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22 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
De tempos em tempos,
a imprensa traz notícias
alarmantes sobre
a possibilidade da queda
de corpos celestes de grandes
dimensões sobre a Terra.
É comum que se dê destaque
às conseqüências catastróficas
que o impacto causaria:
destruição de cidades,
formação de maremotos,
morte de milhões de pessoas
ou até o fim da humanidade.
No último mês de julho,
o foco da atenção foi o 2002
NT7, asteróide com cerca
de 2 km de largura.
Como separar
o sensacionalismo
e a realidade
em um assunto como esse?
Daniela Lazzaro
Coordenadoria
de Astronomia e Astrofísica,
Observatório Nacional
Nos dias que antecederam 11 de agosto de 1999, centenas de pessoas
Fimdo
22 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187
perguntaram a mim e a outros astrônomos brasilei-
ros se aquela data representaria, de fato, o fim da
Terra e, conseqüentemente, da humanidade. Seria o
‘Dia do Apocalipse’, segundo as profecias do médico
e astrólogo provençal Nostradamus (1503-1566),
resumidas em sua obra Centúrias astrológicas, de
1555 (?).
Mas o que iria ocorrer naquele dia? Para nós,
astrônomos, apenas mais um eclipse total do Sol.
Esse fenômeno podia de fato assustar nossos ante-
passados, mas hoje se sabe que, assim como a Terra
gira em torno do Sol, a Lua também gira em torno da
Terra. De tempos em tempos, esse satélite natural
fica exatamente na linha de visada entre o Sol e a
Terra, e a isso chamamos eclipse. Nada de miste-
rioso ou perigoso.
Eclipses acontecem todos os anos. Poderíamos
comparar esse fenômeno com a vida de um morador
de um prédio. Ele poderá passar meses sem ver o
seu vizinho, mas, um dia, os dois acabam se encon-
trando no elevador. No entanto, é muito mais fácil
prever um ‘encontro’ entre dois corpos que têm um
movimento que se repete periodicamente, como é o
caso da Terra e da Lua. Isso pode, até mesmo, ser
calculado, usando-se os conceitos de probabilidade.
Portanto, um eclipse não deveria assustar. E, em
geral, não assusta ninguém... a não ser que esse
alinhamento de corpos celestes esteja associado a
alguma ‘profecia’ – geralmente, escrita de forma
bastante obscura – sobre o fim do mundo.
Nota acima de zero
Não nos cabe aqui discutir profecias. Entretanto, é
nossa obrigação vir a público esclarecer que, até este
momento, não há indício algum de que planetas,
asteróides ou cometas possam cair sobre a Terra nos
próximos 80 anos. Isso mesmo: 80 anos, pelo menos.
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
DONDAVIS(NASA)
outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 23
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
mundo?
Simulação
de impacto
com a Terra
de um asteróide
gigantesco.
Há 65 milhões
de anos, choque
semelhante foi
responsável pela
extinção dos
dinossauros
outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 23
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
24 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
Até este momento, nenhum objeto conhecido
tem nota acima de zero. Portanto, do ponto de vista
puramente astronômico, a probabilidade de que o
fim do mundo ocorra nos próximos anos pode ser
considerada nula. E, se o mundo acabar em alguma
data desconhecida nas próximas oito décadas, não
terá sido por causa da queda de um asteróide ou
cometa.
‘Estrelas cadentes’
Infelizmente para a humanidade, a ameaça da co-
lisão com a Terra de um corpo de dimensões gi-
gantescas é real. E as conseqüências de um evento
desse tipo podem ser tão apocalípticas quanto as
piores previsões que podemos imaginar. Também
precisa ser dito que é muito pequena a probabili-
dade de que ocorra a destruição da Terra a partir da
queda de um asteróide.
Todos os dias, a Terra é bombardeada por deze-
nas ou até centenas de pequenos corpos vindos do
espaço interplanetário. Entretanto, devido ao pe-
queno tamanho deles – alguns centímetros, no má-
ximo –, esses pequenos objetos são totalmente de-
sintegrados em sua passagem pela atmosfera.
Muitos dos leitores provavelmente já viram uma
‘estrela cadente’. Na realidade, esses rastros lumino-
sos que cruzam o céu noturno nada têm a ver com as
estrelas. Eles são o que, em termos técnicos, chama-
mos micrometeoritos, ou seja, pequenos corpos cujo
tamanho varia de um grão de areia a uma pedrinha.
É bem verdade, porém, que deve haver muitos
objetos que ainda nem foram descobertos e cujas
órbitas são capazes de fazê-los colidir com a Terra.
Mas também é verdade que, entre os objetos que os
astrônomos descobrem quase todos os dias, a gran-
de maioria é constituída por pequenos corpos que,
mesmo caindo na Terra, não oferecem perigo real
algum – a menos que um deles caia sobre a cabeça
de alguma pessoa, o que é muito, muito improvável.
Vale salientar que, no início de junho de 1999, foi
realizada uma reunião científica exatamente sobre
o problema da descoberta, do monitoramento e da
divulgação de corpos que possam oferecer algum
perigo à Terra e, conseqüentemente, à humani-
dade. Os participantes dessa reunião – e, posterior-
mente, a própria União Astronômica Internacional
– aprovaram uma nova escala de ‘periculosidade’
de asteróides e cometas cujas órbitas estão próximas
à Terra.
