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PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO
UMA PALAVRA
MAIS UMA PALAVRA
PREFÁCIO DA QUARTA EDIÇÃO

CAP. I - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO
CAP. II - LITERATURA DO VELHO TESTAMENTO
CAP. III - INTRODUÇÃO AO LIVRO DE GÊNESIS
CAP. IV - RELAÇÃO E CRÍTICA SOBRE AS ANTIGAS TRADIÇÕES E O LIVRO DE GÊNESIS
CAP. V - ORIGEM DO UNIVERSO

Teorias Que Tentam Explicar a Origem do Universo
Teoria da Nebulosa.
Teoria da Grande Explosão.
Nota sobre a Ordem em Que Se Encontram os Planetas no Espaço
CAP.VI OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO
Trabalho do Primeiro Dia - 1:2-5
Trabalho do Segundo Dia - Expansão - Céus - 1:6-8
Trabalho do Terceiro Dia - Mares, Terra e Vegetação - 1:9-13

Trabalho do Quarto Dia - Sol e Lua - 1:14-19
Trabalho do Quinto Dia - Animais Aquáticos e Pássaros
CAP. VII ORIGEM DAS ESPÉCIES E A TEORIA DARWINIANA
Origem e Antigüidade do Homem
2.O Homem, a Criação por Excelência - Gênesis 1:26-2:7
CAP. IX O DIA SÉTIMO
Narrativa Suplementar da Criação
CAP. X A PREPARAÇÃO DO JARDIM
A Criação da Mulher

CAP. XI A TENTAÇÃO E A QUEDA
O Tentador
A Tentadora
A Punição
A Promessa
Novo Nome Dado à Mulher
Primeiro Sacrifício
A Expulsão do Éden
Os Efeitos Mentais do Pecado
CAP. XII CAIM E ABEL
Os Dois Sacrifícios
O Primeiro Homicídio
A Mulher de Caim

Lameque e Suas Duas Mulheres (4: 19-24)
O Nascimento de Sete (4:25-26)
CAP. XIII TÁBUA GENEALÓGICA
CAP. XIV O DILÚVIO
Causa do Dilúvio: Casamentos Mistos (6:1-8)
A Construção da Arca Salvadora
Notas sobre as Diversas Tradições do Dilúvio
Noé Entra na Arca (Gênesis 7:1-8:12)
A Saída da Arca (Gênesis 8:13-22)

Em Busca da Arca
CAP. XV O NOVO MUNDO
Um Culto Novo
Uma Promessa Nova
Outra Aliança (capítulo 9)
Monoteísmo e Politeísmo
Um Novo Pecado Depois do Dilúvio (Gên. 9:20-27)
Uma Vida Longa e útil
CAP. XVI AS GERAÇÕES DOS FILHOS DE NOÉ
Resenha da Localização das Diversas Raças
CAP. XVII A TORRE DE BABILÔNIA OU BABEL E A CONFUSÃO DAS LÍNGUAS

Tentativa de Centralização
Intervenção Divina
CAP. XVIII OS DESCENDENTES DE SEM - A LINHAGEM DA PROMESSA
As Gerações de Terá - Gên. 11:27-32
Abraão, uma Personalidade histórica
CAP. XIX UR DOS CALDEUS
Abraão e a Saída de Ur dos Caldeus - capítulo 12:1-3
Um Novo Princípio
Partida de Harã para Siquém - 12:4-8

A Fome e a Descida ao Egito - 12:9-20
A Volta de Abraão do Egito - 13:1-4
Separação entre Abraão e Ló - 13:5-13
Jeová Aparece Novamente a Abraão - 13:14-18
(Comparar Gên. 12:1-3; 15:1-21; 17:1-14; 22:1-19.)
A Batalha dos Nove Reis - Ló É Levado Cativo - 14:1-12
O Cativeiro de Ló e a Participação de Abraão na Guerra
Abraão, Melquisedeque e o Novo Rei de Sodoma - Gên. 14:17-24

Quem Era Este Melquisedeque?
CAP. XX A PROMESSA DE DEUS RENOVADA
O Desânimo de Abraão - cap. 15: 1-6
A Conversão de Abraão
O Concerto - cap. 15:7-21
Uma Apreciação Mais Precisa
Expedientes Humanos para Cumprir Apressadamente a Promessa de Deus - Gên. 16
Sara, Impaciente, Toma Suas Próprias Medidas - vv. 1-6
A Fuga de Agar e o Nascimento de Ismael - 16:7-16)

Renovação do Concerto a Abraão, e Sua Ampliação - cap. 17
A Promessa Repetida - vv. 1-8
O Selo do Concerto - 17:9-14
Deus Promete a Abraão Que Sara, Sua Mulher, Lhe Dará o Herdeiro das Promessas 17:15-22
Abraão Cumpre o Que Deus Lhe Tinha Ordenado - 17:22-27
Abraão Hospedando os Anjos e o Senhor dos Anjos - 18:1-8
A Promessa Repetida e Ampliada do Nascimento de um Filho - vv. 9-15

CAP. XXI DESTRUIÇÃO DAS CIDADES CORRUPTAS
Dois Anjos à Porta de Sodoma e o Destino da Cidade - cap. 19
Ló Recebe os Dois Anjos - 19:1-11
A Destruição Anunciada, o Aviso de Salvamento

19:12-23

A Destruição das Cidades de Sodoma e Gomorra, Adamá e Zeboim,Cidades da
Planície
Abraão Contempla o Triste Drama da Destruição - 19:27-29
Ló e Suas Duas Filhas

Abraão Emigra para a Cidade de Gerar, e Nega de Novo Sua Mulher - cap. 20
CAP. XXII NASCIMENTO E VIDA DE- ISAQUE
Pacto Feito entre Abimeleque e Abraão - 21:22-34
A última e Maior Prova de Fé de Abraão - cap. 22 O Oferecimento de Isaque - 22:114
Deus Renova as Promessas a Abraão - vv. 15-19
Abraão Recebe Notícias de Sua Família Distante - vv. 20-24

Morte e Enterro de Sara - cap. 23:1-20
Providências para o Casamento de Isaque - cap. 24:1-9
Eliézer Parte para a Mesopotâmia, em Busca da Noiva - vv. 10-27
Rebeca Anuncia a Vinda de Eliézer - vv. 28-33
O Servo de Abraão Anuncia o Propósito de Sua Vinda - vv. 34-53
Concluído o Negócio. Eliézer Quer Voltar ao Seu Senhor - 24:54-61
Encontro de Isaque com Rebeca - 24:62-67

Abraão Toma Outra Mulher - Quetura, a Mulher de Abraão - 25:1-4
O Testamento de Abraão - 25:5-6
Morte de Abraão - 25:7-11
Gerações de Ismael - 25:12-18
Gerações de Isaque - 25:19-23
CAP. XXIII NASCIMENTO DE ESAÚ E JACÓ
Esaú Vende a Sua Primogenitura a Jacó
A Fome em Canaã e a Emigração, de Isaque - 26:1-5
Permanência de Isaque em Gerar - 26:6-11

A Prosperidade de Isaque e a Inveja dos Filisteus - 26:12-25
Concerto entre Abimeleque e Isaque em Berseba - 26:26-33
Jacó Tira Fraudulentamente a Bênção de Esaú - 27:1-29
A Decepção de Esaú - 27:30-40
A Ira de Esaú - 27:41-48
CAP. XXIV FUGA E CONVERSÃO DE JACÓ
Jacó Continua Alegremente Sua Viagem até Encontrar os Pastores em Harã - 29:1-14

Jacó Faz Contrato com Labão para Ganhar Raquel - 15-20
Triste Desapontamento de Jacó

21-30

Jacó com Quatro Mulheres em Lugar de uma Só - As Disputas de Família - 30:1-24
Jacó Faz Novo Contrato com Labão - 30:25-43
A Prosperidade de Jacó Causa Separação - 31:1-21
Labão Persegue a Jacó - 31:22-35
Concerto entre Jacó e Labão - 31-43-45

Jacó Prepara-se para Encontrar Esaú - 32:1-12
A Oração de Jacó
O Expediente de Jacó para Ganhar o Irmão - 32:13-31
A Luta com o Anjo - vv. 22-32
O Encontro de Esaú e Jacó

33:1-19

CAP. XXV INCIDENTES NA VIDA DOMÉSTICA DE JACÓ
Imposição de Deus para Salvar Jacó - 35:1-14
A Morte de Raquel - vv. 15-20
Genealogia dos Filhos de Esaú - cap. 36

A História de Jacó Continua - Genealogia de Jacó - 37:1-4
O Sonho de José - 37:5-11
A Viagem Funesta de José - 12-29
A Mensagem a Jacó - 31-36
Separação de Judá - Um Capítulo de Sua História - cap. 38
CAP. XXVI JOSÉ NO EGITO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS COM ELE
A Tentação de José - 39:7-1 8José na Prisão - 39:19-23
O Copeiro e o Padeiro de Faraó na Prisão com José - cap. 40

Os Sonhos de Faraó - 41:1-13
José na Presença do Rei - 41:14-46
José É Escolhido para Príncipe sobre a Terra do Egito - vv. 37-57
Os Irmãos de José Descem ao Egito

O Dia da Vingança - 42:1-4

José Encontra Seus Irmãos e os Reconhece - vv. 5-20
O Despertar da Consciência dos Irmãos de José - vv. 21-24
José Vende o Trigo aos Irmãos e Eles Partem - vv. 25-38

Forcado pelas Circunstâncias, Jacó Consente na Ida de Benjamím,Garantido pela Vida de
Judá-43:1-14
Outra Triste Surpresa para, os Filhos de Jacó - vv. 15-25
O Jantar de José a Seus Irmãos - vv. 26-34
José Dá-se a Conhecer a Seus Irmãos - 45:1-15
Faraó Sabe da Vinda dos Irmãos de José - vv. 16-28
CAP. XXVII IMIGRAÇÃO E RESIDÊNCIA DE JACÓ E SUA FAMÍLIA NO EGITO

A Linhagem de Jacó Que Foi ao Egito - 46:8-34
José Apresenta Cinco de Seus Irmãos a Faraó - 47:1-6
Jacó é Apresentado a Faraó
O Quinto para Faraó - 47:13-26
Jacó Mora 17 Anos no Egito, Dá Ordens Quanto à Sua Sepultura e 'Faz Declarações
Quanto ao Futuro do
Seu Povo - 47:27-31
Os últimos Dias de Jacó - vv. 48-49
Jacó Abençoa José na Pessoa de Seus Dois Filhos - 48:8-16

O Desgosto de José - 48:17-22
As Bênçãos de Jacó sobre Seus Filhos - cap. 49
CAP. XXVIII ANÁLISE DO DESTINO DE CADA FILHO DE JACÓ
Simeão e Levi, Segundo e Terceiro Filhos de Léia
Judá, Quarto Filho de Léia
Zebulom, Sexto Filho de Léia.
Dá, Primeiro Filho de Bila, Serva de Raquel
Issacar, Quinto Filho de Léia
Gade, Primeiro Filho de Zilpa, Serva de Léia

Aser, Segundo Filho de Züpa, Serva de Léia
Naftali, Segundo Filho de Bila, Serva de Raquel
José, Primeiro Filho de Raquel a Amada de Jacó
Benjamim, Segundo Filho de Raquel
A Morte de Jacó - 49:28-33
Os Preparativos para o Enterramento - 50:1-6
O Enterro de Jacó - 50:7-14
Mais um Toque da Consciência:
- Os Irmãos de José Temem Que Tome Vingança do Pecado Contra Ele Cometido 50:15-21

Os últimos Dias de José - 50:22-26

PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO

A literatura evangélica do Brasil vem de ser enriquecida, sensivelmente, com este
comentário sobre o primeiro livro da Bíblia.
O autor é eminente professor do Velho Testamento no hebraico e no vernáculo, no
Seminário Teológico Batista de Pernambuco, e para esta tarefa acumula longos anos de
preparo no Brasil e no estrangeiro, uma década de ensino à mocidade chamada ao
ministério de Cristo, o uso de bibliotecas cujos tesouros são assim doados aos estudantes
brasileiros, da Palavra de Deus, a experiência pastoral e de ensino desta matéria a grandes
classes populares em as aulas noturnas do Colégio da Bíblia, e um estilo fácil e bem
compreensível sem perda de sublimidade e reverência.

O leitor e o estudante encontrarão aqui o melhor que a erudição conservadora pode
oferecer para esclarecer os problemas e a interpretação da obra-prima de Moisés. Não se
saltam os pontos difíceis. Assim, o comentário é um auxílio iluminador, mesmo a quem se
sinta, porventura, obrigado a discordar desta ou daquela interpretação do autor. Fazemos
votos para que entre centenas e milhares de estudantes da Bíblia este comentário seja o
Vade Mecum na investigação inicial do Velho Testamento, e que estas primícias da
atividade literária do Dr. Antônio Neves de Mesquita sejam o augúrio de muitas outras
obras na Exegese dos livros do Velho Testamento.

É justo dizer que a obra foi publicada nas oficinas tipográficas desta casa educandária
durante as férias, quando o autor pouca oportunidade teve de colaborar na revisão. Os
senões, portanto, que talvez haja, correm por conta dos publicadores, e em segunda
edição serão removidos pelo autor em circunstâncias mais favoráveis.

WILLIAM CAREY TAYLOR
Recife, 22 de outubro de 1928
PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO

Folgo saber que uma nova edição do Comentário do Dr. A. N. Mesquita sobre o livro
de Gênesis sairá do prelo por estes dias. É uma notícia boa e alvissareira para a causa de
Cristo e para os estudantes das Escrituras. Um abalizado professor do Velho Testamento
em hebraico e no vernáculo me disse, quando foi publicada a primeira edição do mesmo
livro: "É o melhor Comentário sobre o Livro de Gênesis que tenho lido em qualquer
língua." Felizes somos, pois, em que esta geração de estudantes da Bíblia tenha de novo
tão valioso auxílio em entender esta parte da revelação divina. O Dr. Mesquita tem sido o
único, que eu saiba, a ativar-se neste terreno literário, preparando comentários sobre os
livros de Moisés. Jesus Cristo disse: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." É de suma
importância, pois, que tenhamos interpretação exata, reverente e culta dos livros de
Moisés. O Velho Testamento e o Novo ficarão de pé juntos, ou juntos cairão. Mas, se o
desnorteado subjetivismo de um criticismo destrutivo fizer cair o Pentateuco da estima e
confiança de nossa geração no Brasil, na próxima geração cairá em dúvida a própria pessoa
e obra redentora do Salvador. Em firmar a fé, pois, o autor deste Comentário se faz credor
da gratidão de todos nós que amamos a Deus e a sua Palavra.

W. C. Taylor

Rio de Janeiro, 18 de julho de 1943
UMA PALAVRA

Não foi só o desejo de publicar um livro, e muito menos o de ver meu nome no
frontispício de qualquer obra, que me levou a escrever as páginas que agora vão ser dadas
à publicidade. Conquanto seja nobre o desejo de publicar livros, e agradável o espírito de
contribuir para o cultivo intelectual do povo, este livro é o resultado de outro motivo, mais
forte e premente. Desde os primeiros tempos de minha conversão a Cristo sinto a grande
falta de literatura adequada ao cultivo espiritual dos crentes, e posso ainda recordar o dia
em que pensei que, se algum dia pudesse, escreveria alguma coisa e de bom grado
contribuiria para esse fim. A falta de livros em português sobre a Bíblia não deve ser
atribuída à culpa de nenhuma pessoa. Ela é natural. Novo como é o evangelho no Brasil, e
poucos como são os homens e mulheres capazes de escrever sobre assuntos religiosos,
não podemos nos queixar de ninguém, nem julgar isso desleixo por parte dos que têm tido
a direção do trabalho. Com as mãos cheias, mais do que podem suportar, cuidando de
desenvolver a evangelização e a educação em geral, não tem sobrado tempo aos obreiros
nativos e missionários para se dedicarem ao trabalho de escrever. Não obstante, diga-se,
para justiça sua, já um considerável número de boas obras, tanto didáticas como de
instrução geral, tem aparecido e está aparecendo, e o desejo, por parte de todos, de
contribuir para esta fase do trabalho está despertando inteligências viçosas e exuberantes.

Escusado é dizer que a educação dos crentes é o mais firme apoio de nossas
esperanças no futuro. Evangelizar sempre precedeu o educar, mas este é o conseqüente
lógico daquele. Na grande Comissão dada por Jesus aos seus discípulos está tanto o
elemento evangelístico como o educativo! "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho mandado..." (Mat. 28:19,20). Qualquer sistema
evangelístico que se descuida da educação poderá crescer por um pouco de tempo, mas
está fadado à morte num prazo breve. Um dos meus amados professores nos Estados
Unidos costumava dizer que nossa missão é não somente a de evangelizadores do Reino,
mas de construtores desse Reino. Um cristianismo educado é a mais firme garantia de
sucesso e estabilidade do mesmo cristianismo. Certamente não se deve entender que a
educação por si só seja capaz de resolver o problema da Causa. Longe de mim pensar
assim. A piedade, a sinceridade e a consagração seguem, corno predicados de grande
beleza, à educação, mas, deixadas a si sós, facilmente podem degenerar em misticismo e
fanatismo. E é o conjunto que faz o todo e não uma de suas partes. Evangelizemos,
instruamos os evangelizados, e teremos adequadamente encarado o programa do
evangelho. E educação em si mesma é um assunto complexo para ser abordado aqui, e
nem estas palavras visam a tal coisa. O que estou atacando de frente é a educação bíblica
dos membros das igrejas e a familiaridade com as doutrinas do grande Livro. Nem todos
podem ir a seminários ou colégios receber instrução e nem todos são capazes de adquirir
conhecimentos gerais da Bíblia, assistindo aos cultos nas igrejas. Isto é muito bom e
imprescindível, mas cumpre que se ponham bons livros na mão do povo, e que se desperte
nele a sede de leitura, visto que, por muitas razões, crentes há que nada lêem, nem
desejam ler. A democracia em geral repousa na inteligência e no amor à liberdade, e a
democracia praticada pelos batistas, para ser observada, exige educação. O Dr. Grambrell
dizia que entre os batistas não havia mais tolos que nos outros credos, mas havia a
diferença de que os tolos dos outros credos tinham freios (strings on their noses),
enquanto que os batistas viviam à vontade. Essa liberdade, que tem sido por todos os
séculos o ideal batista,. requer educação.

São estes conceitos abreviadamente expostos que me têm feito pensar e desejar
contribuir para a educação dos crentes em geral. Convém mesmo pedir escusas por referir
ou particularizar credos; foi à guisa de desculpa por pretender escrever para o público.
Meu desejo é que este livro seja o primeiro da série que espero escrever sobre o Velho
Testamento, dando particular atenção ao texto de cada um deles. Livros de instrução geral
já existem alguns, mas, até onde eu saiba, pouco ou nada existe no gênero de
interpretação. O plano está mais ou menos baseado no comentário de Carrol sobre a
Bíblia em geral, mas minha preferência é dar particular atenção ao texto sagrado, em lugar
de escrever sobre o conteúdo em geral. Certamente que não pretendo, tampouco, fazer
trabalho exegético, dada a vastidão do campo a percorrer. Em lugar de tomar verso por
verso, prefiro tomar as diversas narrativas na ordem em que elas estão e extrair os
ensinamentos mais gerais, tomando um outro verso sempre que ele tiver particular ensino
ou requerer atenção especial.
Gostaria, se fosse possível, de escrever para eruditos, mas prefiro escrever para o povo. A
crítica ainda pode esperar por outros mais capazes. Os problemas, neste sentido, ainda
não chegaram até nós, mas certamente virão; portanto, esperem o seu dia. Todavia, não
desejo passar ignoradamente pelos pontos mais em controvérsia, sobretudo no livro de
Gênesis, dando-lhes por isso toda a atenção possível dentro dos limites que eu mesmo
impus a este trabalho. Assuntos como: evolução, teoria sobre os dias da criação etc.,
receberam cuidado especial; outros, porém, de menor monta, foram tratados de acordo
com a natureza da obra. Escrever grossos volumes seria não somente impossível, mas
inutilizar o resultado prático. Defeitos a obra terá muitos e ninguém mais do que eu os
reconhece. Sintética, como desejo fazê-la, não seria possível incorporar nesta obra
momentos de crítica destrutiva ou conservadora, pois que um volume grande é sempre de
difícil aquisição, mormente nos tempos que correm. Em futuras edições espero ampliar
certas partes que de propósito resumi agora.

Em parte, estas notas já foram dadas às minhas classes de interpretação do Velho
Testamento, e foi com o pensamento nos meus estudantes que abordei alguns pontos,
que o público em geral poderia dispensar. O ideal é um ministério capaz, com a mais vasta
erudição possível, preparado para as demandas do evangelho no presente e no futuro.
Graças a Deus que já morreu a idéia de que os ministros são homens ignorantes; mas nem
por isso se julgue que já sabem demais ou que não haja muitos que, por motivos diversos,
não puderam adquirir uma educação teológica, aos quais cabe ler tudo que os puder
ajudar, como aos que puderem cabe ajudá-los. Ler a Bíblia com inteligência, eis o
soberano ideal. Minha classe tem usado, a par destas notas, outras obras de maior monta
e de mais adiantado escopo, algumas das quais são mencionadas de vez em quando em
conexão com certas passagens difíceis; e um curso regularmente feito no Velho
Testamento requer, além da Bíblia em português, que é o livro principal, um manual de
interpretação geral e diversas obras em que assuntos particulares sejam especialmente
cuidados. "The Heart of the Old Testament", pelo Dr. Sampey, acompanha o curso, bem
como outras obras em inglês, tais como "The Motiuments and the Old Testament", pelo
Dr. Ira M. Price, Archeology and the Bible", pelo Dr. George Barton etc. Há muitos outros
livros bons que infelizmente não estão à mão dos leitores em geral, por estarem em inglês,
sendo apenas consultáveis pelos que conhecem a língua inglêsa. Em português nada
temos, pelo menos que eu saiba, que possa dispensar o pequeno livro, The Heart of the
Old Testament", que é o coração mesmo e realmente, mas não todo o corpo. Ainda que
não haja coisa superior ao coração, nem por isso se vive só com ele. Para os meus
estudantes, pois, foi que comecei a compilar notas desde que fui convidado para ensinar a
história do Velho Testamento no Seminário de Pernambuco em 1917. Desejo que sirva a
eles e a todos que desejam conhecer melhor o programa de Deus para com o mundo
perdido. Difícil é sequer imaginar quando sairão os outros livros que devem seguir a este.
Melhor talvez seria esperar que todos ficassem completos, mas seria prejudicar os que
desde agora precisam de ajuda, e esperar sem saber até quando.

Recife, 22 de outubro de 1928

MAIS UMA PALAVRA

Quando foi publicada a primeira edição de "Estudo no Livro de Gênesis", mal
imaginava a aceitação que a obra ia ter por parte dos crentes e até de amigos do
evangelho. Essa minha natural dúvida nascia da consciência das suas muitas imperfeições
e também da minha incapacidade para tratar de um trabalho que tem desafiado o que de
melhor a inteligência humana tem produzido em todos os tempos. Não obstante isso, em
pouco tempo a obra estava esgotada. Uma nova edição impunha-se, mas eu não sabia
quem a poderia fazer ou custear. Por isso, foi com grande surpresa e contentamento
mesmo que ouvi do Diretor Geral da Casa Publicadora, Dr. T. B. Stover, que o MS
devidamente revisado seria mandado para as oficinas. Com esta promessa, ficava eu
satisfeito e também os muitos que, desejando possuir esta obra, iam ter a sua
oportunidade.

A primeira edição foi um ensaio feito com temor e tremor. Naturalmente, a segunda
edição deveria ser revista e mesmo modificada. Isso foi feito dentro dos limites do
trabalho mesmo, pois sempre pensei que obras muito volumosas e custosas não atingiam
o fim desejado de dar ao povo qualquer auxílio em matéria de interpretação da Bíblia. As
revisões e modificações foram feitas, tendo em vista este princípio. Especialmente a parte
que trata dos onze primeiros capítulos do Livro de Gênesis foi bastante alterada.
Reconheci que os crentes precisavam de outras informações, deliberadamente deixadas de
parte na primeira edição, assim como reconheci a necessidade uma outra distribuição da
matéria. A parte restante do livro foi deixada sem modificação, salvo numa ou noutra
coisa de menor monta.
No preparo desta edição tive a boa colaboração de alguns pastores. O Pastor Rafael
Zambrotti datilografou quase todas as notas dos primeiros capítulos e pôs na nova
ortografia parte do livro. O Pastor José dos Reis Pereira fez a revisão geral, quanto à
acentuação, e reviu também as provas tipográficas, dando valiosas sugestões, que aceitei
quase sempre na sua inteireza. Agradeço também a parte que o Prof. Moisés Silveira teve
nesta edição, parte esta que dificilmente pode ser dada em meia dúzia de frases. À Casa
Publicadora, na pessoa do seu Diretor Geral, também agradeço e devem agradecer todos
os que tanto desejaram ver esta segunda edição, pois que poucas obras têm sido tão
desejadas como esta, não pelo seu valor, já se vê, mas pela sua oportunidade e
necessidade.

