Este documento resume um trabalho sobre recomendações éticas para a produção e divulgação científica. O trabalho analisa artigos sobre conduta ética e identifica argumentos para apoiar recomendações de práticas éticas nas universidades e institutos de pesquisa brasileiros. O objetivo é mostrar a necessidade de educação sobre conceitos e procedimentos éticos tanto para produção quanto divulgação científica.
2. Mariângela Amendola
Profa. Dra. Matemática Aplicada e Computação Científica
Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica
28 de Junho de 2010
2
3. Mariângela Amendola
Profa. Dra. Matemática Aplicada e Computação Científica
Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica
Trabalho de Conclusão do Curso
de
Pós-graduação em Jornalismo Científico
Laboratório de Jornalismo - LABJOR
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
28 de Junho de 2010
3
4. Agradecimentos
Agradeço aos professores Amarildo, Conceição, Cristiane, Geraldo,
Graça, Herton, Lea e Simone, pela inclusão e discussão do tema nas
disciplinas desse curso; aos membros dos grupos de alunos dos trabalhos
dessas disciplinas, pelas discussões ao longo da elaboração dos trabalhos que
contemplaram o tema; ao LNCC, pelas oportunidades de apresentar palestras
sobre o tema em seus eventos; a FEAGRI, pela autorização para a minha
participação no curso; à minha mãe, minha babá Maria Dondon, aos amigos
(as): André, Cesare, Gi, Haroldo, Lala, Luci, Marina, Marlene, Rô, Rodolfo,
Sandramalta, Sonia, Valéria e Willinha, pelo incentivo nessa minha atuação
(“a esta altura da vida!” ou “para quê?” - disseram os outros).
4
5. As Coisas (Arnaldo Antunes)
As coisas têm peso
Massa, volume, tamanho
Tempo, forma, cor
Posição, textura, duração
Densidade, cheiro, valor
Consistência, profundidade
Contorno, temperatura
Função, aparência, preço
Destino, idade, sentido
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
As coisas têm peso
Massa, volume, tamanho
Tempo, forma, cor
Posição, textura, duração
Densidade, cheiro, valor
Consistência, profundidade
Contorno, temperatura
Função, aparência, preço
Destino, idade, sentido
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
As coisas não têm paz
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6. Resumo
Este trabalho mostra os resultados da análise da compilação de artigos
referentes a conduta ética na produção e divulgação científica, que revelam
argumentos que servem de suporte para a implementação de um conjunto de
recomendações para a prática científica nas universidades e institutos de
pesquisa do Brasil. Tal compilação se deu pela leitura de artigos científicos e
informes relacionados ao tema com os quais nos deparamos a partir de meados
de 2003, seguiu sendo complementada desta mesma forma até o início de
2009 e, desde então, de forma particular a partir das discussões do tema nas
diversas disciplinas do curso de Jornalismo Científico do LABJOR /
UNICAMP. Os resultados obtidos, que já serviram para palestras por nós
ministradas em eventos científicos nacionais, bem como para o
encaminhamento de sugestões para sociedades científicas, unidades da
UNICAMP e jornalistas científicos, revelam que o tema, em geral, não vem
sendo discutido e/ou divulgado nas universidades e institutos de pesquisa do
Brasil. Essa revelação justifica esse trabalho, cujos resultados levam à
recomendação de que parte da responsabilidade de todo cientista seja garantir
que os seus alunos e orientados recebam educação crítica que contemple
conceitos e procedimentos éticos tanto para a produção quanto para a
divulgação científica de seus resultados. De forma complementar
recomendamos que as sociedades científicas brasileiras disponham de
representantes de sua comunidade para este fim e que jornalistas científicos
considerem essas recomendações. A partir da implementação dessas
recomendações, sugerimos que as universidades e instituições de pesquisa do
Brasil estabeleçam regras para a punição dos envolvidos nos distintos tipos de
imposturas, a exemplo do que vem sendo feito em outros países.
Palavras-chave: ética na produção científica, ética na divulgação científica, orientações
para a prática científica
6
7. Sumário
1. Introdução 08
2. Objetivo 11
3. Material e métodos 11
4. Resultados e discussões 20
5. Considerações finais 50
6. Trabalhos futuros 50
7. Bibliografia complementar citada 51
8. Anexos 53
7
8. 1. Introdução
A produção do conhecimento em áreas científicas denominadas
“ciências duras”, como a matemática de nosso domínio, segue uma orientação
pré-estabelecida que traduz o que se entende por método científico.
Mas o método científico não é o único fator que serve de orientação
para a produção científica destas e de outras áreas que se servem de seus
resultados, em particular nas universidades aonde os atuais critérios de
avaliação dos cientistas (professores ou alunos que fazem ciência), vem
revelando outro tipo de orientação: a “motivação” extraordinária, no sentido
de fora de ordem, para a divulgação de resultados por meio de publicações e
patentes.
A observação sobre a referida motivação tem sido alvo de discussão em
várias esferas de decisões brasileiras, que vão de reuniões universitárias locais
a congressos nacionais, como a recente 4a Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília, de 24 a 28 de maio de 2010
(www.cgee.org.br/cncti4), cujas conclusões vem sendo divulgadas não só nos
meios científicos como em outros meios sociais, e nem sempre acompanhadas
de argumentos que revelam o que está em jogo, principalmente para esses
últimos.
Neste contexto, Mário Novello, físico do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas, Rio de Janeiro, em entrevista a Ricardo Mioto, da Folha de S. Paulo,
em 30 de maio de 2010, disse:
“a razão pela qual Newton fazia aquilo não tinha nada ver com
a razão pela qual um bolsista faz as coisas hoje em dia”.
Entretanto em sua fala, Novello não incorpora, ao lado do bolsista, seu
orientador (um pesquisador já consagrado), nem alinhava comentários sobre a
produção científica dos pesquisadores das universidades brasileiras em geral
que, no sentido darwiniano, não é comparável à de Newton, e assim, não
incorpora, também deste lado, o mesmo orientador.
Refletir sobre os diversos fatores que motivam os cientistas a fazerem o
que fazem nas universidades, portanto, se mostra relevante e atemporal.
8
9. Sobre esses fatores, anotamos o que comentou o professor Marcio
Barreto, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de
Campinas, em palestra realizada aos estudantes do curso de J. C. da mesma
universidade, em 17 de maio de 2010:
“Esses critérios (de avaliação dos cientistas) são válidos desde
que não assumam um caráter absoluto, tal como é a tendência
atual. É preciso tê-los como parte da avaliação, mas há outras
formas quantitativas e principalmente qualitativas que devem
ser colocadas em pé de igualdade com os atuais indicativos.
Além disso, o que os cientistas fazem, não é adequadamente
divulgado, apesar de ter implicações sociais e políticas para a
sociedade como um todo”.
Essa afirmação chama atenção para um outro fator que, com raras
exceções, não pertence ao cotidiano dos cientistas, e cuja responsabilidade
pode ser atribuída não só a quem produz ciência, como também, aos que
divulgam ciência: quando não os próprios cientistas, os profissionais
designados para esse fim.
Se, com relação a esse fator capaz de revelar implicações (e benefícios!)
para a sociedade, não há nenhuma regra brasileira em vigor (ver Pesquisa
FAPESP no 164 ou www.pesquisafapesp.br), a adequação da divulgação, em
geral, pode ser remetida à educação brasileira. É o que afirma o escritor Mario
Prata que, em entrevista ao Caderno C do jornal Correio Popular em 27 de
maio de 2010, ao ser questionado sobre ser a falta de tempo a responsabilidade
pela má qualidade dos textos da imprensa, ainda que se referindo à imprensa
de modo geral, respondeu:
“Também, mas não só. O problema é o ensino no Brasil, que é
péssimo. O nível é baixo demais”.
Um pouco mais otimista, entretanto, e referindo-se a divulgação
especializada, informou Mariluce Moura, editora chefe da Revista FAPESP,
em palestra realizada aos estudantes do curso de J. C. da UNICAMP, em 07
de junho de 2010:
“os jornalistas de ciência (do Brasil) tem feito esforços
consideráveis para melhorar conhecimentos e atuação,
incluindo atualização com as novas ferramentas de divulgação
9
10. oriundas da Internet, mas mostra-se necessária a formação
contínua em jornalismo científico”.
Essa informação de alguma forma, senão da mesma, remete à educação
a referida adequação da divulgação, mesmo que não atribuindo somente ao
divulgador e sim também aos cientistas a responsabilidade pela divulgação
científica de boa qualidade.
A educação no sentido amplo, portanto, é a única força capaz de vencer
o jogo de fatores relacionados à motivação para a produção e a divulgação
científica, no sentido de ser capaz de formar adequadamente profissionais,
cientistas e/ou divulgadores científicos.
Nesse sentido, mostra-se relevante questionar a responsabilidade de
todo cientista, como afirmou a pesquisadora Cecília Nunes, do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, durante o II Congresso Fluminense de
Iniciação Científica e Tecnológica da Universidade Estadual do Norte
Fluminense, encerrado em 10 de junho de 2010:
“É preciso que todos aqueles que fazem ciência - inclusive os
estudantes de iniciação científica - tenham uma visão crítica da
sociedade”.
Essas considerações, também contempladas no trabalho da disciplina
Seminários de Ciência e Cultura (ES 655) do curso de Jornalismo Científico
(J. C.), justificam o trabalho que segue.
10
11. 2. Objetivo
O objetivo geral é mostrar os resultados da análise da compilação de
artigos referentes à conduta ética na produção e divulgação científica, para
revelar argumentos que sirvam de suporte para a implementação de um
conjunto de recomendações para a prática científica nas universidades e
institutos de pesquisa do Brasil.
Os objetivos específicos são estabelecidos de acordo com as descrições
do material e do método usados que seguem.
3. Material e método
Este trabalho usa como material a compilação de artigos e informes
relacionados ao tema focado, não pela pesquisa bibliográfica -usual em
trabalhos acadêmicos-, mas porque foram os artigos com os quais casualmente
nos deparamos a partir de meados de 2003 (ocasião de interesse particular).
