O documento discute a prevenção de doenças bucais em idosos, enfatizando a importância da higiene bucal regular através da escovação correta dos dentes e uso de fio dental ou escova interdental, além do uso de enxaguatórios bucais e pastas dentais. A escovação deve remover placa bacteriana com cuidado, e cuidadores podem ajudar idosos dependentes. O dentista deve prescrever produtos e técnicas adequadas para cada idoso.
1. Idosos: prevenção na saúde bucal
Uma doença que ocorre com frequência com idosos é a doença periodontal. Ela acomete os
tecidos em torno dos dentes e quase sempre é indolor. E devido a isto, quando percebe-se que tem a
doença periodontal, já ocorreu uma boa perda óssea nos dentes afetados. Ela tem como agente
causador a placa bacteriana que se acumula sobre as superfícies do esmalte dentário e no sulco
gengival (fica na margem gengival entre a parte branca do dente e o tecido gengival) e isto vai formar
o tártaro com o passar dos meses.
A prevenção da doença periodontal, assim como a cárie dentária, é conseguida através da
remoção eficiente da placa bacteriana a cada refeição. Para prevenir estas doenças é fundamental uma
higiene bucal bem executada, através do uso de dispositivos como escova, fio dental, escova
interdental, pastas dentais fluoretadas, soluções para bochecho com flúor (enxaguatórios bucais ) e
limpadores de língua.
Em relação ao tipo de escova, esta deve ser individualizada, mas recomenda-se escova de
textura macia, com "cerdas planas" (parte ativa sem curvatura). Em relação ao tipo de cabo da escova,
recomenda-se o do tipo reto. A frequência da escovação deve ser imediatamente ou até 30 minutos
após a ingestão de alimentos.
A escovação requer o emprego de técnicas adequadas, e no caso dos idosos que possuem boa
coordenação motora, a seguinte técnica é uma das mais recomendadas:
a) Começar limpando as superfícies internas dos dentes inferiores (que ficam embaixo no fundo da
boca do lado e na frente da língua), sendo que a escovação deve ser realizada segurando a escova
verticalmente em um ângulo de 45 graus em direção a linha gengival e usar movimentos rítmicos
suaves para cima e para baixo com a ponta da cabeça da escova;
b) Depois limpar as superfícies externas dos dentes inferiores, que ficam localizadas embaixo ao lado
das bochechas e atrás do lábio inferior da boca. Usar movimentos rítmicos suaves e curtos, movendo a
escova para trás e para frente contra os dentes e a gengiva;
b) Após isto, limpar as superfícies internas dos dentes superiores, que ficam em cima no fundo da boca
e nas superfícies internas dos dentes da frente e depois as superfícies externas dos dentes superiores,
que ficam no fundo da boca ao lado das bochechas e atrás do lábio superior da boca. Durante toda a
escovação nunca se esquecer da margem gengival e os dentes posteriores, que são os mais difíceis de
alcançar e para as áreas situadas ao redor de restaurações e coroas;
c) Depois de limpar todas as superfícies internas e externas dos dentes, deve-se limpar as superfícies
de mastigação tanto em cima como em baixo das arcadas dentárias, concentrando-se na limpeza de
cada setor da boca.
Nas regiões entre os dentes é importante também a utilização do fio dental ou da escova
interdental, pois removem a placa bacteriana e alimentos que ficam nestas regiões e abaixo das
gengivas. Para idosos que tem boa coordenação motora, deve-se utilizar o fio dental da seguinte
forma: Enrolar aproximadamente 50 cm de fio dental nos dedos médios, segurando-o com o polegar e
o indicador. Passar o fio dental esticado entre os dentes, nos sentidos horizontal e vertical
alternadamente. Penetrar um pouco o fio na gengiva e deslizar em movimentos suaves. O fio dental
deve ser utilizado após as refeições, depois de escovar os dentes. Além disto, existem no mercado
suportes em forma de Y que facilitam o uso do fio dental. E em áreas da boca inacessíveis, como nos
espaços que se localizam entre coroas fixas, deve-se utilizar do passador de fio dental, assim como da
escova interdental. Mas é importante ressaltar que no caso específico dos idosos, a escova interdental
é muito eficiente e mais fácil de usar do que o fio dental e, portanto, é mais recomendada. Mas o tipo
de escova interdental (por exemplo o tamanho), deve ser individualizado, sendo que o dentista é quem
irá escolher a escova que melhor se adapte ao idoso para que depois ele possa comprá-la em uma
farmácia ou supermercado.
