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A ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS
                                              DO SALVADOR




                                                     ANALICE F. OLIVEIRA *
                                                     (analicefoliveira@hotmail.com)
                                                     LUIS RICARDO A. SILVA **
                                                     (ricardo.bibliotecário@hotmail.com)
                                                     VANDA ANGÉLICA DA CUNHA***
                                                     (avangeli@ufba.br)



RESUMO: Apresenta resultados parciais de pesquisa do projeto de iniciação cientifica Ciranda de leitura: espaços,
(im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social, que tem por universo de estudo os ambientes
tradicionais de leitura em Salvador nas bibliotecas públicas mantidas pelo Governo do Estado da Bahia e pela
Prefeitura Municipal, nas bibliotecas comunitárias como espaços alternativos e o Programa Livro Livre Salvador
Fazendo o Povo Pensar como espaço emergente. Mostra os três eixos que a pesquisa se apóia: necessidade e
importância de se realizar estudo aprofundado sobre teoria e práticas de leitura, o processo da pesquisa Ciranda de
leitura e a ênfase nas bibliotecas comunitárias de Salvador; para compreender o fenômeno da leitura nesses espaços
educativos e culturais, a partir do significado da leitura como instrumento de exercício da cidadania e da
responsabilidade social que cabe às unidades de informação e ao Projeto de Extensão objeto da pesquisa em
andamento.

Palavras-chave: Leitura; pesquisa; espaços de leitura; ecologia da informação.




*
 Graduanda do Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação / UFBA
**
  Graduando do Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação / UFBA
***
    Mestre em Ciência de Informação / UFBA. Graduada em Biblioteconomia e Documentação / UFBA. Orientadora
da Pesquisa.
1 INTRODUÇÃO


       A pesquisa Ciranda de Leitura: espaços (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da
inclusão social investiga o fenômeno da leitura e suas estratégias desenvolvidas nos espaços
tradicionais, neste estudo identificados por seis bibliotecas públicas mantidas pelo Poder Público
Estadual e duas pelo Poder Municipal. Em complemento são incluídos os espaços alternativos
representados por doze bibliotecas comunitárias e uma mantida por fundação de direito privado,
totalizando 21 bibliotecas, ambiente no qual se espera entender de que forma se dá a contribuição
social das práticas de leitura para o acesso e uso da informação, construção de conhecimento,
consciência e exercício da cidadania e inclusão social das pessoas da comunidade nesses
ambientes.
       Uma metodologia apropriada conduz o percurso em busca de cumprir os objetivos
traçados no estudo e destaca aspectos inovadores a exemplo de estímulo à equipe do projeto no
aprofundamento teórico do tema com discussões internas, participação em eventos científicos e
em Grupo de |Pesquisa.
       Neste artigo dá-se ênfase a uma reflexão sobre a ecologia da informação, portanto da
leitura, nas bibliotecas comunitárias em estudo o que possibilita o entendimento da contribuição
que poderá trazer para a pesquisa, conhecer a natureza, fluxo, forma e conteúdo das práticas de
leitura e prováveis impactos nos leitores.


2 DEMANDA POR UMA IMERSÃO CIENTÍFICA NO FENÔMENO DA
LEITURA

       A leitura como prática social é indispensável a todo o indivíduo que busca o direito à
cidadania, sendo seu exercício pressuposto para a formação do hábito de ler por ser um meio de
socialização para o crescimento individual e coletivo. Nesse contexto é indispensável a
participação de instituições e mediadores capazes de viabilizar a leitura para o desenvolvimento
de pessoas e comunidades buscando formar o leitor crítico para o exercício da cidadania, o que
pressupõe ações para desenvolver o letramento.
       Nessa direção, a pesquisa Ciranda de leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na
perspectivas da inclusão social, estuda o fenômeno da leitura como prática social, haja vista a
importância e necessidade de se realizar estudo aprofundado que mostre os fundamentos,
percursos e estratégias que dêem embasamento teórico para uma melhor prática social de leitura.
Entre os fundamentos sobressai a questão do letramento.
       O letramento conforme Magda Soares (1998, p.18) “é uma forma de inserção social do
indivíduo de acordo com o uso competente que ele pode fazer da leitura e da escrita”. No Brasil,
as abordagens sobre o ato de ler, seus problemas e condições de produção ganham espaço em
torno de 1980, determinadas pela abertura política conforme Rangel (2004).
        Para Kleiman (1995), é na metade de 1990 que os estudos sobre letramento começam a
destacar-se com pesquisas que buscavam compreender não só o “impacto social da escrita”, mas
também a inserção dos indivíduos no universo da palavra escrita em que se inscrevem os atos de
ler e escrever.
       Como se observa, a leitura é vista como condição essencial para a cidadania e o acesso às
informações veiculadas nas mais diversas mídias, bem como para o ingresso do indivíduo no
mundo de trabalho. Mas, diante de sua importância, a leitura, em alguns países ainda é prática de
um número muito reduzido de pessoas como ocorre no Brasil.
       Para que haja desenvolvimento de leitura é necessário o gosto pelas histórias infantis,
hábito a ser cultivado pela família. O ensino da leitura e da escrita, portanto o letramento compete
à escola. À biblioteca e demais espaços cabe se manterem envolvidos na questão de leitura
apoiando o trabalho da escola.
       Dentre vários estudos sobre o fenômeno social da leitura destaca-se o Projeto Estação de
Leitura que desenvolveu uma pesquisa cujo escopo é coletar e analisar memórias em narrativas
da comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)/Campus de
Jequié, com o intento de traçar o perfil do leitor regional.
       Conforme Matos e Santos (2006, p.59) “são os relatos de formação que apresentam cenas
que reenviam o ato de ler aos primeiros passos rumo ao mundo da leitura: seus mediadores, suas
condições e o pano de fundo sobre o qual acontece a leitura”. Isso porque segundo as autoras:


                        “ao evocar a infância e as primeiras leituras para relatar uma trajetória, o discurso
                        memorialístico põe em tela questões dignas de atenção: os motivos do leitor; os
                        indicadores de leitura, o horizonte cultural do leitor, suas condições de leitura e suas
                        práticas, os conceitos de leitura e os pré-conceitos a propósito do ato de ler, os
                        reconhecimentos e estranhamentos diante de um livro e a emancipação do leitor”.
                        (MATOS; SANTOS, 2006, p.63).
Diante desta realidade, essa pesquisa confirmou a idéia de que, para a constituição do
leitor, é de fundamental relevância a participação do “outro”, ou seja, a família, a escola e demais
espaços envolvidos no ensino e prática da leitura, que devem desenvolver atividades que
promovam, apóiem e conduzam à ação e reflexão do indivíduo, transformando-o em leitor.
       Neste sentido, Leite e Oliveira (2004 apud MATOS, SANTOS 2006, p. 63) aponta que
“Ler não é um ato natural do ser humano, mas sim, uma prática social e, visto desse modo, sua
aprendizagem não pode ocorrer sem a mediação do Outro Social”.
       Nesta perspectiva as formulações teóricas da psicologia e da sociologia afirmam que o
processo de leitura significa investigar as condições intrínsecas e extrínsecas de seu
desenvolvimento, com o foco no sujeito enquanto persona individual e social.
       Considerando esses dois pólos da questão – o individual e o social – para tornar-se leitor,
o sujeito precisa sair do pensamento mítico/público para o individual/privado, o que corresponde
à passagem da cultura oral para a escrita. E compreender esse processo é a tarefa da
psicossociologia da leitura segundo Aguiar (2006, p.39).
       Para Lajolo (2004, p. 107), a formação também se amplia do individual para o coletivo,
pois “a história da literatura de um povo é a história das leituras de que foram objetos os livros
que integram o corpus dessa literatura”. Ou seja, o individuo torna-se leitor na medida em que
“vive” a história de suas leituras.
       Os autores, Paulo Freire e Jorge Larrosa também são unânimes ao afirmar que é
necessária a interação do leitor em contextos diversos de leitura para sua formação. Porque para o
primeiro, a leitura tem um sentido revolucionário e para o segundo, o ato de leitura é parte do
processo formador dos sujeitos, pois “a leitura [...] tem a ver com aquilo que nos faz ser o que
somos” (LARROSA, 2002, p. 134), alertando que considerá-la como formação é pensá-la “como
algo que nos forma (ou nos de-forma e nos trans-forma)” (ibid, 2002, p. 133).


