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Entrevista




                                       Classe C: uma
                                       explosão de crédito
                                       e consumo
                                       Entrevista com Nelsom Marangoni



                                          N
                                          A
                                                      esta entrevista com Nelsom Marangoni, vice-
                                                      presidente do IBOPE, a questão principal foi a
                                                      conceituação do que vem a ser a nova classe C
                                             que está presente na mídia. Com sua longa experiência de
                                             psicólogo e pesquisador, Marangoni diz que a nova classe
                                             média não condiz com a definição clássica e a realidade
                                             mercadológica da classe média tradicional. Sem obscurecer
                                             o imenso significado que tem a ascendência da nova classe
                                             média, Marangoni prefere creditá-la a uma explosão de
                                             crédito e consumo, cuja sustentabilidade pode ser posta
                                             em dúvida. Para que essa nova classe média se aproxime
                                             dos padrões da classe média tradicional, serão necessários
                                             muitos anos de progresso social, educacional e cultural.

                                             Essa discrepância entre a tese da nova classe média, defendida
                                             pelo IBGE/FGV, e o “Critério Brasil”, utilizado pelas empresas
                                             de pesquisas não é apenas teórica. Ela pode também influir em
                                             muitas decisões mercadológicas importantes.



                                                                                                        E n t r E v i s ta c o n c E d i d a a
                                                                                                             Francisco Gracioso




8
    R E V I S T A   D A   E S P M –   maio / junho de   2011
}No Brasil, quando se fala de classe
                        média, existe uma idealização.~
Debora Matos Fabricio




                                                                                                              9
                                                     maio / junho de   2011 – R E V I S T A   D A   E S P M
ENTRE VIS TA




                              GRACIOSO − A classe média hoje repre-        média com renda familiar de R$ 1.200,00
                              sentaria 53% da população brasileira. Os     a R$ 5.174,00. Já o “Critério Brasil” con-
                              critérios de classificação social do mundo   sidera uma renda média de R$ 1.170,00 a
                              da pesquisa de mercado sempre foram          R$ 1.700,00. A questão é que as empresas
                              polêmicos. No passado houve até mesmo        utilizam o “Critério Brasil”, enquanto tudo
                              uma cisão entre a ABIPEME (Associação        que é publicado na mídia retrata a classe C
                              Brasileira de Institutos de Pesquisa de      da FGV, que está baseada na PNAD do IBGE,
                              Mercado) e a ANEP (Associação Nacional       mas fala das classes B1, B2 e C1. A classe
                              de Empresas de Pesquisa), por ocasião da     C2 do “Critério Brasil” não entra na classe
                              tentativa de introdução de um novo crité-    C do Critério da FGV. Imagine a distorção
                              rio. Conhecemos os números do IBGE que       que isso gera no marketing das empresas.
                              serviram de base para a PNAD (Pesquisa       O critério da FGV está errado? Não, é outro
                              Nacional por Amostra de Domicílios), e       critério. O fato é que, no Brasil, quando se
                              todas as projeções. Como você os inter-      fala de classe média, existe uma idealização.
                              preta? Eles realmente nos autorizam a
                              falar de uma nova classe média, que seria    GRACIOSO – É uma versão que nós, como
                              o resultado de uma emergência de quase       brasileiros, gostamos de ouvir. Fala do pro-
                              40 milhões de pessoas?                       gresso, da emergência, da transformação de
                                                                           trabalhadores e consumidores, de pessoas
                              NELSOM − Este é um assunto complicado        que estavam isoladas do mercado. É por isso
                              porque envolve conceitos diferentes. Dois    que pega com tanta facilidade.
                              deles estão em evidência: o conceito de
                              classe a partir do “Critério Brasil”, que    NELSOM − Existe uma teoria em psicolo-
                              é usado pelas empresas, e o conceito da      gia que diz que as pessoas gostam de se
                              Fundação Getulio Vargas (FGV), que fala      enganar. Por isso, quando se fala de um
                              em classe. Fiz um trabalho recente que       crescimento espantoso da classe média, as
                              contesta o que está acontecendo na mídia.    pessoas acabam embarcando nesse sonho, o
                              Temos observado uma idealização da classe    que dificulta e faz perder o foco dos princi-
                              média. O que aparece na mídia − por razões   pais problemas. É a fantasia de que a classe
                              políticas, comerciais ou simples desconhe-   média, agora, pode tudo, com as empresas
                              cimento − é mais uma idealização, como       lançando cada vez ma is produtos pa ra
                              se realmente houvesse uma transformação      esse público. Mas muitas dessas empresas
                              do povo brasileiro. Nesse trabalho levanto   acabam perdendo o foco, por não levar em
                              uma dúvida: há uma mudança social ou         conta as variáveis da realidade.
                              meramente financeira? O “Critério Brasil“
                              estabelece quem tem mais e menos poder       GRACIOSO − E o “Critério Brasil”, usado
                              de compra. O conceito da FGV também é        pelas empresas de pesquisas, como de-
                              baseado em renda, mas fala em uma classe     fine a classe média?