Tal compilação seguiu da mesma forma até o início de 2009, ora porque
dispostos na mídia especializada, como o Jornal da UNICAMP, a Revista
FAPESP e o Jornal Folha de S. Paulo, e ora porque enviados por colegas que
sabem do nosso interesse no tema. Além disso, usa o que foi compilado de
forma particular após 2009 a partir: i) das discussões do tema por nós
persistentemente inseridas nas diversas disciplinas do curso de J. C. da
UNICAMP; ii) dos trabalhos apresentados nessas disciplinas (individuais ou
dos grupos dos quais fizemos parte); iii) de artigos internacionais dispostos em
blogs; iv) das palestras por nós ministradas em eventos científicos promovidos
pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCT) nos anos
de 2009 e 2010; v) do retorno (ou não) de nossa sugestão da mesma discussão
junto a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional –
SBMAC e a Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI/UNICAMP.
Observamos que, apesar da total pertinência ao tema, não fazemos uso
do que buscamos de forma orientada e em livros, como: i) Sokal e Bricmont
(2001) - físicos que abriram o debate sobre os parâmetros de rigor intelectual e
honestidade, e ii) Pracontal (2004) - matemático e especialista em divulgação
científica que discorre sobre os vários tipos de imposturas científicas,
apontando meios para identificá-las.
11
12. O método de análise é a identificação de artigos referentes ao tema que
ressaltam os conceitos de ética, ciência e divulgação científica como
especificados no que segue.
Ética
Fonte: www.nature.com/nature/journal/v451/n7177/full/451397a
O conceito de ética focado neste trabalho refere-se não àquele associado
às pesquisas que envolvem seres humanos no sentido de os mesmos serem
parte da experimentação, posto que para essas há regulamentação estabelecida
e disponibilizada (e.g. Diniz et al, 2008), e sim ao associado às pesquisas que
envolvem seres humanos no sentido de os mesmos serem consumidores do
que se produz e/ou se divulga como científico nas diversas áreas de
conhecimento.
Para discussões aprofundadas sobre o conceito de ética e sua evolução
temporal remetemos à leitura especializada (e.g. Srour, 1998; Bursztyn, 2001).
E, para os propósitos desse trabalho, no que tange a ética na produção e
divulgação científica, consideramos especialmente as imposturas científicas
referentes ao plágio e autoria em publicações de revistas especializadas, sob o
ponto de vista do que consta em Monteiro et al (2004)- divulgado na Revista
FAPESP de abril de 2005.
A despeito de terem sido elaborados para a área médica de acordo com
o International Committee of Medical Journals Editors (ICMJE), os critérios
de autoria defendidos por Monteiro et al (2004) servem para quaisquer outras
áreas de conhecimento e, portanto, seguem copiados.
12
13. O ICMJE recomenda que o crédito deva ser dado com base
no preenchimento de três condições:
1. Contribuição substancial na concepção e planejamento, ou
aquisição de dados, ou análise e interpretação de dados;
2. Redação e elaboração do artigo ou revisão intelectual crítica
deste;
3. Aprovação da versão final a ser publicada.
O ICMJE recomenda, ainda, que em estudos multicêntricos
com grande número de participantes, o grupo deverá identificar
os indivíduos que aceitam a responsabilidade direta pelo
manuscrito.
Além disso, o documento revisado pelo ICMJE ratifica
que:
• Obtenção de financiamento, coleta de dados ou supervisão
geral de um grupo de pesquisa não são, por si só, critérios para
autoria ou co-autoria.
• Todas as pessoas designadas como autoras ou co-autoras
deverão qualificar-se, e todas qualificadas deverão ser listadas.
• Cada autor ou co-autor deverá ter participado suficientemente
do trabalho para ter responsabilidade pública sobre segmentos
apropriados do conteúdo.
• A ordem dos autores e co-autores será decidida pelo grupo que
deverá estar apto a explicá-la.
Quanto à seção Agradecimentos, o ICMJE sugere:
• Outras pessoas que tenham dado contribuições substanciais e
diretas para o trabalho, mas que não possam ser consideradas
autores, podem ser citadas na seção Agradecimentos; se
possível, suas contribuições específicas devem ser descritas.
Apoio financeiro também deverá ser mencionado nesta seção.
13
14. • Pessoas que colaboraram com o estudo, mas cuja contribuição
não justifica autoria ou co-autoria, podem ser listadas nos
Agradecimentos como “investigadores clínicos” ou
“investigadores participantes”, seguidas da sua função ou
contribuição, por exemplo, “coleta de dados”,
“encaminhamento e cuidados aos pacientes do estudo”, etc.
• Considerando-se que os leitores podem inferir que as pessoas
listadas em agradecimentos endossam os resultados e
conclusões, todas devem dar permissão por escrito para serem
agradecidas.
Ciência, Produção e Divulgação Científica
Por um lado, sobre a questão o que é ciência, Morin (2008) afirma que a
mesma não tem resposta científica;
“Científico aquilo que é reconhecido como tal pela maioria dos
cientistas”.
Desta forma, para efeitos do que nos propomos, tomamos o termo
ciência como explicado por Nobel (2009):
“Ciência é o termo usado para designar o conjunto de fatos e
teorias que explicam esses fatos; tudo que é produzido por
instituições que desenvolvam atividades científicas; e maneira
particular de trabalhar reconhecida como método científico”.
14
15. Notamos que não é objetivo deste trabalho apresentar a evolução das
discussões do conceito de ciência ao longo do tempo e segundo os estudiosos
que se ocuparam disso, para o que remetemos, por exemplo, a Kuhn (1962)
em particular, e à bibliografia da disciplina Estudos Sociais da Ciência e
Tecnologia (ES 695) do curso de J. C. da UNICAMP.
Por outro lado, sobre a questão sobre o que é divulgação científica, nos
apoiamos nas orientações de José Reis - pesquisador de renome internacional
e pioneiro nacional em aliar a sua carreira científica ao trabalho de explicar
ciência de forma didática através da imprensa, o que se estabeleceu pelo que
atualmente se entende por jornalismo científico e divulgação cientifica.
Fonte: Olson, J. 2008
Para identificar os distintos meios de fazer circular informações
científicas reconhecendo aqueles que o fazem no sentido de Reis, podem ser
consideraras as especificações que constam em Bueno (1984):
Difusão - todo e qualquer processo ou recurso utilizado para
veicular informações científicas e tecnológicas em periódicos
especializados, banco de dados, sistemas de informação
acoplados aos institutos, páginas de C&T de jornais e revistas e
programas de rádio e televisão dedicados à ciência.
Disseminação - transmissão de pesquisa ou estudo do cientista
para seus pares, por meio de revistas especializadas. Destina-se
a especialistas da mesma área (intra-pares) ou de áreas distintas
(extra-pares). Não pretende atingir o público leigo.
Divulgação - pressupõe a transposição da linguagem
especializada para a não-especializada, com intenção de tornar
o conteúdo acessível ao público em geral.
15
16. Jornalismo Científico: divulgação de ciência e tecnologia
pelos meios de comunicação segundo o modo de produção
jornalística. Seu objetivo é promover a democratização do
conhecimento para que os cidadãos entendam melhor o mundo.
No que segue, entretanto, consideramos a expressão divulgação
científica sem distinção aos limitantes dessas especificações, devido a difusão
e a disseminação serem, no presente contexto, as fontes geradoras para a
divulgação científica e o jornalismo científico, como explicado nas disciplinas
Oficina de J. C. I (ES 616) e Oficina de J. C. II (ES 696) do curso de J. C..
Sendo assim, atenção especial será dada à divulgação científica realizada
pelos que produzem ciência.
Educação
Tendo em vista as considerações da introdução desse trabalho, que
remetem à educação os questionamentos apontados no tema, consideramos a
figura que segue (Aquarela de Debret), para exemplificar que a diversidade de
interpretações diante de um objeto, um texto, uma ação, um tema, uma reação,
um resultado, um fenômeno ou uma imagem, é dependente do conhecimento
que o indivíduo domina ao se deparar com o mesmo.
Esta figura vem sendo usada nas aulas de Cálculo Numérico (FA 374)
sob nossa responsabilidade na Faculdade de Engenharia Agrícola
FEAGRI/UNICAMP, a qual, por nossa sugestão, serviu para discussões na
disciplina Linguagem (ES 476) desse curso de J. C., ocasião que gerou frutos
mais bem fundamentados pela teoria de Análise do Discurso, como
brilhantemente desenvolvido pela professora responsável.
No caso do uso dessa figura em FA 374, a finalidade é mostrar
argumentos para o aprendizado das novas técnicas matemáticas ensinadas na
mesma, cujos alunos, oriundos do ciclo básico, persistentemente se mostram
desacreditados da aplicabilidade de mais uma disciplina de matemática em
suas vidas profissionais futuras, sem ter noção do que nela vão aprender. E a
estratégia usada passa, da sugestão de alguns minutos para a contemplação e
busca de erros da aquarela para, em seguida, revelar o mistério tentando
convencê-los de nossos argumentos uma vez que o erro foi apontado somente
em 1994, e porque um aluno de engenharia mecânica -a origem do erro está
no mecanismo retratado.
16
17. O que almejamos com esta metáfora, portanto, é ressaltar a
responsabilidade da educação de modo geral, e em particular a caracterizada
“como crítica que contemple conceitos e procedimentos éticos tanto para a
produção quanto para a divulgação científica”, no sentido de que, se nada for
ensinado e, portanto, conhecido sobre esses conceitos e procedimentos, nada
poderá ser cobrado, e a tendência será a de perpetuação da crítica, nesse
sentido, afirmada. Neste contexto ressaltamos o que consta em Diniz (2008, p.
362):
“A incorporação de valores e a aquisição de competência ética
são processos que exigem reflexão e devem ser iniciados já nas
primeiras etapas da formação profissional. A utilização de
metodologias ativas de ensino-aprendizagem pode contribuir
para a capacitação dos futuros pesquisadores e prepará-los para
enfrentar e minimizar possíveis conflitos de interesse no
cotidiano da prática científica”.
