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1 CORÍNTIOS
João Calvino
D ados Intern acio n ais de C atalogação na Publicação (C IP)
(C âm ara B rasileira do L ivro, SP, B rasil)________
Calvino, João, 1509-1564.
I Corintios / João Calvino; tradução de Valter Graciano
M artins. 2. ed. - São Bernardo do Campo, SP: Edições
Parakletos,2003.
Título original: The Com mentaries o f John Calvin on the
First Epistle ofPaul the Apostle to the Corinthians
Bibliografia.
1 Bíblia. N.T. - Corintios, 1. - Comentários
I. Título.
03-1757______________________________________________CDD-227.207
indices p a ra catálogo sistem ático:
I. Corintios, 1.: Epístolas paulinas: Comentários
227.207
Calvin’s Com mentaries - volume XX.
Originalm ente impresso por Calvin Translation Society
Reim presso em 1998 por B aker Books,
um a divisão da Baker Book House Company
P.O. Box 6287, Grand Rapids, M l 49516-6287.
2° edição brasileira, 2003, S. B. do Campo, SP
Tiragem: 2.000 exemplares
Tradução.
Valter Graciano M artins
Editoração:
Eline Alves M artins
M /P A R A K /ITO S________________
Rua A dam antina, 36 • Bacta N eves
09760-340 • São B ernardo do C am po, SP • Brasil
Telefax: 11 4121-3350 • e-m ail: parakletos@ uol.com .br
ÍNDICE
D edicatória...............................................................................................................7
Segunda D edicatória.........................................................................................H
Análise da Prim eira Epístola de Paulo aos C o rín tio s............................ 15
CO M EN TÁ RIO À SA G RA D A ESCRITU RA SO BRE A
PRIM EIRA EPÍSTO LA D E PA U LO AOS CORÍNTIOS
C apítulo 1 ................................................................................................................27
C apítulo 2 ............................................................................................................... 74
Capítulo 3 ............................................................................................................... 9g
Capítulo 4 ..............................................................................................................126
Capítulo 5 .............................................................................................................. 155
Capítulo 6 ..............................................................................................................173
Capítulo 7 ..............................................................................................................]97
Capítulo 8 ..............................................................................................................247
C apítulo 9 ..............................................................................................................263
Capítulo 1 0 ........................................................................................................... 289
Capítulo 11........................................................................................................... 326
Capítulo 1 2 ........................................................................................................373
C apítulo 1 3 ........................................................................................................396
C apítulo 1 4 ........................................................................................................4 12
Capítulo 1 5 ........................................................................................................452
Capítulo 1 6 ........................................................................................................5 1 ]
DEDICATÓRIA
A O M U I ILU STRE VARÃO. TIAG O, SEN H O R DA BO RG Ú N D IA ,
este meu com entário, esforcei-m e por fazer um a exposição desta
epístola de Paulo, a qual não é m enos difícil do que [em extrem o]
valiosa. M uitos me têm solicitado este comentário; na verdade, há muito
tem po que fazem insistente apelo por sua publicação. A gora que está
publicado, tão-som ente desejo que o m esm o venha igualm ente satisfa­
zer suas esperanças e anseios. N ão digo isto com o fim de granjear
algum a recom pensa para meu trabalho na form a de louvor, porquanto
tal am bição deve ficar longe dos servos de Cristo; mas o que desejo é
gerar benefício para todos, e não posso alcançar tal objetivo se ele não
for aceitável. Tenho deveras labutado com a m áxim a fidelidade e dili­
gência para que, sem qualquer im portunidade, a obra seja do m ais ele­
vado valor para a Igreja de Deus. Q uanto mais êxito tiver, m ais meus
leitores julgarão de acordo com a real praticidade da obra.
De qualquer form a, creio que consegui fazer com que este com en­
tário seja de inusitada ajuda na conquista de um a com pleta com preen­
são do pensam ento de Paulo. Certam ente, m eu honorável senhor, estou
certo de que vós achareis plenam ente com preensível, e até m esm o in­
dispensável, que vos aconselhe a não perm itir-vos que fiqueis excessi­
vamente afeiçoado a mim. M esm o que tal aconteça, não obstante terei
vosso veredito na m ais elevada conta, a fim de que eu possa considerar
meu trabalho com o tendo atingido seu mais elevado sucesso, se por­
ventura tiver alcançado vossa inestim ável aprovação.
*A pós 1551, esta d ed icató ria foi su p rim id a d as edições d o co m en tário , em d eco rrên cia
d a d isp u ta que su scito u -se entre C alv in o e o sen h o r d e F alais so b re B alsec. M antem o-la
aqui porq u e a seg u n d a d ed icató ria faz alu são ao incidente.
d e F a l a is e d e B r e d a e t c .*
• 7 •
1 CORÍNTIOS
Além do mais, ainda que vo-lo dediquei, não foi só na esperança
dc ele vos agradar, mas por m uitas outras razões, das quais a mais
im portante é que vossa vida pessoal confirm e perfeitam ente um dos
tem as da carta de Paulo. Pois enquanto no presente tem po há tantos
que convertem o evangelho num a filosofia fria e acadêm ica, acreditan­
do que têm feito tudo quanto deles é requerido, e feito devidam ente,
em bora acenem suas cabeças em assentim ento ao que têm dito, vós,
por outro lado, para nós sois um conspícuo exem plo desse poder vivo
sobre o qual Paulo insiste tanto. O que pretendo dizer é que quando
olham os para vós, com preendem os o que significa esse vigor espiri­
tual que, afirm a Paulo, jorra do evangelho. N aturalm ente, não faço
m enção dessas coisas para vossa satisfação pessoal, senão que acredi­
to ser de grande im portância do ponto de vista do exem plo [cristão].
Vós pertenceis à prim eira classe da nobreza, obtivestes e usufruís­
tes de elevada e ilustre posição na vida, e sois prendado com qualida­
des e riquezas (posições que se acham atualm ente todas enxam eadas
de corrupções!). Ora, certam ente seria algo por si m esm o importante
se vós, cm tais circunstâncias, não só levásseis um a vida disciplinada e
tem perada, mas tam bém conservásseis vossa fam ília sob controle m e­
diante um a adequada e saudável disciplina. De fato tendes levado am ­
bos estes [deveres] ao pleno cum prim ento. Pois vosso com portam ento
tem sido tal, que a todos tem sido um a clara evidência de que não há
em vós o m enor traço de egoísmo.
Sem pre que foi necessário que m antivésseis vosso esplendor, o fi­
zestes de tal form a que estabeleceu-se um m oderado padrão de vida, e
jam ais houve qualquer rasgo de m esquinhez ou de avareza; e, todavia,
sem pre bem a descoberto, evitastes m ais do que buscastes um magnifi-
cente estilo de vida. Tende-vos m ostrado tão cortês e considerado, que
todos foram forçados a louvar vosso despretencioso com portam ento.
De fato não há a m ais leve evidência de orgulho ou de arrogância que
viesse a gerar ofensa em alguém . N o que tange a vossa fam ília, é-nos
suficiente dizer, num a palavra, que tem sido ela conduzida de tal m a­
neira com o para refletir a m ente de seu senhor e de seu modo de vida,
precisam ente com o um espelho reflete a im agem de alguém . Tal coisa
por si só teria dado ao povo um claro e notável exem plo de virtude a
ser imitada.
• 8 •
DEDICATÓRIA
M as há aigo que considero ainda mais importante. Tendes sido er­
roneam ente acusado diante do Im perador pelos em bustes de homens
ím pios, e que, por nenhum a outra razão senão o fato de que im ediata­
m ente o reino de Cristo com eça a fazer progresso em alguns lugares,
os leva à dem ência e frenesi. M as (e eis o que é m ui im portante) tendes
m antido um a coragem que nada tem a ver com debilidade, e agora
estais vivendo com o num exílio de vossa terra natal, com um a grande
porção de estim a com o tivestes anteriorm ente, quando a honráveis com
vossa presença. N ão pretendo m encionar outros fatores, visto que seria
tedioso adicionar algo mais. Na verdade, os cristãos devem sem pre
considerar com o algo m ais que com um e costum eiro, não só deixar
estados, castelos e desprezar, em com paração a ele [Cristo], tudo quan­
to é tido com o mui precioso na terra. Entretanto, quase todos nós so­
mos negligentes e indiferentes a pactos, de m odo que a virtude particu­
lar é especialm ente m erecedora de nossa adm iração. Portanto, no tem ­
po em que podem os vê-lo tão nitidam ente em vós. só desejo que tal
fato possa despertar m uitas pessoas, de modo que queiram im itar tal
atitude, e, em vez de continuarem para sem pre escondendo-se em seu
confortável aconchego, possam um dia sair em público trazendo toda a
centelha do espírito cristão que porventura tenham.
O ra, quando os hom ens vos atacam trazendo freqüentem ente no­
vas acusações contra vós. fazem notório que são violentos inim igos da
religião, e nada ganharão disto senão fazer-se mais e mais detestáveis,
favorecendo m ui contundentem ente a mentira. C om certeza alguns,
em seu são juízo, acreditam que os tais são cães raivosos, visto que
procuram estraçalhar-vos, e então, ao perceberem que não podem abo­
canhar-vos. vingam -se ladrando contra vós. É bom que assim façam a
certa distância, pois então não conseguirão causar-vos nenhum dano.
M as, ainda que os maus feitos dos ímpios resultem na perda de m uitas
de vossas possessões, em nada dim inuem da glória real com que os
crentes vos consideram . M as, com o cristão que sois, deveis ter um a
visão m ais am pla que esta. Pois não estais satisfeito com nada mais
senão com a glória celestial, a qual vos é guardada com Deus. e que
será trazida à luz assim que nossa natureza externa perecer.
Mui ilustre senhor, e nobre fam ília, adeus. Q ue o Senhor Jesus vos
guarde a salvo perenem ente, para a expansão de seu Reino: e que ele
• 9 •
1 CORÍNTIOS
m esm o vos conserve sem pre vitorioso sobre Satanás e sobre toda a
hoste de seus inimigos.
Genebra, 24 de janeiro de 1546
SEGUNDA DEDICATÓRIA
S
audação a um fidalgo, m ais excelente por suas virtudes do que por
seu nobre nascim ento, senhor G alliazo CaiTacciolo, filho único e
legítim o herdeiro do M arquês de Vico.
Q uando este com entário foi pela prim eira vez publicado, eu não
tinha conhecim ento ou não estava totalm ente fam iliarizado com o ho­
m em cujo nom e anteriorm ente apareceu nesta página, e agora sou obri­
gado a suprim i-lo. Certam ente, não me sinto tem eroso de que venha
ele a acusar-m e de leviandade ou de queixar-se de mim por ter subtra­
ído dele o que outrora lhe dera; pois, tendo ele deliberadam ente procu­
rado não só m anter-se tão longe quanto possível de m im , pessoalm en­
te, e tam bém por deixar de entender-se com nossa igreja, ficou sem
qualquer justificativa para protestar. Entretanto, é com relutância que
renuncio m inha costum eira prática e elim ino de m eus escritos o nome
de alguém ; e lam ento m uito que tal pessoa tenha caído da elevada po­
sição que eu lhe tenha dado, o que significa que ela deixou de dar bom
exem plo a outrem , precisam ente com o eu esperava dele. Porém , visto
que a cura deste mal não se acha em m inhas mãos, então que tal pes­
soa, no que m e diz respeito, fique em total olvido, pois ainda agora
sinto-m e ansioso por calar-m e sobre ela, e portanto sem m ais trazer
qualquer prejuízo a sua reputação.
M as, no que concerne a vós, mui honrado senhor, eu teria que en­
contrar algum pretexto para então substituir o outro nom e pelo vosso,
em bora não me aventurei a tom ar tal liberdade, confiando em vossa
insuspeitável bondade e am or para com igo, o que é notoriam ente co­
nhecido de todos os nossos am igos. Voltando a m encionar m eus dese­
jos, gostaria deveras de ter-vos conhecido há dez anos atrás, porque
não teria tido m otivo algum para fazer agora tal m udança. E esta se
presta agora tanto para o bem quanto para servir de exem plo à Igreja
11
1CORÍNTIOS
com o um todo, não só pelo fato de que não vamos sentir que sofremos
algum a perda ao esquecerm o-nos daquele que se afastou de nós, mas
porque serem os com pensados, em vós, por um exem plo ainda mais
rico, e deveras preferível, em todos os sentidos. Porque, ainda que não
estais correndo após os aplausos do povo, vivendo satisfeito em ter
D eus com o vossa única testem unha; e ainda que não tenho nenhum a
intenção de cantar-vos louvores, todavia meus leitores não devem ser
deixados com pletam ente em trevas acerca do que lhes é proveitoso e
benéfico saber. Sois um hom em nascido num a fam ília nobre; gozais de
erande prestígio e de grandes riquezas; fostes abençoado com um a es­
posa da m ais nobre origem e da mais elevada virtude, com m uitos fi­
lhos, com paz e harm onia em vosso lar; na verdade tendes sido abenço­
ado em todas as circunstâncias de vossa vida. M as para que passásseis
para o cam po de Cristo, deixastes espontaneam ente vossa terra natal,
abandonastes propriedades férteis e aprazíveis, esplêndida herança e
um a casa tanto deleitosa quanto espaçosa; privastes-vos de um habitu­
al e m agnificente estilo de vida; separastes-vos de pai, esposa, filhos,
parentela e congêneres; e após dizer adeus a tantas atrações m undanas,
e sentindo-vos feliz com nossas depauperadas circunstâncias, adotas-
tes nosso frugal modo de vida, o padrão de gente sim ples, assim vos
tom astes um de nós.
Enquanto relato todas estas coisas a outros, não posso de m odo
algum esquecer-m e dos benefícios que pessoalm ente recebo. Pois em ­
bora eu exponha vossas virtudes ante os olhos de m eus leitores, aqui,
com o num espelho, para que possam im itá-las, ser-m e-ia deprim ente,
tendo-as diante de meus próprios olhos, não para ser m ais profunda­
m ente influenciado, à luz do fato de que as vejo m ui claram ente todos
os dias. M as, visto que realm ente sei de experiência própria o quanto
vosso exem plo significa para o fortalecim ento de m inha própria fé e
devoção, e visto que todos os Filhos de D eus que estão aqui reconhe­
cem, juntam ente com igo.que têm extraído extraordinário benefício
desse vosso exem plo, considerei, quanto a m im , fazê-lo notório, para
que um círculo cada vez m ais am plo de pessoas pudesse usufruir da
m esm a bênção. O utrossim , seria estultície falar detalhadam ente em
louvor de um hom em , cuja natureza e tem peram ento são tão despidos
de ostensividade quanto se pode imaginar, e, ainda m ais, proceder as-
• 12 •
SEGUNDA DEDICATÓRIA
sim na presença de estranhos e em lugares longínquos. Portanto, se
tantas pessoas, que nada sabem de vossa vida pregressa, por viverem
distantes de vós. têm este adm irável exem plo diante de si e se prepara­
ram para deixar seu com odism o, ao qual são tão inclinadas, e imitar
vosso exem plo, serei am plam ente recom pensado pelas coisas que te­
nho escrito.
Os cristãos, realm ente, devem sem pre considerar com o algo mais
do que m eram ente com um e costum eiro, não só deixar estados, caste­
los e posições nobres, sem pesares, se porventura é im possível seguir a
C risto de outra form a; mas tam bém estar sem pre prontos e dispostos a
desprezar, em com paração a ele [Cristo], tudo quanto é reputado com o
por dem ais precioso sobre a terra. Todos nós, porém , som os por de­
mais negligentes, ou, antes, tão indiferentes que, enquanto m uitos ace­
nam suas cabeças em formal assentim ento ao ensino do evangelho,
raram ente um em cem . talvez possuidor de um insignificante sítio, per­
m itirá ser arrancado dele por causa do evangelho. A não ser em m eio à
mais profunda relutância, dificilm ente alguém se persuadiria a renun­
ciar a m enor vantagem que seja, o que revela quão longe estão os ho­
m ens de sentir-se preparados a renunciar a própria vida, com o devem
fazê-lo. A cim a de tudo, m eu desejo é que todos se espelhem em vosso
espírito de renúncia, a prim eira de todas as virtudes. Pois sois a pessoa
m ais bem indicada a testificar de m im , e eu de vós, quão pouco deleite
encontram os no com panheirism o daqueles que, ao deixarem sua terra
natal, acabam revelando nitidam ente que trouxeram consigo as mes­
m as perspectivas que alim entavam lá. Porém , visto que é m elhor para
m eus leitores refletirem sobre estas coisas em sua própria m ente, em
vez de verbalizá-las, eu agora me ponho em oração ao D eus que até
aqui vos tem encorajado através do portentoso poder de seu Espírito,
visando a que vos m una ele perenem ente de invencível disposição.
Pois estou bem cônscio do m odo com o Deus vos disciplinou com m ui­
tas e duras lutas, porém , com notável percepção, percebestes que seve­
ras e renhidas hostilidades ainda perm anecem diante de vós. E visto
que m uitas experiências vos têm ensinado quão realm ente necessário é
que do céu se vos estenda um a [benfazeja] mão, deveis prontificar-vos
ajuntar-vos a mim em fervente oração a Deus pelo dom da perseveran­
ça. Q uanto a m im , particularm ente, orarei a C risto, nosso Rei, a quem
• 13 •
1CORÍNTIOS
o Pai conferiu suprem a autoridade, e em cujas mãos foram colocados
todos os tesouros das bênçãos espirituais, rogando-lhe que vos guarde
em segurança, a fim de que venhais a perm anecer longo tem po conos­
co para a expansão de seu Reino; e para que ele prossiga a usar-vos na
obtenção da vitória sobre Satanás e seus seguidores.
24 de janeiro de 1556
(dez anos após a prim eira publicação deste com entário)
. 14 .
ANÁLISE
da P r im eir a E p ís t o l a de Pa u l o a o s C o r ín t io s
E
sta carta é de diversas formas valiosa; pois ela contém tópicos1
especiais e de grande im portância. Em proporção que forem sendo
desenvolvidos, sucessivam ente em sua ordem , a discussão por si só os
esclarecerá à m edida da necessidade para sua com preensão. E de fato
isso se dará de form a m uito clara nesta m esm a avaliação. Tentarei apre­
sentar este tem a de form a breve, porém, ao m esm o tem po, pretendo
fornecer um sum ário com pleto do m esm o, sem , contudo, perder algum
de seus pontos principais.
É bem notório o fato de que Corinto era um a rica e fam osa cidade
da Acaia. Q uando L. M um m ius a destruiu (em 146 a.C.), ele o fez sim ­
plesm ente porque sua vantajosa situação o levou a suspeitar do lugar.
M as um povo de tem pos posteriores a reconstruiu pela m esm a razão
que ele (L. M um m ius) a destruiu,2quando as m esm as vantagens topo­
gráficas a levaram a ser restaurada num curto espaço de tem po. Visto
estar ela situada nas proxim idades do M ar Egeu, de um lado, e do M ar
Jônio, do outro, e visto que ela ficava no istm o que liga a Á tica e o
Peloponésio, então idealm ente se adequava à im portação e exportação
de m ercadorias.
Em Atos, Lucas nos conta que, após ter Paulo ensinado ali durante
um ano e m eio, ele foi obrigado, em virtude do com portam ento ultra­
jan te dos judeus, a viajar daii para a Síria. Durante a ausência de Pau­
lo, falsos apóstolos se infiltraram na região. N ão vieram (em m inha
opinião) com o fim de perturbar a Igreja obviam ente com um ensina­
mento heterodoxo, ou intencionalm ente, por assim dizer, causar dano
’ "B o n n es m atieres. et p o in ts d e doctrin e" - "B o n s tem as c po n to s de d o u trin a.”
- E strab o d escrev e M um m ius c o m o fiaXAou ri (JiiJo T fx ^ç" - “um hom em
m ais m ag n ân im o d o que am an te d as artes."
. 15 •
1CORÍNTIOS
ao ensinam ento. Há três razões para seu surgim ento. Prim eiram ente,
se orgulhavam de sua oratória brilhante e ostensiva, ou, diria alguém,
convencidos por sua linguagem vazia e bom bástica, passaram a tratar
com desprezo a sim plicidade de Paulo e inclusive do próprio evange­
lho. Em segundo lugar, m ovidos por sua am bição, alm ejavam dividir a
Igreja em várias facções. Finalm ente, indiferentes a tudo, exceto em
desfrutar das boas graças que alm ejavam que o povo tivesse deles,
entraram em cena com o fim de fazer seu jogo em prol do aum ento de
sua própria reputação, antes que prom over o reino de Cristo e o bem-
estar do povo.
Por outro lado, visto que C orinto se achava dom inada pelos vícios
com os quais as cidades com erciais geralm ente são infestadas, ou, -seja,
a luxúria, a arrogância, a vaidade, os prazeres, a cobiça insaciável, o
egoísm o desenfreado - tais vícios tinham penetrado tam bém a própria
Igreja de tal m odo que a disciplina se tom ou grandem ente deteriorada.
M ais seriam ente ainda, já se achava presente a apostasia da sã doutri­
na, de modo tal que um dos fundam entos da fé, a ressurreição dos
m ortos, estava sendo posta em cheque. E ainda que se achasse em meio
a tanta corrupção de toda espécie, estavam contentes consigo mesmos,
com o se tudo quanto em relação a eles estivesse em perfeita ordem.
Tais são os subterfúgios que Satanás geralm ente em prega. Se ele não
consegue im pedir a expansão do ensino, ele se chega solerte e secreta­
m ente com o fim de desferir seu golpe m ortal sobre ele [o ensino]. Se
ele não consegue suprim i-lo por m eio de m entiras que o contradigam ,
e im pedi-lo de vir a público, então lhe prepara covas ocultas para sua
destruição. Finalm ente, se ele não pode alienar dele as m entes hum a­
nas, num golpe incisivo, ele as leva a abandoná-lo gradativam ente.
Ora, tenho boas razões para crer que aqueles indignos correligio­
nários, que trouxeram sofrim ento à igreja corintiana, não eram inim i­
gos declarados da verdade. Sabem os que Paulo não ignora as falsas
doutrinas em outras cartas. As cartas aos G álatas, aos Colossenses, aos
Filipenses e a Tim óteo são todas breves; porém , em todas elas não só
ataca violentam ente os falsos apóstolos, m as, ao m esm o tem po, ele
igualm ente realça as form as em que prejudicavam a Igreja. E ele esta­
va perfeitam ente certo, pois os crentes não só devem ser adm oestados
acerca daqueles de quem devem se precaver, mas devem tam bém per-
• 16 •
ANÁLISE
ceber o mui contra o qual precisam sem pre estar em guarda. Portanto,
não posso acreditar que num a cana longa com o esta ele pretendesse
m anter em silêncio o que executa tão assiduam ente em outras cartas
m uito mais breves. Além disso, ele trata com m uitas faltas dos corínti-
os, algum as das quais, sem dúvida, totalm ente triviais, então parece
que ele não pretendia om itir algo sobre aqueles que ele cham ou para
reprovar. E se esse não era o caso, então ele estava desperdiçando um
am ontoado de palavras ao juntar-se em debate com aqueles prepostos
m estres ou chilreantes oradores. Ele condena sua am bição; ele os res­
ponsabiliza em transform ar o evangelho num a filosofia artificial; ele
nega que tenham eles o poder do Espírito para produzir resultados,
porque, em sua preocupação com linguagem vazia e bom bástica, só
estavam indo no encalço de “letra m orta”; todavia, não há um a só pala­
vra sobre ensino corrupto. Portanto, estou plenam ente certo de que não
faziam nenhum a depreciação pública das substância do evangelho, em
qualquer aspecto; porém , visto que um desorientado e apaixonado de­
sejo por proem inência os abrasava, acredito que tinham engendrado
um novo m étodo de ensino, o qual não se com patibilizava com a sim ­
plicidade de Cristo; e assim esperavam que isso os fizesse objetos da
adm iração do povo. Isto é o que inevitavelm ente acontece com todos
aqueles que não desistem de preocupar-se consigo m esm os e se enga­
jem na obra do Senhor sem absolutam ente quaisquer entraves. O pri­
m eiro passo, para servirm os a Cristo, é esquecer-nos de nós m esm os e
pensar tão-só na glória do Senhor e na salvação dos hom ens. Além do
mais, ninguém jam ais estará aparelhado para o ensino se antes não for
absorvido pelo poder do evangelho, de modo a falar não tanto com
seus lábios, mas com seu próprio coração. Portanto, o que sucede no
caso daqueles que nunca nasceram de novo, pelo Espírito de Deus,
nunca experim entaram o poder do evangelho em seus próprios cora­
ções, e não têm qualquer idéia do que significa ser nova criação! (cf.
2Co 5.17). Sua pregação é morta, quando deveria ser viva e produtora
de resultados; e para que se sobressaíssem aos olhos públicos, eles
m esm os dissim ulavam o evangelho, vestindo-o de diferentes indum en­
tárias, de m odo que viesse ele a assem elhar-se às filosofias do mundo.
Fazer isso em Corinto era algo fácil para o tipo de pessoas que
estam os considerando aqui. Pois os m ercadores são facilm ente leva-
• 17 •
1CORÍNTIOS
dos pela aparência externa; e não só se perm itiam trapacear pelas mes­
mas trapaças que aplicavam a outrem , mas, de certa form a, tam bém
gostavam disso. Além disso, possuíam ouvidos sensíveis, de m odo que
não suportavam censura por dem ais severa, resultando que, se se depa­
rassem com os m estres tão m aleáveis e prontos a deixá-los alegrem en­
te im punes, se valiam de recom pensas e bajulação. Concordo que isso
se dá em toda parte, m as é m ais com um em cidades com erciais e ricas.