                               }O conceito da FGV fala em uma classe média
                               com renda familiar de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00.
                               Já o “Critério Brasil” considera uma renda média
                               de R$ 1.170,00 a R$ 1.700,00.~

10
     R E V I S T A   D A   E S P M –   maio / junho de   2011
Nelsom
                                                                                                         S o f i a E s Marangoni
                                                                                                                       teves




}O que aparece na mídia, por razões políticas,
comerciais ou simples desconhecimento é mais
uma idealização, como se realmente houvesse uma
transformação do povo brasileiro.~

NELSOM − O “Critério Brasil” estabelece        NELSOM − Já é B1, B2, até na classe A e
a classe média a partir da posse de bens       B. Veja ‘ grande diferença: o Critério da
                                                        a
que g uardam uma relação com a renda           FGV estabelece 11% nas classes A e B e o
e esse é um dos erros. O melhor critério       “Critério Brasil” 33%. O “Critério Brasil”
para potencial de consumo é a renda, só        dá uma margem melhor de atuação para as
que nas pesquisas tradicionais de marke-       empresas porque segmenta mais as classes
ting é impossível obter esse dado, seja por    A e B. Já os 11% da FGV é mais difícil seg-
desconhecimento, seja por medo de dizer        mentar, porque está tudo concentrado na
quanto se ganha. Então, é preciso usar o       classe C, que eles chamam de classe média.
método que estime essa renda − por meio
da posse de bens −, o que pode levar à dis-    GRACIOSO − O “Critério Brasil” também
torção. O “Critério Brasil” mede o mesmo       divide em cinco classes?
tamanho da classe média ou da classe C
do Critério da FGV.                            NELSOM − Sim, como a FGV: A, B, C, D e
                                               E. O “Critério Brasil” evita chamar de clas-
GRACIOSO – Portanto, falamos em algo           se média, porque classe média tem outra
como 50% da população.                         conotação, que, na teoria sociológica, vai
                                               além do poder de compra.
NELSOM – O último dado oficial é de 2009:
49% do “Critério Brasil” e 50% da FGV.         GRACIOSO − É o burguês com tradição
Em 2011, o número da FGV já é 55%, mas         familiar de educação, de cultura, con-
a comparação que faço aqui é 49% contra        servadorismo...
50%. De acordo com o “Critério Brasil”,
pertence à classe C quem ganha hoje entre      NELSOM − No Brasil, o que está havendo
2,1 e 3,2 salários-mínimos, ou seja, de R$     não é uma mobilidade social, mas uma mo-
1.145,00 a R$ 1.745,00. Já o Critério da FGV   bilidade em termos de consumo e poder de
vai de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Veja que o   compra. A mobilidade social significa que
grupo chamado pela mídia de classe média       você sai de uma classe mais baixa e passa
é mais amplo e heterogêneo em termos de        para a classe média. Mas você só pode di-
renda. Se verificarmos a renda média do        zer que participa dessa nova classe se tiver
trabalhador brasileiro, o último dado de       os benefícios sociais e econômicos que ela
maio é de R$ 1.567,00. Então, faz muito        oferece, como cultura, lazer, acesso à saúde,
sentido o “Critério Brasil” considerar quem    educação. Mas aqui ainda há muita carência
ganha até R$ 1.745,00. O outro, que vai até    desse tipo de benefício. Há um movimento,
R$ 5.174,00, me parece exagerado.              uma mobilidade, que é devido ao aspecto
                                               financeiro, mas não existe a contrapartida
GRACIOSO − Para o “Critério Brasil” já é       do social, por isso preferimos não chamar
classe B?                                      de classe média o pessoal da classe C.