17
18. Outras Considerações
Para delimitar a compilação de artigos para a análise das questões éticas
relacionadas à produção ou divulgação científica, reconhecemos a atuação dos
seguintes atores inter relacionados:
i) responsáveis de instituições e órgãos de fomento a pesquisa;
ii) cientistas;
iii) divulgadores científicos; e
iv) cidadãos e o meio ambiente
dentre os quais selecionamos: ii) e iii), posto que i) e iv), ainda que mostrem
relações com os itens selecionados, são amplamente discutidos nas disciplinas
Ciência, Tecnologia e Sociedade (ES 644), Políticas Públicas e Sociedade (ES
617), e Instituições e Políticas de C&T (ES 656) do curso de J. C., os quais
contemplam vasta bibliografia.
Desta forma, os cientistas e os divulgadores científicos, em particular os
próprios cientistas - como já especificamos, cujas atuações também já foram
discutidas, ainda que com outro enfoque, nas disciplinas Fontes de Informação
em Ciência e Tecnologia (ES 646) e Oficina de J. C. II (ES 696),
respectivamente, são os atores passíveis da análise em questão.
Ainda, no que se refere a percepção pública dos cientistas, tomamos
como referencial o que consta em Vogt e Polino (2003), onde, dentre outras
conclusões se encontra a obtida a partir do Gráfico 1, que segue comentada
pelos autores:
“À margens das interpretações que se poderiam fazer sobre a
diferença entre os dois grupos de países, o conjunto de dados
evidencia um tipo de público que parece sentir que a motivação
dos cientistas e as funções positivas da ciência não são
suficientes para a tomada de decisões políticas. Isto reflete uma
posição de alta racionalidade na dinâmica da política científica,
no sentido de que a qualidade de especialista não leva,
necessariamente, à racionalidade das decisões políticas”.
18
19. Gráfico 1.
Além disso, apontamos como complementar a observação, divulgada
pelo comentarista Arnaldo Jabor na Rede Globo de Televisão, na ocasião do
terremoto do Haiti ocorrido em janeiro de 2010, que, após citar pesquisas de
ponta que vem sendo realizas e divulgadas (Jabor, 2010), ressaltou:
“...e a miséria brutal sendo ignorada pela ciência e tecnologia”.
As conclusões de Vogt e Polino e a observação complementar de Jabor
caracterizam fatores da atuação dos cientistas que requerem atenção,
principalmente se alinhadas com a afirmação de Oliveira (2002), especialista
em divulgação científica:
“O direito à informação por si só justificaria a essência de
divulgar C&T para o grande público como forma de
socialização do conhecimento. (...) Além disso, a maior parte
dos investimentos em C&T é oriunda dos cofres públicos, ou
seja, da própria sociedade para quem deve retornar os
benefícios resultantes de tais investimentos”.
Do que foi estabelecido até então, fica evidente o fio condutor seguido
para atingir os objetivos propostos nesse trabalho. Sendo assim, no que segue
são apresentados os apontamentos, se não da maioria mantida em arquivo, dos
principais artigos compilados, que seguem ora na íntegra e ora em partes de
acordo com o que queremos ressaltar e apontar do conteúdo dos mesmos.
19
20. 4. Resultados e discussões
Uma das raras vezes que o Jornal da Unicamp (JU) publicou sobre o
tema, ocorreu em sua edição de agosto de 2003, onde se encontra o artigo
“Códigos de Conduta em Física”, em que o professor Marcelo Knobel, do
Instituto de Física da UNICAMP, comentou sobre o então atual (2002) código
da Sociedade Brasileira de Física, de qual conclusão emprestamos a afirmação
sobre a responsabilidade de todo cientista:
“...
Além disso, o novo código inclui uma clara sugestão de que
ética deve ser parte integrante da educação do Físico, indicando
que é parte integrante da responsabilidade de todo cientista que
seus estudantes recebam treinamento específico em ética
profissional.
...
Está lançada a discussão...”
Desde então não encontramos mais nenhum artigo sobre o tema no JU,
mas, posteriormente, tomamos conhecimento de uma reportagem divulgada
em uma edição de novembro de 1993 do jornal Folha de S. Paulo, sobre a
ocorrência de um caso de plágio na Faculdade de Engenharia de Alimentos -
FEA/UNICAMP (p.21).
Observamos que esse jornal (Folha de S. Paulo), publica com alguma
frequencia artigos referentes à atuação dos cientistas e dos divulgadores
científicos, apresentando não somente os resultados de pesquisas de ponta
como também críticas sobre a importância dessas pesquisas, denúncias de
imposturas científicas como o plágio, interpretações de resultados de forma
adequada ao público em geral, sendo grande parte de autoria dos jornalistas
científicos Marcelo Gleiser e Marcelo Leite, sendo deste último o livro
“Ciência: use com cuidado” Leite (2008). Dentre esses e os que seguiram após
2008, selecionamos o que antecedeu o início do primeiro semestre do curso de
J. C., em 16 de abril de 2009, e sobre o qual, no fim do mesmo semestre,
apresentamos o trabalho de ES 695. O artigo e o trabalho são apresentados na
integra (p.22-23 e p.23-26).
20
22. Folha de S.Paulo, domingo, 15 de março
de 2009
+Marcelo Leite
Fraudes e fraudes
Há incentivos demais para
obter resultados e publicar
rápido
Por que os cientistas cometem falsificações? Será que o número
de fraudes em pesquisa está aumentando? São perguntas difíceis
de responder. Fabricar ou adulterar dados é a mais completa
negação da ética científica (e jornalística, aliás). Veracidade,
mais até do que fidedignidade e precisão, constitui a pedra
angular da ciência. No dia em que não for mais possível confiar
nas informações de artigos de pesquisa enviados para
publicação num periódico científico, o alicerce da ciência estará
arruinado. Há muita gente convencida de que a quantidade de
contrafações está, sim, em expansão. Gente como Horace
Freeland Judson, que aprendi a admirar depois de ler seu
monumental "The Eighth Day of Creation" (O Oitavo Dia da
Criação, monumental história da biologia molecular, de 1978,
até hoje sem edição em português). Em outro livro, "The Great
Betrayal" (A Grande Traição), de 2004, Judson traça um
panorama sombrio da pesquisa contemporânea. Há incentivos
demais para obter resultados e publicar, rápido. Jovens
pesquisadores competitivos e supervisores lenientes, na sua
avaliação, compõem a mistura corrosiva que solapa as
fundações do edifício científico. Essa parece ser a raiz mais
comum da falsificação, fonte das dezenas de casos noticiados a
cada ano. Poucos se tornam notícia de primeira página, como os
falsos clones humanos do sul-coreano Woo-Suk Hwang. Não
merecem manchetes doutorandos ou pós-doutorandos ávidos
por resultados que os mantenham no páreo por bolsas e
posições no laboratório. Vários são estudantes estrangeiros,
como Nima Afshar, da Universidade da Califórnia em São
Francisco, que adulterou imagens de chips de DNA para fazer
aparecerem os efeitos esperados com culturas de leveduras. Ou
22
23. como Peili Gu, do Baylor College of Medicine, do Texas, outro
caso de PhotoShop. Ou como Mai Nguyen, que falsificou dados
de estudo sobre câncer -todos casos pescados na newsletter
"The Scientist". Há ocorrências muito mais graves, porém, por
afetar milhares de pessoas. Um caso recente é o de Scott
Reuben, respeitado anestesiologista de Massachusetts, nos
Estados Unidos, acusado de falsificações em 21 artigos,
segundo noticiou "The Scientist" na quarta-feira. Esses
trabalhos ajudaram a estabelecer o estado-da-arte em analgesia
multimodal, uso combinado de medicamentos para tratar dor
pós-operatória. Parece inacreditável que alguém fabrique
resultados cuja falsidade pode levar as pessoas a sentirem mais
dor, mas acontece. Por essas e por outras é que não se deve
confiar cegamente nos cientistas (nem nos jornalistas), ainda
que a maioria seja veraz. Nada se compara em matéria de dano
social, contudo, a Andrew Wakefield. Ele é o autor de um artigo
de 1998 no respeitado periódico médico "The Lancet" tido
como o iniciador da popular hipótese de que o autismo é
causado pela vacina MMR (contra sarampo, caxumba e
rubéola). A taxa de vacinação britânica caiu de 92% para menos
de 80%, desde então. Os casos de sarampo passaram de 56 em
1998 para 1.348 em 2008, com duas mortes. O jornal "The
Sunday Times" noticiou em 8 de fevereiro que Wakefield teria
alterado dados sobre pelo menos 11 das 12 crianças descritas no
estudo. Tudo, claro, para reforçar o suposto vínculo entre o
autismo e a vacina -coisa de que muitos pais brasileiros
desinformados e irresponsáveis se acham convencidos, a
despeito do que lhes dizem os médicos.
ES 695- J. C. LABJOR/UNICAMP Junho de 2009
Aluna: Mariangela Amendola
O que motiva a produção científica?
Antes de tentar argumentar para a elaboração de
qualquer resposta sobre a questão proposta como título
deste ensaio, apontamos que a mesma faz parte de um
conjunto de questões relacionadas, dentre as quais: O que é
23
24. ciência? Porque, dentre as idéias ou ações geradas pelos
diversos grupos sociais, só algumas, “merecem” esta
classificação? Onde estão e como se relacionam os atores
sociais que produzem e/ou divulgam ciência? Por quem
esses atores são reconhecidos como tais e como se
relacionam entre si e com os demais atores sociais? No que
estas produções ou divulgações influenciam as decisões de
políticas públicas? Quem produz e/ou divulga ciência, o
faz com qual finalidade, interesse e autonomia? Quem está
preocupado com estas questões e as correspondentes
respostas? E porque?
Ainda que formular e buscar respostas a este
conjunto de questões pareça não pertencer ao cotidiano
intelectual da maioria dos indivíduos da sociedade que não
são de grupos específicos de estudiosos sociais, o mesmo
não acontece no cotidiano existencial dos primeiros.