Pondo, pois, a segunda edição de Estudo no Livro de Gênesis na mão do povo, rogo a Deus
que ele sirva de auxílio na boa e sadia interpretação da "obra-prima de Moisés", como bem
disse o Dr. W. C. Taylor, quando prefaciou a primeira edição.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 1943
PREFÁCIO DA QUARTA EDIÇÃO

Faltando-me agora a pena do Dr. W. C. Taylor, que prefaciou as duas primeiras
edições de ESTUDO NO LIVRO DE GÊNESIS, tenho eu de fazer o trabalho, e o faço com o
pensamento voltado para o passado, dando graças a Deus por esse passado e pelo que ele
valeu.
Quando me aventurei a escrever sobre a Bíblia, foi uma ousadia temerária. Não
tinha nome de escritor, não tinha credenciais para isso (não afirmo que as tenha agora).
Era um simples pastor e professor, sem maiores credenciais. Foi o Dr. Taylor quem me
iniciou na tarefa de escrever para o povo, escrever em estilo simples, arredando termos
empolados, construções artificialmente arranjadas. Já se passaram mais de 40 anos desde
que Estudo no Livro de Gênesis veio à luz, e de então para cá a sua aceitação vem sendo
maior cada dia, e essa aceitação eu acredito advir da simplicidade da linguagem
empregada, sem prejuízo da doutrina e da erudição literária.
A segunda edição está esgotada há muitos anos; só agora, graças ao interesse tomado pelo
Dr. Almir S. Gonçalves, é que se afigura possível uma terceira edição, muito reclamada
pelos estudantes do sagrado Livro.
Quando iniciei os meus passos como escritor bíblico, tinha grandes planos. Pensava
em Comentários sobre todos os livros da Bíblia, e o mesmo Dr. Taylor insistiu comigo, por
muitas vezes, que eu escrevesse um comentário ao livro dos Salmos, Isso eu teria
dificuldades de fazer. Durante esses anos, outras ocupações e a carência de recursos para
a publicação dos meus livros levaram-me a desistir do ideal. Agora é tarde, "Inês é morta!"
como diz o adágio. Durante os 33 anos que servi à Junta de Beneficência, recebi apelos e
mais apelos de pastores para que deixasse essa Junta e me dedicasse a escrever. Como
poderia fazer isso?

Como deixar uma obra que tinha nascido no meu coração, aí pelos idos de 1914? Eu não
sei o que pensar sobre isso: se deveria ter seguido tais conselhos ou não. Tudo pertence
ao passado.
Com a esperança, que agora se oferece, de ver reeditados os meus livros e
publicados outros, que tenho quase prontos, e se Deus ainda me der mais alguns anos de
vida, espero recuperar parte do perdido e ainda servir ao povo nesta capacidade.
Ao fazer a revisão do livro, procurei não alterar a sua feição original. Verifiquei que
algumas páginas deveriam ser refundidas, e alguns estudos aumentados. Isso iria, não só
aumentar o tamanho do livro, como também alterar-lhe a feição. Preferi então manter o
ESTUDO em sua forma original, acrescentando algumas notas de rodapé e fazendo ligeiras
alterações em dois capítulos apenas. Ao Capítulo V, sobre as origens do universo,
acrescentei mais uma teoria científica, dentre outras, quando os espaços siderais estão
sendo devassados. Só mais uma teoria científica, para provar que a Cosmogonia de Moisés
ainda não pôde ser alterada, nem o será jamais, estou certo. Ao Capítulo XIV acrescentei
algumas informações, e o Capítulo XV foi reescrito, por considerá-lo muito imperfeito.
Apenas estas alterações foram feitas no texto.

Acredito que este livro ainda pode esperar o aparecimento de outros textos mais
específicos, mais profundos. Sempre esperei que outros professores de seminários se
interessassem por estes trabalhos, de modo que o meu tivesse apenas servido de ensaio.
Nada disso aconteceu. Os que podem e sabem não escrevem. Por que, não sei. Desta
forma, o meu livro verá ainda uma ou mais edições, até que seja suplantado por outro ou
outros melhores. Nunca tive, e ainda não tenho, grandes pretensões, como escritor.
Sempre reconheci que um homem ocupado com diversas tarefas como eu não pode
pretender escrever grandes livros. Todos os que tenho escrito, o foram nas horas vagas,
nos feriados, nos sábados. Só agora, no crepúsculo da vida, é que posso dispor de algum
tempo para escrever. Vou fazer isso, até que chegue o fim.

Rio de Janeiro, 14 de abril de 1966
Antônio Neves de Mesquita
Da Academia Evangélica de Letras, ex-professor, Catedrático de Hebraico e de Velho
Testamento no Seminário Batista do Norte do Brasil, Professor de Introdução à Bíblia e de
Sociologia no Seminário Batista do Sul do Brasil e Professor de Novo Testamento no
Seminário Betel - atualmente jubilado.

CAP. I - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO

Não é demais insistir na importância deste estudo e nos característicos necessários
para ele. O professor, por sua vez, precisa conhecer o assunto em geral e possuir regular
dose de conhecimentos relacionados com o mesmo, o que não é fácil, visto a multidão de
assuntos que a ele se prendem. Não somente o Velho Testamento requer cuidadoso e
meticuloso estudo, paciência e erudição, mas sobretudo deve ser estudado
carinhosamente, porque nele está a base da revelação. Por muitos motivos ele se
apresenta corno estudo difícil. A língua em que foi escrito morreu há muitos séculos e não
poucos vocábulos perderam a sua significação, de modo que agora só com o auxílio de
penosas investigações comparativas com outras línguas irmãs e com o auxílio das ciências
arqueológicas é que se pode verificar um sem-número de coisas encontradas nesta parte
da revelação. A própria tendência do povo em geral é relegar o Velho Testamento para
um plano demasiado inferior, no cômputo da revelação, havendo mesmo quem chegue ao
ponto de preteri-lo por completo, alegando que a revelação completa está no Novo
Testamento e que o Velho já cumpriu sua missão. A natureza histórica da maior parte do
livro é, até certo ponto, responsável pela aversão que muitos lhe votam, visto que a
história só interessa a espíritos investigadores. As condições éticas e morais dos tempos
em que os diversos livros foram escritos, em franco contraste com os costumes hodiernos,
o tornam antiquado e sensabor para o gosto atual. Há, finalmente, um sem-número de
causas que tendem cada dia a encostar mais o Velho Testamento ou dar-lhe um lugar
pequeno demais na economia religiosa. Não vão longe os tempos em que se afirmou que
não havia lugar nem na História nem na Ciência, e muito menos na religião, para que se
desse ao V.T. qualquer importância, pequena ou grande, Felizmente, já morreu tal idéia e,
hoje, mais que nunca, o livro em que se alicerça o plano glorioso de Deus para a redenção
dos homens está ganhando apoio nos círculos históricos, geográficos, étnicos e científicos.

Pondo de parte as objeções feitas ao Velho Testamento, creio que ele deve ser estudado
(não meramente lido) com carinho e atenção por diversos motivos:
1. É uma parte considerável da Bíblia e como tal pouco estudada. Seja qual for a
preferência que certo livro mereça, tanto em valor intrínseco como teológico ou
apreciativo, não nos esqueçamos de que Deus nada fez de mais nem de menos, e que tudo
que foi escrito o foi para nossa instrução e edificação.
2. É a parte menos cuidada e mais negligenciada. As coisas mais desprezadas são as
que justamente devem merecer maior cuidado, visto que nem sempre o desprezo é justo e
eqüitativo. A controvérsia tenaz e destrutiva dos últimos cinqüenta anos fez voltar as
vistas dos estudiosos para a revelação do Velho Testamento e deu-lhe um lugar no plano
geral da Bíblia de acordo com o seu mérito. Não sejamos nós, os que aceitamos
integralmente a Bíblia, os primeiros a relegar esta ou aquela parte, por ser menos
importante.

3. Por sua relação com o Novo Testamento. Longe de mim, dizer que o N. T. não é a última
revelação completa e final de nosso Deus, que para isto fez vir ao mundo o seu Unigênito
Filho. Todos os crentes ortodoxos aceitam e defendem esta verdade; não obstante,
convém dizer que o Novo Testamento, sem o Velho, ficaria, se não obscuro, pelo menos
difícil de ser compreendido em muitas partes. Por exemplo, poderia o teólogo explicar a
Carta aos Hebreus, se não tivéssemos o livro de Levítico? Poderíamos nós entender o
ritual ali descrito, sem os livros do Pentateuco? Como poderíamos entender as Cartas aos
Romanos e aos Gálatas, sem conhecer o plano da revelação no V.T. ? As duas partes da
revelação não se opõem uma à outra, antes, se completam. Os escritos da antiga
economia são a semente que brotou viçosa e robusta na nova dispensação, mas se a
semente não é tão importante como a árvore, nem por isso deixa de ser essencial a ela.
Há uma vital relação entre as duas partes da revelação, de modo que uma sem a outra não
está completa. Ainda mais, se quisermos compreender o plano de Deus como se
apresenta no Novo Testamento, temos de compreender este mesmo plano esboçado no
Velho. Note bem o leitor que não estou fazendo depender uma parte da outra ou crendo
que o Novo Testamento sem o Velho não seria todo suficiente para nos levar a Cristo, mas
insistindo que, para leitura inteligente e compreensão razoável, precisamos conhecer toda
a Bíblia. Têm havido milhares de crentes que, sendo ignorantes, ou melhor, analfabetos,
encontraram o seu Senhor pela fé somente, mas isto não indica que não precisemos de
estudar ou que a fé exclui o estudo das Sagradas Letras.

Há outros motivos de ordem secundária que se impõem como uma força irresistível ao
nosso espírito. Já acima aludi às críticas destrutivas a que tem sido submetido o Velho
Testamento e de como pouco faltou para levá-lo ao descrédito nos meios científicos. O
primeiro ataque feito foi em 1753, por Francisco Astrue, médico francês, que supôs ter
Moisés usado dois documentos diferentes na composição do livro de Gênesis; num, sendo
usada a palavra Elohim para designar Deus e noutro Jeová. Daí em diante, a batalha foi
cada vez mais renhida contra o Velho Testamento. Sem que pretendesse destruir a
autoridade de Moisés, apenas sugerindo que ele teria usado material previamente
arranjado por outro, Astrue abriu, entretanto, o caminho para as mais pequeninas e
curiosas concepções bíblicas. Eichhorn, mais tarde, fortificou a hipótese de Astrue e deulhe forma definitiva e permanente, de que Moisés se serviu de documentos preexistentes,
ficando assentado que, quando muito, ele foi um compilador de histórias correntes entre o
povo. Esta idéia foi conhecida como a "hipótese documentaria". Outros, mais tarde, de
1800 em diante, reduziram o Pentateuco a um sem-número de fragmentos, sem lógica
nem cronologia, arruinando não somente a ordem da narrativa e a autoria de Moisés, mas
dando a cada pedaço da história um autor diferente e diferente época, culminando na
ousada afirmativa de que Moisés nada escreveu e que alguém criminosamente usou seu
nome autorizado, para impingir à sua geração uma obra de que Moisés não tinha a menor
responsabilidade. Conforme esta escola, Moisés nada escreveu, porque não se teria
lembrado disto e porque no seu tempo a arte de escrever não era conhecida. Nada mais
faltava para desacreditar o V.T. Se o Pentateuco, como o temos atualmente, não é de
Moisés, o Velho Testamento e o Novo nada valem, porque ambos são unânimes em
afirmar a autoria mosaica. Feito isto, nada mais restava para reduzir tudo à fábula e mito.
Esta escola, porém, era radical demais, e por isso forçou uma contra-hipótese chamada
hipótese suplementar, crendo que alguém, menos Moisés, usou de fato certo documento
antigo e adicionou outros fatos correntes em seu tempo, pretendendo explicar a
diversidade de nomes e duplicidades encontradas nos primeiros livros da Bíblia. O
melhoramento foi insignificante. O descrédito do Pentateuco era flagrante e a tradição
tinha sofrido o mais tremendo choque que imaginar se podia. Para remediar este mal,
alguns críticos, mais conservadores, resolveram fazer voltar o assunto à primitiva teoria da
hipótese documentária, mas deslocando tudo para o tempo do reino e para o período pósexílico. O primeiro livro escrito, conforme esta escola, foi Deuteronômio, escrito por
alguém no tempo do rei Josias e capciosamente escondido num canto do Templo, a fim de
ser encontrado, como de fato foi, dando lugar à maravilhosa reforma operada no tempo
daquele bom rei. O resto do Pentateuco teria sido escrito depois, e possivelmente a maior
parte foi escrita no tempo e depois do cativeiro.

Assim, todos os escritores e oradores, incluindo Jesus mesmo, ou foram mentirosos ou
ignorantes da história, afirmando e crendo que Moisés escreveu cinco livros, quando ele
nada escreveu. Feito isto e crido assim nos grandes círculos eruditos da Alemanha e
Inglaterra, fácil era desacreditar todo o Velho Testamento. A história de Gênesis sobre a
criação caiu no ridículo, e foi substituída pela teoria da evolução. A história do dilúvio, dos
patriarcas, da escravidão no Egito não ficou sendo mais que um mito fabricado por pessoas
malévolas ou piedosas. Moisés não existiu, Abraão, Isaque, Jacó etc. passaram a ser
personagens tribais. O povo mais ludibriado foi o mesmo povo israelita, e depois dele
todos os que aceitaram a Bíblia tal como chegou até nós. A história do reino unido foi
consequentemente desacreditada. Sargão II nunca existiu; a Assíria, a Babilônia antiga,
com seus célebres monarcas, suas conquistas, suas glórias, tudo passou para o plano da
ficção e, para culminar a obra, o Deus que asses livros descrevem como um Deus
providencial e soberano não merecia um lugar superior a qualquer Deus do panteão
assírio, babilônico, grego ou romano. Neste pé, só restava uma coisa aos fiéis e piedosos
que tinham nascido e desejavam morrer na velha crença: baixar a cabeça, e aceitar o
"veredictum" da crítica racionalista, pedir informações aos povos que há séculos tinham
desaparecido. Grandes empresas foram organizadas, e milhares de cruzeiros foram postos
ao serviço das escavações orientais. O Senhor tinha reservado, escondida no coração da
terra, a história das velhas civilizações, para confundir a sabedoria dos sábios modernos.
Hoje, graças a estas investigações, podemos ler a história da Babilônia, da Assíria e do
Egito. O capítulo 14 de Gênesis, com a menção da memorável batalha que arrastou
Abraão a pegar em armas, e cuja historicidade tinha sido contestada, os monarcas nela
mencionados a vida política e comercial das antigas civilizações, os antigos povos, tais
como os hiteus, a permanência do povo israelita no Egito, a possibilidade histérica dos
patriarcas, a história da nação mesma, tudo isto e muito mais do livro de Gênesis que aqui
não é mencionado, pode ser lido e contrastado com o conteúdo do Velho Testamento.
Este maravilhoso livro, que esteve à beira do abismo do descrédito e, com ele, toda a
história da revelação preparatória, arranca hoje de todos os lábios sinceros os mais francos
aplausos de admiração. Por fim, como que para culminar a obra de exaltação, vêm as
outras ciências, tais como a Geologia, a Etnologia, a Paleontologia, ciências
verdadeiramente subsidiárias, para confirmar a história da criação, como se encontra no
primeiro capítulo de Gênesis, afirmação de que todas as raças do mundo tiveram sua
origem em Adão e se dispersaram após a confusão das línguas, como nos diz Moisés nos
capítulos 10 e 11 de Gênesis, e a verificação de que o homem não é produto da evolução,
mas criação de Deus.

Poderá parecer desarrazoado e desnecessário tudo isto, para se poder crer na Bíblia. É
verdade. Ao mesmo tempo se crerá com mais inteligência e razão, sabendo os transes por
que tem passado este livro e de como tem saído incólume de todos os embates. Anima
crer num livro contra o qual se têm levantado os maiores cérebros de todos os tempos e
de todas as nações e que, afinal, tem podido resistir a tudo e a todos. Deus mesmo deixou
que o descrédito abalasse até à medula o V.T., para depois desmascarar os ousados e
temerários sábios que tão apressadamente tiraram conclusões de premissas
demasiadamente precárias.

O Brasil está quase virgem quanto a este assunto. Pelo menos os crentes em geral
ignoram por completo o problema. Só de longe ele tem sido ventilado, e por poucas
pessoas, mas isto não milita a favor do fato de que não é preciso estudar o V.T. O saudoso
Dr. José Carlos Rodrigues abordou o assunto do estudo do V.T. com carinho e abnegação,
mas, infelizmente, sua obra, além de ser custosa, ressente-se das idéias críticas acima
citadas, de modo que eu não ousaria recomendar o seu livro a estudantes inexperientes.
Ele aceita a teoria da hipótese documentaria à luz da crítica racionalista, o que, por muito
ameno que seja, dá margem a especulações e dúvidas. Foi assim que Astrue começou e,
sem querer, foi o precursor de todas as idéias extravagantes que deram assunto vasto para
os debates universitários dos últimos cinqüenta anos. O Dr. Rodrigues foi o precursor
destas idéias no Brasil. É questão de tempo a chegada aqui dos mesmos problemas que
nossos irmãos têm tido e estão tendo noutros países. Se conseguirmos criar ou formar
idéias sãs a respeito do Velho Testamento, teremos salvo o evangelho no Brasil de muitos
debates e discussões desnecessários. Que se faça a luz e que ela venha, mas a luz e não as
trevas de uma critica destrutiva e desonesta, como tem acontecido tantas vezes. É visando
a estas futuras questões que aqui vão, à guisa de brado, algumas idéias mal alinhavadas. O
tempo exigirá que outros toquem no problema. Eu acho que, por agora, basta o que fica
dito. Poderão ser encontrados bons livros, especialmente dedicados às diversas fases
deste estudo, nas bibliotecas dos seminários. Alguns já foram mencionados, outros que
tenho o prazer de recomendar são os livros do sábio Dr. William Green, professor de
literatura oriental e do Velho Testamento no Seminário Teológico de Princeton, entre os
quais destaco o The Unity of Genêsis", The Canon, the Text and the Higher Criticism of the
Pentateuch. O Dr. James On é autor de um admirável livro, intitulado The Problem of the
Old Testament. Com esta munição, qualquer pastor ou leigo que leia inglês poderá estar a
salvo dos ataques racionalistas. Infelizmente, há homens bons e sinceros que não podem
crer que se possa ser erudito sem crer mais ou menos nas críticas universitárias e aceitar
algo que seja diferente do consenso comum. O saudoso Dr. Driver e seu ilustre
companheiro, Dr. Davidson, na Inglaterra, podem ser chamados os luminares desta escola
média. Enquanto desejam crer na revelação de Deus Jeová, acham que podemos crer, sem
prejuízo, que a Bíblia tem muita verdade misturada com muito erro; que os escritores não
precisam ser absolutamente capacitados para escrever sem isenção de erro desta ou
daquela natureza; que a Bíblia contém a verdade de Deus, mas não é a verdade de Deus.
CAP. II - LITERATURA DO VELHO TESTAMENTO

O Novo Testamento, como o temos atualmente, foi escrito em grego, a admirável língua
dos povos helenos, que também serviu ao ideal de tornar a última revelação de Deus clara
e perfeitamente acessível a todos os povos. O Velho Testamento foi escrito em hebraico,
uma das línguas semíticas. Mais concisa que a grega, de mais difícil mutabilidade, bem se
adaptou ao plano divino de conservar dentro de moldes certos e firmes a revelação
preparatória; com exceção de seis capítulos em Daniel (2:4-7:28), mais ou menos, três em
Esdras (4:8-6:18 e 7:12-26) e um verso em Jeremias (10:11), que foram escritos em
aramaico, todo o restante foi escrito na língua de Moisés. Para podermos ler no original a
nossa Bíblia, precisamos conhecer pelo menos três línguas: hebraico, aramaico e grego.

Este precioso livro, escrito durante um período de quase 1.600 anos, é a maior maravilha
em harmonia e escopo. Escrito por homens diferentes, em períodos diversos, em
circunstâncias diversas, tratando de assuntos variadíssimos, parte escrita em prosa, parte
em poesia, parte em drama e romance, algumas partes tratando de assuntos históricos,
outras de assuntos religiosos, ora dedicando-se às coisas atuais ora às futuras, é,
entretanto, um livro só, com um plano belamente delineado, de maneira que o leitor que
passa através de suas páginas sente estar acompanhando o desenrolar de uma mesma
história, tendendo para uma finalidade. Estes livros, à medida que eram escritos, eram
entregues à guarda dos sacerdotes e usados para leitura e instrução do povo. Sob esta
custódia, as mais exigentes regras eram aplicadas, de modo a não permitir a corrupção do
texto sagrado. Os que desejarem conhecer o escrúpulo com que os judeus guardavam os
livros que hoje compõem o Velho Testamento devem ler o Talmude judaico. Toda sorte de
cuidados eram empregados para que o texto sagrado não sofresse corrupção no ato de ser
copiado. Durante o longo período da história deste povo, as Sagradas Escrituras passaram
por muitas vicissitudes e, por mais de uma vez, foram elas objeto de criminosa busca e
destruição. Antíoco Epifânio destruiu todas as cópias que pôde encontrar durante o
período de seu governo na Palestina.

No tempo dos romanos, muitos rolos de pergaminho foram também destruídos. Não
obstante, alguns manuscritos foram preservados, na boa providência de Deus, e puderam
chegar até aos nossos dias. Nos museus do Cairo, Louvre, Britânico etc., podem ainda hoje
ser lidos os mais antigos manuscritos do Velho Testamento. O mais recente data do século
1º, da nossa era. Crêem alguns eruditos que durante este longo tempo diversos erros
foram introduzidos no texto original, devido aos processos elementares de reprodução
que, na falta de imprensa como a atual, eram copiados à mão. Se tal coisa é possível,
podemos descansar, que o texto hebraico de hoje é substancialmente o mesmo do tempo
dos profetas. Podemos assim crer porque, como foi notado, os escribas encarregados de
copiar os sagrados escritos eram extremamente zelosos e suas cópias, depois de
completas, eram examinadas cuidadosamente e, no caso de serem encontradas algumas
faltas, eram inutilizadas.

Até ao ano 250 a.C., mais ou menos, nenhuma tradução desses escritos tinha sido feita. A
primeira foi a conhecida LXX, feita no Egito a pedido de Ptolomeu Filadelfo, conforme a
tradição. Justino Mártir relata a maravilhosa história desta tradução. Diz ele que
Ptolomeu pediu ao sumo sacerdote, em Jerusalém, escribas peritos para procederem à
tradução das Escrituras hebraicas para o grego, a fim de servirem aos muitos judeus que
moravam no Egito e que tinham perdido o conhecimento de sua própria língua. O sumo
sacerdote mandou 72 anciãos, que se separaram em grupos de dois, fazendo cada grupo
sua tradução, e finalmente combinaram os diversos trabalhos e acharam que estavam
exatamente iguais, atribuindo a Deus este milagre. Esta história é certamente fictícia, mas
quanto ao fato de que esta tradução foi feita no Egito não resta dúvida, ainda que não
tenha sido feita de uma só vez e por uma só pessoa, porque as diversas partes do Velho
Testamento são diferentemente traduzidas, como se pode verificar pela natureza do estilo
e pureza do grego. O Pentateuco é a parte que recebeu a melhor tradução, e o livro de
Daniel, a pior. Pensa-se que alguns destes tradutores não conheciam bem nem o hebraico
nem o grego. A despeito das deficiências desse trabalho, não padece dúvida que a
tradução é de valor inestimável, porque nos coloca em frente do texto hebraico muitos
anos antes da era cristã e nos deixa ver o seu estado nesse tempo. Se outro valor não
tivesse, tê-lo-ia para a crítica textual.

Outras versões em grego foram feitas entre os anos 200-100 a. C. por judeus em diversos
lugares. Orígenes (230) preparou a Hexapla em seis colunas, pondo em cada uma delas,
em ordem, o texto hebraico, uma transliteração do mesmo texto, e mais quatro traduções
gregas, cujo fim parece ter sido a comparação entre o texto original e as outras traduções.
Infelizmente, pouco nos resta desta maravilhosa obra. Outras traduções mais importantes
foram a Peshita, entre 150-200 A. D., de origem siríaca; os diversos Targuns ou paráfrases
do original hebraico algumas vezes, outras, traduções literais. Os mais importantes
Targuns são o de Onquelos, o de Jonatã e o de Jerusalém,.

As traduções latinas do segundo século A.D. foram feitas da Septuaginta, e não do
hebraico, e por isso não podem ser tão exatas como as gregas nem têm o valor crítico
destas, visto serem feitas de outras traduções. A mais importante é a de Jerônimo,
chamada também de Vulgata, que é a tradução usada pela Igreja Católica.
Os judeus dividem a sua Bíblia (Velho Testamento) em três partes:
(1) A lei ou Tora,
(2) os profetas e
(3) os escritos ou quetuvin.