3 CIRANDA DE LEITURA: ESPAÇOS, (IM)PACTOS, DESEJOS E
CARÊNCIAS NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO SOCIAL: O PROCESSO
DA PESQUISA

       A pesquisa em andamento Ciranda de Leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na
perspectiva da inclusão social se propõe a conhecer a realidade de estratégias de leitura e seus
resultados, nas bibliotecas objeto do estudo buscando verificar as semelhanças ou diferenças de
estratégias de leitura nesses espaços e quais os benefícios reconhecidos pelos leitores.
       Um terceiro espaço que se pretende estudar é o Programa Livro Livre Salvador Fazendo o
Povo Pensar, levando livros e ações de leitura em bairros centrais, populares e periféricos de
Salvador. É de iniciativa da UFBA através do Instituto de Ciência da Informação (CUNHA,
2008). No entanto percebemos que até o momento não oferece condições de avaliação por ser
uma experiência recente, com apenas catorze meses, que se desenvolve em locais diversificados
de público e infra-estrutura e haver a ausência de dados quantitativos e qualitativos sobre a leitura
promovida nessas ações. Mas se constitui um espaço interessante de observação.
       A primeira etapa da pesquisa se deu com as bibliotecas públicas, sendo iniciada na
Biblioteca da Fundação João Fernandes da Cunha, onde foi realizada a observação in loco no
Setor Circulante, para verificar o comportamento dos leitores na preferência de títulos do acervo,
autonomia no acesso ou busca de mediador na indicação e decisão pela leitura.
       A segunda etapa focaliza as bibliotecas comunitárias devido à necessidade de conhecer
mais de perto estes espaços, suas práticas de leitura, estratégias utilizadas pelos mediadores,
como também registrar sua contribuição social para a cidadania e a inclusão social.
       Do universo de doze bibliotecas comunitárias, sete já foram visitadas, no período de
janeiro a maio de 2009, com o objetivo de conhecer seus ambientes, interagir com os mediadores
de leitura e registrar as estratégias utilizadas pelas bibliotecas como meio de socialização e
integração da comunidade a esses ambientes.
       O procedimento da observação in loco até o momento se deu em apenas três das sete
bibliotecas visitadas, considerando que as demais estavam sem condições de atender aos usuários
por questões de estrutura, dificuldade econômica e financeira para manter os espaços
funcionando. Outro ponto foi a coincidência de horários de trabalho e estudo dos responsáveis
por essas bibliotecas, assim como a ausência de voluntários para substituí-los.
       Desse modo a observação se deu na Biblioteca Comunitária do Calabar, Biblioteca Paulo
Freire e Biblioteca Comunitária Sete de Abril. No formulário de observação aplicado,
destacaram-se os seguintes aspectos: gênero, categoria (criança, jovem, adulto e idoso),
comportamento do usuário no local (com as opções de espera, busca atendimento, vai ás
estantes).
A metodologia da pesquisa se caracteriza como exploratória para a melhor aproximação e
conhecimento do objeto de estudo. É de natureza aplicada vez que busca propor intervenção que
mude a realidade encontrada. Busca entender como se processa a leitura no universo de estudo, se
às estratégias de mediação de leitura usadas nos espaços sob observação contribuem para elevar o
número de leitores e a qualidade de leitura como lazer, construção do conhecimento, consciência
de cidadania e inserção social.
       A metodologia é norteada por revisão de literatura, estudo de campo com utilização de
instrumentos de pesquisa que viabilizem a análise das entrevistas com os mediadores de leitura e
análise dos discursos dos leitores das bibliotecas comunitárias.


BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO CALABAR


       A Biblioteca Comunitária do Calabar foi inaugurada em 22 de abril de 2006, criada pelo
Grupo Jovens em Ação em parceria com a ONG Avante Educação e Mobilização Social, a
Sociedade Beneficente e Recreativa do Calabar - SBRC e o Instituto C&A. Essas parcerias
apóiam os componentes do Grupo Jovens em Ação na mediação de leitura.
       Além disso, a biblioteca recebe recursos para manutenção e funcionamento garantindo
uma estrutura adequada às necessidades dos leitores, proporcionando conforto, segurança,
cultura, lazer, bem-estar, e inclusão social da comunidade.
       Assim, a Biblioteca Comunitária do Calabar tornou-se um espaço de fomento à leitura e à
escrita, de acesso à informação e ao conhecimento. Seu acervo consta de seis mil e quinhentos
livros catalogados, sendo a maior parte doada pela comunidade local, e possui uma média mensal
de empréstimo de 100 livros, fomentando uma rotina de atividades de incentivo à leitura na
biblioteca, nas escolas e na creche do bairro.


BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PAULO FREIRE (SOFIA CENTRO DE
ESTUDOS)

       A Biblioteca Comunitária Paulo Freire (Sofia Centro de Estudos), localizada no bairro de
Escada, foi criada em 2 maio em 2001. O espaço é uma chácara que pertence ao belga Jan Karel
Maria Van Mol. O acervo da instituição é composto por livros de literatura brasileira, literatura
estrangeira, dicionários, enciclopédias, biografias, periódicos e livros infanto-juvenis, estes
renovados periodicamente em um Baú de Leitura para despertar o interesse dos leitores. No
momento, uma das metas da biblioteca é a implantação do Setor Infantil. Para manter suas
atividades a biblioteca conta com o financiamento de projetos do Ministério da Educação e outros
órgãos.


BIBLIOTECA COMUNITÁRIA SETE DE ABRIL (ASSOCIAÇÃO CULTURAL
UGO MEREGALI)

          A Biblioteca Sete de Abril está localizada no bairro Sete de Abril, e foi criada em 27 de
julho de 2002. Funciona em tempo integral, com apoio de quatro voluntárias da própria
comunidade e conta também com uma aluna do Curso de Letras, bolsista do Programa
Permanecer da Universidade Federal da Bahia.
          O espaço foi cedido pela Igreja Católica da comunidade que arca com as despesas da
biblioteca desde sua criação. Atualmente a responsável pela biblioteca ganhou um terreno
próximo à escola e creche para a construção da nova biblioteca.
          Em relação ao acervo é composto de literatura brasileira, livros infanto-juvenis e
didáticos. A Fundação Pedro Calmon foi a responsável pela doação da maior parte do acervo. A
biblioteca possui alguns computadores recebidos como doação, mas precisam de manutenção
para funcionar. As mesas e cadeiras são adequadas para as crianças. As estantes adaptadas para
os livros infantis, porém, percebe-se a necessidade de esteiras com almofadas, para as crianças
ficarem integradas ao ambiente infantil.