Esta afirmação se justifica porque, ao longo da vida,
todos os indivíduos são submetidos a regras que regem os
diversos grupos sociais aos quais pertencem, dentre outros
a família, a comunidade vizinha, a escola, o local de
trabalho, a cidade e o país, que, embora temporal e
aparentemente em equilíbrio, por serem passíveis de
interações, experimentam uma dinâmica. Assim, enquanto
a análise desta dinâmica permanece com destaque na
atuação dos referidos grupos de estudiosos, tanto estes,
bem como todos os atores dos demais grupos sociais
necessitam se ocupar com a geração de meios capazes de
garantir sua cidadania e sobrevivência, o que se dá,
geralmente, quando da busca pela especialidade
profissional. Ressalta-se que há outros grupos específicos:
o dos que se ocupam com a descoberta ou a invenção, o
desenvolvimento e a implementação ou a inovação de
meios para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos,
como fazem, dentre outros, os especialistas das áreas de
saúde e de educação; os dentre esses que o fazem segundo
metodologias sujeitas a comprovação teórico-experimental;
e outro, que não exclui os primeiros, dos que se ocupam
pela divulgação dos meios então desenvolvidos.
24
25. Como fruto da desejável interação entre os atores
dos distintos grupos, e também por sorte, interesse,
afinidade, aptidão, ou empenho, todos poderiam acumular
um nível mínimo do conhecimento gerado das diversas
atuações: o nível capaz de revelar a aptidão para questionar
as causas que levam ao estabelecimento, ajuste ou
transformação das referidas regras, para então, poderem
desfrutar, se adequar ou adequar as regras. Nota-se que
associado ao conceito de regras se encontra o conjunto de
crenças, paradigmas ou enigmas que revelam o
conhecimento construído, ainda que temporal, capaz de
levar à interpretação individual do que constitui a natureza
e os indivíduos.
Entretanto, tais regras bem como, e principalmente,
os objetivos da ocupação dos grupos ressaltados, nem
sempre são genuínos ou conhecidos, o que pode levar não
a melhorias e sim a desastres na qualidade de vida dos
indivíduos, em especial aos menos favorecidos de
educação.
É neste sentido que se pode reconhecer a pertinência
da questão proposta como título deste ensaio, para a qual
voltamos à luz do que constou no artigo publicado na FSP
de 15/3/2009 de Marcelo Leite [1], cujo título é “Fraudes e
fraudes”, e onde o autor discorre sobre fraudes científicas,
sugere que “não se deve confiar cegamente em cientistas
(nem em jornalistas)”, e por fim detalha os impactos
danosos gerados em 1998 pela divulgação de um artigo
iniciador da hipótese de que o autismo é causado pela
vacina contra sarampo, caxumba e rubéola, como uma
forma de ressaltar o que explica a atual necessidade de
publicação por certos grupos de cientistas.
Observamos que, embora não haja estimativas sobre
quantos são os indivíduos que são atraídos para este tipo de
divulgação, é razoável sugerir que, dentre os que têm
condições intelectuais e/ou oportunidade para a leitura, a
maioria - agentes passivos do que é produzido e divulgado
como científico-, se “assustaria” ao ler tal artigo, cujo
25
26. autor, felizmente (?) também é cientista e divulgador
científico.
Tal sugestão segue com a inclusão da palavra
felizmente porque, independentemente de experiências
individuais ou sociais, os leitores: cientistas, jornalistas ou
leigos, além de assustados, permaneceriam desconfortáveis
na qualidade de cidadão não fosse o empenho do referido
autor tanto em apontar o que motiva certos cientistas a
produzirem e/ou a publicarem fraudes, quanto em
apresentar dados comprovados sobre as conseqüências
sociais desastrosas deste tipo de produção / publicação.
Mas este empenho, que por um lado convence o leitor de
que não há o que justifique as fraudes, por outro, não
fornece elementos para que os mesmos sejam capazes de
elaborar uma conclusão sobre a isenção daqueles, pois o
autor não apresenta qualquer informação complementar
sobre punições aos autores e/ou divulgadores de fraudes;
daí a inclusão da interrogação após a palavra felizmente:
uma estratégia de enfraquecê-la, mas não para desmerecer
a atuação do autor do artigo - exemplar na tentativa de
promover aquelas interações desejáveis-, mas sim para
clamar por mais e mais efetivas interações, também junto
aos responsáveis pelos grupos sociais a que pertencem os
cientistas.
Os argumentos que levaram à inclusão da
interrogação foram tomados por mim, eu: cidadã, cientista
e aprendiz de divulgadora científica, como mais um
incentivo para a continuidade da busca de um referencial
teórico capaz de garantir a futura prática da divulgação
científica que contemple a minimização de qualquer
desconforto para todo tipo de cidadão. Neste sentido, pode
ser encontrar na disciplina “Estudos Sociais da Ciência e
da Tecnologia” do curso de Jornalismo Científico do
LABJOR/UNICAMP, dentre outras fontes de informação
de estudiosos especializados, uma bibliografia
fundamental.
26
27. A escolha pela apresentação integral desse artigo, que evidencia nosso
interesse particular pelo tema e daí a escolha para o referido trabalho de nossa
autoria, se deve ao fato do mesmo tornar público questionamentos
comparáveis às originadas de nossas inquietações frente a ocorrência de
diversos casos de imposturas intelectuais que, lamentavelmente, só tomamos
conhecimento e/ou divulgamos de maneira informal, as quais, em geral não
levaram à quaisquer punições dos envolvidos.
De outra forma, a Revista FAPESP, que somente recente, tímida e
ocasionalmente divulga informações relacionadas a desvios de conduta que
levaram à punição dos envolvidos, mas não foi encontrado nenhum
envolvendo cientistas ou divulgadores brasileiros.
Os demais artigos relacionados ao tema que foram divulgados tanto
pelo jornal Folha de S. Paulo de modo geral, quanto pela Revista FAPESP,
seguem intercalados e em uma certa ordem que não é cronológica.
Observamos que não acompanhamos os casos relatados.
O que segue foi selecionado porque foi publicado coincidentemente na
época em que preparávamos a primeira palestra sobre o tema de questões
éticas para ser apresentada à comunidade do LNCC/MCT.
Folha de S. Paulo - 17/11/2009
Trabalho de reitora da USP é acusado de outro plágio
Trabalho assinado pela reitora Suely Vilela e outros
pesquisadores da USP que já estava sob suspeita por plágio é
acusado agora de copiar mais dados.
...
Assim como na primeira denúncia, a suspeita é que eles tenham
utilizado no artigo sob suspeita mais trechos de estudos de um
grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sem
informar o crédito.
...
Esta ocorrência lembrou-nos de outros dois artigos de nossos arquivos,
sobre a acusação de plágio na USP e a sobre a cópia de trechos sem a devida
referência bibliográfica:
27
28. Folha de S. Paulo 29/06/2007
Físicos da USP acusam chefe do Instituto de Física de plágio
Uma acusação de plágio que envolve artigos científicos
assinados pelo diretor do IF (Instituto de Física), da
Universidade de São Paulo, Alejandro Szanto de Toledo, abriu
ontem uma crise entre os professores da entidade. A denúncia,
que circula internamente entre um grupo de físicos desde abril,
aponta entre os artigos plagiados dois trabalhos do professor
Mahir Hussein, da própria usp, recém-aposentado.
Folha de S. Paulo - 09/2008
Marcelo Leite - Vergonha na USP
Todo contribuinte que sustenta a USP deve preocupar-se com
o modo como o caso de plágio foi tratado pela reitoria
A Universidade de São Paulo, maior e melhor instituição
pública de pesquisa e ensino superior do Brasil, faz 75 anos em
2009. Quando ela ainda tinha 45 anos, formei-me em
jornalismo na sua Escola de Comunicações e Artes, mas
prossegui como aluno de filosofia (estudo que, infelizmente,
nunca concluí).
...
Hoje me pergunto se ainda devo ter orgulho de ser ex-aluno da
USP. No centro da preocupação com minha "alma mater" (mãe
nutridora), como dizem os norte-americanos e os britânicos,
está o caso de plágio em seu Instituto de Física.
Não pelo caso em si, que é menor, mesquinho mesmo. Briga de
comadres por migalhas de micropoder institucional. Nem vem
ao caso quem acusa quem, só que professores titulares admitem
copiar trechos de artigos científicos de outros sem a devida
referência bibliográfica.
Ainda do ano de 2009, encontramos ainda outros três exemplos de
impostura científica, sendo duas ocorrências brasileiras, uma com
possibilidade de retratação e outra sem qualquer conseqüência, e uma a
coreana com indicativo de punição:
28
29. Folha de S. Paulo - 07/05/2009
Periódico científico publica dois estudos plagiados na
íntegra
Um caso de plágio envolvendo dois estudos publicados no
periódico científico "Revista Analytica" surpreendeu os autores
dos artigos originais. Publicados em 2007, os dois trabalhos
eram cópias de artigos anteriores da primeira à última palavra,
com alterações apenas nos títulos. A revista "Química Nova",
da SBQ (Sociedade Brasileira de Química), que havia publicado
os estudos originais, negocia agora uma forma de retratação
(anulação) dos plágios. Um dos artigos, um estudo que
descrevia um novo método para controle de qualidade de
cachaça, foi copiado do grupo do químico Ivo Küchler,
professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Folha de S. Paulo - 10/07/2009
Unicamp diz que Dilma cursou mestrado, mas não o
terminou
A Unicamp informou por meio de nota que a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) foi aluna dos programas de mestrado e
doutorado da universidade mas não concluiu a elaboração e a
defesa de teses nos cursos -necessários para a obtenção dos
títulos de mestre e doutor. A Unicamp havia informado que
Dilma não havia sido nem mesmo aluna do mestrado, mas
retificou o dado.
...
O currículo da ministra na Plataforma Lattes - base de dados
acadêmicos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico)- indicava que ela havia preparado e
defendido a tese de mestrado. Após a revista "Piauí" deste
mês ter indicado o erro, Dilma admitiu o equívoco e disse que
não preparou a tese em virtude do trabalho em cargos públicos.
