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ELIS::02


                                                                        Australiana
                                                                         Bella Dona
                                                                       Betina Menini
                                                                              Hacha
                                                                      Magnólia Reis
                                                             Maria Miranda de Paula
                                                               Marina de Los Pasos
                                                                    Munique Duarte
                                                                 Regina de Lourdes
                                                                         Virginia Z.

                                                               participações especiais
                                                                         Bruna Moury
                                                                 Grupo Dani Alegria




revista literária on line::ano01.edição02::novembro2012
ELIS::02
                edição::Ani Almeida                                                          contate::colabore::
                co-edição.diagramação::Tammy Almeida                                         editora.revistaelis@gmail.com
                colaboradores::Ani Almeida::Eduardo F. Moura::Guilherme C. Antunes::Ingrid   www.revistaelis.blogspot.com
                Machado::Joakim Antonio::Munique Duarte Alvim::Paulo Juner::Rafael           @revistaelis
                Zen::Rosa Queli Cambraia Soares::Sonia Regina Rocha Rodrigues                ::Por ser uma Revista literária e de colaboração coletiva, as ideias e conceitos
                participação especial::Bruna Moury::Grupo Dani Alegria                       expressos pelos autores selecionados são de suma responsabilidade dos mesmos,
                imagens::Bruna Moury::Sandra Martins Modesto::Tammy Almeida                  assim como as declarações de autoria pelos textos e imagens publicados.




elis::sapatos                                                                                                                                                            02
ELIS   é uma Revista Literária online, gratuita, que tem a
                mulher como personagem principal.

                "Elis é irreverente, feminina, ousada, criativa, inteligente...
                Elis é mulher, ama, sofre, talvez sofra mais do que ame, e
                continua, viva. Elis é o que sobra no reflexo do espelho: o
                elemento secreto em cada mulher."




                mundo da ELIS |           Com uma temática e um desafio
                diferentes à cada Edição, os colaboradores são convidados
                a assumir um papel feminino e prosear em versos, textos e
                imagens.

                Opiniões e gostos à parte, o intuito é trazer aos leitores uma
                variedade literária para o seu desfrute, com muito bom gosto
                e prazer.


                Assuma o seu melhor papel de mulher, perca o controle,
                escreva e convença o leitor de que o seu texto é o mais
                feminino da Revista, de que nele há a presença da Elis (mulher
                brasileira, musa inspiradora da Revista, talvez, uma entidade).



elis::sapatos                                                               03
ELIS::02


                "Não sei como a Leila insiste em namorar aquele pé-rapado do Robertinho! Já falei que ela se daria muito melhor com o costa-
                larga do Ricardão, mas ela me escuta? Naaada! É pior que burro quando empaca, continua enfiando o pé na lama, andando de meia
                furada...Tá parecendo a Irene, aquela rasteirinha do 202, que gosta de sofrer, vive de idealismos. Feminista até o último fio de
                cabelo, pra ela, salto alto é hipocrisia, havaianas é status e all star, apenas modismo. Ela ainda se deu ao luxo de dar uma bota
                no Fernandinho, acredita? Um rapaz pé-quente, ele não é de se jogar fora não... Eu me pergunto: porque eu não tenho essa sorte?
                De ter um homem como o Fernandinho pra fazer meu pé-de-meia? As vezes a vida é tão injusta, né, Joanete? Ah, agora sim, você
                ficou uma bonequinha com essa meia fina...hum, vai arrasar o coração do Paulão. É isso aí, amiga, pelo menos uma de nós têm que
                se dar bem! Falando nisso, deixa eu ir ajeitar a janta do Juarez, uma verdadeira pedra no meu sapato, ou melhor, uma pedra de
                tropeço, óh vida...".




                Então, qual SAPATO você vai usar hoje?
                Abra o seu armário para a ELIS e revele os seus sapatos mais íntimos, engraçados, encardidos e embolados!


                ::salto fino                                                       ::pé quebrado
                ::havaianas                                                        ::pé rapado
                ::pantufa                                                          ::bicho de pé
                ::ana bella                                                        ::pé-de-moleque
                ::bonequinha                                                       ::meia furada
                ::rasteirinha                                                      ::pedra no sapato
                ::bota                                                             ::sapato velho
                ::all star                                                         ::sapato molhado
                ::sapatilha                                                        ::sapato apertado
                ::sandália                                                         ::pé descalço
                ::meia fina                                                        ::couro e camurça



elis::sapatos                                                                                                                                 04
06 ::editorial::

   ::pé descalço::
07 Par Ou Ímpar
08 sem título

   ::bonequinha::
09 .de.abraços.pro.ar.

   ::rasteirinha::
10 Nada como um encontro espontâneo e casual

   ::meia fina::
12 Meia fina rosa

   ::sandália::
13 Meias Azuis

   ::sapatilha::
15 Sapatilha.

   ::salto fino::
16 R$20.
17 Depois de dois goles

   ::pé quebrado::
18 fricote

   ::botas::
19 O delírio comum das botas roxas

   ::sapato molhado::
21 sem tíltulo

22 ::créditos::
editorial
                                                                     Ani Almeida


                Com que sapato eu vou...
                                                                pra onde mesmo?

                Entre a briga de sapatos, chinelos e sandálias, a segunda
                ELIS traz na sua vitrine textos repletos de bom-humor, amor,
                inquietações e dramas nada incomuns.

                Das ilustrações que apresentam o tema com leve destreza
                (Conversa central e Ensolarou as pernas) aos sapatos e pés que
                relatam momentos cômicos (Meias Azuis), a Revista é preenchida
                com páginas animadas.

                Entretanto, algo que predominou nos textos enviados foi não
                apenas a busca pelo sapato ideal, mas por si mesmas: personagens
                e mulheres que, oras se entendem muito bem consigo (Meia fina
                rosa), outrora não compreendem a caminhada (Depois de dois goles)
                e caminham sem escorregar na poética (Sapatilha.).

                Mulheres, meninas, bailarinas e nem tão mulheres assim (vide
                a dama de paus dos R$20.) expressam o repensar dos passos,
                dos caminhos percorridos por nós, Elis. Mulheres que, na própria
                etimologia poética da palavra, constantemente sonham (O delírio
                comum das botas roxas) e amam (Sem título, Bella Dona).

                Para finalizar, um gostoso haicai (Sem título) encerra essa
                caminhada. Esperamos que o Sol desponte logo na próxima manhã.

                Ótima leitura em passos sem pressa!




elis::sapatos                                                                 06
Par Ou Ímpar
                Betina Menini


                Chinelo e sapato
                estão me dando uma canseira;
                brigam tanto todo dia,
                botei de castigo na prateleira.

                Sapato anda emburrado,
                chinelo não quer conversa,
                vou dar puxão de orelha
                num e noutro e vice versa.

                Sapato quer ir à praia,
                chinelo quer ter palmilha,
                vão pro raio que os parta
                e eu fujo para uma ilha.

                Sapato é desaforado,
                chinelo muito briguento.
                Vou é andar descalça
                que estes dois eu não aguento!




elis::sapatos                                     07
Bella Dona


                 Já quis ser bailarina
                      não pela dança
                 é que desde criança
                me pegam nos braços

                Sempre fui diferente
                pode até ser fetiche
                mas escolho sapatos
                pensando nos braços

                Que irão me envolver     Quando os vejo
                   na dança, na cama     nem sequer disfarço
                 me levantando no ar     contato nos olhos
                  como a uma criança     com tato nos braços

                   Dançarei na terra     Mas com esse gosto
                   serei alçada a lua    sei não ser única
                    tua doce loucura     por isso eu cuido
                  erguida nos braços     não por isso amarro

                                         Só ando de pé descalço
                                         Se acabar minha sorte
                                         possui braços fortes
                                         meu melhor sapato


elis::sapatos                                                            08
.de.abraços.pro.ar
                Magnólia Reis


                MAGRELA
                rodopia

                GIRA
                fio de cabelo
                na cabeça
                feito balé

                Abraça vento todo
                como se
                apertasse todo mundo

                Cabelo
                comprido-curto
                brilho de purpurina.

