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XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004




 Planejamento e controle da produção na Construção Civil para gerencia-
                            mento de custos


                     José Ilo Pereira Filho (CEFET – PR) ilofilho@terra.com.br
                   Rudimar Antunes da Rocha (UFSM) rrudimar@terra.com.br
                 Lauren Morais da silva (CEFET - PR) laurendasilva@terra.com.br




Resumo
O desenvolvimento profissional e tecnológico, que se instaura no contexto atual da constru-
ção civil, requer ações pautadas em projetos capazes de serem executados com seriedade
profissional. O objetivo maior deste estudo volta-se para a comprovação da importância do
planejamento enquanto pressuposto básico, diretamente ligado a fatores decisivos na cons-
trução de uma edificação, como valores econômicos, cumprimento de cronogramas e produ-
tividade. A metodologia utilizada para a concretização desta pesquisa se alicerçou em levan-
tamentos in loco do consumo de materiais para a execução de atividades básicas da constru-
ção civil, como alvenarias, revestimentos e instalações sanitárias. Os resultados comprova-
ram de forma simples e prática as vantagens de utilizar sistemas de planejamento e controle
da produção em obras de edificações para alcançar custos e prazos previstos nos orçamentos
e cronogramas, uma vez que algumas atividades apontaram um acréscimo de custo de produ-
ção em torno de 25% por conseqüência da não utilização de tais sistemas.
Palavras chave: Construção civil, planejamento da produção, gerenciamento de custos.



1. Introdução
Os fatores que definem a competitividade de uma empresa estão ligados às suas característi-
cas empreendedoras e ao dinamismo do ambiente em que operam. Porter (1986, p.17), por
exemplo, ao descrever esta questão, afirma que “as ameaças e as oportunidades da indústria,
definem o meio competitivo com seus riscos conseqüentes e recompensas potenciais”. Desta-
ca-se que, na versão deste estudioso das organizações, o mapeamento do ambiente externo é
crucial ao sucesso empresarial. Dentro do raciocínio de Porter (1986), as estratégias de lide-
rança no custo total têm merecido a devida atenção em períodos de crise econômica. No caso
brasileiro, a indústria da construção civil tem procurado seguir este raciocínio.
Acredita-se também que o poder de competição esteja atrelado à capacidade de inovação,
produção, gestão empresarial e recursos humanos. Além de fatores externos à organização,
como ações governamentais, taxas financeiras, globalização, dentre outros.
Assim, presume-se que competitividade seja a capacidade que uma organização desenvolve
para se adequar ao mercado em que opera, de maneira a garantir e/ou ampliar sua participa-
ção.
Nessa perspectiva, vislumbra-se a necessidade das empresas, pertencentes à indústria da cons-
trução civil, entenderem-se como um sistema organizacional, buscando sincronizar sua pro-



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dução com a realidade e anseios do macrossistema que as envolvem; permitindo-se, desta
forma, definir suas estratégias para manter e/ou conquistar mercado.
2. Planejamento e controle da produção na construção civil
O processo produtivo é a transformação de insumos em produtos, no entanto o resultado final
nem sempre é igual ao que foi projetado. Isso ocorre porque, em todo processo produtivo,
existe uma série de condições necessárias para o alcance das características especificadas, as
quais podem variar desde temperaturas, umidade, especificações de matérias-primas, tempo
de processamento, tipo de equipamento, qualidade da mão-de-obra, entre outras, até o forne-
cimento em tempo hábil destas condições.
Planejar a produção pode ser entendido como a antecipação de todos os fatores que concor-
rem à transformação intencional de insumos em produtos, assim como das conseqüências des-
te processo.
O processo produtivo na construção civil transforma insumos como mão-de-obra, cimento,
areia, cal, brita, aço, tijolos, asfalto, tintas, madeira, telhas, equipamentos, ferramentas e má-
quinas, entre outros tantos, em apartamentos, casas, prédios industriais, estradas, pontes, esco-
las, etc.
Em um processo construtivo, são envolvidos inúmeros fatores que precisam ser administrados
da mesma forma que qualquer outro tipo de produção, utilizando o planejamento e controle da
produção para que as metas da empresa sejam atingidas. No entanto, em muitos casos, as fer-
ramentas do PCP são mal utilizadas ou ineficientes, desperdiçando o potencial produtivo das
empresas.
Para Marchesan (2001), o processo produtivo na construção civil acaba sendo conduzido por
planos informais, elaborados pelos executores da obra que, muitas vezes, são diferentes dos
planos formais. Este autor mostra uma inquietação quanto às situações que favorecem a irre-
gularidade na execução de obras civis.
Observa-se que existe um descompasso entre os encarregados pelo planejamento e os respon-
sáveis pela execução da obra; então os planos podem apresentar incompatibilidades com a
situação real da execução; outro fato é que quando os planos não são controlados, terminam
como entulho no escritório da obra.
Mesmo que as preocupações principais das empresas da construção civil sejam o cumprimen-
to de prazos e orçamentos, se não houver um planejamento e controle da produção eficiente,
torna-se muito difícil cumprir tais contratos, porque certamente as condições previstas não
ocorrerão.
Todo resultado proveniente do sistema de planejamento e controle da produção se transforma
em conhecimento, quando é avaliado corretamente; caso contrário, não proporciona o diag-
nóstico da real condição da produção.
3. Custos
O processo de produção envolve o consumo de recursos, com materiais e mão-de-obra, além
de envolver outras atividades de apoio, que, indiretamente colaboram com a produção, como
transporte, marketing, vendas, manutenção, etc.
Todos estes insumos implicam em recursos financeiros que podem ser aplicados direta ou
indiretamente na produção. Logo, os custos são decorrentes das atividades necessárias para a
materialização do projeto.
Já para Shank (1997), a globalização da economia e a expansão das grandes empresas ofere-
ceram ao mercado muitas alternativas de preços, fazendo com que os consumidores possam