Essa escala, chamada ‘escala de Torino’, em ho-
menagem à cidade italiana onde se realizou a reu-
nião, atribui notas de zero a 10 a cada um desses
objetos celestes. Essa ‘nota’ é baseada na probabili-
dade de queda desse corpo e no seu tamanho – ou
melhor, na energia que seria liberada por seu impac-
to. Posteriormente, essa escala foi ligeiramente
modificada em outra reunião similar – agora, reali-
zada em Palermo, em junho do ano passado – para
ser usada pela comunidade científica. Ela ganhou o
nome ‘escala técnica de Palermo’, sendo que a de
Torino continua a ser adotada apenas para comuni-
cação com a mídia.
A tabela
relaciona o
tamanho dos
asteróides com
as respectivas
freqüências
de impacto e as
conseqüências
do choque,
citando exemplos
reais de queda
ADAPTAÇÃODODOCUMENTO‘SPACEGUARDSURVEYREPORT’,NASA(1992)
Os números do ‘Apocalipse’
Tamanho Freqüência Conseqüências Exemplos reais
do asteróide de impacto
Menor que 10 m 20 impactos por ano Desintegração na ‘Estrelas cadentes’
atmosfera terrestre
Entre 10 e 100 m Um impacto Destruição de uma Em 1908, na Sibéria,
entre 10 e 1.000 anos cidade e formação a queda de um corpo rochoso,
de maremotos de alguns metros de diâmetro,
causou a destruição de 1.000 km2
de floresta
Entre 100 m e 1 km Um impacto entre Morte de 5 Cerca de 50 mil anos atrás,
5 mil e 300 mil anos a 100 milhões no Arizona (Estados Unidos),
de pessoas um corpo ferroso, com cerca de 50 m
de largura, criou uma cratera
com cerca de 2 km de diâmetro,
a conhecida Cratera do Meteoro
Maior que 5 km Um impacto entre Inverno nuclear Cerca de 65 milhões de anos atrás,
10 milhões e desaparecimento na península de Chiexulub (México),
e 30 milhões de anos da humanidade um corpo, com cerca de 20 km de largura,
causou a extinção dos dinossauros
outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 25
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
bastante conhecido é o de um pequeno meteorito
que atingiu um carro estacionado nos Estados Uni-
dos, provocando um pequeno estrago.
Finalmente, há os grandes corpos, com alguns
quilômetros de diâmetro (ver ‘De onde vêm os as-
teróides e os cometas?’). Caindo na Terra, eles po-
dem causar estragos globais – e até mesmo a extin-
ção completa da raça humana.
É importante salientar que, por maior que seja o
corpo que cai, a destruição global não se dá pelo
choque propriamente dito, ou seja, não teríamos
toda a humanidade esmagada por uma pedra – de-
pendendo do local do impacto, o número de pes-
soas mortas imediatamente após um choque des-
ses chegaria à casa dos milhões.
No entanto, a bola de fogo provocada pela pas-
sagem na atmosfera de um corpo gigantesco iria
gerarincêndiosdedimensõescontinentais,enquanto
a onda de choque causada pelo impacto faria surgir
intensos terremotos, maremotos e erupções de vul-
cões. Mas, depois que a ‘paz’ voltasse a reinar, aí sim
o pior iria acontecer.
No instante do choque, toneladas de poeira se-
riam levantadas na atmosfera, escurecendo o dia e
criando uma noite contínua na Terra. A poeira
formaria uma camada densa que impediria que os
raios do Sol atingissem a superfície do planeta,
dando origem ao chamado inverno nuclear.
Acredita-se que todo o sistema solar tenha
se formado a partir de uma nuvem de gás e
poeira que teria colapsado por ação de sua
própria gravidade, formando, na região cen-
tral, um objeto estelar (que se tornaria o Sol)
e um disco de gás e poeira do qual todo o
sistemaplanetárioseoriginou.Nessedisco,a
poeira foi se agregando em corpos maiores
(planetesimais) que, por sua vez, foram for-
mando os planetas.
Alguns desses objetos, em regiões bem
distintas, não chegaram a se aglutinar e per-
manecem até hoje como corpos relativamen-
te pequenos. Situada entre Marte e Júpiter, a
primeiradessasregiõeséochamadocinturão
de asteróides.
Os cometas, por sua vez, situam-se em
dois reservatórios: o cinturão de Kuiper
(localizado entre 6 bilhões e 100 bilhões
de quilômetros do Sol) e a nuvem de Oort
(além do sistema planetário, cerca de 15
trilhões de quilômetros depois da órbita de
Plutão). De tempos em tempos, alguns des-
ses corpos se deslocam para as regiões in-
teriores do sistema solar
e, pela presen-
ça de gelo em
sua constitui-
ção, transfor-
mam-se em objetos
dotados de envoltórios
gasosos (comas) e caudas.
De onde vêm os asteróides e os cometas?
Asteróide Ida
e seu satélite,
Dactyl
(à direita),
que estão
no cinturão
de asteróides,
localizado entre
Marte e Júpiter.