4 A ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS
COMUNITÁRIAS

          Ao reconhecer a importância histórica das bibliotecas comunitárias como ambientes
alternativos de inclusão social e formação cidadã através da leitura, assim como sua função no
desenvolvimento de comunidades ativas por meio da informação e do saber coletivo, buscamos,
neste sentido, um maior enfoque no estudo da temática para a construção de um referencial
teórico fazendo uma prospecção nessas bibliotecas ainda carentes de uma base de teoria que
explique sua natureza, missão, funções e a ecologia da informação que elas representam.
Nesta abordagem da ecologia da informação, a biblioteca é vista como um ambiente que
favorece as relações que envolvem o fluxo da informação. Os ambientes se apresentam inter-
relacionados à própria sociedade na qual pertence, e por isso, livres dos antigos “muros”, de
restrições e dominação social de antigas políticas de caráter elitista.
       Assim, é a própria sociedade local que admite suas relações, sentidos e necessidades,
reconhecendo ainda a possibilidade da participação de agentes internos e externos para que esses
ambientes de informação continuem se adaptando às novas realidades sociais, cumprindo assim
sua função de transmissão do conhecimento.
       Ribeiro e Prado (2006, p.3 apud WERSING, NEVELING, 1975, p. 134) retomam a idéia
de que as práticas da pesquisa científica nos dias de hoje devem estar pautadas em alguma
necessidade social. Desse modo, a transmissão de conhecimento nestes ambientes é também uma
responsabilidade social, e assim sendo deve ser analisada pela Ciência da Informação.
       Para o melhor entendimento da questão, previamente, vamos revelar um apanhado da
revisão de literatura sobre as bibliotecas comunitárias brasileiras na perspectiva da Ciência da
Informação e em seguida discutiremos o tema no contexto da atual sociedade brasileira,
enfocando as bibliotecas comunitárias na Cidade do Salvador.
       Analisar o fenômeno das bibliotecas comunitárias no Brasil sempre foi algo desafiador e
complexo para os pesquisadores da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, considerando a
escassez de documentos sobre o tema, e o tipo de abordagem do pesquisador e principalmente do
profissional bibliotecário, ao visualizar seu campo de pesquisa e ação profissional restritos apenas
aos espaços tradicionais de informação, “entre muros”, ignorando outros espaços alternativos de
inclusão pelo conhecimento na Sociedade da Informação e da Aprendizagem.
       Entre os estudos mais importantes na literatura brasileira sobre a temática da biblioteca
comunitária destacamos Ribeiro e Prado (2006) e Prado e Machado (2008). Ambos enfatizam a
biblioteca comunitária como um espaço singular para o desenvolvimento da educação por meio
de ações sócio-culturais para uma formação cidadã prática, mediada pelo uso e produção da
informação pela comunidade local, direcionando os participantes da mesma a uma construção
crítica de sua identidade individual e coletiva.
       Mas escolhemos direcionar como estudo inicial para formulação do que hoje
relacionamos como biblioteca comunitária, o artigo de Rabello (1987), que ainda se utilizando da
terminologia da época – biblioteca popular – colocou-se de maneira singular em sinalizar a
formulação histórica desta comunidade informacional alternativa na concepção da sociedade
brasileira.
        Esse fenômeno não se deu de maneira límpida, mas é produto das relações dialéticas entre
o Estado e a sociedade, nos períodos de 1930 até meados dos anos 1980, onde o tema passa a ser
enraizado e notada a existência desse espaço de informação, identificando dessa maneira sua
criação pela comunidade local, assim como sua importância e características próprias que a
diferenciavam de outros espaços, como a biblioteca pública e a biblioteca escolar.
        O termo biblioteca popular é utilizado na literatura estrangeira por autores que
denominam as bibliotecas públicas que atuam junto à comunidade (PRADO e MACHADO;
2008), diferenciando-se da abordagem de Rabello que descreve em seu estudo como foi
internalizada a biblioteca comunitária no Brasil, revelando que a mesma é produto de uma
atuação ausente do Estado na formulação de políticas públicas no atendimento das necessidades
básicas da população. Uma população que se agregava de maneira desordenada nas periferias das
grandes metrópoles do país, em espaços quase sempre desprovidos de qualquer assistência social
pregada pela corrente liberal, e pelo desenvolvimento econômico implantado aos moldes
estrangeiros que se instaurava no país no período supracitado.
        Nesse contexto, o Estado construiu um modelo de biblioteca pública pautado na ideologia,
que pregava “o acesso livre a informação a todos os cidadãos” mas que se apresentava de
maneira contraditória quando promovia a construção de unidades de informação em áreas nobres,
em locais distantes das massas, dificultando dessa maneira o acesso à biblioteca pública pela
população menos favorecida.
        Este modelo não se adaptou à nossa realidade social, pois a maior parte da população era
de pessoas analfabetas, sem uma formação educacional básica, ficando quase sempre no ponto
inferior da pirâmide pública, na dependência extrema desse sistema democrático, que não
disponibilizava acesso pleno aos direitos humanos básicos como: educação, moradia, saúde,
segurança e qualidade de vida. Direitos como estes eram reservados apenas à elite, excluindo
dessa maneira a classe social menos favorecida. No entanto, a maior exclusão ainda era a do
acesso à informação e ao conhecimento.
        Neste sentido Rabello comenta (1987, p. 26) que “Cresceu a demanda à biblioteca, mas
somente por um grupo detentor do poder econômico. […] A educação destinava-se a uma elite e
a biblioteca seguiu a mesma tendência”; e relata ainda que pouco se fez para mudar essa
concepção até o início da década de 1980, demonstrando dessa maneira uma clara separação
entre a biblioteca pública e sociedade.
       A autora aponta ainda, que foi no final dos anos 1970, na insurgência de diversos
movimentos populares de reivindicação e restituição dos direitos democráticos, que as primeiras
“bibliotecas comunitárias” surgiram como espaços sócio-democráticos na promoção e inclusão
informacional de uma população excluída culturalmente.
       Com o intuito de esclarecer a natureza da biblioteca comunitária, assim como os aspectos
essenciais para não haver confusão na utilização da terminologia, a autora aponta algumas
características desses espaços alternativos de informação, (RABELLO, p.32):


                   surge exatamente como alternativa a biblioteca, que nunca chegou ao povo;
                   trata-se de uma proposta de uma biblioteca de “baixo para cima”;
                   é ligada a uma comunidade determinada;
                   origina-se a partir da consciência desse grupo da necessidade de informação a
                   ser fornecida pela biblioteca;
                   não pode ser uma dádiva de poderes públicos, políticos, nem mesmo de
                   educadores, mas sim da vontade de um grupo de resolver problemas de
                   interesse coletivos;
                   deve estar sob a coordenação de alguém com experiência de trabalho social ou
                   animação cultural.


       É certo que algumas das concepções acima sobre as bibliotecas comunitárias foram
reformuladas de maneira relevante, pois o contexto citado remete ao final da década de 1980
onde o tema estava em constante mudança devido às novas expressões sociais e políticas da
sociedade brasileira.
       No cenário atual, a biblioteca comunitária pode ser entendida como um ambiente
informacional criado com a participação ativa de pessoas de uma comunidade local, com o
sentido de desenvolver ações sócio-educativas de inclusão social pela leitura, alfabetização,
informática, atividades de recreação, lazer, formação cultural e cidadania.
       A colaboração de entidades das esferas públicas e privadas, assim como do terceiro setor
são importantes para a manutenção desses espaços, desde que a essência das atividades
desenvolvidas sejam discutidas e construídas democraticamente com a comunidade local, sem
imposição e troca de favores por ambas as partes.
       Como se vê o tema é relevante e essa é a razão da pesquisa Ciranda de leitura: espaços,
(im)pactos, desejos e carências na perspectivas da inclusão social estudar o assunto para propor
intervenção como suporte teórico.


4.1 ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS
DE SALVADOR

       Ao entrarmos no universo da biblioteca comunitária percebemos a real possibilidade de
novas leituras do mundo em que vivemos. A identidade social do leitor que interage com a sua
comunidade e que dela participa ultrapassa qualquer barreira que o prenda a antigos laços de
exclusão social. Os “muros” que impedem o acesso à informação nesse contexto se transformam
em degraus para outras realidades que o leitor há de descobrir e transformar na medida em que o
mesmo busque agir coletivamente.
       É oportuno relatar que não é somente desses espaços a responsabilidade de, a partir da
problemática vivenciada transformar a realidade mas entendemos que esses exemplos são
consideráveis no apoio a formação crítica de leitores dentro de suas comunidades, e que sem
esses ambientes, pouco é feito pelos órgãos públicos para modificar essa carência de formação de
leitores nesses bairros.
       As bibliotecas comunitárias de Salvador analisadas neste estudo desenvolvem diversas
ações para modificar o quadro histórico de uma educação fragilizada pela falta de leitura, dentre
outras carências.


BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO CALABAR


       As estratégias desenvolvidas são contação de histórias, dramatização, teatro de bonecos,
exibição de filmes infantis, leitura de contos, poesias e outras manifestações culturais.
       Em relação à observação in loco, constatou-se que o público alvo da biblioteca é de
crianças, adolescentes, jovens e adultos, que utilizam o espaço para leitura de livros infantis,
literatura em geral, revistas, jornais, desenhos, pinturas, leitura de imagens (filmes), peças
teatrais, pesquisa para trabalhos escolares além de oferecer empréstimo de livros.
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PAULO FREIRE (SOFIA CENTRO DE
ESTUDOS)

       Para atrair os leitores à biblioteca são desenvolvidas algumas estratégias de leitura como a
hora do conto, clube de leitura e programação anual que envolvem as crianças da comunidade,
das escolas e da creche.
       A hora do conto é uma atividade do Programa Virando a Página realizada quinzenalmente
com a finalidade de estimular crianças a ler, escrever, escutar e expressar-se tendo por objetivos:
incentivar o hábito da leitura a partir da contação de história, realizar leituras coletivas,
proporcionar integração dos usuários, incentivar a escrita e o diálogo e aproximar o livro da vida
das crianças.
       O Clube da Leitura é uma estratégia direcionada aos adolescentes. O programa anual para
2009 da biblioteca consta de onze blocos sendo distribuídos da seguinte forma:
       Bloco I - Leitura e Arte nas férias, que acontece nos meses de janeiro e fevereiro. As
atividades desenvolvidas são brincando com as cores, carnaval da bicharada e as brincadeiras
corrida de limão, cantigas de roda, rabo do burro, três - três passarão, boca de forno, dança das
cadeiras entre outras.
       Bloco II - Poesia e Literatura. Acontece no mês de março e enfatiza a leitura de poesias de
Maria da Graça Almeida e José Paulo Paes.
       Bloco III - O mundo de fantasias de Monteiro Lobato que ocorre no mês abril em
comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil e aniversário de Monteiro Lobato com conto das
Histórias de Monteiro Lobato e como atividade a Visita ao Mundo Encantado do “Sítio do Pica-
Pau Amarelo”.
       Bloco IV - Aniversário do Sofia tendo por objetivo comemorar o aniversário da
Biblioteca Paulo Freire (Sofia Centro de Estudos) que acontece em maio. Tem como atividades a
leitura de literatura infantil, exibição de filmes infantis e pinturas dos clássicos.
       Bloco V - Educação Ambiental, desenvolve-se no mês de junho com atividades relativas
ao tema.
       Bloco VI - Quer ser meu amigo? Busca incentivar a amizade e solidariedade entre as
crianças e difundir esse sentimento como um valor a ser cultivado. Acontece no mês de julho.
Bloco VII - Folclore e Literatura, acontece em agosto e busca valorizar a cultura popular
brasileira e tem como atividade a leitura das lendas populares.
       Bloco VIII - Primavera Literária, ocorre em setembro e tem como objetivos incentivar a
preservação do meio ambiente, estimular o respeito às diferenças. As atividades são a leitura do
livro “O Patinho feio” e a leitura do livro “A Floresta Poluída” de Maria Auxiliadora Moreira
Duarte.
       Bloco IX - Semana da Criança tem como objetivos comemorar o Dia das Crianças, o Dia
Nacional da Leitura, incentivar a práticas de higiene, divulgar os direitos das crianças e estimular
a leitura de obras clássicas. As atividades são: leitura de “O Menino Maluquinho e o Estatuto da
Criança e do Adolescente”, leitura coletiva, construção de brinquedos criativos e leitura de livros
da coleção “Cuidando do Corpo”, de Gina Borges.
       Bloco X - Cultura Afro e Literatura comemorando o Dia Nacional da Consciência Negra e
difundir a literatura de matriz africana. Acontece em novembro e tem como atividades leitura de
contos africanos e oficina de percussão.
       Bloco XI - Clássicos Natalinos. Tem como objetivos celebrar o espírito natalino através
do estímulo à amizade e a solidariedade e incentivar a leitura de livros religiosos. As atividades
são leituras de contos bíblicos e peça teatral do Nascimento de Jesus.


BIBLIOTECA COMUNITÁRIA SETE DE ABRIL (ASSOCIAÇÃO CULTURAL
UGO MEREGALI)

       As estratégias de leitura da biblioteca incluem o Projeto de Leitura nas Férias, atividades
de teatro de bonecos, contação de histórias, leitura de poesias, poemas e contos e outras
atividades.
       De acordo com a observação in loco a predominância é de crianças em fase escolar que
utilizam o espaço da biblioteca principalmente para trabalhos solicitados pelos professores o que
demonstra a deficiência ou ausência de bibliotecas escolares. Em relação aos adultos, geralmente,
são mães que estudam à noite e utilizam o espaço para consulta e empréstimo de livros de
literatura e outros assuntos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


       As bibliotecas comunitárias, como parte integrante da rede social pela leitura, merecem,
por parte do pesquisador e do profissional bibliotecário, um enfoque diferencial de observação e,
para isso, analisamos a temática desses ambientes na perspectiva da teoria da ecologia da
informação desenvolvida por Davenport (1998), na qual o autor apresenta um modelo holístico,
em que todas as partes do ambiente são analisadas e relacionadas tendo em vista a gestão e
mediação de informação nos moldes da realidade da comunidade.
       Em uma abordagem da ecologia da informação nos ambientes das bibliotecas
comunitárias devem-se considerar os diversos tipos de informação que circulam nesses ambientes
e reconhecer que estes sofrem influências de fatores internos e externos, e que necessitam de
mudanças e inovações contínuas para manter a integração social. Neste sentido, a ênfase no
comportamento pessoal e coletivo é um dos fatores essenciais para o sucesso de ações e
estratégias desenvolvidas para a coletividade.
       Nessa direção, a pesquisa Ciranda de Leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na
perspectiva da inclusão social, com base no aprofundamento teórico e no estudo de campo,
verifica as formas e o fluxo da leitura, o impacto desse processo sobre os leitores nas bibliotecas,
mostrando pelos resultados parciais da pesquisa, a importância destes espaços para a sociedade,
para propor, se necessário, uma intervenção que conduza a uma prática mais afinada com o
acesso e uso da informação e a leitura como forma de desenvolvimento individual e da
coletividade na direção da inclusão social.
REFERÊNCIAS

AGUIAR. Vera Teixeira de. Notas para uma psicossociologia da leitura. In: TURCHI, Maria Z.;
SILVA, Vera M.T. (Orgs.). Leitor formado, leitor em formação: leitura literária em questão.
São Paulo: Cultura Acadêmica. 2006, p. 39.

CUNHA, Vanda Angélica da. Ciranda de leitura: espaços (im)pactos, desejos e carências na
perspectiva da inclusão social. Projeto de Pesquisa aprovado pelo Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Cientifica – PIBIC. Não publicado, 2008.

DAVENPORT, Thomas H; PRUSAK, Laurence. Ecologia da informação: por que só a
tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. Tradução Bernadette Siqueira Abrão.
São Paulo: Futura, 1998. 316p.

KLEIMAN, Ângela (Org.). Os significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995.

LAJOLO, M. Tecendo a leitura. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 2. ed. São
Paulo: Ática, 2004. p. 104-107.

LARROSA, J. Literatura, experiência e formação. In: COSTA, M.V.(Org). Caminhos
investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p.
133-160.

MATOS, Maria Afonsina Ferreira; SANTOS, Nayara Rute da Paixão. Do prazer ao saber:
memórias de leitura na comunidade acadêmica da UESB/ Campus de Jequié. In: TURCHI, Maria
Z.; SILVA, Vera M.T. (Orgs.) Leitor formado, leitor em formação: leitura literária em questão.
São Paulo: Cultura Acadêmica. 2006, p 63.

PRADO, Geraldo Moreira; MACHADO, Elisa Campos. Território de memória: fundamento para
a caracterização da biblioteca comunitária. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9., 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 1994.
Comunicação oral apresentada ao GT-03 - Mediação, Circulação e Uso da Informação.
Disponível em: <http://www.enancib2008.com.br >. Acesso em: 26 abr. 2009.

