O documento discute a natureza, função e base neuroanatômica da consciência de acordo com concepções atuais. Aborda a distinção entre diferentes tipos de consciência, como a consciência central e ampliada. Também discute a evolução da consciência ao longo da história humana e a importância adaptativa dos "pensamentos de segunda ordem".
A consciência: concepções atuais sobre sua natureza, função e base neuroanatômica
1. A consciência: algumas – silva et alii
A consciência: algumas concepções
atuais sobre sua natureza, função e
base neuroanatômica
Maurício Marx e Silva*
Alida Vitória Álvares Fuhrmeister**
Antônio Francisco Maineri Brum***
Flávia Costa****
Geraldo Rosito*****
Leandro Timm Pizutti******
Madeleine Scop Medeiros*******
Paulo Picarelli Ferreira********
Renato Lajús Breda*********
Romulo Viero**********
Sérgio Silveira Leite***********
“A consciência é um fenômeno fascinante, é bem provável que surgisse algo seme-
porém elusivo; lhante a um coração. Mas se você
é impossível especificar o que é, o que faz estivesse inventando uma máquina para
ou por que evoluiu. produzir consciência, quem pensaria
Nada digno de ser lido foi escrito sobre em algo como uma centena de bilhões de
ela.” neurônios?” John R. Searle(1997)2
Stuart Sutherland (1989)1
“Se ninguém mo perguntar eu sei.
Se o quiser explicar a quem me pergunte,
“Se você estivesse projetando uma máqui- já não sei!” Paráfrase de Santo Agostinho3:
na orgânica para bombear sangue,
“Estar consciente vai além de estar acorda-
do e atento: requer uma sensação interna
de um self no ato de conhecer”. António
* Psiquiatra, Egresso SPPA, prof. Institutos Abuchaim e Contemporâneo.
Damásio (1999)4
** Psiquiatra, Graduada SPPA, prof.a Instituto Contemporâneo.
*** Psiquiatra, prof. FFFCMPA, Inst.Abuchaim e ULBRA.
**** Psiquiatra, Egressa SPPA, prof.a conv. UFRGS. INTRODUÇÃO
***** Psiquiatra, membro assoc. SBP de PA, prof Instituto Abuchaim.
A partir principalmente de Freud, as aten-
****** Psiquiatra, membro prov. CEP de PA, prof IFP.
ções dos estudiosos da mente voltaram-se para
******* Psiquiatra, supervisora da residência do HMIPV.
o inconsciente, território tão misterioso na épo-
******** Psiquiatra, egresso da SBP de PA, prof. Instituto Abuchaim.
ca que necessitava primeiramente ter compro-
********* Psiquiatra, Egresso da SBP de PA, prof Instituto Abuchaim e
FUMM. vada sua existência para após reivindicar a
********** Médico, psicanalista, membro efetivo CEP de PA, prof. Instituto condição de objeto de pesquisa. Mesmo nos
Contemporâneo. primórdios da descoberta do inconsciente, en-
*********** Médico Psicoterapeuta, egresso Instituto Cyro Martins. tretanto, Freud já se questionava sobre a natu-
52 Recebido em 21/01/2003. Revisado em 21/01/2003. Aprovado em 11/03/2003.
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
2. A consciência: algumas – silva et alii
reza da consciência. A questão aqui era, po- entitulou em inglês seu último livro (em portugu-
rém, muito diferente. O fenômeno da consciên- ês “O Mistério da Consciência”) pode persistir
cia era tomado como evidente por qualquer em pessoas que têm a perda de grandes partes
indivíduo, devido a sua própria natureza de do encéfalo, transitória ou definitiva, a ponto de
autopercepção. Não havia necessidade de pro- não saberem sequer seus próprios nomes. Elas
var sua existência. Talvez por isto, por este perdem os registros de sua história, mas não a
caráter de algo que “todos sabemos como é”, é sensação de serem alguém, um self, que está
que tenhamos demorado tanto a lhe dedicar experienciando aquele momento. É a diferença
maior atenção (sistemática, pois o tema sempre entre a “consciência central” e a “consciência
persistiu como objeto de conjecturas filosófi- ampliada”, esta última incluindo, além do self
cas). Com o passar das décadas, o inconscien- corporal, o “self autobiográfico”4.
te tornou-se aceito como a regra dos processos Edmund Rolls, em “The Brain and Emotion”
mentais, não se constituindo em uma qualidade (1999), salienta o grande valor adaptativo da
especial destes, e verificou-se que o mistério consciência que Damásio chama de ampliada,
na verdade residia na sensação de estar cons- dos “pensamentos de segunda ordem”, ou seja,
ciente desses processos. o “pensar sobre o próprio pensar”, que permite
A primeira constatação a ser feita ao pen- uma revisão (e às vezes correção) dos próprios
sarmos na questão da consciência é a de que, processos de pensamento, ampliando enorme-
apesar de “todos sabermos como é”, na verda- mente as possibilidades de estratégia de ação
de não sabemos “o que é” a consciência, e nem e sofisticando a tomada de decisão5.
mesmo podemos afirmar se o “como” de um é A “sensação do que acontece”, presente
igual ao “como” de outro. durante o sonhar e ausente em certos estados
Nos últimos anos, alguns neurocientistas de vigília como nas crises de ausência, é a
têm acrescentado insights esclarecedores so- propriedade de certos processos mentais que
bre a questão da consciência. A primeira evi- progressivamente têm se tornado alvo de estu-
dência neurobiológica interessante vem apoiar do. Evidências recentes sugerem que tanto a
a distinção que existe na língua inglesa entre sensação de continuidade da consciência quan-
wakefulness (estar consciente no sentido de to a impressão de que ela preceda a tomada de
vigília, em oposição ao coma, como em “bater a decisão seriam ilusórias. Também a antiga
cabeça e perder a consciência”), conscience crença de que a consciência fosse uma função
(consciência moral, superegóica, como em “ter dependente de um funcionamento cortical glo-
um peso na consciência”) e consciousness bal tem sido questionada. A evolução da cons-
(consciência no sentido da sensação de existir ciência, a partir dos mecanismos de homeosta-
e de estar experienciando um dado momento, se, como um feed-back sofisticado do estado
que inclui a sensação da passagem do tempo). corporal, incluindo os processos mentais, que
Infelizmente, na língua portuguesa, os três con- permite a detecção de erros nas predições rea-
ceitos podem ser expressos pela palavra cons- lizadas pelo cérebro sobre o self e o ambiente,
ciência, o que contribui para uma indistinção. com a possibilidade de correções em partes do
Embora a consciência nos dois últimos senti- processo mental sem a necessidade de descar-
dos necessite de um grau mínimo de vigília, tá-lo por inteiro, é um exemplo das modernas
este grau mínimo já está dado na fase de sono compreensões sobre este tema e que tem im-
R.E.M., quando se sonha, e na qual tanto pode- portantes correlações com a clínica psicoterá-
se ter a sensação de existir e de algo nos pica.