O Ida tem cerca
de 56 km
de diâmetro
e permanece
a cerca de 390
milhões de km
da Terra
SONDAGALILEU(NASA)–28/08/93
Ao entrarem na atmosfera terrestre, os microme-
teoritos, dotados de grandes velocidades, tornam-se
incandescentes devido ao atrito com as camadas
superiores, criando os rastros luminosos que cha-
mamos ‘estrelas cadentes’.
Conseqüências terríveis
Mas há corpos maiores que não são destruídos to-
talmente em sua passagem pela atmosfera e, assim,
conseguem atingir a superfície terrestre, formando
crateras e podendo deixar algum resíduo. São os
chamados meteoritos, e sua freqüência de queda é
bem menor que a dos micrometeoritos, sendo da
ordem de uma a duas quedas por ano, no máximo.
As conseqüências desses impactos são peque-
nas e, mais importante, os estragos são apenas lo-
cais. Obviamente, tanto menor é o estrago quanto
mais deserto é o local do impacto. Um meteorito de
alguns metros que cair no centro da cidade de São
Paulo, por exemplo, vai causar um número muito
maior de mortes diretas e indiretas que aquele que
atingir o sertão nordestino ou o mar. Até hoje, po-
rém, não se registrou nenhuma colisão desse tipo
em áreas habitadas. Um caso bastante famoso é o de
Tunguska, região desértica na Sibéria em que caiu
um objeto de alguns metros. Outro caso que ficou
26 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
assim espero! Mas, se os astrônomos descobrirem
com apenas dois ou três dias de antecedência –
como geralmente mostram os filmes –, então nada
poderá ser feito.
Em março de 1998, foi anunciada – e depois
desmentida, felizmente – a queda de um grande
asteróide em 2023. Com dimensões de centenas de
quilômetros, esse corpo, batizado 1997XR2, mos-
trava-se potencialmente perigoso para a Terra.
Os astrônomos receberam a notícia com natu-
ralidade. Não que ela não fosse assustadora. Sim-
plesmente, era esperada, sendo conseqüência natu-
ral do ambiente no qual se encontra a Terra. O que
também deu tranqüilidade – e um certo sentimento
de orgulho para nós, astrônomos – foi a antece-
dência com que o evento foi previsto. Em 20 anos,
certamente, surgiriam várias soluções para o pro-
blema. E a humanidade seria salva.
O orgulho vem exatamente da capacidade de se
prever uma possível catástrofe tanto tempo antes.
É verdade que, no caso desse asteróide, cálculos
mais precisos – resultantes de mais observações –
mostraram, como já dissemos, que a possibilidade
de colisão com a Terra estava descartada. Mas o
alarme foi dado.
De fato, a divulgação da notícia tinha o intuito de
sensibilizar astrônomos e diretores dos grandes ob-
servatórios para que fossem obtidos mais dados so-
bre esse objeto e, com isso, fossem aprimorados os
cálculos da trajetória. Muitos criticaram a pressa em
se divulgar algo tão assustador sem se saber, com
certeza, o que iria acontecer. Em defesa dos que di-
O asteróide 2002 NT7 foi descoberto pelo
projeto Linear (Estados Unidos) em 5 de ju-
lho de 2002. A partir do dia 18 daquele mês,
apareceunaspáginasdainternetdoNEODyS,
da Universidade de Pisa (Itália), e do Labora-
tório de Propulsão a Jato (Estados Unidos)
com probabilidade um na escala de Torino.
Desde a criação dessa escala, esse foi o
primeiro objeto a ter probabilidade de im-
pacto acima de zero. O 2002 NT7 tem um
diâmetro estimado entre 1,7 km e 3,7 km e,
ao longo de 835 dias, percorre uma trajetó-
ria altamente alongada e inclinada em rela-
ção à órbita da Terra.
Essa trajetória o leva a cruzar a órbita do
planeta Marte e a passar muito perto da órbi-
ta terrestre. Devido às características de sua
trajetória, o impacto com a Terra – se ocorres-
se – aconteceria com a fantástica velocidade
de 28 mil metros por segundo (cerca de 100
mil quilômetros por hora). O choque seria
equivalente à explosão simultânea de mui-
tas bombas atômicas, o que significaria uma
catástrofe de dimensões continentais.
RadiogrRadiogrRadiogrRadiogrRadiografia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7
As conseqüências desse cenário seriam terríveis.
Primeiramente, as plantas morreriam; em seguida,
os animais que se alimentam das plantas; depois, os
animais que se nutrem dos animais que comem as
plantas... E aí toda a raça humana.
Foi assim que, depois do choque de um corpo
com 20 km de diâmetro ocorrido cerca de 65 mi-
lhões de anos atrás, morreram todos os dinossau-
ros, e apenas sobreviveram os organismos que não
dependiam dos raios solares.
Sobre nossos tetos
Depois de mostrar esse quadro tão aterrorizante,
vale dar olhada na tabela que fornece, entre ou-
tras informações, a freqüência com que esses even-
tos ocorrem e que podemos chamar de ‘números
do Apocalipse’. Como se pode ver, a probabilidade
de um impacto com conseqüências catastróficas
globais é de um choque em cerca de 10 milhões a
30 milhões de anos. Sem dúvida, muito tempo.
