A velhice traz desafios à memória. O ensaio explora como a sabedoria divina pode ajudar a superar as limitações da memória enfraquecida pela idade, reconhecendo a natureza cíclica da vida e a providência divina.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
Somnus bos algumas-pgs
1. boi despediu-se do burro e
da égoa, mas estos nõ lhe
quiseram rresponder. Boi nõ
fala, disseram. E tornaram-se
per adentro de seus estábulos.
Ao lado do fazendeiro, ia o
boi caminhando amarrado pelo
pescoço, como se quisesse fugyr,
ou mesmo como se pretendesse
o lado de fora do celeiro, passaram ainda
per o pato e per a galina. Novamente, o boi tentou sy des-
pedir. Burro! disseram, Bois nõ falam. O boi baixou a testa
y continuou chaminando. Começou a pensar em si os otros
tinham rrazão ontinuou a andar com o fazendeiro e os
dois tomaram a estrada. Ao passarem per o portão, o homem
sy despediu da família cõ um aceno. Eles acenaram de volta.
lhando para o céo, o boi avistou urubus plainando livremente
per o ar. Novamente, pensou em se despedyr. Ora ve-
jam, disse um urubu par o oitro. Bois falam.
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2. y disse Sabe, boi, também eu nõ estava a dromir.Também
sofres de insômnia? Eu mesmo tenho muita enxaqueca,
nãm consigo dormir. Sinto dolores de cabeça, fevre, tre-
mederas, calafrios . Já me cantastes uma canção.
Agora, por que não me contai ūa história? Tu, boi, queres
ouvir ūa história? disse o homem, esquecendo-se do
facto de que bois nõ falam.
im, por favor. Ūa só, pelo menos. Não consigo dromir
uito gosto eu tenho per histórias. Meu avô m’as
contava, e delas muitas aprendi. Vou pensar ni alguma.
Mas já faz longo tempo que nãm as ouço. Se achares
que stou a contá-la errada, nē adianta levantares a voz!
Não vos preocupai comigo. Eu só vou oivir. Faz já muito
tempo... Mas vou contá-las do meo jeito, como conseguir
m’allembrar. Sem problemas. Nunca oivi nenhuma antes
mesmo Ah, de certo! Esqueci-me de que és um
boi. Mas, olha, quem sabe, o meu jeito pode ser melhor
do que os jeitos dos otros jeitos que se dão por aí. Mui
obrigado. As histórias de vosmicê, as ouvirei com grão
prazer. Ah, num m’agradece antes d’eu as contar! Spera
a ver se tomas gosto na história. Enfim, tu não deves co-
nhecer a do Barbazu. Barbazu?
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4. Nada disso pertencia ao reinado sobre as nuvens E os barbazus vieram,
Barbazu, que era rei, era um rei de margens claras e na chuva as raptaram
E os homes jamais souberam:
Barbazu, rrey das nuvens, porque lhes abandonaram?
nam rreynava sobre os homens
Mas seu reino, acima deles, Barbazu, rrey das nuvens,
não deixava que escapassem reinara sobre os omes
E nas nuvens, pelas margens,
Lá do alto via tudo, via as jovens nas paisagens
os que morren e os que nascem, Dava ordens. Vinham virgens,
os que rezam, os que lutam, De todas as origens!
os que casam, plantam, frutam
E um dia Barbazu mandou soidados pera a terra,
e berrou a todos elles, ordenando:
“Quero novias, toda novia encontrada nesta esfera!
Toda moça que estiver hoje casando!”
E por todas as paisagens onde avia nuvens
E por todas as igrejas onde avia novias
choveu
choveu
choveu
5. Das Fräuleins alemãs Das cachorras e das gatas,
às indígenas Tupãs borboletas e lagartas
Y das gueixas japonesas centopeas, Dulcineas,
às escusas Talibãs y lombrigas e baratas
de matronas a feirantes, Nē que fossem bactérias,
amazonas e bacantes ou hemáceas nas artérias,
scravas, baronesas, fossem árvres, fossem pedras,
anciãs e debutantes ou as ondas mais etéreas
Também vinham, factícias Barbazu amava-as todas!
as múmias egípcias! Non fazia distinçõ
Que conservam mil belezas Y a cada uma destas fêmeas
em lendárias mil perícias lhe pedira sua mão
Y molheres com gravatas, Viu qu’os homens
comandantes das fragatas já o temiam bastante
que cortavam seos cabelos, E, enfim, o rei das nuvēs
pois gostavam das mulatas pôde arfar bem ofegante!