Ao contrário, Paulo, que em outros aspectos era um hom em sublim e e
se sobressaía em razão das adm iráveis qualidades que possuía, não
obstante fez-se insignificante exteriorm ente, no tocante às graças exte­
riores estava sem pre contente, jam ais se irrom pendo com ostentação
nem procurando tocar sua própria conduta. De fato, em razão de seu
coração estar sem pre e verdadeiram ente sob a influência do Espírito,
não havia nele a m enor som bra de ostentação, sendo incapaz de profe­
rir bajulação nem se preocupava em agradar a hom ens. Ele só tinha um
propósito diante de si, a saber, que ele e todos os dem ais, estando à
disposição, Cristo pudesse reinar. Já que os coríntios se inclinavam
mais pelo ensino engenhoso do que benéfico, então não poderiam sa­
borear o evangelho. Já que viviam tão ansiosos por novidades, então
Cristo, para eles, se achava fora de moda. Em todo caso, se não tives­
sem ainda, realm ente, caído em tais erros, pelo m enos já estavam natu­
ralm ente inclinados para as coisas sedutoras desta espécie. Portanto,
era fácil para os falsos apóstolos atrair a atenção entre eles e adulterar
o ensino de Cristo. Pois certam ente é ele adulterado quando sua natu­
ral pureza é corrom pida e, por assim dizer, pintada com diferentes co­
res, sendo ele posto no m esm o nível de qualquer filosofia mundana.
Portanto, a fim de agradar o paladar dos coríntios, adicionavam condi­
m entos a seu ensino, resultando disso que o genuíno sabor do evange­
lho era destruído. A gora estam os em posição de entender por que Pau­
lo foi induzido a escrever esta carta.
A gora podem os sum ariar o argum ento, apresentando breves notas
sobre cada um dos capítulos em ordem cronológica.
Paulo inicia o prim eiro capítulo congratulando-se com eles (corín­
tios), e com isso os encoraja a prosseguirem com o com eçaram . Desta
form a ele os apazigua de antem ão antes de prosseguir, de m odo a esta­
rem mais dispostos a receber seu ensino. M as im ediatam ente ele fere
• 18 •
ANÁLISE
um a nota m ais severa, fazer a transição para reprovar, quando se refere
aos desacordos que ora afligiam sua igreja. D esejando curar este mal,
ele insta com eles que voltassem do orgulho para a hum ildade. Pois ele
dispensa toda a sabedoria do mundo, estabelecendo em seu lugar uni­
cam ente a pregação da Cruz. Ao m esm o tem po tam bém os hum ilha
individualm ente, ao dizer-lhes que observassem bem a classe de pes­
soas a quem o Senhor, geralm ente, tem adotado e conduzido a seu re­
banho.
N o segundo capítulo, ele cita o exem plo de sua própria pregação, a
qual, hum anam ente falando, era pobre e insignificante, porém era no­
tável em razão de possuir o poder do Espírito. E ele prossegue desen­
volvendo a idéia de que o evangelho contém sabedoria celestial e se­
creta. É algo que nem a habilidade natural do hom em , ainda que pers­
picaz e penetrante, nem seus sentidos físicos podem com preender; algo
sobre o qual o argum ento hum ano não pode gerar convicção; algo que
não carece de linguagem floreada nem de ilustrações. É tão-som ente
por m eio da revelação do Espírito que ele chega a ser com preendido
pela m ente hum ana, e vem a ser selado em seus corações. Finalm ente,
conclui que não é só a pregação do evangelho que é extrem o oposto da
sabedoria hum ana, visto que ela consiste na hum ilhação da Cruz, mas
tam bém que o mero juízo hum ano não pode determ inar qual é seu real
valor. Paulo procede assim a fim de desviá-los da confiança m al colo­
cada em seu próprio entendim ento, o qual gera errônea valorização de
tudo.
No início do terceiro capítulo ele faz aplicação do que lhes afir­
m ou anteriorm ente. Pois Paulo lam enta que, sendo eles carnais, difi­
cilm ente se sujeitariam a aprender ainda m esm o os princípios rudi­
m entares do evangelho. D esta form a ele realça que o desprazer pela
Palavra, o que era tão forte neles, não era oriundo de algum defeito
inerente à Palavra m esm a, e, sim , da ignorância deles; e, ao mesmo
tem po, ele lhes dirige um a adm oestação im plícita, ou, seja, que os co-
ríntios necessitam de ter suas m entes renovadas, e assim possam co­
m eçar a avaliar as coisas com propriedade.
E então ele m ostra o lugar que deve ser dado ao m inistro do evan­
gelho. A honra devida a eles não deve subtrair em nada da glória que é
devida a Deus; pois há um só Senhor, e todos eles são seus servos;
. 19 .
1 CORÍNTIOS
som ente Deus tem o poder em suas m ãos, e é ele quem confere os
resultados; e todos os coríntios não passam de sim ples instrum entos de
Deus.
Ao m esm o tem po m ostra que ele deve ter com o alvo a edificação
da igreja. A proveita a oportunidade para explicar o correto e adequado
m étodo para realizar um bom trabalho de edificação, a saber, tom ar
Cristo com o o único fundam ento, e adequar a estrutura toda a esse
fundam ento. E aqui, tendo afirm ado de passagem que ele era um hábil
m estre-de-obra, exorta aos que são deixados para a continuação da obra
a que conservem o edifício de conform idade com o fundam ento em
todos os m eandros de sua conclusão.
Ele ainda insiste com os coríntios a não perm itirem que sejam m a­
culados pelos ensinos corruptos, visto que são tem plos de Deus. E nes­
sa parte conclusiva do capítulo, ele novam ente reduz a nada o orgulho
da sabedoria hum ana, de m odo que som ente o conhecim ento de Cristo
seja m antido em evidência entre os crentes.
N o início do quarto capítulo, ele explica quai é o ofício de um
genuíno apóstolo, e. rejeitando seus juízos corruptos que os impedem
de reconhecê-lo com o genuíno apóstolo, apela para o dia do Senhor.
Então, percebendo que o desprezavam em virtude de sua hum ilde apa­
rência, ele m ostra que de fato tal coisa se constitui mais em honra para
ele do que em desonra. Ele prossegue citando instâncias de sua própria
experiência, a qual revela que ele não se preocupava com sua própria
glória, ou com seu próprio sustento material, mas que fizera fielm ente
o trabalho de Cristo e nada mais. N o devido curso ele enfatiza a m anei­
ra com o os coríntios devem honrá-lo (isto é, vv. 14-16). Na parte con­
clusiva do capítulo, ele lhes recom enda Tim óteo, até que ele m esm o
vá. E ao m esm o tem po anuncia que em sua chegada ele deixará plena­
m ente claro que não dá o m enor valor a toda a bazófia com que os
falsos apóstolos cantavam seus próprios louvores.
No quinto capítulo Paulo os cham a à razão pelo fato de terem tole­
rado em silêncio um a união incestuosa entre um hom em e sua m adras­
ta. E francam ente lhes diz que, em vez de serem tão vangloriosos, um a
enorm idade tal com o esta deveria fazê-los pender suas frontes, enver­
gonhados. Ele m uda daquela instrução geral para o efeito, ou, seja, que
ofensas com o essas seriam punidas com excom unhão, para que a tole-
• 20 •
ANÁLISE
rância em relação ao pecado seja rechaçada, e que as im purezas sejam
lim itadas a um a só pessoa e não venham a propagar-se ainda mais afe­
tando o restante.
O sexto capítulo contém duas partes principais. N a prim eira, ele
condena a prática deles (coríntios) em provocar aborrecim ento uns aos
outros, trazendo com isso grande descrédito ao evangelho, ao levarem
suas disputas aos tribunais que eram presididos pelos incrédulos. Na
segunda parte, ele condena a tolerância com a prom iscuidade sexual, a
qual alcançara um nível tal que era considerada quase com o um a coisa
norm al de se fazer. D e fato, ele com eça com um a grave nota de am eaça
e então prossegue produzindo argum entos em apoio da adm oestação
que ele apresenta.
O sétim o capítulo contém um a discussão sobre a virgindade, o
m atrim ônio e o celibato. Tanto quanto podem os agrupar do que Paulo
diz, os coríntios se tornaram fortem ente influenciados pelas noções
supersticiosas de que a virgindade era um a projeção, quase um a virtu­
de angelical, de tal form a que desprezavam o m atrim ônio com o se este
fosse algo impuro. Para corrigir este conceito equivocado, Paulo ensi­
na que cada pessoa deve saber qual é seu dom particular; e neste senti­
do não deve fazer algo que não se sinta capacitada para fazer; pois nem
todos são cham ados para o m esm o estado. Conseqüentem ente, ele re­
alça quem pode abster-se do m atrim ônio, e que seu objetivo era abster-
se dele. Em contrapartida, ele aconselha aos que vão se casar e qual é a
genuína base do matrimônio.
No oitavo capítulo, ele os proibe de se envolverem com os adora­
dores de ídolos e seus sacrifícios im puros, ou de praticarem algum a
coisa que de algum a form a pudesse causar injúria a alguém com cons­
ciência fraca. Eles se escusavam sob o pretexto de que quando se asso­
ciavam aos adoradores idólatras, jam ais o faziam com idéias errôneas
em suas m entes, visto que em seus próprios corações reconheciam um
só D eus, o qual, naturalm ente, os fazia olhar para os ídolos com o coi­
sas indignas de fabricação hum ana. Paulo desfaz tal escusa com base
no fato de que cada um de nós deve preocupar-se com seus irm ãos, e,
por outro lado, havia m uitas pessoas fracas, cuja fé seria destruída por
tal insinceridade.
No nono capítulo, ele tom a patente que não está exigindo deles
• 21 •
1CORÍNTIOS
nada m ais do que exige de si m esm o, de m odo a não dar a im pressão de
estar sendo injusto em im por-lhes um princípio que ele m esm o não
pudesse praticar. Então !embra-os de com o voluntariam ente se refreou
de usar da liberdade que o Senhor lhe concedera, para não causar ofen­
sa a alguém ; e com o, no tocante a coisas neutras, adotara ele diferentes
atitudes, por assim dizer, a fim de acom odar-se a todos os tipos de
pessoas. Lem bra-os desses dois fatos para que aprendessem por inter­
m édio de seu exem plo, ou, seja, que ninguém deve concentrar-se de­
m asiadam ente em si m esm o, de m odo tal que não se em penhasse em
adaptar-se a seus irm ãos para a prom oção de sua edificação.
Em razão de os coríntios estarem m uitíssim os satisfeitos consigo
m esm os, com o disse no com eço, Paulo inicia o décim o capítulo usan­
do os judeus com o exem plo para adverti-los an ão enganar-se a si m es­
m os com um falso senso de segurança. Pois ele m ostra que, se estão
envaidecidos em razão de coisas externas e dos dons de Deus, os ju ­
deus, igualm ente, possuíam razões sem elhantes para ostentar-se. No
entanto, tais coisas provaram ser de nenhum préstim o, notadam ente
em seu caso, porquanto fizeram m au uso das bênçãos que receberam .
Após despertá-los com tais advertências, Paulo volta rapidam ente ao
tem a que vinha tratando inicialm ente (ou, seja, o culto idólatra, v. 14),
e m ostra quão inconsistente é para aqueles que participam da C eia do
Senhor tom ar parte na m esa de dem ônios; pois esta é um a infeliz e
intolerável form a de corrom per-se. Finalm ente, ele conclui que deve­
m os adequar-nos com outros em todas as nossas ações, de m odo a não
causar ofensa a ninguém.
N o capítulo onze, ele procura expurgar as reuniões de culto deles
de certas práticas nocivas, as quais dificilm ente era possível observar
com decência e ordem , e ele afirm a-lhes que nessas reuniões deve-se
observar grande dignidade e discrição, pois ali nos acham os diante de
D eus e dos anjos. Porém, sua crítica principal é dirigida contra a adm i­
nistração corrupta da C eia pelos coríntios. M as, além disso, ele apre­
senta o m étodo para corrigir os abusos que solertem ente haviam entra­
do; a saber, cham á-los de volta para nossa instituição original feita
pelo próprio Senhor, com o o único padrão seguro e perm anente para a
sua correta adm inistração.
Porém , visto que m uitos deles estavam fazendo m au uso dos dons
« 22 •
ANÁLISE
espirituais visando a seus próprios objetivos, no capítulo doze eie trata
do propósito para o qual Deus no-los concedeu, e trata igualm ente da
form a correta e adequada de seu uso, a saber, que para servirm os uns
aos outros, devem os crescer juntos no único corpo de C risto. Ele ilus­
tra seu ensino esboçando um a analogia com o corpo hum ano. Em bora
o corpo possua m em bros distintos, todos eles com funções distintas,
todavia existe neles um arranjo tão bem equilibrado e um a interdepen­
dência [communio] tal que o que tem sido atribuído aos m em bros indi­
viduais é em pregado em benefício de todo o corpo. Portanto, ele con­
clui que o am or é nosso m elhor guia nesta conexão.
E assim ele persiste neste tema, mais extensam ente no capítulo tre­
ze, fazendo um a explanação mais am pla de seu significado. Porém , ele
se resume nisto: o am or [caritas] deve ser o fator controlador de/em
tudo. Ele aproveita a presente oportunidade para fazer um a digressão e
cantar os louvores do amor, de m odo a tom á-lo ainda m ais persuasivo
e levar as pessoas a desejar possuí-lo, e tam bém a estim ular os corínti-
os a pô-lo em prática.
No capítulo quatorze, ele com eça apresentando detalhes m ais pre­
cisos sobre com o os coríntios tinham fracassado no uso dos dons espi­
rituais. E já que estavam pondo um a ênfase tão grande na ostentação,
ele os ensina que sua preocupação devia ser que em tudo houvesse
edificação. Esta é a razão por que ele prefere a profecia a todos os
dem ais dons, visto ser ele m ais benéfico; enquanto que, para os corín­
tios, as línguas eram mais valiosas, sim plesm ente com base em sua
pom pa vazia. Ele ainda estabelece a ordem apropriada para se fazerem
as coisas. A o m esm o tem po, ele condena o erro na exibição ruidosa de
línguas estranhas para o benefício de ninguém ; pois significava que,
enquanto havia progresso no ensino e nas exortações, aos quais sem­
pre se deve dar prioridade, eles estavam sendo prejudicados. Em se­
guida, ele proíbe que as m ulheres ensinem publicam ente, com o sendo
aJgo inconveniente.
N o capítulo quinze, ele ataca um dos mais perniciosos erros. A inda
que dificilm ente seja crivei que este assalto fosse sobre todos os corín­
tios, todavia tal ação granjeou um ponto-chave nas m entes de alguns
deles, na m edida precisa em que o rem édio era claram ente necessário.
M as tudo indica que Paulo, propositadam ente, retarda a m enção deste
• 23 •
1CORÍNTIOS
assunto para o final da carta; pois se ele tivesse iniciado com ele, ou se
tivesse voltado a ele im ediatam ente depois de com eçado, a conclusão
deles seria que estavam sendo todos condenados. Ele, pois, m ostra que
a esperança da ressurreição é tão necessária que, se ela for extinta,
então todo o evangelho cairá em com pleta ruína. Tendo estabelecido a
esperança pelo uso de poderosos argum entos, ele prossegue m ostran­
do as bases sobre as quais ela descansa, e com o [a ressurreição] se dará
(cf. w . 35-58). num a palavra, ele realiza um a plena e cuidadosa dis­
cussão deste assunto.
O capítulo dezesseis constitui-se de duas partes. N a prim eira, ele
encoraja os coríntios a prestarem socorro aos irmãos de Jerusalém em
suas necessidades. Eles estavam , naquela época, sendo duram ente pre­
midos pela fom e e cruelm ente tratados nas m ãos dos incrédulos. Os
apóstolos haviam dado a Paulo a tarefa de anim ar as igrejas gentílicas
a prover recursos para eles [de Jerusalém ]. Paulo, pois, os instrui a pôr
de lado o que gostariam de dar, e assim pudessem enviar a Jerusalém
im ediatam ente [porém, veja-se 16.3],
Ele traz a carta à sua conclusão com um a exortação cordial e com
saudações de alegria.
Podem os deduzir daqui, com o disse no início, que esta carta está
saturada do mais prestim oso ensirio, pois ela contém várias discussões
de um bom núm ero de tem as gloriosos.
COMENTÁRIO À
SAGRADA ESCRITURA
SOBRE A PRIMEIRA EPÍSTOLA
DE PAULO AOS CORÍNTIOS
CAPÍTULO I
I Paulo, chamado para ser apóstolo de 1. Paulus. vocatus apostolus Jesu Christ
Jesus Cristo pela vontade de Deus, e Sóste- per voluntatem Dei, et Sosthenes frater,
nes. nosso irmão,
2. à igreja de Deus que está em Corinto, 2. Ecclesis Dei qu* esl Coriiuhi, sancti-
aos que são santificados em Cristo Jesus, ficatis in Christo Jesu. vocatis sanctis, una
chamados para serem santos, com todos os cum omnibus qui invocam nomen Domini
que em todos os lugares invocam o nome de nostri Jesu Christi in quovis loco tam sui
nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e quam nostri:'
nosso:
3, graça seja a vós, e paz da parte de Deus 3. Graíia vobiset pax aD eo Patrenosiro,
e do Senhor Jesus Cristo. et Domino Jesu Christi.
1. P au lo , ch am ad o p a ra se r apóstolo. D essa form a Paulo proce­
de em quase todas as introduções a suas Epístolas com vistas a garantir
autoridade e aceitação para sua doutrina. Em prim eiro lugar ele se as­
segura da condição que lhe fora designada por Deus, de ser apóstolo de
Cristo e enviado por D eus; em segundo lugar ele testifica de sua afei­
ção para com todos aqueles a quem escreve. Crem os m uito m ais pron­
tam ente em alguém que consideram os estar genuinam ente afeiçoado
para conosco e que fielm ente prom ove nosso bem -estar. Portanto, nes­
ta saudação ele reivindica autoridade para si ao falar de si m esm o com o
apóstolo de Cristo, e deveras cham ado p o r D eus, ou, seja, separado
pela vontade de Deus.
Ora, duas coisas são requeridas daquele que deve ser ouvido na
Igreja, e que vai ocupar a cadeira de mestre; pois o m esm o deve ser
cham ado por Deus para esse ofício e deve ser fiei no cum prim ento de
seus deveres. Paulo aqui alega que am bas se aplicam a ele. Pois o título
apóstolo im plica que os atos conscientem ente individuais por parte de
um em baixador de Cristo [2Co 5.19], e que proclam a a pura doutrina
1 “Le leur et le nostre". ou “le Seigneur (di-ie) et de eux et de nous." - “Tanto deles,
quanto nosso", ou, “o Senhor (digo) tanto deles, quanto nosso."
• 27 ■
1 CORÍNTIOS 1
do evangelho. M as para que ninguém assuma para si esta honra sem ser
cham ado para a m esma, ele acrescenta que não se precipitou tem erana-
mente para ela, m as que fora designado4 por Deus para tal incumbência.
A prendam os, pois, a levar em conta am bos esses fatores quando
quiserm os saber a quem devam os considerar com o m inistro de Cristo:
que o m esm o seja cham ado e seja fiel ao cum prim ento de seus deveres.
Visto que ninguém pode, por direito, assum ir para si a designação e
condição de m inistro, a não ser que o m esm o seja cham ado, assim não
é suficiente que um a pessoa seja cham ada, se tam bém não cum prir os
deveres de seu ofício. Pois o Senhor não escolhe m inistros para que
sejam ídolos m udos, nem para que exerçam tirania sob o pretexto de
sua vocação, nem para que tom em seus próprios caprichos por sua lei.
Ao contrário, D eus ao m esm o tempo estabelece que tipo de hom ens
devam ser eles, e os põe sob suas leis; em sum a, ele os escolhe para o
m inistério; ou, em outros term os, para que, em prim eiro lugar, não
sejam ociosos; e, em segundo lugar, para que se m antenham dentro dos
lim ites de seu ofício. Portanto, visto que o apostolado depende da vo­
cação [divina], se alguém deseja ser reconhecido com o um apóstolo,
então que prove que o é de fato e de verdade; não só isso, mas que tudo
faça para que os hom ens confiem nele e dêem atenção a sua doutrina.
Pois já que Paulo conta com essas base para estabelecer sua autorida­
de, pior que a insolência seria a conduta do hom em que quisesse assu­
m ir tal posição sem com provação!
Entretanto, é preciso observar que não basta que alguém reivindi­
que a posse de um título de algum a vocação para o ofício, m as que
tam bém seja fiel no cum prim ento de seus deveres, a m enos que real­
m ente com prove am bas [as alegações]. Pois am iúde sucede que aque­
les que m ais se vangloriam de seus títulos são precisam ente pessoas
que na verdade nada possuem ; com o, por exem plo, os falsos profetas
da antigüidade que reivindicavam com grande arrogância que haviam
sido enviados pelo Senhor. E hoje, que outra coisa fazem os rom anis-
tas senão grande bulha sobre a “ordenação divina, a sucessão inviola-
velm ente sacra provinda dos próprios apóstolos”,5 enquanto que, de­
4“Constitué, ordonné, et establi." - “Designado, ordenado e estabelecido.”
’ “Ei aujour d’huy, qu’est ce qu'entonnent à plene bouche les Romanisques, sinon ces
grous mots, Ordination de Dieu. La saint et sacrée sucession depuis le temps mesme des
• 28 *
1 CORÍNTIOS 1
pois de tudo, parece serem eles com pletam ente destituídos de todas as
coisas sobre as quais tanto se exaltam ? A qui, pois, o que se requer não
é tanto de vanglória, m as de realidade. Ora, visto ser com um , para o
bom e para o mau, assum ir o título, devem os fazer um teste para que se
descubra quem de fato pode e quem não pode ter o direito ao título
apóstolo. Q uanto a Paulo, Deus atestou sua vocação por m eio de m ui­
tas revelações e então a confirm ou por m eio de milagres. A fidelidade
tinha de ser avaliada da seguinte forma: se ele estava ou não procla­
m ando a pura doutrina de Cristo. Q uanto à dupla vocação, a de Deus e
a da Igreja, vejam -se m inhas Instituías (4.3.II).
A póstolo. A inda que este título, de acordo com sua etim ologia,
tenha um sentido geral, e às vezes seja em pregado para denotar todos
os m inistros'’1indistintam ente, não obstante pertence, com o um a desig­
nação particular, aos que eram separados pela designação do Senhor
com o fim de publicar o evangelho ao m undo inteiro. M as era impor­
tante que Paulo fosse incluído naquele núm ero, e isso por duas razões:
prim eiro, porque m uito mais deferência era atribuída a eles do que aos
dem ais m inistros do evangelho: e, segundo, porque unicam ente eles,
estritam ente falando, possuíam a autoridade de instruir todas as igrejas.
Pela vontade de Deus. Enquanto o apóstolo costum ava reconhe­
cer de bom grado sua dívida irresgatável a Deus pelas m uitas coisas
boas que dele recebera, ele agia assim particularm ente com referência
a seu apostolado, para que pudesse rem over de si qualquer aparência
de presunção. E não há dúvida de que, com o a salvação provém da
graça, assim tam bém a vocação para o ofício de apóstolo provém da
graça, com o preceitua Cristo nestas palavras: “N ão fostes vós que me
escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” [Jo
15.16]. Entretanto, Paulo ao m esm o tem po indiretam ente dá a enten­
Apostres.” - “E. em nossos dias. o que os romanistas grilam com bocas escancaradas senão
aqueles grandes temas: Ordenação de Deus - A santa e sacra sucessão dos apóstolos até
nossos dias?"
" AtrootoAoç (um apóstolo), derivado deanoateJ.A.fU' (enviar), significa literalmente men­
sageiro. O lermo é empregado pelos escritores clássicos para denotar o comandante de
uma expedição, ou um delegado ou embaixador. (Veja-se Heródoto, v.38.) No Novo Testa­
mento. ele é em vários casos empregado em um sentido geral para denotar um mensageiro.
(Veja Lc 11.49: Jo 13.16: Fp 5.38.] Em um caso é aplicado a Cristo mesmo (Hb 3.1). Mais
freqüentemente, contudo, é aplicado aos mensageiros extraordinários que eram (para usar
as palavras de Leigh em seu Critica Sacra) “os legados (a iatere)" de Cristo, dc sua parte."
• 29 •
1 CORÍNTIOS 1
der que todos quantos tentaram subverter seu apostolado, ou de algu­
m a form a fizeram -lhe oposição, estavam contendendo contra um a or­
denação divina. Porquanto Paulo, aqui, não se vangloria futiim ente de
títulos honoríficos, senão que intencionalm ente defende seu apostola­
do de suspeitas m aliciosas. Porque, visto que sua autoridade tinha de
ser suficientem ente bem estabelecida em relação aos coríntios, não havia
necessidade de se fazer m enção da vontade de D eus especificam ente,
caso os hom ens injustos não estivessem tentando, por m eios indiretos,
m inar aquela honrosa posição divinam ente outorgada por Deus.
E Sóstcnes, nosso irm ão. Este é o m esm o Sóstenes que era líder
judaico da sinagoga em Corinto, e de quem Lucas faz m enção em Atos
18.17. A razão de seu nom e ser incluído aqui é para que os coríntios
tivessem um a m erecida consideração por aquele de quem conheciam o
ardor e firm eza no evangelho. Portanto, há um a honra ainda m aior para
ele, ou, seja, de ser denom inado irmão de Paulo, do que, com o antes,
ser presidente da sinagoga.