Por outro lado, a mesma tabela nos mostra que o
perigo existe. Não é invenção da mídia, para vender
mais ou aumentar a audiência, nem dos astrônomos,
para conseguir mais verbas para suas pesquisas.
Assim, a única forma de salvar a Terra e a raça
humana é se prevenir. Nesse caso, prevenção im-
plica ter a capacidade de prever, com muitos anos
de antecedência, a queda de tal corpo. Tendo en-
tre 20 anos e 30 anos, o homem, com certeza,
encontrará uma solução para evitar a catástrofe –
outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 27
ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
Sugestões
para leitura
FRANKEL, C.
The end of the
dinosaurs,
Cambridge,
Cambridge
University Press,
1999.
CHAPMAN, C. R.
‘The asteroid/comet
impact hazard:
Homo sapiens
as dinosaur?’
in Prediction:
Science, Decision
Making, and the
Future of Nature,
Sarewitz, D.,
Pielke Jr., R. A.
e Byerly, R.,
Washington DC,
Island Press,
pp. 107-134,
2000.
LEWIS, J. S. Comet
and asteroid impact
hazards on
a populated Earth,
Nova York,
Academic Press,
1999.
LEVY, D. H. Comets:
creators and
destroyers, Nova
York, Touchstone-
Simon&Schuster,
1998.
Na internet
http://
neo.jpl.nasa.gov/
risk/ (em inglês)
http://
newton.dm.unipi.it/
cgi-bin/neodys/
neoibo?objects:
2002NT7;main
(em inglês)
http://www.on.br/
revista/index.html
No Observatório Nacional, o Grupo de Plane-
tologia – coordenado pela autora deste arti-
go – pesquisa asteróides e cometas. Com re-
lação aos primeiros, tentamos entender me-
lhoracomposiçãomineralógica,ograudeaque-
cimento, os processos de colisão ocorridos na
região do cinturão de asteróides e as possíveis
trajetórias. Para isso, são realizadas observa-
ções tanto em telescópios no Brasil – Observa-
tório do Pico dos Dias, em Brasópolis (MG) –
quanto no exterior (Chile, França e Argentina).
Nosso grupo acaba de completar o segun-
do maior mapeamento de composições de
asteróides existente no mundo, com mais de
800 objetos estudados, o que vem permitindo
obter resultados significativos para melhor
compreender a formação e a evolução desses
corpos.
A descoberta do asteróide 1459 Magnya,
com composição basáltica (rocha resultante
de um processo de vulcanismo), na parte
mais fria do cinturão de asteróides, foi certa-
mente um dos resultados mais importantes
do grupo até hoje – o artigo foi publicado na
revista científica norte-americana Science
(vol. 288, 2000).
MMMMMapeamento e deapeamento e deapeamento e deapeamento e deapeamento e descoberscoberscoberscoberscobertttttaaaaa
vulgaram a notícia está o fato de que não pode-
mos esperar que um objeto desse tamanho esteja
em cima do nosso teto para gritar que ele vai cair
sobre nossas cabeças.
A nova ‘ameaça’
No último mês de julho, história semelhante chamou
a atenção da mídia mundial. Era outro corpo de
dimensões gigantescas que poderia atingir a Terra.
Com cerca de 2 km de largura, o asteróide 2002NT7
apresentarisco–pequeno,éverdade–decolisãocom
a Terra em 2019 – mais exatamente em 1 de feverei-
ro daquele ano. No momento da divulgação, a pro-
babilidade de impacto na escala de Torino era um.
Com mais observações realizadas ao longo do
mês de julho, os cálculos foram sendo aprimorados,
e a probabilidade de colisão com a Terra diminuiu,
retirando-se o objeto da classificação um e passan-
do-o para zero, ou seja, nenhum risco. Surgiu, é
verdade, outro possível impacto desse asteróide em
fevereiro de 2060, mas os cálculos ainda têm impre-
cisões muito grandes.
Novamente, como ocorreu no caso do asteróide
1997XR2, a mídia primeiramente deu enormes es-
paços para a notícia e, depois, com o novo desmen-
tido, apareceram críticas em relação à ‘pressa’ com
que os astrônomos anunciaram a possível queda.
Esse caso foi longamente discutido no congresso
Asteróides, Cometas e Meteoros, realizado no últi-
mo mês de julho em Berlim (Alemanha). Esse en-
contro reúne, a cada três anos, toda a comunidade
científica internacional que pesquisa esses peque-
nos corpos – por sinal, o próximo, em 2005, vai ser
realizado no Rio de Janeiro, organizado pelo Obser-
vatório Nacional.
Na reunião em Berlim, os pesquisadores decidi-
ram elaborar o que vai ser conhecido como Decla-
ração de Berlim. Nesse documento, os participan-
tes declaram que o risco de impacto de objetos ce-
lestes com a Terra é real e que os governos têm feito
muito pouco no sentido de dar condições aos as-
trônomos de mapear completamente todos os cor-
pos ‘potencialmente perigosos’.
Evitar o inevitável
A cada nova ameaça, a possibilidade de um futuro
impacto se torna mais real. No momento, a única
forma que temos para evitar uma catástrofe para a
humanidade é conhecer todos os nossos ‘vizinhos’.