acontecer, de experienciar, quanto se pode per-
ceber a influência da consciência moral. Cons- HISTÓRICO EVOLUCIONISTA
tatou-se também que um estado pleno de vigília
pode coexistir com uma abolição da conscious- Há uma opinião válida segundo a qual o
ness, como em pacientes que sofrem de alguns Homem é contemporâneo de todas as demais
tipos de crises convulsivas, nas quais são ca- espécies sobreviventes de seres vivos e, na
pazes de caminhar longos trajetos, executar verdade, da própria vida, pois, embora a evolu-
funções relativamente complexas, sem a sen- ção se tenha processado por diferenciação, as
sação de existir, de estar experienciando o que diferentes espécies por ela produzidas são to-
está acontecendo e sem a percepção da passa- das relacionadas entre si, como os ramos de
gem do tempo, apesar de estarem “bem acor- uma árvore. Todos derivam de uma raiz co-
dados”. mum. Se procurarmos determinar com mais pre-
A “sensação do que acontece” (The Fee- cisão a gênese do Homem, escolheremos a
ling of What Happens), como Antônio Damásio data em que a família dos hominídeos se sepa- 53
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
3. A consciência: algumas – silva et alii
rou de outras famílias de primatas, marcando embora talvez rápido em termos da escala geo-
um ponto de ruptura geneticamente irreversí- lógica de tempo, pode ter levado uma eternida-
vel. Se considerarmos o homem tão antigo de em termos da escala de tempo da história
quanto a data em que deixou de ser possível a humana registrada (aproximadamente 5.000
nossos ancestrais tornar-se qualquer coisa que anos). Certamente a única espécie sobreviven-
não humanos, então deve-se considerar que o te do genus homo não é a única variedade de
Homem teve sua origem, como forma distintiva hominídeos a possuir consciência. Acredita-se
de vida, há cerca de dois a dois e meio milhões que o Homem de Neanderthal possuísse ceri-
de anos6. mônias fúnebres, ao invés de tratar os cadáve-
Seria possível datar a idade da humanida- res de seus mortos como lixo. Ele parece ter
de com precisão ainda maior, identificando-a a sobrevivido até época tão recente quanto a tran-
partir de algum traço anatômico distintivo, ou sição da Idade Paleolítica Inferior para a Supe-
de hábitos e realizações distintivas, tais como o rior, talvez há uns setenta ou quarenta mil anos.
bipedismo, a encefalização crescente, o aban- Há até indícios de que havia comunidades mis-
dono da copa das árvores? Poderíamos datar a tas de Neandertalenses e Sapientes e, se isso
gênese da natureza humana pela realização de existiu realmente, parece provável que esses
feitos como a sociabilidade e o desenvolvimen- dois tipos de seres humanos tenham sido fisi-
to da linguagem, entendida como um código de camente semelhantes o bastante para poderem
sons transmitindo significados inteligíveis a to- acasalar-se. Todavia, o Homem de Pequim
dos os membros de uma comunidade, em opo- (Homo erectus da China), cuja data é estimada
sição a um conjunto de exclamações expres- em cerca de meio milhão de anos, tem de ser
sando emoções? considerado como uma espécie diferente; e, se
Uma possibilidade para datar o aconteci- é verdade que o Homem de Pequim já havia
mento da aparição da natureza humana na bios- dominado o fogo, sua consciência deve ter sido
fera não seria o desenvolvimento de uma ca- bem desenvolvida. Também deve ter sido ne-
racterística anatômica, nem a aquisição de uma cessária uma centelha de consciência para pen-
habilidade, mas sim o despertar da consciên- sar em lascar pedras, em lugar de usar apenas,
cia7. Mas, o que é consciência? Ou seriam “as como ferramentas, objetos naturais não modifi-
consciências”? E então qual delas? Mais espe- cados. A confecção de ferramentas com pedras
cificamente, a Consciência Ampliada de Damá- lascadas é atribuída ao australopithecus, cuja
sio? E qual seria a sua função? Como tal fenô- data é estimada em cerca de dois a três mi-
meno surgiu no cérebro humano: terá ele lhões de anos, classificado como hominídeo,
surgido súbita e inteiramente formado no cére- mas não como homo. E tampouco há certeza
bro do Homo sapiens , sem nenhum tipo de quanto ao fato de ele ser ou não ancestral do
precursor na natureza? Quando, na pré-história homo. Registros não-intencionais, sob a forma
humana, a consciência atingiu o estágio que de ferramentas modeladas, são tão antigos
agora experimentamos? Que vantagens evolu- quanto o australopithecus; mas os registros
tivas teria ela conferido aos nossos ancestrais? mais antigos, feitos com a intenção de servir
Há sempre a possibilidade, é claro, de que ela como tais, têm apenas cerca de 20.000 ou
não “sirva” para nada e seja simplesmente um 30.000 anos de idade, caso as pinturas nas
subproduto de cérebros grandes em ação, como paredes das cavernas na França e na Espanha,
sugere o questionamento de Dennett: “Haverá datando da Idade Paleolítica Superior, sejam
qualquer coisa que uma entidade consciente os mais antigos registros intencionais de todos
pode fazer por si mesma que uma simulação os tempos.