2. À ig re ja de D eus que está cm C orinto. Talvez pareça algo
estranho dar Paulo aqui o título Igreja de D eus a esse grupo de pessoas
que se achava infestado de tantas falhas, sobre o qual Satanás exercia
um a influência m ais poderosa que a de Deus. Certam ente seu intuito
não era bajular os coríntios, pois ele fala sob a diretriz do Espírito de
Deus, o qual não costum a bajular. M as,7 no m eio de tanta vileza, que
aparência de igreja é m ais apresentada? M inha resposta é com o segue:
Visto que o Senhor dissera: "N ão tem as, eu tenho m uitas pessoas nesta
cidade” [At 18.9], m antendo esta prom essa em sua m ente, ele conferiu
a poucas pessoas piedosas a grande honra de reconhecê-las com o igre­
ja no m eio de um a vasta m ultidão de pessoas ímpias. D em ais, a despei­
to de que m uitos vícios tinham solertem ente se introduzido, bem com o
várias corrupções tanto na doutrina quanto na conduta, alguns em ble­
mas da genuína Igreja perm aneciam em evidência. Entretanto, deve­
mos prestar m uita atenção a esta passagem , para que neste m undo não
esperem os existir um a igreja sem um a m ancha ou m ácula, nem preci­
pitadam ente neguem os este título a algum a sociedade na qual nem tudo
satisfaça nossos padrões ou aspirações. Porquanto é um a perigosa ten­
tação im aginar alguém que não existe igreja onde a perfeita pureza se
7“Mais (dira quelqu'un)." - “Mas (alguém diria).”
• 30 •
1 CORÍNTIOS 1
acha ausente. Pois a pessoa que se sente dom inada por tal noção, ne­
cessariam ente deve separar-se de todos os dem ais e olhar para si com o
o único santo no mundo, ou deve fundar sua própria seita em socieda­
de com uns poucos hipócritas.
Sobre que base, pois, tinha Paulo reconhecido um a igreja em C o­
rinto? Sem dúvida foi porque viu em seu seio a doutrina do evangelho,
o batism o e a Ceia do Senhor, m arcas pelas quais um a igreja deve ser
julgada. Pois, em bora alguns com eçassem a nutrir dúvidas acerca da
ressurreição, contudo tal erro não perm eou todo o corpo, e assim o
nom e e a realidade da Igreja não são por isso afetados. Ainda que alguns
defeitos já tivessem surgido na administração da Ceia, a disciplina e a
conduta já tivessem declinado tanto, a sim plicidade do evangelho já es­
tivesse denegrida e já tivessem se entregado à ostentação e à pom pa, e
em decorrência da ambição de seus ministros já estivessem fragmenta­
dos em vários partidos, não obstante, em virtude de haverem retido a
doutrina fundamental - o Deus único era adorado por eles e invocado no
nom e de Cristo depositavam em Cristo sua dependência para a salva­
ção e sustentavam um ministério que não estava de todo corrompido.
Por essas razões a Igreja continuava ainda em existência entre eles. Con­
seqüentemente, onde quer que o culto divino tenha sido preservado in­
corrupto, e aquela doutrina fundamental de que já falei ainda persiste ali,
podemos sem hesitação concluir que nesse caso a Igreja existe.
Santificados em C risto Jesus, cham ados p a ra serem santos. Ele
faz m enção das bênçãos com as quais Deus os adornara, com o à guisa de
reprim enda, porque, na prática, nem sem pre se m ostravam agradecidos.
Pois o que pode ser mais deprim ente do que rejeitar um apóstolo, por
cujo ministério haviam sido separados com o porção peculiar de Deus?
Entrementes, aqui ele mostra, por estes dois qualificativos, que estão
incluídos entre os verdadeiros m em bros da Igreja, e que por direito
pertencem a sua com unhão. Pois se o leitor não se revelar com o cristão
pela santidade de vida, então certam ente não estará capacitado a es­
conder-se na Igreja e ainda não pode pertencer-lhe.8 Portanto, todos
* "Tu te pourras bien entretenir en l'Eglise tellement quellement, estant meslé parmi les
autres." - "Podeis muito bem ter uma permanência na Igreja, de algum modo, estando
entremeados entre outros."
• 31 •
1 CORÍNTIOS 1
quantos desejam ser reconhecidos entre o povo de D eus devem ser
santificados em Cristo. Dem ais, a palavra santificação denota separa­
ção. Isso se dá conosco quando somos regenerados pelo Espírito para
novidade de vida, para servirm os, não ao m undo, mas a Deus. Porque,
enquanto por natureza som os im puros, o Espírito nos consagra a Deus.
Porque isso realm ente se concretiza quando som os enxertados no cor­
po de Cristo, fora do qual nada m ais há senão corrupção, e visto que o
Espírito nos diz que só somos santificados em C risto, quando, através
dele, aderim os a Deus, e nele som os feitos “novas criações” (2Co 5.17).
O que segue - cham ados para serem santos - o entendo no seguin­
te sentido: “Assim fostes cham ados em santidade.” M as isso pode ser
considerado de duas formas. Prim eiro, podem os entender Paulo com o
que dizendo que a causa da santificação é a vocação divina, porque
D eus m esm o os escolheu; em outras palavras, depende de sua graça, e
não da excelência do hom em . O significado alternativo é o seguinte: é
consistente com nossa profissão [de fé] que sejam os santos, porque
esse é o desígnio da doutrina do evangelho. A inda que o prim eiro sig­
nificado pareça adequar-se m elhor ao contexto, faz pouca diferença de
que form a o leitor o considere, quando os dois significados estão em
estreita harm onia entre si, pois nossa santidade em ana da fonte da elei­
ção divina, e é tam bém a m eta de nossa vocação.
Portanto, devem os sustentar criteriosam ente que de m odo algum é
por nossos próprios esforços que som os santos, m as é pela vocação
divina; porque é tão-som ente Deus que santifica aos que por natureza
eram impuros. E certam ente creio que, m ui provavelm ente, quando
Paulo aponta, com o se o fizesse com seu dedo, para a fonte da santida­
de, am plam ente aberta, é para subir ainda mais, ou, seja, para o graci­
oso beneplácito de D eus mesmo, pelo qual tam bém a m issão de Cristo
quanto a nós se originou. Além disso, assim com o som os cham ados
por m eio do evangelho para a vida irrepreensível [Fp 2.15], é necessá­
rio que isso se tom e um a realidade em nós, a fim de que nossa vocação
venha a ser eficaz. M as alguém objetará dizendo que tal coisa não era
com um entre os coríntios. M inha resposta é que os pusilânim es não se
acham inclusos neste núm ero, porque aqui D eus sim plesm ente com e­
ça sua obra em nós, e paulatinam ente a leva à consum ação. Respondo
ainda que Paulo deliberadam ente olha antes para a graça de D eus em
• 32 •
I CORÍNTIOS 1
ação neles, e não para os próprios defeitos deles, de m odo a fazê-los
sentir-se envergonhados de sua negligência em não fazerem o que lhes
foi requerido.
Com todos os q u e o invocam . Este é outro qualificativo tam bém
com um a todos os crentes. Porque, visto que invocar o nom e de D eus é
um dos principais exercícios da fé, portanto é por este dever que os
fiéis devem ser principalm ente julgados. N ote-se tam bém que ele diz
que Cristo é invocado pelos fiéis; e é assim que sua divindade é reco­
nhecida, porquanto a invocação é um a das prim eiras evidências do
culto divino. Daí, a invocação, neste contexto, à guisa de sinédoque*
(Katà awtKôoxnv), significa um a plena profissão de fé em Cristo, as­
sim com o em m uitas passagens da Escritura ela é geralm ente tom ada
para abranger todo o culto divino.
Alguns o explicam com o sendo só a profissão [de fé], m as isso
parece pobre dem ais e está em desacordo com sua aceitação usual na
Escritura. Ora, tenho posto estas pequenas palavras nostri (nosso) e sui
(deles) no genitivo, entendendo-as com o um a referência a Cristo. En­
quanto outros, tom ando-as com o um a referência a lugar, traduzem -nas
no ablativo. Ao agir assim , tenho seguido a Crisóstom o. Esta tradução,
provavelm ente, parecerá abrupta, porque as palavras em todo lugar
aparecem no centro, porém não há nada de abm pto nesta construção
no grego pauhno. M inha razão para preferir esta tradução à da Vulgata
é que se o leitor a explicar com um a referência a lugar, a frase adicio­
nal não só será desnecessária, mas tam bém irrelevante. Pois a que lu­
gar Paulo cham aria seu? Eles o consideram com o a indicar a Judéia
porém , em que áreas? Então, a que lugar Pauto estaria se referindo
com o sendo habitado por outros? A firm am que significa todos os ou­
tros lugares do m undo; mas isso tam bém não é bem apropriado. Em
contrapartida, o significado que tenho atribuído é bem mais apropria­
do; porque, depois de fazer m enção a “os que em todo lugar invocam o
nom e de Cristo, nosso Senhor”, ele adiciona: “deles e nosso”, a fim de
tornar plenam ente claro que C risto é sem a m enor som bra de dúvida o
Senhor com um de todos os que o invocam, sejam eles judeus ou gentios.
E m todo lugar. Paulo adicionou isso contrariando sua prática usu-
" Sinédoque, figura de linguagem por meio da qual a parte é tomada pelo todo.
• 33 •
al pois em suas outras cartas ele menciona, na saudação, som ente aque­
les a quem ele endereça as cartas. Entretanto, tudo indica que ele dese­
java antecipar as calúnias de certos ím pios, com o a im pedi-los de ale­
gar que ele estava adotando um a atitude extrem ada e forte em relaçao
aos coríntios, reivindicando para si um a autoridade que nao ousaria
assum irem relação a outras igrejas. Logo se fará evidente que ele tinha
sido tam bém injustam ente cum ulado com censura de que estava a cons­
truir ‘ninhos’10para si mesmo, com o se quisesse fugir da luz, ou clandes­
tinam ente se excluísse do restante dos apóstolos. Portanto, a fim de ex­
pressam ente rebater tal mentira, ele intencionalmente se poe num posto
de comando, donde pudesse tornar sua voz ouvida forte e difusamente.
3 Graça seja a vós e paz. Os leitores poderão encontrar um a ex­
posição desta oração no início de meu com entário à Epístola aos R o­
m anos [Rm 1.7]. Porquanto não gostaria de sobrecarrega-los com re­
petições.
4. Dou sempre gravas a meu Deus a re S- 4 .G ratiasagoD eo meo scm perde vobis
peito de vós, pela graça de Deus que vos foi propter granam Dei. quæ data vob.s
eidos por ele, em toda palavra e em todo omni sermone." et m omm cogmttone.
^ó ^ assim como o testemunho de Crislo foi6. Qucmadinodum te— um Christi
r ,„<c* con firm atu m fu it in vobis.
°°7 'dTm aneira que não vos venha faltar 1- U t nulio in dono destituamini. exspec-
nenhum dom; esperando pela vinda de nos- lantes revdationem Dom.m nostn lesu
50 g ^ J i ^ o n f i n n a r à até o fim. T quí etiam confirm ai, v o s ^ i n f t .
para serdes irrepreensíveis no dia de nosso nem meulpatos. m d,em Dom.m nostn Jesu
SC9 D Í é f i d Ï a v é s de quem fostes cha- 9. Fidelis Deus, per quem
mados à comunhão de seu Filho Jesus Cns- commun.onem F.lu ips.us Jesu Chnst. D o­
lo, nosso Senhor. mini nostn.
4. Dou sempre graças a meu Deus. Após mostrai-, na saudação,
que sua autoridade repousa sobre a função que lhe fora designada Paulo
agora busca granjear a aceitação para sua doutrina, expressando seu
afeto por eles. Agindo assim , de antem ão abranda suas m entes, para
10“Nids et cachettes." - "Ninhos e esconderijos.”
11 •Parole-, ou ‘éloquence’. - ‘Enunciação’ ou ‘eloqüência’.
[w. 3, 4] 1CORÍNTIOS 1
■34 •
1CORÍNTIOS 1
que pudessem ouvir pacientem ente sua reprovação.'3 Ele deveras os
persuade a confiar em seu amor: prim eiro, regozijando-se com as bên­
çãos com que foram contem plados, com o se ele m esm o as recebesse;
e, em segundo lugar, ao declarar que seu coração lhes era favorável e
que nutria por eles boa esperança quanto ao futuro. A lém disso, eJe
caracteriza suas congratulações, de m odo que os corfntios não tives­
sem nenhum a ocasião para vangloriar-se, visto que ele aponta para
Deus com o a fonte donde em ana todas as bênçãos que haviam recebido
todo o louvor deve ser-lhe dirigido, já que tudo era fruto de sua graça!
Em outros termos, Paulo está dizendo: “Congratulo-m e convosco com
toda sinceridade, porém de modo a atribuir louvor som ente a D eus.”
Já expliquei, em meu com entário à Epístola aos Rom anos [Rm 1.8],
o que Paulo quis dizer quando denom ina Deus de m eu D eus. Além do
mais, com o Paulo nao pretendia lisonjear os coríntios, por isso não os
enaltece por m otivos falsos. Porque, em bora nem todos m erecessem
tal louvor, e em bora tivessem corrom pido muitos dos dons excelentes
de Deus por m eio de am bição, contudo não podia ignorar os próprios
dons deles, com o se fossem de pouco valor, os quais, em st mesmos,
m ereciam o mais elevado apreço. Finalm ente, porque os dons do Espí­
rito são concedidos para a edificação de todos, ele tinha boas razões
para considerá-los com o dons com uns a toda a Igreja.13Vejamos, po­
rém, o que Paulo recom enda neles.
P o r co nta da g raça etc. Graça é um termo geral, porque ela abrange
toda espécie de bênçãos, as quais eles tinham obtido por m eio do evan­
gelho. Pois a palavra graça significa, aqui. não o favor de Deus, mas. à
guisa de m etoním ia'4 o s dons que graciosam ente Deus
derram ou sobre os homens. Portanto, Paulo prossegue especificando
os casos particulares quando diz: "em tudo fostes enriquecidos”, e ex­
plica tudo com o sendo a doutrina e Palavra de Deus. Pois os cristãos
devem ser plenificados com essas riquezas, as quais devem tam bém
13O mesmo ponto de vista do desígnio de Paulo aqui é apresentado porTeodoreto “Visto
que ele está para censurá-ios, suaviza de antemão o tírgSo de audiçlo para que o remédio a
ser aplicado seja recebido o mais favoravelmente possível."
| Que chacun ha en son endroil." - “Que cada um tem severamente "
Figura dc ünguagem por meio da qual um tenno é expresso por outro - a causa pelo
eteuo, o efeito pela causa etc.
• 35 •
receber de nós as mais elevadas honras e o m ais elevado apreço, a
m edida que forem sendo desconsideradas pelo povo com o um todo.
Preferi conservar o term o in ipso {nele) em vez de m uda-lo para
p er ipsum {por ele), porque, em m inha opinião, é m ais expressivo e
vigoroso. Pois somos enriquecidos em Cristo porque som os m em bros
de seu corpo e fom os enxertados nele; e ainda mais, visto que fom os
feitos um com ele, ele com partilha conosco tudo quanto recebeu do
Pai.
6. Assim como o testemunho de Cristo foi confirmado em vos.
A tradução de Erasm o é diferente: "por m eio dessas coisas, o testem u­
nho de Cristo foi confirm ado entre vós", significando: pelo conheci­
m ento e pela Palavra. As palavras têm em si um a ressonância distinta,
e se não forem torcidas, o significado é sim plesm ente este: Deus selou
a verdade de seu evangelho entre os coríntios, com o proposito de con­
firm á-la. O ra, isso pode ser feito de duas m aneiras - ou por m eio dos
m ilagres ou por m eio do testem unho interno do Espírito Santo. C ri­
sóstom o parece tê-lo entendido com o um a referência aos milagres,
porém considero-o em um sentido m ais am plo. Antes de tudo, é certo
que o evangelho deve ser propriam ente confirm ado, em nossa experi­
ência pessoal, por m eio da fé, porque, tão logo é ele recebido por nós.
pela fé, então realm ente “por sua vez certifica que Deus é verdadeiro
IJo 3.33]. E em bora eu adm ita que os m ilagres devam ser de valor para
sua confirm ação, não obstante um a origem m ais elevada deve ser bus­
cada a saber: que o Espírito de Deus é o penhor [arrha] e selo. Por
isso. explico estas palavras da seguinte m aneira: que os coríntios exce­
liam em conhecim ento, porquanto desde o princípio D eus fez seu evan­
gelho produzir frutos neles. Dem ais, ele não fez isso de um a um ca
form a mas o fez pela operação interna do Espírito e pela excelencw e
variedade dos dons, pelos m ilagres e por todas as dem ais coisas que
cooperam . E le cham a o evangelho de o testem unho de Cristo ou con­
cernente a C risto, porque toda a som a dele é desvendar C nsto a nos,
"em quem estão ocultos todos os tesouros do conhecim ento [Cl 2 J J .
Se alguém prefere considerá-lo num sentido ativo, em razão de o autor
prim ário do evangelho ser C risto, de m odo que os apóstolos nada mais
são senão testem unhas secundárias, ou m enos im portantes, nao discor­
darei dele. C ontudo, para mim a prim eira explicação é m ais satistató-
• 36 •
1CORÍNTIOS 1 fw. 7, 8]
ria. A dm ito que, logo depois [cf. 2.1], “o testem unho de D eus” deve,
além de toda controvérsia, ser considerado num sentido ativo, porquanto
o sentido passivo seria inadequado. Entretanto, aqui o caso é diferente;
outrossim , esta passagem corrobora m inha opinião, porque im ediata­
m ente ele adiciona seu significado: nada saber senão Cristo [cf. 2.2],
7. Dc m an e ira que não vos venha fa lta r nen h u m dom Y atípeia-
0ca significa estar em falta de algo que você realm ente necessita. Por­
tanto, Paulo quer dizer que os corintios eram ricos em todos os dons de
Deus, e deveras não careciam de nada. É com o se dissesse: “O Senhor
não só vos considerou dignos da luz do evangelho, mas tam bém vos
proveu ricam ente de todas as graças que auxiliam os crentes a fazerem
progresso no cam inho da salvação.” Pois ele intitula dons [charisma-
ta] aquelas graças espirituais que são, por assim dizer, os m eios de
salvação para os santos. Em contrapartida, pode-se objetar que os crentes
nunca são tão ricos que não se sintam carentes, em certa extensão, de
graças, de m odo que sem pre se vêem forçados a ter “fom e e sede” [M t
5.6]. Pois, quem não está longe da perfeição? M inha resposta é a se­
guinte: visto que são suficientem ente providos dos dons necessários, e
sem pre que estão necessitados, o Senhor vem oportunam ente satisfa-
zê-los, Paulo, pois, atribui-lhes tais riquezas. Pela m esm a razão, ele
acrescenta: “aguardando a m anifestação significando que e le’não
está pensando neles com o quem possui tais riquezas, nada restando
para desejar-se, senão que possuem som ente o que lhes bastará até que
tenham alcançado a perfeição. Entendo o gerúndio, aguardando, neste
sentido: “durante o tem po em que estais esperando.” A ssim , tem os o
seguinte significado: "Portanto, neste ínterim não tendes carência de ne­
nhum dom. enquanto estiverdes aguardando o dia da perfeita revelação,
m ediante a qual Cristo, nossa sabedoria, se fará plenamente manifesto.”
8. Q ue tam b ém vos con firm ará. O relativo [que], aqui, não se
aplica a Cristo, e, sim, a Deus, m esm o quando o nom e de Deus seja o
antecedente mais remoto. Porque o apóstolo prossegue expressando
sua alegria, e com o lhes disse previam ente o que sentia sobre eles,
portanto agora m ostra que nutre esperança quanto ao futuro deles; e
isso em parte para fazê-los sentir-se ainda m ais certos de sua afeição
por eles, e em parte tam bém para exortá-los, por seu próprio exem plo,
a nutrirem a m esm a esperança. É com o se dissesse: “A inda que este-
• 37 •
jais num estado de alarm a por estardes esperando a salvação que ainda
está por vir, não obstante deveis estar certos de que o Senhor jam ais
vos abandonará, mas que, ao contrário, com pletará o que com eçou em
vós de m odo que, quando esse dia chegai-, quando todos nos com pare­
cerem os diante do tribunal de Cristo [2Co 5.10], possam os, pois, ser
encontrados irrepreensíveis.”
Irrepreensíveis. Paulo ensina, em suas Epístolas aos Efésios e aos
Colossenses, que o fim de nossa vocação é para viverm os de m aneira
pura e livres de m ancha na presença de D eus [Ef 1.4; O 1.221. Entre­
tanto, devem os observar que tal pureza não se com pletara em nos im e­
diatam ente; ao contrário, para nosso próprio bem, devem os continuar
exercitando a prática diária da penitência, e prosseguir sendo purifica­
dos dos pecados (2Pe 1.91, os quais nos fazem passíveis do castigo
divino, até que, finalm ente, sejam os despidos, juntam ente com “o cor­
po de m orte” [Rm 7.14], de toda a im pureza do pecado. A cerca do dia
do Senhor falarem os no capítulo 4.
9. D eus é fiel. Q uando a Escritura fala de D eus com o sendo fiel,
com freqüência significa sua perseverança e sua constante uniform ida­
de de caráter [perpetuum temorem], de m odo que tudo o que Deus
com eça ele sem pre leva a sua consum ação.15Paulo m esm o diz que “a
vocação de Deus é irrevogável” [Rm 11.291. Portanto, em m inha opi­
nião, o que esta passagem significa é que D eus é inabalavel em seu
propósito Sendo este o caso, ete não zom ba de nós quando nos chama,
m as que cuidará de nós para sem pre.16 Conseqüentem ente, visto ex­
perim entarm os as bênçãos de D eus no passado, tenham os bom anim o
e esperem os que ele aja sem pre assim no futuro. Paulo, porem , volve
sua atenção para um ponto m ais elevado, pois seu argum ento é que os
coríntios não podem ser lançados fora, porque um a vez foram cham a­
dos pelo Senhor “à com unhão com Cristo”. Entretanto, a fim de com ­
preenderm os que valor tem este argum ento, notem os antes de tudo que
cada um deve ver em sua própria vocação a evidência de sua eleição.
'’ Calvino provavelmente se refere às seguintes passagens (entre outras): 1Tessalomcen-
ses 5.24; 2 Tessalonicenses 3.3; Hebreus 10.23.
115 “La vocation donc qu’il fait d’un chacun des siens, n est point un jeu. et en es appe_
liant il ne se mocque point, ainsi il entretiendra et pour suyura son œuvre perpétuellement^
- “A vocação, portanto, que ele faz de cada um dos seus não é mera diversão, e ao chamá-
los ele não está a brincar, mas incessantemente manterá e dará curso a sua obra.
[v 9] 1CORÍNTIOS 1
• 38 •
1CORÍNTIOS 1
Portanto, em bora nem sem pre alguém possa julgar com a m esm a cer­
teza acerca da eleição de um a outra pessoa, todavia podem os sem pre
decidir, julgando com base no am or, que tantos quantos são cham ados,
é para a salvação que são cham ados; eu quero dizer tanto eficaz quanto
frutiferamente. Paulo estava dirigindo estas palavras a pessoas em quem
a Palavra de Deus havia form ado raízes, e em quem alguns frutos se
despontavam com o resultado.
A lguém poderia objetar, dizendo que m uitos dos que um a vez re­
ceberam a Palavra, mais tarde apostatam . M inha resposta é que só o
Espírito é a fiel e infalível testem unha da eleição de cada pessoa, e que
sua perseverança depende desse fato. Responderia ainda que, não obs­
tante, esse fato não im pedia Paulo de estar persuadido, no tribunal do
amor, de que a vocação dos coríntios seria um a firm e e inabalável pro­
va, já que ele via entre eles os em blem as do beneplácito paternal de
Deus. A lém disso, tais em blem as de form a algum a visavam a produzir
um m ero senso de segurança carnal; pois as Escrituras com freqüência
nos advertem quanto a nossa real fraqueza, m as sim plesm ente visa a
confirm ar nossa confiança no Senhor. Ora, isso era necessário a fim de
que suas m entes não se vissem desnorteadas ao descobrirem tantas
falhas, com o m ais adiante ele as poria diante de seus olhos. Tudo isto
pode ser sum ariado da seguinte form a: “Os cristãos sinceros devem
nutrir boas esperanças acerca de todos quantos têm tido acesso ao ca­
m inho inconfundível da salvação, e perseveram em seu curso, ainda
que ao m esm o tem po sejam assediados por m uitas enferm idades. D es­
de o tem po em que é iluminado [Hb 10.32] pelo Espírito de Deus, no
conhecim ento de Cristo, cada um de nós, na verdade, é plenam ente
convencido de que foi adotado pelo Senhor na herança da vida eterna.
Pois a vocação eficaz deve ser para os crentes a evidência da adoção
divina. N ão obstante, nesse ínterim devem os todos nós andar “em te­
m or e trem or” (Fp 2.12). Farei posterior referência a este assunto no
capítulo 10.
À comunhão. Em vez disso, Erasm o traduziu à participação [con-
sortium]. A Vulgata traz sociedade [societatem], Eu, contudo, preferi
comunhão (communionem), porque expressa m elhor a força da pala­
vra grega Kou/cotactç.17Porque todo o propósito do evangelho consiste
"C alvino. depois de faiar de ser Cristo apresentado por Paulo como '‘a nós oferecido no
• 39 ■
[V. 10]
1 CORÍNTIOS 1
em que Cristo se fez nosso e som os enxertados em seu corpo. M as
quando o Pai nos dá C risto com o nossa possessão, tam bém se nos co­
m unica em Cristo, e por causa disso reatm ente alcançam os a participa­
ção de cada bênção. O argum ento de Paulo, portanto, é com o segue.