Ordenou a toda a Terra
Barbazu casava-se ūa vez per dia que mandasse soas molheres
y ūa vez per nocte, se satisfazia A dizerem: “Eu sou tua, se quiseres”
6.
7. espois decretou que todo livro da biblioteca, se quisesse, dali om este jeito infantil de ser, allém de bonita, ella foe se tornando
em deante, descer ao subsolo, teria que ser minuciosamente ūa molher cada vez mais y mais atraente. Poes os homes daquelle
inspecionado cuanto a imagens o descrições de nuvēs. tēpo, como os de muitos outros tēpos, gostavam de molheres com
O mesmo ē relação a quadros, tapeçarias e toda sorte de cousas corpo maduro e jeitinho juvenil Além disso, também soa
que tentassem descer ao subsolo. Mas bem antes disso, pele era branca, branca, branca. Como nūnca pegava sol, foe
cuando era ajnda muyto pequenha, a criança viu um retrato d’um ficando cada vez mais branca e mais bonita. Pois, também
pássaro no ceo. Foe mostrar a seo pai y preguntou É eso ūa nuvē? n’aquelle tēpo, como em muitos outros tēpos, só se achava bonita
O pai lhe disse Nõ, filia minha. Esto non é ūa nuvē. É ū pássaro... a moça muy branca como que pera ter certeza de que ela
ū animal, assim, sem importança. Como é ūa nuvē, então? nãm ficariam pretas futuramente. De facto, essa moça era
ela preguntava. Y ū animal sem importança, o que é? O que é um a mais branca de todas as molheres sobre a Terra. Nunca saía do
animal cõ importança? Ūa nuvē é com’ū pássaro, mas com castelo, y cuando saía o sol que pegava era um sol tã forte per nõ
importança? E eu? Eu tenho importança? Ela lh’enchia de haver nuvēs que difundissem a claridade, y porque soa pele nãm
preguntas, porém o pai só lhe respondia àquilo que o preocupava estava nada acostumada que ela logo voltava pera casa toda
Olha, filia... Tu não deves te importar com as nuvēs. Muyto vremeia, e descascava toda de ūa só vez, no banho do dia seguinte.
menos com o que é ou o que não é ūa nuvē. Ūa nuvē nam é nada. Tã bonita, não tardou a conhecer ome que s’enamorasse dela.
É ūa coisa que não é fecta de nada. Per eso elas flotam sobre nós, Ū príncepe avia sido levado a seo castelo per ūa de soas amigas,
tã longe. Não são nada. Como pode ūa cousa ser fecta de nada? que muito cobiçava soa rriqueza e soas terras. Mas o ome não
Ella tentava entender. Mas o pai non lh’ajudava a explicar. estava interessado per ela, acabou-se perdido de amores pela dona
moça foe crescendo, foe mudando seo corpo, embora da casa. molher mais bela sobre a face da terra vivia nū
continuasse querendo brincar de correr e explorar calabouço, aquilo não podia ser! O moço foe ter com o rrei y
o calabouço ou melhor, re-explorá-lo, poes já non pediu-lh’a mão da filia. Mīa filia não deve se casar jamais! Pera eso
avia mais chaminho secreto que non conhecesse teria que s’apresentar a Barbazu, rrei das nuvēs! Eso não pode ser!
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8. Mesmo se nós casarmos escondido? preguntou o príncepe. ue chegue, pois, precisamente, é o que queremos. Que Barbazu
Mesmo assim. Teriam que deixar o castelo! rrespondeu o rrei Pera venha até nós sedento per mais ūa filia de sangue nobre.
isso ella terá que chaminhar sobre a terra debaixo das nuvēs. Será O joven explicou seo plano ao rrey, que bem gostou da idea.
vista per Barbazu! Não, meo joven príncepe. Também eso nõ pode
ser. N’ūa conversa d’ome pr’ome o rei explicou-lh’a situação.