inconsciente (mas habilmente programada) A evidência arqueológica pré-documentá-
desta entidade não possa fazê-lo?”8. Entretan- ria informa acerca da tecnologia, mas a tecno-
to, parece razoável adotar o ponto de vista logia é apenas uma condição que possibilita
evolutivo, que sustenta que um fenômeno men- inferir os constituintes não-materiais do modo
tal tão poderoso provavelmente conferiu bene- de vida do Homem: seus sentimentos e pensa-
fícios para a sobrevivência e foi, portanto, pro- mentos, suas instituições idéias e ideais. Essas
duto da seleção natural. Se nenhum de tais são manifestações da natureza humana mais
benefícios pode ser discernido, então talvez a importantes do que a tecnologia; uma das ca-
alternativa “nenhuma função adaptativa” possa racterísticas mais distintivas do Homem é o fato
ser considerada 3. de que ele não vive apenas de pão, e embora
Tentar datar o despertar da consciência é os restos materiais da tecnologia realmente lan-
muito difícil, senão audacioso, se supusermos cem luz sobre algumas das facetas não-mate-
54 que o mesmo foi um processo gradual que, riais da vida humana, essa luz é pouca. Inferên-
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
4. A consciência: algumas – silva et alii
cias do que é material para o que é mental são, por volta dos 10-12 meses, enquanto que o
em algum grau, tiros no escuro, e, quando a bebê chimpanzé começa a mover-se por si
evidência material é tudo o que temos, deixa mesmo em torno dos 6. O pequeno huma-
alguns aspectos da vida mental envoltos em no ganha seus primeiros dentes apenas
ainda muita obscuridade. Dessa forma, nossas entre 6 e 24 meses, contra 3 e 13 meses no
informações são muito mais copiosas e escla- chimpanzé. A idade da puberdade é atingi-
recedoras em relação aos últimos 5.000 anos da aos 13 anos na espécie humana, contra
de história do que em relação ao primeiro mi- 9 no chimpanzé. O período de crescimento
lhão ou meio milhão de anos depois do desper- não pára antes dos 20 anos no homem,
tar da consciência. Contudo, um fenômeno pro- contra 11 no chimpanzé. (Este último tem
vavelmente fundamental na evolução do uma estimativa de vida mais ou menos de
cérebro, que permitiu a consciência ampliada 45 anos, contra 75 anos para o homem
como a reconhecemos em nós mesmos, é re- atual.) Uma outra diferença capital entre o
lativamente conhecido: a neotenia. desenvolvimento do homem atual e o do
chimpanzé diz respeito à velocidade de
A NEOTENIA crescimento do cérebro: no recém-nascido
humano, o cérebro representa apenas 23%
Blanc10, escreve: do peso que atingirá na idade adulta, con-
“S.J.Gould lembrou corretamente, em 1977, tra 40% no recém-nascido chimpanzé. Em
em um importante livro, Ontogeny and outros termos, o cérebro continua a crescer
Phylogeny, que o homem difere do chim- após o nascimento, em proporções bem
panzé por um forte retardamento em seu mais consideráveis no homem que no chim-
desenvolvimento. Com efeito, é preciso sa- panzé. De onde um volume cerebral médio
ber que o homem e o chimpanzé passam na idade adulta de 1350 cm3 no primeiro,
pelas mesmas etapas durante o desenvol- contra 400 cm3 no segundo... O ser huma-
vimento pós-natal, e um feto de chimpanzé no apresenta em sua morfologia toda uma
lembra bastante um feto humano. Após o série de caracteres, ditos neotênicos, pró-
nascimento, o bebê chimpanzé evoca ain- prios dos estágios precoces do desenvolvi-
da fortemente o bebê humano. Porém, con- mento do chimpanzé: o pêlo não é uma
seqüentemente, as diferenças morfológicas característica do feto do chimpanzé(este
tornam-se importantes, e um chimpanzé adquire sua pelagem apenas nos últimos
adulto lembra apenas remotamente um ser momentos da gestação); a orientação do
humano... Os biólogos empregam o termo grande artelho paralelo aos outros dedos
neotenia para designar este fenômeno de do pé é um estágio fetal precoce de todos
fetalização, ou mais exatamente de juve- os primatas(no final do desenvolvimento
nilização. Outros exemplos de neotenia pré-natal, o polegar do pé ou da mão so-
são conhecidos no reino animal... no ho- freu, em todos os macacos, uma rotação,
mem ela fixou-se definitivamente no patri- para tornar-se oposicionável aos dedos e
mônio genético da espécie... De fato, é permitir preensão); a ausência de proemi-
provável que o surgimento do homo nências ósseas acima das órbitas, a frágil
habilis...tivesse correspondido a uma mu- espessura dos ossos são também caracte-
tação dos genes de regulação do desen- res de fetos de macaco, etc. Podemos, as-
volvimento, que teve como efeito retardar sim, chegar a fazer uma lista que compre-
consideravelmente a totalidade do desen- ende duas dezenas de caracteres
volvimento pré e pós-natal. Podemos com- neotênicos no homem10.
parar sua importância comparando o ho-
mem atual e o chimpanzé. A ossificação no Dentre as muitas listagens feitas por diver-
recém-nascido humano está muito atrasa- sos autores, citadas por Gould11, destaca-se a
da em relação à observada no bebê de Montagu, que salienta o prolongado período
chimpanzé(os dedos e as extremidades de dependência infantil como um destes carac-
dos ossos são ainda cartilaginosos no nas- teres neotênicos. As imagens seguintes são
cimento). O bebê humano começa a andar também ilustrativas:
55
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
5. A consciência: algumas – silva et alii
paro decorrente da imaturidade pertence so-
Fig. 61. Baby and adult chimpanzee mente ao início da vida, mas aí estaríamos em
from Naef, 1926b. Naef remarks: “Of all
animal pictures known to me, this is the dificuldades para entender a difusão de muitas
most manlike” (p. 448).
produções da civilização, especialmente o ape-
lo das teorias místicas, religiões, terapias de
vidas passadas por exemplo, que visam a ne-
gar a maior impotência de todas que é a que
sentimos diante da consciência da morte.
HIPÓTESES ATUAIS SOBRE A
NATUREZA DA CONSCIÊNCIA
Em nossa opinião, as proposições de Antô-
nio Damásio, embora não totalmente originais,
representam um marco na compreensão da
As repercussões da neotenia sobre a con- questão da consciência. Tanto pela clareza de
dição humana são mais especificadas por suas proposições, quanto pelo raciocínio de-
Gould e outros autores citados por ele: senvolvido a partir de evidências obtidas de
pacientes com alterações cerebrais específicas
“Este retardamento reagiu sinergisticamen- em correlação com as alterações observadas
te com outros marcos da hominização – ou não nestes mesmos pacientes, fornecendo
com a inteligência (através de aumentar o uma base mais firme para a construção de hipó-
cérebro pelo prolongamento de tendências teses, a compreensão do fenômeno da cons-
de crescimento fetais e por prover um pe- ciência certamente deverá muito a ele.
ríodo mais longo de aprendizado infantil) e Apresentaremos aqui um esboço básico de
com a socialização (através de cimentar as algumas de suas hipóteses, já intercalando-as
unidades familiares pelo cuidado parental com alguns acréscimos de outros autores:
aumentado da prole de maturação Damásio propõe uma distinção fundamen-
lenta)...O prêmio adaptativo assim coloca- tal entre consciência central e consciência am-
do no aprendizado (em oposição à respos- pliada. A consciência central corresponderia,
ta inata) é único entre os organismos... O como mencionado acima, na sensação de ser
homem é programado para aprender com- alguém, um self, que existe e está vivenciando
portamentos, mais do que reagir via um o momento atual. Esta consciência central pres-
código instintual determinante impresso... cindiria do que entendemos como o mais sofis-
A correlação da maturação com a perda de ticado de nosso cérebro, da maior parte da
plasticidade (mental tanto quanto física) foi córtex (na verdade quase toda a neocórtex pode
há muito reconhecida... Konrad Lorenz em estar gravemente lesada e um paciente manter
particular tem repetidamente enfatizado o a consciência central, mesmo que não saiba o
caráter persistentemente ‘juvenil’ de nossa próprio nome). Esta consciência central neces-
flexibilidade comportamental... a ‘neotenia sitaria basicamente de estruturas localizadas
comportamental’ é apenas uma outra con- no tronco cerebral e do giro do cíngulo, áreas
seqüência do retardamento desenvolvi- bastante antigas e primitivas do ponto de vista
mental que permitiu nossa neotenia morfo- filogenético e presentes na maioria dos mamí-
lógica: ‘o caráter constitutivo do homem – a feros, o que o leva a supor que estes animais
manutenção de uma interação ativa, criati- possuam algo semelhante a esta “sensação de
va, com o ambiente – é um fenômeno neo- existir”.
tênico... ampliado para persistir até a seni- As estruturas neuroanatômicas necessá-
lidade’” 11. rias à consciência central são estrururas rela-
cionadas aos mecanismos homeostáticos bási-
Ou seja, a prematuridade, este fato básico cos, levando Damásio a cogitar que a natureza
da natureza humana, não ocorre somente no essencial da consciência seja a de um meca-
início da vida como se acreditava quando se nismo homeostático, auto-regulador, de feed-
pensava que o fator biológico fosse um nasci- back. Ele propõe que para esta consciência
mento precoce fruto da aquisição da bipedes- central sejam necessários três mapas neurais.