                Colorida
                a pequena menina
                menina bailarina
                pisa em passo de valsa
                o mundo que rodopia.




elis::sapatos                            09
Nada como um encontro espontâneo e casual
                                                                                                                   Australiana


                       O fato é que toda vez que a gente se arruma      me disse que a gente nunca devia colocar calcinhas
                toda, se produz, se perfuma, o sujeito desaparece!      rasgadas ou desfiadas, porque se a gente desse
                - desabafou Helena. - Homem gosta é de mulher           azar de ser atropelada, todo mundo ia ver as nossas
                desmazelada. Pois outro dia eu saí de manhã pra         calcinhas e seria uma vergonha - riu - como se quem
                ir a padaria, com o casaco por cima do pijama, que      acudisse uma vítima de atropelamento fosse lá se
                estava um frio de congelar pingüim, amarrei o cabelo    preocupar em olhar as calcinhas. Ou como se fosse lá
                de qualquer jeito na nuca, pois ninguém imagina que     uma coisa comum a gente ser atropelada por aí.
                vai trombar com o sapo encantado às sete da manhã       O fato é que Patrícia estava de olho no dentista
                em plena padaria, e não é que encontro um advogado      do plantão de domingo. Até já dera um cartão do
                todo alinhado, de terno e gravata, tomando café no      consultório para ele, como quem não quer nada,
                balcão, eu toda envergonhada e o gajo vem puxar         acrescentando o seu telefone pessoal atrás, mas o
                papo comigo, me convida para jantar e acabou virando    moço, até agora, não dera sinal de ter entendido a
                namoro?                                                 mensagem.
                O mesmo acontece comigo - confessou Rita - eu           Logo, logo, Patrícia teve a oportunidade de verificar
                quando saio com calcinha nova, combinando com sutiã,    esta particularidade dos homens - sua predileção pelo
                não rola nada, nada. Pois quando acho que não vai       que não é arrumado, arranjado, perfeito. Pois ao sair
                rolar, enfio qualquer calcinha tipo 'olá, mamãe' como   de casa em um dia de verão, foi surpreendida por uma
                no filme da Bridgit Jones, o camarada me arrasta        chuvarada destruidora de sandálias rasteirinhas.
                para a cama?                                            A coitada da moça, não bastasse estar sem guarda-
                As três amigas riram.                                   chuva, também ficou descalça. E lá estava ela, sem
                - Acho que nunca via rolar nada comigo, então -         graça, a voltar para casa como um pinto molhado,
                exclamou Patrícia. - eu nunca saio de pijama e estou    cabelos escorrendo, rasteirinhas na mão, quando
                sempre com as calcinhas bonitas, vocês não vão          esbarra no dentista. Ele, todo seco, elegante em seus
                acreditar, mas é trauma de infância, um dia mamãe       trajes de consultório. Ela bem que tentou passar sem


elis::sapatos                                                                                                              10
ser notada, mas ele chamou-a pelo nome, e, como se
                não percebesse o lastimável estado da moça, toca a
                tagarelar, emendando um assunto no outro, e, por
                fim, confessando:
                - Faz tempo que estou a fim de você, que tal jantarmos
                esta noite? Você gosta de lagosta?

                Pois Patrícia contou esta história para as amigas na
                praia de domingo:
                        - Lagosta? Ora essa, eu toda arrumada não
                ganho nem copo de água, e descalça ganho lagosta?
                Pois vivam os pés descalços, as rasteirinhas
                arrebentadas, e desisto de vez de entender os
                homens !




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Meia fina rosa
                                                         Munique Duarte

                Saiu de lá de dentro
                onde era um calor infernal
                do lado de fora
                frio alarmante de 10 graus
                atravessou a rua e perdeu o táxi
                que bom que economizaria então
                a mixaria que ganhava
                dentro de uma meia fina vermelha
                dançando o que não entendia
                do cantarolar inglês
                da birosca de calor infernal.
                Não escolheu nada daquilo
                era uma fada quando criança
                fez balé em meia fina rosa
                sonhava flores na porta
                depois de campainha tocada
                a vida dá pontapés em quem não espera.
                Imagina trocar a cor da meia fina
                e ainda sonha com sapatilhas
                as flores ela deixará para depois
                se ajeita no casaco
                no frio invernal
                amanhã é outro dia, quem sabe?
                Ela sabe muito bem.
                A meia fina não trocará de cor.


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Meias Azuis
                Regina de Lourdes




                Amo Gustavo mais do que tudo. É meu noivo e, a não      tarde, desabotoa a camisa de linho e a põe pra secar
                ser que aconteça uma catástrofe, a não ser que          o suor na cadeira antes de levar para o cesto. Livra-
                uma bicicleta o atropele distraído pela praça, vamos    se da calça vincada e põe o short de ficar em casa,
                nos casar em, no máximo, um ano. Ele está para ser      com uma camisa de algodão. Mas sua mania, eu ainda
                promovido no cartório. Disse que se continuar puxando   não disse (por uma vergonha boba, sei lá)... É que
                o saco do chefe como já puxa, é promovido em menos      Gustavo trabalha de sandália de couro e meia azul.
                de um ano. É só isso que falta para nos casarmos:
                uma promoção. Com o aumento, vai dar para pagar o       No início eu também achava pavoroso, mas já me
                aluguel no Catete. É que Gustavo não quer morar longe   acostumei. Só não consigo olhar. Ele chega em casa,
                da mãe. E não é má idéia ter a sogra por perto, uma     se livra da camisa, se livra da calça, mas permanece
                senhora muito experiente. Ela pode ajudar quando os     com a sandália de couro e a meia azul. Eu tenho
                netinhos chegarem. Se chegarem. Berenice, coitada,      que tratá-lo assim, olhando no olho. Se olhar para
                casou já tem seis anos e ainda não veio uma criança.    seus pés azuis na ponta daquele caniço de perna,
                Mas ela casou de maneira precipitada. Eu sempre         fico roxa, desconcentro, consigo fazer nada. Ele só
                disse, e mamãe sempre dizia, "quem casa quer casa,      retira a sandália para dormir. Ao menos isso. Mas a
                Berenice. Vai viver de que? De vento?", mas ela nem     meia permanece. Amo Gustavo, mas aquela meia... Ele
                te ligo. Casou com o Geremário, que não tem onde cair   dorme com ela e só a retira na manhã do dia seguinte,
                morto. Casamento assim não dura, menina. Berenice       ao tomar banho, para colocar outra. Às vezes, me
                diz que mais vale o amor. Besteira achar que o amor     pego imaginando que pé pavoroso, de dedos finos e
                é tudo. Mas eu amo o Gustavo, que fique claro, mais     branquinhos, deve ter Gustavo para estar sempre de
                do que tudo nesse mundo. É claro, sei que ele não é     meia. E quando me ponho a imaginar nossas núpcias,
                perfeito, como sei que eu também não sou. Gustavo       nada me deprime mais do que imaginá-lo nu em pêlo,
                tem manias. Ele chega em casa todo dia às seis da       mas vestido com as desgracildas meias azuis.