A primeira divisão inclui os cinco livros de Moisés, os mais estimados e que foram a base
do livro. A segunda divisão inclui tanto os profetas como os livros históricos a partir de
Josué até Reis. Compreende os profetas desde Isaías a Malaquias. A última parte contém
os livros poéticos, os cinco rolos, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes,
Ester, e os livros de Crônicas, Esdras, Neemias e Daniel.
A nossa Bíblia segue uma outra ordem, obedecendo mais à qualidade literária que à
importância dos livros.
(1) Pentateuco
(2) Históricos
(3) Poéticos
(4) Proféticos.
Sobre os autores dos diversos livros da Bíblia não é fácil dar resposta final. Os cinco
primeiros foram escritos por Moisés, exceto o último capítulo de Deuteronômio, que relata
a sua morte e foi, provavelmente, escrito por Josué ou outro ajudante imediato do grande
legislador. Contra a autoria de Moisés não se pode oferecer argumento plausível, em face
da natureza dos mesmos livros, que denotam flagrantemente que quem os escreveu tinha
a experiência do que escreveu; da tradição judaica, que sempre atribuiu a Moisés sua
autoria; e, finalmente, da autoridade dos autores inspirados, incluindo nosso Salvador
mesmo. Josué foi escrito por ele, mas crê-se que foi escrito no tempo do Reino, por algum
escriba ou mesmo por algum dos profetas, talvez Natã. I e II Samuel caem na categoria de
Josué. Pensam alguns escritores que Samuel mesmo escreveu ou mandou escrever, e,
conquanto nada em contrário se possa aduzir podemos aceitar que, se não foram escritos
pelo homem cujo nome os livros têm, foram escritos por pessoa bem familiar com a
história. Os livros têm o nome de Samuel, não tanto porque ele os tenha escrito, mas
porque trazem a história de sua vida e seus feitos. Os dois livros dos Reis foram escritos lá
pelo fim do reino de Judá ou durante o cativeiro. Qualquer profeta estaria plenamente
qualificado para ser o historiador da nação. Os profetas eram os líderes e cronistas do
Reino. Não a pessoa que escreveu, mas o que ela escreveu foi tomado, juntamente com
sua autorização divina, como norma da canonicidade do livro. Jó foi escrito, talvez, por
Moisés, no tempo em que esteve em Midiã. Esta foi sempre a tradição, até que, nos
últimos tempos, alguns autores passaram a colocar o livro no fim do Reino. Seja qual for o
autor, não padece dúvida que é muito antigo. O livro dos Salmos deve sua maior parte a
Davi. Há outros autores, como Salomão, os filhos de Asafe e outros, anônimos. Provérbios
deve sua maior parte a Salomão. Outros escritores, como Agur, têm alguns provérbios na
coleção.
Cântico dos Cânticos tem sido tradicionalmente atribuído a Salomão
ultimamente, tem sido disputada sua autoria. Se não foi escrito por Salomão, foi escrito a
respeito dele. Eclesiastes, pela mesma forma, foi sempre atribuído a Salomão, mas os
críticos modernos o colocam entre 440-200 a.C. Com tanta razão o podem colocar no fim
do período profético como no princípio. Eles têm liberdade de dizer o que quiserem. O
livro sempre foi tido como da autoria de Salomão. Os livros de Crônicas foram escritos
depois do cativeiro, por qualquer profeta, conforme pensam alguns, ou no tempo do
Reino, como querem outros. O fato de estes, livros aparecerem na última parte da Bíblia
hebraica indica simplesmente que eles não foram escritos por pessoas da categoria de
quem escreveu I e II Reis. Os livros proféticos todos são atribuídos aos homens cujos
nomes trazem.

Convém dizer aqui que todos os livros do Velho e Novo Testamentos foram escritos para
satisfazer a uma necessidade contemporânea. Não foi o mero prazer que levou qualquer
destes autores a escrever. O povo semita é demasiadamente prático para perder tempo
com qualquer coisa que não se imponha no momento.
Compreendido
isto,
estamos melhor habilitados para entender o livro. Não se julgue insignificante o problema
do estudo inteligente da Bíblia. Qualquer pessoa pode crer, mesmo sem poder ler, mas
isto não justifica o descaso da leitura bíblica. Para ler com o maior aproveitamento
possível, se o original satisfaz, mas como este privilégio é de poucos, comparativamente,
insistimos em que se leia a Bíblia com toda a reverência, usando todo o material à mão que
aclare e aplaine o caminho a seguir. Mesmo os que lêem no original têm suas grandes
dificuldades, devido a ter desaparecido a língua hebraica como língua falada, e ainda mais
por ter sido abandonada pelos nativos por um largo período. Assim que hoje é assaz difícil
saber o que significam muitos vocábulos e mesmo expressões encontradas nos
manuscritos originais. A crítica comparativa entre o hebraico, o aramaico, o etíope e o
árabe tem prestado relevantes serviços, e só com o auxílio destas línguas é que é possível
resolver um grande número de dificuldades, mas ainda resta muito para resolver. Não
pense, pois, o leitor inteligente e cônscio de sua responsabilidade que o problema seja de
fácil manejo. Um curso de três anos, num bom seminário, certo há de habilitar o obreiro
para esta grande obra, mas, ainda depois de ele ter gasto muitos anos de paciente estudo,
compreenderá que nem tudo está entendido. Não é para desanimar que digo isto, mas
para convencer da necessidade de um aparelhamento sólido. Os maiores inimigos da
Revelação têm sido alguns dos homens mais eminentes; os defensores não devem ser
inferiores. Para uma razoável compreensão da Bíblia, deve o leitor conhecer:

(1) Os costumes do povo e seu modo de viver. Isto ajuda a compreender o emprego de
certas expressões ou frases.
(2) Os costumes do tempo do escritor, se o livro foi escrito posteriormente à história
que relata.
(3) Manejar bem o contexto. Se a expressão oferecer mais de uma interpretação,
nada como o contexto, junto com outros conhecimentos, poderá ajudar a interpretação.
(4) Conhecer o estilo do autor e suas peculiaridades e vocabulário.
(5) Não dar à sentença sentido figurado ou alegórico. A História e a Etnologia
prestarão grande serviço à interpretação. A Bíblia é a história do homem em sua relação
com Deus e dá tanto o lado divino e seu propósito, como o humano e sua tendência.
Muito ajudará o conhecimento da psicologia do povo cuja história se estuda.

(6) No caso de uma passagem se referir ao homem em sua relacão com Deus, convém que
ambas as partes sejam consideradas e que não se dê valor demasiado a uma, com prejuízo
da outra.
(7) A natureza da língua e do ambiente deve ser considerada. O estudante do grego
não deve aplicar seus conhecimentos desta língua ao estudo do hebraico, além do que de
geral pertence a todas as línguas. A natureza da Revelação encontrada no Velho
Testamento é preparatória, e, tendo muito em comum com a do Novo Testamento, tem ao
mesmo tempo sua própria natureza e finalidade. O Velho Testamento dá muitos
ensinamentos em figuras e tipos, que se vão desdobrando gradativamente, conforme o
grau de avanço espiritual do povo. Devemos, pois, atender a este progresso.

(8) A referência a outros livros serve muito, mas não determina o sentido final e infalível.
O significado de certa passagem num livro não deve ser trazido para outro livro de data
muito anterior, a não ser que haja sérios motivos para tal.
(9) O conhecimento da gramática e a natureza do livro. O hebraico não tem uma
gramática tão complexa como o grego, mas tem sua própria gramática, e quem a
desconhecer pode ficar certo de que não poderá compreender o Velho Testamento tão
bem como se a soubesse.

(10) A Bíblia contém uma história viva, de um Deus vivo, para um povo vivo; e não uma
fábula ou mito. Por melhor que seja o equipamento do intérprete, convém não esquecer
que o melhor intérprete é a Bíblia mesma.
Há no V. T. trinta e nove livros, e no Novo, vinte e sete. O total é de sessenta e seis
livros. A Bíblia romana tem no V.T. quarenta e seis; e os mesmos livros que a nossa no
Novo. A razão disto é que a Igreja Católica aceita alguns livros apócrifos, que nunca
receberam admissão no Cânon hebraico. A Bíblia judaica tem na Velho Testamento (o
Novo, os judeus não aceitam) os mesmos livros que a nossa, mas a maneira de enumerar é
diferente. Alguns rabis dão o número total de 24, outros o de 22. No primeiro caso,
combinam I e II Samuel como um livro, I e II Reis como um livro, I e II Crônicas como outro
livro. Esdras e Neemias outro e os doze menores profetas outro, fazendo o total de vinte e
quatro com os outros livros. Os que fazem o número de 22 aceitam a divisão acima e
juntam Juízes e Rute como um só livro e Jeremias e Lamentações como outro. Em
qualquer caso reconhecem a tríplice divisão do Velho Testamento.

A ordem dos livros na Bíblia hebraica também é diferente em alguns casos, mas isto em
nada afeta sua canonicidade. Conquanto não se saiba a quem atribuir a tríplice disposição
dos livros do Velho Testamento, ela obedece à natureza literária dos mesmos livros e não à
sua diferença superior ou inferior, inspiracionalmente falando, pois que nunca houve
disputa relevante acerca da superioridade de um livro sobre outro. A Torá sempre
recebeu mais carinho, por ser considerada a base de toda a Revelação. Somente por isto.

A atual divisão em capítulos não é de origem divina nem inspirada. Teve Lugar
aproximadamente em meados do século 13 A.D. e é geralmente atribuída ao Cardeal Hugo
ou ao Arcebispo de Canterbury, Stephen Langston. A divisão em versículos foi feita no
século 16 por Robert Stephens, tipógrafo em Paris. Tanto uma quanto a outra coisa muito
contribuíram para facilitar o estudo e tornar possível as concordâncias. Conquanto esse
trabalho mereça os mais francos aplausos, infelizmente lugares houve em que a conexão
ficou arruinada e partes deslocadas de seu próprio lugar.

Não desejo dizer que uma parte da Bíblia é mais importante do que a outra, nem que certa
parte seja mais difícil que outra. Não obstante, todos reconhecemos que cada livro tem
seu próprio plano e serve especialmente a um determinado fim e que conforme a natureza
do livro assim sua relativa facilidade ou dificuldade. O Pentateuco é não só o mais difícil,
como tem sido o mais atacado. Por que é mais difícil? Por muitas razões. Trata de
assuntos transcendentais, como sejam, a criação do universo e do homem, o dilúvio etc., e
muitos outros assuntos que dificilmente podem ser verificados. Nesta parte, portanto,
temos a base da religião. Sendo de natureza tão difícil, fácil é inventar teorias e formular
especulações para explicar o que, muitas vezes, é inexplicável. Se conseguirmos defender
o Pentateuco, teremos defendido o resto da Bíblia, se não, todo o mais está sujeito a
controvérsias. Se Deus não criou o homem, como explicaremos a revelação dada a esse
homem e como harmonizaremos todo o conteúdo bíblico que aceita implícita e
explicitamente a criação do homem como sendo diretamente de Deus? Do Pentateuco
ainda podemos destacar o livro de Gênesis, como o mais atacado. De fato, não pouco se
tem dito deste maravilhoso livro, sobretudo dos dois primeiros capítulos. É ali que está o
âmago do problema. Quem puder aceitar estes dois capítulos da Bíblia, aceitará todo o
resto. É certo que se precisa mais da fé que da razão para os aceitar; há mais coisas que os
sábios aceitam pela fé, visto admitirem sua existência e não poderem explicá-las. Esta fé
não é cega, entretanto, porque até onde a razão e os conhecimentos têm chegado, a
narrativa de Gênesis tem recebido luz. E, se o homem pudesse explicar todos os
fenômenos do universo por meios matemáticos e físicos, teríamos explicado a narrativa de
Gênesis. Esperemos que a Ciência confirme o que lá está, mas debalde esperaremos que
ela a contradiga. Há atualmente no mundo intelectual verdadeira aversão para com o livro
de Gênesis, não porque algo tenha sido descoberto que o contradiga, mas simplesmente
pela facilidade com que se aceitam teorias, que não resistem à mais elementar análise dos
fatos. A evolução tão falada hoje outra coisa não é que mera teoria ou hipótese que ainda
não recebeu a mais insignificante prova. É o espírito de antagonismo à revelação que causa
tudo isto, e não a luz da Ciência. Ergamos um hino à razão e demos-lhe o seu lugar, mas
não desloquemos a fé para dar seu lugar às extravagâncias racionalistas.

Outro lado da questão do Pentateuco é sua relação com os povos contemporâneos da
história que ele relata. Sem os livros de Gênesis e Êxodo nada saberíamos da origem das
raças, pouco saberíamos dos velhas civilizações babilônica, egípcia, assíria e outras. Mas
não é o subsídio que estes livros dão à história destes povos que mais nos interessa, e sim
a relação que estes povos mantêm com a história de Gênesis. Na pesquisa dá verdade,
todos os elementos que possam trazer luz devem ser aproveitados honestamente. Todos
os historiadores confessar que os tempos primitivos da raça humana são os mais difíceis
de examinar, devido à escassez de informações, e não poucos têm arranjado teorias e
métodos para explicar a maneira de vida dos antigos povos, alguns dos quais pouco têm de
científico. Ainda hoje corre, mundo a fora, a crença de que os homens pré-históricos eram
meio humanos e meio brutos, em sua maneira de viver, e debaixo deste conceito têm-se
forçado todas as antigas raças, fosse qual fosse seu lugar ou estado de civilização, a um
mesmo padrão de moral e de vida social e religiosa. Nada mais falso do que isto. A culpa
está não somente na deficiência de dados informativos, mas na falsa idéia de que o
homem tem estado a se aperfeiçoar através dos séculos, sofrendo, pelo contato com
outros povos e pelas contingências de sua vida local, uma contínua transformação,
tendente ao seu aperfeiçoamento. É nem mais nem menos a nefasta idéia da origem bruta
do homem ou sua evolução do antropóide. O Pentateuco livra-nos de tal concepção
infantil e denunciadora da falta de conhecimentos etnológicos. Até onde é possível
penetrar através das mais velhas civilizações, podem-se descobrir vestígios de grandes
civilizações, capazes de envergonhar os aperfeiçoados deste século.

As grandes descobertas arqueológicas têm reconstruído, desde a base, a velha concepção
evolucionista e mostrado que naqueles tempos, como nos atuais, havia homens vivendo
no meio de admiráveis civilizações, ao passo que outros viviam nas suas povoações
lacustres. Enquanto que hoje um povo vive em Nova York, Paris ou Londres, gozando
todos os requintes de comodidades modernas, muitas tribos na África e noutros
continentes vivem dez mil anos atrasadas. Talvez, mesmo nos arredores destes grandes
centros de civilização, vivam milhares de criaturas numa condição de vida de milhares de
anos inferior. O mesmo fenômeno se observa nos dias da infância da raça. Os assírios
viviam no esplendor de sua invejável civilização, enquanto outros povos vizinhos viviam
vida de escravos, sem cultura e sem civilização. Enquanto os egípcios desfrutavam as
maravilhas de sua antiquíssima civilização, viviam os cananeus em cavernas, alimentandose de frutos, ervas e cascas. Reduzir todos os antigos povos a um mesmo nível social e
político é confessada ignorância da História. Ninguém é culpado. Estes povos não
escreviam sua vida e quando começaram a escrever não puderam espalhar sua literatura.
As contínuas contendas raciais, a ambição acentuada de conquista, que sempre
caracterizou o homem de todos os tempos, sepultou, nas ruínas de cidades incendiadas e
arrasadas, os últimos vestígios de sua literatura. Assim que as gerações sucessivas se
virem privadas dos conhecimentos de seus antecessores e daí a concepção mutilada que
se tem feito da vida de nossos antepassados. Conhecessem os homens que escrevem
História as narrativas do Pentateuco, e nos teriam poupado o desgosto de ver tantas
heresias históricas misturadas com um pouco de verdade, achada por acaso. Infelizmente,
os livros da Bíblia arrostam tremendos preconceitos e só à custa de renhida propaganda é
que sua história virá a ser conhecida. Ainda hoje se encontram homens que se orgulham
de possuir educação esmerada e que ignoram por completo a história antiga.
Recordemos que a Bíblia, além de ser um livro de religião, é um livro da história de
um povo que entrou em contato com os mais velhos povos da terra, e que só por isto deve
ser lida e ocupar um lugar na estante mais humilde ou mais opulenta.
CAP. III - INTRODUÇÃO AO LIVRO DE GÊNESIS

Há um incontrastável prazer no estudo dos clássicos, pelo acréscimo de
conhecimentos que eles nos trazem à grande bagagem do saber moderno. Não há, porém,
prazer maior do que estudar o Livro das Origens do Universo, o livro único que em tempos
tão remotos catalogou, em poucas páginas, uma soma de conhecimentos que têm enchido
de pasmo e admiração as últimas gerações. A primeira sentença de Gênesis: "No princípio
criou Deus o céu e a terra" (Universo), por si só representa todas as conquistas da
moderna astronomia, da geologia, e o restante do primeiro capítulo, composto de 31
versículos, abrange a maior parte das ciências modernas, tais como a Paleontologia, a
Paleantropologia, a Zoologia, a Biologia, a Física, a Química etc. E é difícil a um sábio
moderno penetrar nos umbrais da Ciência sem topar com Moisés, no seu maravilhoso livro
primeiro. O restante aborda os grandes problemas da origem da espécie humana: o
pecado, a sua propagação e a dispersão do povo, as línguas e as primeiras civilizações, hoje
perfeitamente identificadas. Um livro como este não pode passar despercebido pelos que
amam a verdade e a desejam encontrar, onde quer que esteja. "O desígnio do livro de
Gênesis, sem dúvida, é, em si mesmo, suficiente para mostrar a sua incomensurável
superioridade sobre todos os remanescentes da literatura humana primitiva, porque a sua
história é uma introdução à História do Reino de Deus entre os homens, desde o Éden ao
Calvário." (1)

A Assíria e a Babilônia deixaram-nos uma vasta literatura, registrada em tijolinhos
encontrados nas intermináveis escavações arqueológicas dos dois últimos séculos; mas
Moisés deixou-nos um relato feito e acabado dos primórdios da vida do universo e da vida
humana. "A primeira página de Moisés", diz Jean Paul, "tem maior peso que todos os fólios
dos homens de Ciência e Filosofia". O estudo das civilizações egípcia e babilônica fascina,
pela sua grandeza e deslumbramento, mas não há nada nelas tão deslumbrante e
encantador como a narrativa de Moisés. A mitologia e cosmogonia destes povos, a sua
religião, os seus templos e seus deuses, bem como as suas especulações sobre a vida e a
morte, são de fato admiráveis, mas muito mais admirável é o registro límpido, conciso e
acabado que encontramos no Gênesis. Talvez a coisa mais notável neste livro seja a sua
concepção monoteística de Deus, coisa em que povo algum da terra conseguiu tomar pé.
Renan pensava que a origem monoteística da religião se deve a concepções piedosas da
raça semita, porém Max Müller, que não afinava pelo diapasão de seita alguma e cuja
erudição não poderá ser posta em dúvida, afirma "que o instinto monoteístico não podia
ser implantado no mundo por nações que adoravam Elohim, Jeová, Jeová Sabaote,
Moloque, Nisroque, Rimom, Nebo, Dagom, Astarote, Baal, Bel, Baal-Peor, Belzebu,
Quemós, Milcom, Adrame-leque, Niba, Tarka, Asima, Nerval, Sucote, Benote, o Sol, a Lua,
os astros e todas as hostes celestes". Estava errado Renan. "Nem se pode admitir
explicação possível", diz ainda Max Müller, "sobre fundamentos históricos, como os
hebreus obtiveram esta idéia e tão aferradamente aderiram a ela. As suas crônicas
mostram contínuas fugas para a idolatria, mas ao mesmo tempo eles restauravam por si
mesmos o princípio monoteísta, até que, afinal, depois de dura disciplina, trazida pelas
calamidades nacionais, voltaram com entusiástica devoção ao culto de Jeová". (1)
Voltaram ao monoteísmo, para não mais o abandonar. A verdade é que entre todos os
povos da terra se encontram resquícios de monoteísmo, como uma prova de que esta
deveria ter sido a religião primitiva dos povos e que o politeísmo não é mais nem menos
do que a corrupção deste ensino primitivo.

Os povos que habitaram a Mesopotâmia, terra de onde emigrou Abraão, ligam a sua
história ao livro de Gênesis (Gên. 10:10,11) ; têm uma história e uma língua comuns, a
língua Tártaro-Turca ou Turânia. A eles se deve considerável contribuição sobre
conhecimentos antigos, conhecimentos que, como veremos mais adiante, têm uma
relação muito íntima com a história dos primeiros capítulos de Gênesis. Os sumérios e
acádios foram notáveis tanto em coisas religiosas como científicas e sociais. A astrologia, a
história natural, as matemáticas, o comércio, o sistema de pesos e medidas, as transações
bancárias, a jurisprudência etc., eram coisas comuns entre eles. (2 ) Especialmente o
último monarca assírio, Assurbanipal, dedicou todo o seu tempo a colecionar documentos
sobre os conhecimentos da época, reunindo tudo numa famosa biblioteca de 30.000
volumes, há anos desenterrada e atualmente no Museu Britânico. Entre esta vasta
literatura, há poemas, salmos, história, matemática, geografia, uma narrativa sobre o
sábado, outra sobre Jó etc. Contemporâneo de Abraão, viveu o célebre Hamurabi, cujo
código, traduzido para algumas línguas modernas, constitui justificado motivo de
admiração, pelo conjunto de leis de todas as naturezas, leis estas que, como veremos,
apresentam notável semelhança com as próprias leis de Moisés.
Tudo isto, pois, deve induzir-nos a crer numa origem comum destas narrativas, a caldaica e
a mosaica, se bem que esta última se avantaje a todas as outras pela sua pureza e
precisão.
Do ponto de vista científico, tem o livro de Gênesis suscitado graves controvérsias.
Isso tem servido para que alguns mais apressados se aventurassem a querer desacreditar o
grande livro. Por outro lado, os cristãos, ciosos do seu rico patrimônio, não permitiam que
se dissesse qualquer coisa que pudesse diminuir a sua intangibilidade. Quando Galileu
afirmou que a terra era móvel e se movia em torno do sol, e que este é que era fixo, veio a
Igreja contra o sábio, obrigando-o, sob pena de morte, a dizer que "a declaração de que o
sol é o centro do Universo, e imóvel, no seu lugar, é absurda porque contradiz
expressamente as Escrituras". "A declaração de que a terra não é o centro do Universo,
nem imóvel, é absurda, filosoficamente falsa e totalmente errônea, porque contradiz a fé."
(1) Diálogos sobre os Sistemas Principais. Galileu estava certo e a Bíblia também estava
certa, mas a Igreja, vendo as suas interpretações e o seu crédito abalados, obrigou o sábio
a desdizer-se, e ele o fez, mas não de acordo com a ciência e sim de acordo com as
Escrituras e a fé. Ora, as Escrituras nunca disseram que a terra era o centro do universo e
que o sol se move em sua volta. Os Salmos 93:1 e 102:2 apenas dizem que "os céus foram
estendidos como cortina" e "o mundo está estabelecido de modo que não pode ser
abalado", mas isso não tem nada com a ciência, a respeito da esfericidade da terra ou sua
imobilidade no espaço. Calvino caiu no mesmo erro quando tentou provar que os textos
sagrados provavam conclusivamente que a terra estava parada no meio dos céus e que o
sol se movia a seu redor. (2) Calvino, sobre os Salmos.

Pode ver-se que apenas conclusões apressadas e dogmatismo exaltado têm dado causa a
estas conclusões, muita vez desabonadoras para a ciência e para a fé. A ciência ainda está
na infância hoje, e muito mais atrasada estava ela há cinco séculos passados. Onde as
contradições parecerem flagrantes, será melhor esperar um pouco mais do que concluir
que há erro da Bíblia em favor da Ciência. Possivelmente, a Ciência poderá estar errada e
já o esteve muita vez em relação a certas declarações bíblicas. Não vai longe o barulho
feito por alguns críticos alemães, sobre a historicidade das crônicas encontradas nos livros
de Reis e Crônicas. Como se sabe, esses livros narram, em linhas gerais, os muitos conflitos
travados entre os monarcas assírios e babilônios, em relação à nacionalidade hebraica. Os
grandes guerreiros Sargão II, Esaradon, Tiglate-Pileser, Assurbanipal, Nabucodonozor, Ciro,
Dario e uma lista de outros, não eram conhecidos há dois séculos passados, e, por
conseguinte, não era conhecida a sua história. Isso bastou para que a Bíblia fosse
impugnada como contrária à História, mentirosa, falsa, lendária etc. Quem ousaria hoje
afirmar tal coisa? A Arqueologia encarregou-se de desenterrar todas estas civilizações, e
fazê-las viver em nosso século. A Bíblia tornou-se o livro mais acreditado entre todos os
que vieram de épocas antigas, e hoje só a estreiteza do doxmatismo ou a pressa de alguns
sábios poderá fazer reviver o conflito entre a Bíblia e a Ciência.