Deve-se escovar também a língua, pois é um local onde muitas bactérias ficam alojadas e
costumam ficar restos de alimentos, e que proporcionará um hálito agradável. Neste caso, o uso de
limpador de plástico de língua, uma vez por dia, é extremamente importante para os idosos em geral.
2. E quanto mais os idosos forem dependentes de pessoas cuidadoras para a realização da higienização,
mais importante é o uso do limpador de plástico. Deve-se utilizá-lo da seguinte forma:
a) Deve-se colocar a língua para fora;
b) Limpar suavemente da parte posterior da língua até a parte anterior (ponta da língua);
c) Deve-se limpar de uma lateral, e seguindo com a limpeza do corpo da língua e chegar até a lateral
oposta.
Para idosos incapacitados, isto é, que não possuem boa coordenação motora, os cuidadores
deverão realizar a higienizaçao destes, através da escovação com movimentos circulares em todas as
faces (os lados) dos dentes.
Como complementares na escovação temos as pastas dentais. Podemos citar as seguintes
pastas dentais: a) ANTICÁRIE (tem flúor em sua composição e em longo prazo previne contra as
cáries);
b) ANTITÁRTARO com pirofosfato (substância que impede a formação de tártaro, mas não remove o
tártaro que já existe);
c) ANTIPLACA com triclosan (um antimicrobiano, e é indicada especialmente para pessoas com
gengivite). No caso dos idosos, o uso da pasta dental anticárie é muito importante, mas deve-se
sempre seguir a orientação do dentista para saber qual é recomendada.
Como complementares na escovação temos também os enxaguatórios bucais. Eles são
substâncias químicas que atuam nas bactérias presentes na cavidade bucal, sendo utilizados para
controle e na redução da formação da placa bacteriana. Os idosos só devem utilizá-los de acordo com
a prescrição feita pelo dentista, e que deve orientar quanto à forma e tempo de uso no seu caso em
particular.
Para a grande maioria dos idosos dentados os bochechos à base de flúor são os mais indicados,
e cada empresa possui um tipo de produto com uma determinada concentração (na maioria com mais
de 200 PPM de flúor). Os idosos dentados devem, após uma higienização correta dos dentes, utilizá-
los uma vez por dia, antes de dormir. E desta forma, já será o suficiente para proteger as raízes
expostas dos dentes.
Os enxaguatórios realizam uma função importante para idosos com problemas motores, no
caso daqueles com Mal de Parkinson e doença de Alzheimer, e então não conseguem fazer uma
escovação adequada, sendo aí usados aqueles à base de Gluconato de Clorhexidina após cada limpeza
dos dentes. Nos ambientes hospitalares (UTIs), é imprescindível que um parente (ou cuidador) leve
para a enfermagem este tipo de medicamento, pois normalmente não estão disponíveis nestas
entidades.
Vale lembrar que o uso contínuo dos enxaguatórios é contra-indicado para idosos que não
sejam capazes de utilizar o medicamento sem acompanhamento (cuidador), pois existe o perigo de
deglutição.
Mas é importante enfatizar que o uso dos enxaguatórios bucais deve ser racional, ou seja,
indicado somente nos casos recomendados pelo dentista.
========================================================================
Marco Tulio Pettinato Pereira
Cirurgião-dentista com especialização em Saúde da família (UCAM), Saúde Coletiva (SL
Mandic) e Saúde Pública (UNAERP)
Fernando Luiz Brunetti Montenegro
Mestre e Doutor FOUSP, Prof. Adjunto na UnG, Coordenador Saúde Bucal CEDPES e Casa Ondina
Lobo