RABELLO, Odília Clark Peres. Da biblioteca pública à biblioteca popular: análise das
contradições de uma trajetória. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p. 19-42,
mar. 1987.

RANGEL, J. N. M. As práticas de leitura na escola. Leitura: teoria e prática. São Paulo: ALB ,
Global, 2004.

RIBEIRO, Diego Lemos; PRADO, Geraldo Moreira. O cenário da dinâmica pragmática da
informação: a biblioteca comunitária. Disponível em:<http://www.portalppgci.marilia.une.
php?id=249>. Acesso em 28 fev. 2009.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. p.
18-25.

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Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador

  • 1. IX CINFORM A ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS DO SALVADOR ANALICE F. OLIVEIRA * (analicefoliveira@hotmail.com) LUIS RICARDO A. SILVA ** (ricardo.bibliotecário@hotmail.com) VANDA ANGÉLICA DA CUNHA*** (avangeli@ufba.br) RESUMO: Apresenta resultados parciais de pesquisa do projeto de iniciação cientifica Ciranda de leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social, que tem por universo de estudo os ambientes tradicionais de leitura em Salvador nas bibliotecas públicas mantidas pelo Governo do Estado da Bahia e pela Prefeitura Municipal, nas bibliotecas comunitárias como espaços alternativos e o Programa Livro Livre Salvador Fazendo o Povo Pensar como espaço emergente. Mostra os três eixos que a pesquisa se apóia: necessidade e importância de se realizar estudo aprofundado sobre teoria e práticas de leitura, o processo da pesquisa Ciranda de leitura e a ênfase nas bibliotecas comunitárias de Salvador; para compreender o fenômeno da leitura nesses espaços educativos e culturais, a partir do significado da leitura como instrumento de exercício da cidadania e da responsabilidade social que cabe às unidades de informação e ao Projeto de Extensão objeto da pesquisa em andamento. Palavras-chave: Leitura; pesquisa; espaços de leitura; ecologia da informação. * Graduanda do Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação / UFBA ** Graduando do Curso de Biblioteconomia e Documentação do Instituto de Ciência da Informação / UFBA *** Mestre em Ciência de Informação / UFBA. Graduada em Biblioteconomia e Documentação / UFBA. Orientadora da Pesquisa.
  • 2. 1 INTRODUÇÃO A pesquisa Ciranda de Leitura: espaços (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social investiga o fenômeno da leitura e suas estratégias desenvolvidas nos espaços tradicionais, neste estudo identificados por seis bibliotecas públicas mantidas pelo Poder Público Estadual e duas pelo Poder Municipal. Em complemento são incluídos os espaços alternativos representados por doze bibliotecas comunitárias e uma mantida por fundação de direito privado, totalizando 21 bibliotecas, ambiente no qual se espera entender de que forma se dá a contribuição social das práticas de leitura para o acesso e uso da informação, construção de conhecimento, consciência e exercício da cidadania e inclusão social das pessoas da comunidade nesses ambientes. Uma metodologia apropriada conduz o percurso em busca de cumprir os objetivos traçados no estudo e destaca aspectos inovadores a exemplo de estímulo à equipe do projeto no aprofundamento teórico do tema com discussões internas, participação em eventos científicos e em Grupo de |Pesquisa. Neste artigo dá-se ênfase a uma reflexão sobre a ecologia da informação, portanto da leitura, nas bibliotecas comunitárias em estudo o que possibilita o entendimento da contribuição que poderá trazer para a pesquisa, conhecer a natureza, fluxo, forma e conteúdo das práticas de leitura e prováveis impactos nos leitores. 2 DEMANDA POR UMA IMERSÃO CIENTÍFICA NO FENÔMENO DA LEITURA A leitura como prática social é indispensável a todo o indivíduo que busca o direito à cidadania, sendo seu exercício pressuposto para a formação do hábito de ler por ser um meio de socialização para o crescimento individual e coletivo. Nesse contexto é indispensável a participação de instituições e mediadores capazes de viabilizar a leitura para o desenvolvimento de pessoas e comunidades buscando formar o leitor crítico para o exercício da cidadania, o que pressupõe ações para desenvolver o letramento. Nessa direção, a pesquisa Ciranda de leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na perspectivas da inclusão social, estuda o fenômeno da leitura como prática social, haja vista a
  • 3. importância e necessidade de se realizar estudo aprofundado que mostre os fundamentos, percursos e estratégias que dêem embasamento teórico para uma melhor prática social de leitura. Entre os fundamentos sobressai a questão do letramento. O letramento conforme Magda Soares (1998, p.18) “é uma forma de inserção social do indivíduo de acordo com o uso competente que ele pode fazer da leitura e da escrita”. No Brasil, as abordagens sobre o ato de ler, seus problemas e condições de produção ganham espaço em torno de 1980, determinadas pela abertura política conforme Rangel (2004). Para Kleiman (1995), é na metade de 1990 que os estudos sobre letramento começam a destacar-se com pesquisas que buscavam compreender não só o “impacto social da escrita”, mas também a inserção dos indivíduos no universo da palavra escrita em que se inscrevem os atos de ler e escrever. Como se observa, a leitura é vista como condição essencial para a cidadania e o acesso às informações veiculadas nas mais diversas mídias, bem como para o ingresso do indivíduo no mundo de trabalho. Mas, diante de sua importância, a leitura, em alguns países ainda é prática de um número muito reduzido de pessoas como ocorre no Brasil. Para que haja desenvolvimento de leitura é necessário o gosto pelas histórias infantis, hábito a ser cultivado pela família. O ensino da leitura e da escrita, portanto o letramento compete à escola. À biblioteca e demais espaços cabe se manterem envolvidos na questão de leitura apoiando o trabalho da escola. Dentre vários estudos sobre o fenômeno social da leitura destaca-se o Projeto Estação de Leitura que desenvolveu uma pesquisa cujo escopo é coletar e analisar memórias em narrativas da comunidade acadêmica da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)/Campus de Jequié, com o intento de traçar o perfil do leitor regional. Conforme Matos e Santos (2006, p.59) “são os relatos de formação que apresentam cenas que reenviam o ato de ler aos primeiros passos rumo ao mundo da leitura: seus mediadores, suas condições e o pano de fundo sobre o qual acontece a leitura”. Isso porque segundo as autoras: “ao evocar a infância e as primeiras leituras para relatar uma trajetória, o discurso memorialístico põe em tela questões dignas de atenção: os motivos do leitor; os indicadores de leitura, o horizonte cultural do leitor, suas condições de leitura e suas práticas, os conceitos de leitura e os pré-conceitos a propósito do ato de ler, os reconhecimentos e estranhamentos diante de um livro e a emancipação do leitor”. (MATOS; SANTOS, 2006, p.63).
  • 4. Diante desta realidade, essa pesquisa confirmou a idéia de que, para a constituição do leitor, é de fundamental relevância a participação do “outro”, ou seja, a família, a escola e demais espaços envolvidos no ensino e prática da leitura, que devem desenvolver atividades que promovam, apóiem e conduzam à ação e reflexão do indivíduo, transformando-o em leitor. Neste sentido, Leite e Oliveira (2004 apud MATOS, SANTOS 2006, p. 63) aponta que “Ler não é um ato natural do ser humano, mas sim, uma prática social e, visto desse modo, sua aprendizagem não pode ocorrer sem a mediação do Outro Social”. Nesta perspectiva as formulações teóricas da psicologia e da sociologia afirmam que o processo de leitura significa investigar as condições intrínsecas e extrínsecas de seu desenvolvimento, com o foco no sujeito enquanto persona individual e social. Considerando esses dois pólos da questão – o individual e o social – para tornar-se leitor, o sujeito precisa sair do pensamento mítico/público para o individual/privado, o que corresponde à passagem da cultura oral para a escrita. E compreender esse processo é a tarefa da psicossociologia da leitura segundo Aguiar (2006, p.39). Para Lajolo (2004, p. 107), a formação também se amplia do individual para o coletivo, pois “a história da literatura de um povo é a história das leituras de que foram objetos os livros que integram o corpus dessa literatura”. Ou seja, o individuo torna-se leitor na medida em que “vive” a história de suas leituras. Os autores, Paulo Freire e Jorge Larrosa também são unânimes ao afirmar que é necessária a interação do leitor em contextos diversos de leitura para sua formação. Porque para o primeiro, a leitura tem um sentido revolucionário e para o segundo, o ato de leitura é parte do processo formador dos sujeitos, pois “a leitura [...] tem a ver com aquilo que nos faz ser o que somos” (LARROSA, 2002, p. 134), alertando que considerá-la como formação é pensá-la “como algo que nos forma (ou nos de-forma e nos trans-forma)” (ibid, 2002, p. 133). 3 CIRANDA DE LEITURA: ESPAÇOS, (IM)PACTOS, DESEJOS E CARÊNCIAS NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO SOCIAL: O PROCESSO DA PESQUISA A pesquisa em andamento Ciranda de Leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social se propõe a conhecer a realidade de estratégias de leitura e seus