Do ponto de vista das ciências que se relacionam com a terra, os astros, a vida e as nações,
o Gênesis, em sua admirável síntese, quando visto por olhos que desejam a verdade,
constitui um admirável repositório do saber. Impressionam as conclusões da Geologia,
sobre a formação da terra, suas épocas, a vida e seu desenvolvimento em Radiata,
Articulata, Molusca, Peixes, Répteis, Pássaros, Quadrúpedes e Homem, segundo Cuvier.
Acrescentando-se a vida vegetal, teríamos em primeiro lugar, relva, erva, árvores
frutíferas, para depois entrarmos no reino animal. Tudo isto é mais que maravilhoso, se
tomarmos em conta a era em que Moisés escreveu.

Creio estar perfeitamente estabelecida a identidade entre as afirmativas da Bíblia e as
conclusões da Ciência, mas a crítica impiedosa e sectária nem sempre aceita as últimas
conclusões como um aviso para maior cautela. Assim é que se já não se pode impugnar a
Bíblia, no que diz respeito à segurança das suas afirmativas, ainda alguns acham que
Moisés não escreveu uma obra de cunho científico, e, portanto, o seu grande livro
continuará apenas e por favor um livro de religião. Concordo com as restrições. Moisés
não pretendeu mesmo escrever um livro de ciência. Escreveu para o seu povo, sob a
inspiração de Deus. Escreveu a história do pecado e da graça divina, e antes de entrar no
tema principal da sua obra, deu-nos uma introdução maravilhosa, ao que poderíamos
chamar os começos do universo e da vida em relação a Deus. É isto que se encontra do
capítulo 12 em diante. E graças a Deus que ele assim fez, porque, doutra forma,
estaríamos às cegas sobre como apareceu o maravilhoso conjunto universal. Ele bem
poderia escrever com mais acentuado sabor científico, se quisesse, visto que tinha sido
educado nas melhores universidades de seu tempo e era filho da mais afamada civilização
contemporânea. Heródoto disse, com justiça, que a civilização grega tinha vindo das
margens do Nilo. (1) Mas Moisés preferiu escrever para ser entendido pelo seu povo e não
para satisfazer à curiosidade dos homens dos séculos XIX ou XX. Sua cosmogonia é a mais
eloqüente possível, porque alia, à simplicidade e concisão, à certeza. Serviu para os seus
contemporâneos, e tem servido para todos os que reverentemente se aproximam dela e
desejam descobrir as grandes verdade eternas. O que ele não poderia fazer era escrever
para satisfazer a gosto de cada cientista moderno. Isto lhe tem valido certa diminuição por
alguns que se apressam a tirar conclusões sem fundamento. A lição porém, tem
aproveitado a muitos, e todos os que prezam seu nome devem precaver-se de acusar
Moisés de ignorância, antes de ter em mãos todos os dados necessários à prova.
Certamente não digo que ele soubesse tanto de Geologia, Astronomia, Botânica ou outras
ciências, como muitos homens de nossos dias. Não. Mas digo, sim, que o que ele
escreveu pode resistir, como tem resistida, a todas as investigações científicas e não causa
pavor afirmar que, quanto mais os homens descobrirem e conhecerem, mais veraz se
tornará a história do maravilhoso livro de Gênesis. Moisés usou seu saber, é certo, mas foi
guiado por Deus para escrever esta história, e, se isto é contraditável, pode-se afirmar que
ele foi, é e continua a ser o maior mistério do mundo. Já se passaram aproximadamente
quatro mil anos desde que Moisés escreveu, e até agora nada se pode acrescentar nem
diminuir à sua cosmogonia, a despeito de o mundo ter sido testemunha do aparecimento
das mais maravilhosas mentalidades, em todos os ramos do conhecimento humano. Se o
que ele escreveu saiu apenas da sua mente, devemos considerá-lo muito mais que um
homem e muito mais que um anjo.

O fenômeno da criação da matéria é incompreensível, tanto para o teólogo como para o
materialista, e, por mais que se sofisme e se penetre no assunto, jamais se saberá a
contento como pôde ser criado o universo. O materialista encolhe os ombros e diz que
algures sempre existiu uma força que agiu por sua própria deliberação, e que foi ela que
deu origem ao universo. Outros, mais exatos, afirmam que a matéria é eterna e que por
suas leis deu origem à vida. E assim vai correndo de mão em mão o problema, sem
encontrar quem o resolva. Por isto mesmo tem-se negado a história da criação da matéria
e do homem, e, para substituir a velha crença da criação por Deus, não poucas têm sido as
especulações inventadas ao talante de cada um. A mais curiosa é a chamada teoria da
evolução, que recebeu ligeira atenção no lugar próprio deste livro. Como todas as
inovações, esta teve o seu dia com as conclusões a que chegou a Biologia. Se a história de
Gênesis puder ser contestada com seriedade, nada mais nos fica para crer, visto que todos
os demais livros da Bíblia repousam na doutrina de que o homem foi criado por Deus e que
este mesmo Deus é o criador e governador do mundo. Não somente isto, mas o livro tem
em embrião as mais queridas doutrinas da fé cristã. A promessa de um Redentor
encontra-se no limiar deste livro, e segue a queda como a sombra segue o corpo. Se não é
verdadeira a queda do homem, muito menos o é a promessa do Salvador (Gên. 3:15). A
doutrina da existência de Satanás e sua obra nefasta, da tendência para o mal, inata nos
homens, a depravação da raça, a destruição pelo Dilúvio, finalmente a interferência de
Deus nos destinos do mundo e do homem, encontram-se graficamente delineadas neste
livro. Se ele é falso, todo o resto o é; se verdadeiro, toda a Bíblia fica em sua posição,
como livro de religião infalível e autorizado.

Não é fora de propósito reafirmar que a narrativa de Gênesis encontra eco em todas as
cosmogonias antigas, e pode-se dizer mesmo que há entre elas verdadeiras afinidades. É
problema que não pode aqui ser discutido demoradamente, mas, ainda assim, desejo dar
aos leitores alguns trechos comparativos entre a narrativa de Gênesis e as narrativas
babilônicas, para que se veja que a cosmogonia mosaica não era uma novidade no seu
tempo, nem uma ficção. Há elementos étnicos que são patrimônio de todos os povos, seja
qual for sua origem e desenvolvimento.

O poema épico da história da criação, corrente na Babilônia no sexto século a.C., compõese de 7 partes, contendo um total de 938 linhas. Grande parte deste poema ainda não foi
descoberta, tendo apenas aparecido partes separadas. Algumas destas partes estão de tal
modo quebradas que a tradução é impossível. Vejamos alguns espécimens.

1. Houve um tempo quando acima céu não era chamado
2. Embaixo à terra nenhum nome tinha sido dado
3. Então o principal abismo seu começou a gerar,

4. O rugente mar que os fez nascer
5. Suas águas ... estavam todas misturadas;
6. O campo não tinha sido formado, nem continentes vistos.
7. Tempo houve quando deuses não tinham sido feitos,
8. Nenhum nome feito nenhum destino (determinado)
9. Então foram criados os deuses no meio do céu.
10. Lakhmu e Lakhamu eram formados (juntos)
11. Gerações multiplicadas.
12. Anshar e Kishar foram............ formados e sobre eles
13. Dias eram prolongados, então apareceu

14. Anu, seu filho
15. Anshar e Anu.
16. E o deus Anu etc.

A primeira parte compõe-se de 142, linhas e termina com a criação do mundo.
A segunda parte descreve a vingança de Tiamate sobre os outros deuses.
1. Tiamate fez poderosas obras.
2. O mal ela intentou contra os deuses, sua geração etc.
Termina com a prisão de Tiamate para salvar a vida da geração, e com a
recomendação de obediência às ordens recebidas. Esta tábua corresponde ao terceiro
capítulo de Gênesis, onde vem a história da queda.

A terceira parte compõe-se de 138 linhas e parece descrever a luta entre os diversos
personagens. Fala de um banquete de embriaguez e termina com a intervenção de
Marduque, o redentor, para salvar os que tinham sido destinados à destruição.
O resto do poema menciona a luta começada, chega à destruição de todos os maus
(linha 34, parte sétima) e termina com a exaltação do transgressor arrependido. (1) Barton,
Archeology and the Bible, pág. 236.
Pena que não seja possível dar maior citação deste admirável poema, mas não
desejo sobrecarregar este livro, apenas mostrar que a história da criação não era ignorada
pelos outros povos. Os que puderem ler inglês e desejarem maior conhecimento poderão
consultar o livro do Dr. Barton, por mais de uma vez mencionado. O que aí fica não deixa
dúvida sobre o paralelismo das duas narrativas, hebraica e caldaica. Ambas começaram
com um tempo em que não havia céus, nem terra, nem homens. Depois, apareceram os
abismos, a terra seca, os campos e os homens.

Outra semelhança notável é a contagem do tempo em sete. As partes do poema
babilônico são sete, e sete são os dias da criação. A série Babilônica culmina na celebração
de Marduque por todos os deuses; os dias da criação bíblica terminam com o sábado e o
louvor ao Criador. Ambos combinam na ordem da criação dos céus no quarto dia ou
quarto canto, e a criação do homem no sexto. Há alguma diferença quanto à criação da
lua e das estrelas no quinto dia, em lugar do quarto, no cântico babilônico.
A criação dos animais não é dada no poema, mas encontra-se noutros cânticos separados.
Há um fragmento destes cantos em treze linhas que começa assim:

1. Quando os deuses em suas assembléias tinham feito os céus
2. O Armamento tinham estabelecido e segurado,
3. Seres vivos foram criados de todas as espécies,
4. Gado do campo, bestas do campo e criaturas moventes das cidades etc.

Nos pontos mais importantes, os dois documentos concordam; no que eles são
diferentes deve ser levado à conta da corrupção, que a tradição sofreu através de muitos
séculos.

Há um ponto em que os dois são fundamentalmente diferentes: na ação dos
deuses. A narrativa do Gênesis dá apenas um Deus como criador auto-existente, enquanto
a Babilônia dá os deuses como gerados. Um é politeísta e outro monoteísta. Daqui a
marcada diferença de concepção religiosa. A explicação é plausível. Moisés escreveu por
inspiração divina; os escritores babilônicos escreveram as tradições correntes. A raça
hebraica tinha preservado estas tradições primitivas com mais pureza; os outros povos,
pelo seu afastamento de Deus, deixaram-nas corromper.

Além dos poemas épicos da criação, há outros fragmentos esparsos sobre outros assuntos,
encontrados nos primeiros capítulos de Gênesis. O sábado babilônico é consagrado
especialmente num "tablet" em que Marduque e Zarpanite dão uma festa, cujo conteúdo
doutrinário se assemelha muito ao quarto mandamento (Êx. 20:9-11).
Através da imensa literatura achada nas escavações feitas nas velhas cidades
orientais, têm-se encontrado pedaços de poemas descrevendo especialmente certas fases
mais importantes da vida nos primeiros dias da criação. A queda, por exemplo, mereceu
especial menção. Há uma lenda em que a queda é descrita com quase tanta minúcia como
no terceiro capítulo de Gênesis. O Adapa babilônico parece-se com o Adão da Bíblia.
Aquele, como este, cresceu em conhecimento, o qual era uma dádiva da divindade. Adapa
pode quebrar a asa do vento do sul e ir além dos limites impostos pela divindade. Adão foi
tentado pelo demônio e desejou tornar-se semelhante a Deus. Ea, o deus que tinha
permitido a Adapa tornar-se sábia, temeu que este lhe usurpasse a imortalidade, como
Jeová julgou que Adão pudesse chegar à árvore da vida e viver para sempre. Ea relatou
uma mentira a Adapa, quando ele estava para sair da presença do supremo deus, Anu, a
fim de evitar que comesse do fruto que o faria imortal. Finalmente, Adapa foi ferido com
doenças e contínua tribulação, como resultado de sua falta. Isto corresponde à narrativa
de Gênesis 3:17. Como Adão foi vestido de peles, assim Adapa foi coberto com roupa
especial por Anu. Em muitos pontos, pois, as duas histórias não se assemelham, mas em
muitos outros se assemelham. Entretanto, não sofre dúvida, que os dois povos possuíam
as mesmas idéias sobre a criação e a queda dos primeiros habitantes da terra.

Como o Gênesis, os mitos babilônicos nos falam da longevidade dos seus primeiros
homens. Comparando as duas narrativas nota-se que até os próprios nomes dos
antediluvianos são semelhantes em muitos casos.
O dilúvio mencionado em Gênesis teve repercussão universal, visto como foi
cantado e reduzido à escrita por este antigo povo babilônico. O cântico mais importante
contém 205 linhas, em que é narrada a maneira por que vieram o dilúvio e a destruição
dos homens. Em ambas as narrativas houve uma revelação divina ao herói fiel, enquanto
que a catástrofe veio sobre todo o resto da raça sem ser percebida. Em ambos os casos há
uma arca, pichada ou betumada por dentro e por fora. Quase todos os eruditos crêem
haver íntima relação: entre as duas descrições, dada a forma dos detalhes de ambas. A
linha 58 dá as dimensões da arca. "Segundo o seu plano, suas paredes eram de 120 cúbitos
de alto, e (59) 120 cúbitos correspondentes ao comprimento." Linha 94: "Eu embarquei no
navio, e fechei a porta." Linha 99: "0 deus Adá trovejou no meio (do espaço)." Linha 147:
"Eu trouxe uma pomba e deixei-a ir" e (148) "a pomba ia e voltava e não achava descanso,
e voltava". Linhas 151-154 descrevem o corvo indo e vindo, sem encontrar lugar para
descanso.

Somente mais um documento antigo desejo mencionar, o qual, ainda que não tenha
relação direta com a história de Gênesis ou do Pentateuco, nos ajudará a compreender o
grau de adiantamento político e social dos povos contemporâneos. No capítulo 14 de
Gênesis é mencionada uma célebre batalha entre quatro reis babilônicos e cinco
palestínicos. Um dos reis babilônicos traz o nome de Anrafel, que era aliado dos outros
três. Este Anrafel é geralmente identificado com Hamurabi ou Hamurapi, antigo rei de
Babilônia, do ano de 1980 a.C. Este poderoso monarca foi o sexto rei da primeira dinastia
babilônica e deixou-nos numerosos documentos sobre seu governo. Conforme Gênesis
14:1, ele reinou na mesma terra de Ninrode (Gên. 10:10), o fundador da mais antiga
civilização. Sem que seja possível determinar quantos anos depois de Ninrode ele
governou, parece que foi sobre os diversos reinos do tempo de Ninrode que Anrafel
organizou um dos mais famosos impérios antigos. Ao historiador moderno é impossível
dizer que mudanças sofreram estes povos no decorrer dos tempos, dada a carência de
documentos. Apenas pode fazer cálculos, e os mais prováveis dão o velho império
ninrodiano como dividido e subdividido, sobretudo por causa da confusão das línguas, e
novamente unido debaixo do cetro de Hamurabi. Convém lembrar que ele foi
contemporâneo de Abraão e talvez reinasse em Ur mesmo ou estendesse até ali seus
domínios. O célebre código de leis, promulgado no seu tempo e sob sua direção, é o mais
admirável que nos vem daquela época. O prólogo contém 700 linhas sobre a vida e
grandeza do autor. Os mais aproximados cálculos dão o número total de 282 leis sobre
todos os negócios e assuntos sociais, civis e legais. Pena que uma boa parte se tenha
perdido, mas o restante, legível e intacto, é suficiente para nos mostrar o grau de cultura
da terra de Abraão.

O mais admirável deste código é sua analogia com as leis de Moisés. Não é possível dar
aqui mais que uma pequena amostra desta similaridade, podendo o leitor examinar
melhor este documento no livro do Dr. Ira M. Price, The Monuments and the Old
Testament".

COMPARAÇÃO DOS DOIS CÓDIGOS

Êxodo 21:2 Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas no sétimo será forro, de
graça.
Hamurabi - N. 117 Se um homem estiver em dívida e vender sua mulher, filho ou filha, ou
os entregar para servidão, por três anos trabalharão na casa do comprador ou senhor; no
quarto ano serão livres.

Êxodo 21:15 O que ferir seu pai ou sua mãe certamente morrerá.
Hamurabi - N. 195 Se um filho ferir seu pai, eles lhe cortarão os dedos.

Êxodo 21:28 E se algum boi escornear um homem ou mulher, que morra, o boi será
apedrejado, certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.
Hamurabi - N. 250 Se um touro, passando pela rua, ferir um homem e este morrer, este
caso não tem culpabilidade.

Êxodo 22:2 Se o ladrão for achado na mina e for ferido, e morrer, o que o feriu não será
culpado do sangue.

Hamurabi - N. 22 Se um homem for encontrado com o roubo, e for preso, tal homem será
morto.

Estas são apenas algumas das muitas analogias entre as leis de Moisés e as de
Hamurabi. Moisés viveu pelo menos 500 anos mais tarde, e a grandeza e sublimidade de
suas leis, sob o ponto de vista humano, não nos deve admirar, visto que séculos antes dele
já havia países onde as leis eram cuidadosamente feitas e observadas.

CAP. IV - RELAÇÃO E CRÍTICA SOBRE AS ANTIGAS TRADIÇÕES E O LIVRO DE GÊNESIS

Sobre o Código de Hamurabi e as leis de Moisés tem-se feito sérias restrições,
alegando alguns críticos que, visto Hamurabi preceder Moisés, certo este copiou as leis
daquele. Concedendo que uma resposta formal sobre tão delicado assunto seja difícil,
pode-se ajuntar que, não obstante a similaridade entre os dois códigos, há uma multidão
de diferenças que tornam os dois inteiramente independentes. Por outro lado, devemos
ver que muito antes de Moisés escrever as suas leis, já o mundo tinha conhecido grandes
intelectualidades, como vimos, e que havia leis comuns a muitos povos. Se Moisés usou
leis já em prática em outros países, ou pelo menos certos princípios ou substância dessas
leis, certo lhes deu tanto nova interpretação, como novo significado. A sociedade do
tempo de Hamurabi, comparada com a de Moisés, oferece tão grande contraste que ainda
que Moisés tenha usado material existente, lhe deu uma aplicação tão espiritual e étnica
que, pode dizer-se, suas leis pouco ou nada têm que ver com outras existentes.

Sobre as tradições babilônicas relacionadas com a história da criação, queda, dilúvio etc.,
não é fácil dar também uma resposta satisfatória. O que se tem dito e escrito tanto
deslustra como ilustra a maravilhosa narrativa dada por Moisés. Os argumentos podem
reduzir-se a três:

1. Que Moisés escreveu sua história inteiramente debaixo da direção divina, nada
sabendo de quaisquer outras narrativas congêneres existentes anteriormente.
2. Que Moisés conhecia as diversas tradições correntes, tanto no Egito como em
Babilônia, e, ao escrever sua cosmogonia, se serviu delas e as refundiu, dando-nos, assim,
uma história de segunda mão.

3. Que ele, conhecendo as diversas narrativas existentes, e sendo levado a escrever a sua,
por ordem expressa de Deus, usou elementos verazes nas já existentes, não porque
fossem correntes e aceitos, mas porque eram verdadeiros, escrevendo sua cosmogonia de
acordo com a verdade histórica, servindo-lhe de guia o Espírito de Deus, para relatar o que
nas outras estava falseado e para ajuntar o que nelas tinha faltado. (1)

Não é fácil dizer uma palavra que nos ponha a salvo de fazer injustiça a Moisés e à
Revelação divina. Devemos ser muito cautelosos. Não há dúvida de que estas tradições
são muito antigas e que delas Moisés devia ter conhecimento. Elas são patrimônio de
todas as raças primitivas. Os hindus, os egípcios, os babilônios, os assírios, os gregos e os
romanos, todos, enfim, têm tradições mais ou menos correlacionadas com Gênesis. Isto é
facilmente explicável. Todas as raças provieram de um mesmo tronco. Até que se deu a
dispersão, por causa da confusão das línguas, todos os povos mantinham a vida em
comum. A primeira pessoa a quem estas verdades foram comunicadas foi Adão. Como,
não sabemos, mas Deus lhe disse, por qualquer forma a nós desconhecida, a maneira
como tinha criado o mundo. O resto das narrativas ele sabia por experiência. Digo que
Deus lhe deu a conhecer algo sobre a criação do universo, porque doutra forma não seria
possível encontrar esta mesma história narrada por tantos povos diferentes e com visos
tão marcados de analogia. Teve uma origem comum. Adão foi contemporâneo de
Matusalém por 243 anos. Aquele podia ter conversado por longo tempo com este sobre
as primitivas coisas do mundo. Matusalém foi contemporâneo de Noé por 598 anos.
Abraão nasceu dois anos depois de Noé morrer, o que significa que Terá, seu pai, foi
contemporâneo de Noé por muitos anos. Deste modo Adão pôde contar a Matusalém a
história dos primeiros dias do mundo, Matusalém a Noé, e este a Terá, pai de Abraão.
Terá morava em Babilônia, onde estas tradições eram correntes, de modo que quando
Abraão emigrou de Ur para a Palestina foi portador de todas estas tradições, as quais ele,
por sua vez, ensinou a seus filhos, e, portanto, no tempo de Moisés toda a nação era
conhecedora delas. É crível que devido à contínua separação do povo de Abraão e seus
descendentes, estas tradições fossem conservadas mais puras, de modo que no tempo de
Moisés correspondessem mais ao original que qualquer outra. Já notamos que todas as
demais são politeístas e têm braços extravagantes na concepção religiosa. A de Moisés,
além de ser genuinamente monoteísta, apresenta-se de forma mais racional e crível.

Com este conhecimento tradicional, que Moisés indiscutivelmente possuía, não lhe foi
preciso recorrer a outras tradições para poder escrever o livro de Gênesis. Assim, nem ele
copiou dos outros, nem os outros copiaram dele. Todos tinham a mesma fonte de
informação. Deus guiou seu servo a escrever com a precisão que todos lhe reconhecem, e
nisto achamos a explicação da diferença entre sua narrativa e as outras e sua veracidade
sob todo e qualquer ponto de vista. Por mais sábio que Moisés fosse, e por mais acurada
que fosse a tradição que possuía, se não tivesse a direção de Deus, não lhe seria possível
escrever sobre assunto tão melindroso e inacessível, com a precisão com que escreveu.
Descansemos, pois, na maravilhosa história que Deus nos deu por intermédio de Moisés, e
não nos preocupemos com as demais narrativas existentes no seu tempo ou antes dele.

Não foram somente os caldeus que, como já vimos, tinham tradições a respeito de Deus
ou dos deuses, do mundo e dos homens. A teologia do Egito, onde Moisés morou com o
seu povo, dizia como Osiris, o sol, criara os sete grandes deuses planetários, os doze
deuses menores dos sinais de zodíaco, e como estes, por seu turno, geraram vinte e oito
para presidir as estações da lua, setenta e duas companheiras do sol e muitas outras
divindades. A teologia hindu fala do Espaço produzindo primeiro água, colocando nela o
germe que, depois de algum tempo, gerou o grande ovo, de grande esplendor, para,
finalmente, este gerar o grande Brama, o pai das criaturas. Os gregos, mais
antropomórficos em suas concepções religiosas, fizeram uma multidão de deuses, segundo
as paixões humanas, cada qual com sua função, sendo o pai de todos eles o grande Zeus.
Os romanos, que herdaram dos gregos a mitologia, tinham o seu Júpiter com um séquito
infindável de divindades, cada qual com a sua função administrativa no mundo material e
espiritual.
Nenhum povo se avantajou aos mesopotâmios, nas especulações sobre a origem do
mundo, dos deuses e dos homens, decerto porque eles estavam mais perto da fonte
original, visto que cada dia se torna mais plausível a idéia da origem mesopotâmica da raça
humana. (1) Mas isso não diminui a suposição de uma origem comum para todas as
tradições, pelo contrário, quanto mais se devassa a vida dos antigos povos, mais se
acentua essa possibilidade. Desde que a raça tenha sido criada por Deus (e até agora
ciência alguma produziu qualquer argumento de valor em contrário, nem a antropologia,
nem a biologia, nem a história), é mais natural que todas as verdades de Gênesis
encontrem eco por toda a terra.

Moisés, além de ter sido criado e educado no Egito, o grande centro de cultura da época,
igual ou superior à Babilônia, devia conhecer a civilização dos caldeus e dos hiteus, os
maiores povos daquele tempo, e também a dos outros povos menos importantes.
Naturalmente, estava capacitado para produzir o livro que produziu, mesmo que não se
levasse em conta a inspiração divina que, sem a menor dúvida, o assistiu, pois que, para
escrever um livro como Gênesis, ou Deus o escreveu ou Moisés foi inspirado por Ele. Se,
como pensam alguns, a família de Moisés descendia diretamente do grupo que preservou
o monoteísmo com todas as tradições mais ou menos puras, maior razão temos ainda para
aceitar que, ao mesmo tempo que ele conhecia as várias maneiras de interpretar os
conhecimentos da vida primitiva, conhecia também os que se aproximavam da verdade.

