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      SOCIEDADE DE MASSA: UMA INTERPRETAÇÃO DA CULTURA
                          DOMINANTE

                             Eduardo Henrique Martins Lopes de Scovile*




                                                  RESUMO

Este artigo apresenta uma breve análise do surgimento da sociedade de massa norte-americana na
visão do sociólogo Charles Wright Mills e aborda também o conceito de ideologia e hegemonia,
apontado por Gramsci e Adorno. Wright Mills descreveu a sociedade norte-americana e os processos
de sua formação na segunda metade do século XX. O conteúdo de sua teoria revela uma análise
pioneira e intrigante, apresentando elementos fundamentais para uma maior compreensão da
sociedade de massa. Wright Mills destacou a importância do surgimento de classes e esclareceu
alguns aspectos fundamentais da sociedade norte-americana. No entanto, Wright Mills não analisou
os conceitos de ideologia e hegemonia em suas contribuições. Tais conceitos são primordiais para a
compreensão da sociedade de massa capitalista dos Estados Unidos.

Palavras-chave: sociedade, massa, Estados Unidos, Wright Mills, ideologia, hegemonia, Adorno.




                                                 ABSTRACT

This article presents a brief analysis of the American mass-society in its first stages of development,
based in the conceptions of the American sociologist Charles Wright Mills. It also tries to access the
concepts of hegemony and ideology as conceived by Gramsci and Adorno. Wright Mills described the
American society and its development process in the second half of the Twentieth Century. The
content of his theory reveals a pioneering and intriguing analysis, offering fundamental insights for
a better comprehension of the mass-society. Mills brought into focus the importance of the develop-
ment of the classes and cleared some fundamental aspects of the American society. Nevertheless, he
did not access the concepts of ideology and hegemony in his works. Such concepts are of utmost
importance for the comprehension of the capitalist mass-society in the United States.

Key Words: society, mass, United States, Wright Mills, ideology, hegemony, Adorno.



      *
        Economista e Mestrando em Sociologia, área de concentração em Sociologia das Organizaçôes (UFPR);
Professor da Business School FAE, em Curitiba (PR). E-mail: ehml@zaz.com.br




                              R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
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1 INTRODUÇÃO                                              2 WRIGHT MILLS E A VISÃO DE UMA
                                                            SOCIEDADE DE MASSA.
      Esse artigo pretende abordar de uma forma
geral algumas idéias do sociólogo                               Em uma visão contrária a autores como
norte-americano Charles Wright Mills acerca do            Gramsci (1985), Adorno (1999) e Marcuse
surgimento de uma sociedade de massa e                    (1982), o sociólogo norte-americano Charles
como o sociólogo concebeu a sua formação,                 Wright Mills discordaria da idéia de ideologia e
de forma independente das formulações                     das contradições materiais como formadora da
expressas na escola da teoria crítica de Adorno           consciência e das ações do sujeito. Mills, como
e Marcuse.                                                apontou Fernandes (1985, p. 19), era um norte-
                                                          americano até a medula e isso certamente
      No primeiro momento serão analisados
                                                          influenciou a sociologia do autor.
alguns aspectos da teoria de Mills:
a sua concepção de sociologia, o indi-                          No entanto, Mills (1985) ao verificar a saída
víduo como limite à noção de classe, a                    dos E.U.A da grande depressão que assolara o
diferença entre público e massa; estrutura                país na década de 30, o New Deal, a ascensão
da elite do poder e como a comunicação                    de uma política militarista e de uma sociedade
de massa permitiu o surgimento de uma                     próspera e do bem-estar, buscou criticar o
nova classe média como ela conse-                         conformismo e analisar o “homem e a sua
guiu reestruturar a sociedade americana no                alienação”.
pós-45.
                                                                A sociologia americana, embevecida com
      Na seqüência, será abordado o conceito              o american way of life ,deixou de ser crítica,
de ideologia, inserida na noção de hegemonia              segundo Mills (1985). A crítica é a base do
de Gramsci e como Adorno, Benjamin e Marcuse              questionamento sociológico do autor e a
trataram a questão.                                       liberdade (no sentido jeffersoniano) e a razão
                                                          (iluminista mas não pragmática) o cerne dos seus
       A inclusão dos autores mencionados no
                                                          princípios teóricos.
parágrafo anterior é justificada pelo fato de que
Mills jamais se questionou sobre a lógica do modo               A sociologia de Mills, segundo Fernandes
de produção e como a ideologia dominante o                (1985, p.21), buscava uma praticidade ou seja,
reproduz.                                                 a busca de um conhecimento que pudesse
                                                          intervir e modificar o processo histórico. Esse
       Pode surgir a dúvida sobre a possibilidade
                                                          conhecimento deveria ser um instrumento
de um debate entre Gramsci, Adorno e Benjamin
                                                          prático de mudanças políticas e não uma mera
em relação às concepções de Mills, devido a suas
                                                          descoberta que não possui eficácia na realidade
posições metodológicas. No entanto não é nossa
                                                          social. Para isso o autor, sempre mantendo uma
intenção confrontá-los metodologicamente e sim
                                                          visão crítica, buscava compreender os grupos
ilustrar dois pontos de vista completamente
                                                          sociais que detinham o poder e suas relações
díspares.
                                                          com a sociedade.
       O rigor metodológico com que Adorno, por
                                                                A racionalidade na visão de Mills (1985, P.
exemplo, trata suas categorias jamais poderia
                                                          21), está localizada no indivíduo mas ele está
ser contrastado com a sociologia de Mills, que
                                                          inserido no social, ou seja, reconhece que a
prima por uma independência metodológica
                                                          influência social atua na pessoa. Portanto a classe
(crítica ao pragmatismo) e que busca uma
                                                          social indica o meio social onde o indivíduo se
praticidade política (política da verdade).
                                                          constitui.
       Talvez a independência de Mills
                                                                 Os objetos de atenção, o lugar, o tempo e
metodológica, onde “o sociólogo é seu próprio
                                                          as condições sociais e culturais influem na
teórico e metodologista”, transforme em muito
                                                          racionalidade do indivíduo. Mas Mills (1985) alerta
as observações do pensador norte-americano em
                                                          também que a nação, família, escola e
discursos inflamados mas questionáveis
                                                          principalmente os meios de comunicação
cientificamente.
                                                          também são meios sociais de peso.