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escolher os mais convenientes. Por isso, as empresas que não despertarem para este fato cor-
rem o risco de perderem a participação no mercado que atuam.
Nos tempos atuais, com a concorrência globalizada, manter informações sobre os custos de
produção é cada vez mais necessário para definir as estratégias da empresa.
Atkinson et al. (2000) advogam que hoje em dia as informações sobre custo servem aos vá-
rios níveis da empresa, para nortear as decisões táticas e operacionais. Estes autores visuali-
zam as informações sobre custos como um sistema que envolve toda a organização.
A partir dos conceitos estudados neste trabalho, nota-se que a definição dos custos de produ-
ção iniciam no planejamento do produto e no planejamento da produção. Logicamente que,
por questões de modificações de preços de insumos, os custos também poderão sofrer altera-
ções, mas isolando-se esta variável, julga-se que é a forma de produção que definira o custo
final.
Desta forma, pode-se unir o planejamento da produção com a definição e garantia do custo
final do produto. Ressaltando o relacionamento entre o PCP e o sistema de custeio.
Na visão de Shank & Golvindarajam (1997, p. 21) “no gerenciamento estratégico de custos
sabe-se que o custo é causado, ou direcionado por muitos fatores que se inter-relacionam de
formas complexas. Compreender o comportamento dos custos significa complexa interação
do conjunto de direcionadores de custo em ação em uma determinada situação”.
Este conceito destaca a importância do conhecimento e do gerenciamento de todos os fatores
que interferem no custo final de um produto, principalmente neste novo modelo de concor-
rência, com margens de lucro reduzidas, onde o custo de produção define o resultado da em-
presa.
4. Gerenciamento de custos na construção civil
As modificações no mercado global também se refletiram na indústria da construção civil. A
redução das margens de lucro e a conseqüente reestruturação dos custos de planejamento e
produção fizeram com que as empresas da construção civil sofressem modificações em seus
sistemas gerenciais, pois conforme Rocha (2001), até aproximadamente 10 anos, uma confor-
tável margem de lucro absorvia quaisquer perdas originadas por uma inadequada gestão eco-
nômica; no entanto, hoje, estas margens não podem absorver mais nada, pois estão no limite
da viabilidade econômica do negócio construção.
As construtoras eram acostumadas a atribuir uma grande margem de segurança que, caso não
fosse utilizada, transformava-se em lucro. Este método permitia a ocorrência de erros de pla-
nejamento, orçamento e até mesmo de execução, todos eram cobertos pela margem de segu-
rança.
Ao encontro de Shank (1997); Tubino (1999) afirma que no Brasil este fato também é reali-
dade. Ele afirma que, até o início dos anos 90, as empresas brasileiras eram acostumadas a
estabelecer o preço dos seus produtos apenas acrescentando uma margem de lucro sobre os
custos. Conforme a equação:
Preço = Custo + Lucro
Dentro desta prática, conforme Tubino (1999), cada vez que ocorria alguma suba de algum
insumo, o aumento do preço era justificado pelos produtores e aceito pelo mercado. No entan-
to, por advento da globalização da economia, a equação se alterou para:




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Lucro = Preço – Custo
Conforme Lima (2000), todo estudo e planejamento de custos sobre atividades envolvidas em
uma obra de construção civil está ligada diretamente ao orçamento completo com a identifica-
ção de todos os produtos e serviços que compões a obra.
Por outro lado, Rocha (2001) afirma que o êxito de um orçamento está relacionado com o
planejamento da obra, pois uma obra sem um planejamento adequado dificilmente conseguirá
produzir informações acuradas de custos, pois é preciso saber onde, como, quando e por que
os custos ocorrem.
Percebe-se, então, as relações dependentes entre gestão de custos, orçamento e planejamento
da produção para garantir um bom desempenho para a construtora. Cada ponto depende do
outro, o processo de gestão de custos depende do orçamento, que por sua vez, depende de um
planejamento eficiente que, dando seqüência, depende das informações da gestão de custos
para se realimentar e continuar eficiente através da aprendizagem.
O processo de gestão de custos, em boa parte das obras brasileiras, pode ser descrito como um
vôo cego em nuvens de números, conforme Rocha, (2001), pois devido as deficiências nos
sistemas de gestão de custos, o que se julgava lucro, desaparece ao longo da obra.
Na concepção de Marchesan (2001), as deficiências nos sistemas de gestão de custos iniciam
na orçamentação, com o emprego de composições unitárias incompatíveis com a realidade da
empresa, onde utilizam coeficientes de consumo de materiais e mão-de-obra de origem des-
conhecida. Este autor corrobora o pensamento de que o planejamento da produção necessita
ser alimentado por dados que reflitam a capacidade operacional da empresa, assim como o
real consumo de recursos requeridos pelo método utilizado no processo produtivo.
No entanto, Porrino (2001) lembra que a execução também é determinante no cumprimento
dos custos. Exemplificando que os índices de produção e consumo determinados no planeja-
mento devem ser aceitos pela equipe de obra, assim como enfatiza a necessidade da participa-
ção desta equipe na elaboração do orçamento, identificando-se com Atkinson (2000).
Porrino (2001) também defende a medição diária da produção na obra, porque julga que seja a
forma mais fácil de identificar e corrigir distorções na execução, minimizando e/ou evitando
variações nos custos estimados.
Dessas afirmações, pode-se entender que o controle da execução da obra, assim como o com-
prometimento da equipe de produção são tão importantes quanto o planejamento e a orçamen-
tação para a gestão de custos do empreendimento. O gerenciamento eficiente dos custos em
obras da construção civil precisa englobar desde o planejamento e orçamento até a execução
da obra, sendo fundamental para o retorno positivo do investimento financeiro.
5. Resultados práticos
Dentre as várias atividades produtivas que concorrem para a materialização de uma edifica-
ção, pode-se acompanhar e avaliar, através da determinação do consumo efetivo de materiais,
a variação de custo de produção entre executado e planejado de três atividades básicas da
construção de um prédio, alvenarias, instalações sanitárias e revestimento cerâmico em pare-
des.
Essas comparações possibilitaram julgar o quanto o planejamento e controle da produção in-
fluencia no gerenciamento dos custos de produção e vice-versa.
5.1 Resultados encontrados para as alvenarias
A construtora estudada trabalhava com três tipos de blocos cerâmicos e com um padrão de
argamassa de assentamento, constituída de cimento, areia e cal liquida. Logo, as diferenças

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entre os custos unitários de materiais, para os três tipos de alvenaria, estão localizados no cus-
to do bloco, nas suas dimensões e nas juntas de assentamento.