Entretanto, parece que Moisés não pensava, ao escrever o seu livro, em dar uma resenha
das tradições das origens do universo, da vida e do homem. Parece assim, porque se ele
tivesse tido essa preocupação ou se interessasse ao plano divino dar ao mundo um tratado
sobre astronomia, geologia, etnologia etc., outra seria, a estrutura do livro. Ele tinha que
escrever a história da família eleita, para, por sua vez, escrever a história da nação e o seu
papel no cenário da redenção da raça humana. Arites de fazer isso, deu um mero esboço
das primeiras coisas, e o deu tão rápido, com linhas tão espaçadas, que mal se divisa, na
sua estrutura, qualquer plano, mesmo sintético, de dar uma história da criação. Não há,
portanto, por onde se buscar paralelismo entre as várias narrativas e a narrativa de
Gênesis, como não há por onde se exigir uma conformidade científica da narrativa dada
com os rigores da ciência moderna. Não sendo uma narrativa feita para satisfazer a um
estudo comparativo, com as crenças gerais, nem tampouco uma obra de cunho científico,
o seu trabalho, sintético e conciso, feito na linguagem do povo, resiste às mais duras
provas a que a ciência o queira submeter, no sentido da precisão e fidelidade quanto ao
fenômeno criativo.
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  • 1.
  • 2. PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO UMA PALAVRA MAIS UMA PALAVRA PREFÁCIO DA QUARTA EDIÇÃO CAP. I - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO CAP. II - LITERATURA DO VELHO TESTAMENTO CAP. III - INTRODUÇÃO AO LIVRO DE GÊNESIS CAP. IV - RELAÇÃO E CRÍTICA SOBRE AS ANTIGAS TRADIÇÕES E O LIVRO DE GÊNESIS CAP. V - ORIGEM DO UNIVERSO Teorias Que Tentam Explicar a Origem do Universo Teoria da Nebulosa. Teoria da Grande Explosão. Nota sobre a Ordem em Que Se Encontram os Planetas no Espaço CAP.VI OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO Trabalho do Primeiro Dia - 1:2-5 Trabalho do Segundo Dia - Expansão - Céus - 1:6-8 Trabalho do Terceiro Dia - Mares, Terra e Vegetação - 1:9-13 Trabalho do Quarto Dia - Sol e Lua - 1:14-19 Trabalho do Quinto Dia - Animais Aquáticos e Pássaros
  • 3. CAP. VII ORIGEM DAS ESPÉCIES E A TEORIA DARWINIANA Origem e Antigüidade do Homem 2.O Homem, a Criação por Excelência - Gênesis 1:26-2:7 CAP. IX O DIA SÉTIMO Narrativa Suplementar da Criação CAP. X A PREPARAÇÃO DO JARDIM A Criação da Mulher CAP. XI A TENTAÇÃO E A QUEDA O Tentador A Tentadora A Punição A Promessa Novo Nome Dado à Mulher Primeiro Sacrifício A Expulsão do Éden Os Efeitos Mentais do Pecado CAP. XII CAIM E ABEL Os Dois Sacrifícios O Primeiro Homicídio A Mulher de Caim Lameque e Suas Duas Mulheres (4: 19-24) O Nascimento de Sete (4:25-26) CAP. XIII TÁBUA GENEALÓGICA CAP. XIV O DILÚVIO
  • 4. Causa do Dilúvio: Casamentos Mistos (6:1-8) A Construção da Arca Salvadora Notas sobre as Diversas Tradições do Dilúvio Noé Entra na Arca (Gênesis 7:1-8:12) A Saída da Arca (Gênesis 8:13-22) Em Busca da Arca CAP. XV O NOVO MUNDO Um Culto Novo Uma Promessa Nova Outra Aliança (capítulo 9) Monoteísmo e Politeísmo Um Novo Pecado Depois do Dilúvio (Gên. 9:20-27) Uma Vida Longa e útil CAP. XVI AS GERAÇÕES DOS FILHOS DE NOÉ Resenha da Localização das Diversas Raças CAP. XVII A TORRE DE BABILÔNIA OU BABEL E A CONFUSÃO DAS LÍNGUAS Tentativa de Centralização Intervenção Divina CAP. XVIII OS DESCENDENTES DE SEM - A LINHAGEM DA PROMESSA As Gerações de Terá - Gên. 11:27-32 Abraão, uma Personalidade histórica CAP. XIX UR DOS CALDEUS Abraão e a Saída de Ur dos Caldeus - capítulo 12:1-3 Um Novo Princípio
  • 5. Partida de Harã para Siquém - 12:4-8 A Fome e a Descida ao Egito - 12:9-20 A Volta de Abraão do Egito - 13:1-4 Separação entre Abraão e Ló - 13:5-13 Jeová Aparece Novamente a Abraão - 13:14-18 (Comparar Gên. 12:1-3; 15:1-21; 17:1-14; 22:1-19.) A Batalha dos Nove Reis - Ló É Levado Cativo - 14:1-12 O Cativeiro de Ló e a Participação de Abraão na Guerra Abraão, Melquisedeque e o Novo Rei de Sodoma - Gên. 14:17-24 Quem Era Este Melquisedeque? CAP. XX A PROMESSA DE DEUS RENOVADA O Desânimo de Abraão - cap. 15: 1-6 A Conversão de Abraão O Concerto - cap. 15:7-21 Uma Apreciação Mais Precisa Expedientes Humanos para Cumprir Apressadamente a Promessa de Deus - Gên. 16 Sara, Impaciente, Toma Suas Próprias Medidas - vv. 1-6 A Fuga de Agar e o Nascimento de Ismael - 16:7-16) Renovação do Concerto a Abraão, e Sua Ampliação - cap. 17 A Promessa Repetida - vv. 1-8 O Selo do Concerto - 17:9-14 Deus Promete a Abraão Que Sara, Sua Mulher, Lhe Dará o Herdeiro das Promessas 17:15-22
  • 6. Abraão Cumpre o Que Deus Lhe Tinha Ordenado - 17:22-27 Abraão Hospedando os Anjos e o Senhor dos Anjos - 18:1-8 A Promessa Repetida e Ampliada do Nascimento de um Filho - vv. 9-15 CAP. XXI DESTRUIÇÃO DAS CIDADES CORRUPTAS Dois Anjos à Porta de Sodoma e o Destino da Cidade - cap. 19 Ló Recebe os Dois Anjos - 19:1-11 A Destruição Anunciada, o Aviso de Salvamento 19:12-23 A Destruição das Cidades de Sodoma e Gomorra, Adamá e Zeboim,Cidades da Planície Abraão Contempla o Triste Drama da Destruição - 19:27-29 Ló e Suas Duas Filhas Abraão Emigra para a Cidade de Gerar, e Nega de Novo Sua Mulher - cap. 20 CAP. XXII NASCIMENTO E VIDA DE- ISAQUE Pacto Feito entre Abimeleque e Abraão - 21:22-34 A última e Maior Prova de Fé de Abraão - cap. 22 O Oferecimento de Isaque - 22:114 Deus Renova as Promessas a Abraão - vv. 15-19 Abraão Recebe Notícias de Sua Família Distante - vv. 20-24 Morte e Enterro de Sara - cap. 23:1-20 Providências para o Casamento de Isaque - cap. 24:1-9 Eliézer Parte para a Mesopotâmia, em Busca da Noiva - vv. 10-27 Rebeca Anuncia a Vinda de Eliézer - vv. 28-33 O Servo de Abraão Anuncia o Propósito de Sua Vinda - vv. 34-53
  • 7. Concluído o Negócio. Eliézer Quer Voltar ao Seu Senhor - 24:54-61 Encontro de Isaque com Rebeca - 24:62-67 Abraão Toma Outra Mulher - Quetura, a Mulher de Abraão - 25:1-4 O Testamento de Abraão - 25:5-6 Morte de Abraão - 25:7-11 Gerações de Ismael - 25:12-18 Gerações de Isaque - 25:19-23 CAP. XXIII NASCIMENTO DE ESAÚ E JACÓ Esaú Vende a Sua Primogenitura a Jacó A Fome em Canaã e a Emigração, de Isaque - 26:1-5 Permanência de Isaque em Gerar - 26:6-11 A Prosperidade de Isaque e a Inveja dos Filisteus - 26:12-25 Concerto entre Abimeleque e Isaque em Berseba - 26:26-33 Jacó Tira Fraudulentamente a Bênção de Esaú - 27:1-29 A Decepção de Esaú - 27:30-40 A Ira de Esaú - 27:41-48 CAP. XXIV FUGA E CONVERSÃO DE JACÓ Jacó Continua Alegremente Sua Viagem até Encontrar os Pastores em Harã - 29:1-14 Jacó Faz Contrato com Labão para Ganhar Raquel - 15-20 Triste Desapontamento de Jacó 21-30 Jacó com Quatro Mulheres em Lugar de uma Só - As Disputas de Família - 30:1-24 Jacó Faz Novo Contrato com Labão - 30:25-43 A Prosperidade de Jacó Causa Separação - 31:1-21
  • 8. Labão Persegue a Jacó - 31:22-35 Concerto entre Jacó e Labão - 31-43-45 Jacó Prepara-se para Encontrar Esaú - 32:1-12 A Oração de Jacó O Expediente de Jacó para Ganhar o Irmão - 32:13-31 A Luta com o Anjo - vv. 22-32 O Encontro de Esaú e Jacó 33:1-19 CAP. XXV INCIDENTES NA VIDA DOMÉSTICA DE JACÓ Imposição de Deus para Salvar Jacó - 35:1-14 A Morte de Raquel - vv. 15-20 Genealogia dos Filhos de Esaú - cap. 36 A História de Jacó Continua - Genealogia de Jacó - 37:1-4 O Sonho de José - 37:5-11 A Viagem Funesta de José - 12-29 A Mensagem a Jacó - 31-36 Separação de Judá - Um Capítulo de Sua História - cap. 38 CAP. XXVI JOSÉ NO EGITO E A PROVIDÊNCIA DE DEUS COM ELE A Tentação de José - 39:7-1 8José na Prisão - 39:19-23 O Copeiro e o Padeiro de Faraó na Prisão com José - cap. 40 Os Sonhos de Faraó - 41:1-13 José na Presença do Rei - 41:14-46 José É Escolhido para Príncipe sobre a Terra do Egito - vv. 37-57
  • 9. Os Irmãos de José Descem ao Egito O Dia da Vingança - 42:1-4 José Encontra Seus Irmãos e os Reconhece - vv. 5-20 O Despertar da Consciência dos Irmãos de José - vv. 21-24 José Vende o Trigo aos Irmãos e Eles Partem - vv. 25-38 Forcado pelas Circunstâncias, Jacó Consente na Ida de Benjamím,Garantido pela Vida de Judá-43:1-14 Outra Triste Surpresa para, os Filhos de Jacó - vv. 15-25 O Jantar de José a Seus Irmãos - vv. 26-34 José Dá-se a Conhecer a Seus Irmãos - 45:1-15 Faraó Sabe da Vinda dos Irmãos de José - vv. 16-28 CAP. XXVII IMIGRAÇÃO E RESIDÊNCIA DE JACÓ E SUA FAMÍLIA NO EGITO A Linhagem de Jacó Que Foi ao Egito - 46:8-34 José Apresenta Cinco de Seus Irmãos a Faraó - 47:1-6 Jacó é Apresentado a Faraó O Quinto para Faraó - 47:13-26 Jacó Mora 17 Anos no Egito, Dá Ordens Quanto à Sua Sepultura e 'Faz Declarações Quanto ao Futuro do Seu Povo - 47:27-31 Os últimos Dias de Jacó - vv. 48-49 Jacó Abençoa José na Pessoa de Seus Dois Filhos - 48:8-16 O Desgosto de José - 48:17-22 As Bênçãos de Jacó sobre Seus Filhos - cap. 49 CAP. XXVIII ANÁLISE DO DESTINO DE CADA FILHO DE JACÓ Simeão e Levi, Segundo e Terceiro Filhos de Léia
  • 10. Judá, Quarto Filho de Léia Zebulom, Sexto Filho de Léia. Dá, Primeiro Filho de Bila, Serva de Raquel Issacar, Quinto Filho de Léia Gade, Primeiro Filho de Zilpa, Serva de Léia Aser, Segundo Filho de Züpa, Serva de Léia Naftali, Segundo Filho de Bila, Serva de Raquel José, Primeiro Filho de Raquel a Amada de Jacó Benjamim, Segundo Filho de Raquel A Morte de Jacó - 49:28-33 Os Preparativos para o Enterramento - 50:1-6 O Enterro de Jacó - 50:7-14 Mais um Toque da Consciência: - Os Irmãos de José Temem Que Tome Vingança do Pecado Contra Ele Cometido 50:15-21 Os últimos Dias de José - 50:22-26 PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO A literatura evangélica do Brasil vem de ser enriquecida, sensivelmente, com este comentário sobre o primeiro livro da Bíblia.
  • 11. O autor é eminente professor do Velho Testamento no hebraico e no vernáculo, no Seminário Teológico Batista de Pernambuco, e para esta tarefa acumula longos anos de preparo no Brasil e no estrangeiro, uma década de ensino à mocidade chamada ao ministério de Cristo, o uso de bibliotecas cujos tesouros são assim doados aos estudantes brasileiros, da Palavra de Deus, a experiência pastoral e de ensino desta matéria a grandes classes populares em as aulas noturnas do Colégio da Bíblia, e um estilo fácil e bem compreensível sem perda de sublimidade e reverência. O leitor e o estudante encontrarão aqui o melhor que a erudição conservadora pode oferecer para esclarecer os problemas e a interpretação da obra-prima de Moisés. Não se saltam os pontos difíceis. Assim, o comentário é um auxílio iluminador, mesmo a quem se sinta, porventura, obrigado a discordar desta ou daquela interpretação do autor. Fazemos votos para que entre centenas e milhares de estudantes da Bíblia este comentário seja o Vade Mecum na investigação inicial do Velho Testamento, e que estas primícias da atividade literária do Dr. Antônio Neves de Mesquita sejam o augúrio de muitas outras obras na Exegese dos livros do Velho Testamento. É justo dizer que a obra foi publicada nas oficinas tipográficas desta casa educandária durante as férias, quando o autor pouca oportunidade teve de colaborar na revisão. Os senões, portanto, que talvez haja, correm por conta dos publicadores, e em segunda edição serão removidos pelo autor em circunstâncias mais favoráveis. WILLIAM CAREY TAYLOR Recife, 22 de outubro de 1928
  • 12. PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO Folgo saber que uma nova edição do Comentário do Dr. A. N. Mesquita sobre o livro de Gênesis sairá do prelo por estes dias. É uma notícia boa e alvissareira para a causa de Cristo e para os estudantes das Escrituras. Um abalizado professor do Velho Testamento em hebraico e no vernáculo me disse, quando foi publicada a primeira edição do mesmo livro: "É o melhor Comentário sobre o Livro de Gênesis que tenho lido em qualquer língua." Felizes somos, pois, em que esta geração de estudantes da Bíblia tenha de novo tão valioso auxílio em entender esta parte da revelação divina. O Dr. Mesquita tem sido o único, que eu saiba, a ativar-se neste terreno literário, preparando comentários sobre os livros de Moisés. Jesus Cristo disse: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." É de suma importância, pois, que tenhamos interpretação exata, reverente e culta dos livros de Moisés. O Velho Testamento e o Novo ficarão de pé juntos, ou juntos cairão. Mas, se o desnorteado subjetivismo de um criticismo destrutivo fizer cair o Pentateuco da estima e confiança de nossa geração no Brasil, na próxima geração cairá em dúvida a própria pessoa e obra redentora do Salvador. Em firmar a fé, pois, o autor deste Comentário se faz credor da gratidão de todos nós que amamos a Deus e a sua Palavra. W. C. Taylor Rio de Janeiro, 18 de julho de 1943
  • 13. UMA PALAVRA Não foi só o desejo de publicar um livro, e muito menos o de ver meu nome no frontispício de qualquer obra, que me levou a escrever as páginas que agora vão ser dadas à publicidade. Conquanto seja nobre o desejo de publicar livros, e agradável o espírito de contribuir para o cultivo intelectual do povo, este livro é o resultado de outro motivo, mais forte e premente. Desde os primeiros tempos de minha conversão a Cristo sinto a grande falta de literatura adequada ao cultivo espiritual dos crentes, e posso ainda recordar o dia em que pensei que, se algum dia pudesse, escreveria alguma coisa e de bom grado contribuiria para esse fim. A falta de livros em português sobre a Bíblia não deve ser atribuída à culpa de nenhuma pessoa. Ela é natural. Novo como é o evangelho no Brasil, e poucos como são os homens e mulheres capazes de escrever sobre assuntos religiosos, não podemos nos queixar de ninguém, nem julgar isso desleixo por parte dos que têm tido a direção do trabalho. Com as mãos cheias, mais do que podem suportar, cuidando de desenvolver a evangelização e a educação em geral, não tem sobrado tempo aos obreiros nativos e missionários para se dedicarem ao trabalho de escrever. Não obstante, diga-se, para justiça sua, já um considerável número de boas obras, tanto didáticas como de instrução geral, tem aparecido e está aparecendo, e o desejo, por parte de todos, de contribuir para esta fase do trabalho está despertando inteligências viçosas e exuberantes. Escusado é dizer que a educação dos crentes é o mais firme apoio de nossas esperanças no futuro. Evangelizar sempre precedeu o educar, mas este é o conseqüente lógico daquele. Na grande Comissão dada por Jesus aos seus discípulos está tanto o elemento evangelístico como o educativo! "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado..." (Mat. 28:19,20). Qualquer sistema evangelístico que se descuida da educação poderá crescer por um pouco de tempo, mas
  • 14. está fadado à morte num prazo breve. Um dos meus amados professores nos Estados Unidos costumava dizer que nossa missão é não somente a de evangelizadores do Reino, mas de construtores desse Reino. Um cristianismo educado é a mais firme garantia de sucesso e estabilidade do mesmo cristianismo. Certamente não se deve entender que a educação por si só seja capaz de resolver o problema da Causa. Longe de mim pensar assim. A piedade, a sinceridade e a consagração seguem, corno predicados de grande beleza, à educação, mas, deixadas a si sós, facilmente podem degenerar em misticismo e fanatismo. E é o conjunto que faz o todo e não uma de suas partes. Evangelizemos, instruamos os evangelizados, e teremos adequadamente encarado o programa do evangelho. E educação em si mesma é um assunto complexo para ser abordado aqui, e nem estas palavras visam a tal coisa. O que estou atacando de frente é a educação bíblica dos membros das igrejas e a familiaridade com as doutrinas do grande Livro. Nem todos podem ir a seminários ou colégios receber instrução e nem todos são capazes de adquirir conhecimentos gerais da Bíblia, assistindo aos cultos nas igrejas. Isto é muito bom e imprescindível, mas cumpre que se ponham bons livros na mão do povo, e que se desperte nele a sede de leitura, visto que, por muitas razões, crentes há que nada lêem, nem desejam ler. A democracia em geral repousa na inteligência e no amor à liberdade, e a democracia praticada pelos batistas, para ser observada, exige educação. O Dr. Grambrell dizia que entre os batistas não havia mais tolos que nos outros credos, mas havia a diferença de que os tolos dos outros credos tinham freios (strings on their noses), enquanto que os batistas viviam à vontade. Essa liberdade, que tem sido por todos os séculos o ideal batista,. requer educação. São estes conceitos abreviadamente expostos que me têm feito pensar e desejar contribuir para a educação dos crentes em geral. Convém mesmo pedir escusas por referir ou particularizar credos; foi à guisa de desculpa por pretender escrever para o público. Meu desejo é que este livro seja o primeiro da série que espero escrever sobre o Velho Testamento, dando particular atenção ao texto de cada um deles. Livros de instrução geral já existem alguns, mas, até onde eu saiba, pouco ou nada existe no gênero de interpretação. O plano está mais ou menos baseado no comentário de Carrol sobre a Bíblia em geral, mas minha preferência é dar particular atenção ao texto sagrado, em lugar de escrever sobre o conteúdo em geral. Certamente que não pretendo, tampouco, fazer trabalho exegético, dada a vastidão do campo a percorrer. Em lugar de tomar verso por verso, prefiro tomar as diversas narrativas na ordem em que elas estão e extrair os ensinamentos mais gerais, tomando um outro verso sempre que ele tiver particular ensino ou requerer atenção especial.
  • 15. Gostaria, se fosse possível, de escrever para eruditos, mas prefiro escrever para o povo. A crítica ainda pode esperar por outros mais capazes. Os problemas, neste sentido, ainda não chegaram até nós, mas certamente virão; portanto, esperem o seu dia. Todavia, não desejo passar ignoradamente pelos pontos mais em controvérsia, sobretudo no livro de Gênesis, dando-lhes por isso toda a atenção possível dentro dos limites que eu mesmo impus a este trabalho. Assuntos como: evolução, teoria sobre os dias da criação etc., receberam cuidado especial; outros, porém, de menor monta, foram tratados de acordo com a natureza da obra. Escrever grossos volumes seria não somente impossível, mas inutilizar o resultado prático. Defeitos a obra terá muitos e ninguém mais do que eu os reconhece. Sintética, como desejo fazê-la, não seria possível incorporar nesta obra momentos de crítica destrutiva ou conservadora, pois que um volume grande é sempre de difícil aquisição, mormente nos tempos que correm. Em futuras edições espero ampliar certas partes que de propósito resumi agora. Em parte, estas notas já foram dadas às minhas classes de interpretação do Velho Testamento, e foi com o pensamento nos meus estudantes que abordei alguns pontos, que o público em geral poderia dispensar. O ideal é um ministério capaz, com a mais vasta erudição possível, preparado para as demandas do evangelho no presente e no futuro. Graças a Deus que já morreu a idéia de que os ministros são homens ignorantes; mas nem por isso se julgue que já sabem demais ou que não haja muitos que, por motivos diversos, não puderam adquirir uma educação teológica, aos quais cabe ler tudo que os puder ajudar, como aos que puderem cabe ajudá-los. Ler a Bíblia com inteligência, eis o soberano ideal. Minha classe tem usado, a par destas notas, outras obras de maior monta e de mais adiantado escopo, algumas das quais são mencionadas de vez em quando em conexão com certas passagens difíceis; e um curso regularmente feito no Velho Testamento requer, além da Bíblia em português, que é o livro principal, um manual de interpretação geral e diversas obras em que assuntos particulares sejam especialmente cuidados. "The Heart of the Old Testament", pelo Dr. Sampey, acompanha o curso, bem como outras obras em inglês, tais como "The Motiuments and the Old Testament", pelo Dr. Ira M. Price, Archeology and the Bible", pelo Dr. George Barton etc. Há muitos outros livros bons que infelizmente não estão à mão dos leitores em geral, por estarem em inglês, sendo apenas consultáveis pelos que conhecem a língua inglêsa. Em português nada temos, pelo menos que eu saiba, que possa dispensar o pequeno livro, The Heart of the Old Testament", que é o coração mesmo e realmente, mas não todo o corpo. Ainda que não haja coisa superior ao coração, nem por isso se vive só com ele. Para os meus estudantes, pois, foi que comecei a compilar notas desde que fui convidado para ensinar a história do Velho Testamento no Seminário de Pernambuco em 1917. Desejo que sirva a eles e a todos que desejam conhecer melhor o programa de Deus para com o mundo
  • 16. perdido. Difícil é sequer imaginar quando sairão os outros livros que devem seguir a este. Melhor talvez seria esperar que todos ficassem completos, mas seria prejudicar os que desde agora precisam de ajuda, e esperar sem saber até quando. Recife, 22 de outubro de 1928 MAIS UMA PALAVRA Quando foi publicada a primeira edição de "Estudo no Livro de Gênesis", mal imaginava a aceitação que a obra ia ter por parte dos crentes e até de amigos do evangelho. Essa minha natural dúvida nascia da consciência das suas muitas imperfeições e também da minha incapacidade para tratar de um trabalho que tem desafiado o que de melhor a inteligência humana tem produzido em todos os tempos. Não obstante isso, em pouco tempo a obra estava esgotada. Uma nova edição impunha-se, mas eu não sabia quem a poderia fazer ou custear. Por isso, foi com grande surpresa e contentamento mesmo que ouvi do Diretor Geral da Casa Publicadora, Dr. T. B. Stover, que o MS devidamente revisado seria mandado para as oficinas. Com esta promessa, ficava eu satisfeito e também os muitos que, desejando possuir esta obra, iam ter a sua oportunidade. A primeira edição foi um ensaio feito com temor e tremor. Naturalmente, a segunda edição deveria ser revista e mesmo modificada. Isso foi feito dentro dos limites do trabalho mesmo, pois sempre pensei que obras muito volumosas e custosas não atingiam o fim desejado de dar ao povo qualquer auxílio em matéria de interpretação da Bíblia. As revisões e modificações foram feitas, tendo em vista este princípio. Especialmente a parte que trata dos onze primeiros capítulos do Livro de Gênesis foi bastante alterada. Reconheci que os crentes precisavam de outras informações, deliberadamente deixadas de parte na primeira edição, assim como reconheci a necessidade uma outra distribuição da matéria. A parte restante do livro foi deixada sem modificação, salvo numa ou noutra coisa de menor monta.
  • 17. No preparo desta edição tive a boa colaboração de alguns pastores. O Pastor Rafael Zambrotti datilografou quase todas as notas dos primeiros capítulos e pôs na nova ortografia parte do livro. O Pastor José dos Reis Pereira fez a revisão geral, quanto à acentuação, e reviu também as provas tipográficas, dando valiosas sugestões, que aceitei quase sempre na sua inteireza. Agradeço também a parte que o Prof. Moisés Silveira teve nesta edição, parte esta que dificilmente pode ser dada em meia dúzia de frases. À Casa Publicadora, na pessoa do seu Diretor Geral, também agradeço e devem agradecer todos os que tanto desejaram ver esta segunda edição, pois que poucas obras têm sido tão desejadas como esta, não pelo seu valor, já se vê, mas pela sua oportunidade e necessidade. Pondo, pois, a segunda edição de Estudo no Livro de Gênesis na mão do povo, rogo a Deus que ele sirva de auxílio na boa e sadia interpretação da "obra-prima de Moisés", como bem disse o Dr. W. C. Taylor, quando prefaciou a primeira edição. Rio de Janeiro, 14 de julho de 1943 PREFÁCIO DA QUARTA EDIÇÃO Faltando-me agora a pena do Dr. W. C. Taylor, que prefaciou as duas primeiras edições de ESTUDO NO LIVRO DE GÊNESIS, tenho eu de fazer o trabalho, e o faço com o pensamento voltado para o passado, dando graças a Deus por esse passado e pelo que ele valeu. Quando me aventurei a escrever sobre a Bíblia, foi uma ousadia temerária. Não tinha nome de escritor, não tinha credenciais para isso (não afirmo que as tenha agora). Era um simples pastor e professor, sem maiores credenciais. Foi o Dr. Taylor quem me iniciou na tarefa de escrever para o povo, escrever em estilo simples, arredando termos empolados, construções artificialmente arranjadas. Já se passaram mais de 40 anos desde que Estudo no Livro de Gênesis veio à luz, e de então para cá a sua aceitação vem sendo maior cada dia, e essa aceitação eu acredito advir da simplicidade da linguagem empregada, sem prejuízo da doutrina e da erudição literária.