Daí a importância de se pesquisar detalhadamente
todo o sistema solar, tanto do ponto de vista das
órbitas (passadas e, principalmente, futuras) quan-
to da composição e da evolução dinâmica de seus
objetos (ver ‘Mapeamento e descoberta’).
Vale lembrar que precisamos de muito tempo
para elaborar, criar e testar tecnologias suficiente-
mente precisas para evitar o que seria inevitável se
ocorresse nos dias de hoje: o fim do mundo.

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  • 1. 22 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR De tempos em tempos, a imprensa traz notícias alarmantes sobre a possibilidade da queda de corpos celestes de grandes dimensões sobre a Terra. É comum que se dê destaque às conseqüências catastróficas que o impacto causaria: destruição de cidades, formação de maremotos, morte de milhões de pessoas ou até o fim da humanidade. No último mês de julho, o foco da atenção foi o 2002 NT7, asteróide com cerca de 2 km de largura. Como separar o sensacionalismo e a realidade em um assunto como esse? Daniela Lazzaro Coordenadoria de Astronomia e Astrofísica, Observatório Nacional Nos dias que antecederam 11 de agosto de 1999, centenas de pessoas Fimdo 22 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187 perguntaram a mim e a outros astrônomos brasilei- ros se aquela data representaria, de fato, o fim da Terra e, conseqüentemente, da humanidade. Seria o ‘Dia do Apocalipse’, segundo as profecias do médico e astrólogo provençal Nostradamus (1503-1566), resumidas em sua obra Centúrias astrológicas, de 1555 (?). Mas o que iria ocorrer naquele dia? Para nós, astrônomos, apenas mais um eclipse total do Sol. Esse fenômeno podia de fato assustar nossos ante- passados, mas hoje se sabe que, assim como a Terra gira em torno do Sol, a Lua também gira em torno da Terra. De tempos em tempos, esse satélite natural fica exatamente na linha de visada entre o Sol e a Terra, e a isso chamamos eclipse. Nada de miste- rioso ou perigoso. Eclipses acontecem todos os anos. Poderíamos comparar esse fenômeno com a vida de um morador de um prédio. Ele poderá passar meses sem ver o seu vizinho, mas, um dia, os dois acabam se encon- trando no elevador. No entanto, é muito mais fácil prever um ‘encontro’ entre dois corpos que têm um movimento que se repete periodicamente, como é o caso da Terra e da Lua. Isso pode, até mesmo, ser calculado, usando-se os conceitos de probabilidade. Portanto, um eclipse não deveria assustar. E, em geral, não assusta ninguém... a não ser que esse alinhamento de corpos celestes esteja associado a alguma ‘profecia’ – geralmente, escrita de forma bastante obscura – sobre o fim do mundo. Nota acima de zero Não nos cabe aqui discutir profecias. Entretanto, é nossa obrigação vir a público esclarecer que, até este momento, não há indício algum de que planetas, asteróides ou cometas possam cair sobre a Terra nos próximos 80 anos. Isso mesmo: 80 anos, pelo menos. ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR DONDAVIS(NASA)
  • 2. outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 23 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR mundo? Simulação de impacto com a Terra de um asteróide gigantesco. Há 65 milhões de anos, choque semelhante foi responsável pela extinção dos dinossauros outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 23 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR
  • 3. 24 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR Até este momento, nenhum objeto conhecido tem nota acima de zero. Portanto, do ponto de vista puramente astronômico, a probabilidade de que o fim do mundo ocorra nos próximos anos pode ser considerada nula. E, se o mundo acabar em alguma data desconhecida nas próximas oito décadas, não terá sido por causa da queda de um asteróide ou cometa. ‘Estrelas cadentes’ Infelizmente para a humanidade, a ameaça da co- lisão com a Terra de um corpo de dimensões gi- gantescas é real. E as conseqüências de um evento desse tipo podem ser tão apocalípticas quanto as piores previsões que podemos imaginar. Também precisa ser dito que é muito pequena a probabili- dade de que ocorra a destruição da Terra a partir da queda de um asteróide. Todos os dias, a Terra é bombardeada por deze- nas ou até centenas de pequenos corpos vindos do espaço interplanetário. Entretanto, devido ao pe- queno tamanho deles – alguns centímetros, no má- ximo –, esses pequenos objetos são totalmente de- sintegrados em sua passagem pela atmosfera. Muitos dos leitores provavelmente já viram uma ‘estrela cadente’. Na realidade, esses rastros lumino- sos que cruzam o céu noturno nada têm a ver com as estrelas. Eles são o que, em termos técnicos, chama- mos micrometeoritos, ou seja, pequenos corpos cujo tamanho varia de um grão de areia a uma pedrinha. É bem verdade, porém, que deve haver muitos objetos que ainda nem foram descobertos e cujas órbitas são capazes de fazê-los colidir com a Terra. Mas também é verdade que, entre os objetos que os astrônomos descobrem quase