            Figura 1 – representação dos tipos de alvenarias Alfa, Beta e Gama respectivamente.


Percebe-se na Figura 1 que todas as alvenarias apresentam variações das dimensões das juntas
de assentamento, tanto das horizontais quanto das verticais, essas variações geraram combina-
ções de custos unitários para cada alvenaria.
Para esclarecer o leitor, sobre os valores encontrados, é necessário destacar que, primeiramen-
te, foram calculados os custos unitários de cada tipo de alvenarias, tomando, como base de
cálculo, as espessuras das juntas de assentamento horizontais e verticais (mínima, média e
mázima). Cada obra apresentou dez combinações, sendo nove referentes às espessuras medi-
das nas obras e a décima, referente ao cálculo do custo tomando como índice de cálculo a
TCPO, que indica a espessura de 15 mm para as juntas vertical e horizontal.
Em um primeiro momento, este custo foi calculado sem considerar o volume de argamassa
que penetra nos furos dos tijolos (custo da parede) em seguida, calculou-se o custo conside-
rando tal acréscimo de volume (custo real).
Pode-se observar no Gráfico 01 que existe uma grande diferença de custo entre a alvenaria
Alfa e a alvenaria Beta e Gama, devido ao custo e ao tamanho do bloco cerâmico. O bloco
utilizado na alvenaria Alfa é mais caro e menor do que os utilizados na alvenaria Beta e Ga-
ma. Normalmente, é utilizado com a intenção de resultar em uma alvenaria mais econômica
porque dispensa revestimentos, logo este trabalho alerta para a necessidade de um cálculo
mais detalhado para verificar se realmente esta economia ocorre.
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                                                                                                               a




                                                                                                                                        a
                                                                                                                          M
                                        M




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                                                                                       H




                                                                                                             M




                                                                                                                                     M
                                                     H




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                                                                                                   H




                                                                                                                         H
                                        H




                                                               H




                                                                                                            H




                                                                                                                                    H




                                                                                           C o m b in a ç ã o d e ju n ta s

                                                                 C u s to r e a l a lv e n a r ia A lfa        C u s to r e a l a lv e n a r ia B e ta
                                                                 C u s to r e a l a lv e n a r ia G a m a




                                        Gráfico 01- comparação entre os custos das alvenarias.


Cabe destacar que, quando se analisa o custo da alvenaria Beta e Gama, percebe-se que a al-
venaria Gama apresenta um bloco mais caro, porém com um custo final menor do que a alve-


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naria Beta, onde o custo médio da alvenaria Gama é de R$ 5,55 e o da alvenaria Beta e de R$
5,94, pois o consumo de argamassa e de tijolos na alvenaria Gama é menor do que na alvena-
ria Beta.
Este fato revela que cada caso deve ser avaliado separadamente, pois não se pode afirmar que
quanto maior o custo do tijolo, mais cara será a alvenaria.
Todas as atividades têm suas particularidades que só são percebidas quando se adota o contro-
le da produção aliado a um sistema de custeio que informe, com precisão os custos obtidos, os
quais permitem que sejam feitos registros das ocorrências para alimentar novos padrões de
referência e aprimorar o conhecimento sobre os processos executivos utilizados, ou seja, é o
aprendizado contínuo proporcionado pela gestão da informação decorrente do PCP e da ges-
tão de custos.
5.2 Resultados encontrados para revestimentos cerâmicos
A medição da quantidade de material cerâmico aplicado em paredes apresentou resultados
interessantes, os dados foram colhidos em 3 cozinhas iguais e executadas pelo mesmo azule-
jista, gerando a seguinte tabela:


     Cozinha    Local de aplicação   Material utilizado   Material aplicado   Perda (m²)   Perda %
                                           (m²)                 (m²)
       402            Saia               26,2827              25,9700          0,3127      1,1900
                     Corpo                3,9204               2,4948          1,4256      36,3600
                     Total               30,2000              28,4648          1,7383      5,7559
       405            Saia               28,8784              28,7100          0,1684      0,5830
                     Corpo                4,0293               2,5641          1,4652      36,3600
                     Total               32,9077              31,2741          1,6336      4,9600
       406            Saia               22,5580              22,0970          0,4610      2,0400
                     Corpo                3,4848               2,2176          1,2672      36,3600
                     Total               26,0428              24,3146          1,7282      6,6400
                       Tabela 01- Aplicação de revestimento cerâmico em cozinhas


A observação das causas dos desperdícios é importante porque nesta obra, existem 18 cozi-
nhas iguais a da Figura 2 e foram todas revestidas da mesma cerâmica, com o mesmo método;
como a perda média foi de 5,78 %, estima-se que a perda total de cerâmica, no revestimento
das cozinhas da obra Beta, foi de 104 %; em outras palavras, mais do que o necessário, para
revestir uma cozinha, foi perdido. A Figura 2 ilustra as áreas de aplicação do revestimento nas
cozinhas tipo da obra.




                                                                                   Corpo


                                                                                   Saia
                              Figura 2- Aplicação de cerâmica nas cozinhas.
A Figura 2 mostra a fiada onde inicia o corpo de aplicação e a parte abaixo dela, que se chama
de saia. Onde: Corpo compreende a área a partir da primeira fieira acima do piso pronto até o
teto e Saia corresponde à área da primeira fiada de cerâmica.