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Samuel é verdureiro. Verdureiro, ué. Vende aipim na      eram largas e muito brancas. A sola era rosadinha,
                feira. Toda terça-feira eu compro aipim, porque o        mas só se via o contorno, porque ele calçava aquela
                Gustavo gosta. A mãe dele faz fritinho, com manteiga,    havaiana azul e branca de pedreiro. As tiras do
                fica uma delícia. Ele senta-se à mesa, com suas meias    chinelo pareciam que estavam a ponto de arrebentar,
                azuis e a sandália de couro, e devora! Toda terça-       por tentarem sufocar o opulento pé que sustentava
                feira, quando peço o aipim ao Samuel, ele não quer me    Samuel. Um pé bojudo e livre.
                deixar pagar. "Pra moça bonita é de graça", ele diz,
                às vezes gargalhando, às vezes muito sério. "Mais        Estou noiva do Samuel e nos casamos dentro de
                respeito, Samuel, que eu sou noiva do seu Gustavo,       uma semana, de qualquer maneira. Se uma bicicleta o
                do cartório". Aí então que ele ri mais alto. Acho que    atropela distraído na praça, pior para a bicicleta.
                verdureiro não vai ao cartório, não é possível. Samuel
                é um mulato feio que nem cipó, mas é bem alimentado,
                sabe? Essa semana, na hora de em entregar o saco
                do aipim, Samuel me segurou pelo braço antes de
                dizer "pra moça bonita é de graça". Ultrajadíssima,
                me senti ultrajadíssima! Eu sou noiva do seu Gustavo,
                do cartório! Minha vontade foi virar a mão na cara
                do verdureiro safado. Não sei o que me deu, subiu
                uma coisa, menina. Eu disse "mostra o pé". Assim, na
                cara dura, nem sei como. Samuel gargalhou e, meio
                desajeitado, trouxe o pé para cima da barraca, que
                o ocultou esse tempo todo. O pé do Samuel parecia
                um sapo gordo e preto, enorme, saudável. As unhas


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Sapatilha.
                Marina de los Pasos


                "Quando calçava ela as sapatilhas, não sabia mais
                seu nome ou sua platéia. Pois de olhos fechados
                era a própria dança, e não mais a dançarina, quem
                se entregava diante da música e também do silêncio
                dos seus convidados. Quando lua morena despontava
                no céu, de doce cabana saia chorosa, com os pés
                descalços em busca do mar. Era jeito dela de andar
                em paz com sua solidão. Quando o sol lhe convidava
                a despertar, era de sapato e coração apertado que
                saia de casa, para conseguir um espaço na própria
                vida e uma folga das suas dívidas. E quando de volta
                pra casa com seu salto fino na mão, percebia o seu
                tamanho e seu lugar diante do mundo. Ainda que as
                tantas versões de si pudessem escolher as cores, os
                preços, os modelos e os tamanhos dos seus sapatos,
                eram as ocasiões - e também os acasos - quem
                definiam seus passos. Era o seu coração quem de
                verdade caminhava, até que um dia resolveu parar,
                cansado da caminhada".




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R$20.
                Virgínia Z.


                a prostituta parada no palco diz para os pais que é bailarina.

                completamente lúcida, se comunica com os pais por cartas, dançarina
                descartável. diz que tem saudade do acre, mas se cobre de batom
                e entope o nariz de acetona. top de canutilho preto, salto agulha e
                um brinquedo no meio das penas, rainha de paus. sai de casa para
                o calçadão antes que as cortinas fechem, porque o balé é ruim
                demais depois das onze.

                dança na rua antes que os holofotes dos postes se apaguem.
                antes que o patrocínio cesse.

                mas antes que o carro passe,
                antes que o meio-fio chegue,

                o salto fino quebra
                e a bailarina cai
                e um menino chora

                sem música o balé das coxas até acontece,
                sem coxia acontece,
                sem vontade acontece,

                sem salto é impossível.


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Depois de dois goles
                                                                                                                        Hacha


                Foi no dia em que o Sol se fechou em si e o céu         Quando abandonei as chaves do portão, lancei o meu
                gotejava fino.                                          salto palito de dente no barro com água, cambaleei
                Neste dia pela tarde usei o meu melhor vestido e        por duas quadras levando os teus restos, rapaz.
                coloquei os meus sapatos vernizados de salto doze       Me ajoelhei em um montinho de terra, minhas unhas
                agulha; vermelhos.                                      ficaram barrentas, minha pele seguia o mesmo
                Mesmo sendo mulher não entendo muito deste              esquema, eu era porco na lama. Lancei mão da única
                assunto, de ser mulher, porém de vermelho, entendo      coisa material que lembrava a você. O meu sapato
                muito bem. Vermelho é meu sangue, são as minhas         vermelho de salto alfinete que espetava a terra
                unhas, o meu batom, a marca de um chupão no teu         enquanto eu era a que sangrava. Mesmo sendo
                pescoço, é como eu fico com vergonha, quando eu         mulher não entendo muito bem deste assunto, de ser
                te via, quando você me tinha, as rosas que nunca        mulher, porém julgo que toda mulher deveria ter um
                ganhei, o sinal de parar, a raiva que me acaba, minha   par destes sapatos vermelhos, também julgava que
                menstruação desregularizada, as placas de trânsito,     era preciso amar. Optei nessa fase da minha vida, ser
                a marca das minhas mãos nas tuas costas de um           homem, cerveja e mesa de bar.
                abraço que eu não queria mais soltar...




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fricote
                Magnólia Reis




                Pois bem
                eu assim
                aula de salsa
                rebolei.

                Ia bem
                até o fim
                eu descalça
                despenquei.

                Lá vem
                eu sem mim
                calor da dança
                tropecei.




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O delírio comum das botas roxas
                                                                                                                Munique Duarte


                Cinco da tarde não pousava naquele relógio imenso e     Há muito Lália é inverno decepcionante de folhas
                imundo há muitos dias. Quando o tempo e as amoreiras    decadentes. A amoreira virou as costas para a doce
                não estão a nosso favor, tudo apodrece em data          menina que sonhava em ser bailarina e que fazia café
                esquecida. Muito frio na espera. Nada ao redor de       forte como ninguém. Dançou muitas valsas em muitos
                casas minúsculas e redes penduradas. Tudo era           verões quentes de chafarizes límpidos. Agora o vento
                muito amarelo e com escadas na terra distante que       do leste chegou com suas pestes inconfundíveis.
                chamaram de impaciência. Lália está impaciente com      Lália repassa todas as noites ao relento a sua
                suas saias curtas e pretensões enormes. Bebendo         decadência poética. Sofreu com uma história tão
                água infectada de chafariz e arrastando suas botas      comum como acontece com qualquer um. Qualquer um
                roxas com meias grossas roxas de um tom abaixo. Não     servia depois para afogar as memórias que restavam
                acreditava mais no relógio da igreja cheio de restos    e incomodavam como cravo nos dentes. Sorte, sorte,
                de pombos e de migalhas de miradas humanas.             sorte. Pedia toda noite sorte para continuar seus
                Todos os dias iguais e todas as portas fechadas         rumos e sorte para a sola da bota roxa durar um
                para o mundo solteiro de Lália que perdeu o caminho     pouco mais. O inverno interior de mesmices castiga. E
                da passarela que cruzava a avenida fumegante            as cinco horas que não chegam com o grande relógio
                interminável e que terminava no seu coração             e sua moldura de pombas sujas catedráticas.
                empoeirado. Botas roxas não podem andar muito           Sonha com anjos e suas trombetas brancas polidas,
                quando trazem na sola lembranças cardiovasculares       de cabeleiras arrumadas e hálito de jardim. Sente
                terríveis. A água de chafariz servida em taça rosa      já o cheiro das horas mornas, sem botas roxas e
                naquele fim de tarde tão aconchegante perto da          olhares depressivos, descalça nos pés e nas mãos,
                lareira que estalava fagulhas perigosas. Pegou fogo     e na mente e nos planos, pronta para mergulhar
                muitos dias e muitas madrugadas para desembocar         nos afazeres que fazem sentir um ser humano vivo
                no calçar das mesmas botas roxas fora da estação        e vivível. Sonha, Lália. Ela sonha todas as noites,
                primaveril que Lália já havia se esquecido há muito.    e o gatilho que dispara terá o som mais doce das