                             R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
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       Segundo Fernandes (1985, p.20), Mills                por ser o mediador das mudanças sociais. Ele
acreditava que o indivíduo é o único agente de              que nos afastará das arbitrariedades das
mudança histórica e o desaparecimento das                   necessidades imediatas, da abstração estéril (sem
classes sociais uma determinação social. Para isso          praticidade) e do individualismo (Fernandes,
o fator econômico deveria ser relativizado (em              1985, p.22).
contraposição ao marxismo) e deveríamos
                                                                  Quando o impulso é entorpecido, o homem
considerar a sociedade como um conjunto de
                                                            é destituído de uma de suas características. O
instituições; analisar a sociedade como uma
                                                            impulso transformador é anulado não pela
interação entre os componentes da natureza
                                                            exploração econômica e dominação como na
humana de um lado e as condições culturais de
                                                            teoria marxista, e sim pela opressão de uma
outro.
                                                            sociedade e de suas instituições. Ocorre um
      A análise das instituições sociais deve recair        processo de apatia e desinteresse político criado
sobre os efeitos que elas possuem nas vidas das             pelo próprio meio.
pessoas. Portanto a investigação deve partir da
                                                                   De forma alguma há uma aproximação de
formação da racionalidade, do estilo de vida e
                                                            Mills (1985) com o marxismo ao vislumbrar esse
do tipo de homem que o meio social produz.
                                                            desvio, pois ele próprio desconsidera a existência
       O indivíduo, como já dito, é o centro da             material como o único determinante da
inteligência e o único ator que buscará se libertar,        consciência.
transformando as instituições sociais e com isso
                                                                  Nem a noção de classe social aproxima Mills
o processo histórico. A sociedade e o indivíduo
                                                            do marxismo, pois a consciência individual
possuem uma relação tensa e, segundo
                                                            sempre foi, segundo o autor, um limite para a
Fernandes (1985, p. 21), para melhor
                                                            noção de classe. Mills (1985) recorre à apatia
compreendermos essa tensão, devemos analisar
                                                            das classes pouco privilegiadas como uma
3 categorias básicas: hábito, impulso e intelecto.
                                                            espécie de ausência de impulso para ousar. As
O autor acreditava que sempre haveria forças
                                                            classes pouco privilegiadas, assim como toda
que tentariam se libertar mas que seriam
                                                            classe, geram homens de determinado tipo e os
algumas vezes sufocadas pelo meio social:
                                                            das classes mais baixas são homens que “nunca
      É a tensão entre o indivíduo e meio social
                                                            tentaram” Fernandes (1985, p. 23).
      (hábito) que gera o impulso para a                          A alienação agora substituirá, segundo Mills
      transformação do meio social. Mas o mero              (1985, p. 143), a exploração de classes. Não
      impulso é tão irracional quanto o hábito. A           haveria mais o conflito entre pessoas de classes
      inteligência é a calibradora do impulso
                                                            diferentes, como o marxismo apregoa e sim um
      transformador. Cabe-lhe observar, buscar,
      pesquisar e permitir a deliberação entre os
                                                            processo de congelamento do impulso humano.
      possíveis (Fernandes, 1985, p.21).                          Criaria-se uma elite que deteria o poder, a
                                                            cultura e os bens materiais, que se manteria
                                                            através da destituição da capacidade de visão do
      As tensões entre o indivíduo e o meio                 homem e sua racionalidade. Esse homem que
podem deter inúmeras facetas e possibilidades.              detinha a capacidade crítica agora se dissolve
O homem naturalmente possui o impulso mas                   na massa e a comunicação de massa teria um
ele pode ser descontrolado ou simplesmente                  importante papel como formadora da consciência
reprimido. Ou seja, o impulso é inerente á                  desse homem.
natureza humana, no entanto ele pode tomar
rumos independentes do intelecto ou                              A formação da estrutura social norte-
simplesmente pode ficar detido ou entorpecido.              americana está condicionada aos efeitos da
O impulso deve estar relacionado ao intelecto. A            comunicação de massa. A comunicação
ação do indivíduo deve ser regida pelo intelecto            proporcionou condições de apatia política devido
e esse deve ser norteado pela ciência. Novamente            ao seu próprio conteúdo não político. Os
recaímos         na       ciência         prática           membros da elite são os que ocupam os postos
ou na ação política. O intelecto acaba                      de chefia das instituições, no caso dos


                               R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
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EUA, o exército, o estado burocrático e as                       Além dos fatores econômicos e do alto
instituições financeiras, e eles se perpetuarão           padrão de vida, outro elemento analisado pelo
através de um sistema construído a partir do              autor foi a mobilidade e diversificação de um
desinteresse pela política (Mills, 1981). O autor         mercado de prestígio em plena expansão. A
constata esse fenômeno a partir do surgimento             imigração teve um papel fundamental nesse
de uma nova classe média no pós-45 composta               estágio, pois os imigrantes vinham de países que
por trabalhadores assalariados – white collars.           possuíam um padrão de vida menor do o do
                                                          norte-americano. Esses imigrantes tinham
       A sociedade americana, segundo Mills
                                                          religiões, culturas e línguas diferentes.
(1976, p. 345), a partir da segunda metade do
século XX, apresenta um número crescente de                     Ocorre nesse processo, uma crescente
indivíduos indiferentes à política que superam            tentativa de adaptação, ou leia-se americanização
aos leais ao sistema (liberais) e aos revoltosos          por parte dos imigrantes, de sua cultura. Essa
(no sentido marxista). Observa também um                  tentativa buscava uma melhor forma de se
afastamento desses indivíduos das fidelidades             adaptarem a um país geograficamente imenso e
políticas dominantes, sem que esses adquiram              ainda por ser ocupado e também para facilitar a
novas.                                                    entrada em um mercado com um número de
                                                          indústrias e profissões cada vez maiores. Assim,
       O desinteresse é acompanhado, segundo
                                                          a ocupação lenta e esparsa do território, a
o autor, de um descontentamento e
                                                          diversidade cultural dos imigrantes e a não
simultaneamente de otimismo esperançoso por
                                                          fixação profissional e comunitária permitiu uma
parte dos indivíduos. Esse otimismo e
                                                          menor integração dos indivíduos.
descontentamento nunca são de caráter político,
e sim voltado para situações cotidianas                         Portanto, segundo Mills (1976, p. 358), as
irrelevantes. Essa “despolitização” da socie-dade         tendências históricas criaram uma mentalidade
foi promovida não somente pela comunicação                indiferente à consciência política.
de massa como pela própria estrutura social e
política e pelas instituições americanas.                          A rapidez da mudança, criada pelo progresso
                                                                  tecnológico, num território aberto, contribuiu
      A estrutura social americana foi                            para a extrema mobilidade, expansão e
fundamental para o processo de despolitização                     diversidade. Os homens não estiveram
pois a sociedade americana possui uma                             enraizados ou fixados em uma tradição e
receptividade fantástica e entusiasta com relação                 portanto estiveram alienados desde o seu
ao conteúdo que a comunicação de massa                            aparecimento na estrutura social. A corrida, o
proporciona (Mills, 1976, p. 357). Ou seja, a                     prestígio e a égide do bom vendedor sem
estrutura social cria e mantém sistematicamente                   dúvida alguma aumentaram esse processo de
                                                                  fixação e afastaram ainda mais o indivíduo das
a alienação.
                                                                  demandas e ações políticas, assim como de si
     A alienação e a receptividade são                            mesmos (Mills, 1976, p. 359).
decorrentes de um aumento progressivo e real
da renda, estimulada pelo desenvolvimento da                     Outro fator inerente à sociedade norte-
indústria e de sua prosperidade econômica                 americana é que suas instituições econômicas
provinda de um crescimento acelerado de                   estiveram sempre à frente das instituições
extensão dos mercados internos e externos.                políticas. A política interliga-se com a economia
                                                          a fim de obter vantagens e garantir práticas
      Os longos períodos de paz e abundância,             econômicas. Essa ligação é tão forte que, perante
com satisfações materiais crescentes e                    a sociedade norte-americana, as instituições
ininterruptas, não criaram descontentamentos              políticas e econômicas não se alinham mas elas
econômicos.                                               se tornam uma única coisa. A satisfação material
       O período de crise dos 30 serviu para              é o objetivo a ser alcançado, e o que torna isso
reforçar tal perfil pois, almejar e recuperar uma         possível é o melhor instrumento a ser utilizado.
prosperidade já vivida e com um amparo das                     Raramente a política americana tem sido
instituições políticas, torna-se muito mais fácil.        autônoma. Sempre esteve ancorada no setor