ENEGEP 2004                                      ABEPRO                                                648
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Em todos os casos, a saia foi deixada para ser executada no final, depois do piso estar pronto
para que o acabamento do revestimento da parede se fizesse sobre o nível piso acabado.
No entanto, como cada peça tem 33 cm de altura e a saia 21 cm, é necessário cortar 12 cm,
sobrando de cada peça colocada, 36,36% que não será aproveitada, pois todas as outras cozi-
nhas já foram completamente revestidas.
O índice de perdas para peças cerâmicas, apresentado pela TCPO, é de 5%. No entanto, em-
bora o total seja maior do que o índice da TCPO, o problema se mostrou localizado, ou seja,
na execução da saia.
Estas constatações corroboram com a necessidade do controle do processo produtivo para que
se possa melhorar o planejamento da produção futura; uma vez que as causas dos desperdícios
se tornam conhecidas, a empresa pode se programar para evitá-las nas próximas obras.
5.3 Resultados encontrados para as instalações sanitárias
As verificações dos quantitativos de materiais consumidos nas instalações sanitárias ocorre-
ram na obra Beta. Esta contém 18 cozinhas, 18 áreas de serviço e 18 BWCs. Primeiramente,
foi levantado o quantitativo de materiais no projeto sanitário, ilustrado na Figura 3; logo em
seguida, verificou-se o quantitativo que foi realmente empregado na obra.




                Figura 3- Comparação entre projeto e execução das instalações sanitárias.


                                                 BWC Tipo
               Item                    R$ Projeto R$ Projeto Executado R$ Exec. Diferença
               Bucha de redução        0,90 0,00      0,00     2,00      1,80      1,80
               Caixa sifonada          6,70 1,00      6,70     1,00      6,70      0,00
               Curva 100              8,65  1,00      8,65     2,00     17,30      8,65
               Curva 45º 40           0,95  1,00      0,95     1,00      0,95      0,00
               Curva 45º 50           2,00  0,00      0,00     2,00      4,00      4,00
               Joelho 100             2,95  2,00      5,90     0,00      0,00     -5,90
               Joelho 40              0,70  1,00      0,70     2,00      1,40      0,70
               Joelho 50              0,99  1,00      0,99     1,00      0,99      0,00
               Junção simples 100x100 11,90 1,00     11,90     1,00     11,90      0,00
               Te 100x100             8,75  1,00      8,75     1,00      8,75      0,00
               Tê 100x50              7,80  1,00      7,80     1,00      7,80      0,00
               Tê 50x50               2,85  1,00      2,85     2,00      5,70      2,85
               Tubo 100               5,55  1,20      6,66     1,20      6,66      0,00
               Tubo 40                2,00  2,20      4,40     3,40      6,80      2,40
               Tubo 50                3,60  0,30      1,08     1,00      3,60      2,52
               Total                                 67,33              84,35     17,02
               %                                                                  25,28
                   Tabela 2 – Relação dos custos das instalações sanitárias dos BWCs


Para a verificação das instalações sanitárias das cozinhas, procedeu-se da mesma forma que
para os BWCs. Primeiramente, avaliou-se o projeto e, depois, comparou-se com a instalação
executada. Com uma cotação de preços nas lojas locais, chegou-se ao custo das instalações
projetadas e das executadas. Os resultados foram surpreendentes, nas cozinhas o acréscimo de
custo foi de 36,52% e nos BWCs de 25,28%. Como visto na Tabela 2.


ENEGEP 2004                                   ABEPRO                                                   649
XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004



A comparação entre as duas figuras permite julgar que houve uma grande diferença entre o
projeto sanitário e as instalações executadas. Tais discrepâncias resultaram em aumento de
custo, que estão discriminados nas tabelas seguintes.
Investigando as causas destas diferenças, foi apurado que as instalações sanitárias são execu-
tados a critério do encanador, sem a observância dos projetos; constatou-se, ainda, que o res-
ponsável pelo projeto não participa da execução do mesmo.
Logo, pode-se crer que não houve controle das atividades referentes às instalações sanitárias,
como também não há a participação dos envolvidos com o projeto na execução do mesmo.
6. Considerações finais
Através da análise dos projetos, memoriais descritivos, cronogramas e orçamentos da obra foi
possível concluir que a Construtora realizou o planejamento da produção das obras, no entan-
to, esse planejamento ficou, em sua maior parte, atrelado ao cumprimento das especificações
dos projetos arquitetônicos e estruturais, deixando de lado os cronogramas e orçamentos pre-
estabelecidos.
Esses aspectos vão ao encontro das afirmações de Bernardes (1996); Marchesan (2001) e de
Rocha (2001) que destacam o hiato existente entre a equipe de planejamento e a equipe ope-
racional, fazendo com que o processo produtivo seja conduzido por planos informais. Estas
opiniões mostram as condições favoráveis à ocorrência de irregularidades na execução dos
serviços da construção civil.
A confrontação entre os custos reais e os custos planejados mostrou que a utilização de méto-
dos de planejamento e controle de obras associados a um sistema de gerenciamento de custos
permite que a empresa da construção civil consiga cumprir ou reduzir os orçamentos previs-
tos.
Referências
ATKINSON, A. A . et al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000.
BERNARDES, M. M. S. Método de análise do processo de planejamento da produção de empresas cons-
trutoras através do estudo de seu luxo de informação: proposta baseada em estudo de caso. 1996. 136f. Dis-
sertação (Mestrado em Engenharia Civil)- Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto Alegre, 1996.
LIMA, J. L. P. Custos da construção civil. 2000. 122 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Univer-
sidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2000.
MARCHESAN, P. R. C. Modelo integrado de gestão de custos e controle da produção para obras civis.
2001. 163f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)- Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto
Alegre, 2001.
PORRINO, F. F. Onde está o dinheiro. In: Construção mercado. São Paulo: Pini, n. 2, p. 48-58, Setembro,
2001.
PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise da indústria e da concorrência. 7 ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1986.
ROCHA, C. C. Gestão estratégica de custos. In: Construção mercado. São Paulo: Pini, n. 3, p.50-53, Outubro
de 2001.
SHANK, J. K. & GOLVINDARAJAM, V. A revolução dos custos: como reinventar e redefinir sua estratégia
de custos para vencer em mercados crescentemente competitivos. 2 ed. Rio de janeiro: Campus, 1997.
SHANK, J. O cliente fixa os custos. In: HSM Manegement, n. 3. P. 40-46, julho/ agosto, 1997.
TCPO 2000: tabelas de composição de preços para orçamentos. São Paulo: Pini, 1999.
TUBINO, D. F. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999.