todos os dias, a gran- de maioria é constituída por pequenos corpos que, mesmo caindo na Terra, não oferecem perigo real algum – a menos que um deles caia sobre a cabeça de alguma pessoa, o que é muito, muito improvável. Vale salientar que, no início de junho de 1999, foi realizada uma reunião científica exatamente sobre o problema da descoberta, do monitoramento e da divulgação de corpos que possam oferecer algum perigo à Terra e, conseqüentemente, à humani- dade. Os participantes dessa reunião – e, posterior- mente, a própria União Astronômica Internacional – aprovaram uma nova escala de ‘periculosidade’ de asteróides e cometas cujas órbitas estão próximas à Terra. Essa escala, chamada ‘escala de Torino’, em ho- menagem à cidade italiana onde se realizou a reu- nião, atribui notas de zero a 10 a cada um desses objetos celestes. Essa ‘nota’ é baseada na probabili- dade de queda desse corpo e no seu tamanho – ou melhor, na energia que seria liberada por seu impac- to. Posteriormente, essa escala foi ligeiramente modificada em outra reunião similar – agora, reali- zada em Palermo, em junho do ano passado – para ser usada pela comunidade científica. Ela ganhou o nome ‘escala técnica de Palermo’, sendo que a de Torino continua a ser adotada apenas para comuni- cação com a mídia. A tabela relaciona o tamanho dos asteróides com as respectivas freqüências de impacto e as conseqüências do choque, citando exemplos reais de queda ADAPTAÇÃODODOCUMENTO‘SPACEGUARDSURVEYREPORT’,NASA(1992) Os números do ‘Apocalipse’ Tamanho Freqüência Conseqüências Exemplos reais do asteróide de impacto Menor que 10 m 20 impactos por ano Desintegração na ‘Estrelas cadentes’ atmosfera terrestre Entre 10 e 100 m Um impacto Destruição de uma Em 1908, na Sibéria, entre 10 e 1.000 anos cidade e formação a queda de um corpo rochoso, de maremotos de alguns metros de diâmetro, causou a destruição de 1.000 km2 de floresta Entre 100 m e 1 km Um impacto entre Morte de 5 Cerca de 50 mil anos atrás, 5 mil e 300 mil anos a 100 milhões no Arizona (Estados Unidos), de pessoas um corpo ferroso, com cerca de 50 m de largura, criou uma cratera com cerca de 2 km de diâmetro, a conhecida Cratera do Meteoro Maior que 5 km Um impacto entre Inverno nuclear Cerca de 65 milhões de anos atrás, 10 milhões e desaparecimento na península de Chiexulub (México), e 30 milhões de anos da humanidade um corpo, com cerca de 20 km de largura, causou a extinção dos dinossauros
  • 4. outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 25 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR bastante conhecido é o de um pequeno meteorito que atingiu um carro estacionado nos Estados Uni- dos, provocando um pequeno estrago. Finalmente, há os grandes corpos, com alguns quilômetros de diâmetro (ver ‘De onde vêm os as- teróides e os cometas?’). Caindo na Terra, eles po- dem causar estragos globais – e até mesmo a extin- ção completa da raça humana. É importante salientar que, por maior que seja o corpo que cai, a destruição global não se dá pelo choque propriamente dito, ou seja, não teríamos toda a humanidade esmagada por uma pedra – de- pendendo do local do impacto, o número de pes- soas mortas imediatamente após um choque des- ses chegaria à casa dos milhões. No entanto, a bola de fogo provocada pela pas- sagem na atmosfera de um corpo gigantesco iria gerarincêndiosdedimensõescontinentais,enquanto a onda de choque causada pelo impacto faria surgir intensos terremotos, maremotos e erupções de vul- cões. Mas, depois que a ‘paz’ voltasse a reinar, aí sim o pior iria acontecer. No instante do choque, toneladas de poeira se- riam levantadas na atmosfera, escurecendo o dia e criando uma noite contínua na Terra. A poeira formaria uma camada densa que impediria que os raios do Sol atingissem a superfície do planeta, dando origem ao chamado inverno nuclear. Acredita-se que todo o sistema solar tenha se formado a partir de uma nuvem de gás e poeira que teria colapsado por ação de sua própria gravidade, formando, na região cen- tral, um objeto estelar (que se tornaria o Sol) e um disco de gás e poeira do qual todo o sistemaplanetárioseoriginou.Nessedisco,a poeira foi se agregando em corpos maiores (planetesimais) que, por sua vez, foram for- mando os planetas. Alguns desses objetos, em regiões bem distintas, não chegaram a se aglutinar e per- manecem até hoje como corpos relativamen- te pequenos. Situada entre Marte e Júpiter, a primeiradessasregiõeséochamadocinturão de asteróides. Os cometas, por sua vez, situam-se em dois reservatórios: o cinturão de Kuiper (localizado entre 6 bilhões e 100 bilhões de quilômetros do Sol) e a nuvem de Oort (além do sistema planetário, cerca de 15 trilhões de quilômetros depois da órbita de Plutão). De tempos em tempos, alguns des- ses corpos se deslocam para as regiões in- teriores do sistema solar e, pela presen- ça de gelo em sua constitui- ção, transfor- mam-se em objetos dotados de envoltórios gasosos (comas) e caudas. De onde vêm os asteróides e os cometas? Asteróide