Folha de S. Paulo - 25/08/2009
Promotoria pede cadeia para coreano que fraudou pesquisa
Promotores da Coreia do Sul pediram ontem uma pena de
quatro anos de prisão para o cientista que caiu em desgraça após
um escândalo envolvendo clonagem em 2005. Hwang Woo-
suk, que publicou artigos fraudados na revista "Science" sobre
29
30. clonagem humana, é acusado de desvio de verba pública,
prevaricação e compra ilegal de óvulos para sua pesquisa.
Todas as acusações relacionadas às denúncias de fraude. Um
promotor disse que Hwang manchou a imagem da Coreia do
Sul no exterior e que merecia punição exemplar. Hwang pediu
clemência. O caso será julgado no dia 19 de outubro.
Seguem mais outros exemplos de outro tipo de impostura, ocorridas em
anos distintos, sendo uma envolvendo estudantes de pós-graduação brasileiros
cujas conseqüências não encontramos, outra envolvendo um cientista japonês
que acabou sendo preso, e ainda outra mais antiga, relacionando vários casos
de punições a cientistas japoneses.
Folha de S. Paulo–19/08/2007
União cobra R$ 54 milhões de ex-bolsistas
Doutorandos receberam ajuda para estudar no exterior e
não teriam cumprido as exigências ou abandonado estudos
Supostas irregularidades vão de falsificação de diplomas a
descumprimento de acordo para permanecer no Brasil com o fim
da pós-graduação.
Desde 2002, o governo federal pediu a devolução de cerca
de R$ 54 milhões que ex-bolsistas de doutorado favorecidos por
ajuda oficial teriam recebido de forma irregular.
O levantamento da CGU (Controladoria Geral da União)
envolve a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de
desenvolvimento Científico e Tecnológico) -principais
fomentadores do benefício. Os motivos dos processos variam de
irregularidades como o abandono dos estudos até a falsificação
de documentos
Pesquisa FAPESP – 10/1009
Desvio e embaraço
Um cientista japonês conhecido por seu trabalho com
supramoléculas foi preso sob a acusação de desviar fundos de
pesquisa. Tatsuo Wada, retido no dia 8 de setembro, trabalha no
Instituto de Ciência Avançada em Wako, que integra uma rede
30
31. de laboratórios de pesquisa conhecida como Riken. O caso
causa embaraços para a Riken, que recebe um generoso
orçamento anual de US$ 1 bilhão e, em 92 anos de existência,
jamais enfrentou um escândalo dessa dimensão. “Vamos lançar
mão de medidas de precaução e redobrar nossa vigilância para
que o instituto possa atender às expectativas da população”,
desculpou-se o presidente da Riken, Ryoji Noyori, segundo a
revista Nature. Tatsuo Wada é conhecido por criar sistemas
orgânicos supramoleculares – conjunto de moléculas orgânicas
cuja forma, tamanho e orientação podem ser manipulados para
transmitir informações. A polícia de Tóquio o acusa de
transferir 11 milhões de ienes por meio de ordens de pagamento
fictícias. O dinheiro foi parar em contas da Akiba Sangyo,
empresa que distribui material científico. O presidente da
empresa, Etsuo Kato, também foi preso.
Pesquisa FAPESP – 02/2007
Punições exemplares
Uma seqüência de punições a pesquisadores do Japão sugere
que o governo e a comunidade científica do país deflagraram
uma cruzada contra más condutas acadêmicas. Em dezembro
passado, duas importantes universidades demitiram cientistas
que publicaram artigos questionados e uma professora demitiu-
se de uma terceira instituição, acusada de desvio de recursos.
A Universidade de Osaka anunciou a demissão de um de seus
membros por haver fabricado dados de uma pesquisa. Segundo
jornais japoneses, trata-se do químico Akio Sugino, co-autor de
um estudo publicado em julho no Journal of Biological
Chemistry. Segundo a revista Science, um comitê interno
concluiu que Sugino agiu sozinho. Mas, em meio ao escândalo,
um outro co-autor do artigo cometeu suicídio. Uma
investigação promovida pela Universidade Waseda, em Tóquio,
concluiu que uma professora desviou para sua conta particular
recursos públicos destinados a bolsistas. Kazuko Matsumoto, a
acusada, nega a malversação, mas renunciou ao cargo. Por fim,
31
32. a Universidade de Tóquio demitiu Kazunari Taira e Hiroaki
Kawasaki por práticas de pesquisa não confiáveis envolvendo
artigos publicados nas revistas Nature, Nature Biotechnology e
Proceedings of the National Academy of Sciences. Foi a
primeira vez que as universidades de Tóquio e de Osaka
tomaram medidas tão drásticas. Antigamente, os escândalos
eram abafados ou resultavam em punições discretas. Mas, com
o crescimento da competição por recursos, passou-se a exigir
mais transparência. Em 2006 as três universidades criaram
códigos de conduta e comitês para investigar fraudes.
Seguem outros artigos sobre ocorrencias americanas, um que relata
imposturas envolvendo a adulteração de imagens e conclui com uma
recomendação exemplar, e outro que comenta sobre um programa para
detectar plágio e apresenta uma estatística alarmadora:
Pesquisa FAPESP – 11/2009
A cultura do Photoshop
A manipulação de imagens que ilustram artigos científicos tira
o sono dos editores de publicações acadêmicas. Num encontro
sobre plágio realizado em Londres, Virginia Barbour, editora
chefe da PLoS Medicine, revista publicada pela Public Library
of Science (PLoS), apresentou dados de um estudo que vem
avaliando imagens de artigos aceitos para publicação. Ao longo
de um ano, a revista encontrou adulterações em três artigos,
num universo de 13 papers averiguados. Num dos casos,
pesquisadores duplicaram a foto de um teste western blot. Em
outro, fundiram imagens sem informar que buscavam realçar
um efeito. Barbour disse que os autores deram explicações
satisfatórias e que nenhum dos artigos foi rejeitado. Mas
reiterou que modificar imagens sem avisar constitui
falsificação. “Há uma cultura nas universidades segundo a qual
não há nada de errado em alterar fotos e isso precisa ser
discutido”, disse à revista Nature. No rol das investigações
32
33. sobre má conduta abertas entre 2007 e 2008 pelo Escritório de
Integridade da Pesquisa do U.S. Department of Health and
Human Services.
Pesquisa FAPESP – 11/2008
Flagrantes de plágio
Um grupo de pesquisadores da Universidade do Sudoeste do
Texas, em Dallas, criou um programa de computador que
identifica plágios em artigos científicos ao fazer o cruzamento
de milhares de textos publicados em revistas especializadas.
Com base no monitoramento realizado pelo software, a equipe
texana, liderada por Harold Garner, criou uma base de dados
sugestivamente batizada de Déjà Vu, que reúne 75 mil resumos
listados na base Medline em que há evidências de cópia de
outros textos. Em entrevista à revista Nature, Garner disse que
181 artigos são rematadas cópias de outros textos – em um
quarto deles a similaridade beira os 100%. Tanto as publicações
que reproduziram os textos clonados quanto os pesquisadores
vitimados pelo plágio são alertados depois que o software faz o
seu trabalho. O biogerontologista francês Eric Le Bourg ficou
surpreso ao ver um artigo que publicou no jornal Experimental
Gerontology ser integralmente reproduzido no Korean Journal
of Biological Sciences, mas com a assinatura de Hak-Ryul Kim,
da Universidade de Seul. “Era puro copy e paste. Até os
gráficos eram copiados”, disse. Pelo menos 22 plagiadores de
12 países são reincidentes, diz Garner, que se queixa da
relutância de certas publicações em denunciar o plágio.
Segundo ele, seus alertas não surtiram nenhum efeito em 50%
dos casos e, mesmo quando há retratação, ela nem sempre é
comunicada à PubMed, a consagrada base de dados de resumos
Um outro artigo sobre ocorrências na China chama a atenção por
publicar um menu de imposturas com punições pre-estabelecidas, e outro mais
representativo do universo das imposturas é o que mostra os resultados de uma
33
34. renião de 52 países, cuja afirmação é pioneira em afirmar que a pressão para
que os pesquisadores publiquem a qualquer custo foi a causa mais mencionada
para o avanço das fraudes:
Pesquisa FAPESP – 05/2009
O menu das más condutas
Num esforço para combater fraudes e condutas desonestas no
meio acadêmico, o Ministério da Educação da China publicou
uma espécie de índex de atos e comportamentos inadequados,
assim como estipulou punições para quem praticá-los. De
acordo com o documento, cometer plágio, falsificar dados e
referências, fraudar currículos e usar o nome de outros
pesquisadores sem pedir permissão poderá dar punição com
demissão, suspensão do financiamento de projetos de pesquisa,
cassação de prêmios e processos na Justiça. As medidas são
uma resposta a um recente escândalo envolvendo a
Universidade Zhejiang, na cidade de Hangzhou, onde dois
professores de ciências farmacêuticas, He Haibo e Li Lianda,
perderam seus cargos acusados de plágio. Em 2006 o governo
chinês já havia criado um esquema para monitorar projetos de
pesquisa depois de uma série de acusações envolvendo condutas
desonestas. “As medidas buscam criar um mecanismo de
prevenção que mantenha o campo acadêmico livre de fraudes”,
disse à agência SciDev.Net Xu Mei, a porta-voz do ministério.
Para Hou Zinyi, professor de direito da Universidade Nankai,
na cidade de Tianjin, as iniciativas do governo são superficiais.
Segundo ele, é preciso aliviar a pressão sobre os pesquisadores,
principalmente os mais jovens, que se veem obrigados a
publicar artigos em grande quantidade e acabam recorrendo a
trapaças.
Pesquisa FAPESP – 11/2007
Buracos na rede
Cerca de 300 pessoas de 52 países, entre cientistas, editores de
periódicos acadêmicos, autoridades e gestores de universidades,
34
35. reuniram-se durante três dias em Lisboa no final de setembro
para discutir o desafio de combater a desonestidade no ambiente
de pesquisa, com destaque para plágios, fraudes e falsificações
em artigos científicos.
...
É certo que episódios de desonestidade científica estão longe
de ser novidade.
...