tração, mas é persistente por toda a vida do Um mapa é um grupo de neurônios que guarda
indivíduo até a senilidade. Poderíamos preferir uma correlação constante com um tipo de estí-
56 pensar que a percepção do estado de desam- mulo, seja uma região do corpo, um tipo especí-
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
6. A consciência: algumas – silva et alii
fico de percepção nesta região (por exemplo, a é a tendência que temos a sempre pensar que a
sensação proprioceptiva do interior da articula- consciência é “outra coisa” além dos processos
ção do joelho) . O primeiro mapa seria o mapa neurais que estamos descrevendo, que estes
do self corporal, que ele chama de protoself. O processos “causam” a consciência, e não “são”
segundo seria o chamado mapa do objeto, da- a consciência13. Churchland assinala este erro
quilo reconhecido como não-self. O terceiro no pensamento do importante neurofilósofo
mapa seria um mapa destinado a registrar as John Searle, comparando com concepções lei-
mudanças no protoself ocasionadas pela rela- gas como a de que o movimento dos elétrons
ção com os objetos, com o ambiente, em tempo num condutor “causa” a eletricidade e não que
real (escaneamento total realizado a cada apro- este movimento “é” a própria eletricidade. Esta
ximados 13 milissegundos, como veremos forma de pensar retoma disfarçadamente o du-
adiante). alismo mente-corpo cartesiano14.
Neste ponto da teorização de Damásio, cre- Voltando às antecipações geradas pelo cé-
mos importante intercalá-la com a do neuroci- rebro constantemente, a antecipação funda-
entista Llinas, que, baseado em uma boa gama mental para a consciência central seria a da
de evidências de registros cerebrais correlacio- continuidade inalterada do protoself corporal,
nados com tomadas de decisões e ações, pro- ou seja, da homeostase, e as alterações ocasi-
põe, e é respaldado por diversos colegas ilus- onadas no protoself corporal pela relação com
tres, que o cérebro funcione como um “sistema o ambiente necessitariam receber atenção para
fechado”. Llinas12 argumenta que o cérebro tem despertar o mecanismo de revisão secundária
um funcionamento eminentemente antecipató- da consciência, que buscaria em última análise
rio, autoativado, relativamente independente do retomar a homeostase ou impedir um maior
ambiente, trabalhando mais e antes com as desequilíbrio.
expectativas que gera sobre o ambiente a partir Obviamente que a consciência ampliada,
dos registros mnêmicos prévios do que com as aquela que incluiria tudo o que Damásio chama
percepções imediatas. Essas percepções teri- de self autobiográfico, portanto com toda a so-
am um caráter mais corretivo do que causal fisticação que estamos acostumados a reco-
com relação ao comportamento. Isto se daria nhecer, pode projetar ações de manutenção da
em função da velocidade muito maior que este homeostase a longo prazo, que incluam no cur-
funcionamento antecipatório permitiria. Quan- to prazo até mesmo um desequilíbrio maior des-
do os inputs perceptuais divergem da antecipa- ta mesma homeostase, o que Freud chamaria
ção, o que sempre ocorre em alguma medida, de uma vitória do princípio de realidade sobre o
este fato desperta os mecanismos atencionais, princípio do prazer.
a divergência “chama a atenção”, e desperta a Neurocientistas como Olds e Deacon12 ar-
consciência, que seria um mecanismo bastante gumentam que, neste modelo, a consciência
mais lento que o processamento cerebral usual auto-reflexiva re-representa simbolicamente os
e posterior a este. A consciência faria uma revi- dados obtidos via percepções, assim tornando-
são secundária, embora imediata, do processo os independentes de sua fonte. Assim se cria
mental utilizado na produção das antecipações, uma “cena virtual” (vide também adiante “o pro-
para verificar qual o erro ou afinamento neces- blema do enlace”). A comparação é feita com
sário para gerar antecipações mais perfeitas. uma videocâmera. Se não há memória(ou fita)
Llinas e outros chegam a descrever o estado de na câmera, só temos uma imagem fugidia. Se
consciência na vigília como um “sonho modifi- há memória, seja fita ou digital, então a cena
cado pelos inputs sensoriais e pelos outputs pode ser recuperada independente do ambien-
motores”12. Embora tenhamos a impressão de te que a gerou, ser manipulada, editada. Se por
que a consciência é o que precede a tomada de um lado isto aumenta imensamente o que se
decisão, ela na verdade seria um produto de pode fazer com estes dados, também abre o
decisões já tomadas e implantadas inconscien- caminho para as distorções, as defesas, as
temente pelo cérebro. Esta concepção se apro- reconstruções. Solms lembra que Freud propu-
xima muito da ênfase da psicanálise das últi- nha, em 1917, que
mas décadas no mundo interno como essencial
para a compreensão do comportamento huma- “a psicanálise propõe que a atividade men-
no. tal é inconsciente em si mesma. Isso impli-
Muitos autores têm ressaltado que várias ca que a consciência não é somente uma
descobertas recentes com relação à consciên- parte da atividades mental: ao invés disso,
cia são contra-intuitivas, diferentes da impres- ela é um reflexo da atividade mental ou
são que tendemos a ter usualmente. Uma delas uma percepção da atividade mental que é, 57
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
7. A consciência: algumas – silva et alii
ela mesma, inconsciente. Assim, a ativida- especializado em analisar atributos distintos de
de mental não consiste numa corrente cau- cada objeto – no caso das imagens visuais
sal em que alguns de seus elos são cons- sabemos que há analisadores para forma, cor,
cientes e outros não. A proposta é que a movimento, contraste e profundidade entre ou-
atividade mental consiste numa corrente tros – encontra-se localizado em áreas distintas
causal que é inconsciente em sua essência do cérebro, razão pela qual deve haver um
e que a consciência representa este pro- mecanismo que enlace temporalmente a ativi-
cesso de forma ‘incompleta e não-confiá- dade de todos eles, de maneira que a percep-
vel’ ”.15 ção possa ser experimentada como uma unida-
de perceptual unificada. Contudo, em que pese
Edmund Rolls5, neurocientista de Oxford, toda esta extraordinária riqueza e diversidade,
propõe que esta revisão secundária, a que ele aquilo que estamos vivenciando em um mo-
chama de “pensamentos de segunda ordem”, já mento qualquer é uma singular cena conscien-
no domínio da consciência ampliada, teria a te unificada, uma cena que é significativa ape-
vantagem de permitir uma correção de partes nas como um todo e que, enquanto está sendo
do processo mental, libertando-o da “tentativa e vivenciada, não pode ser dividida em seus com-
erro”, na qual se o resultado final de alguma ponentes independentes. Momento a momen-
estratégia comportamental é indesejável esta- to, a cena, todavia, muda continuamente en-
mos condenados a descartá-lo integralmente e quanto acontece o passeio.