Ida e seu satélite, Dactyl (à direita), que estão no cinturão de asteróides, localizado entre Marte e Júpiter. O Ida tem cerca de 56 km de diâmetro e permanece a cerca de 390 milhões de km da Terra SONDAGALILEU(NASA)–28/08/93 Ao entrarem na atmosfera terrestre, os microme- teoritos, dotados de grandes velocidades, tornam-se incandescentes devido ao atrito com as camadas superiores, criando os rastros luminosos que cha- mamos ‘estrelas cadentes’. Conseqüências terríveis Mas há corpos maiores que não são destruídos to- talmente em sua passagem pela atmosfera e, assim, conseguem atingir a superfície terrestre, formando crateras e podendo deixar algum resíduo. São os chamados meteoritos, e sua freqüência de queda é bem menor que a dos micrometeoritos, sendo da ordem de uma a duas quedas por ano, no máximo. As conseqüências desses impactos são peque- nas e, mais importante, os estragos são apenas lo- cais. Obviamente, tanto menor é o estrago quanto mais deserto é o local do impacto. Um meteorito de alguns metros que cair no centro da cidade de São Paulo, por exemplo, vai causar um número muito maior de mortes diretas e indiretas que aquele que atingir o sertão nordestino ou o mar. Até hoje, po- rém, não se registrou nenhuma colisão desse tipo em áreas habitadas. Um caso bastante famoso é o de Tunguska, região desértica na Sibéria em que caiu um objeto de alguns metros. Outro caso que ficou
  • 5. 26 • CIÊNCIA HOJE • vol. 32 • nº 187 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR assim espero! Mas, se os astrônomos descobrirem com apenas dois ou três dias de antecedência – como geralmente mostram os filmes –, então nada poderá ser feito. Em março de 1998, foi anunciada – e depois desmentida, felizmente – a queda de um grande asteróide em 2023. Com dimensões de centenas de quilômetros, esse corpo, batizado 1997XR2, mos- trava-se potencialmente perigoso para a Terra. Os astrônomos receberam a notícia com natu- ralidade. Não que ela não fosse assustadora. Sim- plesmente, era esperada, sendo conseqüência natu- ral do ambiente no qual se encontra a Terra. O que também deu tranqüilidade – e um certo sentimento de orgulho para nós, astrônomos – foi a antece- dência com que o evento foi previsto. Em 20 anos, certamente, surgiriam várias soluções para o pro- blema. E a humanidade seria salva. O orgulho vem exatamente da capacidade de se prever uma possível catástrofe tanto tempo antes. É verdade que, no caso desse asteróide, cálculos mais precisos – resultantes de mais observações – mostraram, como já dissemos, que a possibilidade de colisão com a Terra estava descartada. Mas o alarme foi dado. De fato, a divulgação da notícia tinha o intuito de sensibilizar astrônomos e diretores dos grandes ob- servatórios para que fossem obtidos mais dados so- bre esse objeto e, com isso, fossem aprimorados os cálculos da trajetória. Muitos criticaram a pressa em se divulgar algo tão assustador sem se saber, com certeza, o que iria acontecer. Em defesa dos que di- O asteróide 2002 NT7 foi descoberto pelo projeto Linear (Estados Unidos) em 5 de ju- lho de 2002. A partir do dia 18 daquele mês, apareceunaspáginasdainternetdoNEODyS, da Universidade de Pisa (Itália), e do Labora- tório de Propulsão a Jato (Estados Unidos) com probabilidade um na escala de Torino. Desde a criação dessa escala, esse foi o primeiro objeto a ter probabilidade de im- pacto acima de zero. O 2002 NT7 tem um diâmetro estimado entre 1,7 km e 3,7 km e, ao longo de 835 dias, percorre uma trajetó- ria altamente alongada e inclinada em rela- ção à órbita da Terra. Essa trajetória o leva a cruzar a órbita do planeta Marte e a passar muito perto da órbi- ta terrestre. Devido às características de sua trajetória, o impacto com a Terra – se ocorres- se – aconteceria com a fantástica velocidade de 28 mil metros por segundo (cerca de 100 mil quilômetros por hora). O choque seria equivalente à explosão simultânea de mui- tas bombas atômicas, o que significaria uma catástrofe de dimensões continentais. RadiogrRadiogrRadiogrRadiogrRadiografia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7afia do 2002NT7 As conseqüências desse cenário seriam terríveis. Primeiramente, as plantas morreriam; em seguida, os animais que se alimentam das plantas; depois, os animais que se nutrem dos animais que comem as plantas... E aí toda a raça humana. Foi assim que, depois do choque de um corpo com 20 km de diâmetro ocorrido cerca de 65 mi- lhões de anos atrás, morreram todos os dinossau- ros, e apenas sobreviveram os organismos que não dependiam dos raios solares. Sobre nossos tetos Depois de mostrar esse quadro tão aterrorizante, vale dar olhada na tabela que fornece, entre ou- tras informações, a freqüência com que esses even- tos ocorrem e que podemos chamar de ‘números do Apocalipse’. Como se pode ver, a probabilidade de um impacto com conseqüências catastróficas globais é de um choque em cerca de 10 milhões a 30 milhões de anos. Sem dúvida, muito tempo. Por outro lado, a mesma tabela nos mostra que o perigo existe. Não é invenção da mídia, para vender mais ou aumentar a audiência, nem dos astrônomos, para conseguir mais verbas para suas pesquisas. Assim, a única forma de salvar a Terra e a raça humana é se prevenir. Nesse caso, prevenção im- plica ter a capacidade de prever, com muitos anos de antecedência, a queda de tal corpo. Tendo en- tre 20 anos e 30 anos, o homem, com certeza, encontrará uma solução para evitar a catástrofe –