                                                                                                                                   11
                                                                        maio / junho de   2011 – R E V I S T A   D A   E S P M
ENTRE VIS TA




                              GRACIOSO − Falando de outros critérios,       NELSOM − É isso mesmo. Também tem o
                              que vão além da renda, o que define a         problema financeiro. Essa situação mostra
                              classe média e a diferencia da parcela cha-   que a ascensão social não está ocorrendo.
                              mada classe C, que pretende se incorporar     São pessoas que emergiram e já pertencem
                              à classe média?                               à classe C, mas não têm os benefícios da
                                                                            classe média porque isso toma tempo. Uma
                              NELSOM − No Brasil, a classe média tra-       pessoa que nasce nas classes mais altas,
                                                                            esse tempo é encurtado porque já faz parte
                              dicional refere-se muito mais à classe B.
                                                                            do contexto, da família. Aqui temos uma
                              Nesse sentido, é uma classe que já tem
                                                                            educação muito falha. Comparando com os
                              acesso a bens de consumo mais sofistica-      Estados Unidos, estamos 60 anos atrasados.
                              dos, como eletrônicos, carros, informática.   Outro dia vi uma pesquisa mos trando que
                              Já essa classe C, que chamo de emergente,     o número de formados no ensino médio
                              ainda não tem acesso a isso. Estamos em       acompanhou o dos anos 1950 nos Estados
                              uma sociedade onde a ascensão dessa classe    Unidos, enquanto a quantidade de for-
                              emergente se dá muito mais pelo consumo       mados nas universidades brasileiras era
                                                                            equivalente à dos anos 1960 nos Estados
                              e pelo crédito. Até levanto uma dúvida:
                                                                            Unidos. Realmente, ainda estamos muito
                              será que estamos vivendo, realmente, uma
                                                                            longe. Também ocupamos um dos piores
                              questão sustentável? Diria que não. Pen-      índices no IDH ( Índice de Desenvolv i-
                              sando em termos de consumo, há essas          mento Humano), onde a variável educação
                              diferenças que, em termos de educação, são    é relevante. No Brasil, a educação é muito
                              muito maiores.                                precária e o pior é que as políticas voltadas
                                                                            para isso são ainda mais precárias.
                              GRACIOSO − Fale um pouco mais sobre
                              educação.                                     GRACIOSO − Não há melhoria à vista.

                              NELSOM − Se imaginarmos que, para haver       NELSOM − Não. Por isso precisamos ter
                              uma ascensão social, é preciso ter acesso     certo cuidado. Estamos diante de uma clas-
                              à educação, isso não faz parte da classe      se C emergente, do ponto de vista de consu-
                                                                            mo e também de pensamento e sentimento.
                              emergente. Temos vários exemplos de jo-
                                                                            Hoje existe menos preconceito em relação
                              vens que se matriculam na faculdade, mas
                                                                            a esse público, que está desenvolvendo um
                              acabam desistindo, por falta de recursos.     sentimento de autoestima e independência.
                              Muitas vezes, não têm conhecimento nem        Deveríamos aproveitar o fato de a classe C
                              formação para se manter.                      estar sendo mais respeitada para ter um
                                                                            crescimento social realmente verdadeiro.
                              GRACIOSO − Segundo o Sindicato das
                              Escolas de Nível Superior de São Paulo, a     GRACIOSO − Nesse contexto, a nova
                              principal causa da desistência é a falta de   classe média deverá votar de forma mais
                              preparo para acompanhar o curso.              conservadora nas próximas eleições?