Visto que fom os trazidos à com unhão com C risto através do evange­
lho, o qual recebem os pela fé, não há razão para tem erm os o risco de
m orte,1*já que fom os feitos participantes daquele [Hb 3.14] que res­
suscitou dos m ortos, o Vitorioso sobre a morte. Em sum a, quando o
cristão olha para si mesmo, ele só vê m otivo para tremor, ou, melhor, so
vê desespero. M as pelo fato de ter sido cham ado à com unhão com^Cns-
to, ele não deve pensar de si m esm o, no tocante à certeza da salvação, de
nenhuma outra form a senão com o m em bro de Cristo, tom ando assim
suas todas as bênçãos de Cristo. D essa forma, ele se assegurará da espe­
rança da perseverança final (como é chamada) com o algo certo, caso ele
se considere m em bro de Cristo, aquele que não pode jam ais fracassar.
10 Ora rogo-vos. irmãos, pelo nome de 10. Observo autem vos fraires per no-
nosso Senhor Jesus Cristo, que falem todos men Dormm nosin Jesu Chr.sti, ut >dem lo-
a mesma coisa, e que não haja divisões en- quamm. omnes, et non s u t .nter vos u i-
,re vós. senão que sejais perfeitamente un.- d,a: sed apte cohæreat.s ,n una mente et in
dos na mesma mente e no mesmo parecer. una senientia.
11 Meus irmãos, me foi anunciado acer- 11 S.gn.f.catum emm rmhi de vobis fuu.
ca de vós. pelos que sào da casa de Cloe. de fratres mei, ab «s qu. sunt Chloes. quod con­
que há contendas entre vós. tentiones sint mter vos.
12 Ora, quero dizer com isso que cada 12. Dico autem rtlud.- quod unusquoque
um de vós afirma: Eu sou de Paulo; e eu de vestrum dicat, Ego qu.dem sum Paul., ego
Apoio- e eu de Cefas; e eu de Cristo. autem Apolio. ego autem Ceph*. ego au-
iem Christi.
13 Cristo está dividido? Foi Paulo cruci- 13. Divisusne es. Christus? numqu.d pro
ficado em favor de vós? Ou fostes batiza- vobis cruc.fixus est Paulus? aut vos m no-
dos em nome de Paulo? men Pauli baplizati est.s?
10. O ra , rogo-vos, irm ãos. Até aqui Paulo esteve tratando os co-
evangelho com toda Abundância de bênçãos celestiais, com todos seus méritos, toda sua
justiça, sabedoria e graça, sem exceção", observa: “E o que esta unplfcrto pela comunhão
( M i l i t a ) de Cristo o qual, segundo o mesmo apóstolo [ICo 1.9]. nos é oferecido no
evangelho - todos os crentes sabem.”
18 “La mon et perdition.” - “Morte e perdição. . - „ „
'* "Et en une mesme volonté”, ou “et mesme avis”. - “E na mesma disposição , ou e no
m^ ^ c r , ou “O rc e que ie di c’est qu'un chacun ” - “E isto eu digo", ou “Ora. o
que digo é isto; que cada um."
• 40 •
1CORÍNTIOS 1 [v. 10]
ríntios com m ansidão, porquanto sabia o quanto eles eram sensíveis.
Contudo agora, após preparar suas m entes para receberem correção,
agindo com o um bom e experiente cirurgião que toca a ferida gentil­
m ente quando um doloroso m edicam ento precisa ser aplicado, então
Paulo passa a tratá-los com m ais severidade. N ão obstante, m esm o aqui
ele usa um a boa dose de m oderação, com o verem os m ais adiante. Eis a
substância do que ele está para dizer: “M inha ardente esperança é que
o Senhor não vos tenha concedido em vão tantos dons, sem antes que­
rer conduzir-vos à salvação. Por outro lado, deveis tam bém sofrer afli­
ções para im pedir-vos que graças tão excelentes sejam poluídas por
vossos vícios. Portanto, esforçai-vos para que vos concordeis uns com
os outros, pois eu tenho boas razões de pedir-vos que haja concordân­
cia entre vós. porquanto tenho sido inform ado de que a desarm onia
que há entre vós equivale m esm o a hostilidade; que as facções e o
partidarism o são fom entados entre vós de tal form a que estão destro­
çando a genuína unidade da fé. “Visto, porém , que. neste caso, um a
sim ples exortação pode às vezes não ser tão persuasiva, Paulo volta a
rogos enérgicos, pois ele os conjura, em nom e de Cristo, a quem amam.
a que prom ovam a harmonia.
Q ue todos faleis a m esm a coisa. A o estim ulá-los à harmonia. Paulo
em prega três form as distintas de expressão. Prim eiram ente, ele solici­
ta que a concordância entre eles fossem em term os tais, que tivessem
todos um a só voz. Em segundo lugar, ele exige a rem oção do mal pelo
qual a unidade é espicaçada e destruída. Em terceiro lugar, ele desven­
da a natureza da genuína harm onia, a saber, que a harm onia recíproca
fosse na m ente e na vontade. O que Paulo põe com o segundo é de fato
o prim eiro em ordem, a saber, que nos guardem os das divisões, por­
que, quando som os [precavidos], então algum a outra coisa virá. ou,
seja. a harm onia. Então, finalm ente um a terceira coisa certam ente re­
sultará, a qual é m encionada em prim eiro lugar aqui, a saber: que todos
falem os com o se tivéssem os um a só voz; e isso deveras é m uitíssim o
desejável, com o fruto da harm onia cristã. Portanto, observem os bem:
nada é mais inconsistente por parte dos cristãos do que o cultivo do
antagonism o entre si. Pois o princípio m ais im portante de nossa reli­
gião é este: que vivam os em harm onia uns com os outros. D em ais, a
segurança da Igreja repousa sobre esta concordância e dela depende.
• 41 •
[V- 10] 1 CORÍNTIOS 1
Vejamos, porém , o que Paulo requer da unidade cristã. Se alguém
alm eja distinções m ais refinadas, ele deseja que, antes de tudo, sejam
eles unidos num a só m ente [pensam ento]; em seguida, num só parecer
[juízo]; em terceiro lugar, ele deseja que os coríntios declarem verbal­
m ente sua concordância. Entretanto, visto que m inha tradução difere
um pouco da de Erasm o, devo, de passagem , cham ar a atenção de meus
leitores para o uso que Pauio faz de um particípio aqui, o qual significa
coisas que são adequada e apropriadam ente enfeixadas.21 Pois o ver­
bo KaiapTiCtoGaL, do qual o particípio KairpiLanti/oc; se origina, signi­
fica, propriam ente, ‘estar am arrado’ e ‘estar unido’, da m esm a form a
que os m em bros do corpo hum ano se acham jungidos uns aos outros
num a sim etria adm iravelm ente perfeita.22
Para parecer [sententiaj, Paulo tem Considero-o, porém ,
aqui com o um a referência à vontade, de modo que há um a com pleta
divisão da alm a, sendo a prim eira sentença (num a só m ente) um a refe­
rência à fé, e a segunda (num só parecer), ao amor. Portanto, a unidade
cristã será estabelecida em nosso m eio, não só quando estam os em
estreita harm onia quanto à doutrina, m as tam bém quando estam os em
harm onia em nossos esforços e disposições, e assim nos tom am os de
um a só m ente em todos os aspectos. N este m esm o sentido, L ucas testi­
fica da fidelidade da Igreja Prim itiva, dizendo que todos tinham “um
só coração e um a só alm a” [At 4.32]. Certam ente que isso será sem pre
encontrado onde o Espírito de Cristo reina. A o dizer-lhes que falassem
a m esm a coisa, ele notifica ainda m ais plenam ente o fruto da unidade,
“Et assemblés l'une à l'autre." - “E associadas umas às ouïras."
O verbo ícatapTiCu propriamente significa: repartir, readaptar ou restaurar a sua con­
dição original o que fora desordenado ou quebrado; e nesse sentido se aplica b reparação de
redes, navios, muros etc. |veja-se Mt 4.21; Mc 1.19], Podemos com plena propriedade
entender o apóstolo fazendo aqui alusão à reparação de um navio que fora quebrado ou
danificado, e como a informar que uma igreja, quando dispersa por divisões, não é, por
assim dizer, um mar confiável, e deve ser cuidadosamente reparada, antes que possa estar
preparada para os propósitos de comércio, comunicando às nações da terra as "genuínas
riquezas". Entretanto, a alusão, mais provavelmente, é como se Calvino estivesse pensando
nos membros do corpo humano, os quais são tão admiravelmente ajustados uns aos outros.
Merece nota o fato de que Paulo faz uso dc um derivativo do mesmo verbo (xanipuaiO em
2 Coríntios 13.9. sobre o qual Bcza observa “que a intenção do apóstolo é que. enquanto os
membros da Igreja estavam todos, por assim dizer, deslocados e desconjuntados, agora uma
vez mais seriam enfeixados em amor. e tudo fariam para fazer perfeito o que estava defeitu­
oso entre eles. quer na fé. quer na conduta.”
• 42 •
1CORÍNTIOS 1 [v. 11]
quão com pleta deve ser a concordância, a saber, que não haja qualquer
divergência nem m esm o em palavras. C ertam ente que isso é algo m ui­
to difícil, porém m esm o assim é indispensável entre os cristãos, de
quem se tem requerido que tenham não só um a única fé, mas tam bém
um a única confissão.
U . M e foi an u n ciad o acerca de vós. Visto que as observações
gerais às vezes surtem pouco efeito, Paulo então notifica que o que ele
está dizendo de fato tam bém se aplica particularm ente a eles. Portanto,
ele faz esta aplicação a fim de que os coríntios soubessem que não foi
sem m otivo que ele fez m enção da harm onia. Pois ele m ostra que não
só se afastaram da santa unidade,23mas que tam bém entraram em con­
trovérsias, as quais se tornaram mais sérias24do que diferenças de opi­
nião. Em caso de ser ele acusado de ser por dem ais crédulo em dar
ouvidos tão prontam ente a inform ações inverídicas,” ele fala bem dos
que lhe passaram tais informações. Provavelm ente fossem tidos na mais
elevada consideração, visto que Paulo não hesitou em citá-los com o
testem unhas com petentes contra a Igreja toda. Ainda que não seja de
todo certo se Cloe é o nom e de lugar ou de mulher, parece-m e mais
provável, porém , que fosse o nom e de um a mulher.26Portanto, em m i­
nha opinião é que foi um a fam ília bem fam iliarizada com Paulo que
lhe falou deste distúrbio na Igreja de Corinto, com o propósito de que
dele proviesse a cura. M as concluir, com o fazem m uitos, seguindo a
opinião de Crisóstom o, que Paulo evitou o uso de nom es reais com o
intuito de evitar que fossem m olestados, parece-m e absurdo. Pois ele
não diz que alguns m em bros particulares da fam ília o inform aram ; ao
” “La sanae union qui doil estre les Chresiiens." - "Aquela santa unidade que deve
haver entre os cristãos.”
24“Bien plus dangereuses" - “Muito mais perigosas.”
35 Beza observa que o verbo aqui empregado. 6r]loto (declarar) contém uma significação
mais forte do que ar^m i/u {insinuar), assim como há uma diferença de sentido entre as
palavras latinas deciarare (declarar) e significare (insinuar), exemplo esse que é fornecido
em uma caria de Cícero a Lucrécto: “tibi non significandum solum, sed etiam declarandum
arbitror. nihii mihi esse potuisse tuis literis gratius." - “Creio que não se deve simplesmente
í/i.f/nuflr-lhe, mas declarar que nada poderia ser-me mais agradável do que suas cartas.” A
palavra enfática. eôr|Ao>&T) (foi declarado), parece ter sido usada pelo apóstolo para comuni­
car mais plenamente à mente dos coríntios que ele não lhes transmitira uma mera notícia.
MAlguns chegaram à conclusão q u e por tú k XXóriç (os d e Cloe) o apóstolo quer dizer
pessoas q u e estavam em florescente condição na religião: de x^ói). erva verde (Heródoto.
iv.34, Eurípedcs, Hipp. 1124). Ceno escritor supõe Paulo querendo dizer sentares (and-
•43 ■
[V. 12] 1CORÍNTIOS 1
contrário, faz m ençao de todos eles, o que não deixa lugar a dúvida de
que estavam bem dispostos a ser citados nom inalm ente. Além do mais,
para que suas m entes não se exasperassem por indevida severidade,
ele m itigou a reprovação falando de um a m aneira com o se quisesse
angariar o respeito; e ele procedeu assim não para am enizar seu pro­
blem a, m as para fazê-los ainda m ais dóceis e entender m elhor a gravi­
dade de seu mal.
12. O ra , o que eu qu ero d ize r e que c ad a um de vós. Alguns
acreditam que haja aqui um caso de im itação com o se Paulo
estivesse aqui repetindo as palavras reais dos coríntios. Ora, ainda que
os m anuscritos variem na avaliação da partícula o n , sou de opinião
que ela é a conjunção porque. em vez do pronom e relativo que. de
m odo que tem os aqui sim plesm ente um a explicação da sentença ante­
rior, com o segue: "A razão por que digo que há controvérsias entre
vós, é porque cada um de vós se põe a gloriar-se no nom e de um ho­
m em . M as alguém poderá objetar que essas afirm ações não fornecem
em si m esm as qualquer indicação de controvérsias. M inha resposta é
que onde as divisões predom inam na religião, outra coisa não sucede
senão que o que se acha na m ente dos hom ens logo se irrom pe em
franco conflito. Pois enquanto nada é m ais eficaz para m anter-nos uni­
dos. e não há nada que m ais une nossas m entes, conservando-as em
paz, do que a harm onia na religião, todavia, se por algum a razão susci-
ta-se desarm onia em conexão com ela, o resultado inevitável é que os
hom ens são im ediatam ente instigados a digladiar-se de form a ferre­
nha, e não existe outro cam po onde as controvérsias sejam m ais fero­
zes.27 Portanto, Paulo é justificado em apresentar com o evidência su­
ficiente de controvérsias o fato de que os coríntios estavam criando
seitas e facções.
E u sou de P au lo etc. Ele agora m enciona nom inalm ente os servos
fiéis de C risto - Apoio, que fora seu sucessor em Corinto, e tam bém o
próprio Pedro. Então adiciona seu próprio nom e ao deles, com receio
ãos). derivando a palavra xAón j e n*?=, idos». Enlrelanto. tais conjeluras são claramente
mais engenhosas que sóüdas. É verdade que o nome Xióri (Cloe) era freqüente entre os
gregos como um nome feminino. É mais natural entender por tcjv XJ.oi>;, os de Cloe. como
equivalente a tu v XJ-orj; auceiui» - os da casa de Cloe.
r “El n’y a en chose quelconque debals si grans ni tant à craindre que sont ceux-là." - “E
em nenhum departamento há disputas tão fortes, ou lâo terríveis como aquelas”
. 44 •
1CORÍNTIOS 1 [v. 12J
de que pudesse, de algum a forma, parecer estar fazendo m ais por sua
própria causa do que pela causa de Cristo. Todavia, é im provável que
houvesse alguns partidos que estivessem atacando um desses três mi­
nistros em particular, em detrim ento dos outros dois, visto que se acha­
vam limitados, em seu m inistério, por um acordo sagrado.2*M as, com o
sugere m ais tarde (1 C o 3.4ss), ele transferiu para si e para Apoio o que
era aplicável aos dem ais. Ele procedeu assim a fim de que pudessem
ter mais facilidade em avaliar o próprio problem a, dissociado da avali­
ação dos personagens envolvidos.
M as alguém poderia apontar para o fato de que Paulo tam bém
m enciona, aqui, aqueles que publicam ente confessavam que "eram de
C risto”. Isto tam bém reclam ava censura? R espondo que nesía form a a
expressão m ais clara é dada para a situação realm ente negativa que se
desenvolve de nosso erro em prestarm os nossa devoção aos homens.
Se tal acontece, então C risto deve necessariam ente governar só um a
parte da igreja, e os crentes não têm outra alternativa senão separar-se
dos dem ais, isso se não desejam negar a Cristo.
Entretanto, com o este versículo é torcido de várias maneiras, o único
cam inho certo é decidirm os m ais exatam ente o que Paulo quer dizer
aqui. Seu objetivo é dizer que na Igreja a autoridade pertence unica­
m ente a Cristo, de m odo que todos nós som os dependentes dele; que
unicam ente ele é cham ado Senhor e M estre entre nós, de m odo que o
nom e de quem quer que seja se exibe com o rival de Cristo. Portanto,
Paulo condena aqueles que atraem seguidores após eles [At 20.30], a
ponto de dividir a Igreja em seitas, porque ele os condena com o inim i­
gos que destroem nossa fé. Conseqüentem ente, Paulo não perm ite que
os hom ens exerçam tal preem inência na Igreja, que usurpem a supre­
m acia de Cristo. Os homens, pois, não devem ser honrados de tal ma­
neira que venham a prejudicar, m esm o que seja um ínfim o grau. a dig­
nidade de Cristo. É verdade que existe certo grau de honra que é devi­
da aos m inistros de C risto, e que eles são igualm ente m estres em seu
2*“Autrement veu que ces trois estoyent d'un sainct accord ensemble en leur ministère, il
n’est point vray-semblable. qu’il y cust aucunes panialitéz entre les Corinthiens pour se
glorifier en l’un plustost qu’en l’aulre.” - “De outra forma, visto que aqueles très estavam
unidos em seu ministério por um laço sacro, nüo c provável que houvesse alguns partidos
entre os coríntios que estivessem preparados a gloriar-se neles mais que em outros.”
•45 •
(V. 13] 1 CORÍNTIOS 1
devido lugar; mas é preciso ter sem pre em m ente que a qualificação
que pertence a Cristo deve ser m antida intocável, ou, seja, que ele c o n ­
tinuará sendo, não obstante, o único e verdadeiro M estre, e deve ser
contem plado com o tal. Por essa razão, o alvo dos bons m inistros é
este; servir a Cristo, todos eles de form a idêntica, reivindicando para
ele o dom ínio, a autoridade e a glória exclusivos; lutar sob sua bandei­
ra; obedecê-lo acim a de tudo e de todos e subm eter os outros a seu
dom ínio. Se alguém se deixa influenciar pela am bição, ele conquista
seguidores, sim , não para C risto, m as para si próprio. Portanto, eis
aqui a fonte de todos os m ales, eis aqui a m ais danosa de todas as
enferm idades, eis aqui a peçonha m ais letal em todas as igrejas: quan­
do os m inistros se devotam m ais a seus próprios interesses do que aos
interesses de Cristo. Em sum a, a unidade da Igreja consiste prim ordial­
mente nesta única coisa: que todos nós dependem os unicam ente de
Cristo, e que, portanto, os hom ens sejam tidos e perm aneçam em posi­
ção inferior, para que nada venha a prejudicar C risto, um m ínim o se­
quer, em sua posição de preem inência.
13. C risto está dividido? Este mal intolerável provinha das diver­
sas divisões prevalecentes entre os coríntios. Porquanto Cristo é o úni­
co que reina na Igreja. E já que o propósito do evangelho é que seja­
m os reconciliados com D eus por interm édio de C risto, é necessário,
antes de tudo, que estejam os todos seguros e unidos nele. Som ente
um a pequena parte dos coríntios, mais sábios que os o u tr o s ,c o n ti­
nuava a reconhecer Cristo com o seu M estre, enquanto todos os dem ais
se orgulhavam de ser cristãos. E assim Cristo estava sendo feito em
pedaços. Pois é m ister que todos sejamos m antidos juntos dele e sob
ele com o nossa Cabeça. Pois se viverm os divididos em diversos cor­
pos, tam bém dissolverem os o [corpo] dele. G loriarm o-nos em seu nom e
em m eio a desavenças e partidos é rasgá-lo em pedaços. N a verdade,
tal coisa não pode ser feita, pois ele jam ais perderá a unidade e a har­
m onia, porque “ele não pode negar a si m esm o" [2Tm 2.13]. Paulo,
pois, colocando esta situação absurda diante dos coríntios, se propõe a
levá-los a entender que estavam alienados de C risto em razão de suas
divisões. Pois Cristo só reina em nosso m eio quando ele constitui os
elos que nos ligam a ele num a unidade sacra e inviolável.
” “Mieux avisez que les autrcs." - ‘Melhor avisados do que outros.”
• 46 •
1CORÍNTIOS 1 [v. 13]
Foi P au lo crucificado p o r vós? M ediante duas poderosas consi­
derações, Paulo m ostra quão v iP é arrebatar a C risto de seu lugar de
honra com o única Cabeça da Igreja, único M estre, único Senhor; ou
extrair algum a parte da honra que lhe pertence e transferi-la para os
hom ens. A prim eira razão é que fom os redim idos por Cristo com base
no princípio de que não estam os sob nossa própria jurisdição. Paulo
usa este m esm o argum ento em sua Epístola aos Rom anos (14.9], quan­
do diz: “Pois para este fim foi que C risto m orreu e ressuscitou, para
que pudesse ser Senhor tanto dos vivos quanto dos m o rto s” Portanto,
vivam os para ele e m orram os para ele, porque lhe pertencem os para
sempre. N ovam ente nesta m esm a Epístola [7.23], ele escreve: “Fostes
com prados por preço; não vos torneis escravos de hom ens.” Portanto,
visto que os coríntios haviam sido adquiridos pelo sangue de Cristo,
eles estavam, em certo sentido, renunciando as bênçãos da redenção, já
que estavam transform ando outras pessoas em seus líderes. Eis aqui uma
notável doutrina que merece especial atenção: “que não temos a liberda­
de de pôr-nos sob a sujeição de seres hum anos,'1já que somos herança
do Senhor.” Portanto, Paulo aqui acusa os coríntios da mais grave ingra­
tidão, visto que estavam alienando-se desta Cabeça por cujo sangue ha­
viam sido redim idos; contudo, talvez agissem assim inadvertidamente.
Além do mais, esta passagem m ilita contra a ím pia invenção dos
papistas, a qual usam em apoio de seu sistem a de indulgências. Pois do
sangue de C risto e dos m ártires eles engendraram o falso tesouro da
Igreja, o qual, ensinam eles, é distribuído pelas indulgências. Assim
pretendem que, por sua morte, os m ártires32m eritoriam ente ganharam
algo para nós aos olhos de Deus, para que pudéssem os recorrer a essa
fonte e obter a rem issão de nossos pecados. Certam ente negarão que os
m ártires nos redim em . Todavia, nada é m ais claro do que um fato pro-
"Combien c'esl vne ehose insupportable." - '‘Quão insuportável coisa é."
" "Addicere nos hominibus in servitutem” - “de nous assuieíiir aux hommes en seruitu-
de." - “Entregar-nos a homens, ao ponto de nos tornarmos seus escravos." Calvino mui
provavelmente tinha cm mente o celebrado sentimento de Horácio (Epist. i.1.14): “Nullius
addkius jurare in verba magistri.” - “Obrigado a jurar fidelidade a nenhum senhor”, en­
quanto impõe o sentimento por uma poderosa consideraçSo, à qual o poeta pagão era total­
mente estranho.
12 “Du sang de Christ. et des martyrs tous enscmble.' - "Do sangue de Cristo e de todos os
mártires juntos.”
• 47 •
[V. 131
1 CORÍNTIOS 1
ceder do outro. É um a questão de poderem os pecadores reconciliar-se
com Deus; é um a questão de obterem eles o perdão; é um a questão de
fazerem eles expiação pelas ofensas. G loríam -se de que tudo isso é
feito em parte pelo sangue de Cristo e em parte pelo sangue dos m árti­
res. Portanto, fazem dos m ártires os participantes de C risto na con­
quista de nossa salvação. Paulo, porém , aqui está negando energica­
m ente que alguém mais, além de Cristo, tenha sido crucificado em
nosso favor. D e fato, os m ártires m orreram para nosso benefício, mas
(no dizer de Leo)33 foi para dar-nos o exem plo de firm eza, e não para
adquirir-nos o dom da justiça.
O u fostes batizados em nom e P aulo? Seu segundo argum ento é
extraído da profissão do batism o. Pois nos alistam os sob sua bandeira,
em cujo nom e som os batizados. D esta form a som os unidos34 a Cristo,
em cujo nom e nosso batism o é celebrado. Daqui se segue que os corín-
tios podem ser acusados de perfídia e apostasia, caso se rendam em
sujeição aos homens.
N ote-se aqui que a natureza do batism o é com o um bônus de con­
trato35de m útua obrigação, pois com o o Senhor, por m eio deste sím bo­
lo. nos recebe em sua fam ília, e nos introduz no seio de seu povo, e
assim penhoram os nossa fidelidade a ele de que jam ais terem os qual­
quer outro senhor espiritual. Conseqüentem ente, com o D eus, de sua
parte, faz um pacto de graça conosco, no qual prom ete a rem issão de
pecados e um a nova vida, assim tam bém , de nossa parte, fazem os um
voto de em preenderm os guerra espiritual, por m eio da qual lhe prom e­
" Leo. ud Palicstinos. Ep. 81. A passagem supramencionada é cilada livrememe nas
Institutos. "Ainda que a morte de muitos santos fosse preciosa aos olhos do Senhor |SI
116 151 contudo nenhum inocente assassinado era a propiciação do mundo. Os justos rece­
biam coroas, porém não as davam; e a fortaleza dos crentes produzia exemplos de p>m en ­
eia não d,ms dejusúça. Pois suas mortes eram para si mesmos; e nenhum deles, ao morrer,
pagava a dívida de outro, com a exceç3o de Cristo nosso Senhor, cm quem unicamente
todos somos crucificados, iodos mortos, sepultados e ressurretos" Leo, de cujos escritos
foi extraída esta admirável passagem, foi um bispo romano que viveu no quinto século, e fot
um dos mais eminentes homens de sua cpoca. Ele foi o mais zeloso defensor das doutrinas
da graça, em oposição ao pelagianismo e outras heresias.