  • 6. outubro de 2002 • CIÊNCIA HOJE • 27 ASTROFÍSICA DO SISTEMA SOLAR Sugestões para leitura FRANKEL, C. The end of the dinosaurs, Cambridge, Cambridge University Press, 1999. CHAPMAN, C. R. ‘The asteroid/comet impact hazard: Homo sapiens as dinosaur?’ in Prediction: Science, Decision Making, and the Future of Nature, Sarewitz, D., Pielke Jr., R. A. e Byerly, R., Washington DC, Island Press, pp. 107-134, 2000. LEWIS, J. S. Comet and asteroid impact hazards on a populated Earth, Nova York, Academic Press, 1999. LEVY, D. H. Comets: creators and destroyers, Nova York, Touchstone- Simon&Schuster, 1998. Na internet http:// neo.jpl.nasa.gov/ risk/ (em inglês) http:// newton.dm.unipi.it/ cgi-bin/neodys/ neoibo?objects: 2002NT7;main (em inglês) http://www.on.br/ revista/index.html No Observatório Nacional, o Grupo de Plane- tologia – coordenado pela autora deste arti- go – pesquisa asteróides e cometas. Com re- lação aos primeiros, tentamos entender me- lhoracomposiçãomineralógica,ograudeaque- cimento, os processos de colisão ocorridos na região do cinturão de asteróides e as possíveis trajetórias. Para isso, são realizadas observa- ções tanto em telescópios no Brasil – Observa- tório do Pico dos Dias, em Brasópolis (MG) – quanto no exterior (Chile, França e Argentina). Nosso grupo acaba de completar o segun- do maior mapeamento de composições de asteróides existente no mundo, com mais de 800 objetos estudados, o que vem permitindo obter resultados significativos para melhor compreender a formação e a evolução desses corpos. A descoberta do asteróide 1459 Magnya, com composição basáltica (rocha resultante de um processo de vulcanismo), na parte mais fria do cinturão de asteróides, foi certa- mente um dos resultados mais importantes do grupo até hoje – o artigo foi publicado na revista científica norte-americana Science (vol. 288, 2000). MMMMMapeamento e deapeamento e deapeamento e deapeamento e deapeamento e descoberscoberscoberscoberscobertttttaaaaa vulgaram a notícia está o fato de que não pode- mos esperar que um objeto desse tamanho esteja em cima do nosso teto para gritar que ele vai cair sobre nossas cabeças. A nova ‘ameaça’ No último mês de julho, história semelhante chamou a atenção da mídia mundial. Era outro corpo de dimensões gigantescas que poderia atingir a Terra. Com cerca de 2 km de largura, o asteróide 2002NT7 apresentarisco–pequeno,éverdade–decolisãocom a Terra em 2019 – mais exatamente em 1 de feverei- ro daquele ano. No momento da divulgação, a pro- babilidade de impacto na escala de Torino era um. Com mais observações realizadas ao longo do mês de julho, os cálculos foram sendo aprimorados, e a probabilidade de colisão com a Terra diminuiu, retirando-se o objeto da classificação um e passan- do-o para zero, ou seja, nenhum risco. Surgiu, é verdade, outro possível impacto desse asteróide em fevereiro de 2060, mas os cálculos ainda têm impre- cisões muito grandes. Novamente, como ocorreu no caso do asteróide 1997XR2, a mídia primeiramente deu enormes es- paços para a notícia e, depois, com o novo desmen- tido, apareceram críticas em relação à ‘pressa’ com que os astrônomos anunciaram a possível queda. Esse caso foi longamente discutido no congresso Asteróides, Cometas e Meteoros, realizado no últi- mo mês de julho em Berlim (Alemanha). Esse en- contro reúne, a cada três anos, toda a comunidade científica internacional que pesquisa esses peque- nos corpos – por sinal, o próximo, em 2005, vai ser realizado no Rio de Janeiro, organizado pelo Obser- vatório Nacional. Na reunião em Berlim, os pesquisadores decidi- ram elaborar o que vai ser conhecido como Decla- ração de Berlim. Nesse documento, os participan- tes declaram que o risco de impacto de objetos ce- lestes com a Terra é real e que os governos têm feito muito pouco no sentido de dar condições aos as- trônomos de mapear completamente todos os cor- pos ‘potencialmente perigosos’. Evitar o inevitável A cada nova ameaça, a possibilidade de um futuro impacto se torna mais real. No momento, a única forma que temos para evitar uma catástrofe para a humanidade é conhecer todos os nossos ‘vizinhos’. Daí a importância de se pesquisar detalhadamente todo o sistema solar, tanto do ponto de vista das órbitas (passadas e, principalmente, futuras) quan- to da composição e da evolução dinâmica de seus objetos (ver ‘Mapeamento e descoberta’). Vale lembrar que precisamos de muito tempo para elaborar, criar e testar tecnologias suficiente- mente precisas para evitar o que seria inevitável se ocorresse nos dias de hoje: o fim do mundo.