                                   }As oportunidades de negócios estão em todas
                                   as classes, inclusive nas classes A e B.~

12
     R E V I S T A   D A   E S P M –   maio / junho de   2011
Nelsom
                                                                                                           S o f i a E s Marangoni
                                                                                                                         teves




   }É a fantasia de que a classe média agora pode
   tudo, com as empresas lançando cada vez mais
   produtos para esse público.~


NEL SOM − Eles não têm muita noção                esse número precisa ser visto com cuidado,
disso. Mas deverão votar naqueles que             porque um aumento de renda numa base
oferecerem benef ícios imediatos − que            muito frágil tem um significado diferente
são os econômicos. A última eleição nos           do que um aumento de renda numa base
mostrou isso: nos extremos da renda do            melhor. Por isso digo que esse aumento
trabalhador brasileiro − quem ganha até           de consumo − que é uma realidade − está
t rês sa lá r ios- m í n i mos e ac i ma de dez   mais baseado no crédito do que no au-
salár ios-mínimos − t ivemos uma dife-            mento de renda. É um aumento de renda
rença g ritante entre Dilma e Serra. Na           frágil, que parte de uma base elementar
ú lt i ma pesqu isa de i ntenção de votos,        onde a renda do trabalhador brasileiro é
Dilma estava 20% acima no extremo in-             de R$ 1.567,00. Há um dado interessante
ferior, enquanto Serra tinha 15% a mais           do IBGE mostrando que 70% da renda do
de votos no extremo superior. E, no meio,         trabalhador vão para quatro categorias de
tínhamos uma semelhança, uma espécie              produtos: vestuário, moradia, alimentação
de equivalência. É por isso que Fernando          e transporte.
Henrique Cardoso acertou ao dizer que o
PSDB deveria buscar a diferenciação no            GRACIOSO − Portanto, são despesas es-
meio, porque, nos extremos, seria muito           senciais à vida.
difícil. O pessoal de baixa renda é muito
sensível ao Bolsa Família, à ajuda finan-         NELSOM − Ligadas à sobrevivência. So-
ceira e, na eleição, a variável econômica         bram apenas 30% de R$ 1.500,00, em torno
ainda é determinante.                             de R$ 500,00 para lazer, educação, saúde,
                                                  produtos pessoais...
GRACIOSO − Vamos mudar o foco para
potencial de consumo porque, para as              GRACIOSO − E pagar as dívidas...
empresas, o que interessa é o dinheiro
disponível ao fim do mês nas mãos do              NELSOM − Ou seja, se não tiver crédito,
consumidor. Você reconhece que houve              não há como alimentar todo esse consumo.
realmente esse aumento? A FGV aponta              Há também um certo exagero direcionado
que o crescimento da renda dessa nova             à classe C, como se ela fosse responsável
classe média, nos dois últimos anos, che-         por toda a expansão do consumo. Quando
gou a 4% acima do PIB. Considerando que           verificamos, realmente, os dados, percebe-
o PIB de 2010 foi de 7%, isso significa que       mos uma expansão do consumo em todas
o crescimento da renda dessa nova classe          as classes. Para dar um exemplo, as classes
média chegou a 11%.                               D e E que, em 2002, tinham somente 21
                                                  categorias de produtos na cesta básica, no
NELSOM − De 2003 até 2010, por exemplo,           ano passado passaram a ter 39, quase o
esse crescimento foi equivalente a 25% da         dobro. Então por que esse foco excessivo na
renda do trabalhador brasileiro. Agora,           classe C? Tenho feito um trabalho entre os



                                                                                                                                     13
                                                                          maio / junho de   2011 – R E V I S T A   D A   E S P M