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horas mais bem vividas por ela, bailando sobre a
                ponta do chafariz e reluzindo como trombeta branca
                de quem conhece o mundo como a palma da mão lida
                pela romena que morreu semana passada ao beber
                água suja. Chafarizes envenenados. Vidas plantadas
                em locais errôneos com suas dores de amor. Amor
                de amora. Escuro, mole, perecível. Nada romântico
                e vermelho. Sujo, feito a água urinada do anjinho
                maldito do chafariz da mesmice da praça.
                Hoje é dia de festa e as luzes se acendem para novas
                auroras boreais. Botas roxas a postos. O dia inteiro
                a postos. Coração de Lália pulsando na poeira. Tudo
                certo, menos com aquele relógio roxo imenso que não
                toca o blém-blém esperado das cinco. As pombas
                devem ter comido o mecanismo do funcionamento.
                Lália é a meia-noite repetida de cinco em cinco horas.
                Como remédio roxo feito de botas de amoreira.




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chuvosa manhã -
                os sapatos na calçada
                sabem seu destino?
                                        Maria Miranda de Paula




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créditos

                Ani Almeida     é comunicóloga e poetisa com pretensões de escritora. É também a
                idealizadora e editora da Revista Elis.
                anialmeida@gmail.com

                Tammy Almeida       é arquiteta e sonhadora
                tammyalmeida@gmail.com




                ::participação especial::
                Bruna Moury tem 21 anos       e atualmente cursa Artes Plásticas (Visuais) na
                Aeso em Recife. Tem experiência no campo das ilustrações manuais e digitais.
                Já trabalhou para outra revista como ilustradora e design gráfico. Conta com a
                bagagem do curso de design de moda já concluído anos atrás. Além do mundo dos
                desenhos tem a fotografia como hobbie bem empregado.
                http://celulascinza.blogspot.com.br

                Grupo Dani Alegria é uma ação social coordenada por Sandra Martins Modesto,
                que gentilmente nos envio a imagem ao lado: professora da rede pública de ensino.
                Nasceu em São Paulo, capital. Adora ler e escrever e atualmente lidera o grupo de
                palhaços que visita escolas, instituições, asilos e ongs. Jovens com faixa etária de
                15 a 17 anos se vestem de palhaço levando entretenimento a pessoas que possuem
                uma realidade bem difícil. Na foto, você tem os pés de Matheus Mendes, Luan
                Cardoso, Paulo Giordan, Thaís Mariano, Cibelly Karoline, Fernanda Dayane, Ricardo
                Rocha e Igor Medeiros.
                sandramartinsc@uol.com.br




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                Australiana é Sonia Regina Rocha Rodrigues                                           Marina de los Pasos é Guilherme C. Antunes | @guglicardoso
                Médica de profissão e escritora por vocação. Ativista cultural por muitos anos,      Sommelier de groselha, alvissareiro, poeta e farsante. Sinestésico e musical.
                editou em Santos, junto com três outras escritoras santistas, o jornal literário     Buscador, contraditório, intenso. Vasto... Escreve n'A Ilha de um homem só.
                Um dedo de prosa e a revista cultural Chapéu-de-sol, que circularam entre 1996       http://arkhipelago.blogspot.com
                e 2001.
                http://alegriadeler.blogspot.com.br/
                                                                                                     Munique Duarte é Munique Duarte Alvim | @muniquealvim
                Bella Dona é Joakim Antonio                                                          Nasceu e vive em Santos Dumont-MG. É jornalista responsável pelas publicações
                Um paulistano apaixonado por comunicação. Nascido na selva de pedra, mas com         de quatro sindicatos de Juiz de Fora-MG.
                um pé no sertão nordestino, de origens indígenas. Herdou a bagagem da cultura        Bloga em http://textosimperdoaveis.blogspot.com. Participa da obra Escritos
                e tradição oral, tornando-se contador de histórias. Em 2009, começou a escrever      de Amor, lançada pela Casa do Novo Autor Editora, e Poesia e Prosa no Rio de
                poesias e, desde então, nunca mais passou um dia sequer sem escrever.                Janeiro, pela Taba Cultural. Já colaborou n'O BULE, Sobrecapa Literal, Escrita
                http://descortinamental.blogspot.com.br                                              Criativa (Portugal), Revista Diversos Afins, Jornal Opção, Jornal Relevo, Revista
                                                                                                     Elis, Revista Pâncreas e Revista O Viés. Admiradora de Dalton Trevisan, Lygia
                                                                                                     Fagundes Telles e Ferreira Gullar.
                Betina Menini é Rosa Queli Cambraia Soares                                           http://textosimperdoaveis.blogspot.com
                Estudei Letras na PUC-POA. Adoro literatura, sou viciada em livros e me dedico a
                escrever contos e poesias sempre que sobra um tempinho. Gosto principalmente
                de textos bem-humorados, que divirtam e encantam.
                                                                                                     Regina de Lourdes é Eduardo Ferreira Moura
                                                                                                     Carioca, 23 anos, teve seu primeiro romance publicado em 2011, Esposa Perfeita,
                Hacha é Ingrid Machado | @laahacha                                                   pela Editora Multifoco. Em 2012, pela mesma editora, veio o Meus Textículos, seu
                Tem 22 anos, leonina, graduanda do curso de artes cênicas pela UFPE, é de Recife     livro de contos. Atualmente escreve para a Revista IN, para o site Obvious, para
                e o lugar mais longe que já esteve foi Brasília. Trabalha com teatro, produção       o blog Letras et Cetera e para o Dona Zica tá Braba. Mantém também um blog
                cultural, maquiagem social/artística e escreve desde dos onze anos.
                                                                                                     pessoal, primeira moradia de seus textos, em: www.lifeonmarx.blogspot.com
                                                                                                     www.lifeonmarx.blogspot.com
                Magnólia Reis é Ani Almeida | @lunaticapoesia
                Relações Públicas? Gestora Cultural? Escritora? Tem muitas dúvidas, mas agora
                tem cabelos curtos. Não tem barba nem bigode. Tem vontade de ver palavras
                                                                                                     Virginia Z. é Rafael Zen
                voando por aí. Edita a Revista Elis e às escreve quando dá na telha na Lunatiquia.   Escritor, artista plástico e publicitário. Já publicou dois livros coletivos em
                 www.lunaticapoesia.blogspot.com                                                     parceria com a Editora SESC: Só mais uma coisa (2008) e De Veritate (2009). Em
                                                                                                     2012 lança seu primeiro livro solo, intitulado "A questão da Andorinha", vencedor
                Maria Miranda de Paula é Paulo Juner                                                 do Edital do Fundo de Cultura da Prefeitura de Brusque/SC, edição 2012. Também
                Oficineiro do escritor Charles Kiefer em 2005 e 2006, em Porto Alegre, RS.           é coautor do concurso Poesia Urbana, que em 2012 lançou sua segunda edição. Na
                Participante, com 3 contos, da antologia "Inventário das Delicadezas" lançada        área das artes plásticas possui linha de pesquisa centrada na palavra e participa
                em 2007 pela editora Nova Prova, em idem, idem. Vivente, no mais.                    do Grupo G13 Arte Contemporânea, iniciativa privada de produção e incentivo às
                http://inventariodasdelicadezas.wordpress.com                                        artes. Reside em Brusque, Santa Catarina, e tem 24 anos.


