Este documento fornece um guia de referência para organizações e profissionais que trabalham com a imprensa sobre o enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes. O guia discute o papel da imprensa como aliada nessa causa, apresentando como a mídia pode contribuir por meio da qualidade das informações, do agendamento de pautas e do exercício do controle social.
Imprensa como aliada no combate à exploração sexual
1. EnfrEntamEnto à Exploração SExual
dE CriançaS E adolESCEntES
Guia de RefeRência
para o Diálogo com a míDia
Realização: ANDI Parceria estratégica: Childhood Brasil
2. Guia de RefeRência
para o diálogo Com a mídia
EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES
Realização: ANDI Parceria estratégica: Childhood Brasil
3. EXPEDIENTE
ANDI – AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA
Presidente do Conselho Diretor: Oscar Vilhena Vieira SDS – Ed. Boulevard Center – Bloco A – sala 101
Secretário Executivo: Veet Vivarta CEP: 70391-900 – Brasília/DF
Secretária Executiva Adjunta: Ely Harasawa Tel: (61) 2102-6508 / Fax: (61) 2102-6550
Gerente do Núcleo de Mobilização: Carlos Ely Site: www.andi.org.br
FICHA TÉCNICA
Guia de Referência para o Diálogo com a Mídia
Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
(ISBN: 978-85-99118-15-3)
Realização Parceria Estratégica
ANDI Childhood Brasil
Supervisão Editorial Projeto Gráfico, Diagramação e Capa
Veet Vivarta Viviane Barros
Texto Impressão e Acabamento
Marília Mundim. Colaboração: Ana Flávia Flôres Pancrom Indústria Gráfica
Edição Tiragem
Adriano Guerra e Marília Mundim 5.000 exemplares
Revisão de Texto São Paulo, novembro de 2008
Maria do Socorro Novaes de Senne
Advertência: o uso de linguagem que não discrimine nem estabeleça a diferença
Análise de Mídia entre homens e mulheres, meninos e meninas é uma preocupação deste texto.
O uso genérico do masculino ou da linguagem neutra dos termos criança e
Railssa Alencar e Diana Barbosa adolescente foi uma opção inescapável em muitos casos. Mas fica o entendimento
de que o genérico do masculino se refere a homem e mulher e que por trás do
Produção termo criança e adolescente existem meninos e meninas com rosto, vida, histórias,
Tainá Frota desejos, sonhos, inserção social e direitos adquiridos.
4. Sumário
04 Apresentação
Capitulo 1 05 A Imprensa como Aliada
Capitulo 2 13 Construindo Estratégias de Comunicação
Capitulo 3 21 Fontes de Informação: Papel Central na Notícia
Capitulo 4 39 Por Dentro da Redação
Capitulo 5 51 Violência Sexual na Pauta da Imprensa Brasileira
Capitulo 6 65 Mídia em Foco
5. Apresentação
Este guia de referência integra uma série de estratégias desenvolvidas pela Agência de Notícias dos
Direitos da Infância (ANDI) e pela Childhood Brasil com o objetivo de contribuir para a qualificação
da cobertura jornalística oferecida às temáticas relacionadas ao universo de crianças e adolescentes
brasileiros – especialmente no que se refere à exploração sexual.
Atentos ao fato de que o processo de aprimoramento do trabalho da imprensa nesse campo vai além
da capacitação de jornalistas e demais profissionais da comunicação, ANDI e Childhood focalizam na
presente obra outro agente fundamental nesse âmbito: as fontes de informação. Organizações sociais,
pesquisadores, agentes públicos, membros da academia e demais atores ligados à temática da Explora-
ção Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes (ESCCA) constituem, portanto, o público-alvo deste
material. A proposta é estimular e preparar esses profissionais para um diálogo mais articulado e pro-
dutivo com os veículos de comunicação.
Para isso, ao longo da publicação são apresentadas, em detalhes, as dinâmicas de funcionamento da
mídia: a lógica da notícia, o processo de construção da pauta jornalística, como se dá a elaboração de uma
reportagem nos diferentes meios e outras especificidades da área.
Com mais esta iniciativa, ANDI e Childhood Brasil esperam contribuir diretamente para o fortaleci-
mento do jornalismo investigativo com foco na ESCCA – capaz de informar, pautar e fiscalizar as inicia-
tivas públicas do setor. O objetivo fundamental é potencializar a atuação da imprensa como aliada estra-
tégica nos processos de mobilização da sociedade e do poder público para o enfrentamento desse grave
problema que atinge meninos e meninas de todo o país.
Ana Maria Drummond – Diretora Executiva
Childhood Brasil
Veet Vivarta – Secretário Executivo
ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância
6. A Imprensa A liberdade de imprensa é um preceito de qualquer
sociedade democrática. Thomas Jefferson, terceiro pre-
como Aliada1 sidente dos Estados Unidos, disse que entre um governo
sem imprensa e uma imprensa sem governo, não tinha
dúvida em escolher a segunda alternativa. O comentário
de Jefferson, um dos fundadores da democracia estadu-
nidense, constitui uma defesa intransigente da capacida-
de da mídia em exercer um efetivo controle social sobre
o Estado e os governantes – um dos princípios inegociá-
veis em qualquer sistema democrático de governo.
1 Parte do conteúdo deste capítulo foi baseada em trechos da publicação Orçamento
Público, Legislativo e Comunicação – três eixos estratégicos para incidência nas
políticas públicas, editada pela ANDI em parceria com o Instituto Ágora, o Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Instituto Telemig Celular, a Fundação Avina, a
Fundação Vale e a Oficina de Imagens – Comunicação e Educação.
7. 6 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
No Brasil, não por acaso, a liberdade de Ainda que possa ser freqüente a presença
imprensa foi uma importante bandeira dos de tal tratamento nos meios brasileiros, essa
movimentos contra a ditadura. Hoje, ain- está longe de ser uma regra aplicável a todos os
da que não possamos afirmar que essa é uma veículos ou profissionais. Assim como ocorre
questão superada para a sociedade brasileira em outros segmentos, é importante aqui saber
– haja vista os casos ainda registrados de co- diferenciar o bom jornalismo do mau jornalis-
erção, de agressão e até mesmo de assassinato mo. Precisamos, portanto, aprender a analisar
de profissionais da imprensa –, certamente mais detalhadamente a produção da imprensa,
contamos com um contexto político de maior identificando os vários parâmetros que podem
abertura e com melhores condições para o contribuir para uma cobertura de qualidade.
exercício de nossas liberdades. Nesse âmbito, é fundamental que as avalia-
Mesmo que ninguém duvide da relevância ções que costumamos fazer sobre o trabalho dos
de uma imprensa livre e plural, também é ver- veículos passem a levar em consideração os as-
dade que os meios noticiosos são alvo constan- pectos de ordem técnica – e não sejam pautados
te de críticas endereçadas por variados atores apenas por abordagens genéricas ou com base
sociais. Isso porque o noticiário muitas vezes no senso comum. Cabe aos grupos organizados
repercute os principais temas presentes na da sociedade o papel de monitorar o trabalho
esfera pública sem levar em conta os diferen- jornalístico, partindo de parâmetros objetivos,
tes ângulos e visões existentes na sociedade. capazes de diagnosticar, por exemplo, falhas e
Da mesma forma, são comuns críticas avanços na cobertura.
questionando a abordagem dada por alguns Estudos sobre a função do jornalismo em
veículos de imprensa a temas como violência sociedades democráticas, sistematizados em
e direitos humanos de crianças e adolescen- pesquisas recentes da ANDI, apontam para três
tes. Não é raro ouvir de representantes dos
importantes características de um tratamento
movimentos sociais comentários do tipo: “os
editorial qualificado dos temas sociais:
jornalistas distorcem tudo que eu falo quando
dou entrevistas”, “os noticiários só querem • Prover a sociedade com informação con-
mostrar sangue e crimes”, “a mídia só traz no- fiável e contextualizada – de forma a
tícias ruins”. empoderar cidadãos e cidadãs, que assim
8. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 7
podem melhor conhecer seus direitos e as campanhas de vacinação, os períodos de ma-
passar a exigi-los. trícula escolar ou os direitos do consumidor –
é um bom exemplo de como a mídia noticiosa
• Introduzir questões relevantes na agenda pode apoiar o exercício da cidadania.
pública de debates, de forma plural – ou
A oferta de informação qualificada está tam-
seja, a mídia pode não ter o poder de nos
bém no cerne do que chamamos de jornalismo
dizer “como” devemos pensar, mas define
preventivo, que busca antecipar ameaças – tais
fortemente sobre “o que” pensamos.
como enchentes ou epidemias –, apontando
• Exercer controle social sobre os represen- medidas capazes de evitar crises futuras ou
tantes do governo e as políticas públicas, minimizar seus impactos. Além de disseminar
assim como sobre os demais atores sociais. orientações relativas a ações mais imediatas,
um jornalismo preventivo eficiente encoraja
Qualidade das informações cidadãos e cidadãs a participarem ativamente
A primeira das importantes contribuições do combate ao problema e a cobrarem medidas
que a imprensa pode oferecer ao processo de objetivas por parte das autoridades públicas.
consolidação das sociedades democráticas é
informar sobre os temas de interesse público Agendamento
de maneira qualificada. Uma cobertura jorna- Um segundo papel relevante dos veículos de
lística contextualizada fortalece a cidadania e imprensa diz respeito à sua capacidade de
a construção de capital social, contribuindo influenciar a construção da agenda pública.
para reduzir a assimetria de informação que Em outras palavras, isso significa dizer que
tradicionalmente existe entre os governantes os temas abordados pela mídia serão, quase
e a população – a qual, ao conhecer seus direi- sempre, também aqueles priorizados pelos
tos, pode também passar a exigi-los. governos – e pelos atores sociais e políticos de
Embora ainda deva superar desafios nesse maneira geral –, no momento de definir suas
campo, a imprensa brasileira registra impor- linhas de atuação. Por outro lado, os assuntos
tantes avanços no que se refere à disponibiliza- “esquecidos” pelos jornalistas dificilmente
ção de informações de qualidade. O tratamento conseguirão receber atenção da sociedade e,
dado a questões de amplo alcance – tais como conseqüentemente, dos decisores públicos.