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      setor econômico, e os meios políticos são             comunicação. Torna-se uma comunidade
      empregados para obter e garantir fins                 abstrata onde as opiniões individuais são diluídas
      econômicos limitados. Assim, se ela chegou a          e a opinião da mídia é regulada pelas instituições.
      despertar interesse, raramente esse interesse         O total controle dos meios de comunicação fazem
      convergiu para fins políticos, quase sempre não
                                                            com que a massa não tenha autonomia frente
      ultrapassava os lucros e as perdas materiais
      (Mills, 1976, p. 360).
                                                            às instituições e reduz qualquer possibilidade de
                                                            formação de opinião.
      Assim, Mills (1985, p. 140), associa o                       A ascensão da sociedade de massa em
surgimento de uma nova classe média, diferente              detrimento do público é explicada pela
da sociedade clássica, pois se abstem de seu                centralização do poder pelas instituições e pela
poder crítico, com uma estrutura de poder                   estrutura burocrática que assume as esferas
baseado em uma elite que detém o comando                    políticas, econômicas e militares. Essas esferas
das instituições e que acaba por transformar a              perderam suas funções originais, inclusive
sociedade pública em sociedade de massa. 1                  políticas e se tornaram mais administrativas.
       Primeiramente, devemos esclarecer,                          O poder individual e comunitário também
segundo a visão do autor o que seja público e               sofreria modificações em grande escala e é cada
que é massa. A distinção dos dois termos está               vez mais subordinado a associações organizadas
intimamente relacionada com a comunicação que               em partidos de massa. Esses partidos, sempre
também é uma formadora de consciência. Alguns               divididos em dois (no caso E.U.A)
problemas são apontados pelo autor                          monopolizariam a opinião e relegariam a um
principalmente no que diz respeito à estrutura              segundo plano uma argumentação racional e
do poder e da emissão de opinião. Quando há                 prática (Mills, 1985, p.140). O processo eleitoral
um número proporcional de emissores e                       seria regido por um populismo e por técnicas de
receptores de opinião há a possibilidade de                 propaganda. Nesse ponto, os meios de
debate e de manifestação (Mills, 1985, p. 135).             comunicação atuam de forma a desviar a atenção
Quando há uma desproporção entre emissores                  do indivíduo da realidade social e
e receptores, no caso um número reduzido de                 conseqüentemente da sua.
emissores, o processo democrático, que para
Mills (1985) é a idéia central da vida comunitária,                A comunicação seria na opinião de Mills
torna-se impossível. Na organização da                      (1985, p. 142) o veículo transformador do público
comunicação a opinião é emitida por um número               em massa. Os meios de comunicação retiraram
deduzido de emissores e normalmente não há                  a discussão e a tensão entre o indivíduo e a
represálias. Esses emissores são condicionados              sociedade em favor de uma distração; de uma
pela própria estrutura do poder que regula o que            alienação que suspende a atenção do indivíduo.
pode ser “dito” ou não. Assim, a organização da             A tensão existiria apenas em caráter puramente
comunicação e seu processo de difusão são                   mercadológico: ter ou não um produto. O
institucionalizados com os auspícios da mídia               indivíduo é desabilitado de uma visão de mundo
pacificados ou impedidos de omitirem suas                   e é simultaneamente desconectado de sua
opiniões.                                                   própria realidade. Portanto, o indivíduo não se
                                                            vincula ao que acontece a sua volta pois não
      Assim, Mills (1985, p. 136) definiu que a             relaciona o que acontece consigo mesmo; não
sociedade pública possui tantos emissores quanto            se desprende do seu estreito cotidiano. 2 As
receptores de opinião. Na sociedade de massa,               pessoas acabam por optar por meios de
as pessoas expressam muito pouco e recebem                  comunicação que reflitam os seus gostos e suas
muito mais         opiniões dos meios de                    rotinas além de selecionarem opiniões que sejam



      1
        A concepção de opinião pública clássica se                 2
                                                                      Mills define esse espaço e essa rotina como
assemelha a de iluministas como Rosseau, mas com            milieux.. Nestes milieux as pessoas ficam separadas sem
algumas sérias modificações.                                possuir um conhecimento da estrutura da sociedade.


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delas. Opiniões diferentes acabam por ser                  liderança moral e intelectual. O conceito de classe
tratadas com menosprezo, pois estão imersas em             dominante refere-se a uma classe que dispõe
suas rotinas, cada vez mais estreitas e confinadas         dos meios de produção material e intelectual.
(MILLS, 1985, p. 145).                                     Essa classe para manter e reproduzir o modo de
                                                           produção, deve exercer o poder político, ou seja,
      O indivíduo agora se relaciona por
                                                           deve pertencer ao Estado.
estereótipos e por pseudomundos que a
comunicação de massa pode criar ou mesmo                         Marx (1989) atribuiu à burguesia a classe
destruir.                                                  que detém esse domínio e o Estado como o meio
                                                           de administrar os seus interesses. No entanto,
      Passa a ter o indivíduo pré-noções da
                                                           Gramsci (1985, p. 117-129) visualizou no domínio
realidade e das coisas que presume que estão
                                                           da sociedade civil e da política os dois níveis
certas e que devem ser seguidas. Ele acaba por
                                                           principais da hegemonia
perder a sua autonomia e, conseqüentemente
sua autoconfiança. Torna-se impotente perante                    A sociedade civil é um conjunto de
as estruturas burocráticas; anônimo nas                    organismos privados que se combinam com
megalópoles (típicas das sociedades de massa)              o Estado a fim de exercerem o domínio sobre
e ausente nas decisões políticas (Mills, 1985, p.          a sociedade. Portanto, a função da hegemonia
146).                                                      é a reprodução da dominação de classe.
                                                           Essa classe economicamente dominante
      Mills busca em suas análises, se abster dos
                                                           faz concessões dentro de certos limites com
conceitos de ideologia e hegemonia, presentes
                                                           aliados que juntos, formam um bloco de forças
nas formulações teóricas de Marx, Gramsci e da
                                                           ou bloco histórico como definiu Gramsci (1985,
escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer et al).
                                                           p.19-24).
        A estrutura social norte-americana seria
                                                                  Esses blocos organizam a sociedade
 construída a partir de um desinteresse político e
                                                           através de suas instituições sociais e produtivas
 de uma comunicação de massa extremamente
                                                           nas quais a ideologia da classe dominante é
 eficaz. O modo de produção e a carga ideológica
                                                           criada e recriada através dos intelectuais e dos
 que ele carrega não são objetos da análise de
                                                           aparelhos ideológicos. Gramsci atribui aos
 Mills (1985). Cabe aqui uma breve análise do
                                                           intelectuais não realizadores, ou seja, os que não
 conceito de ideologia e hegemonia para maiores
                                                           voltam suas atenções para a sociedade como
 esclarecimentos.
                                                           reprodutores da hegemonia da classe dominante.
                                                           Acreditava o autor que somente os intelectuais
 2 A IDEOLOGIA COMO FORMADORA DA                           vindos de uma classe menos abastada são os
   CONSCIÊNCIA                                             “edificadores práticos da sociedade”. Através dos
                                                           aparelhos ideológicos, caracterizados por Gramsci
      É comum afirmar que os Estados Unidos,               na educação e nos meios de comunicação, os
no período pós-guerra, apresentou uma                      intelectuais reafirmam a dominação de classe
hegemonia que atingiu o seu ápice na década                (Gramsci, 1985, p.117).
de 60. Cabe ressaltar que essa hegemonia é                       O Estado portanto, constitui um
caracterizada pelo domínio e liderança política e          instrumento de dominação e o autor constata
econômica.                                                 que a hegemonia é exercida através da ideologia
      Inúmeras vezes o conceito de hegemonia               e pela ideologia. O conceito de “ideologia” de
foi utilizado para descrever o poder político,             Gramsci (1985) parte da concepção de Marx
cultural e econômico dos E.U.A . na década de              (1989).
50 e 60. No entanto, o conceito é utilizado sem                 Constitui ideologia, na visão de Marx
o devido rigor. O desenvolvimento do conceito é            (1989), as representações que um grupo social
atribuído por inúmeros críticos a GRAMSCI                  dá a si mesmo em relação a outros grupos na
(1985). Segundo o autor, uma classe mantém o               sociedade. Através da ideologia, uma
seu domínio não somente através da                         classe exprime os seu interesse. Em
organização de forças mas inclusive na                     contrapartida, a ideologia oculta e deforma