Era Barbazu que ele temia Soa filia non poderia se casar sē
que Barbazu soubesse a respecto de soa existência. Se quisessem
mesmo casá-la, teriam que dar um jeito de transportar a moça até
o reyno do rapaz sē passar per debaixo sequer d’ūa nuvē.
aquelle tēpo mui difícil era, como o tem sido em muitos outros
tēpos, prever o tēpo. O casamento nãm podia sperar pera
certeza, de no ceo, non’aver nuvēs. O príncepe sugeriu que
construíssem ūa passagem subterrânea per a soa princesa Assim,
ela poderia voltar pera visitá-lo sempre que desejasse.
as o nobr’allembrou O que haveríamos de fazer com a terra
que sobrasse? Onde quer que a coloquemos Barbazu notará
deferença. Ele suspeitará, jnvestigará, descobrirá minha filia!
Y terá ódio de mim. Nãm, meo joven príncepe. Também eso
non pode ser Mas o rapaz teve ainda outr’idea
Poderíamos dizer ao povo que soa filia se casará. Ao povo?
O omē s’espantou. Pouca gente sabia da existência de soa filia.
S’espalhada a notícia, chegaria aos ouvidos de Barbazu!
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9. rosa Negra, a criada mais joven do castelo, era também a
mais fea. Nascera fea, crescia horrorosa, só nam se dezia
per aí que morreria ajnda mais fea porque nom
s’acreditava possível. S’os homens per toda a terra
tinham critérios deversos, Rrosa Negra era aquela que não atendia
a nenhum delles. Soa feiúra non era relativa era tãm absoluta
cuanto a claridade do sol. Poderia viajar per onde fosse, ser rica,
que ajnda assim nõ encontraria homem algū que lhe concedesse o
privilégio da reprodução, em nenhum tēpo, y em nenhum lugar.
Rrosa Negra era fea assim Per isso mesmo ela se
dedicava tanto à jardinagem y às soas flores.
Passava os dias a cultivar as flores mais efêmeras pera embelezar
o castelo elas, as flores, que reproduzem soas espécies. Per
isso e porque Rrosa Negra precisava se distrair com algū trabalho.
Já fora passado o tēpo em que ela era a menininha fea e pobre que
brincava sozinha per os pátios do castelo e per o calabouço, com a
amiguinha de sangue nobre. rosa Negra era a companhia
favorita da princesinha. Sēndo filia de soa ama, era de ūa das
poucas famílias em toda aquela plebe que sabia da menina
escondida no castelo. Ajnda muito pequenininha, Rrosa Negra
foe trazida pera brincar no calabouço, sendo instruída pera nunca
contar a ninguém de fora do castello que lá dentro vivia ūa
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12. A
Do porqve
velhice é sábia. A minha memória muyto já apreendeu, ou Como é sabido pela philosophia natural, o omem são é fructum do Do elixir Da
scre ver este r e s sv r r e iç ã o .
talvez nem tanto. Visto que ultimammente ella se desalinha equilíbrio dos humores corporaes. Inverso, o
{
ensaio.
{ a cada posstulado, poes nunca
factos. Arressolveu-se esquecer.
creo ter sabido de allgo que
que o corpo non maes
acerta em ter cerrteza sobre os
De facto, há muyto tempo
se perdeu. Screver, agora,
alcança por inteiro,
homem doente se excede
que a entropia total do
extremo desequilíbrio dos
que, tendo o corpo sucumbido
n’algum humor, sendo
corpo physico resulta do
humores. É de saber geral
a sua total desarmonia e a
memórias diluídas no branco e preto. alma guiada a seo destinno, só a Divina Providência poderia
Da Como é sabido ser caracter da restituí-lo ao circolo terrenho. De facto, esta é a procedência
jvsta me DiDa De
toDas as co vsas.