9. 8 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Mídia ou imprensa?
Entenda a diferença
É preciso ter em mente que muitas vezes se usa Já o entretenimento está relacionado ao lazer e à
os termos “meios de comunicaçäo” ou “mídia” diversão: filmes, novelas, desenhos animados, revistas
como se fossem sinônimos para o jornalismo. Na em quadrinhos e programas de humor são algumas
verdade, tais termos abarcam também outras for- das atrações que se enquadram nessa categoria.
mas de conteúdo midiático além da imprensa. De O Jornal Nacional, por exemplo, é um programa
maneira geral, podemos apontar três categorias jornalístico, ao passo que o Domingão do Faustão é
mais comuns, no que se refere a estes conteúdos: uma atração da grade de entretenimento da TV Glo-
jornalísticos, de entretenimento e publicitários. E bo. Essa diferenciação também pode ser encontrada
todos eles podem ser veiculados nos mais diver- nos veículos de mídia impressa: existem os espaços
sos tipos de mídia, como jornais, revistas, rádio, jornalísticos e os que têm como foco o divertimento
televisão ou internet. dos leitores (horóscopo, quadrinhos e palavras cru-
O jornalismo – foco de nosso interesse – con- zadas são alguns dos exemplos).
siste na divulgação de acontecimentos e informa- Já a publicidade consiste em anúncios de pro-
ções sobre a realidade. Nesse sentido, os profissio- dutos ou serviços, geralmente veiculados no intervalo
nais dessa área da comunicação atuam na coleta, dos programas, nas mídias eletrônicas (rádios e tevês)
redação, edição e publicação de informações sobre e ao lado das reportagens, nos veículos de mídia im-
eventos atuais e de interesse público. pressa (jornais e revistas).
10. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 9
É a chamada Teoria do Agendamento (ou na
expressão em inglês, agenda-setting).
Essa talvez seja a característica da mídia Imprensa e
mais comumente reconhecida pelas pessoas.
Ninguém estranha quando se diz que “o que
desenvolvimento
não está na mídia não é importante”. Apesar
de conter um certo exagero, tal expressão é Da mesma forma que mantém uma relação di-
uma tradução popular para o que afirmam os reta com os mecanismos que contribuem para
estudiosos da Teoria do Agendamento. a consolidação da democracia, a imprensa tam-
Reconhecer e entender tal característica bém desempenha um papel central quando estão
da imprensa é um passo importante para que em debate as políticas de desenvolvimento de
os movimentos e organizações sociais pensem um país. Ao observarmos o trabalho jornalístico
nos jornalistas como aliados estratégicos e a partir desta perspectiva, fica claro porque seu
não como adversários. Estabelecer um diálo- impacto nas sociedades contemporâneas vem
go ético e construtivo com esses profissionais sendo estudado, cada vez, mais por especialistas
pode contribuir para aumentar a visibilidade de um novo campo de conhecimento, chamado
de temas e causas sociais que normalmente de “comunicação para o desenvolvimento”.
recebem pouca atenção da sociedade. Trata-se de um conceito abrangente, no
Vale destacar, no entanto, que a presença de qual estão abrigadas as mais diversas mani-
um assunto na imprensa não representa a única festações comunicacionais, quando buscam
condição para que ele seja considerado por go- incidir em aspectos sociais, culturais, econô-
vernos e parlamentos. O trabalho de incidência micos e de sustentabilidade ambiental, para
política, por exemplo, costuma favorecer gran- citar alguns exemplos. Nesse sentido, pode-se
demente esse processo. Da mesma forma, é ne- afirmar que os níveis de democratização e de
cessário considerar que questões com impacto liberdade de expressão e de imprensa de uma
mais direto na vida das pessoas – como saúde nação são também fatores determinantes para
e educação – sempre serão foco de atenção de seu processo de desenvolvimento.
governantes e parlamentares, independente-
mente de estarem presentes na mídia.
11. 10 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
É o que afirma, por exemplo, o ex-presidente Infância e adolescência
do Banco Mundial, James D. Wolfensohn: “uma im- Quando observamos o debate sobre mídia e desenvol-
prensa livre não é um luxo. Ela está no núcleo do vimento a partir de um de nossos campos de interesse
desenvolvimento eqüitativo. Os meios podem expor a – os direitos de crianças e adolescentes –, um exem-
corrupção. Podem se manter vigilantes em relação às plo chama a atenção: a contribuição oferecida pela
políticas públicas, lançando luz sobre as ações gover- imprensa brasileira a essa agenda, a partir dos anos
namentais. E permitem às pessoas exprimir suas di- de 1990. Desde a aprovação do Estatuto da Criança
ferentes opiniões sobre governança e reformas, além e do Adolescente (ECA), a atividade jornalística passou
de contribuir para os consensos públicos necessários a ocupar um papel central tanto na disseminação dos
às mudanças”. princípios estabelecidos pela nova legislação quanto na
Não por outra razão, o indiano Amartya Sen, Prê- discussão sobre os progressos e deficiências das polí-
mio Nobel de Economia e um dos formuladores do ticas públicas direcionadas a essa população.
conceito de Desenvolvimento Humano, enfatiza: “a li- Essa constatação não significa que a cobertura
berdade de imprensa exige a nossa mais forte defesa, nessa área não continue apresentando limites. Mas o
entretanto a imprensa tem tanto obrigações quanto fato é que o interesse da imprensa sobre a tema cres-
direitos. Na verdade, a liberdade de imprensa define ceu vertiginosamente – e com repercussões muito po-
ambos – um direito e um dever – e nós temos boas sitivas. O registro deste processo vem sendo feito, ano
razões para lutar pelos dois”. a ano, pelas metodologias de monitoramento e análise
Entre as funções que cabem à mídia, no âm-
de mídia desenvolvidas pela ANDI – Agência de Notí-
bito do desenvolvimento, vale relembrar aquelas
cias dos Direitos da Infância (veja mais no Capítulo 5).
que abordamos anteriormente: produção de infor-
mações contextualizadas no campo da cidadania; Fonte: Orçamento Público, Legislativo e Comunicação – três eixos
agendamento de temas sociais relevantes na pauta estratégicos para incidência nas políticas públicas (Oficina de
da agenda de debates; e controle social das institui- Imagens / ANDI / Ágora / Inesc / Fundação Avina / Fundação Vale
ções públicas. do Rio Doce / Instituto Telemig Celular)
12. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 11
Cão de guarda tar a sociedade sobre equívocos e, também,
Ao mesmo tempo em que influencia a cons- acertos dos governos.
trução da agenda pública, a imprensa pode Nesse sentido, o acompanhamento, não
exercer outra importante função: fiscalizar apenas do lançamento oficial de projetos, mas de
a atuação do Estado e dos governantes. Para sua continuidade, da idoneidade em sua execu-
diversos estudiosos da comunicação, a liber- ção e de seus resultados é – ou deveria ser – uma
dade de imprensa assegura aos profissionais das responsabilidades centrais dos jornalistas.
da notícia uma voz independente e a capaci- Existem casos clássicos, com repercussão
dade de monitorar as instituições públicas mundial, que ilustram claramente esse papel
nos mais diversos campos. desempenhado pelos meios de comunicação –
Esse papel exercido pelos meios de co- como o Watergate, que acarretou na renúncia
municação foi chamado pelos especialistas de Richard Nixon, então presidente norte-
de “cão de guarda” (ou watchdog, em inglês). americano, e o impeachment do ex-presidente
O termo indica o potencial da mídia em aler- brasileiro Fernando Collor de Mello.
Impeachment na Presidência
Os meios de comunicação estiveram no centro do único processo de afastamento legal de um presidente da República
no Brasil: o impeachment de Fernando Collor de Mello, ocorrido em 1992. O escândalo que marcou a história política
brasileira começou a tomar corpo quando a revista Veja publicou entrevista com Pedro Collor de Mello, irmão do então
presidente, trazendo graves acusações sobre corrupção e tráfico de influência no governo. Com a denúncia, o Con-
gresso Nacional instaurou uma comissão de inquérito para investigar a veracidade e abrangência do crime. Durante
todo o processo, a mídia esteve engajada em levar ao público os principais desdobramentos da questão, contribuindo
na mobilização da sociedade (nesse âmbito, o movimento mais representativo foi o dos “caras pintadas”), que passou
a exigir das autoridades respostas à crise no governo. Menos de cinco meses após a denúncia veiculada pela revista,
Fernando Collor foi julgado pelo Senado Federal e condenado à perda do cargo de presidente e a uma inabilitação
política de oito anos.