  • 18. A segunda edição está esgotada há muitos anos; só agora, graças ao interesse tomado pelo Dr. Almir S. Gonçalves, é que se afigura possível uma terceira edição, muito reclamada pelos estudantes do sagrado Livro. Quando iniciei os meus passos como escritor bíblico, tinha grandes planos. Pensava em Comentários sobre todos os livros da Bíblia, e o mesmo Dr. Taylor insistiu comigo, por muitas vezes, que eu escrevesse um comentário ao livro dos Salmos, Isso eu teria dificuldades de fazer. Durante esses anos, outras ocupações e a carência de recursos para a publicação dos meus livros levaram-me a desistir do ideal. Agora é tarde, "Inês é morta!" como diz o adágio. Durante os 33 anos que servi à Junta de Beneficência, recebi apelos e mais apelos de pastores para que deixasse essa Junta e me dedicasse a escrever. Como poderia fazer isso? Como deixar uma obra que tinha nascido no meu coração, aí pelos idos de 1914? Eu não sei o que pensar sobre isso: se deveria ter seguido tais conselhos ou não. Tudo pertence ao passado. Com a esperança, que agora se oferece, de ver reeditados os meus livros e publicados outros, que tenho quase prontos, e se Deus ainda me der mais alguns anos de vida, espero recuperar parte do perdido e ainda servir ao povo nesta capacidade. Ao fazer a revisão do livro, procurei não alterar a sua feição original. Verifiquei que algumas páginas deveriam ser refundidas, e alguns estudos aumentados. Isso iria, não só aumentar o tamanho do livro, como também alterar-lhe a feição. Preferi então manter o ESTUDO em sua forma original, acrescentando algumas notas de rodapé e fazendo ligeiras alterações em dois capítulos apenas. Ao Capítulo V, sobre as origens do universo, acrescentei mais uma teoria científica, dentre outras, quando os espaços siderais estão sendo devassados. Só mais uma teoria científica, para provar que a Cosmogonia de Moisés ainda não pôde ser alterada, nem o será jamais, estou certo. Ao Capítulo XIV acrescentei algumas informações, e o Capítulo XV foi reescrito, por considerá-lo muito imperfeito. Apenas estas alterações foram feitas no texto. Acredito que este livro ainda pode esperar o aparecimento de outros textos mais específicos, mais profundos. Sempre esperei que outros professores de seminários se interessassem por estes trabalhos, de modo que o meu tivesse apenas servido de ensaio. Nada disso aconteceu. Os que podem e sabem não escrevem. Por que, não sei. Desta forma, o meu livro verá ainda uma ou mais edições, até que seja suplantado por outro ou outros melhores. Nunca tive, e ainda não tenho, grandes pretensões, como escritor. Sempre reconheci que um homem ocupado com diversas tarefas como eu não pode
  • 19. pretender escrever grandes livros. Todos os que tenho escrito, o foram nas horas vagas, nos feriados, nos sábados. Só agora, no crepúsculo da vida, é que posso dispor de algum tempo para escrever. Vou fazer isso, até que chegue o fim. Rio de Janeiro, 14 de abril de 1966 Antônio Neves de Mesquita Da Academia Evangélica de Letras, ex-professor, Catedrático de Hebraico e de Velho Testamento no Seminário Batista do Norte do Brasil, Professor de Introdução à Bíblia e de Sociologia no Seminário Batista do Sul do Brasil e Professor de Novo Testamento no Seminário Betel - atualmente jubilado. CAP. I - A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO Não é demais insistir na importância deste estudo e nos característicos necessários para ele. O professor, por sua vez, precisa conhecer o assunto em geral e possuir regular dose de conhecimentos relacionados com o mesmo, o que não é fácil, visto a multidão de assuntos que a ele se prendem. Não somente o Velho Testamento requer cuidadoso e meticuloso estudo, paciência e erudição, mas sobretudo deve ser estudado
  • 20. carinhosamente, porque nele está a base da revelação. Por muitos motivos ele se apresenta corno estudo difícil. A língua em que foi escrito morreu há muitos séculos e não poucos vocábulos perderam a sua significação, de modo que agora só com o auxílio de penosas investigações comparativas com outras línguas irmãs e com o auxílio das ciências arqueológicas é que se pode verificar um sem-número de coisas encontradas nesta parte da revelação. A própria tendência do povo em geral é relegar o Velho Testamento para um plano demasiado inferior, no cômputo da revelação, havendo mesmo quem chegue ao ponto de preteri-lo por completo, alegando que a revelação completa está no Novo Testamento e que o Velho já cumpriu sua missão. A natureza histórica da maior parte do livro é, até certo ponto, responsável pela aversão que muitos lhe votam, visto que a história só interessa a espíritos investigadores. As condições éticas e morais dos tempos em que os diversos livros foram escritos, em franco contraste com os costumes hodiernos, o tornam antiquado e sensabor para o gosto atual. Há, finalmente, um sem-número de causas que tendem cada dia a encostar mais o Velho Testamento ou dar-lhe um lugar pequeno demais na economia religiosa. Não vão longe os tempos em que se afirmou que não havia lugar nem na História nem na Ciência, e muito menos na religião, para que se desse ao V.T. qualquer importância, pequena ou grande, Felizmente, já morreu tal idéia e, hoje, mais que nunca, o livro em que se alicerça o plano glorioso de Deus para a redenção dos homens está ganhando apoio nos círculos históricos, geográficos, étnicos e científicos. Pondo de parte as objeções feitas ao Velho Testamento, creio que ele deve ser estudado (não meramente lido) com carinho e atenção por diversos motivos: 1. É uma parte considerável da Bíblia e como tal pouco estudada. Seja qual for a preferência que certo livro mereça, tanto em valor intrínseco como teológico ou apreciativo, não nos esqueçamos de que Deus nada fez de mais nem de menos, e que tudo que foi escrito o foi para nossa instrução e edificação. 2. É a parte menos cuidada e mais negligenciada. As coisas mais desprezadas são as que justamente devem merecer maior cuidado, visto que nem sempre o desprezo é justo e eqüitativo. A controvérsia tenaz e destrutiva dos últimos cinqüenta anos fez voltar as vistas dos estudiosos para a revelação do Velho Testamento e deu-lhe um lugar no plano geral da Bíblia de acordo com o seu mérito. Não sejamos nós, os que aceitamos integralmente a Bíblia, os primeiros a relegar esta ou aquela parte, por ser menos importante. 3. Por sua relação com o Novo Testamento. Longe de mim, dizer que o N. T. não é a última revelação completa e final de nosso Deus, que para isto fez vir ao mundo o seu Unigênito
  • 21. Filho. Todos os crentes ortodoxos aceitam e defendem esta verdade; não obstante, convém dizer que o Novo Testamento, sem o Velho, ficaria, se não obscuro, pelo menos difícil de ser compreendido em muitas partes. Por exemplo, poderia o teólogo explicar a Carta aos Hebreus, se não tivéssemos o livro de Levítico? Poderíamos nós entender o ritual ali descrito, sem os livros do Pentateuco? Como poderíamos entender as Cartas aos Romanos e aos Gálatas, sem conhecer o plano da revelação no V.T. ? As duas partes da revelação não se opõem uma à outra, antes, se completam. Os escritos da antiga economia são a semente que brotou viçosa e robusta na nova dispensação, mas se a semente não é tão importante como a árvore, nem por isso deixa de ser essencial a ela. Há uma vital relação entre as duas partes da revelação, de modo que uma sem a outra não está completa. Ainda mais, se quisermos compreender o plano de Deus como se apresenta no Novo Testamento, temos de compreender este mesmo plano esboçado no Velho. Note bem o leitor que não estou fazendo depender uma parte da outra ou crendo que o Novo Testamento sem o Velho não seria todo suficiente para nos levar a Cristo, mas insistindo que, para leitura inteligente e compreensão razoável, precisamos conhecer toda a Bíblia. Têm havido milhares de crentes que, sendo ignorantes, ou melhor, analfabetos, encontraram o seu Senhor pela fé somente, mas isto não indica que não precisemos de estudar ou que a fé exclui o estudo das Sagradas Letras. Há outros motivos de ordem secundária que se impõem como uma força irresistível ao nosso espírito. Já acima aludi às críticas destrutivas a que tem sido submetido o Velho Testamento e de como pouco faltou para levá-lo ao descrédito nos meios científicos. O primeiro ataque feito foi em 1753, por Francisco Astrue, médico francês, que supôs ter Moisés usado dois documentos diferentes na composição do livro de Gênesis; num, sendo usada a palavra Elohim para designar Deus e noutro Jeová. Daí em diante, a batalha foi cada vez mais renhida contra o Velho Testamento. Sem que pretendesse destruir a autoridade de Moisés, apenas sugerindo que ele teria usado material previamente arranjado por outro, Astrue abriu, entretanto, o caminho para as mais pequeninas e curiosas concepções bíblicas. Eichhorn, mais tarde, fortificou a hipótese de Astrue e deulhe forma definitiva e permanente, de que Moisés se serviu de documentos preexistentes, ficando assentado que, quando muito, ele foi um compilador de histórias correntes entre o povo. Esta idéia foi conhecida como a "hipótese documentaria". Outros, mais tarde, de 1800 em diante, reduziram o Pentateuco a um sem-número de fragmentos, sem lógica nem cronologia, arruinando não somente a ordem da narrativa e a autoria de Moisés, mas dando a cada pedaço da história um autor diferente e diferente época, culminando na ousada afirmativa de que Moisés nada escreveu e que alguém criminosamente usou seu nome autorizado, para impingir à sua geração uma obra de que Moisés não tinha a menor responsabilidade. Conforme esta escola, Moisés nada escreveu, porque não se teria
  • 22. lembrado disto e porque no seu tempo a arte de escrever não era conhecida. Nada mais faltava para desacreditar o V.T. Se o Pentateuco, como o temos atualmente, não é de Moisés, o Velho Testamento e o Novo nada valem, porque ambos são unânimes em afirmar a autoria mosaica. Feito isto, nada mais restava para reduzir tudo à fábula e mito. Esta escola, porém, era radical demais, e por isso forçou uma contra-hipótese chamada hipótese suplementar, crendo que alguém, menos Moisés, usou de fato certo documento antigo e adicionou outros fatos correntes em seu tempo, pretendendo explicar a diversidade de nomes e duplicidades encontradas nos primeiros livros da Bíblia. O melhoramento foi insignificante. O descrédito do Pentateuco era flagrante e a tradição tinha sofrido o mais tremendo choque que imaginar se podia. Para remediar este mal, alguns críticos, mais conservadores, resolveram fazer voltar o assunto à primitiva teoria da hipótese documentária, mas deslocando tudo para o tempo do reino e para o período pósexílico. O primeiro livro escrito, conforme esta escola, foi Deuteronômio, escrito por alguém no tempo do rei Josias e capciosamente escondido num canto do Templo, a fim de ser encontrado, como de fato foi, dando lugar à maravilhosa reforma operada no tempo daquele bom rei. O resto do Pentateuco teria sido escrito depois, e possivelmente a maior parte foi escrita no tempo e depois do cativeiro. Assim, todos os escritores e oradores, incluindo Jesus mesmo, ou foram mentirosos ou ignorantes da história, afirmando e crendo que Moisés escreveu cinco livros, quando ele nada escreveu. Feito isto e crido assim nos grandes círculos eruditos da Alemanha e Inglaterra, fácil era desacreditar todo o Velho Testamento. A história de Gênesis sobre a criação caiu no ridículo, e foi substituída pela teoria da evolução. A história do dilúvio, dos patriarcas, da escravidão no Egito não ficou sendo mais que um mito fabricado por pessoas malévolas ou piedosas. Moisés não existiu, Abraão, Isaque, Jacó etc. passaram a ser personagens tribais. O povo mais ludibriado foi o mesmo povo israelita, e depois dele todos os que aceitaram a Bíblia tal como chegou até nós. A história do reino unido foi consequentemente desacreditada. Sargão II nunca existiu; a Assíria, a Babilônia antiga, com seus célebres monarcas, suas conquistas, suas glórias, tudo passou para o plano da ficção e, para culminar a obra, o Deus que asses livros descrevem como um Deus providencial e soberano não merecia um lugar superior a qualquer Deus do panteão assírio, babilônico, grego ou romano. Neste pé, só restava uma coisa aos fiéis e piedosos que tinham nascido e desejavam morrer na velha crença: baixar a cabeça, e aceitar o "veredictum" da crítica racionalista, pedir informações aos povos que há séculos tinham desaparecido. Grandes empresas foram organizadas, e milhares de cruzeiros foram postos ao serviço das escavações orientais. O Senhor tinha reservado, escondida no coração da terra, a história das velhas civilizações, para confundir a sabedoria dos sábios modernos. Hoje, graças a estas investigações, podemos ler a história da Babilônia, da Assíria e do
  • 23. Egito. O capítulo 14 de Gênesis, com a menção da memorável batalha que arrastou Abraão a pegar em armas, e cuja historicidade tinha sido contestada, os monarcas nela mencionados a vida política e comercial das antigas civilizações, os antigos povos, tais como os hiteus, a permanência do povo israelita no Egito, a possibilidade histérica dos patriarcas, a história da nação mesma, tudo isto e muito mais do livro de Gênesis que aqui não é mencionado, pode ser lido e contrastado com o conteúdo do Velho Testamento. Este maravilhoso livro, que esteve à beira do abismo do descrédito e, com ele, toda a história da revelação preparatória, arranca hoje de todos os lábios sinceros os mais francos aplausos de admiração. Por fim, como que para culminar a obra de exaltação, vêm as outras ciências, tais como a Geologia, a Etnologia, a Paleontologia, ciências verdadeiramente subsidiárias, para confirmar a história da criação, como se encontra no primeiro capítulo de Gênesis, afirmação de que todas as raças do mundo tiveram sua origem em Adão e se dispersaram após a confusão das línguas, como nos diz Moisés nos capítulos 10 e 11 de Gênesis, e a verificação de que o homem não é produto da evolução, mas criação de Deus. Poderá parecer desarrazoado e desnecessário tudo isto, para se poder crer na Bíblia. É verdade. Ao mesmo tempo se crerá com mais inteligência e razão, sabendo os transes por que tem passado este livro e de como tem saído incólume de todos os embates. Anima crer num livro contra o qual se têm levantado os maiores cérebros de todos os tempos e de todas as nações e que, afinal, tem podido resistir a tudo e a todos. Deus mesmo deixou que o descrédito abalasse até à medula o V.T., para depois desmascarar os ousados e temerários sábios que tão apressadamente tiraram conclusões de premissas demasiadamente precárias. O Brasil está quase virgem quanto a este assunto. Pelo menos os crentes em geral ignoram por completo o problema. Só de longe ele tem sido ventilado, e por poucas pessoas, mas isto não milita a favor do fato de que não é preciso estudar o V.T. O saudoso Dr. José Carlos Rodrigues abordou o assunto do estudo do V.T. com carinho e abnegação, mas, infelizmente, sua obra, além de ser custosa, ressente-se das idéias críticas acima citadas, de modo que eu não ousaria recomendar o seu livro a estudantes inexperientes. Ele aceita a teoria da hipótese documentaria à luz da crítica racionalista, o que, por muito ameno que seja, dá margem a especulações e dúvidas. Foi assim que Astrue começou e, sem querer, foi o precursor de todas as idéias extravagantes que deram assunto vasto para os debates universitários dos últimos cinqüenta anos. O Dr. Rodrigues foi o precursor destas idéias no Brasil. É questão de tempo a chegada aqui dos mesmos problemas que nossos irmãos têm tido e estão tendo noutros países. Se conseguirmos criar ou formar
  • 24. idéias sãs a respeito do Velho Testamento, teremos salvo o evangelho no Brasil de muitos debates e discussões desnecessários. Que se faça a luz e que ela venha, mas a luz e não as trevas de uma critica destrutiva e desonesta, como tem acontecido tantas vezes. É visando a estas futuras questões que aqui vão, à guisa de brado, algumas idéias mal alinhavadas. O tempo exigirá que outros toquem no problema. Eu acho que, por agora, basta o que fica dito. Poderão ser encontrados bons livros, especialmente dedicados às diversas fases deste estudo, nas bibliotecas dos seminários. Alguns já foram mencionados, outros que tenho o prazer de recomendar são os livros do sábio Dr. William Green, professor de literatura oriental e do Velho Testamento no Seminário Teológico de Princeton, entre os quais destaco o The Unity of Genêsis", The Canon, the Text and the Higher Criticism of the Pentateuch. O Dr. James On é autor de um admirável livro, intitulado The Problem of the Old Testament. Com esta munição, qualquer pastor ou leigo que leia inglês poderá estar a salvo dos ataques racionalistas. Infelizmente, há homens bons e sinceros que não podem crer que se possa ser erudito sem crer mais ou menos nas críticas universitárias e aceitar algo que seja diferente do consenso comum. O saudoso Dr. Driver e seu ilustre companheiro, Dr. Davidson, na Inglaterra, podem ser chamados os luminares desta escola média. Enquanto desejam crer na revelação de Deus Jeová, acham que podemos crer, sem prejuízo, que a Bíblia tem muita verdade misturada com muito erro; que os escritores não precisam ser absolutamente capacitados para escrever sem isenção de erro desta ou daquela natureza; que a Bíblia contém a verdade de Deus, mas não é a verdade de Deus. CAP. II - LITERATURA DO VELHO TESTAMENTO O Novo Testamento, como o temos atualmente, foi escrito em grego, a admirável língua dos povos helenos, que também serviu ao ideal de tornar a última revelação de Deus clara e perfeitamente acessível a todos os povos. O Velho Testamento foi escrito em hebraico, uma das línguas semíticas. Mais concisa que a grega, de mais difícil mutabilidade, bem se adaptou ao plano divino de conservar dentro de moldes certos e firmes a revelação preparatória; com exceção de seis capítulos em Daniel (2:4-7:28), mais ou menos, três em Esdras (4:8-6:18 e 7:12-26) e um verso em Jeremias (10:11), que foram escritos em aramaico, todo o restante foi escrito na língua de Moisés. Para podermos ler no original a nossa Bíblia, precisamos conhecer pelo menos três línguas: hebraico, aramaico e grego. Este precioso livro, escrito durante um período de quase 1.600 anos, é a maior maravilha em harmonia e escopo. Escrito por homens diferentes, em períodos diversos, em circunstâncias diversas, tratando de assuntos variadíssimos, parte escrita em prosa, parte em poesia, parte em drama e romance, algumas partes tratando de assuntos históricos, outras de assuntos religiosos, ora dedicando-se às coisas atuais ora às futuras, é,
  • 25. entretanto, um livro só, com um plano belamente delineado, de maneira que o leitor que passa através de suas páginas sente estar acompanhando o desenrolar de uma mesma história, tendendo para uma finalidade. Estes livros, à medida que eram escritos, eram entregues à guarda dos sacerdotes e usados para leitura e instrução do povo. Sob esta custódia, as mais exigentes regras eram aplicadas, de modo a não permitir a corrupção do texto sagrado. Os que desejarem conhecer o escrúpulo com que os judeus guardavam os livros que hoje compõem o Velho Testamento devem ler o Talmude judaico. Toda sorte de cuidados eram empregados para que o texto sagrado não sofresse corrupção no ato de ser copiado. Durante o longo período da história deste povo, as Sagradas Escrituras passaram por muitas vicissitudes e, por mais de uma vez, foram elas objeto de criminosa busca e destruição. Antíoco Epifânio destruiu todas as cópias que pôde encontrar durante o período de seu governo na Palestina. No tempo dos romanos, muitos rolos de pergaminho foram também destruídos. Não obstante, alguns manuscritos foram preservados, na boa providência de Deus, e puderam chegar até aos nossos dias. Nos museus do Cairo, Louvre, Britânico etc., podem ainda hoje ser lidos os mais antigos manuscritos do Velho Testamento. O mais recente data do século 1º, da nossa era. Crêem alguns eruditos que durante este longo tempo diversos erros foram introduzidos no texto original, devido aos processos elementares de reprodução que, na falta de imprensa como a atual, eram copiados à mão. Se tal coisa é possível, podemos descansar, que o texto hebraico de hoje é substancialmente o mesmo do tempo dos profetas. Podemos assim crer porque, como foi notado, os escribas encarregados de copiar os sagrados escritos eram extremamente zelosos e suas cópias, depois de completas, eram examinadas cuidadosamente e, no caso de serem encontradas algumas faltas, eram inutilizadas. Até ao ano 250 a.C., mais ou menos, nenhuma tradução desses escritos tinha sido feita. A primeira foi a conhecida LXX, feita no Egito a pedido de Ptolomeu Filadelfo, conforme a tradição. Justino Mártir relata a maravilhosa história desta tradução. Diz ele que Ptolomeu pediu ao sumo sacerdote, em Jerusalém, escribas peritos para procederem à tradução das Escrituras hebraicas para o grego, a fim de servirem aos muitos judeus que moravam no Egito e que tinham perdido o conhecimento de sua própria língua. O sumo sacerdote mandou 72 anciãos, que se separaram em grupos de dois, fazendo cada grupo sua tradução, e finalmente combinaram os diversos trabalhos e acharam que estavam exatamente iguais, atribuindo a Deus este milagre. Esta história é certamente fictícia, mas quanto ao fato de que esta tradução foi feita no Egito não resta dúvida, ainda que não tenha sido feita de uma só vez e por uma só pessoa, porque as diversas partes do Velho
  • 26. Testamento são diferentemente traduzidas, como se pode verificar pela natureza do estilo e pureza do grego. O Pentateuco é a parte que recebeu a melhor tradução, e o livro de Daniel, a pior. Pensa-se que alguns destes tradutores não conheciam bem nem o hebraico nem o grego. A despeito das deficiências desse trabalho, não padece dúvida que a tradução é de valor inestimável, porque nos coloca em frente do texto hebraico muitos anos antes da era cristã e nos deixa ver o seu estado nesse tempo. Se outro valor não tivesse, tê-lo-ia para a crítica textual. Outras versões em grego foram feitas entre os anos 200-100 a. C. por judeus em diversos lugares. Orígenes (230) preparou a Hexapla em seis colunas, pondo em cada uma delas, em ordem, o texto hebraico, uma transliteração do mesmo texto, e mais quatro traduções gregas, cujo fim parece ter sido a comparação entre o texto original e as outras traduções. Infelizmente, pouco nos resta desta maravilhosa obra. Outras traduções mais importantes foram a Peshita, entre 150-200 A. D., de origem siríaca; os diversos Targuns ou paráfrases do original hebraico algumas vezes, outras, traduções literais. Os mais importantes Targuns são o de Onquelos, o de Jonatã e o de Jerusalém,. As traduções latinas do segundo século A.D. foram feitas da Septuaginta, e não do hebraico, e por isso não podem ser tão exatas como as gregas nem têm o valor crítico destas, visto serem feitas de outras traduções. A mais importante é a de Jerônimo, chamada também de Vulgata, que é a tradução usada pela Igreja Católica. Os judeus dividem a sua Bíblia (Velho Testamento) em três partes: (1) A lei ou Tora, (2) os profetas e (3) os escritos ou quetuvin. A primeira divisão inclui os cinco livros de Moisés, os mais estimados e que foram a base do livro. A segunda divisão inclui tanto os profetas como os livros históricos a partir de Josué até Reis. Compreende os profetas desde Isaías a Malaquias. A última parte contém os livros poéticos, os cinco rolos, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, e os livros de Crônicas, Esdras, Neemias e Daniel. A nossa Bíblia segue uma outra ordem, obedecendo mais à qualidade literária que à importância dos livros.
