, de tempo, de aprendizagem e, por
conseqüência, do processo escolar. Nessa perspectiva, a escola,
[...] que até há pouco tempo, trabalhava com informações escassas, buscando
ampliá-las, preocupada com transmitir conteúdos e descuidada de fazer
significativas as aprendizagens, essa escola atualmente se defronta com o
desafio de se constituir em lugar social e tempo reservado para a emergência
do significante na constituição do sujeito inserido na ordem simbólica desde
o imenso oceano de informações em que se acha imerso. Tarefa fundamental
da escola é agora a de trabalhar a informação, já que meramente passiva, na
atribuição a ela de significados pelos quais se fazem a comunicação, a
constituição de saberes e a interlocução deles na educação (MARQUES,
2003, p. 18).
Nas primeiras observações nas salas de informática, constatamos que para o
planejamento das atividades nesse espaço, há uma proposta de realização conjunta entre
professor responsável e demais professores. Essa proposição tem como objetivo o
oferecimento de orientações quanto ao preenchimento do formulário, o planejamento da
atividade a ser desenvolvida, a seleção dos sites a seres utilizados, bem como a forma de
organizar o tempo disponível da aula com as atividades intrínsecas aos sites.
Vale destacar, que esse espaço já foi designado como Laboratório de
Computação, mas por entendê-lo como um espaço que aglutina várias tecnologias,
passou-se a se chamar Sala de Tecnologias Educacionais – STE. Destacamos que nessa
sala não é priorizado só o uso do computador, mas de toda e qualquer tecnologia que
posso ser útil ao enriquecimento do processo de ensinoaprendizagem, tais como: a
televisão, o vídeo, o retroprojetor, o DVD, entre outros.
Um outro aspecto a ressaltar é que o termo “Laboratório de Computação” nos
remete a um termo mais técnico, sendo que a nomenclatura “Sala de Tecnologias
Educacionais” diz respeito a um espaço onde são usados os vários recursos tecnológicos
5. 5
que auxiliam na prática pedagógica do professor. As salas de tecnologia educacional
funcionam cinco dias por semana, sendo quatro dias para atendimento a comunidade
escolar e um dia para manutenção.
Para que esse funcionamento seja seguido, os professores e alunos são
cadastrados e adota-se do o seguinte modelo para o plano de aula, sendo esse composto
por: Nome do Professor; Data da aula; Tempo de execução h/a; Série; Disciplina;
Turno; Aplicativos utilizados (ser preenchido na sala de informática com o auxiliar do
instrutor); Recursos adicionais (o que será utilizado no desenvolvimento da aula além
do computador); Conteúdos (conteúdos direcionados ao eixo temático); Habilidades /
Objetivos (quais habilidades que pretende alcançar – percepção. observação,
interpretação, etc...); Procedimentos Metodológicos (desenvolvimento da aula);
Avaliação (de que forma será a avaliação para verificar se o aluno desenvolveu as
habilidades propostas).
Referências Bibliográficas
BEREDAY, George Z. F. El método comparativo en pedagogía. Barcelona: Editorial
Herder, 1968.
BOURDIEU, Pierre. Sociologia. [org. Renato Ortiz]. São Paulo : Editora Ática, 1983.
MARQUES, Mario Osório. A escola no computador: linguagens rearticuladas,
educação outra. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2003. (Coleção Fronteiras da Educação).
SILVA, Fabiany de Cássia Tavares. Escola e Cultura Escolar: dimensões do currículo.
Campo Grande: UFMS, 2001 (no prelo).
TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática na Educação: novas ferramentas pedagógicas
para o Professor da Atualidade. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Érica, 2002.
VALENTE, José Armando. Informática na educação no Brasil: análise e
contextualização histórica. In: VALENTE, José Armando (org.). O Computador na
Sociedade do Conhecimento. Campinas : UNICAMP / NIED, 1999, pp. 01-27.
VIÑAO FRAGO, Antonio. Por una historia de la cultura escolar: enfoques,
cuestiones, fuentes. Valladolid: Secretariado de Publicaciones e Intercambio Científico,
2000.