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                ::capa e índice::composição com as ilustrações "Conversa Central" e
                "Ensolarou as pernas"
                Bruna Moury::ilustração

                ::07::sem título
                autoria desconhecida::ilustração

                ::09::Fada 2 (2008) Fairy 2
                Gepeto-Pinóquio::fotografia de escultura
                http://madeiraviva.blogspot.com.br/2008/10/fada-2-2008-fairy-2.html

                ::12::isem título
                Tammy Almeida::ilustração sobre foto de autoria desconhecida

                ::13::sem título
                Tammy Almieda::ilustração

                ::14::sem título
                Tammy Almeida::ilustração

                ::16::sem título
                autoria desconehcida::foto

                ::18::sem título
                Tammy Almeida::ilustração

                ::21::sem título
                autoria desconhecida::foto

                ::22::sem título
                Sandra Martins Modesto::foto




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Revista Elis 02

  • 1. ELIS::02 Australiana Bella Dona Betina Menini Hacha Magnólia Reis Maria Miranda de Paula Marina de Los Pasos Munique Duarte Regina de Lourdes Virginia Z. participações especiais Bruna Moury Grupo Dani Alegria revista literária on line::ano01.edição02::novembro2012
  • 2. ELIS::02 edição::Ani Almeida contate::colabore:: co-edição.diagramação::Tammy Almeida editora.revistaelis@gmail.com colaboradores::Ani Almeida::Eduardo F. Moura::Guilherme C. Antunes::Ingrid www.revistaelis.blogspot.com Machado::Joakim Antonio::Munique Duarte Alvim::Paulo Juner::Rafael @revistaelis Zen::Rosa Queli Cambraia Soares::Sonia Regina Rocha Rodrigues ::Por ser uma Revista literária e de colaboração coletiva, as ideias e conceitos participação especial::Bruna Moury::Grupo Dani Alegria expressos pelos autores selecionados são de suma responsabilidade dos mesmos, imagens::Bruna Moury::Sandra Martins Modesto::Tammy Almeida assim como as declarações de autoria pelos textos e imagens publicados. elis::sapatos 02
  • 3. ELIS é uma Revista Literária online, gratuita, que tem a mulher como personagem principal. "Elis é irreverente, feminina, ousada, criativa, inteligente... Elis é mulher, ama, sofre, talvez sofra mais do que ame, e continua, viva. Elis é o que sobra no reflexo do espelho: o elemento secreto em cada mulher." mundo da ELIS | Com uma temática e um desafio diferentes à cada Edição, os colaboradores são convidados a assumir um papel feminino e prosear em versos, textos e imagens. Opiniões e gostos à parte, o intuito é trazer aos leitores uma variedade literária para o seu desfrute, com muito bom gosto e prazer. Assuma o seu melhor papel de mulher, perca o controle, escreva e convença o leitor de que o seu texto é o mais feminino da Revista, de que nele há a presença da Elis (mulher brasileira, musa inspiradora da Revista, talvez, uma entidade). elis::sapatos 03
  • 4. ELIS::02 "Não sei como a Leila insiste em namorar aquele pé-rapado do Robertinho! Já falei que ela se daria muito melhor com o costa- larga do Ricardão, mas ela me escuta? Naaada! É pior que burro quando empaca, continua enfiando o pé na lama, andando de meia furada...Tá parecendo a Irene, aquela rasteirinha do 202, que gosta de sofrer, vive de idealismos. Feminista até o último fio de cabelo, pra ela, salto alto é hipocrisia, havaianas é status e all star, apenas modismo. Ela ainda se deu ao luxo de dar uma bota no Fernandinho, acredita? Um rapaz pé-quente, ele não é de se jogar fora não... Eu me pergunto: porque eu não tenho essa sorte? De ter um homem como o Fernandinho pra fazer meu pé-de-meia? As vezes a vida é tão injusta, né, Joanete? Ah, agora sim, você ficou uma bonequinha com essa meia fina...hum, vai arrasar o coração do Paulão. É isso aí, amiga, pelo menos uma de nós têm que se dar bem! Falando nisso, deixa eu ir ajeitar a janta do Juarez, uma verdadeira pedra no meu sapato, ou melhor, uma pedra de tropeço, óh vida...". Então, qual SAPATO você vai usar hoje? Abra o seu armário para a ELIS e revele os seus sapatos mais íntimos, engraçados, encardidos e embolados! ::salto fino ::pé quebrado ::havaianas ::pé rapado ::pantufa ::bicho de pé ::ana bella ::pé-de-moleque ::bonequinha ::meia furada ::rasteirinha ::pedra no sapato ::bota ::sapato velho ::all star ::sapato molhado ::sapatilha ::sapato apertado ::sandália ::pé descalço ::meia fina ::couro e camurça elis::sapatos 04
  • 5. 06 ::editorial:: ::pé descalço:: 07 Par Ou Ímpar 08 sem título ::bonequinha:: 09 .de.abraços.pro.ar. ::rasteirinha:: 10 Nada como um encontro espontâneo e casual ::meia fina:: 12 Meia fina rosa ::sandália:: 13 Meias Azuis ::sapatilha:: 15 Sapatilha. ::salto fino:: 16 R$20. 17 Depois de dois goles ::pé quebrado:: 18 fricote ::botas:: 19 O delírio comum das botas roxas ::sapato molhado:: 21 sem tíltulo 22 ::créditos::
  • 6. editorial Ani Almeida Com que sapato eu vou... pra onde mesmo? Entre a briga de sapatos, chinelos e sandálias, a segunda ELIS traz na sua vitrine textos repletos de bom-humor, amor, inquietações e dramas nada incomuns. Das ilustrações que apresentam o tema com leve destreza (Conversa central e Ensolarou as pernas) aos sapatos e pés que relatam momentos cômicos (Meias Azuis), a Revista é preenchida com páginas animadas. Entretanto, algo que predominou nos textos enviados foi não apenas a busca pelo sapato ideal, mas por si mesmas: personagens e mulheres que, oras se entendem muito bem consigo (Meia fina rosa), outrora não compreendem a caminhada (Depois de dois goles) e caminham sem escorregar na poética (Sapatilha.). Mulheres, meninas, bailarinas e nem tão mulheres assim (vide a dama de paus dos R$20.) expressam o repensar dos passos, dos caminhos percorridos por nós, Elis. Mulheres que, na própria etimologia poética da palavra, constantemente sonham (O delírio comum das botas roxas) e amam (Sem título, Bella Dona). Para finalizar, um gostoso haicai (Sem título) encerra essa caminhada. Esperamos que o Sol desponte logo na próxima manhã. Ótima leitura em passos sem pressa! elis::sapatos 06
  • 7. Par Ou Ímpar Betina Menini Chinelo e sapato estão me dando uma canseira; brigam tanto todo dia, botei de castigo na prateleira. Sapato anda emburrado, chinelo não quer conversa, vou dar puxão de orelha num e noutro e vice versa. Sapato quer ir à praia, chinelo quer ter palmilha, vão pro raio que os parta e eu fujo para uma ilha. Sapato é desaforado, chinelo muito briguento. Vou é andar descalça que estes dois eu não aguento! elis::sapatos 07
  • 8. Bella Dona Já quis ser bailarina não pela dança é que desde criança me pegam nos braços Sempre fui diferente pode até ser fetiche mas escolho sapatos pensando nos braços Que irão me envolver Quando os vejo na dança, na cama nem sequer disfarço me levantando no ar contato nos olhos como a uma criança com tato nos braços Dançarei na terra Mas com esse gosto serei alçada a lua sei não ser única tua doce loucura por isso eu cuido erguida nos braços não por isso amarro Só ando de pé descalço Se acabar minha sorte possui braços fortes meu melhor sapato elis::sapatos 08