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  • 1. Entrevista Classe C: uma explosão de crédito e consumo Entrevista com Nelsom Marangoni N A esta entrevista com Nelsom Marangoni, vice- presidente do IBOPE, a questão principal foi a conceituação do que vem a ser a nova classe C que está presente na mídia. Com sua longa experiência de psicólogo e pesquisador, Marangoni diz que a nova classe média não condiz com a definição clássica e a realidade mercadológica da classe média tradicional. Sem obscurecer o imenso significado que tem a ascendência da nova classe média, Marangoni prefere creditá-la a uma explosão de crédito e consumo, cuja sustentabilidade pode ser posta em dúvida. Para que essa nova classe média se aproxime dos padrões da classe média tradicional, serão necessários muitos anos de progresso social, educacional e cultural. Essa discrepância entre a tese da nova classe média, defendida pelo IBGE/FGV, e o “Critério Brasil”, utilizado pelas empresas de pesquisas não é apenas teórica. Ela pode também influir em muitas decisões mercadológicas importantes. E n t r E v i s ta c o n c E d i d a a Francisco Gracioso 8 R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011
  • 2. }No Brasil, quando se fala de classe média, existe uma idealização.~ Debora Matos Fabricio 9 maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M
  • 3. ENTRE VIS TA GRACIOSO − A classe média hoje repre- média com renda familiar de R$ 1.200,00 sentaria 53% da população brasileira. Os a R$ 5.174,00. Já o “Critério Brasil” con- critérios de classificação social do mundo sidera uma renda média de R$ 1.170,00 a da pesquisa de mercado sempre foram R$ 1.700,00. A questão é que as empresas polêmicos. No passado houve até mesmo utilizam o “Critério Brasil”, enquanto tudo uma cisão entre a ABIPEME (Associação que é publicado na mídia retrata a classe C Brasileira de Institutos de Pesquisa de da FGV, que está baseada na PNAD do IBGE, Mercado) e a ANEP (Associação Nacional mas fala das classes B1, B2 e C1. A classe de Empresas de Pesquisa), por ocasião da C2 do “Critério Brasil” não entra na classe tentativa de introdução de um novo crité- C do Critério da FGV. Imagine a distorção rio. Conhecemos os números do IBGE que que isso gera no marketing das empresas. serviram de base para a PNAD (Pesquisa O critério da FGV está errado? Não, é outro Nacional por Amostra de Domicílios), e critério. O fato é que, no Brasil, quando se todas as projeções. Como você os inter- fala de classe média, existe uma idealização. preta? Eles realmente nos autorizam a falar de uma nova classe média, que seria GRACIOSO – É uma versão que nós, como o resultado de uma emergência de quase brasileiros, gostamos de ouvir. Fala do pro- 40 milhões de pessoas? gresso, da emergência, da transformação de trabalhadores e consumidores, de pessoas NELSOM − Este é um assunto complicado que estavam isoladas do mercado. É por isso porque envolve conceitos diferentes. Dois que pega com tanta facilidade. deles estão em evidência: o conceito de classe a partir do “Critério Brasil”, que NELSOM − Existe uma teoria em psicolo- é usado pelas empresas, e o conceito da gia que diz que as pessoas gostam de se Fundação Getulio Vargas (FGV), que fala enganar. Por isso, quando se fala de um em classe. Fiz um trabalho recente que crescimento espantoso da classe média, as contesta o que está acontecendo na mídia. pessoas acabam embarcando nesse sonho, o Temos observado uma idealização da classe que dificulta e faz perder o foco dos princi- média. O que aparece na mídia − por razões pais problemas. É a fantasia de que a classe políticas, comerciais ou simples desconhe- média, agora, pode tudo, com as empresas cimento − é mais uma idealização, como lançando cada vez ma is produtos pa ra se realmente houvesse uma transformação esse público. Mas muitas dessas empresas do povo brasileiro. Nesse trabalho levanto acabam perdendo o foco, por não levar em uma dúvida: há uma mudança social ou conta as variáveis da realidade. meramente financeira? O “Critério Brasil“ estabelece quem tem mais e menos poder GRACIOSO − E o “Critério Brasil”, usado de compra. O conceito da FGV também é pelas empresas de pesquisas, como de- baseado em renda, mas fala em uma classe fine a classe média? }O conceito da FGV fala em uma classe média com renda familiar de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Já o “Critério Brasil” considera uma renda média de R$ 1.170,00 a R$ 1.700,00.~ 10 R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011