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iguais às relações sociais e as contradições                      Os interesses, conflitos e contradições
do modo de produção. Por fim, deduz                         sociais se reproduzem em um sistema de
que a representação ideológica dominante                    manipulação e sua análise permite romper com
é a da classe dominante e esta, dissimula                   as ideologias e com isso abrir o caminho para
as relações de dominação (Marx, 1989).                      novas transformações no campo social (Assoun,
                                                            1991, p.35).
     Resumindo, a ideologia constituía uma falsa
consciência ou uma falsa representação                            Para Benjamin, como afirma Kothe (1976),
que as classes sociais possuem de sua própria               em uma visão ainda mais próxima de Marx de
condição.                                                   “falsa consciência”, a ideologia pode ser um
                                                            instrumento utilizado nos conflitos entre as
      Para Gramsci (1985, p.119), a ideologia
                                                            camadas sociais.
é uma concepção do mundo e está relacio-
nada     com     as   idéias   e    atitudes                      Como Kothe (1976, p. 109) afirmou: “(...)
e, fundamentalmente, em orientar e conduzir                 um termo que não guarda apenas o sentido
através de regras.                                          básico de falsa consciência...podia ter um sentido
                                                            positivo (...) como parte da luta de classes (...)
      A ideologia se manifesta nas artes, nas
                                                            Ao dizer o outro “, a literatura tinha o seu
relações políticas e econômicas e sobretudo nas
                                                            momento de verdade, mas sendo espólio
manifestações coletivas e individuais. Através da
                                                            arrastado no cortejo dos vencedores e
ideologia que os homens atuam e adquirem
                                                            dominadores da história, assumia o caráter
consciência.
                                                            negativo da ideologia. Combatendo-o, assumia
       A ideologia “hegemônica” não somente                 o caráter positivo desta.”
reflete os interesses econômicos como propicia
                                                                  Cabe ressaltar que a teoria crítica de
uma visão sistemática que influencia a sociedade
                                                            Adorno (1978) e Marcuse (1982) foi além do
servindo como princípio de organização das
                                                            ponto central das concepções de Gramsci (1985)
instituições sociais e econômicas.
                                                            pois o alvo das observações desses autores
      Conclui-se que a ideologia é o ponto central          sempre foi a racionalidade instrumental ou seja,
da hegemonia e é nela em que se fundamenta                  abrigava uma subjetividade não encontrada no
todo o processo de organização social e produtiva           autor italiano.
e é a partir dela que a estrutura da sociedade
                                                                  A razão instrumental transformaria a
capitalista e as supremacias econômicas,
                                                            sociedade e os meios técnicos acabaram por
notadamente a norte-americana, baseiam-se.
                                                            impedir o desenvolvimento da capacidade
      Adorno, como aponta Cohn (1986, p.12),                criadora humana.
ao analisar as práticas sociais através da realidade
                                                                   O progresso técnico vindo da racionalidade
distorcida, em que as relações de poder e as
                                                            instrumental, herança da era das luzes, atenderia
contradições do modo de produção se escondem,
                                                            a lógica do capital e não às necessidades
recorreram também à análise da ideologia com
                                                            humanas. A emancipação política e a reflexão
base nas concepções de Marx.
                                                            estariam paralisadas e a racionalidade científica
       A teoria crítica basicamente se tornou uma           seria vítima dos seus próprios métodos,tornando-
crítica à ideologia. A ideologia, não é algo que é          se irracional.
imposto a um sujeito passivo pois ela não
                                                                  Marcuse (1982) atribui ao progresso
somente submete ou o ilude e sim o coloca aos
                                                            técnico a “chave” da ideologia da sociedade
seus serviços segundo Adorno (1999).
                                                            industrial. O progresso técnico permitiu o
      A indústria cultural permitiria que todos os          surgimento de um sistema de dominação e
setores, principalmente a comunicação,                      coordenação que reconcilia qualquer sistema
reproduzissem a ideologia dominante. Tanto
Adorno (1978) como Mills (1985) atribuem um
papel fundamental da comunicação de massa na                        3
                                                                      Maiores detalhes sobre o conceito de indústria
formação da sociedade.3                                     cultural ver: Adorno, 1978



                               R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
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de força que se opõe à ideologia (Marcuse, 1982,            E novamente devemos atentar que tanto Adorno
p. 23-37). Não nos prolongaremos nessa                     quanto Mills, observaram a importância da
discussão pois para os frankfurtianos a base seria         comunicação de massa como instrumento de
a própria racionalidade que aprisionaria o                 formação de consciência e de classe.
desenvolvimento e “libertação” como Marcuse
                                                                  No que concerne à análise das classes
(1982) argumenta. Mas a argumentação de
                                                           sociais (e a questão do indivíduo), Mills é
Gramsci (1985) acerca da hegemonia e
                                                           notadamente um sociólogo que admitiu a sua
supremacia de uma classe em relação a outra
                                                           influência norte-americana e todos os seus mitos
ou a formação de blocos econômicos retém uma
                                                           de liberdade. Claramente um entusiasta do
lógica interessante, sendo oposta a de Mills
                                                           iluminismo, buscou questionar autores como
(1985). As noções de classe e de movimento
                                                           Gramsci, pela existência do estado totalitário
históricas são díspares entre Adorno e Gramsci.
                                                           stalinista. Os frankfurtianos (Adorno e Marcuse)
O sujeito torna-se a figura central de análise para
                                                           também questionaram os estados totalitários, a
Adorno (1999) e Marcuse (1982), enquanto a
                                                           noção de classe e, principalmente buscaram
classe social seria a base para o pensamento de
                                                           verificar se o iluminismo cumpriu sua promessa.
Gramsci (1985).
                                                                 Contudo, a teoria de Mills constitui um
                                                           arcabouço fundamental na análise do
CONCLUSÃO                                                  surgimento do Estado normatizador norte-
                                                           americano. A associação entre a sociedade de
      Segundo Mills, a formação da consciência             consumo de massa e o intervencionismo baseado
na sociedade ficou independente do conflito de             nas concepções keynesianas (Estado
interesses entre as camadas sociais, da ideologia          normatizador) permitiu a consolidação de uma
e do modo de produção. Ocorre, segundo o autor             sociedade de bem-estar social e, parale-lamente,
norte-americano, um processo de enrijecimento              a hegemonia dos E.U.A no período que se segue
de um estado burocrático cada vez mais                     ao término da Segunda Grande Guerra.
administrado (concepção teórica notadamente
                                                                   Apesar das críticas que apontam para
vinda de Max Weber) e uma estratificação social
                                                           uma fragilidade metodológica e da ausência em
que gerou uma elite e uma classe média que
                                                           suas análises dos conceitos de ideologia e
sofre mas nunca reage. Surge uma sociedade
                                                           hegemonia, Mills é o primeiro sociólogo crítico
de massa que é homogênea, apática, sem um
                                                           norte-americano e sua contribuição para uma
debate lógico e que “navega” em problemas
                                                           análise da sociedade de massa norte-americana
imaginários. A comunicação de massa produziu
                                                           permanece como um instrumento eficaz na
um indivíduo ausente politicamente e limitado
                                                           análise da formação da classe média norte-
em seus horizontes.
                                                           americana.
      No entanto, Mills não releva que a ideologia
da camada econômica dominante, presente em
Gramsci e Adorno, reproduz o modo de produção.             REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
A rigor, a relevância de Mills recai sobre seus
apontamentos a cerca da sociedade norte-                   ADORNO, T.W. A indústria cultural. In: COHN,
americana do pós-45 e o papel que a                        G. (Org.). Comunicação e indústria cultural. São
comunicação de massa possui como                           Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.
“desmobilizadora” das atividades políticas e da
opinião pública.                                           _____. Mensagens numa garrafa. In: ZIZEK,
                                                           Slavoj (Org.). Um mapa da ideologia. Rio de
      A busca de Mills por uma “verdade” que               Janeiro: Contraponto, 1999.
possa ser praticada como instrumento para
solidificação de uma sociedade puramente                   ADORNO, T.W. e HORKHEIMER M. A dialética do
democrática e a sua análise das estruturas do              esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
poder e sua elite acabam por ser                           1986.
simultaneamente instigantes e intrigantes.