  • 9. .de.abraços.pro.ar Magnólia Reis MAGRELA rodopia GIRA fio de cabelo na cabeça feito balé Abraça vento todo como se apertasse todo mundo Cabelo comprido-curto brilho de purpurina. Colorida a pequena menina menina bailarina pisa em passo de valsa o mundo que rodopia. elis::sapatos 09
  • 10. Nada como um encontro espontâneo e casual Australiana O fato é que toda vez que a gente se arruma me disse que a gente nunca devia colocar calcinhas toda, se produz, se perfuma, o sujeito desaparece! rasgadas ou desfiadas, porque se a gente desse - desabafou Helena. - Homem gosta é de mulher azar de ser atropelada, todo mundo ia ver as nossas desmazelada. Pois outro dia eu saí de manhã pra calcinhas e seria uma vergonha - riu - como se quem ir a padaria, com o casaco por cima do pijama, que acudisse uma vítima de atropelamento fosse lá se estava um frio de congelar pingüim, amarrei o cabelo preocupar em olhar as calcinhas. Ou como se fosse lá de qualquer jeito na nuca, pois ninguém imagina que uma coisa comum a gente ser atropelada por aí. vai trombar com o sapo encantado às sete da manhã O fato é que Patrícia estava de olho no dentista em plena padaria, e não é que encontro um advogado do plantão de domingo. Até já dera um cartão do todo alinhado, de terno e gravata, tomando café no consultório para ele, como quem não quer nada, balcão, eu toda envergonhada e o gajo vem puxar acrescentando o seu telefone pessoal atrás, mas o papo comigo, me convida para jantar e acabou virando moço, até agora, não dera sinal de ter entendido a namoro? mensagem. O mesmo acontece comigo - confessou Rita - eu Logo, logo, Patrícia teve a oportunidade de verificar quando saio com calcinha nova, combinando com sutiã, esta particularidade dos homens - sua predileção pelo não rola nada, nada. Pois quando acho que não vai que não é arrumado, arranjado, perfeito. Pois ao sair rolar, enfio qualquer calcinha tipo 'olá, mamãe' como de casa em um dia de verão, foi surpreendida por uma no filme da Bridgit Jones, o camarada me arrasta chuvarada destruidora de sandálias rasteirinhas. para a cama? A coitada da moça, não bastasse estar sem guarda- As três amigas riram. chuva, também ficou descalça. E lá estava ela, sem - Acho que nunca via rolar nada comigo, então - graça, a voltar para casa como um pinto molhado, exclamou Patrícia. - eu nunca saio de pijama e estou cabelos escorrendo, rasteirinhas na mão, quando sempre com as calcinhas bonitas, vocês não vão esbarra no dentista. Ele, todo seco, elegante em seus acreditar, mas é trauma de infância, um dia mamãe trajes de consultório. Ela bem que tentou passar sem elis::sapatos 10
  • 11. ser notada, mas ele chamou-a pelo nome, e, como se não percebesse o lastimável estado da moça, toca a tagarelar, emendando um assunto no outro, e, por fim, confessando: - Faz tempo que estou a fim de você, que tal jantarmos esta noite? Você gosta de lagosta? Pois Patrícia contou esta história para as amigas na praia de domingo: - Lagosta? Ora essa, eu toda arrumada não ganho nem copo de água, e descalça ganho lagosta? Pois vivam os pés descalços, as rasteirinhas arrebentadas, e desisto de vez de entender os homens ! elis::sapatos 11
  • 12. Meia fina rosa Munique Duarte Saiu de lá de dentro onde era um calor infernal do lado de fora frio alarmante de 10 graus atravessou a rua e perdeu o táxi que bom que economizaria então a mixaria que ganhava dentro de uma meia fina vermelha dançando o que não entendia do cantarolar inglês da birosca de calor infernal. Não escolheu nada daquilo era uma fada quando criança fez balé em meia fina rosa sonhava flores na porta depois de campainha tocada a vida dá pontapés em quem não espera. Imagina trocar a cor da meia fina e ainda sonha com sapatilhas as flores ela deixará para depois se ajeita no casaco no frio invernal amanhã é outro dia, quem sabe? Ela sabe muito bem. A meia fina não trocará de cor. elis::sapatos 12
  • 13. Meias Azuis Regina de Lourdes Amo Gustavo mais do que tudo. É meu noivo e, a não tarde, desabotoa a camisa de linho e a põe pra secar ser que aconteça uma catástrofe, a não ser que o suor na cadeira antes de levar para o cesto. Livra- uma bicicleta o atropele distraído pela praça, vamos se da calça vincada e põe o short de ficar em casa, nos casar em, no máximo, um ano. Ele está para ser com uma camisa de algodão. Mas sua mania, eu ainda promovido no cartório. Disse que se continuar puxando não disse (por uma vergonha boba, sei lá)... É que o saco do chefe como já puxa, é promovido em menos Gustavo trabalha de sandália de couro e meia azul. de um ano. É só isso que falta para nos casarmos: uma promoção. Com o aumento, vai dar para pagar o No início eu também achava pavoroso, mas já me aluguel no Catete. É que Gustavo não quer morar longe acostumei. Só não consigo olhar. Ele chega em casa, da mãe. E não é má idéia ter a sogra por perto, uma se livra da camisa, se livra da calça, mas permanece senhora muito experiente. Ela pode ajudar quando os com a sandália de couro e a meia azul. Eu tenho netinhos chegarem. Se chegarem. Berenice, coitada, que tratá-lo assim, olhando no olho. Se olhar para casou já tem seis anos e ainda não veio uma criança. seus pés azuis na ponta daquele caniço de perna, Mas ela casou de maneira precipitada. Eu sempre fico roxa, desconcentro, consigo fazer nada. Ele só disse, e mamãe sempre dizia, "quem casa quer casa, retira a sandália para dormir. Ao menos isso. Mas a Berenice. Vai viver de que? De vento?", mas ela nem meia permanece. Amo Gustavo, mas aquela meia... Ele te ligo. Casou com o Geremário, que não tem onde cair dorme com ela e só a retira na manhã do dia seguinte, morto. Casamento assim não dura, menina. Berenice ao tomar banho, para colocar outra. Às vezes, me diz que mais vale o amor. Besteira achar que o amor pego imaginando que pé pavoroso, de dedos finos e é tudo. Mas eu amo o Gustavo, que fique claro, mais branquinhos, deve ter Gustavo para estar sempre de do que tudo nesse mundo. É claro, sei que ele não é meia. E quando me ponho a imaginar nossas núpcias, perfeito, como sei que eu também não sou. Gustavo nada me deprime mais do que imaginá-lo nu em pêlo, tem manias. Ele chega em casa todo dia às seis da mas vestido com as desgracildas meias azuis. elis::sapatos 13