ENEGEP 2004                                     ABEPRO                                                   650

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Planejamento e controle da produção na Construção Civil

  • 1. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Planejamento e controle da produção na Construção Civil para gerencia- mento de custos José Ilo Pereira Filho (CEFET – PR) ilofilho@terra.com.br Rudimar Antunes da Rocha (UFSM) rrudimar@terra.com.br Lauren Morais da silva (CEFET - PR) laurendasilva@terra.com.br Resumo O desenvolvimento profissional e tecnológico, que se instaura no contexto atual da constru- ção civil, requer ações pautadas em projetos capazes de serem executados com seriedade profissional. O objetivo maior deste estudo volta-se para a comprovação da importância do planejamento enquanto pressuposto básico, diretamente ligado a fatores decisivos na cons- trução de uma edificação, como valores econômicos, cumprimento de cronogramas e produ- tividade. A metodologia utilizada para a concretização desta pesquisa se alicerçou em levan- tamentos in loco do consumo de materiais para a execução de atividades básicas da constru- ção civil, como alvenarias, revestimentos e instalações sanitárias. Os resultados comprova- ram de forma simples e prática as vantagens de utilizar sistemas de planejamento e controle da produção em obras de edificações para alcançar custos e prazos previstos nos orçamentos e cronogramas, uma vez que algumas atividades apontaram um acréscimo de custo de produ- ção em torno de 25% por conseqüência da não utilização de tais sistemas. Palavras chave: Construção civil, planejamento da produção, gerenciamento de custos. 1. Introdução Os fatores que definem a competitividade de uma empresa estão ligados às suas característi- cas empreendedoras e ao dinamismo do ambiente em que operam. Porter (1986, p.17), por exemplo, ao descrever esta questão, afirma que “as ameaças e as oportunidades da indústria, definem o meio competitivo com seus riscos conseqüentes e recompensas potenciais”. Desta- ca-se que, na versão deste estudioso das organizações, o mapeamento do ambiente externo é crucial ao sucesso empresarial. Dentro do raciocínio de Porter (1986), as estratégias de lide- rança no custo total têm merecido a devida atenção em períodos de crise econômica. No caso brasileiro, a indústria da construção civil tem procurado seguir este raciocínio. Acredita-se também que o poder de competição esteja atrelado à capacidade de inovação, produção, gestão empresarial e recursos humanos. Além de fatores externos à organização, como ações governamentais, taxas financeiras, globalização, dentre outros. Assim, presume-se que competitividade seja a capacidade que uma organização desenvolve para se adequar ao mercado em que opera, de maneira a garantir e/ou ampliar sua participa- ção. Nessa perspectiva, vislumbra-se a necessidade das empresas, pertencentes à indústria da cons- trução civil, entenderem-se como um sistema organizacional, buscando sincronizar sua pro- ENEGEP 2004 ABEPRO 643
  • 2. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 dução com a realidade e anseios do macrossistema que as envolvem; permitindo-se, desta forma, definir suas estratégias para manter e/ou conquistar mercado. 2. Planejamento e controle da produção na construção civil O processo produtivo é a transformação de insumos em produtos, no entanto o resultado final nem sempre é igual ao que foi projetado. Isso ocorre porque, em todo processo produtivo, existe uma série de condições necessárias para o alcance das características especificadas, as quais podem variar desde temperaturas, umidade, especificações de matérias-primas, tempo de processamento, tipo de equipamento, qualidade da mão-de-obra, entre outras, até o forne- cimento em tempo hábil destas condições. Planejar a produção pode ser entendido como a antecipação de todos os fatores que concor- rem à transformação intencional de insumos em produtos, assim como das conseqüências des- te processo. O processo produtivo na construção civil transforma insumos como mão-de-obra, cimento, areia, cal, brita, aço, tijolos, asfalto, tintas, madeira, telhas, equipamentos, ferramentas e má- quinas, entre outros tantos, em apartamentos, casas, prédios industriais, estradas, pontes, esco- las, etc. Em um processo construtivo, são envolvidos inúmeros fatores que precisam ser administrados da mesma forma que qualquer outro tipo de produção, utilizando o planejamento e controle da produção para que as metas da empresa sejam atingidas. No entanto, em muitos casos, as fer- ramentas do PCP são mal utilizadas ou ineficientes, desperdiçando o potencial produtivo das empresas. Para Marchesan (2001), o processo produtivo na construção civil acaba sendo conduzido por planos informais, elaborados pelos executores da obra que, muitas vezes, são diferentes dos planos formais. Este autor mostra uma inquietação quanto às situações que favorecem a irre- gularidade na execução de obras civis. Observa-se que existe um descompasso entre os encarregados pelo planejamento e os respon- sáveis pela execução da obra; então os planos podem apresentar incompatibilidades com a situação real da execução; outro fato é que quando os planos não são controlados, terminam como entulho no escritório da obra. Mesmo que as preocupações principais das empresas da construção civil sejam o cumprimen- to de prazos e orçamentos, se não houver um planejamento e controle da produção eficiente, torna-se muito difícil cumprir tais contratos, porque certamente as condições previstas não ocorrerão. Todo resultado proveniente do sistema de planejamento e controle da produção se transforma em conhecimento, quando é avaliado corretamente; caso contrário, não proporciona o diag- nóstico da real condição da produção. 3. Custos O processo de produção envolve o consumo de recursos, com materiais e mão-de-obra, além de envolver outras atividades de apoio, que, indiretamente colaboram com a produção, como transporte, marketing, vendas, manutenção, etc. Todos estes insumos implicam em recursos financeiros que podem ser aplicados direta ou indiretamente na produção. Logo, os custos são decorrentes das atividades necessárias para a materialização do projeto. Já para Shank (1997), a globalização da economia e a expansão das grandes empresas ofere- ceram ao mercado muitas alternativas de preços, fazendo com que os consumidores possam ENEGEP 2004 ABEPRO 644