  • 5. resultados, nas bibliotecas objeto do estudo buscando verificar as semelhanças ou diferenças de estratégias de leitura nesses espaços e quais os benefícios reconhecidos pelos leitores. Um terceiro espaço que se pretende estudar é o Programa Livro Livre Salvador Fazendo o Povo Pensar, levando livros e ações de leitura em bairros centrais, populares e periféricos de Salvador. É de iniciativa da UFBA através do Instituto de Ciência da Informação (CUNHA, 2008). No entanto percebemos que até o momento não oferece condições de avaliação por ser uma experiência recente, com apenas catorze meses, que se desenvolve em locais diversificados de público e infra-estrutura e haver a ausência de dados quantitativos e qualitativos sobre a leitura promovida nessas ações. Mas se constitui um espaço interessante de observação. A primeira etapa da pesquisa se deu com as bibliotecas públicas, sendo iniciada na Biblioteca da Fundação João Fernandes da Cunha, onde foi realizada a observação in loco no Setor Circulante, para verificar o comportamento dos leitores na preferência de títulos do acervo, autonomia no acesso ou busca de mediador na indicação e decisão pela leitura. A segunda etapa focaliza as bibliotecas comunitárias devido à necessidade de conhecer mais de perto estes espaços, suas práticas de leitura, estratégias utilizadas pelos mediadores, como também registrar sua contribuição social para a cidadania e a inclusão social. Do universo de doze bibliotecas comunitárias, sete já foram visitadas, no período de janeiro a maio de 2009, com o objetivo de conhecer seus ambientes, interagir com os mediadores de leitura e registrar as estratégias utilizadas pelas bibliotecas como meio de socialização e integração da comunidade a esses ambientes. O procedimento da observação in loco até o momento se deu em apenas três das sete bibliotecas visitadas, considerando que as demais estavam sem condições de atender aos usuários por questões de estrutura, dificuldade econômica e financeira para manter os espaços funcionando. Outro ponto foi a coincidência de horários de trabalho e estudo dos responsáveis por essas bibliotecas, assim como a ausência de voluntários para substituí-los. Desse modo a observação se deu na Biblioteca Comunitária do Calabar, Biblioteca Paulo Freire e Biblioteca Comunitária Sete de Abril. No formulário de observação aplicado, destacaram-se os seguintes aspectos: gênero, categoria (criança, jovem, adulto e idoso), comportamento do usuário no local (com as opções de espera, busca atendimento, vai ás estantes).
  • 6. A metodologia da pesquisa se caracteriza como exploratória para a melhor aproximação e conhecimento do objeto de estudo. É de natureza aplicada vez que busca propor intervenção que mude a realidade encontrada. Busca entender como se processa a leitura no universo de estudo, se às estratégias de mediação de leitura usadas nos espaços sob observação contribuem para elevar o número de leitores e a qualidade de leitura como lazer, construção do conhecimento, consciência de cidadania e inserção social. A metodologia é norteada por revisão de literatura, estudo de campo com utilização de instrumentos de pesquisa que viabilizem a análise das entrevistas com os mediadores de leitura e análise dos discursos dos leitores das bibliotecas comunitárias. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO CALABAR A Biblioteca Comunitária do Calabar foi inaugurada em 22 de abril de 2006, criada pelo Grupo Jovens em Ação em parceria com a ONG Avante Educação e Mobilização Social, a Sociedade Beneficente e Recreativa do Calabar - SBRC e o Instituto C&A. Essas parcerias apóiam os componentes do Grupo Jovens em Ação na mediação de leitura. Além disso, a biblioteca recebe recursos para manutenção e funcionamento garantindo uma estrutura adequada às necessidades dos leitores, proporcionando conforto, segurança, cultura, lazer, bem-estar, e inclusão social da comunidade. Assim, a Biblioteca Comunitária do Calabar tornou-se um espaço de fomento à leitura e à escrita, de acesso à informação e ao conhecimento. Seu acervo consta de seis mil e quinhentos livros catalogados, sendo a maior parte doada pela comunidade local, e possui uma média mensal de empréstimo de 100 livros, fomentando uma rotina de atividades de incentivo à leitura na biblioteca, nas escolas e na creche do bairro. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PAULO FREIRE (SOFIA CENTRO DE ESTUDOS) A Biblioteca Comunitária Paulo Freire (Sofia Centro de Estudos), localizada no bairro de Escada, foi criada em 2 maio em 2001. O espaço é uma chácara que pertence ao belga Jan Karel Maria Van Mol. O acervo da instituição é composto por livros de literatura brasileira, literatura estrangeira, dicionários, enciclopédias, biografias, periódicos e livros infanto-juvenis, estes
  • 7. renovados periodicamente em um Baú de Leitura para despertar o interesse dos leitores. No momento, uma das metas da biblioteca é a implantação do Setor Infantil. Para manter suas atividades a biblioteca conta com o financiamento de projetos do Ministério da Educação e outros órgãos. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA SETE DE ABRIL (ASSOCIAÇÃO CULTURAL UGO MEREGALI) A Biblioteca Sete de Abril está localizada no bairro Sete de Abril, e foi criada em 27 de julho de 2002. Funciona em tempo integral, com apoio de quatro voluntárias da própria comunidade e conta também com uma aluna do Curso de Letras, bolsista do Programa Permanecer da Universidade Federal da Bahia. O espaço foi cedido pela Igreja Católica da comunidade que arca com as despesas da biblioteca desde sua criação. Atualmente a responsável pela biblioteca ganhou um terreno próximo à escola e creche para a construção da nova biblioteca. Em relação ao acervo é composto de literatura brasileira, livros infanto-juvenis e didáticos. A Fundação Pedro Calmon foi a responsável pela doação da maior parte do acervo. A biblioteca possui alguns computadores recebidos como doação, mas precisam de manutenção para funcionar. As mesas e cadeiras são adequadas para as crianças. As estantes adaptadas para os livros infantis, porém, percebe-se a necessidade de esteiras com almofadas, para as crianças ficarem integradas ao ambiente infantil. 4 A ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS Ao reconhecer a importância histórica das bibliotecas comunitárias como ambientes alternativos de inclusão social e formação cidadã através da leitura, assim como sua função no desenvolvimento de comunidades ativas por meio da informação e do saber coletivo, buscamos, neste sentido, um maior enfoque no estudo da temática para a construção de um referencial teórico fazendo uma prospecção nessas bibliotecas ainda carentes de uma base de teoria que explique sua natureza, missão, funções e a ecologia da informação que elas representam.