tentar outro, algo como “jogar fora o bebê junto Parece que o “truque” que o cérebro utiliza
com a água do banho”. Neste processo sofisti- para compor uma cena singular, coerente e
cado da consciência ampliada, a linguagem unificada a partir da fragmentação intracerebral
joga um papel fundamental, potencializando da realidade externa é o disparo simultâneo,
enormemente a capacidade de revisão e a so- correlacionado em um instante, de todos os
fisticação das antecipações. Linguagem aqui é neurônios implicados na análise dos atributos
entendida como a capacidade de articulação de de cada objeto particular. Portanto, ver um ob-
imagens e símbolos, não necessariamente ver- jeto implica a ativação de vários neurônios em
bais. Neste enfoque a linguagem tem uma parti- diferentes localizações do sistema visual de
cipação importante na consciência ampliada, maneira correlacionada. O problema do enlace,
mas não é essencial para a consciência central. do ponto de vista neurobiológico, é entender
como esses neurônios se ativam temporalmen-
O PROBLEMA DA INTEGRAÇÃO te de maneira síncrona, particularmente quan-
OU DO ENLACE do mais de um objeto ou evento pode ser perce-
bido simultaneamente. Ou então, como
Durante um passeio ao ar livre, nossos questiona Gerald Edelman16: “Como um conjun-
sentidos vão sendo ocupados por variados estí- to de diversos mapas funcionalmente separa-
mulos: nosso campo visual é preenchido por dos, podem estar ligados sem um mecanismo
carros, árvores, casas, outras pessoas, animais controlador de ordem superior?”
– cada um com sua forma específica, sua cor Uma abordagem possível para solucionar o
específica e específica posição no campo visu- problema, no caso da visão, foi proposta por
al. Alguns objetos podem estar em movimento, vários pesquisadores, principalmente por Wolf
emitir sons ou cheiros. Além disso, esses obje- Singer e seus colegas17, em Frankfurt, median-
tos podem estar relacionados a outros por es- te experimentos realizados em gatos. Estes ci-
pecíficas e significativas vias, e nós podemos entistas registraram oscilações periódicas no
atribuir um conceito e um nome a cada um córtex visual, que tem uma freqüência média ao
deles, sendo que o número de objetos e situa- redor de 40 ciclos por segundo, isto é, 40 Hz.
ções que podemos perceber é praticamente Lembremos que os disparos de cada neurônio,
infinito. Obviamente não pode haver um tipo de quando se apresenta um objeto no campo visu-
neurônio que corresponda a cada objeto, pois al, são potenciais de ação ou impulsos nervo-
necessitaríamos de um cérebro gigantesco. sos “tudo ou nada”. Estes disparos são registra-
Tampouco pode haver mapas compostos de dos com microeletrodos extracelulares muito
redes de neurônios que funcionem com o fim de finos, que têm uma extremidade de poucas mi-
reconhecer cada objeto ou situação, pois isso cra. A soma dos campos elétricos produzidos
exigiria um cérebro de dimensão enciclopédica. por cada potencial de ação origina um potencial
Na verdade, há um número enorme, porém fini- macroscópico que pode ser registrado com um
to, de neurônios que avaliam as características eletrodo maior nas vizinhanças dos neurônios
58 de cada objeto. Cada conjunto de neurônios que disparam, gerando um potencial de campo
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
8. A consciência: algumas – silva et alii
local que oscila a 40 Hz e representa a ativida- lações podem sincronizar-se por interações si-
de média dos neurônios que disparam na vizi- nápticas recíprocas entre os núcleos intralami-
nhança do eletrodo. Se são utilizados dois ele- nares do tálamo e as diferentes áreas do cór-
trodos separados um do outro por uma distância tex. De fato, os neurônios talâmicos também
de alguns milímetros, Singer e colaboradores mostram as oscilações de 40 Hz, e os núcleos
constataram que os disparos registrados por intralaminares formam anatomicamente uma
cada um dos eletrodos estão correlacionados e espécie de meia lua que recebe e emite cone-
em fase com a oscilação de 40 Hz, o que signi- xões de e para todo o córtex cerebral, formando
fica que os neurônios que se encontram locali- uma espécie de leque fronto-caudal.
zados em distintas áreas do córtex visual res-
pondem ao objeto percebido disparando
potenciais de ação simultaneamente. Para es-
tes neurocientistas, as oscilações de 40 Hz no
córtex visual são a base neural do enlace no
tempo, por meio de um mecanismo que sincro-
niza o disparo de uns neurônios com outros.
Francis Crick e seu colega Christof Koch levam
esta hipótese um passo à frente e sugerem
que, talvez, descargas neuronais nesta ampli-
tude (em torno de 40 Hz, mas não tão baixo
quanto 35 ou tão alta quanto 75) possam ser o
“correlato cerebral” da consciência visual2.
A hipótese é coerente e suscetível de ser
provada, mesmo que circunscrita ao sistema
visual, embora deixe pendente o problema de
Esquema que representa o leque de conexões recíprocas entre os
como e quem sincroniza o disparo dos neurô- núcleos intralaminares do tálamo e distintas áreas do córtex cerebral.
nios implicados na percepção de um objeto, os As vias corticotalâmicas se representam com linhas interrompidas.
quais se encontram localizados em distintas
áreas cerebrais. Uma possível resposta vem de
outra hipótese que engloba as anteriores e de Ainda mais interessante é o que revelam os
algumas observações que começam a susten- estudos com MEG, mostrando que a oscilação
tá-la: R. Llinás e seu grupo consideram que o de 40 Hz é gerada nas regiões corticais frontais
cérebro é um sistema fechado capaz de gerar e logo nas caudais, isto é, as oscilações se
seus próprios ritmos baseado nas propriedades defasam rostrocaudalmente, de tal maneira que
elétricas intrínsecas dos neurônios que o com- o cérebro se comporta como se tivesse um
põem, assim como de suas conexões18. sistema de escaneamento que recorre todo o
A primeira observação relevante neste con- córtex cerebral em direção rostro-caudal, enla-
texto é que os neurônios em qualquer parte do çando toda a informação sensorial em interva-
córtex cerebral são capazes de oscilar a 40 Hz, los de 12,5 milisegundos. Todo esse processo
devido as suas propriedades elétricas intrínse- é discreto, descontínuo e, no entanto, percebe-
cas. A segunda observação crucial foi realizada mos o mundo externo de maneira unificada,
por meio da técnica de Magnetoencefalografia como um continuum no tempo. Isto significa
(MEG), que permite registrar os pequenos cam- que as imagens se criam uma após a outra tão
pos magnéticos que são produzidos pelas cor- rápido que as percebemos tal como sucede
rentes dos neurônios ativados em diferentes com uma projeção cinematográfica. Ou seja: os
áreas do cérebro, através de 37 sensores mag- estímulos procedentes de todos os sentidos se
néticos dispostos ao redor da cabeça de um enlaçam, não em um lugar no cérebro, já que
indivíduo. Com esta técnica, tem-se observado não existe um observador interno e nem uma
que, durante a execução de atos cognitivos, tela para projeção, mas, sim, no tempo, que é
durante a estimulação sensorial ou durante o determinado pela freqüência de escaneamento
sonhar, apresenta-se uma atividade oscilatória e pelas propriedades elétricas intrínsecas dos
coerente em todas as áreas do córtex cerebral, neurônios. O surpreendente é que este valor
com uma freqüência de 40 Hz, o que sugere a (12,5 ms.) corresponde ao “Quantum de Cons-
existência de uma causa comum, um sistema ciência” estimado a partir de estudos psicofísi-
sincronizador cortical. Uma vez que todo o cór- cos da via auditiva 19, que é a via sensorial que
tex cerebral conecta-se com o tálamo de ma- possui o maior poder discriminatório entre dois
neira recíproca, tem sido postulado que as osci- estímulos aplicados em seqüência temporal, ou 59
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
9. A consciência: algumas – silva et alii
seja, os estímulos devem estar separados um nios e sinapses podem tornar-se funcionalmen-
do outro por um intervalo de tempo de 12,5 ms. te organizados em redes neurais. A segunda
e não inferior, para que sejam percebidos como etapa é a seleção experiencial: sobrepondo-se
dois estímulos. ao período pós-natal inicial e continuando por
Outra tentativa de explicação vem de Ge- toda a vida, a experiência esculpe os caminhos
rald Edelman. Médico, foi o primeiro cientista a funcionais neurais a partir da disposição anatô-
determinar a fórmula completa de um anticorpo. mica primitiva12. Os caminhos então utilizados
Seus estudos levaram ao entendimento de que durante a experiência são selecionados pelo
a formação de anticorpos é presidida pelos fortalecimento das conexões sinápticas entre
mesmos princípios da seleção natural. Seus grupos neuronais ou pela criação de novas co-
trabalhos no campo da imunologia renderam- nexões. Aquelas conexões não utilizadas são
lhe o Prêmio Nobel de Medicina em 1972. Mais enfraquecidas e degeneram.