philosofia metaphysica expor as sendas percorridas além natural de todos os corpos orgânicos. Nos meos estudos,
mundo, as medidas e afeições do círcolo celeste e os desígnios do no entanto, meo pensammento inferiu transmutações alquímicas
{
divino, é de vulgo consenso que esta se debruce ao verdadeiro de poderoso effecto. Surpresa minha foi descobrir que taes
conhecimento, a Sapientia Divina, gratificada por Deos em sua qualidades são obtidas de simples compostos, mas que, se dosados
omniciência. Ora, se a gloriosa luz que provém da Divina Sapientia em minuciosas proporções, prospectam grandes fectos.
não ilumina em soa totalidade o mundo terrenho, de facto, Guinado pela Divina Mão, ministrei certa proporção de
qualquer temptativa do homem comum de alcançar a compreensõ hydrargyrum cõ a correcta quantidade de sulphur e aqueci.
completa, o saber total, a justa medida de todas as cousas, é vã. Como primeira experiência, fiz a um boi aspirar os vapores que
Fructum d’ū intelecto lógico que excede seos limites e perde de lá se desprendiam. Com effecto, seos
seo rumo devido às soas próprias reflexões. Ao s’aproximar da humores s’alteraram.Seos olhos se tonalizaram de diferentes coores
temptação do saber mundano, o raciocínio alucinativo anumbrece y em rápido devaneio o boi passou por diversos tipos de humores, até
a mente do homem, desfiando-o no labirinto da linguagem lógica. por completo falecer. Tal criatura assim permaneceo por três dias,
Logo evidente se torna, para quem chaminha pela via recta, que o
conhecimēnto puro é dádiva celeste concedida sommente no mundo quando, em um espasmo, retornou à vida. Como se d’outro animal se
post mortem àquelles que se guiam pela lei de Deos. Deduz-se tratasse, o semblante lhe caía mais ssereno y a empatia reflectida nos
que, de facto, a única sperança do omē terrenho apreender a doces olhos projectavam ūa áurea divina que ali se fizera. Como
Sapientia D i v i n a tal animal estivera no mundo post
ē sua totalidade se dá por um acto nõ natural: a morte e a ascensão lunarem? Que Graças de lá trazia? Tal acontecimento rrevelou-m’a
ao eterno, seguida per o retorno da alma ao corpo. Apercebida presença da Divina Vontade na mīa viagem ao mundo eterno em
esta constactação, imperioso é ao philósopho afastar seos aspirar à Sapientia Divina. Ao inspirar os vapores do composto
estudos da physis terrenha per verter seo olhar ao momento que levaram o boi a tal llugar, de primeiro nada senti, como
da morte, poes a busca pela ressureição non constitue falta s’uma ligeira moleza me fizesse rreflectir. O que, de facto, despois
aos Divinos Princípios. Muyto ao contrário, reflecte o caracter consciente aconteceo, é difícil de narrar, poes tamanha sensação, a ser vivente algū,
do homem correcto que segue o chaminho do conhecimento verdadeiro. jamais foi dada a revelar. Poes, que, assim, o leitor fantasie meo descontar.
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13. D os pesca D ores
Ser, o fez o instante que recobrou Caronte. Espere. Ainda nõ desembo-
lv Dicos.
´
camos no Mar das Desalembranças. Poes que melior seria aproveitar a
{ paysagem. Estranhei tal dizer, poes da espessa visão de tudo, nada dis-
tinguia. Aos pocos, sons e formas em silhueta se desprendiam do fundo.
Vislumbrei dois pescadores a titubear.
Mas vosmece nõ sabedes, õntem pesquei ūa idea deste tamaño!
Mas qu’idea, Ontomar? Ora, Epistemeomar, sabes que non
ando bē da memórea, só vou confundir se te contar, mas
vosmece gostaria de ter-s’allembrado della! Então
conte, era sucolenta ou cheirosa? Alegre ou
apática? Atrevida ou logarítimica?
Caridosa ou retroativa? Bõ,
ella era assim
mesm
o
?? ?
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A É... nãm. Então ū A!!!
Hum.. Então seria A.Non exactammente.
Eū
Também nõ. Quem sabe A
Non... Não? Poes se nada
desto é, só pode ser
entã é eso?
o algo assim.
Sim, sim
falta um
poco de je ne
, er se quoi, afinal
a is essas idéias
to, m
a s , se n s e m p r e
am me
fo ge a remi ê de m u d a m
n iscência, havia ū qu