-u "Obligez par serment.” - “Alados por juramento.''
” “Syngrapha (o termo empregado por Calvino) era um contrato ou vínculo, formalmen­
te endossado entre duas parles, assinado e selado por ambas, e uma cópia dada a cada uma.
Cic. Verr. i.36. Dio. xlviii.37. Deriva-se de um termo grego, ouyyP“^ (um instrumento ou
obrigação legal). Heródoto. i.48: e Demóstenes, cclxvjíi. 13.
• 48 •
A vida cristã exemplar de um nobre segundo Calvino
A vida cristã exemplar de um nobre segundo Calvino
A vida cristã exemplar de um nobre segundo Calvino
A vida cristã exemplar de um nobre segundo Calvino
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A vida cristã exemplar de um nobre segundo Calvino

  • 3. D ados Intern acio n ais de C atalogação na Publicação (C IP) (C âm ara B rasileira do L ivro, SP, B rasil)________ Calvino, João, 1509-1564. I Corintios / João Calvino; tradução de Valter Graciano M artins. 2. ed. - São Bernardo do Campo, SP: Edições Parakletos,2003. Título original: The Com mentaries o f John Calvin on the First Epistle ofPaul the Apostle to the Corinthians Bibliografia. 1 Bíblia. N.T. - Corintios, 1. - Comentários I. Título. 03-1757______________________________________________CDD-227.207 indices p a ra catálogo sistem ático: I. Corintios, 1.: Epístolas paulinas: Comentários 227.207 Calvin’s Com mentaries - volume XX. Originalm ente impresso por Calvin Translation Society Reim presso em 1998 por B aker Books, um a divisão da Baker Book House Company P.O. Box 6287, Grand Rapids, M l 49516-6287. 2° edição brasileira, 2003, S. B. do Campo, SP Tiragem: 2.000 exemplares Tradução. Valter Graciano M artins Editoração: Eline Alves M artins M /P A R A K /ITO S________________ Rua A dam antina, 36 • Bacta N eves 09760-340 • São B ernardo do C am po, SP • Brasil Telefax: 11 4121-3350 • e-m ail: parakletos@ uol.com .br
  • 4. ÍNDICE D edicatória...............................................................................................................7 Segunda D edicatória.........................................................................................H Análise da Prim eira Epístola de Paulo aos C o rín tio s............................ 15 CO M EN TÁ RIO À SA G RA D A ESCRITU RA SO BRE A PRIM EIRA EPÍSTO LA D E PA U LO AOS CORÍNTIOS C apítulo 1 ................................................................................................................27 C apítulo 2 ............................................................................................................... 74 Capítulo 3 ............................................................................................................... 9g Capítulo 4 ..............................................................................................................126 Capítulo 5 .............................................................................................................. 155 Capítulo 6 ..............................................................................................................173 Capítulo 7 ..............................................................................................................]97 Capítulo 8 ..............................................................................................................247 C apítulo 9 ..............................................................................................................263 Capítulo 1 0 ........................................................................................................... 289 Capítulo 11........................................................................................................... 326 Capítulo 1 2 ........................................................................................................373 C apítulo 1 3 ........................................................................................................396 C apítulo 1 4 ........................................................................................................4 12 Capítulo 1 5 ........................................................................................................452 Capítulo 1 6 ........................................................................................................5 1 ]
  • 5. DEDICATÓRIA A O M U I ILU STRE VARÃO. TIAG O, SEN H O R DA BO RG Ú N D IA , este meu com entário, esforcei-m e por fazer um a exposição desta epístola de Paulo, a qual não é m enos difícil do que [em extrem o] valiosa. M uitos me têm solicitado este comentário; na verdade, há muito tem po que fazem insistente apelo por sua publicação. A gora que está publicado, tão-som ente desejo que o m esm o venha igualm ente satisfa­ zer suas esperanças e anseios. N ão digo isto com o fim de granjear algum a recom pensa para meu trabalho na form a de louvor, porquanto tal am bição deve ficar longe dos servos de Cristo; mas o que desejo é gerar benefício para todos, e não posso alcançar tal objetivo se ele não for aceitável. Tenho deveras labutado com a m áxim a fidelidade e dili­ gência para que, sem qualquer im portunidade, a obra seja do m ais ele­ vado valor para a Igreja de Deus. Q uanto mais êxito tiver, m ais meus leitores julgarão de acordo com a real praticidade da obra. De qualquer form a, creio que consegui fazer com que este com en­ tário seja de inusitada ajuda na conquista de um a com pleta com preen­ são do pensam ento de Paulo. Certam ente, m eu honorável senhor, estou certo de que vós achareis plenam ente com preensível, e até m esm o in­ dispensável, que vos aconselhe a não perm itir-vos que fiqueis excessi­ vamente afeiçoado a mim. M esm o que tal aconteça, não obstante terei vosso veredito na m ais elevada conta, a fim de que eu possa considerar meu trabalho com o tendo atingido seu mais elevado sucesso, se por­ ventura tiver alcançado vossa inestim ável aprovação. *A pós 1551, esta d ed icató ria foi su p rim id a d as edições d o co m en tário , em d eco rrên cia d a d isp u ta que su scito u -se entre C alv in o e o sen h o r d e F alais so b re B alsec. M antem o-la aqui porq u e a seg u n d a d ed icató ria faz alu são ao incidente. d e F a l a is e d e B r e d a e t c .* • 7 •
  • 6. 1 CORÍNTIOS Além do mais, ainda que vo-lo dediquei, não foi só na esperança dc ele vos agradar, mas por m uitas outras razões, das quais a mais im portante é que vossa vida pessoal confirm e perfeitam ente um dos tem as da carta de Paulo. Pois enquanto no presente tem po há tantos que convertem o evangelho num a filosofia fria e acadêm ica, acreditan­ do que têm feito tudo quanto deles é requerido, e feito devidam ente, em bora acenem suas cabeças em assentim ento ao que têm dito, vós, por outro lado, para nós sois um conspícuo exem plo desse poder vivo sobre o qual Paulo insiste tanto. O que pretendo dizer é que quando olham os para vós, com preendem os o que significa esse vigor espiri­ tual que, afirm a Paulo, jorra do evangelho. N aturalm ente, não faço m enção dessas coisas para vossa satisfação pessoal, senão que acredi­ to ser de grande im portância do ponto de vista do exem plo [cristão]. Vós pertenceis à prim eira classe da nobreza, obtivestes e usufruís­ tes de elevada e ilustre posição na vida, e sois prendado com qualida­ des e riquezas (posições que se acham atualm ente todas enxam eadas de corrupções!). Ora, certam ente seria algo por si m esm o importante se vós, cm tais circunstâncias, não só levásseis um a vida disciplinada e tem perada, mas tam bém conservásseis vossa fam ília sob controle m e­ diante um a adequada e saudável disciplina. De fato tendes levado am ­ bos estes [deveres] ao pleno cum prim ento. Pois vosso com portam ento tem sido tal, que a todos tem sido um a clara evidência de que não há em vós o m enor traço de egoísmo. Sem pre que foi necessário que m antivésseis vosso esplendor, o fi­ zestes de tal form a que estabeleceu-se um m oderado padrão de vida, e jam ais houve qualquer rasgo de m esquinhez ou de avareza; e, todavia, sem pre bem a descoberto, evitastes m ais do que buscastes um magnifi- cente estilo de vida. Tende-vos m ostrado tão cortês e considerado, que todos foram forçados a louvar vosso despretencioso com portam ento. De fato não há a m ais leve evidência de orgulho ou de arrogância que viesse a gerar ofensa em alguém . N o que tange a vossa fam ília, é-nos suficiente dizer, num a palavra, que tem sido ela conduzida de tal m a­ neira com o para refletir a m ente de seu senhor e de seu modo de vida, precisam ente com o um espelho reflete a im agem de alguém . Tal coisa por si só teria dado ao povo um claro e notável exem plo de virtude a ser imitada. • 8 •
  • 7. DEDICATÓRIA M as há aigo que considero ainda mais importante. Tendes sido er­ roneam ente acusado diante do Im perador pelos em bustes de homens ím pios, e que, por nenhum a outra razão senão o fato de que im ediata­ m ente o reino de Cristo com eça a fazer progresso em alguns lugares, os leva à dem ência e frenesi. M as (e eis o que é m ui im portante) tendes m antido um a coragem que nada tem a ver com debilidade, e agora estais vivendo com o num exílio de vossa terra natal, com um a grande porção de estim a com o tivestes anteriorm ente, quando a honráveis com vossa presença. N ão pretendo m encionar outros fatores, visto que seria tedioso adicionar algo mais. Na verdade, os cristãos devem sem pre considerar com o algo m ais que com um e costum eiro, não só deixar estados, castelos e desprezar, em com paração a ele [Cristo], tudo quan­ to é tido com o mui precioso na terra. Entretanto, quase todos nós so­ mos negligentes e indiferentes a pactos, de m odo que a virtude particu­ lar é especialm ente m erecedora de nossa adm iração. Portanto, no tem ­ po em que podem os vê-lo tão nitidam ente em vós. só desejo que tal fato possa despertar m uitas pessoas, de modo que queiram im itar tal atitude, e, em vez de continuarem para sem pre escondendo-se em seu confortável aconchego, possam um dia sair em público trazendo toda a centelha do espírito cristão que porventura tenham. O ra, quando os hom ens vos atacam trazendo freqüentem ente no­ vas acusações contra vós. fazem notório que são violentos inim igos da religião, e nada ganharão disto senão fazer-se mais e mais detestáveis, favorecendo m ui contundentem ente a mentira. C om certeza alguns, em seu são juízo, acreditam que os tais são cães raivosos, visto que procuram estraçalhar-vos, e então, ao perceberem que não podem abo­ canhar-vos. vingam -se ladrando contra vós. É bom que assim façam a certa distância, pois então não conseguirão causar-vos nenhum dano. M as, ainda que os maus feitos dos ímpios resultem na perda de m uitas de vossas possessões, em nada dim inuem da glória real com que os crentes vos consideram . M as, com o cristão que sois, deveis ter um a visão m ais am pla que esta. Pois não estais satisfeito com nada mais senão com a glória celestial, a qual vos é guardada com Deus. e que será trazida à luz assim que nossa natureza externa perecer. Mui ilustre senhor, e nobre fam ília, adeus. Q ue o Senhor Jesus vos guarde a salvo perenem ente, para a expansão de seu Reino: e que ele • 9 •
  • 8. 1 CORÍNTIOS m esm o vos conserve sem pre vitorioso sobre Satanás e sobre toda a hoste de seus inimigos. Genebra, 24 de janeiro de 1546
  • 9. SEGUNDA DEDICATÓRIA S audação a um fidalgo, m ais excelente por suas virtudes do que por seu nobre nascim ento, senhor G alliazo CaiTacciolo, filho único e legítim o herdeiro do M arquês de Vico. Q uando este com entário foi pela prim eira vez publicado, eu não tinha conhecim ento ou não estava totalm ente fam iliarizado com o ho­ m em cujo nom e anteriorm ente apareceu nesta página, e agora sou obri­ gado a suprim i-lo. Certam ente, não me sinto tem eroso de que venha ele a acusar-m e de leviandade ou de queixar-se de mim por ter subtra­ ído dele o que outrora lhe dera; pois, tendo ele deliberadam ente procu­ rado não só m anter-se tão longe quanto possível de m im , pessoalm en­ te, e tam bém por deixar de entender-se com nossa igreja, ficou sem qualquer justificativa para protestar. Entretanto, é com relutância que renuncio m inha costum eira prática e elim ino de m eus escritos o nome de alguém ; e lam ento m uito que tal pessoa tenha caído da elevada po­ sição que eu lhe tenha dado, o que significa que ela deixou de dar bom exem plo a outrem , precisam ente com o eu esperava dele. Porém , visto que a cura deste mal não se acha em m inhas mãos, então que tal pes­ soa, no que m e diz respeito, fique em total olvido, pois ainda agora sinto-m e ansioso por calar-m e sobre ela, e portanto sem m ais trazer qualquer prejuízo a sua reputação. M as, no que concerne a vós, mui honrado senhor, eu teria que en­ contrar algum pretexto para então substituir o outro nom e pelo vosso, em bora não me aventurei a tom ar tal liberdade, confiando em vossa insuspeitável bondade e am or para com igo, o que é notoriam ente co­ nhecido de todos os nossos am igos. Voltando a m encionar m eus dese­ jos, gostaria deveras de ter-vos conhecido há dez anos atrás, porque não teria tido m otivo algum para fazer agora tal m udança. E esta se presta agora tanto para o bem quanto para servir de exem plo à Igreja 11
  • 10. 1CORÍNTIOS com o um todo, não só pelo fato de que não vamos sentir que sofremos algum a perda ao esquecerm o-nos daquele que se afastou de nós, mas porque serem os com pensados, em vós, por um exem plo ainda mais rico, e deveras preferível, em todos os sentidos. Porque, ainda que não estais correndo após os aplausos do povo, vivendo satisfeito em ter D eus com o vossa única testem unha; e ainda que não tenho nenhum a intenção de cantar-vos louvores, todavia meus leitores não devem ser deixados com pletam ente em trevas acerca do que lhes é proveitoso e benéfico saber. Sois um hom em nascido num a fam ília nobre; gozais de erande prestígio e de grandes riquezas; fostes abençoado com um a es­ posa da m ais nobre origem e da mais elevada virtude, com m uitos fi­ lhos, com paz e harm onia em vosso lar; na verdade tendes sido abenço­ ado em todas as circunstâncias de vossa vida. M as para que passásseis para o cam po de Cristo, deixastes espontaneam ente vossa terra natal, abandonastes propriedades férteis e aprazíveis, esplêndida herança e um a casa tanto deleitosa quanto espaçosa; privastes-vos de um habitu­ al e m agnificente estilo de vida; separastes-vos de pai, esposa, filhos, parentela e congêneres; e após dizer adeus a tantas atrações m undanas, e sentindo-vos feliz com nossas depauperadas circunstâncias, adotas- tes nosso frugal modo de vida, o padrão de gente sim ples, assim vos tom astes um de nós. Enquanto relato todas estas coisas a outros, não posso de m odo algum esquecer-m e dos benefícios que pessoalm ente recebo. Pois em ­ bora eu exponha vossas virtudes ante os olhos de m eus leitores, aqui, com o num espelho, para que possam im itá-las, ser-m e-ia deprim ente, tendo-as diante de meus próprios olhos, não para ser m ais profunda­ m ente influenciado, à luz do fato de que as vejo m ui claram ente todos os dias. M as, visto que realm ente sei de experiência própria o quanto vosso exem plo significa para o fortalecim ento de m inha própria fé e devoção, e visto que todos os Filhos de D eus que estão aqui reconhe­ cem, juntam ente com igo.que têm extraído extraordinário benefício desse vosso exem plo, considerei, quanto a m im , fazê-lo notório, para que um círculo cada vez m ais am plo de pessoas pudesse usufruir da m esm a bênção. O utrossim , seria estultície falar detalhadam ente em louvor de um hom em , cuja natureza e tem peram ento são tão despidos de ostensividade quanto se pode imaginar, e, ainda m ais, proceder as- • 12 •
  • 11. SEGUNDA DEDICATÓRIA sim na presença de estranhos e em lugares longínquos. Portanto, se tantas pessoas, que nada sabem de vossa vida pregressa, por viverem distantes de vós. têm este adm irável exem plo diante de si e se prepara­ ram para deixar seu com odism o, ao qual são tão inclinadas, e imitar vosso exem plo, serei am plam ente recom pensado pelas coisas que te­ nho escrito. Os cristãos, realm ente, devem sem pre considerar com o algo mais do que m eram ente com um e costum eiro, não só deixar estados, caste­ los e posições nobres, sem pesares, se porventura é im possível seguir a C risto de outra form a; mas tam bém estar sem pre prontos e dispostos a desprezar, em com paração a ele [Cristo], tudo quanto é reputado com o por dem ais precioso sobre a terra. Todos nós, porém , som os por de­ mais negligentes, ou, antes, tão indiferentes que, enquanto m uitos ace­ nam suas cabeças em formal assentim ento ao ensino do evangelho, raram ente um em cem . talvez possuidor de um insignificante sítio, per­ m itirá ser arrancado dele por causa do evangelho. A não ser em m eio à mais profunda relutância, dificilm ente alguém se persuadiria a renun­ ciar a m enor vantagem que seja, o que revela quão longe estão os ho­ m ens de sentir-se preparados a renunciar a própria vida, com o devem fazê-lo. A cim a de tudo, m eu desejo é que todos se espelhem em vosso espírito de renúncia, a prim eira de todas as virtudes. Pois sois a pessoa m ais bem indicada a testificar de m im , e eu de vós, quão pouco deleite encontram os no com panheirism o daqueles que, ao deixarem sua terra natal, acabam revelando nitidam ente que trouxeram consigo as mes­ m as perspectivas que alim entavam lá. Porém , visto que é m elhor para m eus leitores refletirem sobre estas coisas em sua própria m ente, em vez de verbalizá-las, eu agora me ponho em oração ao D eus que até aqui vos tem encorajado através do portentoso poder de seu Espírito, visando a que vos m una ele perenem ente de invencível disposição. Pois estou bem cônscio do m odo com o Deus vos disciplinou com m ui­ tas e duras lutas, porém , com notável percepção, percebestes que seve­ ras e renhidas hostilidades ainda perm anecem diante de vós. E visto que m uitas experiências vos têm ensinado quão realm ente necessário é que do céu se vos estenda um a [benfazeja] mão, deveis prontificar-vos ajuntar-vos a mim em fervente oração a Deus pelo dom da perseveran­ ça. Q uanto a m im , particularm ente, orarei a C risto, nosso Rei, a quem • 13 •
  • 12. 1CORÍNTIOS o Pai conferiu suprem a autoridade, e em cujas mãos foram colocados todos os tesouros das bênçãos espirituais, rogando-lhe que vos guarde em segurança, a fim de que venhais a perm anecer longo tem po conos­ co para a expansão de seu Reino; e para que ele prossiga a usar-vos na obtenção da vitória sobre Satanás e seus seguidores. 24 de janeiro de 1556 (dez anos após a prim eira publicação deste com entário) . 14 .
  • 13. ANÁLISE da P r im eir a E p ís t o l a de Pa u l o a o s C o r ín t io s E sta carta é de diversas formas valiosa; pois ela contém tópicos1 especiais e de grande im portância. Em proporção que forem sendo desenvolvidos, sucessivam ente em sua ordem , a discussão por si só os esclarecerá à m edida da necessidade para sua com preensão. E de fato isso se dará de form a m uito clara nesta m esm a avaliação. Tentarei apre­ sentar este tem a de form a breve, porém, ao m esm o tem po, pretendo fornecer um sum ário com pleto do m esm o, sem , contudo, perder algum de seus pontos principais. É bem notório o fato de que Corinto era um a rica e fam osa cidade da Acaia. Q uando L. M um m ius a destruiu (em 146 a.C.), ele o fez sim ­ plesm ente porque sua vantajosa situação o levou a suspeitar do lugar. M as um povo de tem pos posteriores a reconstruiu pela m esm a razão que ele (L. M um m ius) a destruiu,2quando as m esm as vantagens topo­ gráficas a levaram a ser restaurada num curto espaço de tem po. Visto estar ela situada nas proxim idades do M ar Egeu, de um lado, e do M ar Jônio, do outro, e visto que ela ficava no istm o que liga a Á tica e o Peloponésio, então idealm ente se adequava à im portação e exportação de m ercadorias. Em Atos, Lucas nos conta que, após ter Paulo ensinado ali durante um ano e m eio, ele foi obrigado, em virtude do com portam ento ultra­ jan te dos judeus, a viajar daii para a Síria. Durante a ausência de Pau­ lo, falsos apóstolos se infiltraram na região. N ão vieram (em m inha opinião) com o fim de perturbar a Igreja obviam ente com um ensina­ mento heterodoxo, ou intencionalm ente, por assim dizer, causar dano ’ "B o n n es m atieres. et p o in ts d e doctrin e" - "B o n s tem as c po n to s de d o u trin a.” - E strab o d escrev e M um m ius c o m o fiaXAou ri (JiiJo T fx ^ç" - “um hom em m ais m ag n ân im o d o que am an te d as artes." . 15 •
  • 14. 1CORÍNTIOS ao ensinam ento. Há três razões para seu surgim ento. Prim eiram ente, se orgulhavam de sua oratória brilhante e ostensiva, ou, diria alguém, convencidos por sua linguagem vazia e bom bástica, passaram a tratar com desprezo a sim plicidade de Paulo e inclusive do próprio evange­ lho. Em segundo lugar, m ovidos por sua am bição, alm ejavam dividir a Igreja em várias facções. Finalm ente, indiferentes a tudo, exceto em desfrutar das boas graças que alm ejavam que o povo tivesse deles, entraram em cena com o fim de fazer seu jogo em prol do aum ento de sua própria reputação, antes que prom over o reino de Cristo e o bem- estar do povo. Por outro lado, visto que C orinto se achava dom inada pelos vícios com os quais as cidades com erciais geralm ente são infestadas, ou, -seja, a luxúria, a arrogância, a vaidade, os prazeres, a cobiça insaciável, o egoísm o desenfreado - tais vícios tinham penetrado tam bém a própria Igreja de tal m odo que a disciplina se tom ou grandem ente deteriorada. M ais seriam ente ainda, já se achava presente a apostasia da sã doutri­ na, de modo tal que um dos fundam entos da fé, a ressurreição dos m ortos, estava sendo posta em cheque. E ainda que se achasse em meio a tanta corrupção de toda espécie, estavam contentes consigo mesmos, com o se tudo quanto em relação a eles estivesse em perfeita ordem. Tais são os subterfúgios que Satanás geralm ente em prega. Se ele não consegue im pedir a expansão do ensino, ele se chega solerte e secreta­ m ente com o fim de desferir seu golpe m ortal sobre ele [o ensino]. Se ele não consegue suprim i-lo por m eio de m entiras que o contradigam , e im pedi-lo de vir a público, então lhe prepara covas ocultas para sua destruição. Finalm ente, se ele não pode alienar dele as m entes hum a­ nas, num golpe incisivo, ele as leva a abandoná-lo gradativam ente. Ora, tenho boas razões para crer que aqueles indignos correligio­ nários, que trouxeram sofrim ento à igreja corintiana, não eram inim i­ gos declarados da verdade. Sabem os que Paulo não ignora as falsas doutrinas em outras cartas. As cartas aos G álatas, aos Colossenses, aos Filipenses e a Tim óteo são todas breves; porém , em todas elas não só ataca violentam ente os falsos apóstolos, m as, ao m esm o tem po, ele igualm ente realça as form as em que prejudicavam a Igreja. E ele esta­ va perfeitam ente certo, pois os crentes não só devem ser adm oestados acerca daqueles de quem devem se precaver, mas devem tam bém per- • 16 •
  • 15. ANÁLISE ceber o mui contra o qual precisam sem pre estar em guarda. Portanto, não posso acreditar que num a cana longa com o esta ele pretendesse m anter em silêncio o que executa tão assiduam ente em outras cartas m uito mais breves. Além disso, ele trata com m uitas faltas dos corínti- os, algum as das quais, sem dúvida, totalm ente triviais, então parece que ele não pretendia om itir algo sobre aqueles que ele cham ou para reprovar. E se esse não era o caso, então ele estava desperdiçando um am ontoado de palavras ao juntar-se em debate com aqueles prepostos m estres ou chilreantes oradores. Ele condena sua am bição; ele os res­ ponsabiliza em transform ar o evangelho num a filosofia artificial; ele nega que tenham eles o poder do Espírito para produzir resultados, porque, em sua preocupação com linguagem vazia e bom bástica, só estavam indo no encalço de “letra m orta”; todavia, não há um a só pala­ vra sobre ensino corrupto. Portanto, estou plenam ente certo de que não faziam nenhum a depreciação pública das substância do evangelho, em qualquer aspecto; porém , visto que um desorientado e apaixonado de­ sejo por proem inência os abrasava, acredito que tinham engendrado um novo m étodo de ensino, o qual não se com patibilizava com a sim ­ plicidade de Cristo; e assim esperavam que isso os fizesse objetos da adm iração do povo. Isto é o que inevitavelm ente acontece com todos aqueles que não desistem de preocupar-se consigo m esm os e se enga­ jem na obra do Senhor sem absolutam ente quaisquer entraves. O pri­ m eiro passo, para servirm os a Cristo, é esquecer-nos de nós m esm os e pensar tão-só na glória do Senhor e na salvação dos hom ens. Além do mais, ninguém jam ais estará aparelhado para o ensino se antes não for absorvido pelo poder do evangelho, de modo a falar não tanto com seus lábios, mas com seu próprio coração. Portanto, o que sucede no caso daqueles que nunca nasceram de novo, pelo Espírito de Deus, nunca experim entaram o poder do evangelho em seus próprios cora­ ções, e não têm qualquer idéia do que significa ser nova criação! (cf. 2Co 5.17). Sua pregação é morta, quando deveria ser viva e produtora de resultados; e para que se sobressaíssem aos olhos públicos, eles m esm os dissim ulavam o evangelho, vestindo-o de diferentes indum en­ tárias, de m odo que viesse ele a assem elhar-se às filosofias do mundo. Fazer isso em Corinto era algo fácil para o tipo de pessoas que estam os considerando aqui. Pois os m ercadores são facilm ente leva- • 17 •
  • 16. 1CORÍNTIOS dos pela aparência externa; e não só se perm itiam trapacear pelas mes­ mas trapaças que aplicavam a outrem , mas, de certa form a, tam bém gostavam disso. Além disso, possuíam ouvidos sensíveis, de m odo que não suportavam censura por dem ais severa, resultando que, se se depa­ rassem com os m estres tão m aleáveis e prontos a deixá-los alegrem en­ te im punes, se valiam de recom pensas e bajulação. Concordo que isso se dá em toda parte, m as é m ais com um em cidades com erciais e ricas. Ao contrário, Paulo, que em outros aspectos era um hom em sublim e e se sobressaía em razão das adm iráveis qualidades que possuía, não obstante fez-se insignificante exteriorm ente, no tocante às graças exte­ riores estava sem pre contente, jam ais se irrom pendo com ostentação nem procurando tocar sua própria conduta. De fato, em razão de seu coração estar sem pre e verdadeiram ente sob a influência do Espírito, não havia nele a m enor som bra de ostentação, sendo incapaz de profe­ rir bajulação nem se preocupava em agradar a hom ens. Ele só tinha um propósito diante de si, a saber, que ele e todos os dem ais, estando à disposição, Cristo pudesse reinar. Já que os coríntios se inclinavam mais pelo ensino engenhoso do que benéfico, então não poderiam sa­ borear o evangelho. Já que viviam tão ansiosos por novidades, então Cristo, para eles, se achava fora de moda. Em todo caso, se não tives­ sem ainda, realm ente, caído em tais erros, pelo m enos já estavam natu­ ralm ente inclinados para as coisas sedutoras desta espécie. Portanto, era fácil para os falsos apóstolos atrair a atenção entre eles e adulterar o ensino de Cristo. Pois certam ente é ele adulterado quando sua natu­ ral pureza é corrom pida e, por assim dizer, pintada com diferentes co­ res, sendo ele posto no m esm o nível de qualquer filosofia mundana. Portanto, a fim de agradar o paladar dos coríntios, adicionavam condi­ m entos a seu ensino, resultando disso que o genuíno sabor do evange­ lho era destruído. A gora estam os em posição de entender por que Pau­ lo foi induzido a escrever esta carta. A gora podem os sum ariar o argum ento, apresentando breves notas sobre cada um dos capítulos em ordem cronológica. Paulo inicia o prim eiro capítulo congratulando-se com eles (corín­ tios), e com isso os encoraja a prosseguirem com o com eçaram . Desta form a ele os apazigua de antem ão antes de prosseguir, de m odo a esta­ rem mais dispostos a receber seu ensino. M as im ediatam ente ele fere • 18 •
  • 17. ANÁLISE um a nota m ais severa, fazer a transição para reprovar, quando se refere aos desacordos que ora afligiam sua igreja. D esejando curar este mal, ele insta com eles que voltassem do orgulho para a hum ildade. Pois ele dispensa toda a sabedoria do mundo, estabelecendo em seu lugar uni­ cam ente a pregação da Cruz. Ao m esm o tem po tam bém os hum ilha individualm ente, ao dizer-lhes que observassem bem a classe de pes­ soas a quem o Senhor, geralm ente, tem adotado e conduzido a seu re­ banho. N o segundo capítulo, ele cita o exem plo de sua própria pregação, a qual, hum anam ente falando, era pobre e insignificante, porém era no­ tável em razão de possuir o poder do Espírito. E ele prossegue desen­ volvendo a idéia de que o evangelho contém sabedoria celestial e se­ creta. É algo que nem a habilidade natural do hom em , ainda que pers­ picaz e penetrante, nem seus sentidos físicos podem com preender; algo sobre o qual o argum ento hum ano não pode gerar convicção; algo que não carece de linguagem floreada nem de ilustrações. É tão-som ente por m eio da revelação do Espírito que ele chega a ser com preendido pela m ente hum ana, e vem a ser selado em seus corações. Finalm ente, conclui que não é só a pregação do evangelho que é extrem o oposto da sabedoria hum ana, visto que ela consiste na hum ilhação da Cruz, mas tam bém que o mero juízo hum ano não pode determ inar qual é seu real valor. Paulo procede assim a fim de desviá-los da confiança m al colo­ cada em seu próprio entendim ento, o qual gera errônea valorização de tudo. No início do terceiro capítulo ele faz aplicação do que lhes afir­ m ou anteriorm ente. Pois Paulo lam enta que, sendo eles carnais, difi­ cilm ente se sujeitariam a aprender ainda m esm o os princípios rudi­ m entares do evangelho. D esta form a ele realça que o desprazer pela Palavra, o que era tão forte neles, não era oriundo de algum defeito inerente à Palavra m esm a, e, sim , da ignorância deles; e, ao mesmo tem po, ele lhes dirige um a adm oestação im plícita, ou, seja, que os co- ríntios necessitam de ter suas m entes renovadas, e assim possam co­ m eçar a avaliar as coisas com propriedade. E então ele m ostra o lugar que deve ser dado ao m inistro do evan­ gelho. A honra devida a eles não deve subtrair em nada da glória que é devida a Deus; pois há um só Senhor, e todos eles são seus servos; . 19 .