  • 4. Nelsom S o f i a E s Marangoni teves }O que aparece na mídia, por razões políticas, comerciais ou simples desconhecimento é mais uma idealização, como se realmente houvesse uma transformação do povo brasileiro.~ NELSOM − O “Critério Brasil” estabelece NELSOM − Já é B1, B2, até na classe A e a classe média a partir da posse de bens B. Veja ‘ grande diferença: o Critério da a que g uardam uma relação com a renda FGV estabelece 11% nas classes A e B e o e esse é um dos erros. O melhor critério “Critério Brasil” 33%. O “Critério Brasil” para potencial de consumo é a renda, só dá uma margem melhor de atuação para as que nas pesquisas tradicionais de marke- empresas porque segmenta mais as classes ting é impossível obter esse dado, seja por A e B. Já os 11% da FGV é mais difícil seg- desconhecimento, seja por medo de dizer mentar, porque está tudo concentrado na quanto se ganha. Então, é preciso usar o classe C, que eles chamam de classe média. método que estime essa renda − por meio da posse de bens −, o que pode levar à dis- GRACIOSO − O “Critério Brasil” também torção. O “Critério Brasil” mede o mesmo divide em cinco classes? tamanho da classe média ou da classe C do Critério da FGV. NELSOM − Sim, como a FGV: A, B, C, D e E. O “Critério Brasil” evita chamar de clas- GRACIOSO – Portanto, falamos em algo se média, porque classe média tem outra como 50% da população. conotação, que, na teoria sociológica, vai além do poder de compra. NELSOM – O último dado oficial é de 2009: 49% do “Critério Brasil” e 50% da FGV. GRACIOSO − É o burguês com tradição Em 2011, o número da FGV já é 55%, mas familiar de educação, de cultura, con- a comparação que faço aqui é 49% contra servadorismo... 50%. De acordo com o “Critério Brasil”, pertence à classe C quem ganha hoje entre NELSOM − No Brasil, o que está havendo 2,1 e 3,2 salários-mínimos, ou seja, de R$ não é uma mobilidade social, mas uma mo- 1.145,00 a R$ 1.745,00. Já o Critério da FGV bilidade em termos de consumo e poder de vai de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Veja que o compra. A mobilidade social significa que grupo chamado pela mídia de classe média você sai de uma classe mais baixa e passa é mais amplo e heterogêneo em termos de para a classe média. Mas você só pode di- renda. Se verificarmos a renda média do zer que participa dessa nova classe se tiver trabalhador brasileiro, o último dado de os benefícios sociais e econômicos que ela maio é de R$ 1.567,00. Então, faz muito oferece, como cultura, lazer, acesso à saúde, sentido o “Critério Brasil” considerar quem educação. Mas aqui ainda há muita carência ganha até R$ 1.745,00. O outro, que vai até desse tipo de benefício. Há um movimento, R$ 5.174,00, me parece exagerado. uma mobilidade, que é devido ao aspecto financeiro, mas não existe a contrapartida GRACIOSO − Para o “Critério Brasil” já é do social, por isso preferimos não chamar classe B? de classe média o pessoal da classe C. 11 maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M
  • 5. ENTRE VIS TA GRACIOSO − Falando de outros critérios, NELSOM − É isso mesmo. Também tem o que vão além da renda, o que define a problema financeiro. Essa situação mostra classe média e a diferencia da parcela cha- que a ascensão social não está ocorrendo. mada classe C, que pretende se incorporar São pessoas que emergiram e já pertencem à classe média? à classe C, mas não têm os benefícios da classe média porque isso toma tempo. Uma NELSOM − No Brasil, a classe média tra- pessoa que nasce nas classes mais altas, esse tempo é encurtado porque já faz parte dicional refere-se muito mais à classe B. do contexto, da família. Aqui temos uma Nesse sentido, é uma classe que já tem educação muito falha. Comparando com os acesso a bens de consumo mais sofistica- Estados Unidos, estamos 60 anos atrasados. dos, como eletrônicos, carros, informática. Outro dia vi uma pesquisa mos trando que Já essa classe C, que chamo de emergente, o número de formados no ensino médio ainda não tem acesso a isso. Estamos em acompanhou o dos anos 1950 nos Estados uma sociedade onde a ascensão dessa classe Unidos, enquanto a quantidade de for- emergente se dá muito mais pelo consumo mados nas universidades brasileiras era equivalente à dos anos 1960 nos Estados e pelo crédito. Até levanto uma dúvida: Unidos. Realmente, ainda estamos muito será que estamos vivendo, realmente, uma longe. Também ocupamos um dos piores questão sustentável? Diria que não. Pen- índices