1. ABADIM
Informação da freguesia de São Jorge de Abadim de Basto deste Arcebispado Primaz de Braga. José
Antunes, abade na igreja de São Jorge de Abadim, couto de Abadim, comarca e termo da vila de
Guimarães e Arcebispado de Braga Primaz, satisfazendo a ordem deambulatória do Muito Reverendo
Senhor Desembargador Provisor Francisco Fernandes Coelho em que determinava Sua Excelência
Reverendíssima o Senhor Dom Frei Aleixo Henriques de Miranda, Bispo eleito de Miranda e Governador
deste Arcebispado de Braga Primaz. Informo eu com toda a individuação sobre o que Sua Majestade
Fidelíssima que Deus guarde ordena aos interrogatórios que vinham juntos com a mesma ordem ao que
satisfaço na forma seguinte, respondendo unicamente aos interrogatórios que tenho que informar por
evitar longo processo.
Esta freguesia de São Jorge de Abadim é Província de Entre Douro e Minho e Arcebispado de Braga
Primaz, comarca e termo da vila de Guimarães e couto de Abadim de Cabeceiras de Basto. Deste couto
é donatário e seu capitão-mor Tadeu Luís António Lopes de Carvalho Fonseca e Camões da vila de
Guimarães. Tem esta freguesia cento e três vizinhos, quatrocentas e quinze pessoas em que entram os
ausentes e vinte e nove menores. Está situada na costa de um monte; para o meridiano dela se
descobrem algumas povoações como é a freguesia de São Miguel de Refojos, a de Santa Maria do
Outeiro, a de S. Pedro de Alvite, a de São Tiago da Faia e grande parte do concelho de Cabeceiras,
como na Província de Trás-os-Montes, além Tâmega se descobrem a povoação de Serva, Atei e Mondim
de Basto e outras mais povoações e a grande serra do Marão que dista desta freguesia três léguas e
meia.
Esta freguesia é couto sobre si que compreende e se compõem de cinco lugares a saber: Aldeia da
Torre, de Santo António e no fim deste entre o Poente e Norte está a igreja desta freguesia o lugar de
Travassô, o de Porto d'Olho e o das Torrinheiras e os últimos três de pequeno número de vizinhos. O
orago dela é São Jorge e a igreja paroquial tem cinco altares: o maior e quatro colaterais e estes são de
Nossa Senhora do Rosário, do Menino Deus de São Sebastião e das Almas, e há nesta igreja a confraria
do Santíssimo Sacramento com instituição de confrades. É abadia de padroado secular de que é
padroeiro o senhor donatário deste couro. Os rendimentos dos frutos desta igreja são mais ou menos
conforme o saque deles entre certos e incertos renderão quatrocentos e sessenta mil réis pouco mais ou
menos. Tem uma ermida no meio do lugar de Santo António com a invocação do mesmo Santo, e fora do
lugar de Travassô tem outra da invocação de Nossa Senhora do Bom Despacho. E também fora do lugar
das Torrinheiras há outra ermida com a invocação de Nossa Senhora dos Remédios. E de todas elas é o
abade desta freguesia administrador e só quando se festejam as sobreditas ermidas concorrem algumas
pessoas das freguesias vizinhas a visitarem estes santuários.
Os frutos que os moradores desta freguesia colhem em mais abundância são diferentes pela diversidade
dos lugares e clima da terra. Os das duas aldeias da Torre e Santo António colhem em mais abundância
milho grosso e milho branco e painço e centeio. Estes três géneros em menos abundância, como também
2. vinho, azeite, castanha e bolota de carvalho e os dos três lugares Travassô, Porto d'Olho e Torrinheiras
colhem em mais abundância centeio e pouco milho e dos mais frutos nenum por serem terras muito frias.
Tem esta freguesia juiz ordinário e câmara a que, digo, a cuja eleição preside o senhor donatário deste
couto de que é seu ouvidor e capitão-rnor e somente o corregedor da vila de Guimarães conhece deste
couto estando em correição ou nova alçada.
Serve-se este couto e freguesia do correio do concelho de Cabeceiras de Basto que dista desta freguesia
um quarto de légua. Dista esta freguesia da cidade de Braga cabeça deste Arcebispado sete léguas e da
de Lisboa sessenta e seis léguas.
E está situada no meio da aldeia da Torre desta freguesia, uma antiga e elevada Torre do donatário e
senhor deste couto como administrador do morgado dos Carvalhos, o qual não padeceu ruína no
Terramoto do ano de 1755.
Não tem esta freguesia serra alguma com denominação própria e o monte em que está situada tem uma
légua de distância e principia no sítio chamado Entre-ambos-os-Rios e finda no sítio chamado o Marco da
Portela Velha. No alto deste monte está o lugar das Torrinheiras e no meio o de Porto d'Olho e de
Travassô.
Produz somente matos como urgem [sic, por urze], carquejas e tojos.
É fria com extremo e dá alguns pastos. Criam-se lobos. Pela parte do Nascente e Ponte deste monte
correm dois regatos para o Sul com curso rápido que se unem junto ao lugar de Ponte de Pé e se vão
incorporar com o rio Tâmega. Neles se criam algumas trutas e bogas. Suas águas são diminutas, porém
perenes todo o ano e delas usam os povos vizinhos livremente.
Em um destes regatos que corre pela parte do Poente há uma ponte chamada da Ranha que é de
cantaria de pedra. Neles há vários moinhos e os pertencentes a esta freguesia são seis. Nesta freguesia
não há coisa alguma digna de memória, nem se me oferece mais que responder aos interrogatórios.
E por esta me ser mandada a passei na verdade e assinei com os reverendos párocos vizinhos de Santo
André de Rio Douro e São Nicolau de Basto. São Jorge de Abadim e de Maio 22 de 1758. O abade José
Antunes. Vigário António Carneiro da Costa. O reitor de S. Nicolau, Domingos Camelo de Souza.
Referências documentais:
IAN/TT, Memórias Paroquiais, Vol. 7, memória 7, pp. 73 a 77. – Tombo da igreja, 1500, 5, 279v. -
Obrigação à fábrica da ermida de Nossa Senhora da Glória, 1606, 10, 40v. - Obrigação à fábrica da
capela de Nossa Senhora da Conceição e S. Domingos, 1776, 140, 188v.
Texto transcrito, com actualização da grafia e pontuação, a partir de José Viriato Capela – As freguesias
do distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 1758: a construção do imaginário minhoto seiscentista.
Braga: Universidade do Minho, 2003. P. 213-214.