  • 3. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 escolher os mais convenientes. Por isso, as empresas que não despertarem para este fato cor- rem o risco de perderem a participação no mercado que atuam. Nos tempos atuais, com a concorrência globalizada, manter informações sobre os custos de produção é cada vez mais necessário para definir as estratégias da empresa. Atkinson et al. (2000) advogam que hoje em dia as informações sobre custo servem aos vá- rios níveis da empresa, para nortear as decisões táticas e operacionais. Estes autores visuali- zam as informações sobre custos como um sistema que envolve toda a organização. A partir dos conceitos estudados neste trabalho, nota-se que a definição dos custos de produ- ção iniciam no planejamento do produto e no planejamento da produção. Logicamente que, por questões de modificações de preços de insumos, os custos também poderão sofrer altera- ções, mas isolando-se esta variável, julga-se que é a forma de produção que definira o custo final. Desta forma, pode-se unir o planejamento da produção com a definição e garantia do custo final do produto. Ressaltando o relacionamento entre o PCP e o sistema de custeio. Na visão de Shank & Golvindarajam (1997, p. 21) “no gerenciamento estratégico de custos sabe-se que o custo é causado, ou direcionado por muitos fatores que se inter-relacionam de formas complexas. Compreender o comportamento dos custos significa complexa interação do conjunto de direcionadores de custo em ação em uma determinada situação”. Este conceito destaca a importância do conhecimento e do gerenciamento de todos os fatores que interferem no custo final de um produto, principalmente neste novo modelo de concor- rência, com margens de lucro reduzidas, onde o custo de produção define o resultado da em- presa. 4. Gerenciamento de custos na construção civil As modificações no mercado global também se refletiram na indústria da construção civil. A redução das margens de lucro e a conseqüente reestruturação dos custos de planejamento e produção fizeram com que as empresas da construção civil sofressem modificações em seus sistemas gerenciais, pois conforme Rocha (2001), até aproximadamente 10 anos, uma confor- tável margem de lucro absorvia quaisquer perdas originadas por uma inadequada gestão eco- nômica; no entanto, hoje, estas margens não podem absorver mais nada, pois estão no limite da viabilidade econômica do negócio construção. As construtoras eram acostumadas a atribuir uma grande margem de segurança que, caso não fosse utilizada, transformava-se em lucro. Este método permitia a ocorrência de erros de pla- nejamento, orçamento e até mesmo de execução, todos eram cobertos pela margem de segu- rança. Ao encontro de Shank (1997); Tubino (1999) afirma que no Brasil este fato também é reali- dade. Ele afirma que, até o início dos anos 90, as empresas brasileiras eram acostumadas a estabelecer o preço dos seus produtos apenas acrescentando uma margem de lucro sobre os custos. Conforme a equação: Preço = Custo + Lucro Dentro desta prática, conforme Tubino (1999), cada vez que ocorria alguma suba de algum insumo, o aumento do preço era justificado pelos produtores e aceito pelo mercado. No entan- to, por advento da globalização da economia, a equação se alterou para: ENEGEP 2004 ABEPRO 645
  • 4. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Lucro = Preço – Custo Conforme Lima (2000), todo estudo e planejamento de custos sobre atividades envolvidas em uma obra de construção civil está ligada diretamente ao orçamento completo com a identifica- ção de todos os produtos e serviços que compões a obra. Por outro lado, Rocha (2001) afirma que o êxito de um orçamento está relacionado com o planejamento da obra, pois uma obra sem um planejamento adequado dificilmente conseguirá produzir informações acuradas de custos, pois é preciso saber onde, como, quando e por que os custos ocorrem. Percebe-se, então, as relações dependentes entre gestão de custos, orçamento e planejamento da produção para garantir um bom desempenho para a construtora. Cada ponto depende do outro, o processo de gestão de custos depende do orçamento, que por sua vez, depende de um planejamento eficiente que, dando seqüência, depende das informações da gestão de custos para se realimentar e continuar eficiente através da aprendizagem. O processo de gestão de custos, em boa parte das obras brasileiras, pode ser descrito como um vôo cego em nuvens de números, conforme Rocha, (2001), pois devido as deficiências nos sistemas de gestão de custos, o que se julgava lucro, desaparece ao longo da obra. Na concepção de Marchesan (2001), as deficiências nos sistemas de gestão de custos iniciam na orçamentação, com o emprego de composições unitárias incompatíveis com a realidade da empresa, onde utilizam coeficientes de consumo de materiais e mão-de-obra de origem des- conhecida. Este autor corrobora o pensamento de que o planejamento da produção necessita ser alimentado por dados que reflitam a capacidade operacional da empresa, assim como o real consumo de recursos requeridos pelo método utilizado no processo produtivo. No entanto, Porrino (2001) lembra que a execução também é determinante no cumprimento dos custos. Exemplificando que os índices de produção e consumo determinados no planeja- mento devem ser aceitos pela equipe de obra, assim como enfatiza a necessidade da participa- ção desta equipe na elaboração do orçamento, identificando-se com Atkinson (2000). Porrino (2001) também defende a medição diária da produção na obra, porque julga que seja a forma mais fácil de identificar e corrigir distorções na execução, minimizando e/ou evitando variações nos custos estimados. Dessas afirmações, pode-se entender que o controle da execução da obra, assim como o com- prometimento da equipe de produção são tão importantes quanto o planejamento e a orçamen- tação para a gestão de custos do empreendimento. O gerenciamento eficiente dos custos em obras da construção civil precisa englobar desde o planejamento e orçamento até a execução da obra, sendo fundamental para o retorno positivo do investimento financeiro. 