no IDH ( Índice de Desenvolv i- sando em termos de consumo, há essas mento Humano), onde a variável educação diferenças que, em termos de educação, são é relevante. No Brasil, a educação é muito muito maiores. precária e o pior é que as políticas voltadas para isso são ainda mais precárias. GRACIOSO − Fale um pouco mais sobre educação. GRACIOSO − Não há melhoria à vista. NELSOM − Se imaginarmos que, para haver NELSOM − Não. Por isso precisamos ter uma ascensão social, é preciso ter acesso certo cuidado. Estamos diante de uma clas- à educação, isso não faz parte da classe se C emergente, do ponto de vista de consu- mo e também de pensamento e sentimento. emergente. Temos vários exemplos de jo- Hoje existe menos preconceito em relação vens que se matriculam na faculdade, mas a esse público, que está desenvolvendo um acabam desistindo, por falta de recursos. sentimento de autoestima e independência. Muitas vezes, não têm conhecimento nem Deveríamos aproveitar o fato de a classe C formação para se manter. estar sendo mais respeitada para ter um crescimento social realmente verdadeiro. GRACIOSO − Segundo o Sindicato das Escolas de Nível Superior de São Paulo, a GRACIOSO − Nesse contexto, a nova principal causa da desistência é a falta de classe média deverá votar de forma mais preparo para acompanhar o curso. conservadora nas próximas eleições? }As oportunidades de negócios estão em todas as classes, inclusive nas classes A e B.~ 12 R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011
  • 6. Nelsom S o f i a E s Marangoni teves }É a fantasia de que a classe média agora pode tudo, com as empresas lançando cada vez mais produtos para esse público.~ NEL SOM − Eles não têm muita noção esse número precisa ser visto com cuidado, disso. Mas deverão votar naqueles que porque um aumento de renda numa base oferecerem benef ícios imediatos − que muito frágil tem um significado diferente são os econômicos. A última eleição nos do que um aumento de renda numa base mostrou isso: nos extremos da renda do melhor. Por isso digo que esse aumento trabalhador brasileiro − quem ganha até de consumo − que é uma realidade − está t rês sa lá r ios- m í n i mos e ac i ma de dez mais baseado no crédito do que no au- salár ios-mínimos − t ivemos uma dife- mento de renda. É um aumento de renda rença g ritante entre Dilma e Serra. Na frágil, que parte de uma base elementar ú lt i ma pesqu isa de i ntenção de votos, onde a renda do trabalhador brasileiro é Dilma estava 20% acima no extremo in- de R$ 1.567,00. Há um dado interessante ferior, enquanto Serra tinha 15% a mais do IBGE mostrando que 70% da renda do de votos no extremo superior. E, no meio, trabalhador vão para quatro categorias de tínhamos uma semelhança, uma espécie produtos: vestuário, moradia, alimentação de equivalência. É por isso que Fernando e transporte. Henrique Cardoso acertou ao dizer que o PSDB deveria buscar a diferenciação no GRACIOSO − Portanto, são despesas es- meio, porque, nos extremos, seria muito senciais à vida. difícil. O pessoal de baixa renda é muito sensível ao Bolsa Família, à ajuda finan- NELSOM − Ligadas à sobrevivência. So- ceira e, na eleição, a variável econômica bram apenas 30% de R$ 1.500,00, em torno ainda é determinante. de R$ 500,00 para lazer, educação, saúde, produtos pessoais... GRACIOSO − Vamos mudar o foco para potencial de consumo porque, para as GRACIOSO − E pagar as dívidas... empresas, o que interessa é o dinheiro disponível ao fim do mês nas mãos do NELSOM − Ou seja, se não tiver crédito, consumidor. Você reconhece que houve não há como alimentar todo esse consumo. realmente esse aumento? A FGV aponta Há também um certo exagero direcionado que o crescimento da renda dessa nova à classe C, como se ela fosse responsável classe média, nos dois últimos anos, che- por toda a expansão do consumo. Quando gou a 4% acima do PIB. Considerando que verificamos, realmente, os dados, percebe- o PIB de 2010 foi de 7%, isso significa que mos uma expansão do consumo em todas o crescimento da renda dessa nova classe as classes. Para dar um exemplo, as classes média chegou a 11%. D e E que, em 2002, tinham somente 21 categorias de produtos na cesta básica, no NELSOM − De 2003 até 2010, por exemplo, ano passado passaram a ter 39, quase o esse crescimento foi equivalente a 25% da dobro. Então por que esse foco excessivo na renda do trabalhador brasileiro. Agora, classe C? Tenho feito um trabalho entre os 13 maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M