tarde, Edelman e seu grupo no Instituto de Neu- O terceiro postulado é a reentrada, um pro-
rociências da Universidade de Rockefeller pas- cesso através do qual sinais paralelos transi-
saram a estudar o sistema nervoso para ver se tam reciprocamente entre os grupos de neurô-
também este era um sistema selecional e se nios. A TNGS usa a reentrada como um
sua estrutura e modo de funcionamento poderia mecanismo chave para explicar como ocorre o
ser compreendida como envolvendo ou emer- enlace (unificação de percepções e comporta-
gindo por um processo similar de seleção. Des- mento), a despeito do fato de não haver um
ses estudos, resultou uma teoria biológica da processador central ou um detalhado conjunto
mente, baseada nos princípios da Seleção Na- de instruções coordenando áreas cerebrais fun-
tural de Darwin, denominada Darwinismo Neu- cionalmente separadas20. A sincronização da
ronal ou Teoria da Seleção de Grupos Neuro- atividade neuronal possibilitada pela reentrada
nais (TNGS, em inglês) 2,16. Essencialmente, habilita rápidas alterações na atividade de gran-
Edelman desenvolveu seu modelo como um des populações de grupos neuronais. Como
meio de explicar que nenhum programa de ins- resultado, neurônios desses grupos disparam
truções genéticas pode dar conta de todas as ao mesmo tempo, correlacionando um grande
possíveis respostas às situações ambientais número de circuitos dinâmicos no tempo e no
que um animal está sujeito a encontrar e que, espaço.
não obstante nossas experiências com o mun- Segundo Edelman, este princípio de enla-
do externo serem unificadas, não existe uma ce, tornado possível pela reentrada, é repetido
localização anatômica onde a unificação é com- em muitos níveis da organização cerebral e
pletada. joga um papel central nos mecanismos que
Sucintamente, a TNGS postula que desde levam à consciência.
o nascimento o cérebro é geneticamente equi-
pado com uma quantidade excessiva de grupos CONSCIÊNCIA E MEMÓRIA
neuronais, que o faz se desenvolver através de
um mecanismo que se assemelha à Seleção Para falarmos da relação das funções da
Natural. Alguns grupos neuronais morrem; ou- consciência com a memória, inicialmente con-
tros são fortalecidos e sobrevivem. Em algumas ceituaremos as memórias com as quais iremos
partes do cérebro, praticamente 70% dos neu- trabalhar para fins deste texto.
rônios morrem antes do cérebro alcançar a ma-
turidade 2. Sistemas de memória de longo prazo
De acordo com a TNGS, a unidade de sele-
ção não é a célula nervosa, mas sim a coleção A Memória Declarativa (ou Explícita) é toda
de células intensamente conectadas, chama- aquela memória que podemos lembrar, através
das Grupo Neuronal, que podem ter algumas de uma evocação. É a memória para fatos,
dezenas ou centenas de milhares de células, e eventos e conhecimentos. A localização no cé-
cujo desenvolvimento ocorre em duas etapas. rebro compreende principalmente hipocampo e
A seleção desenvolvimental dá-se antes do córtex temporal medial. Divide-se em episódica
nascimento. As instruções genéticas de cada (fatos e eventos aos quais assistimos ou parti-
organismo determinam o desenvolvimento neu- cipamos; portanto, é autobiográfica) e semânti-
ronal sem, no entanto, especificar o destino ca (de conhecimento dos idiomas, conhecimen-
exato para cada célula nervosa na migração tos adquiridos por meio de estudo e
que ocorre durante o desenvolvimento embrião- aprendizado, de índole geral, não autobiográfi-
feto-bebê, sendo que existe uma quase infinita ca). É em princípio acessível à consciência.
60 variação de caminhos pelos quais esses neurô- A Memória Procedural (ou Implícita) com-
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
10. A consciência: algumas – silva et alii
preende a memória de procedimentos, hábitos nos fatos de que essas memórias são intrinse-
e habilidades, mas não apenas motores como camente subjetivas e que elas são intrinseca-
antes se acreditava. Funções cognitivas com- mente conscientes.
plexas e subjetivas, como padrões morais, utili- Por que deveriam as nossas memórias de
zadas no juízo de valor, podem fazer parte da eventos de vida pessoais necessariamente ser
memória implícita, e a sua existência só é de- conscientes? Aqui reside um problema funda-
preendida através da observação do proceder mental. Estas memórias são conscientes por-
do indivíduo. Esta tem no estriado uma estrutu- que elas envolvem o reviver de momentos de
ra chave. Compreende também a memória liga- experiências passadas. Sabemos que estes
da à musculatura esquelética (localizada no momentos de experiência são encontros mo-
cerebelo).O núcleo caudato inervado pela subs- mentâneos de estados do self com eventos
tância nigra é um circuito importante envolvido ocorrentes no mundo externo – e nós sabemos
na memória implícita. É inconsciente21,22,23 que a consciência (ou consciência central) é
tanto o mensageiro quanto a mensagem destes
Anatomia da memória episódica encontros. A memória episódica, então, consti-
tui o tecido essencial do self autobiográfico. A
As estruturas que são as mais importantes consciência ampliada é assim denominada pre-
para a memória episódica são muito diferentes cisamente porque amplia a qualidade de cons-
das que servem à memória procedural e se- ciência vivenciada no passado sobre os encon-
mântica. A memória episódica envolve ativação tros self – objeto. Ela envolve o reviver de
consciente de padrões estocados de conectivi- momentos passados ( ou “unidades” self-objeto
dade cortical (i.e., redes sinápticas facilitadas) passadas) de consciência central23.