13. 12 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
No entanto, não apenas em situações com a cobertura de fatos negativos é exagerada, e
essas proporções, verificamos a imprensa exer- 64% disseram que raramente encontram na
cendo sua função de “cão de guarda”. Em 2004, grande mídia as informações que gostariam
por exemplo, o governo federal enviou para o de obter.
Congresso Nacional uma proposta orçamentária Apesar do resultado aparentemente negativo,
prevendo o corte de 80% dos recursos desti- a pesquisa Trust in the Media – que ouviu mais de
nados ao Programa de Erradicação do Trabalho 10 mil pessoas em dez países, sendo mil delas
Infantil (Peti). O jornal Folha de S.Paulo teve de nove regiões metropolitanas brasileiras –
acesso ao documento e denunciou a intenção concluiu que a credibilidade da imprensa ainda
do governo. A repercussão gerada pela matéria, é maior que a dos governos, especialmente nas
associada à mobilização e à articulação do movi- nações em desenvolvimento. Em nosso país,
mento social de defesa dos direitos da criança e o percentual de credibilidade é de 45% para a
do adolescente, fez com que o governo recuasse mídia contra 30% para o governo (a íntegra da
logo em seguida. pesquisa, em inglês, pode ser acessada em: www.
globescan.com/news_archives/bbcreut.html).
Credibilidade da imprensa Já a pesquisa Trust Barometer, divulgada
Seria exagerado afirmar que todo o conteú- em janeiro de 2008 pela empresa de rela-
do publicado nos meios de comunicação está ções públicas Edelman (www.edelman.com/
correto ou vira tema de interesse da socie- trust/2008), revelou que a mídia é a institui-
dade. Entretanto, como vimos, não há como ção mais confiável para 64% dos brasileiros
negar a forte influência e a credibilidade que formadores de opinião, seguida por empresas
a imprensa possui junto a públicos distintos, (61%), ONGs (51%), instituições religiosas
como gestores públicos, empresários e a po- (48%) e governo (22%). O levantamento ou-
pulação em geral. viu 150 pessoas no Brasil e permite fazer um
Estudo realizado em 2006, a pedido da comparativo com outras 17 nações que tam-
BBC, da Reuters e de The Media Center, reve- bém foram pesquisadas. Na Suécia, na Ho-
lou que 55% dos brasileiros não confiam nas landa e na Bélgica, por exemplo, onde o poder
informações obtidas por meio dos veículos público está mais presente, os governos fica-
jornalísticos. Além disso, 80% afirmaram que ram mais bem classificados.
14. Construindo Qualquer no debate público não poderá ignorar a
ator social que busque incidir de forma
mais ampla
Estratégias de relevância da imprensa na definição do foco das dis-
cussões, independente do cenário ao qual estejamos
Comunicação nos referindo: político, econômico, social, ambien-
tal ou cultural. Hoje, já não é possível imaginar, por
exemplo, uma organização que tenha como foco a mo-
bilização social em torno dos direitos da criança e do
adolescente que não conte com uma eficiente – ainda
que simples – estrutura de comunicação.
Para manter uma incidência mais sistemática na de-
finição dos temas da agenda pública, o contato com a im-
prensa deve ser feito de forma constante e profissional.
Para isso, é desejável que a instituição possua uma polí-
tica comunicacional bem definida, ou seja, com orienta-
15. 14 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
ções bastante claras, tanto para a comunicação a instituição pode contar com a contribuição
interna (dentro da organização) quanto para a de profissionais voluntários; desenvolver par-
externa (parceiros, público-alvo e imprensa, cerias com universidades (algumas possuem
por exemplo). Esse processo pode ser inicia- agências juniores que prestam serviço à co-
do com uma reflexão simples: “o que eu quero munidade); ou contratar jornalistas freelances
informar e para quem eu quero informar?”. O para ocasiões nas quais a demanda é maior.
fundamental, porém, é que a estratégia de co- O diálogo com os profissionais e veículos
municação adotada esteja pautada nos princí- de imprensa também pode ser buscado por
pios e valores éticos da instituição, bem como meio de parcerias com os sindicatos de jorna-
na sua missão, visão e objetivos. listas (cada estado tem o seu) e com organiza-
Para isso, um passo inicial é a construção ções não-governamentais que atuem na área de
de um plano de comunicação – documento que comunicação. O importante é que instituições
define objetivos, metas e estratégias da organi- que trabalhem para promover os direitos de
zação, tendo em vista a visibilidade de seus pro- crianças e adolescentes – entre as quais estão
jetos bem como da temática sobre a qual traba- incluídas aquelas que lidam com o enfren-
lha. Para que esse plano seja eficiente, é preciso tamento da Exploração Sexual Comercial de
estruturá-lo cuidadosamente. De preferência, Crianças e Adolescentes (ESCCA) – não fiquem
ele deve estar acompanhado de uma planilha de de fora do debate público agendado pela cober-
ações a serem desenvolvidas, na qual constem tura jornalística. Com criatividade e parcerias,
informações como o responsável pela ação, o é possível superar as dificuldades financeiras e
público-alvo, o objetivo, as metas e o prazo de estruturais e desenvolver iniciativas capazes de
execução (veja modelo na página 17). dar visibilidade para a pauta da violência sexual
O ideal é que o trabalho de comunicação que tem como vítimas meninos e meninas.
fique nas mãos de um comunicador habilitado
para isso (seja jornalista, seja relações públi- A imprensa e o combate à ESCCA
cas). No entanto, nem todas as organizações Como vimos até aqui, a capacidade de informar,
possuem condições de arcar com um profis- pautar e fiscalizar as iniciativas públicas faz da
sional com dedicação exclusiva. Nesse senti- imprensa uma aliada estratégica nos processos
do, algumas alternativas podem ser pensadas: de mobilização social e de monitoramento das
16. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 15
políticas públicas, especialmente quando es- as especificidades que cercam o intrincado
tamos falando de um fenômeno multifacetado universo da Exploração Sexual Comercial de
como a violência sexual contra crianças e ado- Crianças e Adolescentes.
lescentes. Do mesmo modo, os meios de co- Outro fator que dificulta o trabalho dos
municação são parceiros fundamentais para o jornalistas – e que deve ser suprido na medida
esclarecimento da população sobre o tema, in- do possível pelas fontes – é a quantidade limi-
clusive no que se refere ao papel de cada pessoa tada de dados e estatísticas oficiais, em parte
na prevenção e na erradicação do problema. resultante da própria característica criminosa
Vale destacar, contudo, que a tarefa de for- do fenômeno. Esse obstáculo pode ser supe-
talecer a relevância do assunto entre as reda- rado por meio da sugestão de novas formas de
ções não é exclusiva dos jornalistas já sensíveis abordar a temática, apresentando-lhes olha-
ao problema. Pelo contrário, as fontes de infor- res e enfoques sobre a questão que tenham
mação especializadas também são peças fun- sido pouco abordados pela imprensa de sua
damentais para a inserção da problemática da região. Por exemplo, o impacto na vida social
ESCCA no noticiário veiculado por jornais, si- da criança ou adolescente explorado, a pouca
tes, rádios, revistas e tevês de todo o país. Mais visibilidade dada ao cliente ou a quantidade de
do que isso, especialistas na área desempe- projetos de leis sobre o tema que tramitam nas
nham um papel estratégico na qualificação dos casas legislativas do país sem que sejam apro-
conteúdos disponibilizados para a população. vados e colocados em prática.
Certamente, não estamos falando aqui No diálogo com os profissionais da im-
de uma temática simples de se abordar no prensa, é preciso tomar cuidado, porém, para
noticiário, pois sabemos das complexidades não exigir atitudes que vão além da sua capa-
que permeiam essa grave questão: trata-se de cidade/responsabilidade. Não é certo querer
um tema delicado e cercado de preconceitos. que a imprensa resolva sozinha os problemas
Sendo assim, cabe a especialistas e fontes de do Brasil, entre os quais a questão da ESCCA.
informação a missão de repassar os dados, Não podemos transferir para ela demandas e
conceitos e reflexões de forma clara e preci- ações que são do escopo do poder público e da
sa para os jornalistas, certificando-se de que sociedade civil organizada – como a elaboração
compreenderam exatamente a amplitude e e a apresentação de propostas de enfrentamen-
17. 16 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Agenda de Comunicação
Como vimos, a elaboração de uma Agenda de • Também é possível identificar, entre as enti-
Comunicação – ou de ações mobilizatórias – é dades parceiras, a programação de eventos
importante para garantir a presença de um tema organizados em cada uma delas e articular
na mídia. Nesse sentido, seguem algumas orien- uma agenda de acordo com as atividades
tações para garantir a efetividade desse instru- previstas. Exemplos: lançamentos de pes-
mento de trabalho: quisas e estudos, campanhas, atividades es-
pecíficas com a mídia (como a elaboração e
• A agenda deve incluir várias estratégias e
envio de artigos de opinião para publicação),
sua elaboração precisa ser articulada com
atividades de mobilização (panfletagem, se-
diversos setores. Umas das formas de se
minários), articulação com empresários, etc.
compor a Agenda de Comunicação é por
meio da criação de ações locais e nacionais • Uma outra possibilidade é traçar uma lista de
a partir das datas de mobilização – como o temas relevantes e, a cada mês, organizar
Dia Nacional de Combate ao Abuso e Explo- atividades no contexto do assunto estabe-
ração Sexual de Crianças e Adolescentes (18 lecido – educação, direitos, saúde, etc. Por
de maio), Dia do Aniversário do Estatuto da exemplo, se em determinado mês o tema é
Criança e do Adolescente (13 de julho) e o saúde, a discussão pode se dar em torno da
Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil vulnerabilidade de crianças e adolescentes
(12 de junho). Ou ainda aproveitar grandes vítimas de Exploração Sexual de Crianças e
eventos nos quais o tema “Direitos da Crian- Adolescentes a doenças sexualmente trans-
ça” possa ser difundido. missíveis, como a Aids (veja ao lado modelo
18. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 17
de tabela a ser preenchida pelo
conjunto de instituições mobiliza- AGENDA DE COMUNICAÇÃO
das no tema).