  • 14. Samuel é verdureiro. Verdureiro, ué. Vende aipim na eram largas e muito brancas. A sola era rosadinha, feira. Toda terça-feira eu compro aipim, porque o mas só se via o contorno, porque ele calçava aquela Gustavo gosta. A mãe dele faz fritinho, com manteiga, havaiana azul e branca de pedreiro. As tiras do fica uma delícia. Ele senta-se à mesa, com suas meias chinelo pareciam que estavam a ponto de arrebentar, azuis e a sandália de couro, e devora! Toda terça- por tentarem sufocar o opulento pé que sustentava feira, quando peço o aipim ao Samuel, ele não quer me Samuel. Um pé bojudo e livre. deixar pagar. "Pra moça bonita é de graça", ele diz, às vezes gargalhando, às vezes muito sério. "Mais Estou noiva do Samuel e nos casamos dentro de respeito, Samuel, que eu sou noiva do seu Gustavo, uma semana, de qualquer maneira. Se uma bicicleta o do cartório". Aí então que ele ri mais alto. Acho que atropela distraído na praça, pior para a bicicleta. verdureiro não vai ao cartório, não é possível. Samuel é um mulato feio que nem cipó, mas é bem alimentado, sabe? Essa semana, na hora de em entregar o saco do aipim, Samuel me segurou pelo braço antes de dizer "pra moça bonita é de graça". Ultrajadíssima, me senti ultrajadíssima! Eu sou noiva do seu Gustavo, do cartório! Minha vontade foi virar a mão na cara do verdureiro safado. Não sei o que me deu, subiu uma coisa, menina. Eu disse "mostra o pé". Assim, na cara dura, nem sei como. Samuel gargalhou e, meio desajeitado, trouxe o pé para cima da barraca, que o ocultou esse tempo todo. O pé do Samuel parecia um sapo gordo e preto, enorme, saudável. As unhas elis::sapatos 14
  • 15. Sapatilha. Marina de los Pasos "Quando calçava ela as sapatilhas, não sabia mais seu nome ou sua platéia. Pois de olhos fechados era a própria dança, e não mais a dançarina, quem se entregava diante da música e também do silêncio dos seus convidados. Quando lua morena despontava no céu, de doce cabana saia chorosa, com os pés descalços em busca do mar. Era jeito dela de andar em paz com sua solidão. Quando o sol lhe convidava a despertar, era de sapato e coração apertado que saia de casa, para conseguir um espaço na própria vida e uma folga das suas dívidas. E quando de volta pra casa com seu salto fino na mão, percebia o seu tamanho e seu lugar diante do mundo. Ainda que as tantas versões de si pudessem escolher as cores, os preços, os modelos e os tamanhos dos seus sapatos, eram as ocasiões - e também os acasos - quem definiam seus passos. Era o seu coração quem de verdade caminhava, até que um dia resolveu parar, cansado da caminhada". elis::sapatos 15
  • 16. R$20. Virgínia Z. a prostituta parada no palco diz para os pais que é bailarina. completamente lúcida, se comunica com os pais por cartas, dançarina descartável. diz que tem saudade do acre, mas se cobre de batom e entope o nariz de acetona. top de canutilho preto, salto agulha e um brinquedo no meio das penas, rainha de paus. sai de casa para o calçadão antes que as cortinas fechem, porque o balé é ruim demais depois das onze. dança na rua antes que os holofotes dos postes se apaguem. antes que o patrocínio cesse. mas antes que o carro passe, antes que o meio-fio chegue, o salto fino quebra e a bailarina cai e um menino chora sem música o balé das coxas até acontece, sem coxia acontece, sem vontade acontece, sem salto é impossível. elis::sapatos 16
  • 17. Depois de dois goles Hacha Foi no dia em que o Sol se fechou em si e o céu Quando abandonei as chaves do portão, lancei o meu gotejava fino. salto palito de dente no barro com água, cambaleei Neste dia pela tarde usei o meu melhor vestido e por duas quadras levando os teus restos, rapaz. coloquei os meus sapatos vernizados de salto doze Me ajoelhei em um montinho de terra, minhas unhas agulha; vermelhos. ficaram barrentas, minha pele seguia o mesmo Mesmo sendo mulher não entendo muito deste esquema, eu era porco na lama. Lancei mão da única assunto, de ser mulher, porém de vermelho, entendo coisa material que lembrava a você. O meu sapato muito bem. Vermelho é meu sangue, são as minhas vermelho de salto alfinete que espetava a terra unhas, o meu batom, a marca de um chupão no teu enquanto eu era a que sangrava. Mesmo sendo pescoço, é como eu fico com vergonha, quando eu mulher não entendo muito bem deste assunto, de ser te via, quando você me tinha, as rosas que nunca mulher, porém julgo que toda mulher deveria ter um ganhei, o sinal de parar, a raiva que me acaba, minha par destes sapatos vermelhos, também julgava que menstruação desregularizada, as placas de trânsito, era preciso amar. Optei nessa fase da minha vida, ser a marca das minhas mãos nas tuas costas de um homem, cerveja e mesa de bar. abraço que eu não queria mais soltar... elis::sapatos 17
  • 18. fricote Magnólia Reis Pois bem eu assim aula de salsa rebolei. Ia bem até o fim eu descalça despenquei. Lá vem eu sem mim calor da dança tropecei. elis::sapatos 18
  • 19. O delírio comum das botas roxas Munique Duarte Cinco da tarde não pousava naquele relógio imenso e Há muito Lália é inverno decepcionante de folhas imundo há muitos dias. Quando o tempo e as amoreiras decadentes. A amoreira virou as costas para a doce não estão a nosso favor, tudo apodrece em data menina que sonhava em ser bailarina e que fazia café esquecida. Muito frio na espera. Nada ao redor de forte como ninguém. Dançou muitas valsas em muitos casas minúsculas e redes penduradas. Tudo era verões quentes de chafarizes límpidos. Agora o vento muito amarelo e com escadas na terra distante que do leste chegou com suas pestes inconfundíveis. chamaram de impaciência. Lália está impaciente com Lália repassa todas as noites ao relento a sua suas saias curtas e pretensões enormes. Bebendo decadência poética. Sofreu com uma história tão água infectada de chafariz e arrastando suas botas comum como acontece com qualquer um. Qualquer um roxas com meias grossas roxas de um tom abaixo. Não servia depois para afogar as memórias que restavam acreditava mais no relógio da igreja cheio de restos e incomodavam como cravo nos dentes. Sorte, sorte, de pombos e de migalhas de miradas humanas. sorte. Pedia toda noite sorte para continuar seus Todos os dias iguais e todas as portas fechadas rumos e sorte para a sola da bota roxa durar um para o mundo solteiro de Lália que perdeu o caminho pouco mais. O inverno interior de mesmices castiga. E da passarela que cruzava a avenida fumegante as cinco horas que não chegam com o grande relógio interminável e que terminava no seu coração e sua moldura de pombas sujas catedráticas. empoeirado. Botas roxas não podem andar muito Sonha com anjos e suas trombetas brancas polidas, quando trazem na sola lembranças cardiovasculares de cabeleiras arrumadas e hálito de jardim. Sente terríveis. A água de chafariz servida em taça rosa já o cheiro das horas mornas, sem botas roxas e naquele fim de tarde tão aconchegante perto da olhares depressivos, descalça nos pés e nas mãos, lareira que estalava fagulhas perigosas. Pegou fogo e na mente e nos planos, pronta para mergulhar muitos dias e muitas madrugadas para desembocar nos afazeres que fazem sentir um ser humano vivo no calçar das mesmas botas roxas fora da estação e vivível. Sonha, Lália. Ela sonha todas as noites, primaveril que Lália já havia se esquecido há muito. e o gatilho que dispara terá o som mais doce das elis::sapatos 19
