Discurso do orador da turma, Mario de Sousa Araujo Filho, concluinte de Engenharia Eletrica, na colacao de grau do CCT-UFPB, realizada em julho de 1975.
1. ,
Senhores Professores homenageados, minhas Senhoras, meus Senhores, Amigos
e Coiegas:
Nos nao estamos aqui para falar das flores. Delas, tanto ja foi
dito e alardeado, qUe ji murcham, e n~m mais lhes sentimos 0 perfume. Nos
'. '( •• #-:1
estamos aqui para falar da terra, do chao em que se planta a civiliza~ao
de urn mundo em crise.
Certamente que, dentre vos, haverao os que, no seu intimo,esta-
rao a se indagar: " sera este momento?" Enos responderemos: ESTE r 0
l'JOMENTO.
E que assim 0 seja, para que a solenidade que vindes presenc;a~
do ha anos, nao se perea definitivamente no vazio dos protocolos, nem se
dilua completamente no terreno das representa~oes. E dificil, e quase im-
possivel, mas e assim que a consciencia quer.
A crise esta no Oriente, esta no Ocidente, esta aqui. Bern dian-
te dos nossos olhos. Crise politica, crise economica, crise social. Crise
de consciencias, crise moral. Sentimo-la no trabalho, na escola, na fami-
lia. Sentimo-la no mundo.
E por que, senhores, estaria a Educa~ao imune a Esses efluvios,
se e ela, sem duvida, tra~o marcante em todas as coisas? Hoje, 0 sistema
educacional vos apresenta mais uma de suas vitorias, e nao convem-"-c_.--a_qui-+_
question~-la. ~ue esta seja a tarefa maior de nossas consciencias. ~o en- ~
tanto, estariamos sendo desleais conosco mesmos, se nao nos mantivessemos
de pes firmes no chao, e elhos bem abertos para a realidade, que a vaida-
de e as aparencias querem, portodos os me;os, ocultar.
Quiso acaso, que fossemos testemunhas vivas desse tempo de cri
se. Ativas oupassivas, testemunhas. Mesmo porque a Historia se faz, cada
vez mais pelas maos de uns poucos, indiferente ao nosso silencio. E 0 re
sultado ai esta: na~oes desenvolvidas, na~oes em desenvolvimento, na~oes
subdesenvolvidas. E, em cada uma delas, as distor~oes gritantes que a es-
trutura gerou.
Nas na~oes ditas desenvolvidas,a abundancia material, 0 poderio
militar, a tecnologia ~ais sofisticada. Paralelamente a essas conquistas,
a coexistencia da discrimina~ao racial, da segrega~ao das minorias,do co~
trole indireto das ideias. E, 0 que e ainda pier, a ansia pela expansao I
do poderio, que se traduz pela agressao, militar ou economica, a povos mi
1ita rme.nte in fe r iore s eeq)no,rn icamen te po bre s .
Nas na~oes em desenvolvimento, nos vamos encontrar 0 mesmo vi-
Nos povos subdesenvolvidos, a luta pela sobrevivencia em meio
aos gigantes.
Mas, qualquer que seja 0 sistema ou situa~ao, 0 crescent~ esma-
gamento da pessoa humana, sutil au ostensivo, sob as mais variadas formas
e cores, e c~~acteristica comum a todos eles.
2. Que especie de desenvolvimento e esset que nao tern 0 Homem como
sua medida? Par desenvolvimentot entendemas a global t 0 conjunto, 0 todo.
o desenvolvimento que concebemos, nao suprime 0 homem, mas 0 promove; nao
o marginaliza,mas 0 integra; nao 0 omite, mas °tern como motivo e motor
da Historia, agente e objeto do progresso.
E a esse aspecto situacional do mundo moderno, que a Educa9aO I
est~ indissoluvelmente ligada. f ela que forma os homens, forjando-lhes 0
carater, permitindo-lhes descobrir e solidificar as proprias convic90es.E
e esse caratert e sao essas convic90es, que erigem as estruturas e modelam
as sociedades.
Neste contexto, a Universidade desempenha papel relevante. Sua
fun9aO nao podera ser, simplesmentet a de formar profissionaist mas tam -
bem a de formar Homens. E quando dizemos " formar Homens ", estamos nos
referindo a forma9ao humanistica, que coloca 0 profissional frente a fren
tet com a fun9aO social do seu trabalho.
No dizer de Josue de Castro: " as universidadest mais do que 0-
ficinas de sabios, devem ser fabricas de Homens. De homens capacitados a
promover a fusao, dos seus valores individuais mais significativos, com as
aspira90es mais profundas da sociedade de que participam. De homens aptos
a resolver a critica circunstanciat da convivencia do homem com 0 proprio
Nos dias de hoje, em uma humanidade crescentemente dependente I
da ciencia e da tecnica. mais do nunea. essaforma~ao~ necessaria. 0 Ho--~
mem nao e urn dado. 0 Homem nao e urn numero. Parece obvio; mas, quantos e
quantost atraves dos tempos,e ate hoje, tern esquecido a extrema sensatez
dessa verdade: estadistas, dirigentes, responsaveis pelos destinos coletl
vos.
Dai ter a universidade, como formadora desses dirigentes, essa
responsabilidade maior: preparar 0 Homem para servir ao Homem. Nas pala -
vras de Roland Corbisier: 1a universidade nao euma redoma, urn comparti -
men to estanque no contexto social, mas parcela de urn todo que a inclui e
a transcendell
•
E esse humanismo, e essa consciencia do social, e essa descober
ta do Homem para 0 Homem, que deve vir da universidade para a vida. 0 Ho-
mem se forma, 0 homem se assume, 0 homem se humaniza, quando pensa, quan-
do criat quando discorda, quando participa.
Aqui estamos. Engenheiros, Economistas, Sociologos, que os anos
de estudo tornaram aptos para suas fun~6es. Que as exer~amos com dignida-
de, de acordo com 0 juramenta que acabamos de proferir. E que essa digni-
dade, seja nos so agradecimento maior.
Tenho dito.
DISCURSO PRONUNCIADO POR MiRIO DE SOUSA ARAUJO FILHO. COMO ORADOR DAS
TURMAS DE ECONOMIA, ENGENHARIA EL~TRICA, ENGENHARIA CIVIL E SOCIOLOGIA,
DO CENTRO DE CIENCIAS E TECNOI,OGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARA!BA.