representando eventos perceptuais prévios. Os
diretórios de tais links entre os padrões corti- Mas será que o conhecimento autobiográfi-
cais estocados e vários estados do SELF pare- co é necessariamente consciente? Os psicote-
cem ser codificados, acima de tudo, através do rapeutas rotineiramente relatam que seus pa-
hipocampo. cientes “recuperam” memórias de eventos
É um problema de grande importância para vividos dos quais estes eram previamente não
o entendimento da memória episódica que a conscientes. Será que estas memórias não es-
rede de estruturas que compreende o sistema tavam previamente codificadas como episó-
límbico foi primeiro identificada não em cone- dios? Elas existiam previamente como crenças
xão com as funções da memória, mas ao invés semânticas e hábitos procedurais? Se isto for
disto, em conexão com a emoção. Isto sublinha verdade, todas as assim chamadas memórias
a importância do fato de que a memória episó- recuperadas serão de fato memórias reconstru-
dica não é simplesmente estocada, mas, mais ídas, no sentido de que elas serão feitas de
do que isto, vivenciada. A essência da memória material cru que não era, em si, “episódico”. Por
episódica é que ela é CONSCIENTE, e a essên- outro lado, parecerá plausível que um episódio
cia dos estados auto-gerados de consciência é pessoal possa deixar um traço neural (uma co-
que eles são intrinsecamente EMOCIONAIS. nexão self – mundo externo) que liga duas re-
Este é o motivo pelo qual nós dizemos que a presentações verídicas (um estado do self com
consciência é tanto o mensageiro como a men- eventos ocorrentes no mundo externo) e só se
sagem da memória episódica: nós recobramos torna consciente uma vez que a ligação (como
eventos de forma episódica para lembrar como opondo-se às representações propriamente di-
é senti-los.23 tas) é ativada novamente. E mais, é questioná-
vel se um estado do self pode ser representado
Memória episódica e consciência sem necessariamente ser reativado. Em outras
palavras, os estados do self devem ser intrinse-
Memória episódica envolve a literal re-ex- camente conscientes (Não podemos dizer que
periência de eventos passados – o trazer à tona lembramos sem simultaneamente sermos). O
a consciência de episódios experienciais prévi- sentido de self parece ser necessariamente
os. Isto é o que a maioria de nós entende como consciente (Eu estava lá, aquilo ocorreu comi-
memória propriamente dita. Quando dizemos go). Isto implica que, apesar dos eventos exter-
“eu lembro...(algo),” nós estamos falando da nos poderem ser codificados inconscientemen-
memória episódica. O sistema de memória epi- te no cérebro (como semântico, perceptual, ou
sódica “nos permite explicitamente rememorar traços procedurais), o vivenciar episódico des-
incidentes pessoais que definem as nossas vi- tes eventos aparentemente NÃO PODE. Expe-
das de maneira única”. A ênfase aqui reside riências não são meros traços de estímulos 61
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
11. A consciência: algumas – silva et alii
passados. Experiências têm de ser vividas. É o corpo, criam jogadas inesperadas.
revivenciar do evento como uma experiência Tipicamente, memórias procedurais vão
(Eu lembro...) que necessariamente a torna estar associadas com memórias semânticas e
consciente. E é o sentido do self (de estar aqui) memórias episódicas. Isto significa que a mes-
que combina os traços dentro de uma experiên- ma experiência será codificada de diversas
cia. É o self que liga nossas representações maneiras simultaneamente – como um set de
fragmentadas do mundo externo para unificar episódios experimentais, como um set de fatos
as experiências vividas. A ligação no encontro abstratos e como um set de respostas habi-
self-mundo externo é, em última análise, o pró- tuais. Esta é a manifestação da redundância da
prio SELF. memória. Como resultado, é bastante possível
Isto nós aparentemente redescobrimos de que o comportamento de uma pessoa seja de-
um ponto de vista neurocientífico, o fato óbvio terminado por influências e eventos dos quais a
de que aquilo que sentimos sobre nossas expe- pessoa é totalmente não consciente.
riências é o que faz elas serem suscetíveis à Isto é obviamente relevante para alguns
repressão. Mesmo que façamos uma recorda- fenômenos com os quais lidamos nas psicote-
ção perfeita do ponto de vista semântico, per- rapias. Adiciona outra dimensão para o fenô-
ceptual ou procedural, os múltiplos traços exte- meno da transferência e sua ligação em relação
roceptivos de um evento têm de ser trazidos de à memória perceptual. A transferência clara-
volta a uma conexão existente com e por meio mente se cerca de aspectos da memória proce-
do SELF sensível , que vai sentir se o evento dural. Não se sabe ao certo em que extensão
será conscientemente revivido (isto é, rememo- isto se aplica a outros fenômenos de interesse
rado de forma episódica). Nada que impeça dos psicoterapeutas – tais como as memórias
estas conexões pode banir a memória da cons- bodily, que alguns pacientes pós-traumáticos
ciência ampliada. possuem. Além disto, alguns comportamentos
Tudo isto sugere que, quando os psicotera- emocionais (como reações de medo incons-
peutas falam de memórias inconscientes de ciente a estímulos nociceptivos condicionados)
eventos pessoais, ao que eles estão se referin- certamente se parecem com memórias proce-
do realmente é a algo que as memórias estoca- durais. Talvez a colaboração interdisciplinar fu-
das dos eventos em questão seriam, como se tura entre psicoterapeutas e neurocientistas
eles pudessem ser re-experienciados. Memó- permita diferenciar mais precisamente os sub-
rias inconscientes dos eventos (memórias epi- sistemas de memórias “procedurais”.23
sódicas inconscientes) são memórias episódi-
cas “como se”. Elas não existem como CONCLUSÃO
experiências até que sejam reativadas pelo
SELF corrente. Neste ínterim, elas somente A questão da consciência continua a repre-
existem sob forma de traços semânticos e pro- sentar um desafio ao nosso entendimento; po-
cedurais (hábitos e crenças).23 rém, nos últimos 3 anos o terreno parece que
se tornou menos obscuro. A proposta clara,
Memória procedural e o inconsciente embasada e receptiva para a inclusão dos acha-
dos de outros autores feita por Antônio Damá-
Uma importante característica da memória sio4, forneceu, ao nosso ver, uma linha mestra
procedural é que ela funciona implicitamente. O para os desenvolvimentos que estão por vir. Ao
comportamento habitual é executado automati- mesmo tempo, desprendeu-nos de concepções
camente (e portanto inconscientemente) quase anteriores elusivas, como as de que a cons-
que por definição. À medida que a memória ciência era simplesmente o produto do cérebro
procedural é tornada explícita, ela se transfor- todo em funcionamento, eximindo-se de buscar
ma em algo mais, é traduzida para a forma suas especificidades, o que Searle2 caracteri-
semântica ou episódica. Por exemplo, é ampla- zou como “resolver um problema através de
mente sabido que a prática de alguns esportes negar a sua existência”, ou propostas dualistas,
pode se desenvolver sem um correspondente que situam a consciência como sempre “algo
conhecimento explícito de como a pessoa deve que está além”, dependente do funcionamento
fazer para jogar. Jogadores experientes (tênis, neural, mas não equivalente a este funciona-
p. ex.) descrevem seus momentos de auge mento mesmo, como criticaram Churchland14 e
quando, em uma situação de completa auto- Schwartz13, entre outros.