                              R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
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ASSOUN, P-L. A Escola de Frankfurt. São Paulo:
Àtica,1991.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política.
7º edição. Obras Escolhidas, São Paulo:
Brasiliense, 1994. Vol. 1.

BOBBIO, N. O conceito de sociedade civil. Rio
de Janeiro : Graal, 1982. p. 9-24.

COHN, G. Difícil reconciliação: adorno e a dialética
da cultura. Lua Nova, Revista de Política e Cultura,
São Paulo CEDEC: maio 1990, nº 20

_____. Adorno e a teoria crítica da sociedade. In
ADORNO, T.W. Theodor W. Adorno. Grandes
Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986. p. 7-
31.

FERNANDES, H. R. Mills, o sociólogo-artesão. In
MILLS, C. Wright. Wright Mills. Grandes Cientistas
Sociais. São Paulo: Ática, 1985.

GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização do
poder, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.
p. 117-129.

KOTHE, F. Para ler Benjamin. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1976.

MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial:
o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar,
1982.

MARX, K. O capital. Livro 1 , capítulo 1, Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

MILLS,C. W. A elite do poder. Rio de Janeiro:
Zahar, 1981.

_____. A sociedade de massa. In MILLS, C. W.
Wright Mills. Grandes Cientistas Sociais. São
Paulo: Ática, 1985.

_____. A nova classe média. Rio de Janeiro:
Zahar, 1976




                               R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001

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Soiedade De Massa E Cultura

  • 1. 49 SOCIEDADE DE MASSA: UMA INTERPRETAÇÃO DA CULTURA DOMINANTE Eduardo Henrique Martins Lopes de Scovile* RESUMO Este artigo apresenta uma breve análise do surgimento da sociedade de massa norte-americana na visão do sociólogo Charles Wright Mills e aborda também o conceito de ideologia e hegemonia, apontado por Gramsci e Adorno. Wright Mills descreveu a sociedade norte-americana e os processos de sua formação na segunda metade do século XX. O conteúdo de sua teoria revela uma análise pioneira e intrigante, apresentando elementos fundamentais para uma maior compreensão da sociedade de massa. Wright Mills destacou a importância do surgimento de classes e esclareceu alguns aspectos fundamentais da sociedade norte-americana. No entanto, Wright Mills não analisou os conceitos de ideologia e hegemonia em suas contribuições. Tais conceitos são primordiais para a compreensão da sociedade de massa capitalista dos Estados Unidos. Palavras-chave: sociedade, massa, Estados Unidos, Wright Mills, ideologia, hegemonia, Adorno. ABSTRACT This article presents a brief analysis of the American mass-society in its first stages of development, based in the conceptions of the American sociologist Charles Wright Mills. It also tries to access the concepts of hegemony and ideology as conceived by Gramsci and Adorno. Wright Mills described the American society and its development process in the second half of the Twentieth Century. The content of his theory reveals a pioneering and intriguing analysis, offering fundamental insights for a better comprehension of the mass-society. Mills brought into focus the importance of the develop- ment of the classes and cleared some fundamental aspects of the American society. Nevertheless, he did not access the concepts of ideology and hegemony in his works. Such concepts are of utmost importance for the comprehension of the capitalist mass-society in the United States. Key Words: society, mass, United States, Wright Mills, ideology, hegemony, Adorno. * Economista e Mestrando em Sociologia, área de concentração em Sociologia das Organizaçôes (UFPR); Professor da Business School FAE, em Curitiba (PR). E-mail: ehml@zaz.com.br R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 2. 50 1 INTRODUÇÃO 2 WRIGHT MILLS E A VISÃO DE UMA SOCIEDADE DE MASSA. Esse artigo pretende abordar de uma forma geral algumas idéias do sociólogo Em uma visão contrária a autores como norte-americano Charles Wright Mills acerca do Gramsci (1985), Adorno (1999) e Marcuse surgimento de uma sociedade de massa e (1982), o sociólogo norte-americano Charles como o sociólogo concebeu a sua formação, Wright Mills discordaria da idéia de ideologia e de forma independente das formulações das contradições materiais como formadora da expressas na escola da teoria crítica de Adorno consciência e das ações do sujeito. Mills, como e Marcuse. apontou Fernandes (1985, p. 19), era um norte- americano até a medula e isso certamente No primeiro momento serão analisados influenciou a sociologia do autor. alguns aspectos da teoria de Mills: a sua concepção de sociologia, o indi- No entanto, Mills (1985) ao verificar a saída víduo como limite à noção de classe, a dos E.U.A da grande depressão que assolara o diferença entre público e massa; estrutura país na década de 30, o New Deal, a ascensão da elite do poder e como a comunicação de uma política militarista e de uma sociedade de massa permitiu o surgimento de uma próspera e do bem-estar, buscou criticar o nova classe média como ela conse- conformismo e analisar o “homem e a sua guiu reestruturar a sociedade americana no alienação”. pós-45. A sociologia americana, embevecida com Na seqüência, será abordado o conceito o american way of life ,deixou de ser crítica, de ideologia, inserida na noção de hegemonia segundo Mills (1985). A crítica é a base do de Gramsci e como Adorno, Benjamin e Marcuse questionamento sociológico do autor e a trataram a questão. liberdade (no sentido jeffersoniano) e a razão (iluminista mas não pragmática) o cerne dos seus A inclusão dos autores mencionados no princípios teóricos. parágrafo anterior é justificada pelo fato de que Mills jamais se questionou sobre a lógica do modo A sociologia de Mills, segundo Fernandes de produção e como a ideologia dominante o (1985, p.21), buscava uma praticidade ou seja, reproduz. a busca de um conhecimento que pudesse intervir e modificar o processo histórico. Esse Pode surgir a dúvida sobre a possibilidade conhecimento deveria ser um instrumento de um debate entre Gramsci, Adorno e Benjamin prático de mudanças políticas e não uma mera em relação às concepções de Mills, devido a suas descoberta que não possui eficácia na realidade posições metodológicas. No entanto não é nossa social. Para isso o autor, sempre mantendo uma intenção confrontá-los metodologicamente e sim visão crítica, buscava compreender os grupos ilustrar dois pontos de vista completamente sociais que detinham o poder e suas relações díspares. com a sociedade. O rigor metodológico com que Adorno, por A racionalidade na visão de Mills (1985, P. exemplo, trata suas categorias jamais poderia 21), está localizada no indivíduo mas ele está ser contrastado com a sociologia de Mills, que inserido no social, ou seja, reconhece que a prima por uma independência metodológica influência social atua na pessoa. Portanto a classe (crítica ao pragmatismo) e que busca uma social indica o meio social onde o indivíduo se praticidade política (política da verdade). constitui. Talvez a independência de Mills Os objetos de atenção, o lugar, o tempo e metodológica, onde “o sociólogo é seu próprio as condições sociais e culturais influem na teórico e metodologista”, transforme em muito racionalidade do indivíduo. Mas Mills (1985) alerta as observações do pensador norte-americano em também que a nação, família, escola e discursos inflamados mas questionáveis principalmente os meios de comunicação cientificamente. também são meios sociais de peso. R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 3. 