  • 18. 1 CORÍNTIOS som ente Deus tem o poder em suas m ãos, e é ele quem confere os resultados; e todos os coríntios não passam de sim ples instrum entos de Deus. Ao m esm o tem po m ostra que ele deve ter com o alvo a edificação da igreja. A proveita a oportunidade para explicar o correto e adequado m étodo para realizar um bom trabalho de edificação, a saber, tom ar Cristo com o o único fundam ento, e adequar a estrutura toda a esse fundam ento. E aqui, tendo afirm ado de passagem que ele era um hábil m estre-de-obra, exorta aos que são deixados para a continuação da obra a que conservem o edifício de conform idade com o fundam ento em todos os m eandros de sua conclusão. Ele ainda insiste com os coríntios a não perm itirem que sejam m a­ culados pelos ensinos corruptos, visto que são tem plos de Deus. E nes­ sa parte conclusiva do capítulo, ele novam ente reduz a nada o orgulho da sabedoria hum ana, de m odo que som ente o conhecim ento de Cristo seja m antido em evidência entre os crentes. N o início do quarto capítulo, ele explica quai é o ofício de um genuíno apóstolo, e. rejeitando seus juízos corruptos que os impedem de reconhecê-lo com o genuíno apóstolo, apela para o dia do Senhor. Então, percebendo que o desprezavam em virtude de sua hum ilde apa­ rência, ele m ostra que de fato tal coisa se constitui mais em honra para ele do que em desonra. Ele prossegue citando instâncias de sua própria experiência, a qual revela que ele não se preocupava com sua própria glória, ou com seu próprio sustento material, mas que fizera fielm ente o trabalho de Cristo e nada mais. N o devido curso ele enfatiza a m anei­ ra com o os coríntios devem honrá-lo (isto é, vv. 14-16). Na parte con­ clusiva do capítulo, ele lhes recom enda Tim óteo, até que ele m esm o vá. E ao m esm o tem po anuncia que em sua chegada ele deixará plena­ m ente claro que não dá o m enor valor a toda a bazófia com que os falsos apóstolos cantavam seus próprios louvores. No quinto capítulo Paulo os cham a à razão pelo fato de terem tole­ rado em silêncio um a união incestuosa entre um hom em e sua m adras­ ta. E francam ente lhes diz que, em vez de serem tão vangloriosos, um a enorm idade tal com o esta deveria fazê-los pender suas frontes, enver­ gonhados. Ele m uda daquela instrução geral para o efeito, ou, seja, que ofensas com o essas seriam punidas com excom unhão, para que a tole- • 20 •
  • 19. ANÁLISE rância em relação ao pecado seja rechaçada, e que as im purezas sejam lim itadas a um a só pessoa e não venham a propagar-se ainda mais afe­ tando o restante. O sexto capítulo contém duas partes principais. N a prim eira, ele condena a prática deles (coríntios) em provocar aborrecim ento uns aos outros, trazendo com isso grande descrédito ao evangelho, ao levarem suas disputas aos tribunais que eram presididos pelos incrédulos. Na segunda parte, ele condena a tolerância com a prom iscuidade sexual, a qual alcançara um nível tal que era considerada quase com o um a coisa norm al de se fazer. D e fato, ele com eça com um a grave nota de am eaça e então prossegue produzindo argum entos em apoio da adm oestação que ele apresenta. O sétim o capítulo contém um a discussão sobre a virgindade, o m atrim ônio e o celibato. Tanto quanto podem os agrupar do que Paulo diz, os coríntios se tornaram fortem ente influenciados pelas noções supersticiosas de que a virgindade era um a projeção, quase um a virtu­ de angelical, de tal form a que desprezavam o m atrim ônio com o se este fosse algo impuro. Para corrigir este conceito equivocado, Paulo ensi­ na que cada pessoa deve saber qual é seu dom particular; e neste senti­ do não deve fazer algo que não se sinta capacitada para fazer; pois nem todos são cham ados para o m esm o estado. Conseqüentem ente, ele re­ alça quem pode abster-se do m atrim ônio, e que seu objetivo era abster- se dele. Em contrapartida, ele aconselha aos que vão se casar e qual é a genuína base do matrimônio. No oitavo capítulo, ele os proibe de se envolverem com os adora­ dores de ídolos e seus sacrifícios im puros, ou de praticarem algum a coisa que de algum a form a pudesse causar injúria a alguém com cons­ ciência fraca. Eles se escusavam sob o pretexto de que quando se asso­ ciavam aos adoradores idólatras, jam ais o faziam com idéias errôneas em suas m entes, visto que em seus próprios corações reconheciam um só D eus, o qual, naturalm ente, os fazia olhar para os ídolos com o coi­ sas indignas de fabricação hum ana. Paulo desfaz tal escusa com base no fato de que cada um de nós deve preocupar-se com seus irm ãos, e, por outro lado, havia m uitas pessoas fracas, cuja fé seria destruída por tal insinceridade. No nono capítulo, ele tom a patente que não está exigindo deles • 21 •
  • 20. 1CORÍNTIOS nada m ais do que exige de si m esm o, de m odo a não dar a im pressão de estar sendo injusto em im por-lhes um princípio que ele m esm o não pudesse praticar. Então !embra-os de com o voluntariam ente se refreou de usar da liberdade que o Senhor lhe concedera, para não causar ofen­ sa a alguém ; e com o, no tocante a coisas neutras, adotara ele diferentes atitudes, por assim dizer, a fim de acom odar-se a todos os tipos de pessoas. Lem bra-os desses dois fatos para que aprendessem por inter­ m édio de seu exem plo, ou, seja, que ninguém deve concentrar-se de­ m asiadam ente em si m esm o, de m odo tal que não se em penhasse em adaptar-se a seus irm ãos para a prom oção de sua edificação. Em razão de os coríntios estarem m uitíssim os satisfeitos consigo m esm os, com o disse no com eço, Paulo inicia o décim o capítulo usan­ do os judeus com o exem plo para adverti-los an ão enganar-se a si m es­ m os com um falso senso de segurança. Pois ele m ostra que, se estão envaidecidos em razão de coisas externas e dos dons de Deus, os ju ­ deus, igualm ente, possuíam razões sem elhantes para ostentar-se. No entanto, tais coisas provaram ser de nenhum préstim o, notadam ente em seu caso, porquanto fizeram m au uso das bênçãos que receberam . Após despertá-los com tais advertências, Paulo volta rapidam ente ao tem a que vinha tratando inicialm ente (ou, seja, o culto idólatra, v. 14), e m ostra quão inconsistente é para aqueles que participam da C eia do Senhor tom ar parte na m esa de dem ônios; pois esta é um a infeliz e intolerável form a de corrom per-se. Finalm ente, ele conclui que deve­ m os adequar-nos com outros em todas as nossas ações, de m odo a não causar ofensa a ninguém. N o capítulo onze, ele procura expurgar as reuniões de culto deles de certas práticas nocivas, as quais dificilm ente era possível observar com decência e ordem , e ele afirm a-lhes que nessas reuniões deve-se observar grande dignidade e discrição, pois ali nos acham os diante de D eus e dos anjos. Porém, sua crítica principal é dirigida contra a adm i­ nistração corrupta da C eia pelos coríntios. M as, além disso, ele apre­ senta o m étodo para corrigir os abusos que solertem ente haviam entra­ do; a saber, cham á-los de volta para nossa instituição original feita pelo próprio Senhor, com o o único padrão seguro e perm anente para a sua correta adm inistração. Porém , visto que m uitos deles estavam fazendo m au uso dos dons « 22 •
  • 21. ANÁLISE espirituais visando a seus próprios objetivos, no capítulo doze eie trata do propósito para o qual Deus no-los concedeu, e trata igualm ente da form a correta e adequada de seu uso, a saber, que para servirm os uns aos outros, devem os crescer juntos no único corpo de C risto. Ele ilus­ tra seu ensino esboçando um a analogia com o corpo hum ano. Em bora o corpo possua m em bros distintos, todos eles com funções distintas, todavia existe neles um arranjo tão bem equilibrado e um a interdepen­ dência [communio] tal que o que tem sido atribuído aos m em bros indi­ viduais é em pregado em benefício de todo o corpo. Portanto, ele con­ clui que o am or é nosso m elhor guia nesta conexão. E assim ele persiste neste tema, mais extensam ente no capítulo tre­ ze, fazendo um a explanação mais am pla de seu significado. Porém , ele se resume nisto: o am or [caritas] deve ser o fator controlador de/em tudo. Ele aproveita a presente oportunidade para fazer um a digressão e cantar os louvores do amor, de m odo a tom á-lo ainda m ais persuasivo e levar as pessoas a desejar possuí-lo, e tam bém a estim ular os corínti- os a pô-lo em prática. No capítulo quatorze, ele com eça apresentando detalhes m ais pre­ cisos sobre com o os coríntios tinham fracassado no uso dos dons espi­ rituais. E já que estavam pondo um a ênfase tão grande na ostentação, ele os ensina que sua preocupação devia ser que em tudo houvesse edificação. Esta é a razão por que ele prefere a profecia a todos os dem ais dons, visto ser ele m ais benéfico; enquanto que, para os corín­ tios, as línguas eram mais valiosas, sim plesm ente com base em sua pom pa vazia. Ele ainda estabelece a ordem apropriada para se fazerem as coisas. A o m esm o tem po, ele condena o erro na exibição ruidosa de línguas estranhas para o benefício de ninguém ; pois significava que, enquanto havia progresso no ensino e nas exortações, aos quais sem­ pre se deve dar prioridade, eles estavam sendo prejudicados. Em se­ guida, ele proíbe que as m ulheres ensinem publicam ente, com o sendo aJgo inconveniente. N o capítulo quinze, ele ataca um dos mais perniciosos erros. A inda que dificilm ente seja crivei que este assalto fosse sobre todos os corín­ tios, todavia tal ação granjeou um ponto-chave nas m entes de alguns deles, na m edida precisa em que o rem édio era claram ente necessário. M as tudo indica que Paulo, propositadam ente, retarda a m enção deste • 23 •
  • 22. 1CORÍNTIOS assunto para o final da carta; pois se ele tivesse iniciado com ele, ou se tivesse voltado a ele im ediatam ente depois de com eçado, a conclusão deles seria que estavam sendo todos condenados. Ele, pois, m ostra que a esperança da ressurreição é tão necessária que, se ela for extinta, então todo o evangelho cairá em com pleta ruína. Tendo estabelecido a esperança pelo uso de poderosos argum entos, ele prossegue m ostran­ do as bases sobre as quais ela descansa, e com o [a ressurreição] se dará (cf. w . 35-58). num a palavra, ele realiza um a plena e cuidadosa dis­ cussão deste assunto. O capítulo dezesseis constitui-se de duas partes. N a prim eira, ele encoraja os coríntios a prestarem socorro aos irmãos de Jerusalém em suas necessidades. Eles estavam , naquela época, sendo duram ente pre­ midos pela fom e e cruelm ente tratados nas m ãos dos incrédulos. Os apóstolos haviam dado a Paulo a tarefa de anim ar as igrejas gentílicas a prover recursos para eles [de Jerusalém ]. Paulo, pois, os instrui a pôr de lado o que gostariam de dar, e assim pudessem enviar a Jerusalém im ediatam ente [porém, veja-se 16.3], Ele traz a carta à sua conclusão com um a exortação cordial e com saudações de alegria. Podem os deduzir daqui, com o disse no início, que esta carta está saturada do mais prestim oso ensirio, pois ela contém várias discussões de um bom núm ero de tem as gloriosos.
  • 23. COMENTÁRIO À SAGRADA ESCRITURA SOBRE A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
  • 24. CAPÍTULO I I Paulo, chamado para ser apóstolo de 1. Paulus. vocatus apostolus Jesu Christ Jesus Cristo pela vontade de Deus, e Sóste- per voluntatem Dei, et Sosthenes frater, nes. nosso irmão, 2. à igreja de Deus que está em Corinto, 2. Ecclesis Dei qu* esl Coriiuhi, sancti- aos que são santificados em Cristo Jesus, ficatis in Christo Jesu. vocatis sanctis, una chamados para serem santos, com todos os cum omnibus qui invocam nomen Domini que em todos os lugares invocam o nome de nostri Jesu Christi in quovis loco tam sui nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e quam nostri:' nosso: 3, graça seja a vós, e paz da parte de Deus 3. Graíia vobiset pax aD eo Patrenosiro, e do Senhor Jesus Cristo. et Domino Jesu Christi. 1. P au lo , ch am ad o p a ra se r apóstolo. D essa form a Paulo proce­ de em quase todas as introduções a suas Epístolas com vistas a garantir autoridade e aceitação para sua doutrina. Em prim eiro lugar ele se as­ segura da condição que lhe fora designada por Deus, de ser apóstolo de Cristo e enviado por D eus; em segundo lugar ele testifica de sua afei­ ção para com todos aqueles a quem escreve. Crem os m uito m ais pron­ tam ente em alguém que consideram os estar genuinam ente afeiçoado para conosco e que fielm ente prom ove nosso bem -estar. Portanto, nes­ ta saudação ele reivindica autoridade para si ao falar de si m esm o com o apóstolo de Cristo, e deveras cham ado p o r D eus, ou, seja, separado pela vontade de Deus. Ora, duas coisas são requeridas daquele que deve ser ouvido na Igreja, e que vai ocupar a cadeira de mestre; pois o m esm o deve ser cham ado por Deus para esse ofício e deve ser fiei no cum prim ento de seus deveres. Paulo aqui alega que am bas se aplicam a ele. Pois o título apóstolo im plica que os atos conscientem ente individuais por parte de um em baixador de Cristo [2Co 5.19], e que proclam a a pura doutrina 1 “Le leur et le nostre". ou “le Seigneur (di-ie) et de eux et de nous." - “Tanto deles, quanto nosso", ou, “o Senhor (digo) tanto deles, quanto nosso." • 27 ■
  • 25. 1 CORÍNTIOS 1 do evangelho. M as para que ninguém assuma para si esta honra sem ser cham ado para a m esma, ele acrescenta que não se precipitou tem erana- mente para ela, m as que fora designado4 por Deus para tal incumbência. A prendam os, pois, a levar em conta am bos esses fatores quando quiserm os saber a quem devam os considerar com o m inistro de Cristo: que o m esm o seja cham ado e seja fiel ao cum prim ento de seus deveres. Visto que ninguém pode, por direito, assum ir para si a designação e condição de m inistro, a não ser que o m esm o seja cham ado, assim não é suficiente que um a pessoa seja cham ada, se tam bém não cum prir os deveres de seu ofício. Pois o Senhor não escolhe m inistros para que sejam ídolos m udos, nem para que exerçam tirania sob o pretexto de sua vocação, nem para que tom em seus próprios caprichos por sua lei. Ao contrário, D eus ao m esm o tempo estabelece que tipo de hom ens devam ser eles, e os põe sob suas leis; em sum a, ele os escolhe para o m inistério; ou, em outros term os, para que, em prim eiro lugar, não sejam ociosos; e, em segundo lugar, para que se m antenham dentro dos lim ites de seu ofício. Portanto, visto que o apostolado depende da vo­ cação [divina], se alguém deseja ser reconhecido com o um apóstolo, então que prove que o é de fato e de verdade; não só isso, mas que tudo faça para que os hom ens confiem nele e dêem atenção a sua doutrina. Pois já que Paulo conta com essas base para estabelecer sua autorida­ de, pior que a insolência seria a conduta do hom em que quisesse assu­ m ir tal posição sem com provação! Entretanto, é preciso observar que não basta que alguém reivindi­ que a posse de um título de algum a vocação para o ofício, m as que tam bém seja fiel no cum prim ento de seus deveres, a m enos que real­ m ente com prove am bas [as alegações]. Pois am iúde sucede que aque­ les que m ais se vangloriam de seus títulos são precisam ente pessoas que na verdade nada possuem ; com o, por exem plo, os falsos profetas da antigüidade que reivindicavam com grande arrogância que haviam sido enviados pelo Senhor. E hoje, que outra coisa fazem os rom anis- tas senão grande bulha sobre a “ordenação divina, a sucessão inviola- velm ente sacra provinda dos próprios apóstolos”,5 enquanto que, de­ 4“Constitué, ordonné, et establi." - “Designado, ordenado e estabelecido.” ’ “Ei aujour d’huy, qu’est ce qu'entonnent à plene bouche les Romanisques, sinon ces grous mots, Ordination de Dieu. La saint et sacrée sucession depuis le temps mesme des • 28 *
  • 26. 1 CORÍNTIOS 1 pois de tudo, parece serem eles com pletam ente destituídos de todas as coisas sobre as quais tanto se exaltam ? A qui, pois, o que se requer não é tanto de vanglória, m as de realidade. Ora, visto ser com um , para o bom e para o mau, assum ir o título, devem os fazer um teste para que se descubra quem de fato pode e quem não pode ter o direito ao título apóstolo. Q uanto a Paulo, Deus atestou sua vocação por m eio de m ui­ tas revelações e então a confirm ou por m eio de milagres. A fidelidade tinha de ser avaliada da seguinte forma: se ele estava ou não procla­ m ando a pura doutrina de Cristo. Q uanto à dupla vocação, a de Deus e a da Igreja, vejam -se m inhas Instituías (4.3.II). A póstolo. A inda que este título, de acordo com sua etim ologia, tenha um sentido geral, e às vezes seja em pregado para denotar todos os m inistros'’1indistintam ente, não obstante pertence, com o um a desig­ nação particular, aos que eram separados pela designação do Senhor com o fim de publicar o evangelho ao m undo inteiro. M as era impor­ tante que Paulo fosse incluído naquele núm ero, e isso por duas razões: prim eiro, porque m uito mais deferência era atribuída a eles do que aos dem ais m inistros do evangelho: e, segundo, porque unicam ente eles, estritam ente falando, possuíam a autoridade de instruir todas as igrejas. Pela vontade de Deus. Enquanto o apóstolo costum ava reconhe­ cer de bom grado sua dívida irresgatável a Deus pelas m uitas coisas boas que dele recebera, ele agia assim particularm ente com referência a seu apostolado, para que pudesse rem over de si qualquer aparência de presunção. E não há dúvida de que, com o a salvação provém da graça, assim tam bém a vocação para o ofício de apóstolo provém da graça, com o preceitua Cristo nestas palavras: “N ão fostes vós que me escolhestes a mim: pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” [Jo 15.16]. Entretanto, Paulo ao m esm o tem po indiretam ente dá a enten­ Apostres.” - “E. em nossos dias. o que os romanistas grilam com bocas escancaradas senão aqueles grandes temas: Ordenação de Deus - A santa e sacra sucessão dos apóstolos até nossos dias?" " AtrootoAoç (um apóstolo), derivado deanoateJ.A.fU' (enviar), significa literalmente men­ sageiro. O lermo é empregado pelos escritores clássicos para denotar o comandante de uma expedição, ou um delegado ou embaixador. (Veja-se Heródoto, v.38.) No Novo Testa­ mento. ele é em vários casos empregado em um sentido geral para denotar um mensageiro. (Veja Lc 11.49: Jo 13.16: Fp 5.38.] Em um caso é aplicado a Cristo mesmo (Hb 3.1). Mais freqüentemente, contudo, é aplicado aos mensageiros extraordinários que eram (para usar as palavras de Leigh em seu Critica Sacra) “os legados (a iatere)" de Cristo, dc sua parte." • 29 •
  • 27. 1 CORÍNTIOS 1 der que todos quantos tentaram subverter seu apostolado, ou de algu­ m a form a fizeram -lhe oposição, estavam contendendo contra um a or­ denação divina. Porquanto Paulo, aqui, não se vangloria futiim ente de títulos honoríficos, senão que intencionalm ente defende seu apostola­ do de suspeitas m aliciosas. Porque, visto que sua autoridade tinha de ser suficientem ente bem estabelecida em relação aos coríntios, não havia necessidade de se fazer m enção da vontade de D eus especificam ente, caso os hom ens injustos não estivessem tentando, por m eios indiretos, m inar aquela honrosa posição divinam ente outorgada por Deus. E Sóstcnes, nosso irm ão. Este é o m esm o Sóstenes que era líder judaico da sinagoga em Corinto, e de quem Lucas faz m enção em Atos 18.17. A razão de seu nom e ser incluído aqui é para que os coríntios tivessem um a m erecida consideração por aquele de quem conheciam o ardor e firm eza no evangelho. Portanto, há um a honra ainda m aior para ele, ou, seja, de ser denom inado irmão de Paulo, do que, com o antes, ser presidente da sinagoga. 2. À ig re ja de D eus que está cm C orinto. Talvez pareça algo estranho dar Paulo aqui o título Igreja de D eus a esse grupo de pessoas que se achava infestado de tantas falhas, sobre o qual Satanás exercia um a influência m ais poderosa que a de Deus. Certam ente seu intuito não era bajular os coríntios, pois ele fala sob a diretriz do Espírito de Deus, o qual não costum a bajular. M as,7 no m eio de tanta vileza, que aparência de igreja é m ais apresentada? M inha resposta é com o segue: Visto que o Senhor dissera: "N ão tem as, eu tenho m uitas pessoas nesta cidade” [At 18.9], m antendo esta prom essa em sua m ente, ele conferiu a poucas pessoas piedosas a grande honra de reconhecê-las com o igre­ ja no m eio de um a vasta m ultidão de pessoas ímpias. D em ais, a despei­ to de que m uitos vícios tinham solertem ente se introduzido, bem com o várias corrupções tanto na doutrina quanto na conduta, alguns em ble­ mas da genuína Igreja perm aneciam em evidência. Entretanto, deve­ mos prestar m uita atenção a esta passagem , para que neste m undo não esperem os existir um a igreja sem um a m ancha ou m ácula, nem preci­ pitadam ente neguem os este título a algum a sociedade na qual nem tudo satisfaça nossos padrões ou aspirações. Porquanto é um a perigosa ten­ tação im aginar alguém que não existe igreja onde a perfeita pureza se 7“Mais (dira quelqu'un)." - “Mas (alguém diria).” • 30 •
  • 28. 1 CORÍNTIOS 1 acha ausente. Pois a pessoa que se sente dom inada por tal noção, ne­ cessariam ente deve separar-se de todos os dem ais e olhar para si com o o único santo no mundo, ou deve fundar sua própria seita em socieda­ de com uns poucos hipócritas. Sobre que base, pois, tinha Paulo reconhecido um a igreja em C o­ rinto? Sem dúvida foi porque viu em seu seio a doutrina do evangelho, o batism o e a Ceia do Senhor, m arcas pelas quais um a igreja deve ser julgada. Pois, em bora alguns com eçassem a nutrir dúvidas acerca da ressurreição, contudo tal erro não perm eou todo o corpo, e assim o nom e e a realidade da Igreja não são por isso afetados. Ainda que alguns defeitos já tivessem surgido na administração da Ceia, a disciplina e a conduta já tivessem declinado tanto, a sim plicidade do evangelho já es­ tivesse denegrida e já tivessem se entregado à ostentação e à pom pa, e em decorrência da ambição de seus ministros já estivessem fragmenta­ dos em vários partidos, não obstante, em virtude de haverem retido a doutrina fundamental - o Deus único era adorado por eles e invocado no nom e de Cristo depositavam em Cristo sua dependência para a salva­ ção e sustentavam um ministério que não estava de todo corrompido. Por essas razões a Igreja continuava ainda em existência entre eles. Con­ seqüentemente, onde quer que o culto divino tenha sido preservado in­ corrupto, e aquela doutrina fundamental de que já falei ainda persiste ali, podemos sem hesitação concluir que nesse caso a Igreja existe. Santificados em C risto Jesus, cham ados p a ra serem santos. Ele faz m enção das bênçãos com as quais Deus os adornara, com o à guisa de reprim enda, porque, na prática, nem sem pre se m ostravam agradecidos. Pois o que pode ser mais deprim ente do que rejeitar um apóstolo, por cujo ministério haviam sido separados com o porção peculiar de Deus? Entrementes, aqui ele mostra, por estes dois qualificativos, que estão incluídos entre os verdadeiros m em bros da Igreja, e que por direito pertencem a sua com unhão. Pois se o leitor não se revelar com o cristão pela santidade de vida, então certam ente não estará capacitado a es­ conder-se na Igreja e ainda não pode pertencer-lhe.8 Portanto, todos * "Tu te pourras bien entretenir en l'Eglise tellement quellement, estant meslé parmi les autres." - "Podeis muito bem ter uma permanência na Igreja, de algum modo, estando entremeados entre outros." • 31 •