  • 27. (1) Pentateuco (2) Históricos (3) Poéticos (4) Proféticos. Sobre os autores dos diversos livros da Bíblia não é fácil dar resposta final. Os cinco primeiros foram escritos por Moisés, exceto o último capítulo de Deuteronômio, que relata a sua morte e foi, provavelmente, escrito por Josué ou outro ajudante imediato do grande legislador. Contra a autoria de Moisés não se pode oferecer argumento plausível, em face da natureza dos mesmos livros, que denotam flagrantemente que quem os escreveu tinha a experiência do que escreveu; da tradição judaica, que sempre atribuiu a Moisés sua autoria; e, finalmente, da autoridade dos autores inspirados, incluindo nosso Salvador mesmo. Josué foi escrito por ele, mas crê-se que foi escrito no tempo do Reino, por algum escriba ou mesmo por algum dos profetas, talvez Natã. I e II Samuel caem na categoria de Josué. Pensam alguns escritores que Samuel mesmo escreveu ou mandou escrever, e, conquanto nada em contrário se possa aduzir podemos aceitar que, se não foram escritos pelo homem cujo nome os livros têm, foram escritos por pessoa bem familiar com a história. Os livros têm o nome de Samuel, não tanto porque ele os tenha escrito, mas porque trazem a história de sua vida e seus feitos. Os dois livros dos Reis foram escritos lá pelo fim do reino de Judá ou durante o cativeiro. Qualquer profeta estaria plenamente qualificado para ser o historiador da nação. Os profetas eram os líderes e cronistas do Reino. Não a pessoa que escreveu, mas o que ela escreveu foi tomado, juntamente com sua autorização divina, como norma da canonicidade do livro. Jó foi escrito, talvez, por Moisés, no tempo em que esteve em Midiã. Esta foi sempre a tradição, até que, nos últimos tempos, alguns autores passaram a colocar o livro no fim do Reino. Seja qual for o autor, não padece dúvida que é muito antigo. O livro dos Salmos deve sua maior parte a Davi. Há outros autores, como Salomão, os filhos de Asafe e outros, anônimos. Provérbios deve sua maior parte a Salomão. Outros escritores, como Agur, têm alguns provérbios na coleção. Cântico dos Cânticos tem sido tradicionalmente atribuído a Salomão ultimamente, tem sido disputada sua autoria. Se não foi escrito por Salomão, foi escrito a respeito dele. Eclesiastes, pela mesma forma, foi sempre atribuído a Salomão, mas os críticos modernos o colocam entre 440-200 a.C. Com tanta razão o podem colocar no fim do período profético como no princípio. Eles têm liberdade de dizer o que quiserem. O livro sempre foi tido como da autoria de Salomão. Os livros de Crônicas foram escritos depois do cativeiro, por qualquer profeta, conforme pensam alguns, ou no tempo do Reino, como querem outros. O fato de estes, livros aparecerem na última parte da Bíblia hebraica indica simplesmente que eles não foram escritos por pessoas da categoria de
  • 28. quem escreveu I e II Reis. Os livros proféticos todos são atribuídos aos homens cujos nomes trazem. Convém dizer aqui que todos os livros do Velho e Novo Testamentos foram escritos para satisfazer a uma necessidade contemporânea. Não foi o mero prazer que levou qualquer destes autores a escrever. O povo semita é demasiadamente prático para perder tempo com qualquer coisa que não se imponha no momento. Compreendido isto, estamos melhor habilitados para entender o livro. Não se julgue insignificante o problema do estudo inteligente da Bíblia. Qualquer pessoa pode crer, mesmo sem poder ler, mas isto não justifica o descaso da leitura bíblica. Para ler com o maior aproveitamento possível, se o original satisfaz, mas como este privilégio é de poucos, comparativamente, insistimos em que se leia a Bíblia com toda a reverência, usando todo o material à mão que aclare e aplaine o caminho a seguir. Mesmo os que lêem no original têm suas grandes dificuldades, devido a ter desaparecido a língua hebraica como língua falada, e ainda mais por ter sido abandonada pelos nativos por um largo período. Assim que hoje é assaz difícil saber o que significam muitos vocábulos e mesmo expressões encontradas nos manuscritos originais. A crítica comparativa entre o hebraico, o aramaico, o etíope e o árabe tem prestado relevantes serviços, e só com o auxílio destas línguas é que é possível resolver um grande número de dificuldades, mas ainda resta muito para resolver. Não pense, pois, o leitor inteligente e cônscio de sua responsabilidade que o problema seja de fácil manejo. Um curso de três anos, num bom seminário, certo há de habilitar o obreiro para esta grande obra, mas, ainda depois de ele ter gasto muitos anos de paciente estudo, compreenderá que nem tudo está entendido. Não é para desanimar que digo isto, mas para convencer da necessidade de um aparelhamento sólido. Os maiores inimigos da Revelação têm sido alguns dos homens mais eminentes; os defensores não devem ser inferiores. Para uma razoável compreensão da Bíblia, deve o leitor conhecer: (1) Os costumes do povo e seu modo de viver. Isto ajuda a compreender o emprego de certas expressões ou frases. (2) Os costumes do tempo do escritor, se o livro foi escrito posteriormente à história que relata. (3) Manejar bem o contexto. Se a expressão oferecer mais de uma interpretação, nada como o contexto, junto com outros conhecimentos, poderá ajudar a interpretação. (4) Conhecer o estilo do autor e suas peculiaridades e vocabulário.
  • 29. (5) Não dar à sentença sentido figurado ou alegórico. A História e a Etnologia prestarão grande serviço à interpretação. A Bíblia é a história do homem em sua relação com Deus e dá tanto o lado divino e seu propósito, como o humano e sua tendência. Muito ajudará o conhecimento da psicologia do povo cuja história se estuda. (6) No caso de uma passagem se referir ao homem em sua relacão com Deus, convém que ambas as partes sejam consideradas e que não se dê valor demasiado a uma, com prejuízo da outra. (7) A natureza da língua e do ambiente deve ser considerada. O estudante do grego não deve aplicar seus conhecimentos desta língua ao estudo do hebraico, além do que de geral pertence a todas as línguas. A natureza da Revelação encontrada no Velho Testamento é preparatória, e, tendo muito em comum com a do Novo Testamento, tem ao mesmo tempo sua própria natureza e finalidade. O Velho Testamento dá muitos ensinamentos em figuras e tipos, que se vão desdobrando gradativamente, conforme o grau de avanço espiritual do povo. Devemos, pois, atender a este progresso. (8) A referência a outros livros serve muito, mas não determina o sentido final e infalível. O significado de certa passagem num livro não deve ser trazido para outro livro de data muito anterior, a não ser que haja sérios motivos para tal. (9) O conhecimento da gramática e a natureza do livro. O hebraico não tem uma gramática tão complexa como o grego, mas tem sua própria gramática, e quem a desconhecer pode ficar certo de que não poderá compreender o Velho Testamento tão bem como se a soubesse. (10) A Bíblia contém uma história viva, de um Deus vivo, para um povo vivo; e não uma fábula ou mito. Por melhor que seja o equipamento do intérprete, convém não esquecer que o melhor intérprete é a Bíblia mesma. Há no V. T. trinta e nove livros, e no Novo, vinte e sete. O total é de sessenta e seis livros. A Bíblia romana tem no V.T. quarenta e seis; e os mesmos livros que a nossa no Novo. A razão disto é que a Igreja Católica aceita alguns livros apócrifos, que nunca receberam admissão no Cânon hebraico. A Bíblia judaica tem na Velho Testamento (o Novo, os judeus não aceitam) os mesmos livros que a nossa, mas a maneira de enumerar é diferente. Alguns rabis dão o número total de 24, outros o de 22. No primeiro caso, combinam I e II Samuel como um livro, I e II Reis como um livro, I e II Crônicas como outro livro. Esdras e Neemias outro e os doze menores profetas outro, fazendo o total de vinte e
  • 30. quatro com os outros livros. Os que fazem o número de 22 aceitam a divisão acima e juntam Juízes e Rute como um só livro e Jeremias e Lamentações como outro. Em qualquer caso reconhecem a tríplice divisão do Velho Testamento. A ordem dos livros na Bíblia hebraica também é diferente em alguns casos, mas isto em nada afeta sua canonicidade. Conquanto não se saiba a quem atribuir a tríplice disposição dos livros do Velho Testamento, ela obedece à natureza literária dos mesmos livros e não à sua diferença superior ou inferior, inspiracionalmente falando, pois que nunca houve disputa relevante acerca da superioridade de um livro sobre outro. A Torá sempre recebeu mais carinho, por ser considerada a base de toda a Revelação. Somente por isto. A atual divisão em capítulos não é de origem divina nem inspirada. Teve Lugar aproximadamente em meados do século 13 A.D. e é geralmente atribuída ao Cardeal Hugo ou ao Arcebispo de Canterbury, Stephen Langston. A divisão em versículos foi feita no século 16 por Robert Stephens, tipógrafo em Paris. Tanto uma quanto a outra coisa muito contribuíram para facilitar o estudo e tornar possível as concordâncias. Conquanto esse trabalho mereça os mais francos aplausos, infelizmente lugares houve em que a conexão ficou arruinada e partes deslocadas de seu próprio lugar. Não desejo dizer que uma parte da Bíblia é mais importante do que a outra, nem que certa parte seja mais difícil que outra. Não obstante, todos reconhecemos que cada livro tem seu próprio plano e serve especialmente a um determinado fim e que conforme a natureza do livro assim sua relativa facilidade ou dificuldade. O Pentateuco é não só o mais difícil, como tem sido o mais atacado. Por que é mais difícil? Por muitas razões. Trata de assuntos transcendentais, como sejam, a criação do universo e do homem, o dilúvio etc., e muitos outros assuntos que dificilmente podem ser verificados. Nesta parte, portanto, temos a base da religião. Sendo de natureza tão difícil, fácil é inventar teorias e formular especulações para explicar o que, muitas vezes, é inexplicável. Se conseguirmos defender o Pentateuco, teremos defendido o resto da Bíblia, se não, todo o mais está sujeito a controvérsias. Se Deus não criou o homem, como explicaremos a revelação dada a esse homem e como harmonizaremos todo o conteúdo bíblico que aceita implícita e explicitamente a criação do homem como sendo diretamente de Deus? Do Pentateuco ainda podemos destacar o livro de Gênesis, como o mais atacado. De fato, não pouco se tem dito deste maravilhoso livro, sobretudo dos dois primeiros capítulos. É ali que está o âmago do problema. Quem puder aceitar estes dois capítulos da Bíblia, aceitará todo o resto. É certo que se precisa mais da fé que da razão para os aceitar; há mais coisas que os
  • 31. sábios aceitam pela fé, visto admitirem sua existência e não poderem explicá-las. Esta fé não é cega, entretanto, porque até onde a razão e os conhecimentos têm chegado, a narrativa de Gênesis tem recebido luz. E, se o homem pudesse explicar todos os fenômenos do universo por meios matemáticos e físicos, teríamos explicado a narrativa de Gênesis. Esperemos que a Ciência confirme o que lá está, mas debalde esperaremos que ela a contradiga. Há atualmente no mundo intelectual verdadeira aversão para com o livro de Gênesis, não porque algo tenha sido descoberto que o contradiga, mas simplesmente pela facilidade com que se aceitam teorias, que não resistem à mais elementar análise dos fatos. A evolução tão falada hoje outra coisa não é que mera teoria ou hipótese que ainda não recebeu a mais insignificante prova. É o espírito de antagonismo à revelação que causa tudo isto, e não a luz da Ciência. Ergamos um hino à razão e demos-lhe o seu lugar, mas não desloquemos a fé para dar seu lugar às extravagâncias racionalistas. Outro lado da questão do Pentateuco é sua relação com os povos contemporâneos da história que ele relata. Sem os livros de Gênesis e Êxodo nada saberíamos da origem das raças, pouco saberíamos dos velhas civilizações babilônica, egípcia, assíria e outras. Mas não é o subsídio que estes livros dão à história destes povos que mais nos interessa, e sim a relação que estes povos mantêm com a história de Gênesis. Na pesquisa dá verdade, todos os elementos que possam trazer luz devem ser aproveitados honestamente. Todos os historiadores confessar que os tempos primitivos da raça humana são os mais difíceis de examinar, devido à escassez de informações, e não poucos têm arranjado teorias e métodos para explicar a maneira de vida dos antigos povos, alguns dos quais pouco têm de científico. Ainda hoje corre, mundo a fora, a crença de que os homens pré-históricos eram meio humanos e meio brutos, em sua maneira de viver, e debaixo deste conceito têm-se forçado todas as antigas raças, fosse qual fosse seu lugar ou estado de civilização, a um mesmo padrão de moral e de vida social e religiosa. Nada mais falso do que isto. A culpa está não somente na deficiência de dados informativos, mas na falsa idéia de que o homem tem estado a se aperfeiçoar através dos séculos, sofrendo, pelo contato com outros povos e pelas contingências de sua vida local, uma contínua transformação, tendente ao seu aperfeiçoamento. É nem mais nem menos a nefasta idéia da origem bruta do homem ou sua evolução do antropóide. O Pentateuco livra-nos de tal concepção infantil e denunciadora da falta de conhecimentos etnológicos. Até onde é possível penetrar através das mais velhas civilizações, podem-se descobrir vestígios de grandes civilizações, capazes de envergonhar os aperfeiçoados deste século. As grandes descobertas arqueológicas têm reconstruído, desde a base, a velha concepção evolucionista e mostrado que naqueles tempos, como nos atuais, havia homens vivendo
  • 32. no meio de admiráveis civilizações, ao passo que outros viviam nas suas povoações lacustres. Enquanto que hoje um povo vive em Nova York, Paris ou Londres, gozando todos os requintes de comodidades modernas, muitas tribos na África e noutros continentes vivem dez mil anos atrasadas. Talvez, mesmo nos arredores destes grandes centros de civilização, vivam milhares de criaturas numa condição de vida de milhares de anos inferior. O mesmo fenômeno se observa nos dias da infância da raça. Os assírios viviam no esplendor de sua invejável civilização, enquanto outros povos vizinhos viviam vida de escravos, sem cultura e sem civilização. Enquanto os egípcios desfrutavam as maravilhas de sua antiquíssima civilização, viviam os cananeus em cavernas, alimentandose de frutos, ervas e cascas. Reduzir todos os antigos povos a um mesmo nível social e político é confessada ignorância da História. Ninguém é culpado. Estes povos não escreviam sua vida e quando começaram a escrever não puderam espalhar sua literatura. As contínuas contendas raciais, a ambição acentuada de conquista, que sempre caracterizou o homem de todos os tempos, sepultou, nas ruínas de cidades incendiadas e arrasadas, os últimos vestígios de sua literatura. Assim que as gerações sucessivas se virem privadas dos conhecimentos de seus antecessores e daí a concepção mutilada que se tem feito da vida de nossos antepassados. Conhecessem os homens que escrevem História as narrativas do Pentateuco, e nos teriam poupado o desgosto de ver tantas heresias históricas misturadas com um pouco de verdade, achada por acaso. Infelizmente, os livros da Bíblia arrostam tremendos preconceitos e só à custa de renhida propaganda é que sua história virá a ser conhecida. Ainda hoje se encontram homens que se orgulham de possuir educação esmerada e que ignoram por completo a história antiga. Recordemos que a Bíblia, além de ser um livro de religião, é um livro da história de um povo que entrou em contato com os mais velhos povos da terra, e que só por isto deve ser lida e ocupar um lugar na estante mais humilde ou mais opulenta.
  • 33. CAP. III - INTRODUÇÃO AO LIVRO DE GÊNESIS Há um incontrastável prazer no estudo dos clássicos, pelo acréscimo de conhecimentos que eles nos trazem à grande bagagem do saber moderno. Não há, porém, prazer maior do que estudar o Livro das Origens do Universo, o livro único que em tempos tão remotos catalogou, em poucas páginas, uma soma de conhecimentos que têm enchido de pasmo e admiração as últimas gerações. A primeira sentença de Gênesis: "No princípio criou Deus o céu e a terra" (Universo), por si só representa todas as conquistas da moderna astronomia, da geologia, e o restante do primeiro capítulo, composto de 31 versículos, abrange a maior parte das ciências modernas, tais como a Paleontologia, a Paleantropologia, a Zoologia, a Biologia, a Física, a Química etc. E é difícil a um sábio moderno penetrar nos umbrais da Ciência sem topar com Moisés, no seu maravilhoso livro primeiro. O restante aborda os grandes problemas da origem da espécie humana: o pecado, a sua propagação e a dispersão do povo, as línguas e as primeiras civilizações, hoje perfeitamente identificadas. Um livro como este não pode passar despercebido pelos que amam a verdade e a desejam encontrar, onde quer que esteja. "O desígnio do livro de Gênesis, sem dúvida, é, em si mesmo, suficiente para mostrar a sua incomensurável superioridade sobre todos os remanescentes da literatura humana primitiva, porque a sua história é uma introdução à História do Reino de Deus entre os homens, desde o Éden ao Calvário." (1) A Assíria e a Babilônia deixaram-nos uma vasta literatura, registrada em tijolinhos encontrados nas intermináveis escavações arqueológicas dos dois últimos séculos; mas Moisés deixou-nos um relato feito e acabado dos primórdios da vida do universo e da vida humana. "A primeira página de Moisés", diz Jean Paul, "tem maior peso que todos os fólios dos homens de Ciência e Filosofia". O estudo das civilizações egípcia e babilônica fascina, pela sua grandeza e deslumbramento, mas não há nada nelas tão deslumbrante e encantador como a narrativa de Moisés. A mitologia e cosmogonia destes povos, a sua
  • 34. religião, os seus templos e seus deuses, bem como as suas especulações sobre a vida e a morte, são de fato admiráveis, mas muito mais admirável é o registro límpido, conciso e acabado que encontramos no Gênesis. Talvez a coisa mais notável neste livro seja a sua concepção monoteística de Deus, coisa em que povo algum da terra conseguiu tomar pé. Renan pensava que a origem monoteística da religião se deve a concepções piedosas da raça semita, porém Max Müller, que não afinava pelo diapasão de seita alguma e cuja erudição não poderá ser posta em dúvida, afirma "que o instinto monoteístico não podia ser implantado no mundo por nações que adoravam Elohim, Jeová, Jeová Sabaote, Moloque, Nisroque, Rimom, Nebo, Dagom, Astarote, Baal, Bel, Baal-Peor, Belzebu, Quemós, Milcom, Adrame-leque, Niba, Tarka, Asima, Nerval, Sucote, Benote, o Sol, a Lua, os astros e todas as hostes celestes". Estava errado Renan. "Nem se pode admitir explicação possível", diz ainda Max Müller, "sobre fundamentos históricos, como os hebreus obtiveram esta idéia e tão aferradamente aderiram a ela. As suas crônicas mostram contínuas fugas para a idolatria, mas ao mesmo tempo eles restauravam por si mesmos o princípio monoteísta, até que, afinal, depois de dura disciplina, trazida pelas calamidades nacionais, voltaram com entusiástica devoção ao culto de Jeová". (1) Voltaram ao monoteísmo, para não mais o abandonar. A verdade é que entre todos os povos da terra se encontram resquícios de monoteísmo, como uma prova de que esta deveria ter sido a religião primitiva dos povos e que o politeísmo não é mais nem menos do que a corrupção deste ensino primitivo. Os povos que habitaram a Mesopotâmia, terra de onde emigrou Abraão, ligam a sua história ao livro de Gênesis (Gên. 10:10,11) ; têm uma história e uma língua comuns, a língua Tártaro-Turca ou Turânia. A eles se deve considerável contribuição sobre conhecimentos antigos, conhecimentos que, como veremos mais adiante, têm uma relação muito íntima com a história dos primeiros capítulos de Gênesis. Os sumérios e acádios foram notáveis tanto em coisas religiosas como científicas e sociais. A astrologia, a história natural, as matemáticas, o comércio, o sistema de pesos e medidas, as transações bancárias, a jurisprudência etc., eram coisas comuns entre eles. (2 ) Especialmente o último monarca assírio, Assurbanipal, dedicou todo o seu tempo a colecionar documentos sobre os conhecimentos da época, reunindo tudo numa famosa biblioteca de 30.000 volumes, há anos desenterrada e atualmente no Museu Britânico. Entre esta vasta literatura, há poemas, salmos, história, matemática, geografia, uma narrativa sobre o sábado, outra sobre Jó etc. Contemporâneo de Abraão, viveu o célebre Hamurabi, cujo código, traduzido para algumas línguas modernas, constitui justificado motivo de admiração, pelo conjunto de leis de todas as naturezas, leis estas que, como veremos, apresentam notável semelhança com as próprias leis de Moisés.
  • 35. Tudo isto, pois, deve induzir-nos a crer numa origem comum destas narrativas, a caldaica e a mosaica, se bem que esta última se avantaje a todas as outras pela sua pureza e precisão. Do ponto de vista científico, tem o livro de Gênesis suscitado graves controvérsias. Isso tem servido para que alguns mais apressados se aventurassem a querer desacreditar o grande livro. Por outro lado, os cristãos, ciosos do seu rico patrimônio, não permitiam que se dissesse qualquer coisa que pudesse diminuir a sua intangibilidade. Quando Galileu afirmou que a terra era móvel e se movia em torno do sol, e que este é que era fixo, veio a Igreja contra o sábio, obrigando-o, sob pena de morte, a dizer que "a declaração de que o sol é o centro do Universo, e imóvel, no seu lugar, é absurda porque contradiz expressamente as Escrituras". "A declaração de que a terra não é o centro do Universo, nem imóvel, é absurda, filosoficamente falsa e totalmente errônea, porque contradiz a fé." (1) Diálogos sobre os Sistemas Principais. Galileu estava certo e a Bíblia também estava certa, mas a Igreja, vendo as suas interpretações e o seu crédito abalados, obrigou o sábio a desdizer-se, e ele o fez, mas não de acordo com a ciência e sim de acordo com as Escrituras e a fé. Ora, as Escrituras nunca disseram que a terra era o centro do universo e que o sol se move em sua volta. Os Salmos 93:1 e 102:2 apenas dizem que "os céus foram estendidos como cortina" e "o mundo está estabelecido de modo que não pode ser abalado", mas isso não tem nada com a ciência, a respeito da esfericidade da terra ou sua imobilidade no espaço. Calvino caiu no mesmo erro quando tentou provar que os textos sagrados provavam conclusivamente que a terra estava parada no meio dos céus e que o sol se movia a seu redor. (2) Calvino, sobre os Salmos. Pode ver-se que apenas conclusões apressadas e dogmatismo exaltado têm dado causa a estas conclusões, muita vez desabonadoras para a ciência e para a fé. A ciência ainda está na infância hoje, e muito mais atrasada estava ela há cinco séculos passados. Onde as contradições parecerem flagrantes, será melhor esperar um pouco mais do que concluir que há erro da Bíblia em favor da Ciência. Possivelmente, a Ciência poderá estar errada e já o esteve muita vez em relação a certas declarações bíblicas. Não vai longe o barulho feito por alguns críticos alemães, sobre a historicidade das crônicas encontradas nos livros de Reis e Crônicas. Como se sabe, esses livros narram, em linhas gerais, os muitos conflitos travados entre os monarcas assírios e babilônios, em relação à nacionalidade hebraica. Os grandes guerreiros Sargão II, Esaradon, Tiglate-Pileser, Assurbanipal, Nabucodonozor, Ciro, Dario e uma lista de outros, não eram conhecidos há dois séculos passados, e, por conseguinte, não era conhecida a sua história. Isso bastou para que a Bíblia fosse impugnada como contrária à História, mentirosa, falsa, lendária etc. Quem ousaria hoje afirmar tal coisa? A Arqueologia encarregou-se de desenterrar todas estas civilizações, e fazê-las viver em nosso século. A Bíblia tornou-se o livro mais acreditado entre todos os