maticidade na qual eles não pensam conscien- Este trabalho buscou familiarizar a quem
temente em como executar o golpe e a raquete ainda não tem maior contato com o tema com
62 parece ser simplesmente uma extensão do seu algumas idéias básicas e com alguns autores
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003
12. A consciência: algumas – silva et alii
importantes dentro deste tópico. Dominar o Cultura, México, 1999
tema é impossível, já que este nem consta de 18. Llinás R e Paré D. Of Dreaming and Wakefulness, Neu-
roscience. 44:521-535; 1991 IN De La Fuente R, Leef-
muitos livros texto recentes de neurociência, ou mans FJA, Biologia de la Mente, Mexico: Fondo de Cultu-
quando consta é, como no importante ‘Princi- ra Económica; 1999
ples of Neural Science’ de Kandel, Schwarz e 19. Kristofferson, A.B. “Quantal and Deterministic Timing in
Jessel, de 2000, como um apêndice falando da Human Duration and Discrimination”. Ann. NY Acad. Sci.
423:3-15, 1984, in: De La Fuente R, Leefmans FJA,
futura neurociência do século XXI. Mas, mesmo Biologia de la Mente, México: Fondo de Cultura Económi-
assim, a bibliografia existente já é vasta e, tal- ca; 1999.
vez pela não-familiaridade que ainda temos com 20. EdelmanG. Bright Air, Brillant Fire, London: Penguin
ela, complexa. Porém, desejamos que este tra- Books;1992
21. Kandel, Schwartz & Jessel eds. Principles of Neural Sci-
balho sirva aos que o lerem, não como uma ence, 4ª ed., McGraw-Hill, New York, 2000.
referência, pois temos suficiente consciência
22. Bear, Connors & Paradiso eds. Neurociências, 2ª ed.,
para não nutrir tal pretensão, mas como um Artmed Ed., Porto Alegre, 2002.
estímulo para chamar a sua atenção para este 23. Solms M, Turnbull O. The Brain and the Inner World ,
tema tão fascinante, do mesmo modo que ocor- Karnac Books, London, 2002.
reu para nós, coordenador e integrantes do
grupo. RESUMO
Após um século da ênfase nos processos men-
tais inconscientes dada por Freud, estes se tornaram
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
largamente aceitos, e, nos últimos anos, na verdade
1. Sutherland S. “The Macmillan Dictionary of Psychology”,
tem se verificado que o maior mistério reside na
Macmillan; (1989) em De La Fuente R, Leefmans FJA, natureza da consciência. A distinção entre a cons-
Biologia de la Mente, México: Fondo de Cultura Económi- ciência no sentido de coma/vigília, no sentido de
ca; 1999. consciência moral e no sentido da sensação de exis-
2. Searle J. The Mystery of Consciousness, New York Re- tir e estar vivenciando algo, encontrou respaldo nos
view Book, New York, 1997. (“O Mistério da Consciên- avanços da neurociência. Esta última acepção, o
cia”, Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra; 1998).
“sentimento do que acontece” nas palavras de Damá-
3. Agostinho S. “Confissões”, São Paulo: Ed. Nova Cultural
sio, presente durante o sonhar e ausente em certos
Ltda; 2000
estados de vigília como nas crises de ausência, é a
4. Damásio A. The Feeling of What Happens, William Hei-
nemann Ed., London, 1999. propriedade de certos processos mentais que mais
5. Rolls ET. The Brain and Emotion, Oxford Univ. Press,
tem sido alvo de estudo. Evidências recentes suge-
Oxford, 1999. rem que tanto a sensação de continuidade da cons-
6. Salzano FM. “Biologia, Cultura e Evolução”, 2ª edição, ciência quanto a impressão de que ela preceda a
Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS;1993. tomada de decisão seriam ilusórias. Também a anti-
7. Toynbee A. “A Humanidade e a Mãe Terra”, Rio de Janei- ga crença de que a consciência fosse uma função
ro: Zahar Editores; 1982. dependente de um funcionamento cortical global tem
8. Dennett D. “Consciousness Explained”, Boston: Brown, sido questionada. A evolução da consciência a partir
1991; em Leakey R, “A Origem da Espécie Humana”, Rio dos mecanismos de homeostase, como um feed-
de Janeiro, Ed. Rocco; 1997. back sofisticado dos processos mentais que permite
9. Leakey R. “A Origem da Espécie Humana”, Rio de Janei- a detecção de erros nas predições realizadas pelo
ro: Ed. Rocco; 1997
cérebro sobre o self e o ambiente, com a possibilida-
10. Blanc M. (1994) Os Herdeiros de Darwin, editora Página de de correções em partes do processo mental sem a
Aberta, São Paulo.
necessidade de descartá-lo por inteiro, são exemplos
11. Gould SJ. Ontogeny and Phylogeny, the Belknap Press
das modernas compreensões sobre este tema, e que
of Harvard University Press, London, 1977.
têm importantes implicações para a clínica psicoterá-
12. Pally R. The Mind-Brain Relashionship, Karnac Books,
London, 2000. pica.
Neste trabalho, os autores revisam algumas das
13. Schwartz JH. “Consciousness and the Neurobiology of
the Twenty-First Century, in: Kandel, Schwartz & Jessel principais teorias recentes sobre a consciência, sua
Editors, Principles of Neural Science, 4ª ed, McGraw-Hill, natureza, funções, aspectos evolucionistas, relação
New York, 2000. com a linguagem, com os sistemas de memória e
14. Churchland PM & Churchland PS. On the Contrary: Criti- com a questão da integração dos diferentes inputs e
cal Essays, Bradford Book, MIT Press, Cambridge, 1998. registros mnêmicos numa cena unificada do self inte-
15. Solms M. “What is Consciousness?” , JAPA, 1997 ; 45, 3, ragindo com o ambiente, salientando que, embora já
681-703
tenhamos alguns desenvolvimentos muito interes-
16. Edelman GM & Tononi G. A Universe of Consciousness, santes, a compreensão do tema ainda está nos seus
Basic Books, New York, 2000.
primórdios.
17. Gray CM & Singer W. “Stimulus-specific Neuronal Osci-
lations in Orientation Columns of Cat Visual Cortex”.
Proc.Natl.Acad. Sci. USA.86:1698-1702;1989. In: La Descritores: consciência, evolução, neotenia, inte-
Fuente e Leefmans, Biologia de la Mente, Fondo de gração, memória, neuropsicanálise.
63
R. Psiquiatr. RS, 25'(suplemento 1): 52-64, abril 2003