Citou-se, por exemplo, o escasso hábito de promover a
retratação de artigos fraudulentos publicados em revistas
científicas. A taxa de retratação de artigos na base PubMed, por
exemplo, está estacionado em apenas 0,02% desde 1994. “O
que ouvimos aqui confirma que as condutas impróprias estão
muito mais disseminadas do que se imagina, ainda que nem
sempre se configurem crimes”, diz Ian Halliday, presidente da
ESF. A pressão para que os pesquisadores publiquem a
qualquer custo foi a causa mais mencionada para o avanço das
fraudes. Enquanto o número de publicações dos Estados Unidos
está estagnado, países como China, Coréia do Sul, Cingapura,
Hong Kong e Taiwan vêm ampliando anualmente em 15% sua
produção, segundo dados apresentados por Ovid Tzeng, da
Universidade National Yang Ming, em Taiwan. “Os sistemas de
ranqueamento são muito severos em Taiwan, Hong Kong e
outras localidades da Ásia. Os governos destinam fundos de
acordo com o ranking e perguntam apenas: quantos artigos você
publicou? Quem consegue publicar um paper na Nature recebe
US$ 1 mil em dinheiro vivo”, afirmou Tzeng. “Devemos pedir
às agências de fomento, governos e instituições que revisem
suas regras para reduzir a pressão por aumentar a quantidade de
artigos publicados, especialmente para os pesquisadores muito
jovens. Isso pode ser feito sem comprometer a qualidade e pode
até realçá-la”, disse Peter Tindemans, da Fundação Européia da
Ciência.
35
36. As imposturas envolvendo cientistas brasileiros que divulgam seus
resultados em revistas internacionais consagradas, também se revelam por
outros meios, como a divulgada no artigo que segue, cuja consequencia
também desconhecemos:
Pesquisa FAPESP – 11/2005
A polêmica do artigo
Como às vezes acontece, o feitiço pode ter virado contra o
feiticeiro. Se a revista Cell, um dos periódicos internacionais
mais respeitados da área de ciências da vida, queria desacreditar
o artigo publicado em sua edição de 23 de julho de 2004 pela
equipe do médico Antonio Teixeira, da Universidade de
Brasília (UnB), a forma de lidar com o caso talvez não tenha
sido das mais transparentes, nem eficaz em seus propósitos.
Pondo fim a uma negociação de meses com os autores
brasileiros do estudo em questão, que havia fornecido as
primeiras evidências de que trechos do genoma do parasita
Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, poderiam
se incorporar ao DNA de animais, inclusive do homem, o
periódico cancelou a validade do artigo num comunicado de
dois parágrafos e cerca de 120 palavras divulgado em 23 de
setembro deste ano. Fez isso à revelia dos autores, sem
apresentar razões inequívocas para seu comportamento. O
procedimento unilateral acabou gerando críticas em relação à
política editorial da Cell e jogou ainda mais luz sobre o estudo
dos pesquisadores de Brasília.
A revista argumentou que, “depois de cuidadosa e extensiva
revisão dos dados (de Teixeira) por especialistas independentes
da área”, era forçada a retirar o artigo porque havia dúvidas
sobre o local do DNA do hospedeiro em que o genoma do
parasita teria se alojado. Mas não apresentou nenhuma
evidência de fraude, deslize ético ou má conduta da equipe
brasileira que redigira o polêmico artigo, situações que
normalmente são invocadas quando uma publicação resolve
cancelar os escritos de um pesquisador. A comunidade
científica, brasileira e internacional, estranhou o procedimento
36
37. da Cell e reclamou publicamente em reportagens e artigos que
saíram em meios de comunicação daqui e do exterior. A reação
levou a editora da Cell, Emilie Marcus, a voltar ao assunto num
texto maior, o editorial da edição de 21 de outubro passado,
intitulado “Controvérsia da retratação”. Resultado da polêmica:
o artigo cancelado, aquele que não era boa ciência segundo o
periódico, chegou a ser o segundo mais lido no site da própria
revista e o editorial explicativo estava na 11ª posição na mesma
lista no final do mês passado. Baiano de 63 anos, Teixeira
desenvolve a linha de pesquisa que redundou no artigo da Cell
há mais de uma década e meia. Ele se diz perplexo com o
desenrolar dos acontecimentos, inclusive com as reações de
solidariedade que recebeu de colegas do Brasil e de fora do
país. “Jamais poderia imaginar que a atitude arrogante da
revista pudesse sensibilizar tantas pessoas no mundo”, afirma o
pesquisador da UnB, que defende a validade de seus dados.
“Outros laboratórios estão tentando reproduzir os nossos
resultados.” O tempo, como sempre, dirá quem tem razão.
Um artigo que merece destaque é o que foi publicado pelo Observatório
da Impprensa, em sua edição 558, com observações importantes sobre o
plágio, mas refereindo-se somente aos praticados por alunos. Além disso,
citando leis que não são divulgadas, e não sabemos se praticadas ou em vigor,
ainda que afirmando com propriedade sobre a inexistência de fiscalização.
Esse artigo segue copiado na íntegra:
Observatório da Imprensa-06/10/2009
(http://www.observatoriodaimprensa.com.br)
MÍDIA & EDUCAÇÃO
O trabalho acadêmico e o plágio
Por Eliezer Belo
Algumas coisas chamam a atenção quando fogem da
regularidade. Foi o que se pode perceber durante este mês de
setembro de 2009. Por duas vezes, em uma mesma emissora e
37
38. um mesmo programa jornalístico, enfatizou-se a questão das
compras de monografias.
A monografia tem sido o "calcanhar de Aquiles" de muitos
estudantes, coisa percebida no ambiente acadêmico nas últimas
décadas. Na verdade, ela sempre foi uma profunda dor de
cabeça para muitos. Mas o que vem chamando a atenção para
tal é o fator de que, atualmente, muitos desses trabalhos estão
sendo acusados de plágio. Um fator interessante em todo esse
contexto é que pouco se fala nas condições em que os alunos
dos cursos de graduação estão envolvidos, no que diz respeito
aos aspectos legais, educacionais, à compreensão da natureza do
trabalho acadêmico, culturais e tecnológicos.
Em relação ao plágio, ele se caracteriza (conforme Lei nº 9.610
de 19/02/1998) consistentemente pelo uso não autorizado ou
não referenciado pelo pesquisador. Quando a lei expressa "a
proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não
abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo
dos direitos que protegem os demais campos da propriedade
imaterial". Com isso a materialização de uma obra científica é
apoderada pelo autor a partir de sua configuração, ou seja, o
texto em si. Apropriação desse texto (inciso I, Art. 7, Lei 9.610)
configura a apropriação indébita. Porém, o Art. 108, quando
trata das punições reza "Quem,[...] deixar de indicar ou de
anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional
do autor e do intérprete, além de responder por danos morais,
está obrigado a divulgar-lhes a identidade [...]". Dentro desse
aspecto, o trabalho acadêmico, seguindo os critérios da ABNT -
NBR 6023, eximir-se-á do plágio pelo uso orientado dos textos
fidedignos de pesquisa.
Consciência e importância
A produção do trabalho acadêmico tem por objetivo inserir o
aluno à pesquisa. Ele advém dos "recortes" (recortes aqui são
aqueles que se apresentam nos trabalhos acadêmicos, em
formato de citação, e aparecem devidamente referenciados) de
pesquisas já efetivadas por pesquisadores já inseridos no
processo pesquisa.
38
39. O que dá caráter científico a um trabalho é exatamente sua
fundamentação, que faz uso de uma metodologia própria de
pesquisa e se apodera de um objeto manipulável e com
regularidades. A materialidade da pesquisa consiste na coleta de
dados feita pelo pesquisador, seja pela observação laboratorial,
com recursos às literaturas ou feita em campo.
O laboratório, a literatura e o campo nunca estiveram tão
próximos aos pesquisadores como agora. De que forma? Pelos
meios digitais, especificamente pela internet. Tempo e espaço
estão reduzidos ao "click". O aluno que está sendo inserido no
campo da pesquisa deve ter construído em si a importância do
trabalho acadêmico, principalmente a monografia. Sem a
consciência da utilidade acontece a banalização e a
desconsideração. Sendo assim, fica muito fácil, e até uma
"tentação" para o aluno, desassistido, buscar outros meios para
efetivar "seu" trabalho. A consciência e importância do trabalho
acadêmico devem iniciar sua construção desde o primeiro
momento que o aluno se insere no ambiente acadêmico e
acompanhado até a sua saída.
Pertinência e metodologia
A monografia deve ser encarada como a primeira especialização
do aluno, sabendo que é, a partir do tema proposto, ela que o
orientará no que diz respeito às suas futuras investidas
acadêmicas. Caso o aluno ignore essa condição, dificilmente
terá sucesso após sua formação. Sem querer poetizar, o trabalho
acadêmico deve produzir no aluno o sentimento de quem pintou
um belo quadro, obra única (fazendo uso de tintas produzidas
por outros, mas misturadas por criatividade única), ou escreveu
uma poesia, sentimento único (fazendo usa de palavras
utilizadas por outros, mas com articulações únicas), essa é a
autenticidade do trabalho acadêmico. Para muitos o término da
monografia e sua apresentação à banca examinadora já foi
considerado um rito de passagem, mais significativa do que a
colação de grau ou a recebimento do diploma.
Não se pode ignorar que as Instituições de Ensino Superior
(algumas delas) deixam de assumir compromisso com o aluno,
39
40. ou seja, não cumprem o papel educacional. Isso está claro, é só
vermos as condições em que alguns alunos saem "formados" de
certas faculdades e universidades. É de toda compreensão que
as responsabilidades são recíprocas. Mas a questão maior é que,
mesmo o colegiado e o setor pedagógico vendo a situação de
descaso em que certos alunos encaram a graduação, ignoram.
Parece que o que mais importa para essas Instituições de ensino
são as "mensalidades quitadas". Mensalidade quitada está
virando sinônimo de "formação continuada".
Se há um acompanhamento do aluno da definição do tema para
o projeto, questionamentos sobre a pertinência do tema, a
proposição metodológica e o desenvolvimento seqüencial e
assistido por um orientador, dificilmente ele se ocupará com a
desonestidade de se apropriar indebitamente da produção
intelectual de outro.
