1. “Era uma vez um rei que tinha uma filha única, de grande beleza e em idade de casar.
O rei de um reino ao lado tinha três filhos, todos rapazes novos, e apaixonaram-se os três por
esta princesa. O pai da princesa disse:
-Para mim, sois os três iguais e não posso ter preferências por um ou por outro. Mas
não queria que nascessem desavenças entre vós. Por isso fazei assim: ide-vos em viagem pelo
mundo, e àquele de vós que daqui a seis meses voltar com o presente mais belo, escolhê-lo-ei
para meu genro.
Os três irmãos partiram, e num ponto em que a estrada real se dividia em três
caminhos diferentes, seguiram cada qual por seu caminho.”
O irmão mais velho escolhera o caminho para a zona mais rica do reino, mas só se
apercebera disso quando lá chegou. Viu pessoas com trajes brilhantes, maioria bordados a
ouro e a prata, as lojas com montras muito bem decoradas que chamavam a atenção de
qualquer um. Ele tencionava passar três dos seis meses que lhe dispunham para estudar bem
aquela cidade.
O irmão do meio foi pelo caminho mais longo, era, sem dúvida, o mais tímido e
também o mais culto dos três irmãos, ao aproximar-se do final do caminho avistou luzes,
muitas luzes, vinham de todos os lados, já sabia onde estava, estava na cidade mais famosa do
reino, onde havia à venda de tudo um pouco. Por isso decidiu ficar por lá durante uns quatro
meses para poder escolher muito bem o seu presente.
O caminho do irmão mais novo foi dar a uma cidade muito pouco habitada, quase
deserta, não levou muito tempo a perceber que seguira o caminho para a cidade mais pobre
do reino.
Enquanto passeava pela cidade, avistou uma caixa de cartão ao pé do lixo. Esta movia-
se, e curioso como era, foi espreitar. Ao abrir deparou-se com um pequeno animal, de quatro
patas, com o pelo castanho claro e uma mancha branca no focinho que contrastava com os
seus olhos azuis. Era um cachorrinho, pegou-lhe e reparou que era tão pequenino que lhe
cabia na mão. Ficou quatro meses e meio a tratar do cão até que decidiu voltar ao ponto de
encontro que combinara com os irmãos.
Ao entrar, deparou-se com os dois irmãos:
-Finalmente te ponho a vista em cima, meu irmão! Pensei que tinhas desistido -
returcou o mais velho.
-Não meu caro irmão, não desisti. Mas o que trouxeram vocês?
2. -Nada de mais, apenas um colar e brincos a condizer, ambos com pérolas, e claro, os
mais caros da loja - disse o mais velho descontraidamente.
-E eu comprei-lhe um telescópio, para que ela possa observar as estrelas. E tu meu
irmão, o que trouxeste? – perguntou o irmão do meio.
-Nada, gastei todo o meu dinheiro – respondeu
-Ó meu irmão, és apenas o rapazote, hás-de encontrar outra rapariga…
Quando o irmão do meio terminou o seu discurso, entrou um cão de rajada.
-O que é isto?! – Exclamou o mais velho espantado
-É o meu cão, encontrei-o ao pé do lixo e gastei todo o meu dinheiro com ele –
esclarecia, sorridente, enquanto coçava as orelhas ao seu novo amigo.
Depois disto foram os três a caminho do palácio do rei.
-Podem entrar, -exclamou o rei- agora, um por um, entrará na sala e apresentará o seu
presente. Boa sorte aos três.
Com um gesto gracioso, o rei abriu a porta acompanhou o irmão mais velho até à sala
onde a princesa se encontrava.
-Que trouxeste para mim?
-Para ti, minha princesa, uns brincos e um colar quase tão belos como tu.
-Obrigada, cavalheiro.
Este saiu e entrou o do meio.
-Que trouxeste tu para mim?
-Para ti, minha princesa, trouxe um telescópio para veres as estrelas quase tão
brilhantes como tu.
-Obrigada, cavalheiro.
Sai o irmão do meio e por último entrou o mais novo acompanhado pelo seu cão.
-Que trouxeste para mim?
-Para dizer a verdade não trouxe nada para ti, minha princesa, gastei todo o meu
dinheiro a cuidar deste pequenote que encontrei no lixo.
-Traz o cão até mim, por favor.
E ao colocar o cão no colo da princesa, este começou logo a abanar a cauda, viu-se
encanto nos olhos da princesa.
-O teu cão é um amor, fizeste bem em acolhe-lo e a dizer-me a verdade.
3. Foram todos chamados à sala. E quando os três irmãos já estavam reunidos a princesa
anunciou:
-Meu cavalheiro, não poderei aceitar-te como meu esposo. Não são um par de brincos
e um colar que me fazem sentir especial.
-Como queira princesa, pode é vir a arrepender-se – o mais velho beijou a mão da
princesa, fez uma vénia ao rei e saiu da sala.
-Meus cavalheiros, entre um telescópio e nada escolheria o telescópio. Mas eu não
vou só escolher prendas, mas também vou escolher o meu esposo que eu quero que seja
aquele que me conta a verdade e que me oferece a companhia de um amigo. Eu escolho-te. –
E com um gesto rápido apontou para o mais novo.
-Como queira, minha princesa. – Nisto o irmão do meio levantou-se e fez uma vénia
respeitosa à princesa e ao rei e saiu da sala.