  • 8. Nesta abordagem da ecologia da informação, a biblioteca é vista como um ambiente que favorece as relações que envolvem o fluxo da informação. Os ambientes se apresentam inter- relacionados à própria sociedade na qual pertence, e por isso, livres dos antigos “muros”, de restrições e dominação social de antigas políticas de caráter elitista. Assim, é a própria sociedade local que admite suas relações, sentidos e necessidades, reconhecendo ainda a possibilidade da participação de agentes internos e externos para que esses ambientes de informação continuem se adaptando às novas realidades sociais, cumprindo assim sua função de transmissão do conhecimento. Ribeiro e Prado (2006, p.3 apud WERSING, NEVELING, 1975, p. 134) retomam a idéia de que as práticas da pesquisa científica nos dias de hoje devem estar pautadas em alguma necessidade social. Desse modo, a transmissão de conhecimento nestes ambientes é também uma responsabilidade social, e assim sendo deve ser analisada pela Ciência da Informação. Para o melhor entendimento da questão, previamente, vamos revelar um apanhado da revisão de literatura sobre as bibliotecas comunitárias brasileiras na perspectiva da Ciência da Informação e em seguida discutiremos o tema no contexto da atual sociedade brasileira, enfocando as bibliotecas comunitárias na Cidade do Salvador. Analisar o fenômeno das bibliotecas comunitárias no Brasil sempre foi algo desafiador e complexo para os pesquisadores da Ciência da Informação e da Biblioteconomia, considerando a escassez de documentos sobre o tema, e o tipo de abordagem do pesquisador e principalmente do profissional bibliotecário, ao visualizar seu campo de pesquisa e ação profissional restritos apenas aos espaços tradicionais de informação, “entre muros”, ignorando outros espaços alternativos de inclusão pelo conhecimento na Sociedade da Informação e da Aprendizagem. Entre os estudos mais importantes na literatura brasileira sobre a temática da biblioteca comunitária destacamos Ribeiro e Prado (2006) e Prado e Machado (2008). Ambos enfatizam a biblioteca comunitária como um espaço singular para o desenvolvimento da educação por meio de ações sócio-culturais para uma formação cidadã prática, mediada pelo uso e produção da informação pela comunidade local, direcionando os participantes da mesma a uma construção crítica de sua identidade individual e coletiva. Mas escolhemos direcionar como estudo inicial para formulação do que hoje relacionamos como biblioteca comunitária, o artigo de Rabello (1987), que ainda se utilizando da terminologia da época – biblioteca popular – colocou-se de maneira singular em sinalizar a
  • 9. formulação histórica desta comunidade informacional alternativa na concepção da sociedade brasileira. Esse fenômeno não se deu de maneira límpida, mas é produto das relações dialéticas entre o Estado e a sociedade, nos períodos de 1930 até meados dos anos 1980, onde o tema passa a ser enraizado e notada a existência desse espaço de informação, identificando dessa maneira sua criação pela comunidade local, assim como sua importância e características próprias que a diferenciavam de outros espaços, como a biblioteca pública e a biblioteca escolar. O termo biblioteca popular é utilizado na literatura estrangeira por autores que denominam as bibliotecas públicas que atuam junto à comunidade (PRADO e MACHADO; 2008), diferenciando-se da abordagem de Rabello que descreve em seu estudo como foi internalizada a biblioteca comunitária no Brasil, revelando que a mesma é produto de uma atuação ausente do Estado na formulação de políticas públicas no atendimento das necessidades básicas da população. Uma população que se agregava de maneira desordenada nas periferias das grandes metrópoles do país, em espaços quase sempre desprovidos de qualquer assistência social pregada pela corrente liberal, e pelo desenvolvimento econômico implantado aos moldes estrangeiros que se instaurava no país no período supracitado. Nesse contexto, o Estado construiu um modelo de biblioteca pública pautado na ideologia, que pregava “o acesso livre a informação a todos os cidadãos” mas que se apresentava de maneira contraditória quando promovia a construção de unidades de informação em áreas nobres, em locais distantes das massas, dificultando dessa maneira o acesso à biblioteca pública pela população menos favorecida. Este modelo não se adaptou à nossa realidade social, pois a maior parte da população era de pessoas analfabetas, sem uma formação educacional básica, ficando quase sempre no ponto inferior da pirâmide pública, na dependência extrema desse sistema democrático, que não disponibilizava acesso pleno aos direitos humanos básicos como: educação, moradia, saúde, segurança e qualidade de vida. Direitos como estes eram reservados apenas à elite, excluindo dessa maneira a classe social menos favorecida. No entanto, a maior exclusão ainda era a do acesso à informação e ao conhecimento. Neste sentido Rabello comenta (1987, p. 26) que “Cresceu a demanda à biblioteca, mas somente por um grupo detentor do poder econômico. […] A educação destinava-se a uma elite e a biblioteca seguiu a mesma tendência”; e relata ainda que pouco se fez para mudar essa
  • 10. concepção até o início da década de 1980, demonstrando dessa maneira uma clara separação entre a biblioteca pública e sociedade. A autora aponta ainda, que foi no final dos anos 1970, na insurgência de diversos movimentos populares de reivindicação e restituição dos direitos democráticos, que as primeiras “bibliotecas comunitárias” surgiram como espaços sócio-democráticos na promoção e inclusão informacional de uma população excluída culturalmente. Com o intuito de esclarecer a natureza da biblioteca comunitária, assim como os aspectos essenciais para não haver confusão na utilização da terminologia, a autora aponta algumas características desses espaços alternativos de informação, (RABELLO, p.32): surge exatamente como alternativa a biblioteca, que nunca chegou ao povo; trata-se de uma proposta de uma biblioteca de “baixo para cima”; é ligada a uma comunidade determinada; origina-se a partir da consciência desse grupo da necessidade de informação a ser fornecida pela biblioteca; não pode ser uma dádiva de poderes públicos, políticos, nem mesmo de educadores, mas sim da vontade de um grupo de resolver problemas de interesse coletivos; deve estar sob a coordenação de alguém com experiência de trabalho social ou animação cultural. É certo que algumas das concepções acima sobre as bibliotecas comunitárias foram reformuladas de maneira relevante, pois o contexto citado remete ao final da década de 1980 onde o tema estava em constante mudança devido às novas expressões sociais e políticas da sociedade brasileira. No cenário atual, a biblioteca comunitária pode ser entendida como um ambiente informacional criado com a participação ativa de pessoas de uma comunidade local, com o sentido de desenvolver ações sócio-educativas de inclusão social pela leitura, alfabetização, informática, atividades de recreação, lazer, formação cultural e cidadania. A colaboração de entidades das esferas públicas e privadas, assim como do terceiro setor são importantes para a manutenção desses espaços, desde que a essência das atividades
  • 11. desenvolvidas sejam discutidas e construídas democraticamente com a comunidade local, sem imposição e troca de favores por ambas as partes. Como se vê o tema é relevante e essa é a razão da pesquisa Ciranda de leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na perspectivas da inclusão social estudar o assunto para propor intervenção como suporte teórico. 4.1 ECOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS DE SALVADOR Ao entrarmos no universo da biblioteca comunitária percebemos a real possibilidade de novas leituras do mundo em que vivemos. A identidade social do leitor que interage com a sua comunidade e que dela participa ultrapassa qualquer barreira que o prenda a antigos laços de exclusão social. Os “muros” que impedem o acesso à informação nesse contexto se transformam em degraus para outras realidades que o leitor há de descobrir e transformar na medida em que o mesmo busque agir coletivamente. É oportuno relatar que não é somente desses espaços a responsabilidade de, a partir da problemática vivenciada transformar a realidade mas entendemos que esses exemplos são consideráveis no apoio a formação crítica de leitores dentro de suas comunidades, e que sem esses ambientes, pouco é feito pelos órgãos públicos para modificar essa carência de formação de leitores nesses bairros. As bibliotecas comunitárias de Salvador analisadas neste estudo desenvolvem diversas ações para modificar o quadro histórico de uma educação fragilizada pela falta de leitura, dentre outras carências. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO CALABAR As estratégias desenvolvidas são contação de histórias, dramatização, teatro de bonecos, exibição de filmes infantis, leitura de contos, poesias e outras manifestações culturais. Em relação à observação in loco, constatou-se que o público alvo da biblioteca é de crianças, adolescentes, jovens e adultos, que utilizam o espaço para leitura de livros infantis, literatura em geral, revistas, jornais, desenhos, pinturas, leitura de imagens (filmes), peças teatrais, pesquisa para trabalhos escolares além de oferecer empréstimo de livros.