Regras e fiscalização
Ignorar a figura do orientador, para conter gastos também é
imoral, assim como ir à internet e copiar alguma coisa para
enxertar um trabalho (apesar da lei do mercado sustentar que a
contenção de gastos é justa). A regra do mercado educacional é
"quanto mais tempo o aluno gasta em sala de aula, ou sendo
assistido, maior será o gasto, que é igual a prejuízo". Mas as
regras da educação e da pedagogia são "orientar e facilitar até
que se consolide o processo ensino-aprendizagem".
Retirar dos cursos de graduação o TCC ou os artigos periódicos,
como meios de avaliação, também não será uma postura
responsável, eles ainda são um meio possível, dentro de nosso
contexto, de produzir um profissional ou pesquisador envolvido
com as questões de imanência de sua formação.
Seria justo que o MEC fiscalizasse mais, tanto as IES, no que
diz respeito à qualidade de serviços educacionais, não usando
apenas como critério a instalação física e a titulação do corpo
docente, mas tudo o que envolve o compromisso educacional;
como também às produções acadêmicas de conclusão de curso.
Pelo MEC seria o caminho que, imparcialmente, alcançaria
tanto que o que explora a necessidade comercial do ensino
40
41. como o que se serve dela. Existem regras? Sim. Uma porção
delas, expressas nas portarias no MEC. Existe fiscalização?
Não. O mercado educacional, no que diz respeito à seriedade
que se deve dar à formação das pessoas e à fiscalização, é "terra
de ninguém".
Um outro tipo de informação que merce ser comentado é que, a despeito
da ter sido divulgado em diversos meios, com no Jornal Nacional da Rede
Globo, mereceu somente um pequeno comentário no que constou na Revista
FAPESP. A importância dessa informação, segundo nossa interpretação, é o
fato de a mesma revelar o descrédito do pesquisador para com seus pares, a
partir do que podemos sugerir a ocorrência de imposturas intelectuais em seu
meio acadêmico; de outra forma, a que se deveria atribuir tal descrédito?
Segue o que foi publicado.
Pesquisa FAPESP – 04/2010
O gênio rejeita US$ 1 milhão
O matemático russo Grigory Perelman, 43 anos, recusou mais
um prêmio em reconhecimento à proeza de resolver a
conjectura de Poincaré, considerada uma questão central da
topologia, área da matemática que estuda as propriedades
geométricas que não mudam quando objetos são distorcidos,
esticados ou encolhidos. Segundo o jornal Pravda, Perelman
rejeitou o prêmio de US$ 1 milhão oferecido pelo Instituto Clay
de Matemática (CMI, na sigla em inglês), de Massachusetts. Ele
publicou a solução da conjectura em artigos na internet em 2002
e 2003. Em 2006 foi indicado para receber a cobiçada Fields
Medal, concedida a grandes matemáticos com menos de 40
anos, mas recusou o prêmio, tachando-o de irrelevante. Ele
também tinha rejeitado um prêmio do Congresso Europeu de
Matemáticos, em 1996, sob o argumento de que não reconhecia
nos pares que concederam a honraria autoridade para julgar seu
feito.
41
42. Segue ainda um artigo recentemente publicado, que trata da impostura
de um cientista, mas de um egípcio.
Folha de S. Paulo - 03/01/2010
L.I.X.O.
Marcelo Leite
Físico egípcio descobre como pôr
a estatística a serviço de si mesmo
...
Há alguns problemas com a produção do egípcio, no entanto. Nos
últimos anos, seus adversários se deram conta de que mais de 300
dos 400 artigos publicados por El Naschie o foram no próprio
"CSF" por ele editado.
...
Outro artigo, desta vez brasileiro,e que, portanto, merece atenção é o que
mostra a informação de ocorrência de plágio na Faculdade de Direito (!!!), e da
USP (!!!), que foi publicado tanto na Folha de S.Paulo quanto no Jornal da
Ciência (JC) (SBPC), mas que não concluiu com qualquer punição:
Folha de S. Paulo 06/02/2010
Universidade "inocenta" professor titular da Faculdade de
Direito e afirma que problemas foram só em formalidades
JC de 08/02/2010
A USP decidiu arquivar uma investigação de plágio contra um
docente da sua Faculdade de Direito e isentá-lo de qualquer
penalidade -apesar de uma comissão de sindicância ter apontado
irregularidades no trabalho apresentado por ele no concurso
para professor titular, ápice da carreira.
E, de imposturas de outras naturezas ainda seguem artigos publicados
que colocam em questão a atuação de pesquisadores de renome, que foram
enfaticamente divulgados, como os que seguem.
42
43. Folha de S. Paulo 04/04/2010
+MARCELO LEITE
Promessa não cumprida
Qualquer criança sabe que o
câncer continua a ser uma doença
grave
No dia 26 de junho fará dez anos que Bill Clinton, Francis
Collins -hoje diretor dos poderosos Institutos Nacionais de
Saúde (NIH) dos EUA, então chefe do Projeto Genoma
Humano (PGH)- e Craig Venter, da empresa competidora
Celera, se reuniram na Casa Branca para anunciar o fim do
sequenciamento (soletração) do conteúdo dos 23 pares de
cromossomos humanos. Como muita coisa de que esse trio
participou, nada ali era bem verdadeiro, e quase tudo cheirava a
encenação.
Folha de S. Paulo – abril de 2010
Freud na berlinda
Livro do francês Michel Onfray contra o pai da psicanálise
gera polêmica antes mesmo de chegar às livrarias
...
No livro, lançado na quarta passada, Onfray se entrega com
indisfarçável deleite ao ataque contra Freud e o freudismo.
...
Segundo Onfray, o médico formado em Viena toma emprestado
conceitos de Schopenhauer e Nietzsche sem honrar suas fontes;
dissimula os fracassos terapêuticos da psicanálise; pretende ser
um cientista e, ao mesmo tempo, se apresenta como
"conquistador de um continente desconhecido", tomando seus
desejos por realidade; é um burguês ávido de celebridade;
persegue dinheiro e glória; mantém uma relação adúltera com a
43
44. cunhada, que vivia em sua casa; é um falocrata, misógino e
homofóbico.
As principais revistas científicas internacionais também mostram
preocupação com imposturas, como a publicada na Nature que segue.
Nature Vol 464 |no. 7293 | 29 April 2010
www.nature.com/nature
Under suspicion
When Nature or its sister journals receive serious allegations
about data or author conduct, they follow a clear procedure
to work out whether the published record needs to be
revised.
A particularly exciting research paper catches your eye.
You start to read it in detail, carefully studying the methods,
figures, data and logic. To your growing horror, you realize that
a few of the blots and gel images look as though they have been
digitally manipulated. You immediately inform the journal of
your suspicions and are told that the editors will ‘look into it’.
But after months of silence, you begin to wonder if that phrase
is just a euphemism for inaction.
It isn’t — certainly not at Nature or any of the other
Nature-branded
journals. We make a concerted effort to forestall such problems
by spot-checking the images in at least two papers of each issue
before publication. Even so, Nature journals that publish a
substantial number of gels and blots still receive up to five
reports of image manipulation per journal per year — and few
of these cases can be handled quickly.
When we receive a complaint, we first do our own tests on
the figures to see whether the charges have merit. We also take
a careful look at the paper as a whole. Some claims of
fraudulent image manipulation turn out to be mistaken. Others
we suspect of being clumsy attempts to slur the reputations of
others.
Occasionally, our examination suggests that something
may be amiss. We then ask the authors for the original data and
an explanation of what has happened. This is to help us
understand whether the images really were manipulated and, if
44
45. so, why. This request for authors to provide us with
explanations holds true for almost all other types of allegations,
from authors not sharing materials as expected to charges of
fabricated data or plagiarism.
Intent is key — we often find that no data have been
fabricated, but that poor practice and a lack of education have
allowed unexplained gel splices, for example, to slip past co-
authors before submission or during the revision process.
Taking into account the authors’ response, together with our
comparison of the original images with the published figures,
we will hopefully find that the apparent problems are either
nonexistent or easily remedied. If we conclude otherwise, we
will then contact the authors’ home institution. This step is
necessary because, unlike universities and other such
institutions, journals don’t have the resources or the legal
authority to investigate allegations fully, or to make formal
findings of research misconduct.
At Nature, we usually wait for the results of a formal
inquiry before correcting the record — hence the seeming
inaction. Institutions vary in their practices, and some are more
efficient than others. Institutions that accept government grants
in the United States must have a researchintegrity officer to
handle such allegations, but they are not obliged to share their
information with us. We urge institutions to produce a redacted
version of their final report that protects the innocent, but that
indicates the extent of the investigation and the findings on each
allegation. Because this is not general practice, we are not
always sure that we concur with the actions suggested by the
institution’s investigating committee. To see exactly what was
examined, we are forced to request clarifications, which delays
revisions to the public record further.
At times, we have to resort to the US Freedom of
Information Act to obtain enough information to correct the
literature appropriately.
If the institute is not in the United States, lines of
responsibility are less clear. Determining whom to contact is not
straightforward and convincing parties that an investigation is
needed and getting useful information back is not a reliable
process. Sometimes, this means it can be difficult to judge if the
investigation has been thorough and fair.
45
47. ou ii) cujos autores não são populares ou referidos nos meios por nós
selecionados, de onde copiamos o que segue por servir de exemplo de outro
tipo de impostura, em que são citados autores de renomes com o propósito de
inferir pela qualidade do artigo:
47
48. IREvalEtAl
William Webber’s Research Blog
http://blog.codalism.com/?p=773
Citing papers that you’ve never read — or that were never
written
A regrettably common practice in academic writing is to cite
papers because someone else cites those papers, without having
read them yourself. Justin warns about this in his book on
writing for computer science, and I know he personally has a
few good anecdotes. The practice is particularly amusing when
the paper is incorrectly referenced or simply doesn’t exist; the
original citer has made a mistake, and this has been blindly
carried forward by their imitators. Via Edel Garcia comes The
Most Influential Paper Gerard Salton Never Wrote, an article by
David Dubin tracing the history of the vector space model as
applied to the field of information retrieval. In this article,
Dubin points out that a highly cited paper, “A Vector Space
Model for Information Retrieval”, published by Gerard Salton
in 1975 in the Journal of the American Society for Information
Science, does not in fact exist.