51 Segundo Fernandes (1985, p.20), Mills por ser o mediador das mudanças sociais. Ele acreditava que o indivíduo é o único agente de que nos afastará das arbitrariedades das mudança histórica e o desaparecimento das necessidades imediatas, da abstração estéril (sem classes sociais uma determinação social. Para isso praticidade) e do individualismo (Fernandes, o fator econômico deveria ser relativizado (em 1985, p.22). contraposição ao marxismo) e deveríamos Quando o impulso é entorpecido, o homem considerar a sociedade como um conjunto de é destituído de uma de suas características. O instituições; analisar a sociedade como uma impulso transformador é anulado não pela interação entre os componentes da natureza exploração econômica e dominação como na humana de um lado e as condições culturais de teoria marxista, e sim pela opressão de uma outro. sociedade e de suas instituições. Ocorre um A análise das instituições sociais deve recair processo de apatia e desinteresse político criado sobre os efeitos que elas possuem nas vidas das pelo próprio meio. pessoas. Portanto a investigação deve partir da De forma alguma há uma aproximação de formação da racionalidade, do estilo de vida e Mills (1985) com o marxismo ao vislumbrar esse do tipo de homem que o meio social produz. desvio, pois ele próprio desconsidera a existência O indivíduo, como já dito, é o centro da material como o único determinante da inteligência e o único ator que buscará se libertar, consciência. transformando as instituições sociais e com isso Nem a noção de classe social aproxima Mills o processo histórico. A sociedade e o indivíduo do marxismo, pois a consciência individual possuem uma relação tensa e, segundo sempre foi, segundo o autor, um limite para a Fernandes (1985, p. 21), para melhor noção de classe. Mills (1985) recorre à apatia compreendermos essa tensão, devemos analisar das classes pouco privilegiadas como uma 3 categorias básicas: hábito, impulso e intelecto. espécie de ausência de impulso para ousar. As O autor acreditava que sempre haveria forças classes pouco privilegiadas, assim como toda que tentariam se libertar mas que seriam classe, geram homens de determinado tipo e os algumas vezes sufocadas pelo meio social: das classes mais baixas são homens que “nunca É a tensão entre o indivíduo e meio social tentaram” Fernandes (1985, p. 23). (hábito) que gera o impulso para a A alienação agora substituirá, segundo Mills transformação do meio social. Mas o mero (1985, p. 143), a exploração de classes. Não impulso é tão irracional quanto o hábito. A haveria mais o conflito entre pessoas de classes inteligência é a calibradora do impulso diferentes, como o marxismo apregoa e sim um transformador. Cabe-lhe observar, buscar, pesquisar e permitir a deliberação entre os processo de congelamento do impulso humano. possíveis (Fernandes, 1985, p.21). Criaria-se uma elite que deteria o poder, a cultura e os bens materiais, que se manteria através da destituição da capacidade de visão do As tensões entre o indivíduo e o meio homem e sua racionalidade. Esse homem que podem deter inúmeras facetas e possibilidades. detinha a capacidade crítica agora se dissolve O homem naturalmente possui o impulso mas na massa e a comunicação de massa teria um ele pode ser descontrolado ou simplesmente importante papel como formadora da consciência reprimido. Ou seja, o impulso é inerente á desse homem. natureza humana, no entanto ele pode tomar rumos independentes do intelecto ou A formação da estrutura social norte- simplesmente pode ficar detido ou entorpecido. americana está condicionada aos efeitos da O impulso deve estar relacionado ao intelecto. A comunicação de massa. A comunicação ação do indivíduo deve ser regida pelo intelecto proporcionou condições de apatia política devido e esse deve ser norteado pela ciência. Novamente ao seu próprio conteúdo não político. Os recaímos na ciência prática membros da elite são os que ocupam os postos ou na ação política. O intelecto acaba de chefia das instituições, no caso dos R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 4. 52 EUA, o exército, o estado burocrático e as Além dos fatores econômicos e do alto instituições financeiras, e eles se perpetuarão padrão de vida, outro elemento analisado pelo através de um sistema construído a partir do autor foi a mobilidade e diversificação de um desinteresse pela política (Mills, 1981). O autor mercado de prestígio em plena expansão. A constata esse fenômeno a partir do surgimento imigração teve um papel fundamental nesse de uma nova classe média no pós-45 composta estágio, pois os imigrantes vinham de países que por trabalhadores assalariados – white collars. possuíam um padrão de vida menor do o do norte-americano. Esses imigrantes tinham A sociedade americana, segundo Mills religiões, culturas e línguas diferentes. (1976, p. 345), a partir da segunda metade do século XX, apresenta um número crescente de Ocorre nesse processo, uma crescente indivíduos indiferentes à política que superam tentativa de adaptação, ou leia-se americanização aos leais ao sistema (liberais) e aos revoltosos por parte dos imigrantes, de sua cultura. Essa (no sentido marxista). Observa também um tentativa buscava uma melhor forma de se afastamento desses indivíduos das fidelidades adaptarem a um país geograficamente imenso e políticas dominantes, sem que esses adquiram ainda por ser ocupado e também para facilitar a novas. entrada em um mercado com um número de indústrias e profissões cada vez maiores. Assim, O desinteresse é acompanhado, segundo a ocupação lenta e esparsa do território, a o autor, de um descontentamento e diversidade cultural dos imigrantes e a não simultaneamente de otimismo esperançoso por fixação profissional e comunitária permitiu uma parte dos indivíduos. Esse otimismo e menor integração dos indivíduos. descontentamento nunca são de caráter político, e sim voltado para situações cotidianas Portanto, segundo Mills (1976, p. 358), as irrelevantes. Essa “despolitização” da socie-dade tendências históricas criaram uma mentalidade foi promovida não somente pela comunicação indiferente à consciência política. de massa como pela própria estrutura social e política e pelas instituições americanas. A rapidez da mudança, criada pelo progresso tecnológico, num território aberto, contribuiu A estrutura social americana foi para a extrema mobilidade, expansão e fundamental para o processo de despolitização diversidade. Os homens não estiveram pois a sociedade americana possui uma enraizados ou fixados em uma tradição e receptividade fantástica e entusiasta com relação portanto estiveram alienados desde o seu ao conteúdo que a comunicação de massa aparecimento na estrutura social. A corrida, o proporciona (Mills, 1976, p. 357). Ou seja, a prestígio e a égide do bom vendedor sem estrutura social cria e mantém sistematicamente dúvida alguma aumentaram esse processo de fixação e afastaram ainda mais o indivíduo das a alienação. demandas e ações políticas, assim como de si A alienação e a receptividade são mesmos (Mills, 1976, p. 359). decorrentes de um aumento progressivo e real da renda, estimulada pelo desenvolvimento da Outro fator inerente à sociedade norte- indústria e de sua prosperidade econômica americana é que suas instituições econômicas provinda de um crescimento acelerado de estiveram sempre à frente das instituições extensão dos mercados internos e externos. políticas. A política interliga-se com a economia a fim de obter vantagens e garantir práticas Os longos períodos de paz e abundância, econômicas. Essa ligação é tão forte que, perante com satisfações materiais crescentes e a sociedade norte-americana, as instituições ininterruptas, não criaram descontentamentos políticas e econômicas não se alinham mas elas econômicos. se tornam uma única coisa. A satisfação material O período de crise dos 30 serviu para é o objetivo a ser alcançado, e o que torna isso reforçar tal perfil pois, almejar e recuperar uma possível é o melhor instrumento a ser utilizado. prosperidade já vivida e com um amparo das Raramente a política americana tem sido instituições políticas, torna-se muito mais fácil. autônoma. Sempre esteve ancorada no setor R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 5. 