  • 12. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PAULO FREIRE (SOFIA CENTRO DE ESTUDOS) Para atrair os leitores à biblioteca são desenvolvidas algumas estratégias de leitura como a hora do conto, clube de leitura e programação anual que envolvem as crianças da comunidade, das escolas e da creche. A hora do conto é uma atividade do Programa Virando a Página realizada quinzenalmente com a finalidade de estimular crianças a ler, escrever, escutar e expressar-se tendo por objetivos: incentivar o hábito da leitura a partir da contação de história, realizar leituras coletivas, proporcionar integração dos usuários, incentivar a escrita e o diálogo e aproximar o livro da vida das crianças. O Clube da Leitura é uma estratégia direcionada aos adolescentes. O programa anual para 2009 da biblioteca consta de onze blocos sendo distribuídos da seguinte forma: Bloco I - Leitura e Arte nas férias, que acontece nos meses de janeiro e fevereiro. As atividades desenvolvidas são brincando com as cores, carnaval da bicharada e as brincadeiras corrida de limão, cantigas de roda, rabo do burro, três - três passarão, boca de forno, dança das cadeiras entre outras. Bloco II - Poesia e Literatura. Acontece no mês de março e enfatiza a leitura de poesias de Maria da Graça Almeida e José Paulo Paes. Bloco III - O mundo de fantasias de Monteiro Lobato que ocorre no mês abril em comemoração ao Dia Nacional do Livro Infantil e aniversário de Monteiro Lobato com conto das Histórias de Monteiro Lobato e como atividade a Visita ao Mundo Encantado do “Sítio do Pica- Pau Amarelo”. Bloco IV - Aniversário do Sofia tendo por objetivo comemorar o aniversário da Biblioteca Paulo Freire (Sofia Centro de Estudos) que acontece em maio. Tem como atividades a leitura de literatura infantil, exibição de filmes infantis e pinturas dos clássicos. Bloco V - Educação Ambiental, desenvolve-se no mês de junho com atividades relativas ao tema. Bloco VI - Quer ser meu amigo? Busca incentivar a amizade e solidariedade entre as crianças e difundir esse sentimento como um valor a ser cultivado. Acontece no mês de julho.
  • 13. Bloco VII - Folclore e Literatura, acontece em agosto e busca valorizar a cultura popular brasileira e tem como atividade a leitura das lendas populares. Bloco VIII - Primavera Literária, ocorre em setembro e tem como objetivos incentivar a preservação do meio ambiente, estimular o respeito às diferenças. As atividades são a leitura do livro “O Patinho feio” e a leitura do livro “A Floresta Poluída” de Maria Auxiliadora Moreira Duarte. Bloco IX - Semana da Criança tem como objetivos comemorar o Dia das Crianças, o Dia Nacional da Leitura, incentivar a práticas de higiene, divulgar os direitos das crianças e estimular a leitura de obras clássicas. As atividades são: leitura de “O Menino Maluquinho e o Estatuto da Criança e do Adolescente”, leitura coletiva, construção de brinquedos criativos e leitura de livros da coleção “Cuidando do Corpo”, de Gina Borges. Bloco X - Cultura Afro e Literatura comemorando o Dia Nacional da Consciência Negra e difundir a literatura de matriz africana. Acontece em novembro e tem como atividades leitura de contos africanos e oficina de percussão. Bloco XI - Clássicos Natalinos. Tem como objetivos celebrar o espírito natalino através do estímulo à amizade e a solidariedade e incentivar a leitura de livros religiosos. As atividades são leituras de contos bíblicos e peça teatral do Nascimento de Jesus. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA SETE DE ABRIL (ASSOCIAÇÃO CULTURAL UGO MEREGALI) As estratégias de leitura da biblioteca incluem o Projeto de Leitura nas Férias, atividades de teatro de bonecos, contação de histórias, leitura de poesias, poemas e contos e outras atividades. De acordo com a observação in loco a predominância é de crianças em fase escolar que utilizam o espaço da biblioteca principalmente para trabalhos solicitados pelos professores o que demonstra a deficiência ou ausência de bibliotecas escolares. Em relação aos adultos, geralmente, são mães que estudam à noite e utilizam o espaço para consulta e empréstimo de livros de literatura e outros assuntos.
  • 14. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As bibliotecas comunitárias, como parte integrante da rede social pela leitura, merecem, por parte do pesquisador e do profissional bibliotecário, um enfoque diferencial de observação e, para isso, analisamos a temática desses ambientes na perspectiva da teoria da ecologia da informação desenvolvida por Davenport (1998), na qual o autor apresenta um modelo holístico, em que todas as partes do ambiente são analisadas e relacionadas tendo em vista a gestão e mediação de informação nos moldes da realidade da comunidade. Em uma abordagem da ecologia da informação nos ambientes das bibliotecas comunitárias devem-se considerar os diversos tipos de informação que circulam nesses ambientes e reconhecer que estes sofrem influências de fatores internos e externos, e que necessitam de mudanças e inovações contínuas para manter a integração social. Neste sentido, a ênfase no comportamento pessoal e coletivo é um dos fatores essenciais para o sucesso de ações e estratégias desenvolvidas para a coletividade. Nessa direção, a pesquisa Ciranda de Leitura: espaços, (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social, com base no aprofundamento teórico e no estudo de campo, verifica as formas e o fluxo da leitura, o impacto desse processo sobre os leitores nas bibliotecas, mostrando pelos resultados parciais da pesquisa, a importância destes espaços para a sociedade, para propor, se necessário, uma intervenção que conduza a uma prática mais afinada com o acesso e uso da informação e a leitura como forma de desenvolvimento individual e da coletividade na direção da inclusão social.
  • 15. REFERÊNCIAS AGUIAR. Vera Teixeira de. Notas para uma psicossociologia da leitura. In: TURCHI, Maria Z.; SILVA, Vera M.T. (Orgs.). Leitor formado, leitor em formação: leitura literária em questão. São Paulo: Cultura Acadêmica. 2006, p. 39. CUNHA, Vanda Angélica da. Ciranda de leitura: espaços (im)pactos, desejos e carências na perspectiva da inclusão social. Projeto de Pesquisa aprovado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica – PIBIC. Não publicado, 2008. DAVENPORT, Thomas H; PRUSAK, Laurence. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. Tradução Bernadette Siqueira Abrão. São Paulo: Futura, 1998. 316p. KLEIMAN, Ângela (Org.). Os significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995. LAJOLO, M. Tecendo a leitura. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 2. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 104-107. LARROSA, J. Literatura, experiência e formação. In: COSTA, M.V.(Org). Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 133-160. MATOS, Maria Afonsina Ferreira; SANTOS, Nayara Rute da Paixão. Do prazer ao saber: memórias de leitura na comunidade acadêmica da UESB/ Campus de Jequié. In: TURCHI, Maria Z.; SILVA, Vera M.T. (Orgs.) Leitor formado, leitor em formação: leitura literária em questão. São Paulo: Cultura Acadêmica. 2006, p 63. PRADO, Geraldo Moreira; MACHADO, Elisa Campos. Território de memória: fundamento para a caracterização da biblioteca comunitária. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9., 2008, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 1994. Comunicação oral apresentada ao GT-03 - Mediação, Circulação e Uso da Informação. Disponível em: <http://www.enancib2008.com.br >. Acesso em: 26 abr. 2009. RABELLO, Odília Clark Peres. Da biblioteca pública à biblioteca popular: análise das contradições de uma trajetória. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p. 19-42, mar. 1987. RANGEL, J. N. M. As práticas de leitura na escola. Leitura: teoria e prática. São Paulo: ALB , Global, 2004. RIBEIRO, Diego Lemos; PRADO, Geraldo Moreira. O cenário da dinâmica pragmática da informação: a biblioteca comunitária. Disponível em:<http://www.portalppgci.marilia.une. php?id=249>. Acesso em 28 fev. 2009. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. p. 18-25.