Um outro caso que consta de nossos arquivos, que chama ainda mais a
atenção por ter sido comprovado, sugere o que pode ser atribuído às origens
do problema no Brasil:
i)Quem foi Paula Souza (Google)
O professor Antônio Francisco de Paula Souza foi o fundador
da Escola Politécnica de São Paulo - Poli, hoje integrada à
Universidade de São Paulo. Engenheiro, político e professor,
Paula Souza nasceu em Itu, em 1843. De uma família de
estadistas, foi um liberal, tendo lutado pela República e
Abolição da Escravatura. Em 1892 elegeu-se deputado estadual,
ficando poucos meses no cargo, pois o Marechal Floriano
Peixoto convocou-o ao Ministério do Exterior. Formado em
Engenharia em Carlsruhe, na Alemanha, e em Zurique, na
Suíça, foi em toda a sua vida pública um empreendedor e forte
oposicionista da centralização do poder político-administrativo
48
49. da Monarquia. Educador, esteve ligado à Poli por 25 anos. Seu
desejo era introduzir no Brasil um ensino técnico voltado para a
formação de profissionais preocupados com o trabalho e não
apenas com discussões acadêmicas. Seu dinamismo em criar
obras é um exemplo dessa preocupação. Criou um conceito
novo de ensino, convidou especialistas europeus e americanos
para lecionar na Poli, à frente da qual esteve como primeiro
diretor, de 24 de novembro de 1894 abril de 1917, quando
faleceu, em São Paulo.
ii) Por outra fonte de informação
Na página 214 do livro "Campinas, das origens ao futuro", de
autoria de Dr. Antonio da Costa Santos (Toninho - PT 13),
o prefeito de Campinas, assassinado em 10 / 09/ 2001-
encontra-se a nota no 145:
"O autor pôde constatar, através de documento abaixo
reproduzido, oferecido pela Reitoria da Universidade de
Karlsruhe, Alemanha, que Paula Souza nunca foi diplomado por
esta instituição de ensino, contrariamente ao afirmado pela
competente bibliografia no Brasil".
Finalmente, analisando o conjunto de artigos compilados e comentados
anteriormente, podemos afirmar que a ocorrência de imposturas científicas
não é um problema só do Brasil, a despeito de deixar evidente que nesse caso
(nacional) nada foi encontrado sobre a aplicação de penalidades aos
envolvidos, e, portanto, nada podermos apontar sobre o que poderia servir de
exemplo a ser seguido para a prática ética da produção e divulgação científica
brasileira. Essa análise das discussões dos resultados se mostra como pilar e
orientação para nossas recomendações apresentadas nas considerações finais,
as quais seguimos em nossa atuação descrita nos anexos referidos nas
mesmas.
49
50. 5. Considerações Finais
Ainda que sem autoridade para concluir sobre “estado da arte” dos
fatores que motivam a produção e a divulgação científica, porque dispondo
somente de uma compilação de artigos referentes ao tema selecionados por
um método previamente estabelecido, recomendamos que parte da
responsabilidade de todo cientista seja garantir que os seus alunos e orientados
recebam educação crítica que contemple conceitos e procedimentos éticos
tanto para a produção quanto para a divulgação científica de seus resultados.
De forma complementar recomendamos que as sociedades científicas
brasileiras disponham de representantes de sua comunidade para este fim, a
exemplo do que propusemos à Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e
Computacional (SBMAC) da qual fazemos parte (ver Anexo 1, Anexo 2-a e
Anexo 2-b), que todos os cursos das universidades e dos institutos de pesquisa
brasileiros se responsabilizem pelo oferecimento de pelo menos uma palestra
sobre o tema, a exemplo das que ministramos no LNCC/MCT e da que
sugerimos à Comissão de Pesquisa da FEAGRI/UNICAMP - unidade da
UNICAMP a que pertencemos (ver Anexo 3), e que jornalistas científicos
responsáveis considerem essas recomendações, a exemplo da que sugerimos à
Revista FAPESP e da que foi aceita no blog do físico Marcelo Gleiser (ver
Anexo 4).
A partir da implementação dessas recomendações, sugerimos que as
universidades e instituições de pesquisa do Brasil estabeleçam regras para a
punição dos envolvidos nos distintos tipos de imposturas, a exemplo do que
vem sendo feito em outros países.
6. Trabalhos futuros
O conteúdo desse trabalho pode ser usado como parte complementar do
PROJETO “Percepção Pública da Ciência pelos Cientistas”, anunciado pelo
Dr Carlos Vogt aos alunos do curso de J. C. em 14 de junho de 2010.
50
51. 7. Bibliografia complementar citada
Bueno, W. C. Jornalismo Científico no Brasil: aspectos teóricos e práticos.
São Paulo, CJE/ECA/USP, 1988.
Bertolli Filho, C. Elementos fundamentais para a prática do jornalismo
científico. BOCC. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação 2006; 1: 1-
32.
Bursztyn, M. Ciência, ética e sustentabilidade. 2. ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2001.
Diniz, D. , Sugai, A., Guilhem, D., Squinca, F. Ética em Pesquisa: temas
Globais. Editora UNB, Brasília. 2008. 404p.
Knobel, M. Comunicação em aula da disciplina Fontes de Informação do
curso de Jornalismo Científico do Labjor, UNICAMP, Campinas-SP, 2009.
Kuhn, T. The struture of scientific revolutions.Chicago, University Press.
1962.
Leite, A. P. R., Araújo, M. D. A. Reflexões sobre a Ética nas Organizações:
Uma Abordagem Inicial sobre a Eticidade nas Universidades Brasileiras. III
Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social. Juazeiro-BA. Maio de
2009.
Leite, M. Ciência: use com cuidado. Campinas, SP: Editora da Unicamp.
2008.
Leite, M. Fraudes e fraudes. Folha de São Paulo. 15/03/2009
Monteiro R, Jatene FB, Goldenberg S, Población D.A., Pellizzon R.F.
Critérios de autoria em trabalhos científicos: um assunto polêmico e delicado.
Rev bras cir cardiovasc [on line]. 2004, 19(4): I-VIII.
Morin, E. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil.
2008. 12ª edição. 350p
Oliveira de, F. Jornalismo científico. Editora Contexto. 2002: 42.
51
52. Olson, J. C. Newton and Copernicus. In: The Comic Strip as a Medium for
Promoting Science Literacy. California State University Northridge, 2008.
Pracontal, M. A impostura científica em dez lições. São Paulo: Editora
UNESP, 2004. 453p.
Sokal, A., Bricmont, J. Imposturas intelectuais. Rio de Janeiro, Record, 2001.
Srour, R. H. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro, Campus,
1998, p. 270-71.
Vogt, C. & Polino, C. Percepção pública de ciência: Resultados da pesquisa na
Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas, SP, Ed. Unicamp; São
Paulo, SP. 2003.
52
53. 8. Anexos
ANEXO 1
No final do ano de 2009, o Presidente da Society Industrial Applied
Mathematics - SIAM, em carta à essa comunidade, manifestou sua
"preocupação" diante da crescente ocorrência de plágios (Anexo 1.1). Essa
notícia circulou por e-mail entre pesquisadores de diversas universidades e
institutos de pesquisa da área de Matemática Aplicada.
Uma outra notícia, que também circulou pelos mesmos caminhos, constou
da exclusão de um artigo científico já publicado na revista Advances in
Engineering Software (Anexo 1.2).
Diante destas, dentre outras ocorrências de mesma natureza que tomei
conhecimento, eu escrevi informalmente a diversos membros da SBMAC para
trocar idéias no sentido de propor que alguma providência fosse tomada para
alertar a comunidade sobre o problema de conduta de cientistas, bem como, e
principalmente, educar os mais jovens.
Nada aconteceu.
Coincidentemente era o período em que os sócios da SBMAC poderiam
sugerir nome para as conferências especiais do "Congresso Nacional de
Matemática Aplicada e Computacional" - CNMAC 2010, ocasião em que, a
exemplo de anos anteriores, me manifestei, desta vez com a sugestão do tema
"Ética na produção e divulgação científica", e o nome do Prof Marcelo
Knobel, que fora nosso professor da disciplian "Fontes de Informação" do
curso de J. C.
O referido professor aceitou o convite, mas a diretoria da SBMAC não
selecionou o seu nome.
Posteriormente, enviamos à Revista FAPESP o que consta no Anexo 1.1
junto com a sugestão da inclusão do tema para a pauta, o que não foi
contemplado até a presente data.
53
54. ANEXO 1.1
SIAM NEWS
Integrity Under Attack: The State of Scholarly Publishing
December 4, 2009
Talk of the Society Douglas N. Arnold
Scientific journals are surely important. They provide the most
effective means for disseminating and archiving scientific
results, and so are a key part of an enterprise on which our
health, security, and prosperity ultimately depend. Publications
are used by universities, funding agencies, and others as a
primary measure of research productivity and impact. They play
a decisive role in hiring, promotion, and salary decisions, and in
the ranking of departments, institutions, even nations. With big
rewards tied to publication, it is not surprising that some people
engage in unethical behavior, abuse, and downright fraud. Still,
when I started to look at the issues more closely, I was appalled
by what I found. In this column, I give a few troubling
examples of misconduct by authors and by journals in applied
mathematics. One conclusion I draw is that common
bibliometrics---such as the impact factor for journals and
citation counts for authors---are easily manipulated not only in
theory, but also in practice, and that their use in ranking and
judging should be curtailed.
SIAM places great value on scholarly publishing, of course, and
we are taking strong actions to ensure the integrity of our own
publications and to protect our authors from theft of their work.
But we are still struggling to decide just what actions we should
take. So I invite the thoughts of members of the SIAM
community. If you have witnessed troubling incidents in journal
publication, let me know. Do you think such incidents are on
the rise? Should SIAM be doing more? Should we look beyond
our own publications and authors?
54