53 setor econômico, e os meios políticos são comunicação. Torna-se uma comunidade empregados para obter e garantir fins abstrata onde as opiniões individuais são diluídas econômicos limitados. Assim, se ela chegou a e a opinião da mídia é regulada pelas instituições. despertar interesse, raramente esse interesse O total controle dos meios de comunicação fazem convergiu para fins políticos, quase sempre não com que a massa não tenha autonomia frente ultrapassava os lucros e as perdas materiais (Mills, 1976, p. 360). às instituições e reduz qualquer possibilidade de formação de opinião. Assim, Mills (1985, p. 140), associa o A ascensão da sociedade de massa em surgimento de uma nova classe média, diferente detrimento do público é explicada pela da sociedade clássica, pois se abstem de seu centralização do poder pelas instituições e pela poder crítico, com uma estrutura de poder estrutura burocrática que assume as esferas baseado em uma elite que detém o comando políticas, econômicas e militares. Essas esferas das instituições e que acaba por transformar a perderam suas funções originais, inclusive sociedade pública em sociedade de massa. 1 políticas e se tornaram mais administrativas. Primeiramente, devemos esclarecer, O poder individual e comunitário também segundo a visão do autor o que seja público e sofreria modificações em grande escala e é cada que é massa. A distinção dos dois termos está vez mais subordinado a associações organizadas intimamente relacionada com a comunicação que em partidos de massa. Esses partidos, sempre também é uma formadora de consciência. Alguns divididos em dois (no caso E.U.A) problemas são apontados pelo autor monopolizariam a opinião e relegariam a um principalmente no que diz respeito à estrutura segundo plano uma argumentação racional e do poder e da emissão de opinião. Quando há prática (Mills, 1985, p.140). O processo eleitoral um número proporcional de emissores e seria regido por um populismo e por técnicas de receptores de opinião há a possibilidade de propaganda. Nesse ponto, os meios de debate e de manifestação (Mills, 1985, p. 135). comunicação atuam de forma a desviar a atenção Quando há uma desproporção entre emissores do indivíduo da realidade social e e receptores, no caso um número reduzido de conseqüentemente da sua. emissores, o processo democrático, que para Mills (1985) é a idéia central da vida comunitária, A comunicação seria na opinião de Mills torna-se impossível. Na organização da (1985, p. 142) o veículo transformador do público comunicação a opinião é emitida por um número em massa. Os meios de comunicação retiraram deduzido de emissores e normalmente não há a discussão e a tensão entre o indivíduo e a represálias. Esses emissores são condicionados sociedade em favor de uma distração; de uma pela própria estrutura do poder que regula o que alienação que suspende a atenção do indivíduo. pode ser “dito” ou não. Assim, a organização da A tensão existiria apenas em caráter puramente comunicação e seu processo de difusão são mercadológico: ter ou não um produto. O institucionalizados com os auspícios da mídia indivíduo é desabilitado de uma visão de mundo pacificados ou impedidos de omitirem suas e é simultaneamente desconectado de sua opiniões. própria realidade. Portanto, o indivíduo não se vincula ao que acontece a sua volta pois não Assim, Mills (1985, p. 136) definiu que a relaciona o que acontece consigo mesmo; não sociedade pública possui tantos emissores quanto se desprende do seu estreito cotidiano. 2 As receptores de opinião. Na sociedade de massa, pessoas acabam por optar por meios de as pessoas expressam muito pouco e recebem comunicação que reflitam os seus gostos e suas muito mais opiniões dos meios de rotinas além de selecionarem opiniões que sejam 1 A concepção de opinião pública clássica se 2 Mills define esse espaço e essa rotina como assemelha a de iluministas como Rosseau, mas com milieux.. Nestes milieux as pessoas ficam separadas sem algumas sérias modificações. possuir um conhecimento da estrutura da sociedade. R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 6. 54 delas. Opiniões diferentes acabam por ser liderança moral e intelectual. O conceito de classe tratadas com menosprezo, pois estão imersas em dominante refere-se a uma classe que dispõe suas rotinas, cada vez mais estreitas e confinadas dos meios de produção material e intelectual. (MILLS, 1985, p. 145). Essa classe para manter e reproduzir o modo de produção, deve exercer o poder político, ou seja, O indivíduo agora se relaciona por deve pertencer ao Estado. estereótipos e por pseudomundos que a comunicação de massa pode criar ou mesmo Marx (1989) atribuiu à burguesia a classe destruir. que detém esse domínio e o Estado como o meio de administrar os seus interesses. No entanto, Passa a ter o indivíduo pré-noções da Gramsci (1985, p. 117-129) visualizou no domínio realidade e das coisas que presume que estão da sociedade civil e da política os dois níveis certas e que devem ser seguidas. Ele acaba por principais da hegemonia perder a sua autonomia e, conseqüentemente sua autoconfiança. Torna-se impotente perante A sociedade civil é um conjunto de as estruturas burocráticas; anônimo nas organismos privados que se combinam com megalópoles (típicas das sociedades de massa) o Estado a fim de exercerem o domínio sobre e ausente nas decisões políticas (Mills, 1985, p. a sociedade. Portanto, a função da hegemonia 146). é a reprodução da dominação de classe. Essa classe economicamente dominante Mills busca em suas análises, se abster dos faz concessões dentro de certos limites com conceitos de ideologia e hegemonia, presentes aliados que juntos, formam um bloco de forças nas formulações teóricas de Marx, Gramsci e da ou bloco histórico como definiu Gramsci (1985, escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer et al). p.19-24). A estrutura social norte-americana seria Esses blocos organizam a sociedade construída a partir de um desinteresse político e através de suas instituições sociais e produtivas de uma comunicação de massa extremamente nas quais a ideologia da classe dominante é eficaz. O modo de produção e a carga ideológica criada e recriada através dos intelectuais e dos que ele carrega não são objetos da análise de aparelhos ideológicos. Gramsci atribui aos Mills (1985). Cabe aqui uma breve análise do intelectuais não realizadores, ou seja, os que não conceito de ideologia e hegemonia para maiores voltam suas atenções para a sociedade como esclarecimentos. reprodutores da hegemonia da classe dominante. Acreditava o autor que somente os intelectuais 2 A IDEOLOGIA COMO FORMADORA DA vindos de uma classe menos abastada são os CONSCIÊNCIA “edificadores práticos da sociedade”. Através dos aparelhos ideológicos, caracterizados por Gramsci É comum afirmar que os Estados Unidos, na educação e nos meios de comunicação, os no período pós-guerra, apresentou uma intelectuais reafirmam a dominação de classe hegemonia que atingiu o seu ápice na década (Gramsci, 1985, p.117). de 60. Cabe ressaltar que essa hegemonia é O Estado portanto, constitui um caracterizada pelo domínio e liderança política e instrumento de dominação e o autor constata econômica. que a hegemonia é exercida através da ideologia Inúmeras vezes o conceito de hegemonia e pela ideologia. O conceito de “ideologia” de foi utilizado para descrever o poder político, Gramsci (1985) parte da concepção de Marx cultural e econômico dos E.U.A . na década de (1989). 50 e 60. No entanto, o conceito é utilizado sem Constitui ideologia, na visão de Marx o devido rigor. O desenvolvimento do conceito é (1989), as representações que um grupo social atribuído por inúmeros críticos a GRAMSCI dá a si mesmo em relação a outros grupos na (1985). Segundo o autor, uma classe mantém o sociedade. Através da ideologia, uma seu domínio não somente através da classe exprime os seu interesse. Em organização de forças mas inclusive na contrapartida, a ideologia oculta e deforma R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 7. 