5. Resultados práticos Dentre as várias atividades produtivas que concorrem para a materialização de uma edifica- ção, pode-se acompanhar e avaliar, através da determinação do consumo efetivo de materiais, a variação de custo de produção entre executado e planejado de três atividades básicas da construção de um prédio, alvenarias, instalações sanitárias e revestimento cerâmico em pare- des. Essas comparações possibilitaram julgar o quanto o planejamento e controle da produção in- fluencia no gerenciamento dos custos de produção e vice-versa. 5.1 Resultados encontrados para as alvenarias A construtora estudada trabalhava com três tipos de blocos cerâmicos e com um padrão de argamassa de assentamento, constituída de cimento, areia e cal liquida. Logo, as diferenças ENEGEP 2004 ABEPRO 646
  • 5. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 entre os custos unitários de materiais, para os três tipos de alvenaria, estão localizados no cus- to do bloco, nas suas dimensões e nas juntas de assentamento. Figura 1 – representação dos tipos de alvenarias Alfa, Beta e Gama respectivamente. Percebe-se na Figura 1 que todas as alvenarias apresentam variações das dimensões das juntas de assentamento, tanto das horizontais quanto das verticais, essas variações geraram combina- ções de custos unitários para cada alvenaria. Para esclarecer o leitor, sobre os valores encontrados, é necessário destacar que, primeiramen- te, foram calculados os custos unitários de cada tipo de alvenarias, tomando, como base de cálculo, as espessuras das juntas de assentamento horizontais e verticais (mínima, média e mázima). Cada obra apresentou dez combinações, sendo nove referentes às espessuras medi- das nas obras e a décima, referente ao cálculo do custo tomando como índice de cálculo a TCPO, que indica a espessura de 15 mm para as juntas vertical e horizontal. Em um primeiro momento, este custo foi calculado sem considerar o volume de argamassa que penetra nos furos dos tijolos (custo da parede) em seguida, calculou-se o custo conside- rando tal acréscimo de volume (custo real). Pode-se observar no Gráfico 01 que existe uma grande diferença de custo entre a alvenaria Alfa e a alvenaria Beta e Gama, devido ao custo e ao tamanho do bloco cerâmico. O bloco utilizado na alvenaria Alfa é mais caro e menor do que os utilizados na alvenaria Beta e Ga- ma. Normalmente, é utilizado com a intenção de resultar em uma alvenaria mais econômica porque dispensa revestimentos, logo este trabalho alerta para a necessidade de um cálculo mais detalhado para verificar se realmente esta economia ocorre. 20 18 16 14 Custo em Real 12 10 8 6 4 2 0 i i e a e a e i a VM VM VM VM VM VM VM VM VM ix x X ix ix x x X X e M a e e M M M a a M M M H M M H H H H H H H H C o m b in a ç ã o d e ju n ta s C u s to r e a l a lv e n a r ia A lfa C u s to r e a l a lv e n a r ia B e ta C u s to r e a l a lv e n a r ia G a m a Gráfico 01- comparação entre os custos das alvenarias. Cabe destacar que, quando se analisa o custo da alvenaria Beta e Gama, percebe-se que a al- venaria Gama apresenta um bloco mais caro, porém com um custo final menor do que a alve- ENEGEP 2004 ABEPRO 647
  • 6. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 naria Beta, onde o custo médio da alvenaria Gama é de R$ 5,55 e o da alvenaria Beta e de R$ 5,94, pois o consumo de argamassa e de tijolos na alvenaria Gama é menor do que na alvena- ria Beta. Este fato revela que cada caso deve ser avaliado separadamente, pois não se pode afirmar que quanto maior o custo do tijolo, mais cara será a alvenaria. Todas as atividades têm suas particularidades que só são percebidas quando se adota o contro- le da produção aliado a um sistema de custeio que informe, com precisão os custos obtidos, os quais permitem que sejam feitos registros das ocorrências para alimentar novos padrões de referência e aprimorar o conhecimento sobre os processos executivos utilizados, ou seja, é o aprendizado contínuo proporcionado pela gestão da informação decorrente do PCP e da ges- tão de custos. 5.2 Resultados encontrados para revestimentos cerâmicos A medição da quantidade de material cerâmico aplicado em paredes apresentou resultados interessantes, os dados foram colhidos em 3 cozinhas iguais e executadas pelo mesmo azule- jista, gerando a seguinte tabela: Cozinha Local de aplicação Material utilizado Material aplicado Perda (m²) Perda % (m²) (m²) 402 Saia 26,2827 25,9700 0,3127 1,1900 Corpo 3,9204 2,4948 1,4256 36,3600 Total 30,2000 28,4648 1,7383 5,7559 405 Saia 28,8784 28,7100 0,1684 0,5830 Corpo 4,0293 2,5641 1,4652 36,3600 Total 32,9077 31,2741 1,6336 4,9600 406 Saia 22,5580 22,0970 0,4610 2,0400 Corpo 3,4848 2,2176 1,2672 36,3600 Total 26,0428 24,3146 1,7282 6,6400 Tabela 01- Aplicação de revestimento cerâmico em cozinhas A observação das causas dos desperdícios é importante porque nesta obra, existem 18 cozi- nhas iguais a da Figura 2 e foram todas revestidas da mesma cerâmica, com o mesmo método; como a perda média foi de 5,78 %, estima-se que a perda total de cerâmica, no revestimento das cozinhas da obra Beta, foi de 104 %; em outras palavras, mais do que o necessário, para revestir uma cozinha, foi perdido. A Figura 2 ilustra as áreas de aplicação do revestimento nas cozinhas tipo da obra. Corpo Saia Figura 2- Aplicação de cerâmica nas cozinhas. A Figura 2 mostra a fiada onde inicia o corpo de aplicação e a parte abaixo dela, que se chama de saia. Onde: Corpo compreende a área a partir da primeira fieira acima do piso pronto até o teto e Saia corresponde à área da primeira fiada de cerâmica. ENEGEP 2004 ABEPRO 648