  • 29. 1 CORÍNTIOS 1 quantos desejam ser reconhecidos entre o povo de D eus devem ser santificados em Cristo. Dem ais, a palavra santificação denota separa­ ção. Isso se dá conosco quando somos regenerados pelo Espírito para novidade de vida, para servirm os, não ao m undo, mas a Deus. Porque, enquanto por natureza som os im puros, o Espírito nos consagra a Deus. Porque isso realm ente se concretiza quando som os enxertados no cor­ po de Cristo, fora do qual nada m ais há senão corrupção, e visto que o Espírito nos diz que só somos santificados em C risto, quando, através dele, aderim os a Deus, e nele som os feitos “novas criações” (2Co 5.17). O que segue - cham ados para serem santos - o entendo no seguin­ te sentido: “Assim fostes cham ados em santidade.” M as isso pode ser considerado de duas formas. Prim eiro, podem os entender Paulo com o que dizendo que a causa da santificação é a vocação divina, porque D eus m esm o os escolheu; em outras palavras, depende de sua graça, e não da excelência do hom em . O significado alternativo é o seguinte: é consistente com nossa profissão [de fé] que sejam os santos, porque esse é o desígnio da doutrina do evangelho. A inda que o prim eiro sig­ nificado pareça adequar-se m elhor ao contexto, faz pouca diferença de que form a o leitor o considere, quando os dois significados estão em estreita harm onia entre si, pois nossa santidade em ana da fonte da elei­ ção divina, e é tam bém a m eta de nossa vocação. Portanto, devem os sustentar criteriosam ente que de m odo algum é por nossos próprios esforços que som os santos, m as é pela vocação divina; porque é tão-som ente Deus que santifica aos que por natureza eram impuros. E certam ente creio que, m ui provavelm ente, quando Paulo aponta, com o se o fizesse com seu dedo, para a fonte da santida­ de, am plam ente aberta, é para subir ainda mais, ou, seja, para o graci­ oso beneplácito de D eus mesmo, pelo qual tam bém a m issão de Cristo quanto a nós se originou. Além disso, assim com o som os cham ados por m eio do evangelho para a vida irrepreensível [Fp 2.15], é necessá­ rio que isso se tom e um a realidade em nós, a fim de que nossa vocação venha a ser eficaz. M as alguém objetará dizendo que tal coisa não era com um entre os coríntios. M inha resposta é que os pusilânim es não se acham inclusos neste núm ero, porque aqui D eus sim plesm ente com e­ ça sua obra em nós, e paulatinam ente a leva à consum ação. Respondo ainda que Paulo deliberadam ente olha antes para a graça de D eus em • 32 •
  • 30. I CORÍNTIOS 1 ação neles, e não para os próprios defeitos deles, de m odo a fazê-los sentir-se envergonhados de sua negligência em não fazerem o que lhes foi requerido. Com todos os q u e o invocam . Este é outro qualificativo tam bém com um a todos os crentes. Porque, visto que invocar o nom e de D eus é um dos principais exercícios da fé, portanto é por este dever que os fiéis devem ser principalm ente julgados. N ote-se tam bém que ele diz que Cristo é invocado pelos fiéis; e é assim que sua divindade é reco­ nhecida, porquanto a invocação é um a das prim eiras evidências do culto divino. Daí, a invocação, neste contexto, à guisa de sinédoque* (Katà awtKôoxnv), significa um a plena profissão de fé em Cristo, as­ sim com o em m uitas passagens da Escritura ela é geralm ente tom ada para abranger todo o culto divino. Alguns o explicam com o sendo só a profissão [de fé], m as isso parece pobre dem ais e está em desacordo com sua aceitação usual na Escritura. Ora, tenho posto estas pequenas palavras nostri (nosso) e sui (deles) no genitivo, entendendo-as com o um a referência a Cristo. En­ quanto outros, tom ando-as com o um a referência a lugar, traduzem -nas no ablativo. Ao agir assim , tenho seguido a Crisóstom o. Esta tradução, provavelm ente, parecerá abrupta, porque as palavras em todo lugar aparecem no centro, porém não há nada de abm pto nesta construção no grego pauhno. M inha razão para preferir esta tradução à da Vulgata é que se o leitor a explicar com um a referência a lugar, a frase adicio­ nal não só será desnecessária, mas tam bém irrelevante. Pois a que lu­ gar Paulo cham aria seu? Eles o consideram com o a indicar a Judéia porém , em que áreas? Então, a que lugar Pauto estaria se referindo com o sendo habitado por outros? A firm am que significa todos os ou­ tros lugares do m undo; mas isso tam bém não é bem apropriado. Em contrapartida, o significado que tenho atribuído é bem mais apropria­ do; porque, depois de fazer m enção a “os que em todo lugar invocam o nom e de Cristo, nosso Senhor”, ele adiciona: “deles e nosso”, a fim de tornar plenam ente claro que C risto é sem a m enor som bra de dúvida o Senhor com um de todos os que o invocam, sejam eles judeus ou gentios. E m todo lugar. Paulo adicionou isso contrariando sua prática usu- " Sinédoque, figura de linguagem por meio da qual a parte é tomada pelo todo. • 33 •
  • 31. al pois em suas outras cartas ele menciona, na saudação, som ente aque­ les a quem ele endereça as cartas. Entretanto, tudo indica que ele dese­ java antecipar as calúnias de certos ím pios, com o a im pedi-los de ale­ gar que ele estava adotando um a atitude extrem ada e forte em relaçao aos coríntios, reivindicando para si um a autoridade que nao ousaria assum irem relação a outras igrejas. Logo se fará evidente que ele tinha sido tam bém injustam ente cum ulado com censura de que estava a cons­ truir ‘ninhos’10para si mesmo, com o se quisesse fugir da luz, ou clandes­ tinam ente se excluísse do restante dos apóstolos. Portanto, a fim de ex­ pressam ente rebater tal mentira, ele intencionalmente se poe num posto de comando, donde pudesse tornar sua voz ouvida forte e difusamente. 3 Graça seja a vós e paz. Os leitores poderão encontrar um a ex­ posição desta oração no início de meu com entário à Epístola aos R o­ m anos [Rm 1.7]. Porquanto não gostaria de sobrecarrega-los com re­ petições. 4. Dou sempre gravas a meu Deus a re S- 4 .G ratiasagoD eo meo scm perde vobis peito de vós, pela graça de Deus que vos foi propter granam Dei. quæ data vob.s eidos por ele, em toda palavra e em todo omni sermone." et m omm cogmttone. ^ó ^ assim como o testemunho de Crislo foi6. Qucmadinodum te— um Christi r ,„<c* con firm atu m fu it in vobis. °°7 'dTm aneira que não vos venha faltar 1- U t nulio in dono destituamini. exspec- nenhum dom; esperando pela vinda de nos- lantes revdationem Dom.m nostn lesu 50 g ^ J i ^ o n f i n n a r à até o fim. T quí etiam confirm ai, v o s ^ i n f t . para serdes irrepreensíveis no dia de nosso nem meulpatos. m d,em Dom.m nostn Jesu SC9 D Í é f i d Ï a v é s de quem fostes cha- 9. Fidelis Deus, per quem mados à comunhão de seu Filho Jesus Cns- commun.onem F.lu ips.us Jesu Chnst. D o­ lo, nosso Senhor. mini nostn. 4. Dou sempre graças a meu Deus. Após mostrai-, na saudação, que sua autoridade repousa sobre a função que lhe fora designada Paulo agora busca granjear a aceitação para sua doutrina, expressando seu afeto por eles. Agindo assim , de antem ão abranda suas m entes, para 10“Nids et cachettes." - "Ninhos e esconderijos.” 11 •Parole-, ou ‘éloquence’. - ‘Enunciação’ ou ‘eloqüência’. [w. 3, 4] 1CORÍNTIOS 1 ■34 •
  • 32. 1CORÍNTIOS 1 que pudessem ouvir pacientem ente sua reprovação.'3 Ele deveras os persuade a confiar em seu amor: prim eiro, regozijando-se com as bên­ çãos com que foram contem plados, com o se ele m esm o as recebesse; e, em segundo lugar, ao declarar que seu coração lhes era favorável e que nutria por eles boa esperança quanto ao futuro. A lém disso, eJe caracteriza suas congratulações, de m odo que os corfntios não tives­ sem nenhum a ocasião para vangloriar-se, visto que ele aponta para Deus com o a fonte donde em ana todas as bênçãos que haviam recebido todo o louvor deve ser-lhe dirigido, já que tudo era fruto de sua graça! Em outros termos, Paulo está dizendo: “Congratulo-m e convosco com toda sinceridade, porém de modo a atribuir louvor som ente a D eus.” Já expliquei, em meu com entário à Epístola aos Rom anos [Rm 1.8], o que Paulo quis dizer quando denom ina Deus de m eu D eus. Além do mais, com o Paulo nao pretendia lisonjear os coríntios, por isso não os enaltece por m otivos falsos. Porque, em bora nem todos m erecessem tal louvor, e em bora tivessem corrom pido muitos dos dons excelentes de Deus por m eio de am bição, contudo não podia ignorar os próprios dons deles, com o se fossem de pouco valor, os quais, em st mesmos, m ereciam o mais elevado apreço. Finalm ente, porque os dons do Espí­ rito são concedidos para a edificação de todos, ele tinha boas razões para considerá-los com o dons com uns a toda a Igreja.13Vejamos, po­ rém, o que Paulo recom enda neles. P o r co nta da g raça etc. Graça é um termo geral, porque ela abrange toda espécie de bênçãos, as quais eles tinham obtido por m eio do evan­ gelho. Pois a palavra graça significa, aqui. não o favor de Deus, mas. à guisa de m etoním ia'4 o s dons que graciosam ente Deus derram ou sobre os homens. Portanto, Paulo prossegue especificando os casos particulares quando diz: "em tudo fostes enriquecidos”, e ex­ plica tudo com o sendo a doutrina e Palavra de Deus. Pois os cristãos devem ser plenificados com essas riquezas, as quais devem tam bém 13O mesmo ponto de vista do desígnio de Paulo aqui é apresentado porTeodoreto “Visto que ele está para censurá-ios, suaviza de antemão o tírgSo de audiçlo para que o remédio a ser aplicado seja recebido o mais favoravelmente possível." | Que chacun ha en son endroil." - “Que cada um tem severamente " Figura dc ünguagem por meio da qual um tenno é expresso por outro - a causa pelo eteuo, o efeito pela causa etc. • 35 •
  • 33. receber de nós as mais elevadas honras e o m ais elevado apreço, a m edida que forem sendo desconsideradas pelo povo com o um todo. Preferi conservar o term o in ipso {nele) em vez de m uda-lo para p er ipsum {por ele), porque, em m inha opinião, é m ais expressivo e vigoroso. Pois somos enriquecidos em Cristo porque som os m em bros de seu corpo e fom os enxertados nele; e ainda mais, visto que fom os feitos um com ele, ele com partilha conosco tudo quanto recebeu do Pai. 6. Assim como o testemunho de Cristo foi confirmado em vos. A tradução de Erasm o é diferente: "por m eio dessas coisas, o testem u­ nho de Cristo foi confirm ado entre vós", significando: pelo conheci­ m ento e pela Palavra. As palavras têm em si um a ressonância distinta, e se não forem torcidas, o significado é sim plesm ente este: Deus selou a verdade de seu evangelho entre os coríntios, com o proposito de con­ firm á-la. O ra, isso pode ser feito de duas m aneiras - ou por m eio dos m ilagres ou por m eio do testem unho interno do Espírito Santo. C ri­ sóstom o parece tê-lo entendido com o um a referência aos milagres, porém considero-o em um sentido m ais am plo. Antes de tudo, é certo que o evangelho deve ser propriam ente confirm ado, em nossa experi­ ência pessoal, por m eio da fé, porque, tão logo é ele recebido por nós. pela fé, então realm ente “por sua vez certifica que Deus é verdadeiro IJo 3.33]. E em bora eu adm ita que os m ilagres devam ser de valor para sua confirm ação, não obstante um a origem m ais elevada deve ser bus­ cada a saber: que o Espírito de Deus é o penhor [arrha] e selo. Por isso. explico estas palavras da seguinte m aneira: que os coríntios exce­ liam em conhecim ento, porquanto desde o princípio D eus fez seu evan­ gelho produzir frutos neles. Dem ais, ele não fez isso de um a um ca form a mas o fez pela operação interna do Espírito e pela excelencw e variedade dos dons, pelos m ilagres e por todas as dem ais coisas que cooperam . E le cham a o evangelho de o testem unho de Cristo ou con­ cernente a C risto, porque toda a som a dele é desvendar C nsto a nos, "em quem estão ocultos todos os tesouros do conhecim ento [Cl 2 J J . Se alguém prefere considerá-lo num sentido ativo, em razão de o autor prim ário do evangelho ser C risto, de m odo que os apóstolos nada mais são senão testem unhas secundárias, ou m enos im portantes, nao discor­ darei dele. C ontudo, para mim a prim eira explicação é m ais satistató- • 36 •
  • 34. 1CORÍNTIOS 1 fw. 7, 8] ria. A dm ito que, logo depois [cf. 2.1], “o testem unho de D eus” deve, além de toda controvérsia, ser considerado num sentido ativo, porquanto o sentido passivo seria inadequado. Entretanto, aqui o caso é diferente; outrossim , esta passagem corrobora m inha opinião, porque im ediata­ m ente ele adiciona seu significado: nada saber senão Cristo [cf. 2.2], 7. Dc m an e ira que não vos venha fa lta r nen h u m dom Y atípeia- 0ca significa estar em falta de algo que você realm ente necessita. Por­ tanto, Paulo quer dizer que os corintios eram ricos em todos os dons de Deus, e deveras não careciam de nada. É com o se dissesse: “O Senhor não só vos considerou dignos da luz do evangelho, mas tam bém vos proveu ricam ente de todas as graças que auxiliam os crentes a fazerem progresso no cam inho da salvação.” Pois ele intitula dons [charisma- ta] aquelas graças espirituais que são, por assim dizer, os m eios de salvação para os santos. Em contrapartida, pode-se objetar que os crentes nunca são tão ricos que não se sintam carentes, em certa extensão, de graças, de m odo que sem pre se vêem forçados a ter “fom e e sede” [M t 5.6]. Pois, quem não está longe da perfeição? M inha resposta é a se­ guinte: visto que são suficientem ente providos dos dons necessários, e sem pre que estão necessitados, o Senhor vem oportunam ente satisfa- zê-los, Paulo, pois, atribui-lhes tais riquezas. Pela m esm a razão, ele acrescenta: “aguardando a m anifestação significando que e le’não está pensando neles com o quem possui tais riquezas, nada restando para desejar-se, senão que possuem som ente o que lhes bastará até que tenham alcançado a perfeição. Entendo o gerúndio, aguardando, neste sentido: “durante o tem po em que estais esperando.” A ssim , tem os o seguinte significado: "Portanto, neste ínterim não tendes carência de ne­ nhum dom. enquanto estiverdes aguardando o dia da perfeita revelação, m ediante a qual Cristo, nossa sabedoria, se fará plenamente manifesto.” 8. Q ue tam b ém vos con firm ará. O relativo [que], aqui, não se aplica a Cristo, e, sim, a Deus, m esm o quando o nom e de Deus seja o antecedente mais remoto. Porque o apóstolo prossegue expressando sua alegria, e com o lhes disse previam ente o que sentia sobre eles, portanto agora m ostra que nutre esperança quanto ao futuro deles; e isso em parte para fazê-los sentir-se ainda m ais certos de sua afeição por eles, e em parte tam bém para exortá-los, por seu próprio exem plo, a nutrirem a m esm a esperança. É com o se dissesse: “A inda que este- • 37 •
  • 35. jais num estado de alarm a por estardes esperando a salvação que ainda está por vir, não obstante deveis estar certos de que o Senhor jam ais vos abandonará, mas que, ao contrário, com pletará o que com eçou em vós de m odo que, quando esse dia chegai-, quando todos nos com pare­ cerem os diante do tribunal de Cristo [2Co 5.10], possam os, pois, ser encontrados irrepreensíveis.” Irrepreensíveis. Paulo ensina, em suas Epístolas aos Efésios e aos Colossenses, que o fim de nossa vocação é para viverm os de m aneira pura e livres de m ancha na presença de D eus [Ef 1.4; O 1.221. Entre­ tanto, devem os observar que tal pureza não se com pletara em nos im e­ diatam ente; ao contrário, para nosso próprio bem, devem os continuar exercitando a prática diária da penitência, e prosseguir sendo purifica­ dos dos pecados (2Pe 1.91, os quais nos fazem passíveis do castigo divino, até que, finalm ente, sejam os despidos, juntam ente com “o cor­ po de m orte” [Rm 7.14], de toda a im pureza do pecado. A cerca do dia do Senhor falarem os no capítulo 4. 9. D eus é fiel. Q uando a Escritura fala de D eus com o sendo fiel, com freqüência significa sua perseverança e sua constante uniform ida­ de de caráter [perpetuum temorem], de m odo que tudo o que Deus com eça ele sem pre leva a sua consum ação.15Paulo m esm o diz que “a vocação de Deus é irrevogável” [Rm 11.291. Portanto, em m inha opi­ nião, o que esta passagem significa é que D eus é inabalavel em seu propósito Sendo este o caso, ete não zom ba de nós quando nos chama, m as que cuidará de nós para sem pre.16 Conseqüentem ente, visto ex­ perim entarm os as bênçãos de D eus no passado, tenham os bom anim o e esperem os que ele aja sem pre assim no futuro. Paulo, porem , volve sua atenção para um ponto m ais elevado, pois seu argum ento é que os coríntios não podem ser lançados fora, porque um a vez foram cham a­ dos pelo Senhor “à com unhão com Cristo”. Entretanto, a fim de com ­ preenderm os que valor tem este argum ento, notem os antes de tudo que cada um deve ver em sua própria vocação a evidência de sua eleição. '’ Calvino provavelmente se refere às seguintes passagens (entre outras): 1Tessalomcen- ses 5.24; 2 Tessalonicenses 3.3; Hebreus 10.23. 115 “La vocation donc qu’il fait d’un chacun des siens, n est point un jeu. et en es appe_ liant il ne se mocque point, ainsi il entretiendra et pour suyura son œuvre perpétuellement^ - “A vocação, portanto, que ele faz de cada um dos seus não é mera diversão, e ao chamá- los ele não está a brincar, mas incessantemente manterá e dará curso a sua obra. [v 9] 1CORÍNTIOS 1 • 38 •
  • 36. 1CORÍNTIOS 1 Portanto, em bora nem sem pre alguém possa julgar com a m esm a cer­ teza acerca da eleição de um a outra pessoa, todavia podem os sem pre decidir, julgando com base no am or, que tantos quantos são cham ados, é para a salvação que são cham ados; eu quero dizer tanto eficaz quanto frutiferamente. Paulo estava dirigindo estas palavras a pessoas em quem a Palavra de Deus havia form ado raízes, e em quem alguns frutos se despontavam com o resultado. A lguém poderia objetar, dizendo que m uitos dos que um a vez re­ ceberam a Palavra, mais tarde apostatam . M inha resposta é que só o Espírito é a fiel e infalível testem unha da eleição de cada pessoa, e que sua perseverança depende desse fato. Responderia ainda que, não obs­ tante, esse fato não im pedia Paulo de estar persuadido, no tribunal do amor, de que a vocação dos coríntios seria um a firm e e inabalável pro­ va, já que ele via entre eles os em blem as do beneplácito paternal de Deus. A lém disso, tais em blem as de form a algum a visavam a produzir um m ero senso de segurança carnal; pois as Escrituras com freqüência nos advertem quanto a nossa real fraqueza, m as sim plesm ente visa a confirm ar nossa confiança no Senhor. Ora, isso era necessário a fim de que suas m entes não se vissem desnorteadas ao descobrirem tantas falhas, com o m ais adiante ele as poria diante de seus olhos. Tudo isto pode ser sum ariado da seguinte form a: “Os cristãos sinceros devem nutrir boas esperanças acerca de todos quantos têm tido acesso ao ca­ m inho inconfundível da salvação, e perseveram em seu curso, ainda que ao m esm o tem po sejam assediados por m uitas enferm idades. D es­ de o tem po em que é iluminado [Hb 10.32] pelo Espírito de Deus, no conhecim ento de Cristo, cada um de nós, na verdade, é plenam ente convencido de que foi adotado pelo Senhor na herança da vida eterna. Pois a vocação eficaz deve ser para os crentes a evidência da adoção divina. N ão obstante, nesse ínterim devem os todos nós andar “em te­ m or e trem or” (Fp 2.12). Farei posterior referência a este assunto no capítulo 10. À comunhão. Em vez disso, Erasm o traduziu à participação [con- sortium]. A Vulgata traz sociedade [societatem], Eu, contudo, preferi comunhão (communionem), porque expressa m elhor a força da pala­ vra grega Kou/cotactç.17Porque todo o propósito do evangelho consiste "C alvino. depois de faiar de ser Cristo apresentado por Paulo como '‘a nós oferecido no • 39 ■
  • 37. [V. 10] 1 CORÍNTIOS 1 em que Cristo se fez nosso e som os enxertados em seu corpo. M as quando o Pai nos dá C risto com o nossa possessão, tam bém se nos co­ m unica em Cristo, e por causa disso reatm ente alcançam os a participa­ ção de cada bênção. O argum ento de Paulo, portanto, é com o segue. Visto que fom os trazidos à com unhão com C risto através do evange­ lho, o qual recebem os pela fé, não há razão para tem erm os o risco de m orte,1*já que fom os feitos participantes daquele [Hb 3.14] que res­ suscitou dos m ortos, o Vitorioso sobre a morte. Em sum a, quando o cristão olha para si mesmo, ele só vê m otivo para tremor, ou, melhor, so vê desespero. M as pelo fato de ter sido cham ado à com unhão com^Cns- to, ele não deve pensar de si m esm o, no tocante à certeza da salvação, de nenhuma outra form a senão com o m em bro de Cristo, tom ando assim suas todas as bênçãos de Cristo. D essa forma, ele se assegurará da espe­ rança da perseverança final (como é chamada) com o algo certo, caso ele se considere m em bro de Cristo, aquele que não pode jam ais fracassar. 10 Ora rogo-vos. irmãos, pelo nome de 10. Observo autem vos fraires per no- nosso Senhor Jesus Cristo, que falem todos men Dormm nosin Jesu Chr.sti, ut >dem lo- a mesma coisa, e que não haja divisões en- quamm. omnes, et non s u t .nter vos u i- ,re vós. senão que sejais perfeitamente un.- d,a: sed apte cohæreat.s ,n una mente et in dos na mesma mente e no mesmo parecer. una senientia. 11 Meus irmãos, me foi anunciado acer- 11 S.gn.f.catum emm rmhi de vobis fuu. ca de vós. pelos que sào da casa de Cloe. de fratres mei, ab «s qu. sunt Chloes. quod con­ que há contendas entre vós. tentiones sint mter vos. 12 Ora, quero dizer com isso que cada 12. Dico autem rtlud.- quod unusquoque um de vós afirma: Eu sou de Paulo; e eu de vestrum dicat, Ego qu.dem sum Paul., ego Apoio- e eu de Cefas; e eu de Cristo. autem Apolio. ego autem Ceph*. ego au- iem Christi. 13 Cristo está dividido? Foi Paulo cruci- 13. Divisusne es. Christus? numqu.d pro ficado em favor de vós? Ou fostes batiza- vobis cruc.fixus est Paulus? aut vos m no- dos em nome de Paulo? men Pauli baplizati est.s? 10. O ra , rogo-vos, irm ãos. Até aqui Paulo esteve tratando os co- evangelho com toda Abundância de bênçãos celestiais, com todos seus méritos, toda sua justiça, sabedoria e graça, sem exceção", observa: “E o que esta unplfcrto pela comunhão ( M i l i t a ) de Cristo o qual, segundo o mesmo apóstolo [ICo 1.9]. nos é oferecido no evangelho - todos os crentes sabem.” 18 “La mon et perdition.” - “Morte e perdição. . - „ „ '* "Et en une mesme volonté”, ou “et mesme avis”. - “E na mesma disposição , ou e no m^ ^ c r , ou “O rc e que ie di c’est qu'un chacun ” - “E isto eu digo", ou “Ora. o que digo é isto; que cada um." • 40 •