55 iguais às relações sociais e as contradições Os interesses, conflitos e contradições do modo de produção. Por fim, deduz sociais se reproduzem em um sistema de que a representação ideológica dominante manipulação e sua análise permite romper com é a da classe dominante e esta, dissimula as ideologias e com isso abrir o caminho para as relações de dominação (Marx, 1989). novas transformações no campo social (Assoun, 1991, p.35). Resumindo, a ideologia constituía uma falsa consciência ou uma falsa representação Para Benjamin, como afirma Kothe (1976), que as classes sociais possuem de sua própria em uma visão ainda mais próxima de Marx de condição. “falsa consciência”, a ideologia pode ser um instrumento utilizado nos conflitos entre as Para Gramsci (1985, p.119), a ideologia camadas sociais. é uma concepção do mundo e está relacio- nada com as idéias e atitudes Como Kothe (1976, p. 109) afirmou: “(...) e, fundamentalmente, em orientar e conduzir um termo que não guarda apenas o sentido através de regras. básico de falsa consciência...podia ter um sentido positivo (...) como parte da luta de classes (...) A ideologia se manifesta nas artes, nas Ao dizer o outro “, a literatura tinha o seu relações políticas e econômicas e sobretudo nas momento de verdade, mas sendo espólio manifestações coletivas e individuais. Através da arrastado no cortejo dos vencedores e ideologia que os homens atuam e adquirem dominadores da história, assumia o caráter consciência. negativo da ideologia. Combatendo-o, assumia A ideologia “hegemônica” não somente o caráter positivo desta.” reflete os interesses econômicos como propicia Cabe ressaltar que a teoria crítica de uma visão sistemática que influencia a sociedade Adorno (1978) e Marcuse (1982) foi além do servindo como princípio de organização das ponto central das concepções de Gramsci (1985) instituições sociais e econômicas. pois o alvo das observações desses autores Conclui-se que a ideologia é o ponto central sempre foi a racionalidade instrumental ou seja, da hegemonia e é nela em que se fundamenta abrigava uma subjetividade não encontrada no todo o processo de organização social e produtiva autor italiano. e é a partir dela que a estrutura da sociedade A razão instrumental transformaria a capitalista e as supremacias econômicas, sociedade e os meios técnicos acabaram por notadamente a norte-americana, baseiam-se. impedir o desenvolvimento da capacidade Adorno, como aponta Cohn (1986, p.12), criadora humana. ao analisar as práticas sociais através da realidade O progresso técnico vindo da racionalidade distorcida, em que as relações de poder e as instrumental, herança da era das luzes, atenderia contradições do modo de produção se escondem, a lógica do capital e não às necessidades recorreram também à análise da ideologia com humanas. A emancipação política e a reflexão base nas concepções de Marx. estariam paralisadas e a racionalidade científica A teoria crítica basicamente se tornou uma seria vítima dos seus próprios métodos,tornando- crítica à ideologia. A ideologia, não é algo que é se irracional. imposto a um sujeito passivo pois ela não Marcuse (1982) atribui ao progresso somente submete ou o ilude e sim o coloca aos técnico a “chave” da ideologia da sociedade seus serviços segundo Adorno (1999). industrial. O progresso técnico permitiu o A indústria cultural permitiria que todos os surgimento de um sistema de dominação e setores, principalmente a comunicação, coordenação que reconcilia qualquer sistema reproduzissem a ideologia dominante. Tanto Adorno (1978) como Mills (1985) atribuem um papel fundamental da comunicação de massa na 3 Maiores detalhes sobre o conceito de indústria formação da sociedade.3 cultural ver: Adorno, 1978 R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 8. 56 de força que se opõe à ideologia (Marcuse, 1982, E novamente devemos atentar que tanto Adorno p. 23-37). Não nos prolongaremos nessa quanto Mills, observaram a importância da discussão pois para os frankfurtianos a base seria comunicação de massa como instrumento de a própria racionalidade que aprisionaria o formação de consciência e de classe. desenvolvimento e “libertação” como Marcuse No que concerne à análise das classes (1982) argumenta. Mas a argumentação de sociais (e a questão do indivíduo), Mills é Gramsci (1985) acerca da hegemonia e notadamente um sociólogo que admitiu a sua supremacia de uma classe em relação a outra influência norte-americana e todos os seus mitos ou a formação de blocos econômicos retém uma de liberdade. Claramente um entusiasta do lógica interessante, sendo oposta a de Mills iluminismo, buscou questionar autores como (1985). As noções de classe e de movimento Gramsci, pela existência do estado totalitário históricas são díspares entre Adorno e Gramsci. stalinista. Os frankfurtianos (Adorno e Marcuse) O sujeito torna-se a figura central de análise para também questionaram os estados totalitários, a Adorno (1999) e Marcuse (1982), enquanto a noção de classe e, principalmente buscaram classe social seria a base para o pensamento de verificar se o iluminismo cumpriu sua promessa. Gramsci (1985). Contudo, a teoria de Mills constitui um arcabouço fundamental na análise do CONCLUSÃO surgimento do Estado normatizador norte- americano. A associação entre a sociedade de Segundo Mills, a formação da consciência consumo de massa e o intervencionismo baseado na sociedade ficou independente do conflito de nas concepções keynesianas (Estado interesses entre as camadas sociais, da ideologia normatizador) permitiu a consolidação de uma e do modo de produção. Ocorre, segundo o autor sociedade de bem-estar social e, parale-lamente, norte-americano, um processo de enrijecimento a hegemonia dos E.U.A no período que se segue de um estado burocrático cada vez mais ao término da Segunda Grande Guerra. administrado (concepção teórica notadamente Apesar das críticas que apontam para vinda de Max Weber) e uma estratificação social uma fragilidade metodológica e da ausência em que gerou uma elite e uma classe média que suas análises dos conceitos de ideologia e sofre mas nunca reage. Surge uma sociedade hegemonia, Mills é o primeiro sociólogo crítico de massa que é homogênea, apática, sem um norte-americano e sua contribuição para uma debate lógico e que “navega” em problemas análise da sociedade de massa norte-americana imaginários. A comunicação de massa produziu permanece como um instrumento eficaz na um indivíduo ausente politicamente e limitado análise da formação da classe média norte- em seus horizontes. americana. No entanto, Mills não releva que a ideologia da camada econômica dominante, presente em Gramsci e Adorno, reproduz o modo de produção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: A rigor, a relevância de Mills recai sobre seus apontamentos a cerca da sociedade norte- ADORNO, T.W. A indústria cultural. In: COHN, americana do pós-45 e o papel que a G. (Org.). Comunicação e indústria cultural. São comunicação de massa possui como Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978. “desmobilizadora” das atividades políticas e da opinião pública. _____. Mensagens numa garrafa. In: ZIZEK, Slavoj (Org.). Um mapa da ideologia. Rio de A busca de Mills por uma “verdade” que Janeiro: Contraponto, 1999. possa ser praticada como instrumento para solidificação de uma sociedade puramente ADORNO, T.W. e HORKHEIMER M. A dialética do democrática e a sua análise das estruturas do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, poder e sua elite acabam por ser 1986. simultaneamente instigantes e intrigantes. R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001
  • 9. 57 ASSOUN, P-L. A Escola de Frankfurt. São Paulo: Àtica,1991. BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. 7º edição. Obras Escolhidas, São Paulo: Brasiliense, 1994. Vol. 1. BOBBIO, N. O conceito de sociedade civil. Rio de Janeiro : Graal, 1982. p. 9-24. COHN, G. Difícil reconciliação: adorno e a dialética da cultura. Lua Nova, Revista de Política e Cultura, São Paulo CEDEC: maio 1990, nº 20 _____. Adorno e a teoria crítica da sociedade. In ADORNO, T.W. Theodor W. Adorno. Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1986. p. 7- 31. FERNANDES, H. R. Mills, o sociólogo-artesão. In MILLS, C. Wright. Wright Mills. Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1985. GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização do poder, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. p. 117-129. KOTHE, F. Para ler Benjamin. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. MARX, K. O capital. Livro 1 , capítulo 1, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. MILLS,C. W. A elite do poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. _____. A sociedade de massa. In MILLS, C. W. Wright Mills. Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1985. _____. A nova classe média. Rio de Janeiro: Zahar, 1976 R. Spei, Curitiba, v.2, n. 2, p. 49-57, jul./dez. 2001