Atividades
• Ao lançar um livro ou estudo, focar Período
Instituição
a divulgação em dois ou três temas, Responsável
Tema Janeiro Fevereiro Março
pois informação em muita quanti-
dade não é assimilada de imediato
– seja porque existe pouco espaço
Saúde
na imprensa, seja porque a opinião
pública não consegue digeri-la.
Nesse sentido, sugere-se utilizar
os temas do estudo para pautar a Educação
mídia ao longo de um período que
pode se iniciar antes do lançamen-
to e perpetuar-se por meses após o Direitos
Humanos
mesmo –, sempre fornecendo um
enfoque ou leitura diferenciados de
um determinado aspecto, ou en-
Inclusão
tão priorizando um dado ainda não
muito explorado do mesmo estudo.
19. 18 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Palavra de fonte to ao fenômeno. Os meios de comunicação precisam ser
vistos como mediadores do debate público e aliados na luta
por um país mais justo e igualitário – e não como os agentes
“Entre os erros mais comuns cometidos
responsáveis por fazer esse desejo se concretizar.
pela imprensa destaca-se o uso de cha-
vões ou conceitos equivocados sobre o
tema ou sobre aspectos relacionados a Espaço aberto
ele. Um exemplo bem atual está na discus- Está claro que o trabalho de divulgação das estratégias
são sobre os pedófilos. Existe uma grande de enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de
confusão sobre a situação da pedofilia e a Crianças e Adolescentes não deve se resumir ao período
situação de abuso sexual. Uma não pres- do 18 de maio e a outras datas relevantes. Nesses mo-
supõe a outra, mas via de regra as ma- mentos, entretanto, é importante uma intensificação na
térias reforçam o entendimento contrário. tarefa de sugerir pautas para os meios de comunicação,
Cabe a nós (fontes de informação) tentar pois há, espontaneamente, maior abertura para assun-
esclarecer essas confusões conceituais e tos dessa natureza (veja mais informações sobre sugestões
torná-las compreensíveis não só para os
de pauta no Capítulo 4).
jornalistas, mas para o público em geral.
Nessas ocasiões, vale aproveitar para discutir de forma
Os papéis precisam estar muito claros. A
nós, das organizações, cabe oferecer fonte mais aprofundada os avanços conquistados, apresentar ex-
de consulta, dados, conceitos e reflexões periências exitosas e, se for o caso, denunciar a omissão do
sobre o tema. E aos jornalistas cabe utili- poder público ou a falta de articulação e/ou mobilização das
zar dessas informações para elaborar ma- instâncias responsáveis por combater os casos de ESCCA.
térias de qualidade que estejam de acordo Por outro lado, é preciso tomar cuidado para que a questão
com a pauta definida e que respeitem a não seja banalizada. Lembre-se de que todas as informa-
linha editorial do veículo. Não podemos ções passam por um amplo processo de seleção nas reda-
extrapolar nosso papel e querer escrever o ções – e somente as mais interessantes e/ou impactantes
texto pelo jornalista, ou definir como deve ganham espaço no noticiário.
ser a foto que ele vai utilizar”.
A ocorrência de casos que naturalmente geram grande
Carolina Padilha,
coordenadora de programas da Childhood Brasil. visibilidade também abre espaço nos meios de comunica-
ção. Por um lado, crimes de violência sexual contra meni-
nos e meninas geralmente comovem a opinião pública e
20. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 19
impulsionam maior mobilização da imprensa cas para a área. Aqui segue uma breve lista de
para o debate sobre as causas e as políticas para formas pelas quais o trabalho da imprensa pode
a área. Por outro, em momentos assim se acen- contribuir na erradicação do problema:
tua a tendência a um enfoque mais sensacio-
nalista. O importante em tais situações é que as • Denunciar situações de Exploração Sexual
fontes de informação estejam atentas para co- Comercial sempre que estas forem identi-
laborar no sentido de que a cobertura da mídia ficadas e cobrar medidas efetivas para re-
evite adotar estes comportamentos. solver o problema.
Um outro aspecto é que, ao contrário das
• Conscientizar a população sobre a impor-
datas consagradas, situações de denúncia
tância de denunciar.
costumam surgir repentinamente e deman-
dam um posicionamento imediato das orga- • Pressionar o Legislativo para a aprovação
nizações que atuam no combate a esse tipo de leis que garantam a proteção integral de
de violência. Por isso, é fundamental que elas meninos e meninas, especialmente no que
estejam preparadas para agir em contextos de diz respeito à Exploração Sexual Comercial.
emergência. Assim, não perderão a oportuni-
dade de dar maior visibilidade ao tema, colo- • Cobrar do Executivo a elaboração e a im-
cando-o na agenda de discussões da sociedade plementação de políticas públicas de en-
de forma consistente e responsável. frentamento da questão.
Contribuições da imprensa para
• Monitorar a dotação e a execução orça-
o fim da ESCCA mentária dos projetos de combate à vio-
A essa altura, já deve estar evidente que os lência sexual.
meios de comunicação são peças-chave no es- • Questionar a ausência de dados e estatísti-
clarecimento da população sobre as questões cas sobre o problema.
que envolvem o universo da Exploração Sexu-
al Comercial de Crianças e Adolescentes. Da • Divulgar ações e estratégias desenvolvidas
mesma forma, a mídia é central no acompa- pelo movimento social focadas na Explo-
nhamento e monitoramento de políticas públi- ração Sexual Comercial.
21. 20 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Critérios para uma boa reportagem
Embora o processo de avaliação de uma matéria jor- • Pesquisar o que está por trás do fenômeno, como
nalística não tenha a objetividade de uma equação valores culturais, questões de gênero e raça/etinia.
matemática, existem fatores que auxiliam na identi-
• Discutir o sistema de recuperação de agresso-
ficação de um bom trabalho. Mais do que o espaço
res e de assistência às vítimas.
oferecido pela imprensa, é preciso levar em consi-
deração outros importantes critérios. Vale apontar • Acompanhar o inquérito policial e atualizar a
alguns dos parâmetros a serem observados: população sobre os desdobramentos do caso.
• Oferecer ao público um conteúdo de qualidade, • Não tratar suspeitos ou acusados como crimi-
com análise crítica da questão. nosos. Vale lembrar que a lei brasileira prevê
que o acusado só será considerado culpado
• Ouvir todos os lados da história, com opiniões e
em casos de flagrante, confissão ou após o
pontos de vista divergentes.
julgamento.
• Buscar informações que levem à prevenção do
• Evitar identificar a vítima e pessoas da família.
fenômeno e à punição dos agressores.
• Evitar identificar parentes do agressor.
• Oferecer serviços (como denunciar, indicar ins-
tituições que oferecem apoio, etc.). • Evitar utilizar tarjas pretas nos rostos de crian-
ças e adolescentes, bem como fotos que exi-
• Tratar a criança e/ou o adolescente vítima de ex-
bam as crianças na rua ou em trajes íntimos.
ploração sexual como sujeito de direito, respeitan-
do sua condição de pessoa em desenvolvimento. • Fugir da cobertura baseada nos BOs (boletins
de ocorrência).
• Produzir a reportagem pautada pelo discurso éti-
co e contextualizado, com linguagem acessível. • Evitar o sensacionalismo.
22. Fontes de Csimplesmente responderdeàsinformação feitasmaisum
que
umprir o papel de fonte
perguntas
exige
por
do
Informação: jornalista. Esta, aliás, é somente a etapa final do processo
de atuação de uma fonte comprometida com a qualidade
Papel da notícia. A produção de uma boa reportagem envolve
Central na
um processo longo que passa pela contribuição direta de
especialistas, agentes do poder público, de representantes
Notícia de organizações não-governamentais e da população afe-
tada pela questão em foco – enfim, todos os que, de alguma
forma, podem apontar uma visão relevante ao debate.