  • 36. que vieram de épocas antigas, e hoje só a estreiteza do doxmatismo ou a pressa de alguns sábios poderá fazer reviver o conflito entre a Bíblia e a Ciência. Do ponto de vista das ciências que se relacionam com a terra, os astros, a vida e as nações, o Gênesis, em sua admirável síntese, quando visto por olhos que desejam a verdade, constitui um admirável repositório do saber. Impressionam as conclusões da Geologia, sobre a formação da terra, suas épocas, a vida e seu desenvolvimento em Radiata, Articulata, Molusca, Peixes, Répteis, Pássaros, Quadrúpedes e Homem, segundo Cuvier. Acrescentando-se a vida vegetal, teríamos em primeiro lugar, relva, erva, árvores frutíferas, para depois entrarmos no reino animal. Tudo isto é mais que maravilhoso, se tomarmos em conta a era em que Moisés escreveu. Creio estar perfeitamente estabelecida a identidade entre as afirmativas da Bíblia e as conclusões da Ciência, mas a crítica impiedosa e sectária nem sempre aceita as últimas conclusões como um aviso para maior cautela. Assim é que se já não se pode impugnar a Bíblia, no que diz respeito à segurança das suas afirmativas, ainda alguns acham que Moisés não escreveu uma obra de cunho científico, e, portanto, o seu grande livro continuará apenas e por favor um livro de religião. Concordo com as restrições. Moisés não pretendeu mesmo escrever um livro de ciência. Escreveu para o seu povo, sob a inspiração de Deus. Escreveu a história do pecado e da graça divina, e antes de entrar no tema principal da sua obra, deu-nos uma introdução maravilhosa, ao que poderíamos chamar os começos do universo e da vida em relação a Deus. É isto que se encontra do capítulo 12 em diante. E graças a Deus que ele assim fez, porque, doutra forma, estaríamos às cegas sobre como apareceu o maravilhoso conjunto universal. Ele bem poderia escrever com mais acentuado sabor científico, se quisesse, visto que tinha sido educado nas melhores universidades de seu tempo e era filho da mais afamada civilização contemporânea. Heródoto disse, com justiça, que a civilização grega tinha vindo das margens do Nilo. (1) Mas Moisés preferiu escrever para ser entendido pelo seu povo e não para satisfazer à curiosidade dos homens dos séculos XIX ou XX. Sua cosmogonia é a mais eloqüente possível, porque alia, à simplicidade e concisão, à certeza. Serviu para os seus contemporâneos, e tem servido para todos os que reverentemente se aproximam dela e desejam descobrir as grandes verdade eternas. O que ele não poderia fazer era escrever para satisfazer a gosto de cada cientista moderno. Isto lhe tem valido certa diminuição por alguns que se apressam a tirar conclusões sem fundamento. A lição porém, tem aproveitado a muitos, e todos os que prezam seu nome devem precaver-se de acusar Moisés de ignorância, antes de ter em mãos todos os dados necessários à prova. Certamente não digo que ele soubesse tanto de Geologia, Astronomia, Botânica ou outras
  • 37. ciências, como muitos homens de nossos dias. Não. Mas digo, sim, que o que ele escreveu pode resistir, como tem resistida, a todas as investigações científicas e não causa pavor afirmar que, quanto mais os homens descobrirem e conhecerem, mais veraz se tornará a história do maravilhoso livro de Gênesis. Moisés usou seu saber, é certo, mas foi guiado por Deus para escrever esta história, e, se isto é contraditável, pode-se afirmar que ele foi, é e continua a ser o maior mistério do mundo. Já se passaram aproximadamente quatro mil anos desde que Moisés escreveu, e até agora nada se pode acrescentar nem diminuir à sua cosmogonia, a despeito de o mundo ter sido testemunha do aparecimento das mais maravilhosas mentalidades, em todos os ramos do conhecimento humano. Se o que ele escreveu saiu apenas da sua mente, devemos considerá-lo muito mais que um homem e muito mais que um anjo. O fenômeno da criação da matéria é incompreensível, tanto para o teólogo como para o materialista, e, por mais que se sofisme e se penetre no assunto, jamais se saberá a contento como pôde ser criado o universo. O materialista encolhe os ombros e diz que algures sempre existiu uma força que agiu por sua própria deliberação, e que foi ela que deu origem ao universo. Outros, mais exatos, afirmam que a matéria é eterna e que por suas leis deu origem à vida. E assim vai correndo de mão em mão o problema, sem encontrar quem o resolva. Por isto mesmo tem-se negado a história da criação da matéria e do homem, e, para substituir a velha crença da criação por Deus, não poucas têm sido as especulações inventadas ao talante de cada um. A mais curiosa é a chamada teoria da evolução, que recebeu ligeira atenção no lugar próprio deste livro. Como todas as inovações, esta teve o seu dia com as conclusões a que chegou a Biologia. Se a história de Gênesis puder ser contestada com seriedade, nada mais nos fica para crer, visto que todos os demais livros da Bíblia repousam na doutrina de que o homem foi criado por Deus e que este mesmo Deus é o criador e governador do mundo. Não somente isto, mas o livro tem em embrião as mais queridas doutrinas da fé cristã. A promessa de um Redentor encontra-se no limiar deste livro, e segue a queda como a sombra segue o corpo. Se não é verdadeira a queda do homem, muito menos o é a promessa do Salvador (Gên. 3:15). A doutrina da existência de Satanás e sua obra nefasta, da tendência para o mal, inata nos homens, a depravação da raça, a destruição pelo Dilúvio, finalmente a interferência de Deus nos destinos do mundo e do homem, encontram-se graficamente delineadas neste livro. Se ele é falso, todo o resto o é; se verdadeiro, toda a Bíblia fica em sua posição, como livro de religião infalível e autorizado. Não é fora de propósito reafirmar que a narrativa de Gênesis encontra eco em todas as cosmogonias antigas, e pode-se dizer mesmo que há entre elas verdadeiras afinidades. É
  • 38. problema que não pode aqui ser discutido demoradamente, mas, ainda assim, desejo dar aos leitores alguns trechos comparativos entre a narrativa de Gênesis e as narrativas babilônicas, para que se veja que a cosmogonia mosaica não era uma novidade no seu tempo, nem uma ficção. Há elementos étnicos que são patrimônio de todos os povos, seja qual for sua origem e desenvolvimento. O poema épico da história da criação, corrente na Babilônia no sexto século a.C., compõese de 7 partes, contendo um total de 938 linhas. Grande parte deste poema ainda não foi descoberta, tendo apenas aparecido partes separadas. Algumas destas partes estão de tal modo quebradas que a tradução é impossível. Vejamos alguns espécimens. 1. Houve um tempo quando acima céu não era chamado 2. Embaixo à terra nenhum nome tinha sido dado 3. Então o principal abismo seu começou a gerar, 4. O rugente mar que os fez nascer 5. Suas águas ... estavam todas misturadas; 6. O campo não tinha sido formado, nem continentes vistos. 7. Tempo houve quando deuses não tinham sido feitos, 8. Nenhum nome feito nenhum destino (determinado) 9. Então foram criados os deuses no meio do céu. 10. Lakhmu e Lakhamu eram formados (juntos) 11. Gerações multiplicadas. 12. Anshar e Kishar foram............ formados e sobre eles 13. Dias eram prolongados, então apareceu 14. Anu, seu filho 15. Anshar e Anu.
  • 39. 16. E o deus Anu etc. A primeira parte compõe-se de 142, linhas e termina com a criação do mundo. A segunda parte descreve a vingança de Tiamate sobre os outros deuses. 1. Tiamate fez poderosas obras. 2. O mal ela intentou contra os deuses, sua geração etc. Termina com a prisão de Tiamate para salvar a vida da geração, e com a recomendação de obediência às ordens recebidas. Esta tábua corresponde ao terceiro capítulo de Gênesis, onde vem a história da queda. A terceira parte compõe-se de 138 linhas e parece descrever a luta entre os diversos personagens. Fala de um banquete de embriaguez e termina com a intervenção de Marduque, o redentor, para salvar os que tinham sido destinados à destruição. O resto do poema menciona a luta começada, chega à destruição de todos os maus (linha 34, parte sétima) e termina com a exaltação do transgressor arrependido. (1) Barton, Archeology and the Bible, pág. 236. Pena que não seja possível dar maior citação deste admirável poema, mas não desejo sobrecarregar este livro, apenas mostrar que a história da criação não era ignorada pelos outros povos. Os que puderem ler inglês e desejarem maior conhecimento poderão consultar o livro do Dr. Barton, por mais de uma vez mencionado. O que aí fica não deixa dúvida sobre o paralelismo das duas narrativas, hebraica e caldaica. Ambas começaram com um tempo em que não havia céus, nem terra, nem homens. Depois, apareceram os abismos, a terra seca, os campos e os homens. Outra semelhança notável é a contagem do tempo em sete. As partes do poema babilônico são sete, e sete são os dias da criação. A série Babilônica culmina na celebração de Marduque por todos os deuses; os dias da criação bíblica terminam com o sábado e o louvor ao Criador. Ambos combinam na ordem da criação dos céus no quarto dia ou quarto canto, e a criação do homem no sexto. Há alguma diferença quanto à criação da lua e das estrelas no quinto dia, em lugar do quarto, no cântico babilônico.
  • 40. A criação dos animais não é dada no poema, mas encontra-se noutros cânticos separados. Há um fragmento destes cantos em treze linhas que começa assim: 1. Quando os deuses em suas assembléias tinham feito os céus 2. O Armamento tinham estabelecido e segurado, 3. Seres vivos foram criados de todas as espécies, 4. Gado do campo, bestas do campo e criaturas moventes das cidades etc. Nos pontos mais importantes, os dois documentos concordam; no que eles são diferentes deve ser levado à conta da corrupção, que a tradição sofreu através de muitos séculos. Há um ponto em que os dois são fundamentalmente diferentes: na ação dos deuses. A narrativa do Gênesis dá apenas um Deus como criador auto-existente, enquanto a Babilônia dá os deuses como gerados. Um é politeísta e outro monoteísta. Daqui a marcada diferença de concepção religiosa. A explicação é plausível. Moisés escreveu por inspiração divina; os escritores babilônicos escreveram as tradições correntes. A raça hebraica tinha preservado estas tradições primitivas com mais pureza; os outros povos, pelo seu afastamento de Deus, deixaram-nas corromper. Além dos poemas épicos da criação, há outros fragmentos esparsos sobre outros assuntos, encontrados nos primeiros capítulos de Gênesis. O sábado babilônico é consagrado especialmente num "tablet" em que Marduque e Zarpanite dão uma festa, cujo conteúdo doutrinário se assemelha muito ao quarto mandamento (Êx. 20:9-11). Através da imensa literatura achada nas escavações feitas nas velhas cidades orientais, têm-se encontrado pedaços de poemas descrevendo especialmente certas fases mais importantes da vida nos primeiros dias da criação. A queda, por exemplo, mereceu especial menção. Há uma lenda em que a queda é descrita com quase tanta minúcia como no terceiro capítulo de Gênesis. O Adapa babilônico parece-se com o Adão da Bíblia. Aquele, como este, cresceu em conhecimento, o qual era uma dádiva da divindade. Adapa pode quebrar a asa do vento do sul e ir além dos limites impostos pela divindade. Adão foi tentado pelo demônio e desejou tornar-se semelhante a Deus. Ea, o deus que tinha permitido a Adapa tornar-se sábia, temeu que este lhe usurpasse a imortalidade, como
  • 41. Jeová julgou que Adão pudesse chegar à árvore da vida e viver para sempre. Ea relatou uma mentira a Adapa, quando ele estava para sair da presença do supremo deus, Anu, a fim de evitar que comesse do fruto que o faria imortal. Finalmente, Adapa foi ferido com doenças e contínua tribulação, como resultado de sua falta. Isto corresponde à narrativa de Gênesis 3:17. Como Adão foi vestido de peles, assim Adapa foi coberto com roupa especial por Anu. Em muitos pontos, pois, as duas histórias não se assemelham, mas em muitos outros se assemelham. Entretanto, não sofre dúvida, que os dois povos possuíam as mesmas idéias sobre a criação e a queda dos primeiros habitantes da terra. Como o Gênesis, os mitos babilônicos nos falam da longevidade dos seus primeiros homens. Comparando as duas narrativas nota-se que até os próprios nomes dos antediluvianos são semelhantes em muitos casos. O dilúvio mencionado em Gênesis teve repercussão universal, visto como foi cantado e reduzido à escrita por este antigo povo babilônico. O cântico mais importante contém 205 linhas, em que é narrada a maneira por que vieram o dilúvio e a destruição dos homens. Em ambas as narrativas houve uma revelação divina ao herói fiel, enquanto que a catástrofe veio sobre todo o resto da raça sem ser percebida. Em ambos os casos há uma arca, pichada ou betumada por dentro e por fora. Quase todos os eruditos crêem haver íntima relação: entre as duas descrições, dada a forma dos detalhes de ambas. A linha 58 dá as dimensões da arca. "Segundo o seu plano, suas paredes eram de 120 cúbitos de alto, e (59) 120 cúbitos correspondentes ao comprimento." Linha 94: "Eu embarquei no navio, e fechei a porta." Linha 99: "0 deus Adá trovejou no meio (do espaço)." Linha 147: "Eu trouxe uma pomba e deixei-a ir" e (148) "a pomba ia e voltava e não achava descanso, e voltava". Linhas 151-154 descrevem o corvo indo e vindo, sem encontrar lugar para descanso. Somente mais um documento antigo desejo mencionar, o qual, ainda que não tenha relação direta com a história de Gênesis ou do Pentateuco, nos ajudará a compreender o grau de adiantamento político e social dos povos contemporâneos. No capítulo 14 de Gênesis é mencionada uma célebre batalha entre quatro reis babilônicos e cinco palestínicos. Um dos reis babilônicos traz o nome de Anrafel, que era aliado dos outros três. Este Anrafel é geralmente identificado com Hamurabi ou Hamurapi, antigo rei de Babilônia, do ano de 1980 a.C. Este poderoso monarca foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica e deixou-nos numerosos documentos sobre seu governo. Conforme Gênesis 14:1, ele reinou na mesma terra de Ninrode (Gên. 10:10), o fundador da mais antiga civilização. Sem que seja possível determinar quantos anos depois de Ninrode ele governou, parece que foi sobre os diversos reinos do tempo de Ninrode que Anrafel
  • 42. organizou um dos mais famosos impérios antigos. Ao historiador moderno é impossível dizer que mudanças sofreram estes povos no decorrer dos tempos, dada a carência de documentos. Apenas pode fazer cálculos, e os mais prováveis dão o velho império ninrodiano como dividido e subdividido, sobretudo por causa da confusão das línguas, e novamente unido debaixo do cetro de Hamurabi. Convém lembrar que ele foi contemporâneo de Abraão e talvez reinasse em Ur mesmo ou estendesse até ali seus domínios. O célebre código de leis, promulgado no seu tempo e sob sua direção, é o mais admirável que nos vem daquela época. O prólogo contém 700 linhas sobre a vida e grandeza do autor. Os mais aproximados cálculos dão o número total de 282 leis sobre todos os negócios e assuntos sociais, civis e legais. Pena que uma boa parte se tenha perdido, mas o restante, legível e intacto, é suficiente para nos mostrar o grau de cultura da terra de Abraão. O mais admirável deste código é sua analogia com as leis de Moisés. Não é possível dar aqui mais que uma pequena amostra desta similaridade, podendo o leitor examinar melhor este documento no livro do Dr. Ira M. Price, The Monuments and the Old Testament". COMPARAÇÃO DOS DOIS CÓDIGOS Êxodo 21:2 Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas no sétimo será forro, de graça. Hamurabi - N. 117 Se um homem estiver em dívida e vender sua mulher, filho ou filha, ou os entregar para servidão, por três anos trabalharão na casa do comprador ou senhor; no quarto ano serão livres. Êxodo 21:15 O que ferir seu pai ou sua mãe certamente morrerá. Hamurabi - N. 195 Se um filho ferir seu pai, eles lhe cortarão os dedos. Êxodo 21:28 E se algum boi escornear um homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado, certamente, e a sua carne se não comerá; mas o dono do boi será absolvido.
  • 43. Hamurabi - N. 250 Se um touro, passando pela rua, ferir um homem e este morrer, este caso não tem culpabilidade. Êxodo 22:2 Se o ladrão for achado na mina e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue. Hamurabi - N. 22 Se um homem for encontrado com o roubo, e for preso, tal homem será morto. Estas são apenas algumas das muitas analogias entre as leis de Moisés e as de Hamurabi. Moisés viveu pelo menos 500 anos mais tarde, e a grandeza e sublimidade de suas leis, sob o ponto de vista humano, não nos deve admirar, visto que séculos antes dele já havia países onde as leis eram cuidadosamente feitas e observadas. CAP. IV - RELAÇÃO E CRÍTICA SOBRE AS ANTIGAS TRADIÇÕES E O LIVRO DE GÊNESIS Sobre o Código de Hamurabi e as leis de Moisés tem-se feito sérias restrições, alegando alguns críticos que, visto Hamurabi preceder Moisés, certo este copiou as leis daquele. Concedendo que uma resposta formal sobre tão delicado assunto seja difícil, pode-se ajuntar que, não obstante a similaridade entre os dois códigos, há uma multidão de diferenças que tornam os dois inteiramente independentes. Por outro lado, devemos ver que muito antes de Moisés escrever as suas leis, já o mundo tinha conhecido grandes intelectualidades, como vimos, e que havia leis comuns a muitos povos. Se Moisés usou leis já em prática em outros países, ou pelo menos certos princípios ou substância dessas leis, certo lhes deu tanto nova interpretação, como novo significado. A sociedade do tempo de Hamurabi, comparada com a de Moisés, oferece tão grande contraste que ainda
  • 44. que Moisés tenha usado material existente, lhe deu uma aplicação tão espiritual e étnica que, pode dizer-se, suas leis pouco ou nada têm que ver com outras existentes. Sobre as tradições babilônicas relacionadas com a história da criação, queda, dilúvio etc., não é fácil dar também uma resposta satisfatória. O que se tem dito e escrito tanto deslustra como ilustra a maravilhosa narrativa dada por Moisés. Os argumentos podem reduzir-se a três: 1. Que Moisés escreveu sua história inteiramente debaixo da direção divina, nada sabendo de quaisquer outras narrativas congêneres existentes anteriormente. 2. Que Moisés conhecia as diversas tradições correntes, tanto no Egito como em Babilônia, e, ao escrever sua cosmogonia, se serviu delas e as refundiu, dando-nos, assim, uma história de segunda mão. 3. Que ele, conhecendo as diversas narrativas existentes, e sendo levado a escrever a sua, por ordem expressa de Deus, usou elementos verazes nas já existentes, não porque fossem correntes e aceitos, mas porque eram verdadeiros, escrevendo sua cosmogonia de acordo com a verdade histórica, servindo-lhe de guia o Espírito de Deus, para relatar o que nas outras estava falseado e para ajuntar o que nelas tinha faltado. (1) Não é fácil dizer uma palavra que nos ponha a salvo de fazer injustiça a Moisés e à Revelação divina. Devemos ser muito cautelosos. Não há dúvida de que estas tradições são muito antigas e que delas Moisés devia ter conhecimento. Elas são patrimônio de todas as raças primitivas. Os hindus, os egípcios, os babilônios, os assírios, os gregos e os romanos, todos, enfim, têm tradições mais ou menos correlacionadas com Gênesis. Isto é facilmente explicável. Todas as raças provieram de um mesmo tronco. Até que se deu a dispersão, por causa da confusão das línguas, todos os povos mantinham a vida em comum. A primeira pessoa a quem estas verdades foram comunicadas foi Adão. Como, não sabemos, mas Deus lhe disse, por qualquer forma a nós desconhecida, a maneira como tinha criado o mundo. O resto das narrativas ele sabia por experiência. Digo que Deus lhe deu a conhecer algo sobre a criação do universo, porque doutra forma não seria possível encontrar esta mesma história narrada por tantos povos diferentes e com visos tão marcados de analogia. Teve uma origem comum. Adão foi contemporâneo de Matusalém por 243 anos. Aquele podia ter conversado por longo tempo com este sobre as primitivas coisas do mundo. Matusalém foi contemporâneo de Noé por 598 anos.
  • 45. Abraão nasceu dois anos depois de Noé morrer, o que significa que Terá, seu pai, foi contemporâneo de Noé por muitos anos. Deste modo Adão pôde contar a Matusalém a história dos primeiros dias do mundo, Matusalém a Noé, e este a Terá, pai de Abraão. Terá morava em Babilônia, onde estas tradições eram correntes, de modo que quando Abraão emigrou de Ur para a Palestina foi portador de todas estas tradições, as quais ele, por sua vez, ensinou a seus filhos, e, portanto, no tempo de Moisés toda a nação era conhecedora delas. É crível que devido à contínua separação do povo de Abraão e seus descendentes, estas tradições fossem conservadas mais puras, de modo que no tempo de Moisés correspondessem mais ao original que qualquer outra. Já notamos que todas as demais são politeístas e têm braços extravagantes na concepção religiosa. A de Moisés, além de ser genuinamente monoteísta, apresenta-se de forma mais racional e crível. Com este conhecimento tradicional, que Moisés indiscutivelmente possuía, não lhe foi preciso recorrer a outras tradições para poder escrever o livro de Gênesis. Assim, nem ele copiou dos outros, nem os outros copiaram dele. Todos tinham a mesma fonte de informação. Deus guiou seu servo a escrever com a precisão que todos lhe reconhecem, e nisto achamos a explicação da diferença entre sua narrativa e as outras e sua veracidade sob todo e qualquer ponto de vista. Por mais sábio que Moisés fosse, e por mais acurada que fosse a tradição que possuía, se não tivesse a direção de Deus, não lhe seria possível escrever sobre assunto tão melindroso e inacessível, com a precisão com que escreveu. Descansemos, pois, na maravilhosa história que Deus nos deu por intermédio de Moisés, e não nos preocupemos com as demais narrativas existentes no seu tempo ou antes dele. Não foram somente os caldeus que, como já vimos, tinham tradições a respeito de Deus ou dos deuses, do mundo e dos homens. A teologia do Egito, onde Moisés morou com o seu povo, dizia como Osiris, o sol, criara os sete grandes deuses planetários, os doze deuses menores dos sinais de zodíaco, e como estes, por seu turno, geraram vinte e oito para presidir as estações da lua, setenta e duas companheiras do sol e muitas outras divindades. A teologia hindu fala do Espaço produzindo primeiro água, colocando nela o germe que, depois de algum tempo, gerou o grande ovo, de grande esplendor, para, finalmente, este gerar o grande Brama, o pai das criaturas. Os gregos, mais antropomórficos em suas concepções religiosas, fizeram uma multidão de deuses, segundo as paixões humanas, cada qual com sua função, sendo o pai de todos eles o grande Zeus. Os romanos, que herdaram dos gregos a mitologia, tinham o seu Júpiter com um séquito infindável de divindades, cada qual com a sua função administrativa no mundo material e espiritual.
  • 46. Nenhum povo se avantajou aos mesopotâmios, nas especulações sobre a origem do mundo, dos deuses e dos homens, decerto porque eles estavam mais perto da fonte original, visto que cada dia se torna mais plausível a idéia da origem mesopotâmica da raça humana. (1) Mas isso não diminui a suposição de uma origem comum para todas as tradições, pelo contrário, quanto mais se devassa a vida dos antigos povos, mais se acentua essa possibilidade. Desde que a raça tenha sido criada por Deus (e até agora ciência alguma produziu qualquer argumento de valor em contrário, nem a antropologia, nem a biologia, nem a história), é mais natural que todas as verdades de Gênesis encontrem eco por toda a terra. Moisés, além de ter sido criado e educado no Egito, o grande centro de cultura da época, igual ou superior à Babilônia, devia conhecer a civilização dos caldeus e dos hiteus, os maiores povos daquele tempo, e também a dos outros povos menos importantes. Naturalmente, estava capacitado para produzir o livro que produziu, mesmo que não se levasse em conta a inspiração divina que, sem a menor dúvida, o assistiu, pois que, para escrever um livro como Gênesis, ou Deus o escreveu ou Moisés foi inspirado por Ele. Se, como pensam alguns, a família de Moisés descendia diretamente do grupo que preservou o monoteísmo com todas as tradições mais ou menos puras, maior razão temos ainda para aceitar que, ao mesmo tempo que ele conhecia as várias maneiras de interpretar os conhecimentos da vida primitiva, conhecia também os que se aproximavam da verdade. Entretanto, parece que Moisés não pensava, ao escrever o seu livro, em dar uma resenha das tradições das origens do universo, da vida e do homem. Parece assim, porque se ele tivesse tido essa preocupação ou se interessasse ao plano divino dar ao mundo um tratado sobre astronomia, geologia, etnologia etc., outra seria, a estrutura do livro. Ele tinha que escrever a história da família eleita, para, por sua vez, escrever a história da nação e o seu papel no cenário da redenção da raça humana. Arites de fazer isso, deu um mero esboço das primeiras coisas, e o deu tão rápido, com linhas tão espaçadas, que mal se divisa, na sua estrutura, qualquer plano, mesmo sintético, de dar uma história da criação. Não há, portanto, por onde se buscar paralelismo entre as várias narrativas e a narrativa de Gênesis, como não há por onde se exigir uma conformidade científica da narrativa dada com os rigores da ciência moderna. Não sendo uma narrativa feita para satisfazer a um estudo comparativo, com as crenças gerais, nem tampouco uma obra de cunho científico, o seu trabalho, sintético e conciso, feito na linguagem do povo, resiste às mais duras provas a que a ciência o queira submeter, no sentido da precisão e fidelidade quanto ao fenômeno criativo.