  • 7. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 Em todos os casos, a saia foi deixada para ser executada no final, depois do piso estar pronto para que o acabamento do revestimento da parede se fizesse sobre o nível piso acabado. No entanto, como cada peça tem 33 cm de altura e a saia 21 cm, é necessário cortar 12 cm, sobrando de cada peça colocada, 36,36% que não será aproveitada, pois todas as outras cozi- nhas já foram completamente revestidas. O índice de perdas para peças cerâmicas, apresentado pela TCPO, é de 5%. No entanto, em- bora o total seja maior do que o índice da TCPO, o problema se mostrou localizado, ou seja, na execução da saia. Estas constatações corroboram com a necessidade do controle do processo produtivo para que se possa melhorar o planejamento da produção futura; uma vez que as causas dos desperdícios se tornam conhecidas, a empresa pode se programar para evitá-las nas próximas obras. 5.3 Resultados encontrados para as instalações sanitárias As verificações dos quantitativos de materiais consumidos nas instalações sanitárias ocorre- ram na obra Beta. Esta contém 18 cozinhas, 18 áreas de serviço e 18 BWCs. Primeiramente, foi levantado o quantitativo de materiais no projeto sanitário, ilustrado na Figura 3; logo em seguida, verificou-se o quantitativo que foi realmente empregado na obra. Figura 3- Comparação entre projeto e execução das instalações sanitárias. BWC Tipo Item R$ Projeto R$ Projeto Executado R$ Exec. Diferença Bucha de redução 0,90 0,00 0,00 2,00 1,80 1,80 Caixa sifonada 6,70 1,00 6,70 1,00 6,70 0,00 Curva 100 8,65 1,00 8,65 2,00 17,30 8,65 Curva 45º 40 0,95 1,00 0,95 1,00 0,95 0,00 Curva 45º 50 2,00 0,00 0,00 2,00 4,00 4,00 Joelho 100 2,95 2,00 5,90 0,00 0,00 -5,90 Joelho 40 0,70 1,00 0,70 2,00 1,40 0,70 Joelho 50 0,99 1,00 0,99 1,00 0,99 0,00 Junção simples 100x100 11,90 1,00 11,90 1,00 11,90 0,00 Te 100x100 8,75 1,00 8,75 1,00 8,75 0,00 Tê 100x50 7,80 1,00 7,80 1,00 7,80 0,00 Tê 50x50 2,85 1,00 2,85 2,00 5,70 2,85 Tubo 100 5,55 1,20 6,66 1,20 6,66 0,00 Tubo 40 2,00 2,20 4,40 3,40 6,80 2,40 Tubo 50 3,60 0,30 1,08 1,00 3,60 2,52 Total 67,33 84,35 17,02 % 25,28 Tabela 2 – Relação dos custos das instalações sanitárias dos BWCs Para a verificação das instalações sanitárias das cozinhas, procedeu-se da mesma forma que para os BWCs. Primeiramente, avaliou-se o projeto e, depois, comparou-se com a instalação executada. Com uma cotação de preços nas lojas locais, chegou-se ao custo das instalações projetadas e das executadas. Os resultados foram surpreendentes, nas cozinhas o acréscimo de custo foi de 36,52% e nos BWCs de 25,28%. Como visto na Tabela 2. ENEGEP 2004 ABEPRO 649
  • 8. XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 A comparação entre as duas figuras permite julgar que houve uma grande diferença entre o projeto sanitário e as instalações executadas. Tais discrepâncias resultaram em aumento de custo, que estão discriminados nas tabelas seguintes. Investigando as causas destas diferenças, foi apurado que as instalações sanitárias são execu- tados a critério do encanador, sem a observância dos projetos; constatou-se, ainda, que o res- ponsável pelo projeto não participa da execução do mesmo. Logo, pode-se crer que não houve controle das atividades referentes às instalações sanitárias, como também não há a participação dos envolvidos com o projeto na execução do mesmo. 6. Considerações finais Através da análise dos projetos, memoriais descritivos, cronogramas e orçamentos da obra foi possível concluir que a Construtora realizou o planejamento da produção das obras, no entan- to, esse planejamento ficou, em sua maior parte, atrelado ao cumprimento das especificações dos projetos arquitetônicos e estruturais, deixando de lado os cronogramas e orçamentos pre- estabelecidos. Esses aspectos vão ao encontro das afirmações de Bernardes (1996); Marchesan (2001) e de Rocha (2001) que destacam o hiato existente entre a equipe de planejamento e a equipe ope- racional, fazendo com que o processo produtivo seja conduzido por planos informais. Estas opiniões mostram as condições favoráveis à ocorrência de irregularidades na execução dos serviços da construção civil. A confrontação entre os custos reais e os custos planejados mostrou que a utilização de méto- dos de planejamento e controle de obras associados a um sistema de gerenciamento de custos permite que a empresa da construção civil consiga cumprir ou reduzir os orçamentos previs- tos. Referências ATKINSON, A. A . et al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000. BERNARDES, M. M. S. Método de análise do processo de planejamento da produção de empresas cons- trutoras através do estudo de seu luxo de informação: proposta baseada em estudo de caso. 1996. 136f. Dis- sertação (Mestrado em Engenharia Civil)- Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto Alegre, 1996. LIMA, J. L. P. Custos da construção civil. 2000. 122 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Univer- sidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2000. MARCHESAN, P. R. C. Modelo integrado de gestão de custos e controle da produção para obras civis. 2001. 163f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)- Universidade Federal do Rio grande do Sul. Porto Alegre, 2001. PORRINO, F. F. Onde está o dinheiro. In: Construção mercado. São Paulo: Pini, n. 2, p. 48-58, Setembro, 2001. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise da indústria e da concorrência. 7 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986. ROCHA, C. C. Gestão estratégica de custos. In: Construção mercado. São Paulo: Pini, n. 3, p.50-53, Outubro de 2001. SHANK, J. K. & GOLVINDARAJAM, V. A revolução dos custos: como reinventar e redefinir sua estratégia de custos para vencer em mercados crescentemente competitivos. 2 ed. Rio de janeiro: Campus, 1997. SHANK, J. O cliente fixa os custos. In: HSM Manegement, n. 3. P. 40-46, julho/ agosto, 1997. TCPO 2000: tabelas de composição de preços para orçamentos. São Paulo: Pini, 1999. TUBINO, D. F. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999. ENEGEP 2004 ABEPRO 650