Quem domina ou trabalha com questões de inte-
resse coletivo, como é o caso daqueles que lidam com
o fenômeno da ESCCA, assume também uma função
estratégica na produção de conhecimento e no debate
público. A atuação das fontes de informação pode ser
23. 22 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Palavra de fonte central, por exemplo, ao oferecer uma perspectiva mais
contextualizada sobre as temáticas em pauta e sugerir di-
ferentes elementos de pesquisa, dados atualizados ou no-
“Um especialista no tema, seja soció-
logo, psicólogo, advogado etc., precisa
mes de especialistas capazes de trazer análises comple-
ter consciência de que nada sabe sobre mentares e até mesmo divergentes em relação a um certo
as técnicas do jornalismo. O seu papel é aspecto. Quando a fonte consegue estabelecer um diálogo
explicar ao repórter o conteúdo temático. mais qualificado com o jornalista, o resultado é visível na
É preciso respeitar o papel e o trabalho densidade do conteúdo final.
do jornalista, reconhecendo-o naquele Não por outro motivo, o relacionamento com a impren-
momento como o principal parceiro no sa precisa, cada vez mais, ser pensado de forma estratégica
enfrentamento dessa causa. E com di- pelas instituições, tanto em ações e campanhas específicas
plomacia, cabe ao especialista mostrar como no dia-a-dia. O diálogo deve ser sistematicamente
ao repórter a importância de proteger fortalecido, seja a partir de iniciativas internas – criação de
os direitos dos vitimados, de seus fami-
um mailing de mídia, por exemplo –, seja pela articulação
liares e dos agressores sexuais, não os
expondo a situações constrangedoras,
de atividades voltadas especificamente para as redações,
seja em palavras, seja em imagens. É como uma oficina de capacitação sobre um tema relevante.
importante, também, sensibilizar os jor-
nalistas para que não tratem o agressor Mas o que se entende por fonte?
como culpado, pois quem julga é o sis- De modo geral, podemos dizer que fonte de informação
tema legal”. é toda pessoa ou documento (livros, enciclopédias, si-
Marlene Vaz, tes, boletins, jornais, revistas, etc.) que fornece dados
consultora em Violência Sexual e/ou emite opinião para uma reportagem, de forma a
Contra Crianças e Adolescentes.
contextualizá-la, esclarecer fatos ocorridos ou refletir
sobre o tema abordado. No universo da imprensa, as
fontes consideradas mais confiáveis são os documen-
tos oficiais e os especialistas renomados. A possibili-
dade de haver o repasse de alguma informação equivo-
cada é considerada pequena nesses casos. Já quando se
trata de pessoas diretamente envolvidas com o aconte-
24. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 23
cimento, o cuidado com a checagem das informações Direto da redação
tende a ser maior – não por se tratar de fontes pouco
qualificadas, mas por estarem emocionalmente envol-
“O grande problema de muitas fontes é
vidas com o fato. querer aparecer mais do que a notícia.
São consideradas fontes “oficiais” aquelas ligadas ao Mais importante do que ter o nome es-
poder público, nas três esferas de governo (federal, esta- tampado no jornal é criar um laço de
dual e municipal) e nos três níveis de Poder (Executivo, confiança com o jornalista, que possivel-
Legislativo e Judiciário). No entanto, especialistas e ato- mente fará outras entrevistas e, aí sim,
res sociais engajados no assunto a ser abordado pela ma- poderá fazer menção às fontes com mais
téria também são considerados fontes particularmente segurança. Outro problema é esperar
qualificadas pelos veículos de comunicação. A diferença é que tudo se resolva com a publicação/
que não falam em nome do Estado, mas da sociedade civil veiculação de uma reportagem. Há que
organizada – a qual, muitas vezes, serve como contrapon- se compreender que a imprensa tem li-
mites no seu campo de atuação”.
to à perspectiva governamental apresentada.
Mauri Konig,
Gazeta do Povo (PR),
Diversidade necessária vencedor da 2ª edição do Concurso Tim Lopes
Vamos imaginar que, ao final do seu contato com o jorna- de Investigação Jornalística,
lista, ele lhe peça para indicar outras fontes de informa- categoria Jornal.
ção, a fim de repercutir diferentes pontos da questão ou
apresentar argumentos opostos ao seu. Isso significa que
o conhecimento aportado não satisfez às necessidades da
matéria, donde você não é uma boa fonte, certo? Errado.
Se uma situação como a descrita acima acontecer é porque
você está diante de um bom profissional, comprometido
com a ética e a qualidade do produto jornalístico.
Reza a cartilha da imprensa que o conteúdo deve ser
imparcial e isento de qualquer julgamento. Para isso, o
profissional precisa apresentar ao leitor os diferentes la-
dos de uma determinada história – ou seja, os vários ato-
25. 24 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Palavra de fonte res envolvidos no fato em questão devem ter direito à voz.
Desta forma, o público terá condições de fazer sua avalia-
ção e tirar as próprias conclusões sobre o acontecimento
“Um jornalista hoje sai da redação com três retratado na reportagem.
pautas para cumprir: uma sobre violência
Entretanto, a atual situação das redações – quadro re-
sexual, outra sobre uma feira de automóveis
duzido de jornalistas, profissionais sobrecarregados e com
e outra sobre problemas de saneamento da
cidade. Pode parecer um exemplo grotesco, formação acadêmica deficiente, etc. – não tem favorecido
mas não está longe da realidade. Ele não que esta prática seja comum na rotina de jornais, revistas,
tem condições de saber dos conceitos; da rádios, tevês e sites de todo o país. O que ocorre com certa
diferença entre abuso e exploração sexual; freqüência é um jornalismo superficial, baseado no depoi-
da Convenção Internacional sobre os Di- mento de uma ou duas fontes, quando muito – as quais,
reitos da Criança; de o Brasil ter um Plano não raro, corroboraram a tese previamente definida pelo
Nacional de Enfrentamento; das parcas jornalista. Por isso, é importante que as fontes de informa-
rubricas orçamentárias para esta política; ção estejam atentas às oportunidades de colaborarem na
das limitações do Direito Penal brasileiro; de produção da notícia, sugerindo ao repórter outras pessoas
que nós queremos denunciar o crime, mas
e documentos que possam contribuir para a construção de
queremos cobrar atendimento de qualidade
conteúdo mais contextualizado e abrangente.
às vítimas. As escolas profissionais formam
para o mercado e não para estes temas. É
nossa responsabilidade oferecer um reper- Princípio do contraditório
tório conceitual e existencial que aquele Conforme vimos, na cobertura jornalística é sempre
jovem profissional não teve. Oferecer-lhe importante haver pessoas que repercutam o assunto
de forma didática (mas não simplista) este sob diferentes pontos de vista. Embora a diversidade
repertório é responsabilidade pública”. de fontes seja essencial, ela deixa de ter fundamento
Renato Roseno, se todos os atores ouvidos defenderem exatamente o
advogado, é ex-coordenador do Cedeca Ceará, mesmo argumento.
da Anced e ex-conselheiro do Conanda.
Atualmente assessora organizações e Em uma matéria sobre orçamento da educação, por
movimentos de direitos humanos. exemplo, espera-se encontrar tanto leituras críticas a res-
peito dos recursos destinados para a área quanto as razões
dos gestores governamentais. O importante é que sejam
26. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 25
ouvidas – de ambos os lados – pessoas que possuam um Direto da redação
discurso qualificado e bem fundamentado. Assim, serão
oferecidos subsídios ao fortalecimento do debate público
em torno das políticas para o setor. “Uma boa fonte na área de Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adoles-
Embora a pauta da Exploração Sexual Comercial de
centes, ou em qualquer outro tema, deve
Crianças e Adolescentes não seja polarizada entre os que
falar a verdade. Ser transparente. Não
são contra e os que são a favor do enfrentamento da ques- pode ficar se escondendo atrás da legis-
tão – já que hoje trata-se de um crime inaceitável perante lação para não revelar dados. Pode pedir
a opinião pública –, o princípio do contraditório pode (e sigilo e discrição para proteger a si e a
deve) ser observado por meio da discussão sobre a eficácia outros envolvidos, mas jamais negar uma
de determinada política pública ou do método de atendi- informação pública. Repórter e fonte têm
mento de uma unidade de ressocialização, por exemplo. o mesmo objetivo, embora os caminhos
Além disso, a matéria deve buscar garantir espaço aos ato- possam ser diferentes”.
res que representem os diferentes aspectos daquela ques- Nelcira Nascimento,
tão: o explorador, o poder público, psicólogos, familiares, Rádio Gaúcha (RS),
vencedora da 1ª edição do Concurso Tim Lopes
entidades de atendimento às vítimas, etc. de Investigação Jornalística,
categoria Rádio.
Valor-notícia
Um dilema freqüente de instituições que dialogam com
a imprensa é definir o que deve ser repassado para os
meios de comunicação. Quais dados e informações po-
dem interessar aos jornais, revistas, rádios, tevês ou
sites? Por que alguns acontecimentos são notícia e ou-
tros não?
Para ser considerado “notícia” o fato deve possuir
algumas características básicas, também chamadas, nos
estudos sobre o jornalismo, de “valores-notícia”. Entre
os principais estão:
27. 26 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
• Caráter inédito. lificadas sobre a ESCCA, especialmente no
• Atualidade. que se refere ao monitoramento das políticas
públicas na área.