  • 38. 1CORÍNTIOS 1 [v. 10] ríntios com m ansidão, porquanto sabia o quanto eles eram sensíveis. Contudo agora, após preparar suas m entes para receberem correção, agindo com o um bom e experiente cirurgião que toca a ferida gentil­ m ente quando um doloroso m edicam ento precisa ser aplicado, então Paulo passa a tratá-los com m ais severidade. N ão obstante, m esm o aqui ele usa um a boa dose de m oderação, com o verem os m ais adiante. Eis a substância do que ele está para dizer: “M inha ardente esperança é que o Senhor não vos tenha concedido em vão tantos dons, sem antes que­ rer conduzir-vos à salvação. Por outro lado, deveis tam bém sofrer afli­ ções para im pedir-vos que graças tão excelentes sejam poluídas por vossos vícios. Portanto, esforçai-vos para que vos concordeis uns com os outros, pois eu tenho boas razões de pedir-vos que haja concordân­ cia entre vós. porquanto tenho sido inform ado de que a desarm onia que há entre vós equivale m esm o a hostilidade; que as facções e o partidarism o são fom entados entre vós de tal form a que estão destro­ çando a genuína unidade da fé. “Visto, porém , que. neste caso, um a sim ples exortação pode às vezes não ser tão persuasiva, Paulo volta a rogos enérgicos, pois ele os conjura, em nom e de Cristo, a quem amam. a que prom ovam a harmonia. Q ue todos faleis a m esm a coisa. A o estim ulá-los à harmonia. Paulo em prega três form as distintas de expressão. Prim eiram ente, ele solici­ ta que a concordância entre eles fossem em term os tais, que tivessem todos um a só voz. Em segundo lugar, ele exige a rem oção do mal pelo qual a unidade é espicaçada e destruída. Em terceiro lugar, ele desven­ da a natureza da genuína harm onia, a saber, que a harm onia recíproca fosse na m ente e na vontade. O que Paulo põe com o segundo é de fato o prim eiro em ordem, a saber, que nos guardem os das divisões, por­ que, quando som os [precavidos], então algum a outra coisa virá. ou, seja. a harm onia. Então, finalm ente um a terceira coisa certam ente re­ sultará, a qual é m encionada em prim eiro lugar aqui, a saber: que todos falem os com o se tivéssem os um a só voz; e isso deveras é m uitíssim o desejável, com o fruto da harm onia cristã. Portanto, observem os bem: nada é mais inconsistente por parte dos cristãos do que o cultivo do antagonism o entre si. Pois o princípio m ais im portante de nossa reli­ gião é este: que vivam os em harm onia uns com os outros. D em ais, a segurança da Igreja repousa sobre esta concordância e dela depende. • 41 •
  • 39. [V- 10] 1 CORÍNTIOS 1 Vejamos, porém , o que Paulo requer da unidade cristã. Se alguém alm eja distinções m ais refinadas, ele deseja que, antes de tudo, sejam eles unidos num a só m ente [pensam ento]; em seguida, num só parecer [juízo]; em terceiro lugar, ele deseja que os coríntios declarem verbal­ m ente sua concordância. Entretanto, visto que m inha tradução difere um pouco da de Erasm o, devo, de passagem , cham ar a atenção de meus leitores para o uso que Pauio faz de um particípio aqui, o qual significa coisas que são adequada e apropriadam ente enfeixadas.21 Pois o ver­ bo KaiapTiCtoGaL, do qual o particípio KairpiLanti/oc; se origina, signi­ fica, propriam ente, ‘estar am arrado’ e ‘estar unido’, da m esm a form a que os m em bros do corpo hum ano se acham jungidos uns aos outros num a sim etria adm iravelm ente perfeita.22 Para parecer [sententiaj, Paulo tem Considero-o, porém , aqui com o um a referência à vontade, de modo que há um a com pleta divisão da alm a, sendo a prim eira sentença (num a só m ente) um a refe­ rência à fé, e a segunda (num só parecer), ao amor. Portanto, a unidade cristã será estabelecida em nosso m eio, não só quando estam os em estreita harm onia quanto à doutrina, m as tam bém quando estam os em harm onia em nossos esforços e disposições, e assim nos tom am os de um a só m ente em todos os aspectos. N este m esm o sentido, L ucas testi­ fica da fidelidade da Igreja Prim itiva, dizendo que todos tinham “um só coração e um a só alm a” [At 4.32]. Certam ente que isso será sem pre encontrado onde o Espírito de Cristo reina. A o dizer-lhes que falassem a m esm a coisa, ele notifica ainda m ais plenam ente o fruto da unidade, “Et assemblés l'une à l'autre." - “E associadas umas às ouïras." O verbo ícatapTiCu propriamente significa: repartir, readaptar ou restaurar a sua con­ dição original o que fora desordenado ou quebrado; e nesse sentido se aplica b reparação de redes, navios, muros etc. |veja-se Mt 4.21; Mc 1.19], Podemos com plena propriedade entender o apóstolo fazendo aqui alusão à reparação de um navio que fora quebrado ou danificado, e como a informar que uma igreja, quando dispersa por divisões, não é, por assim dizer, um mar confiável, e deve ser cuidadosamente reparada, antes que possa estar preparada para os propósitos de comércio, comunicando às nações da terra as "genuínas riquezas". Entretanto, a alusão, mais provavelmente, é como se Calvino estivesse pensando nos membros do corpo humano, os quais são tão admiravelmente ajustados uns aos outros. Merece nota o fato de que Paulo faz uso dc um derivativo do mesmo verbo (xanipuaiO em 2 Coríntios 13.9. sobre o qual Bcza observa “que a intenção do apóstolo é que. enquanto os membros da Igreja estavam todos, por assim dizer, deslocados e desconjuntados, agora uma vez mais seriam enfeixados em amor. e tudo fariam para fazer perfeito o que estava defeitu­ oso entre eles. quer na fé. quer na conduta.” • 42 •
  • 40. 1CORÍNTIOS 1 [v. 11] quão com pleta deve ser a concordância, a saber, que não haja qualquer divergência nem m esm o em palavras. C ertam ente que isso é algo m ui­ to difícil, porém m esm o assim é indispensável entre os cristãos, de quem se tem requerido que tenham não só um a única fé, mas tam bém um a única confissão. U . M e foi an u n ciad o acerca de vós. Visto que as observações gerais às vezes surtem pouco efeito, Paulo então notifica que o que ele está dizendo de fato tam bém se aplica particularm ente a eles. Portanto, ele faz esta aplicação a fim de que os coríntios soubessem que não foi sem m otivo que ele fez m enção da harm onia. Pois ele m ostra que não só se afastaram da santa unidade,23mas que tam bém entraram em con­ trovérsias, as quais se tornaram mais sérias24do que diferenças de opi­ nião. Em caso de ser ele acusado de ser por dem ais crédulo em dar ouvidos tão prontam ente a inform ações inverídicas,” ele fala bem dos que lhe passaram tais informações. Provavelm ente fossem tidos na mais elevada consideração, visto que Paulo não hesitou em citá-los com o testem unhas com petentes contra a Igreja toda. Ainda que não seja de todo certo se Cloe é o nom e de lugar ou de mulher, parece-m e mais provável, porém , que fosse o nom e de um a mulher.26Portanto, em m i­ nha opinião é que foi um a fam ília bem fam iliarizada com Paulo que lhe falou deste distúrbio na Igreja de Corinto, com o propósito de que dele proviesse a cura. M as concluir, com o fazem m uitos, seguindo a opinião de Crisóstom o, que Paulo evitou o uso de nom es reais com o intuito de evitar que fossem m olestados, parece-m e absurdo. Pois ele não diz que alguns m em bros particulares da fam ília o inform aram ; ao ” “La sanae union qui doil estre les Chresiiens." - "Aquela santa unidade que deve haver entre os cristãos.” 24“Bien plus dangereuses" - “Muito mais perigosas.” 35 Beza observa que o verbo aqui empregado. 6r]loto (declarar) contém uma significação mais forte do que ar^m i/u {insinuar), assim como há uma diferença de sentido entre as palavras latinas deciarare (declarar) e significare (insinuar), exemplo esse que é fornecido em uma caria de Cícero a Lucrécto: “tibi non significandum solum, sed etiam declarandum arbitror. nihii mihi esse potuisse tuis literis gratius." - “Creio que não se deve simplesmente í/i.f/nuflr-lhe, mas declarar que nada poderia ser-me mais agradável do que suas cartas.” A palavra enfática. eôr|Ao>&T) (foi declarado), parece ter sido usada pelo apóstolo para comuni­ car mais plenamente à mente dos coríntios que ele não lhes transmitira uma mera notícia. MAlguns chegaram à conclusão q u e por tú k XXóriç (os d e Cloe) o apóstolo quer dizer pessoas q u e estavam em florescente condição na religião: de x^ói). erva verde (Heródoto. iv.34, Eurípedcs, Hipp. 1124). Ceno escritor supõe Paulo querendo dizer sentares (and- •43 ■
  • 41. [V. 12] 1CORÍNTIOS 1 contrário, faz m ençao de todos eles, o que não deixa lugar a dúvida de que estavam bem dispostos a ser citados nom inalm ente. Além do mais, para que suas m entes não se exasperassem por indevida severidade, ele m itigou a reprovação falando de um a m aneira com o se quisesse angariar o respeito; e ele procedeu assim não para am enizar seu pro­ blem a, m as para fazê-los ainda m ais dóceis e entender m elhor a gravi­ dade de seu mal. 12. O ra , o que eu qu ero d ize r e que c ad a um de vós. Alguns acreditam que haja aqui um caso de im itação com o se Paulo estivesse aqui repetindo as palavras reais dos coríntios. Ora, ainda que os m anuscritos variem na avaliação da partícula o n , sou de opinião que ela é a conjunção porque. em vez do pronom e relativo que. de m odo que tem os aqui sim plesm ente um a explicação da sentença ante­ rior, com o segue: "A razão por que digo que há controvérsias entre vós, é porque cada um de vós se põe a gloriar-se no nom e de um ho­ m em . M as alguém poderá objetar que essas afirm ações não fornecem em si m esm as qualquer indicação de controvérsias. M inha resposta é que onde as divisões predom inam na religião, outra coisa não sucede senão que o que se acha na m ente dos hom ens logo se irrom pe em franco conflito. Pois enquanto nada é m ais eficaz para m anter-nos uni­ dos. e não há nada que m ais une nossas m entes, conservando-as em paz, do que a harm onia na religião, todavia, se por algum a razão susci- ta-se desarm onia em conexão com ela, o resultado inevitável é que os hom ens são im ediatam ente instigados a digladiar-se de form a ferre­ nha, e não existe outro cam po onde as controvérsias sejam m ais fero­ zes.27 Portanto, Paulo é justificado em apresentar com o evidência su­ ficiente de controvérsias o fato de que os coríntios estavam criando seitas e facções. E u sou de P au lo etc. Ele agora m enciona nom inalm ente os servos fiéis de C risto - Apoio, que fora seu sucessor em Corinto, e tam bém o próprio Pedro. Então adiciona seu próprio nom e ao deles, com receio ãos). derivando a palavra xAón j e n*?=, idos». Enlrelanto. tais conjeluras são claramente mais engenhosas que sóüdas. É verdade que o nome Xióri (Cloe) era freqüente entre os gregos como um nome feminino. É mais natural entender por tcjv XJ.oi>;, os de Cloe. como equivalente a tu v XJ-orj; auceiui» - os da casa de Cloe. r “El n’y a en chose quelconque debals si grans ni tant à craindre que sont ceux-là." - “E em nenhum departamento há disputas tão fortes, ou lâo terríveis como aquelas” . 44 •
  • 42. 1CORÍNTIOS 1 [v. 12J de que pudesse, de algum a forma, parecer estar fazendo m ais por sua própria causa do que pela causa de Cristo. Todavia, é im provável que houvesse alguns partidos que estivessem atacando um desses três mi­ nistros em particular, em detrim ento dos outros dois, visto que se acha­ vam limitados, em seu m inistério, por um acordo sagrado.2*M as, com o sugere m ais tarde (1 C o 3.4ss), ele transferiu para si e para Apoio o que era aplicável aos dem ais. Ele procedeu assim a fim de que pudessem ter mais facilidade em avaliar o próprio problem a, dissociado da avali­ ação dos personagens envolvidos. M as alguém poderia apontar para o fato de que Paulo tam bém m enciona, aqui, aqueles que publicam ente confessavam que "eram de C risto”. Isto tam bém reclam ava censura? R espondo que nesía form a a expressão m ais clara é dada para a situação realm ente negativa que se desenvolve de nosso erro em prestarm os nossa devoção aos homens. Se tal acontece, então C risto deve necessariam ente governar só um a parte da igreja, e os crentes não têm outra alternativa senão separar-se dos dem ais, isso se não desejam negar a Cristo. Entretanto, com o este versículo é torcido de várias maneiras, o único cam inho certo é decidirm os m ais exatam ente o que Paulo quer dizer aqui. Seu objetivo é dizer que na Igreja a autoridade pertence unica­ m ente a Cristo, de m odo que todos nós som os dependentes dele; que unicam ente ele é cham ado Senhor e M estre entre nós, de m odo que o nom e de quem quer que seja se exibe com o rival de Cristo. Portanto, Paulo condena aqueles que atraem seguidores após eles [At 20.30], a ponto de dividir a Igreja em seitas, porque ele os condena com o inim i­ gos que destroem nossa fé. Conseqüentem ente, Paulo não perm ite que os hom ens exerçam tal preem inência na Igreja, que usurpem a supre­ m acia de Cristo. Os homens, pois, não devem ser honrados de tal ma­ neira que venham a prejudicar, m esm o que seja um ínfim o grau. a dig­ nidade de Cristo. É verdade que existe certo grau de honra que é devi­ da aos m inistros de C risto, e que eles são igualm ente m estres em seu 2*“Autrement veu que ces trois estoyent d'un sainct accord ensemble en leur ministère, il n’est point vray-semblable. qu’il y cust aucunes panialitéz entre les Corinthiens pour se glorifier en l’un plustost qu’en l’aulre.” - “De outra forma, visto que aqueles très estavam unidos em seu ministério por um laço sacro, nüo c provável que houvesse alguns partidos entre os coríntios que estivessem preparados a gloriar-se neles mais que em outros.” •45 •
  • 43. (V. 13] 1 CORÍNTIOS 1 devido lugar; mas é preciso ter sem pre em m ente que a qualificação que pertence a Cristo deve ser m antida intocável, ou, seja, que ele c o n ­ tinuará sendo, não obstante, o único e verdadeiro M estre, e deve ser contem plado com o tal. Por essa razão, o alvo dos bons m inistros é este; servir a Cristo, todos eles de form a idêntica, reivindicando para ele o dom ínio, a autoridade e a glória exclusivos; lutar sob sua bandei­ ra; obedecê-lo acim a de tudo e de todos e subm eter os outros a seu dom ínio. Se alguém se deixa influenciar pela am bição, ele conquista seguidores, sim , não para C risto, m as para si próprio. Portanto, eis aqui a fonte de todos os m ales, eis aqui a m ais danosa de todas as enferm idades, eis aqui a peçonha m ais letal em todas as igrejas: quan­ do os m inistros se devotam m ais a seus próprios interesses do que aos interesses de Cristo. Em sum a, a unidade da Igreja consiste prim ordial­ mente nesta única coisa: que todos nós dependem os unicam ente de Cristo, e que, portanto, os hom ens sejam tidos e perm aneçam em posi­ ção inferior, para que nada venha a prejudicar C risto, um m ínim o se­ quer, em sua posição de preem inência. 13. C risto está dividido? Este mal intolerável provinha das diver­ sas divisões prevalecentes entre os coríntios. Porquanto Cristo é o úni­ co que reina na Igreja. E já que o propósito do evangelho é que seja­ m os reconciliados com D eus por interm édio de C risto, é necessário, antes de tudo, que estejam os todos seguros e unidos nele. Som ente um a pequena parte dos coríntios, mais sábios que os o u tr o s ,c o n ti­ nuava a reconhecer Cristo com o seu M estre, enquanto todos os dem ais se orgulhavam de ser cristãos. E assim Cristo estava sendo feito em pedaços. Pois é m ister que todos sejamos m antidos juntos dele e sob ele com o nossa Cabeça. Pois se viverm os divididos em diversos cor­ pos, tam bém dissolverem os o [corpo] dele. G loriarm o-nos em seu nom e em m eio a desavenças e partidos é rasgá-lo em pedaços. N a verdade, tal coisa não pode ser feita, pois ele jam ais perderá a unidade e a har­ m onia, porque “ele não pode negar a si m esm o" [2Tm 2.13]. Paulo, pois, colocando esta situação absurda diante dos coríntios, se propõe a levá-los a entender que estavam alienados de C risto em razão de suas divisões. Pois Cristo só reina em nosso m eio quando ele constitui os elos que nos ligam a ele num a unidade sacra e inviolável. ” “Mieux avisez que les autrcs." - ‘Melhor avisados do que outros.” • 46 •
  • 44. 1CORÍNTIOS 1 [v. 13] Foi P au lo crucificado p o r vós? M ediante duas poderosas consi­ derações, Paulo m ostra quão v iP é arrebatar a C risto de seu lugar de honra com o única Cabeça da Igreja, único M estre, único Senhor; ou extrair algum a parte da honra que lhe pertence e transferi-la para os hom ens. A prim eira razão é que fom os redim idos por Cristo com base no princípio de que não estam os sob nossa própria jurisdição. Paulo usa este m esm o argum ento em sua Epístola aos Rom anos (14.9], quan­ do diz: “Pois para este fim foi que C risto m orreu e ressuscitou, para que pudesse ser Senhor tanto dos vivos quanto dos m o rto s” Portanto, vivam os para ele e m orram os para ele, porque lhe pertencem os para sempre. N ovam ente nesta m esm a Epístola [7.23], ele escreve: “Fostes com prados por preço; não vos torneis escravos de hom ens.” Portanto, visto que os coríntios haviam sido adquiridos pelo sangue de Cristo, eles estavam, em certo sentido, renunciando as bênçãos da redenção, já que estavam transform ando outras pessoas em seus líderes. Eis aqui uma notável doutrina que merece especial atenção: “que não temos a liberda­ de de pôr-nos sob a sujeição de seres hum anos,'1já que somos herança do Senhor.” Portanto, Paulo aqui acusa os coríntios da mais grave ingra­ tidão, visto que estavam alienando-se desta Cabeça por cujo sangue ha­ viam sido redim idos; contudo, talvez agissem assim inadvertidamente. Além do mais, esta passagem m ilita contra a ím pia invenção dos papistas, a qual usam em apoio de seu sistem a de indulgências. Pois do sangue de C risto e dos m ártires eles engendraram o falso tesouro da Igreja, o qual, ensinam eles, é distribuído pelas indulgências. Assim pretendem que, por sua morte, os m ártires32m eritoriam ente ganharam algo para nós aos olhos de Deus, para que pudéssem os recorrer a essa fonte e obter a rem issão de nossos pecados. Certam ente negarão que os m ártires nos redim em . Todavia, nada é m ais claro do que um fato pro- "Combien c'esl vne ehose insupportable." - '‘Quão insuportável coisa é." " "Addicere nos hominibus in servitutem” - “de nous assuieíiir aux hommes en seruitu- de." - “Entregar-nos a homens, ao ponto de nos tornarmos seus escravos." Calvino mui provavelmente tinha cm mente o celebrado sentimento de Horácio (Epist. i.1.14): “Nullius addkius jurare in verba magistri.” - “Obrigado a jurar fidelidade a nenhum senhor”, en­ quanto impõe o sentimento por uma poderosa consideraçSo, à qual o poeta pagão era total­ mente estranho. 12 “Du sang de Christ. et des martyrs tous enscmble.' - "Do sangue de Cristo e de todos os mártires juntos.” • 47 •
  • 45. [V. 131 1 CORÍNTIOS 1 ceder do outro. É um a questão de poderem os pecadores reconciliar-se com Deus; é um a questão de obterem eles o perdão; é um a questão de fazerem eles expiação pelas ofensas. G loríam -se de que tudo isso é feito em parte pelo sangue de Cristo e em parte pelo sangue dos m árti­ res. Portanto, fazem dos m ártires os participantes de C risto na con­ quista de nossa salvação. Paulo, porém , aqui está negando energica­ m ente que alguém mais, além de Cristo, tenha sido crucificado em nosso favor. D e fato, os m ártires m orreram para nosso benefício, mas (no dizer de Leo)33 foi para dar-nos o exem plo de firm eza, e não para adquirir-nos o dom da justiça. O u fostes batizados em nom e P aulo? Seu segundo argum ento é extraído da profissão do batism o. Pois nos alistam os sob sua bandeira, em cujo nom e som os batizados. D esta form a som os unidos34 a Cristo, em cujo nom e nosso batism o é celebrado. Daqui se segue que os corín- tios podem ser acusados de perfídia e apostasia, caso se rendam em sujeição aos homens. N ote-se aqui que a natureza do batism o é com o um bônus de con­ trato35de m útua obrigação, pois com o o Senhor, por m eio deste sím bo­ lo. nos recebe em sua fam ília, e nos introduz no seio de seu povo, e assim penhoram os nossa fidelidade a ele de que jam ais terem os qual­ quer outro senhor espiritual. Conseqüentem ente, com o D eus, de sua parte, faz um pacto de graça conosco, no qual prom ete a rem issão de pecados e um a nova vida, assim tam bém , de nossa parte, fazem os um voto de em preenderm os guerra espiritual, por m eio da qual lhe prom e­ " Leo. ud Palicstinos. Ep. 81. A passagem supramencionada é cilada livrememe nas Institutos. "Ainda que a morte de muitos santos fosse preciosa aos olhos do Senhor |SI 116 151 contudo nenhum inocente assassinado era a propiciação do mundo. Os justos rece­ biam coroas, porém não as davam; e a fortaleza dos crentes produzia exemplos de p>m en ­ eia não d,ms dejusúça. Pois suas mortes eram para si mesmos; e nenhum deles, ao morrer, pagava a dívida de outro, com a exceç3o de Cristo nosso Senhor, cm quem unicamente todos somos crucificados, iodos mortos, sepultados e ressurretos" Leo, de cujos escritos foi extraída esta admirável passagem, foi um bispo romano que viveu no quinto século, e fot um dos mais eminentes homens de sua cpoca. Ele foi o mais zeloso defensor das doutrinas da graça, em oposição ao pelagianismo e outras heresias. -u "Obligez par serment.” - “Alados por juramento.'' ” “Syngrapha (o termo empregado por Calvino) era um contrato ou vínculo, formalmen­ te endossado entre duas parles, assinado e selado por ambas, e uma cópia dada a cada uma. Cic. Verr. i.36. Dio. xlviii.37. Deriva-se de um termo grego, ouyyP“^ (um instrumento ou obrigação legal). Heródoto. i.48: e Demóstenes, cclxvjíi. 13. • 48 •