  • 20. horas mais bem vividas por ela, bailando sobre a ponta do chafariz e reluzindo como trombeta branca de quem conhece o mundo como a palma da mão lida pela romena que morreu semana passada ao beber água suja. Chafarizes envenenados. Vidas plantadas em locais errôneos com suas dores de amor. Amor de amora. Escuro, mole, perecível. Nada romântico e vermelho. Sujo, feito a água urinada do anjinho maldito do chafariz da mesmice da praça. Hoje é dia de festa e as luzes se acendem para novas auroras boreais. Botas roxas a postos. O dia inteiro a postos. Coração de Lália pulsando na poeira. Tudo certo, menos com aquele relógio roxo imenso que não toca o blém-blém esperado das cinco. As pombas devem ter comido o mecanismo do funcionamento. Lália é a meia-noite repetida de cinco em cinco horas. Como remédio roxo feito de botas de amoreira. elis::sapatos 20
  • 21. chuvosa manhã - os sapatos na calçada sabem seu destino? Maria Miranda de Paula elis::sapatos 21
  • 22. créditos Ani Almeida é comunicóloga e poetisa com pretensões de escritora. É também a idealizadora e editora da Revista Elis. anialmeida@gmail.com Tammy Almeida é arquiteta e sonhadora tammyalmeida@gmail.com ::participação especial:: Bruna Moury tem 21 anos e atualmente cursa Artes Plásticas (Visuais) na Aeso em Recife. Tem experiência no campo das ilustrações manuais e digitais. Já trabalhou para outra revista como ilustradora e design gráfico. Conta com a bagagem do curso de design de moda já concluído anos atrás. Além do mundo dos desenhos tem a fotografia como hobbie bem empregado. http://celulascinza.blogspot.com.br Grupo Dani Alegria é uma ação social coordenada por Sandra Martins Modesto, que gentilmente nos envio a imagem ao lado: professora da rede pública de ensino. Nasceu em São Paulo, capital. Adora ler e escrever e atualmente lidera o grupo de palhaços que visita escolas, instituições, asilos e ongs. Jovens com faixa etária de 15 a 17 anos se vestem de palhaço levando entretenimento a pessoas que possuem uma realidade bem difícil. Na foto, você tem os pés de Matheus Mendes, Luan Cardoso, Paulo Giordan, Thaís Mariano, Cibelly Karoline, Fernanda Dayane, Ricardo Rocha e Igor Medeiros. sandramartinsc@uol.com.br elis::sapatos 22
  • 23. créditos autores desta edição Australiana é Sonia Regina Rocha Rodrigues Marina de los Pasos é Guilherme C. Antunes | @guglicardoso Médica de profissão e escritora por vocação. Ativista cultural por muitos anos, Sommelier de groselha, alvissareiro, poeta e farsante. Sinestésico e musical. editou em Santos, junto com três outras escritoras santistas, o jornal literário Buscador, contraditório, intenso. Vasto... Escreve n'A Ilha de um homem só. Um dedo de prosa e a revista cultural Chapéu-de-sol, que circularam entre 1996 http://arkhipelago.blogspot.com e 2001. http://alegriadeler.blogspot.com.br/ Munique Duarte é Munique Duarte Alvim | @muniquealvim Bella Dona é Joakim Antonio Nasceu e vive em Santos Dumont-MG. É jornalista responsável pelas publicações Um paulistano apaixonado por comunicação. Nascido na selva de pedra, mas com de quatro sindicatos de Juiz de Fora-MG. um pé no sertão nordestino, de origens indígenas. Herdou a bagagem da cultura Bloga em http://textosimperdoaveis.blogspot.com. Participa da obra Escritos e tradição oral, tornando-se contador de histórias. Em 2009, começou a escrever de Amor, lançada pela Casa do Novo Autor Editora, e Poesia e Prosa no Rio de poesias e, desde então, nunca mais passou um dia sequer sem escrever. Janeiro, pela Taba Cultural. Já colaborou n'O BULE, Sobrecapa Literal, Escrita http://descortinamental.blogspot.com.br Criativa (Portugal), Revista Diversos Afins, Jornal Opção, Jornal Relevo, Revista Elis, Revista Pâncreas e Revista O Viés. Admiradora de Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles e Ferreira Gullar. Betina Menini é Rosa Queli Cambraia Soares http://textosimperdoaveis.blogspot.com Estudei Letras na PUC-POA. Adoro literatura, sou viciada em livros e me dedico a escrever contos e poesias sempre que sobra um tempinho. Gosto principalmente de textos bem-humorados, que divirtam e encantam. Regina de Lourdes é Eduardo Ferreira Moura Carioca, 23 anos, teve seu primeiro romance publicado em 2011, Esposa Perfeita, Hacha é Ingrid Machado | @laahacha pela Editora Multifoco. Em 2012, pela mesma editora, veio o Meus Textículos, seu Tem 22 anos, leonina, graduanda do curso de artes cênicas pela UFPE, é de Recife livro de contos. Atualmente escreve para a Revista IN, para o site Obvious, para e o lugar mais longe que já esteve foi Brasília. Trabalha com teatro, produção o blog Letras et Cetera e para o Dona Zica tá Braba. Mantém também um blog cultural, maquiagem social/artística e escreve desde dos onze anos. pessoal, primeira moradia de seus textos, em: www.lifeonmarx.blogspot.com www.lifeonmarx.blogspot.com Magnólia Reis é Ani Almeida | @lunaticapoesia Relações Públicas? Gestora Cultural? Escritora? Tem muitas dúvidas, mas agora tem cabelos curtos. Não tem barba nem bigode. Tem vontade de ver palavras Virginia Z. é Rafael Zen voando por aí. Edita a Revista Elis e às escreve quando dá na telha na Lunatiquia. Escritor, artista plástico e publicitário. Já publicou dois livros coletivos em www.lunaticapoesia.blogspot.com parceria com a Editora SESC: Só mais uma coisa (2008) e De Veritate (2009). Em 2012 lança seu primeiro livro solo, intitulado "A questão da Andorinha", vencedor Maria Miranda de Paula é Paulo Juner do Edital do Fundo de Cultura da Prefeitura de Brusque/SC, edição 2012. Também Oficineiro do escritor Charles Kiefer em 2005 e 2006, em Porto Alegre, RS. é coautor do concurso Poesia Urbana, que em 2012 lançou sua segunda edição. Na Participante, com 3 contos, da antologia "Inventário das Delicadezas" lançada área das artes plásticas possui linha de pesquisa centrada na palavra e participa em 2007 pela editora Nova Prova, em idem, idem. Vivente, no mais. do Grupo G13 Arte Contemporânea, iniciativa privada de produção e incentivo às http://inventariodasdelicadezas.wordpress.com artes. Reside em Brusque, Santa Catarina, e tem 24 anos. elis::sapatos 23
  • 24. créditos imagens ::capa e índice::composição com as ilustrações "Conversa Central" e "Ensolarou as pernas" Bruna Moury::ilustração ::07::sem título autoria desconhecida::ilustração ::09::Fada 2 (2008) Fairy 2 Gepeto-Pinóquio::fotografia de escultura http://madeiraviva.blogspot.com.br/2008/10/fada-2-2008-fairy-2.html ::12::isem título Tammy Almeida::ilustração sobre foto de autoria desconhecida ::13::sem título Tammy Almieda::ilustração ::14::sem título Tammy Almeida::ilustração ::16::sem título autoria desconehcida::foto ::18::sem título Tammy Almeida::ilustração ::21::sem título autoria desconhecida::foto ::22::sem título Sandra Martins Modesto::foto elis::sapatos 24