• Impacto que pode exercer sobre as pessoas
e sobre suas vidas. Relacionamento com as redações
• Curiosidade que desperta. Além de reconhecer os meios de comunicação
• Grau de imprevisibilidade e/ou improba- como potenciais aliados estratégicos, as fontes
bilidade. de informação precisam estar atentas a aspec-
tos simples, mas fundamentais, para o forta-
• Proximidade com o acontecimento. lecimento de sua relação com as redações. Vale
• Nível de importância dos envolvidos. apontar algumas dicas gerais:
Sendo assim, não faz sentido tentar em- • O tempo de fechamento dos conteúdos
placar nos meios jornalísticos uma pauta de- jornalísticos é escasso. Não faz sentido
satualizada, desgastada ou que desperta pouco querer ser perfeccionista ao extremo e
interesse no público daquele veículo ou local. É demorar para dar o retorno ao repórter.
preciso que organizações e fontes de informa- Por isso, procurar saber o prazo que ele
ção repensem suas estratégias comunicacionais tem para concluir a matéria deve ser uma
com freqüência, buscando aprimorar a forma preocupação constante da fonte. Nos casos
de apresentar os fatos aos órgãos de imprensa em que não for possível disponibilizar as
– de tal maneira que aumentem a possibilidade informações em tempo hábil, é indispen-
de serem considerados “notícia”. sável fazer um primeiro atendimento e ex-
As organizações devem sempre ter em plicar a situação ao jornalista.
foco que o diálogo com a imprensa, mais do • Deixar de dar retorno a uma consulta da
que garantir espaço para suas agendas ins- redação é uma situação ainda mais deli-
titucionais, é uma oportunidade para a pro- cada se foi sua organização que mobilizou
moção de um debate mais amplo sobre a te- a imprensa. Nesse caso, é essencial ga-
mática. Por isso, é fundamental que estejam rantir espaço na agenda para responder
preparadas para aportar informações qua- às demandas.
28. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 27
• Deve-se evitar o excesso de releases (su- ângulo ou o enfoque que considerem mais
gestões de pautas) encaminhados à im- apropriados para a reportagem, com o ob-
prensa. Trata-se de um recurso a ser jetivo de facilitar o trabalho jornalístico.
utilizado somente em situações que justi- Entretanto, a palavra final é sempre do re-
fiquem a mobilização dos meios de comu- pórter ou do editor.
nicação. Encher as caixas de e-mail dos
jornalistas com sugestões de pautas sobre • Pedir para ver o texto ou a reportagem an-
assuntos de pouca importância geralmen- tes de ser publicada ou ir ao ar demonstra
te provoca resistência dos profissionais que a fonte não confia naquele profissio-
em relação àquela instituição/fonte (veja nal que a entrevistou. Além disso, o ato
mais sobre releases no Capítulo 4). pode ser visto pelo repórter como forma
de intimidá-lo ou de interferir no seu
• Objetividade é fundamental no relacio- trabalho. A melhor maneira de evitar
namento com a imprensa. É importante essas situações é certificar-se de que o
que as fontes de informação busquem jornalista compreendeu bem o conteúdo
responder ao que lhes foi perguntado. repassado durante a conversa.
Ser prolixo, além de não facilitar o traba-
lho do jornalista, pode abrir espaço para • Ao constatar ter feito repasse de dados in-
interpretações amplas e distorcidas da corretos, é dever da fonte informar o jorna-
mensagem que realmente se deseja pas- lista o mais rápido possível. Além de evitar
sar. Mas atenção: isso não significa que a publicação de uma informação inverídica,
a fonte não possa contribuir para a am- esta atitude revela o comprometimento e a
pliação e o enriquecimento da cobertura, preocupação da fonte com a qualidade da
contextualizando, por exemplo, dados e reportagem, gerando, inclusive, mais con-
estatísticas sobre o problema. fiança por parte do repórter.
• Não cabe à fonte interferir na edição da • Fazer insinuações sobre aspectos que não
matéria, dizendo ao repórter o que deve se deseja ou não se possa mencionar aber-
e o que não deve constar no texto. O que tamente abre espaço para que o jornalista
fontes qualificadas podem fazer é sugerir o possa fazer interpretações equivocadas.
29. 28 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Pauta exclusiva • Ao fazer declarações para qualquer veículo de comu-
nicação, é importante que a fonte de informação não
se afaste dos conceitos e convicções defendidas pela
A idéia da pauta exclusiva é que a pu-
blicação da informação cause grande
instituição a qual representa.
impacto entre a população e possa gerar • Discriminar um veículo de comunicação qualquer por
repercussões em toda a mídia, além de este não se enquadrar no grupo dos chamados “gran-
provocar o posicionamento das autorida- des” é um erro que não pode ser cometido por fontes
des públicas em relação ao problema em
de informação qualificadas. O mesmo se aplica em
foco. Nesses casos, deve-se manter um
contato telefônico inicial com o repórter
relação a possíveis posicionamentos políticos ou ide-
e, em seguida, estabelecer encontros ológicos dos veículos.
para que sejam repassados todos os • Os meios alternativos de comunicação – como rá-
detalhes, com o intuito de garantir um dios e televisões comunitárias e jornais de bairro
melhor aproveitamento da informação.
– atingem grande público, principalmente nas co-
Embora a pauta exclusiva seja uma es-
tratégia importante de comunicação, é
munidades populares. Firmar parcerias com esses
sempre importante avaliar com cuidado veículos é uma forma interessante de ampliar o raio
se a exclusividade é a melhor forma de de ação das entidades do Terceiro Setor na missão
divulgação de uma determinada pauta de educar a sociedade para prevenir e denunciar a
de impacto. Dependendo do assunto, faz violência sexual.
mais sentido disponibilizá-lo para vários
ou todos os veículos de comunicação.
• Repassar uma informação com exclusividade para
determinado veículo faz parte da estratégia de co-
municação e divulgação de qualquer instituição. No
entanto, é preciso tomar cuidado para que haja rodí-
zio entre meios e profissionais, de modo a garantir
que o diálogo não esteja focado em um grupo muito
restrito (veja mais na nota ao lado).
• Quando não se sentir qualificada ou não quiser tra-
tar de um assunto, a fonte deve dizer isso claramente
30. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 29
ao jornalista e se colocar à disposição para esclare- Identidade resguardada
cimentos futuros sobre outros temas. Além disso,
é importante indicar para o repórter fontes de in-
No Brasil, é garantido ao jornalista o di-
formação que possam responder à demanda que ele reito de não revelar a sua fonte de in-
possui no momento. formação. Geralmente este recurso é
• Quando o assunto é Exploração Sexual Comercial de utilizado em situações complexas, nas
Crianças e Adolescentes, muitos profissionais não quais a integridade física ou moral da
fonte pode ser violada. Mas também
querem dar entrevistas, temendo represálias por
ocorre quando a fonte não quer aparecer
parte das pessoas envolvidas no crime. É importan- por outras razões, sejam elas pessoais
te saber que o jornalista tem meios para resguardar a ou profissionais. Nesses casos, ninguém
identidade da fonte (veja mais na nota ao lado). pode obrigar o jornalista a dizer quem foi
• É importante buscar estratégias para estreitar o re- a pessoa ou o órgão que lhe forneceu a
informação. Assim, alguém que tenha
lacionamento com a redação. Dar telefonemas ou
algo importante a revelar pode sentir-se
enviar cartas aos jornalistas, quando publicam ma- seguro a fazê-lo, em segredo.
térias de qualidade, são exemplos de ações nesse
sentido. As críticas também devem ser feitas, mas
em tom ponderado, apresentando argumentos e in-
dicando caminhos para o repórter melhorar o enfo-
que em outras oportunidades.
• Uma boa estratégia de comunicação deve buscar man-
ter uma relação não só com os repórteres. É impor-
tante buscar acesso também a editores e diretores de
redação, pois esses profissionais são os responsáveis
pelo foco editorial das matérias, com poder para alte-
rar o ponto de vista da cobertura.
• Organizações governamentais e não-governamen-
tais podem e devem estabelecer parcerias com os
31. 30 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Gerenciamento de crises
A relação com a imprensa não é uma via de mão • Ignorar a demanda gerada pela imprensa não
única. Da mesma forma que as organizações é a melhor estratégia nunca. Atenda a todas as
da sociedade civil buscam acessar os meios de solicitações de explicação/informação e, se ne-
comunicação, estes também demandam delas cessário, convoque uma coletiva de imprensa.
informações e posicionamentos. No entanto,
• Não responda no susto. É importante sempre
nem sempre este é um diálogo amistoso. Podem
avaliar o melhor momento para dar as expli-
também ocorrer situações de conflito, nas quais a cações e somente oferecê-las quando todos
demanda gerada por um lado não corresponde à os posicionamentos institucionais estiverem
resposta oferecida pelo outro. E, geralmente, em bem definidos.
momentos assim as bases desse relacionamento
ficam estremecidas. • Por outro lado, o tempo da imprensa é curto;
Ter habilidade para gerenciar crises – como não faz sentido estender em demasia o prazo
denúncias de maus-tratos em instituições de in- para apresentar respostas eficazes.
ternação, ou de mau uso de recursos públicos, • É importante saber o quê e para quem falar,
por exemplo – revela maturidade e clareza quanto atendendo às especificidades de cada tipo de
à atuação pública exigida de instituições sérias e mídia (rádio, tevê, impresso, internet).
comprometidas com a qualidade e a transparência
• Busque fazer uso de linguagem clara e de
das suas ações.
fácil compreensão.
O que vem a seguir são algumas dicas de como
as organizações devem agir diante de fatos e acon- • Manter o equilíbrio emocional é fator essen-
tecimentos inesperados: cial nessas situações.
32. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 31
veículos de comunicação e com as
faculdades de jornalismo, estimu-
lando discussões sobre o tema com
o qual trabalham. Isto pode ocorrer
por meio da realização de cursos es-
• Estar atento para não falar nada que não pecíficos de curta ou média duração,
deva ser publicado ou que não possa ser ple- palestras, seminários e grupos de de-
namente esclarecido. bates. Essa é uma forma de conscien-
tizar os atuais e futuros profissionais
• Não faz sentido mascarar o problema. Ser
a trabalhar o assunto com a sensibili-
verdadeiro é o caminho mais eficiente para
dade necessária, objetivando reper-
resolver a situação da melhor forma possível.
cussão positiva junto ao público.
• Procure não privilegiar este ou aquele veícu-
lo. Em momentos de crise o conteúdo trans- Diálogo pedagógico
mitido à imprensa deve ser igual para todos. Como já reiteramos até aqui, a respon-
sabilidade pela qualidade da informação
• É necessário eleger um representante da institui-
pública veiculada em jornais, revistas,
ção para atuar como o porta-voz da crise. Essa
rádios, tevês e sites de todo o país não é
pessoa deve ser segura e conhecer a fundo to-
atribuição exclusiva dos jornalistas. A
dos os detalhes do que está sendo questionado.
produção cada vez mais “generalista” da
• Se necessário, busque a ajuda de um espe- imprensa praticamente não permite que
cialista. Existem no mercado profissionais repórteres e editores se especializem
capacitados para agir em crises de imagem. em uma ou outra temática. Com exceção
das editorias consideradas “nobres” pe-
Fonte: A era do escândalo: lições, relatos e bastidores
los veículos de comunicação – tais como
de quem viveu as grandes crises de imagem, Mário
política, economia e internacional –, a
Rosa. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
tendência é que os assuntos sejam cober-
tos por profissionais capacitados apenas
na prática jornalística em si. Lamenta-
33. 32 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Direto da redação velmente, com freqüência este é o caso das temáticas
da agenda social – incluindo a Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes.
“O prazo das redações é sempre mínimo Tal realidade certamente não representa o contexto
e com pouca negociação. Para esse tipo
de trabalho ideal ou desejado pelos jornalistas. Trata-
de matéria (ESCCA), no entanto, é sem-
se de uma distorção provocada, em grande parte, por
pre necessário o maior cuidado possível.
Checar, rechecar, cruzar e voltar a bater uma herança cultural perversa – em um dos países com
as informações, para que nada saia do maiores índices de desigualdade do planeta, a temáti-
prumo. Qualquer falha pode virar uma ca social não é entendida como pauta prioritária. Esse
acusação leviana. As fontes precisam ter contexto termina agravado por questões mercadológi-
noção de que geralmente os prazos são cas relacionadas, inclusive, à própria sobrevivência dos
curtíssimos, mas que existem casos em veículos de comunicação – que operam, como vimos,
que a denúncia precisa ser apurada ao com redações cada vez mais enxutas. No entanto, algu-
máximo, para que a redação se resguar- mas experiências no sentido de superar esse formato
de de processos judiciais e problemas têm sido desenvolvidas em redações brasileiras, parte
similares. É preciso perceber esses tem-
delas motivadas pelo fortalecimento da agenda social
pos diferentes”.
registrado no âmbito do governo de Luiz Inácio Lula da
Cláudio Ribeiro,
O Povo (CE), vencedor da 3ª edição do
Silva. Ainda assim, esta é uma lógica de trabalho que
Concurso Tim Lopes de Investigação Jornalística, precisa ser revista em muitos dos veículos de comuni-
categoria Temática Especial. cação do país.
Nesse cenário, não é excessivo sublinhar que a atu-
ação das fontes de informação torna-se fator muito im-
portante para um bom resultado final da reportagem.
Uma fonte bem preparada – e consciente do seu papel
nesse processo – sabe que está diante de um profissio-
nal da área de comunicação e não de um especialista na
temática X ou Y. Por isso, conforme temos destacado, é
fundamental que a questão seja apresentada da manei-
ra mais simples, prática e objetiva possível.
34. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 33
O uso de jargões ou de expressões técni- a imprensa. São cursos de curta duração, que
cas, por exemplo, não facilita em nada a com- repassam dicas e orientações sobre como dia-
preensão da mensagem que se quer passar. logar melhor com os meios de comunicação,
Pelo contrário, além de dificultar o entendi- como se sair bem em entrevistas para os dife-
mento, pode gerar um distanciamento entre rentes tipos de mídia e como agir em situações
fonte e repórter – capaz de comprometer não de crise ou comoção.
só a qualidade do material, mas a inclusão No entanto, além de não serem, na
daquela abordagem no texto a ser publicado. maioria das vezes, elaborados para insti-
Ter paciência e explicar o assunto quan- tuições da sociedade civil, respeitando suas
tas vezes forem necessárias é outro indi- singularidades, esses cursos – chamados de
cativo de uma boa fonte de informação. media training – costumam apresentar um
Dificilmente um jornalista coloca um dado custo alto. Para capacitar cinco pessoas, por
equivocado na matéria de propósito. Qua- exemplo, certas empresas chegam a cobrar
se sempre o erro é resultado da pressa, que até R$ 20 mil, quantia fora do orçamento
leva à má compreensão durante o processo da maior parte das organizações brasileiras
de captação das informações. Por isso, é com foco social.
importante certificar-se de que o conteúdo Uma forma de superar essa dificuldade é
repassado foi compreendido em toda a sua buscar parcerias com organizações não-go-
amplitude, sem espaço para interpretações vernamentais que atuam com foco na inter-
dúbias ou equivocadas. Não se furtar a repe- face mídia–direitos humanos. Algumas de-
tir uma informação sempre que for preciso las não só oferecem material de orientação
pode ser o fator determinante para uma re- sobre como dialogar de forma mais eficien-
portagem de melhor ou pior qualidade. te com a imprensa, como também realizam
cursos de capacitação para atores sociais a
Capacitação para o relacionamento preços bem mais acessíveis. De resto, se-
com a mídia guir algumas dicas simples, ter bom senso e
Atualmente, existem diversas empresas espe- buscar dominar amplamente o assunto a ser
cializadas em oferecer treinamento com o ob- abordado são fatores que tendem a facilitar
jetivo de preparar para o relacionamento com muito essa relação.
35. 34 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
Especificidades loque em contato com crianças vitimadas.
A apresentação de um caso real traz o proble-
da ESCCA ma mais para perto de quem acessa a notícia e
causa um impacto maior junto à opinião pú-
blica como um todo. Apontar que milhares de
De modo geral, a conduta a ser adotada pelas crianças e adolescentes brasileiros sofrem com
fontes de informação requer os mesmos cui- a ESCCA não tem o mesmo peso, do ponto de
dados para toda e qualquer área de atuação. vista da sensibilização do público, que relatar
No entanto, quando o assunto em pauta é a em detalhes a história de uma menina de 16
Exploração Sexual Comercial de Crianças e anos que começou a ser explorada aos 13 e pas-
Adolescentes, alguns aspectos exigem aten- sou por toda a sorte de problemas e desrespei-
ção redobrada. tos. “Via de regra os jornalistas buscam retratar
Além da escassez de dados quantitativos um lado bem cruel das situações de violação de
sobre o problema (os quais facilitariam a in- direitos de crianças e adolescentes, ainda se-
terlocução com os meios de comunicação), guindo a lógica de que o que choca a sociedade
especialistas em violência sexual cometida deve servir como instrumento para a mobili-
contra meninos e meninas lidam com um zação”, lembra Carolina Padilha, coordenadora
conjunto amplo de questões bastante delica- de programas da Childhood Brasil.
das. Podemos mencionar como exemplo os Qual deve ser, portanto, a postura da
aspectos culturais e legais envolvidos, além fonte diante desse tipo de solicitação? Será
da necessidade de orientar a mídia quanto aos que sempre dizer não é a melhor solução? De
riscos de exposição indevida e revitimização acordo com a consultora em violência sexu-
da criança ou adolescente explorado sexual- al contra crianças e adolescentes, Marlene
mente. Trata-se, portanto, de uma temática de Vaz, o ideal é que o especialista, de forma
difícil manejo. didática, ajude o jornalista a compreender a
razão pela qual os vitimados não devem ser
Busca por personagens expostos. Ao mesmo tempo, caberia a ele
Geralmente, ao produzir uma matéria sobre oferecer dicas de quem pode ser entrevista-
ESCCA, o jornalista solicita à fonte que o co- do e/ou fotografado.
36. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 35
Fontes que atuam em instituições de atendimento às Direto da redação
vítimas podem identificar mais facilmente aqueles ga-
rotos ou garotas mais bem preparados para falar sobre
o assunto. Vale lembrar que, no processo de entrevista, “A boa fonte sobre Exploração Sexual
possivelmente a vítima reviverá muito do sofrimento ex- Comercial de Crianças e Adolescentes é
aquela que tem formação e sensibilidade
perimentado durante o tempo em que foi explorada. É por
para repassar informações ao jornalista
isso que só devem ser indicados meninos ou meninas que dentro dos critérios de respeito aos di-
já tenham passado por um amplo processo de acompa- reitos humanos. Ela não utiliza as vítimas
nhamento e tratamento psicológico. como ‘troféu’ para coroar o seu trabalho,
Não dá para esquecer, porém, que embora a impren- ou seja, não expõe crianças e adolescen-
sa desempenhe um papel importante no enfrentamento tes para dizer que fez o seu papel. Além
a este problema, algumas vezes a cobertura pende para o disso, está sempre disposta a contribuir
viés sensacionalista. Por isto, é importante que um pro- com as reflexões levantadas nos meios
fissional da instituição discuta com o jornalista a pauta de comunicação e indica aos jornalistas
da conversa, de forma a definirem juntos as melhores pautas novas e interessantes”.
perguntas a serem feitas. Além disso, ele deve acompa- Ana Quezado,
TV Verdes Mares (CE),
nhar o repórter durante toda a entrevista. vencedora da 1ª edição do Concurso Tim Lopes
Em resumo, cabe à instituição checar o nível de com- de Investigação Jornalística,
preensão do profissional de imprensa sobre o assunto e categoria Televisão.
suas intenções/propostas em relação àquela cobertura.
A mídia precisa entender que proteger a criança ou o
adolescente violentado deve ser prioridade e que nem
sempre a entrevista é a única ou a melhor alternativa.
Muitas vezes uma descrição bem feita e sensível pode
ser tão esclarecedora quanto um depoimento. De qual-
quer forma, em último caso, é mais sábio não permitir
que a entrevista seja realizada. Afinal, é menos grave
perder a reportagem do que revitimizar um menino ou
uma menina.
37. 36 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
“Estamos falando de uma violência com que o autor da matéria seja capaz de, sem ser
conseqüências muito complexas. Uma reda- piegas ou sensacionalista, descrever que há
ção fria e desprovida de sensibilidade não al- elementos muito profundos da subjetividade
cança a magnitude do problema. Redigir sobre humana envolvidos. Reconhecer esta subje-
violência sexual não é a mesma coisa que redi- tividade é chave, inclusive, para compreender
gir sobre outras formas de violência como, por porque é melhor não forçar um depoimento”,
exemplo, um assalto a banco ou mesmo sobre sintetiza Renato Roseno, assessor de organi-
um problema no sistema de transportes. Exige zações e movimentos de direitos humanos.
Tribunal midiático: as fontes de informação e o julgamento precipitado
Diante de crimes bárbaros – como os de violência sexual contra crianças e adolescentes – é comum que o desejo de
responsabilização e justiça imediata tome corpo na sociedade. Via de regra, essa ânsia punitiva – que também se reflete na
imprensa – se mostra de duas diferentes formas: a responsabilização da vítima ou o julgamento precipitado do agressor.
Como sabemos, não são raras as reportagens sobre ESCCA que estampam vítimas – especialmente meninas
– sob ângulos que tendem a reforçar uma imagem de sedução e consentimento. Esse é um equívoco perigoso e
diante do qual as fontes de informação devem sempre estar atentas. É importante esclarecer aos profissionais da
notícia que crianças e adolescentes são suscetíveis a serem manipulados, induzidos ou pressionados a consentir
relacionamentos, atividades e contratos e que, acima de tudo, meninos e meninas são indivíduos em processo de
desenvolvimento, donde precisam ter seus direitos fundamentais garantidos.
Outro deslize ao qual as fontes de informação devem estar alertas diz respeito a prejulgamentos do agressor.
Por vezes, a cobertura da imprensa tende a ganhar um caráter policialesco, reforçando julgamentos precipitados e
de apelo punitivo – que em nada contribuem para o debate acerca da solução para o problema em seu aspecto mais
amplo. Uma contribuição que as fontes podem oferecer para tornar essa cobertura mais equilibrada é ressaltar junto
ao jornalista a importância de uma abordagem esclarecedora e educativa, e que também assegure ao agressor o
direito de receber o tratamento judicial legalmente determinado pelas instâncias competentes.
38. EnfrEntamEnto à Exploração SExual dE CriançaS E adolESCEntES 37
Cuidados com imagens fia ou imagem eletrônica para veicular nos
Um dos desafios de quem atua na interface mí- meios de comunicação. Embora a fonte de
dia e violência sexual é administrar o uso de fo- informação não tenha ingerência sobre o
tos e vídeos em jornais, revistas, tevês e sites. processo de edição da reportagem, é papel
Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente dela alertar o jornalista para os cuidados ne-
seja claro – em seu artigo 17 – com relação à in- cessários nessa área, esclarecendo dúvidas e
violabilidade da integridade física, psíquica e orientando o profissional a agir segundo as
moral da criança e do adolescente, abrangen- diretrizes estabelecidas no ECA. Confira a
do a preservação da imagem e da identidade de seguir algumas sugestões:
meninos e meninas, ainda é intensa a demanda
• Orientar o jornalista a não utilizar tarjas
dos meios de comunicação por fotografias ou
pretas nos rostos das crianças. Além de não
imagens eletrônicas de garotos e garotas víti-
garantir a proteção da identidade da vítima,
mas das mais diferentes formas de violação de
que pode ser identificada por meio de ou-
direitos, inclusive a exploração sexual.
tras partes do corpo ou até mesmo por rou-
Esta demanda tem relação direta com a
pas e objetos pessoais, esses recursos ten-
prática jornalística em si. Quem nunca ouviu
dem a reforçar estereótipos e passar uma
dizer que uma imagem vale mais do que mil
imagem negativa do menino ou da menina.
palavras? Nos meios de comunicação im-
pressos – jornais e revistas –, a utilização de • Há uma outra prática com relação à pre-
imagens funciona como um chamariz para o servação da vítima que precisa ser in-
texto. Já no caso da mídia televisiva, a função corporada ao fazer jornalístico: evitar a
da imagem vai além: ela representa a própria identificação de crianças e adolescentes
razão de ser do veículo de comunicação. Em explorados por meio do uso das iniciais
ambos os casos, a imagem ajuda a reforçar a dos nomes. Além de fortalecer um as-
idéia que se quer passar sobre o assunto em pecto pejorativo construído ao longo dos
discussão e pode, se mal utilizada, contribuir anos, se associado a outras informações
para disseminar estereótipos e preconceitos. contidas no texto, esse dado pode per-
Por isso, é preciso que se tenha muito mitir facilmente a identificação da vítima
cuidado na hora de selecionar uma fotogra- por parentes, conhecidos ou vizinhos.
39. 38 Guia de RefeRência paRa o diáloGo com a mídia
• Não adianta preservar o nome da vítima e, • Recursos técnicos como a contraluz, a
ao mesmo tempo, estampar uma foto ou distorção da voz e o desfocar a imagem da
mencionar nomes de parentes ou fornecer criança ou do adolescente podem ser uti-
o endereço do local onde a criança mora. lizados pelos meios de comunicação no
Embora pareça impensável, esta ocorrên- sentido de preservarem a identidade e a
cia é mais comum na cobertura jornalísti- integridade de meninos e meninas vio-
ca do que se imagina. lentados sexualmente.
Abusos por parte dos meios de comunicação
Como visto, os profissionais da imprensa estão sujeitos a incorrer em equívocos na cobertura jornalística cotidiana, espe-
cialmente quando abordam temáticas mais complexas – como é o caso da violência sexual contra meninos e meninas.
Nesses casos, uma atitude proativa das fontes de informação é buscar um diálogo franco com o jornalista, esclarecendo
as especificidades da questão e os caminhos para uma cobertura mais qualificada. Esse, inclusive, pode ser um caminho
importante para a construção de uma relação profícua com aquele repórter.
Nem sempre, no entanto, esse diálogo propositivo alcança o resultado esperado. Como em todas as áreas, o jor-
nalismo também está sujeito a profissionais pouco éticos e que, deliberadamente, utilizam o espaço midiático como
palco para desrespeitos de direitos. Para esses casos, é importante saber que a sociedade dispõe de instrumentos
legais para coibir abusos por parte dos meios de comunicação.
Em novembro de 2005, por exemplo, uma decisão judicial inédita tirou do ar por 60 dias o programa Tarde Quen-
te, exibido pela Rede TV! e que tinha à frente o apresentador João Kléber. A suspensão foi determinada pelo Poder
Judiciário, que atendeu a denúncias sobre a constante violação de direitos humanos cometida pela atração Durante
mais de um mês, a Rede TV! foi obrigada a exibir, no horário antes ocupado por João Kleber, o Direitos de Respos-
ta – série de 30 programas produzidos em conjunto por seis entidades da sociedade civil organizada, entre elas o
Intervozes, que abordava temas como direitos humanos, diversidade sexual e direitos da infância e adolescência.
40. Por Dentro C onhecer bem os processos de trabalho por trás da
produção da notícia constitui estratégia central para
da Redação aqueles que pretendem dialogar mais sistematica-
mente com os meios de comunicação. Além de saber
discernir os diferentes papéis que cabem à imprensa
e às fontes de informação nas dinâmicas que viabili-
zam a inserção de uma determinada temática no de-
bate público, é também necessário entender quais os
recursos adequados para alcançar os diferentes meios
existentes. Os procedimentos podem variar não so-
mente de acordo com o tipo de mídia: jornal, revista,
rádio, tevê ou internet. Cada veículo de comunicação
possui lógica própria de trabalho, o que demanda das
fontes uma abordagem que leve em conta tanto suas
características positivas quanto suas limitações.