1) O documento apresenta uma análise da cadeia produtiva de cana-de-açúcar na Região Norte Fluminense.
2) É descrito o histórico do setor sucroalcooleiro no Brasil e sua importância econômica para a região.
3) São analisados os desafios de competitividade enfrentados pelas usinas da região e a necessidade de cooperação entre os agentes para superá-los.
1. Boletim Técnico Nº 06
Uma Análise da Cadeia Produtiva de Cana-de-
Açúcar na Região Norte Fluminense
Referência: Abril/2002
Observatório Socioeconômico – um projeto do
Consórcio Universitário de
Pesquisa da Região Norte
Fluminense
Um Convênio:
CEFET – UENF – UFF – UFRRJ – UNIVERSO
2. 2
Autor deste Boletim:
Hamilton Jorge de Azevedo
Engenheiro Agrônomo – UFRRJ
Equipe Técnica:
Romeu e Silva Neto
Coordenador dos Núcleos de Pesquisa – CEFET Campos
Ailton Mota de Carvalho
Professor do CCH – UENF
José Luis Vianna
Professor do Inst. de Ciências da Sociedade e Des. Regional – UFF
Hamilton Jorge de Azevedo
Engenheiro Agrônomo – UFRRJ
André Fernando Uébe Mansur
Coordenador do Curso de Administração - UNIVERSO
Estagiários:
Bruno Manhães Siqueira
Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos
Luciano Vasconcelos Fiúza
Bolsista de Iniciação Científica – CEFET Campos
3. 3
Apresentação
O Observatório Socioeconômico da Região Norte Fluminense foi criado em 02
de janeiro de 2001, através de uma parceria estabelecida entre o NEED – Núcleo de
Estudos em Estratégia e Desenvolvimento do CEFET – Centro Federal de Educação
Tecnológica de Campos e a UNIVERSO – Universidade Salgado Oliveira (Sede
Campos) representada pela Coordenação do Curso de Administração de Empresas.
A partir de 02 de janeiro de 2002, também passaram a integrar e gerenciar o projeto
do Observatório a UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense representada
pelo CCH – Centro de Ciências do Homem, a UFF – Universidade Federal Fluminense
representada pelo Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional e a
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro representada pelo Setor de
Operações Agrícolas. Essas cinco instituições formam o Consórcio Universitário de
Pesquisa da Região Norte Fluminense. Esse consórcio, atualmente, desenvolve dois
trabalhos de pesquisa: O Projeto de Pesquisa intitulado Configuração do Mercado de
Trabalho da Região Norte Fluminense: Mapeamento das Cadeias Produtivas e Alternativas
de Geração de Empregos apoiado pela FAPERJ e o já mencionado Observatório
Socioeconômico da Região Norte Fluminense.
O Observatório tem a finalidade principal de coletar, analisar e disponibilizar dados e
informações que possam dar suporte à tomada de decisões de agentes públicos e privados
e que auxiliem a concepção de políticas e estratégias municipais que venham a melhorar a
qualidade de vida da população. Seus estudos estão direcionados para as áreas de
emprego, renda, saúde, educação, habitação e saneamento dos municípios da Região
Norte Fluminense: Campos dos Goytacazes, Macaé, São João da Barra, Quissamã,
Conceição de Macabu, Carapebus, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e Cardoso
Moreira.
De forma complementar, o Observatório também monitora indicadores sócio-
econômicos das principais cidades de cada uma das mesorregiões do Estado do Rio de
Janeiro: Noroeste – Itaperuna, Serrana – Petrópolis, Lagos – Cabo Frio, Sul – Volta
Redonda, e Metropolitana – Niterói, com a finalidade principal de verificar se uma eventual
tendência regional também se apresenta nas demais regiões do Estado.
As fontes dos dados coletados são sempre oficiais para evitar problemas de
credibilidade. Dentre essas fontes, destacam-se: RAIS/CAGED do Ministério do Trabalho e
Emprego, DataSUS do Ministério da Saúde, INEP do Ministério da Educação, e CIDE do
Governo do Estado do Rio de Janeiro. Eventualmente, poderão ser utilizadas informações
provenientes das prefeituras locais, ou de suas secretarias, desde que devidamente
emitidas em documentos oficiais.
4. 4
Nossas Publicações:
O Observatório tem as seguintes publicações à disposição da comunidade no site do
NEED/CEFET (www.cefetcampos.br/observatorio):
A Evolução do Emprego Formal na Região Norte Fluminense: Um
Boletim Técnico No. 1:
enfoque sobre Campos e Macaé.
Nota Técnica No. 1: A Razão entre o Emprego Formal e a População Total das
Cidades de Porte Médio – uma referência para Campos e Macaé
em relação ao Rio de Janeiro e ao Brasil.
Boletim Técnico No. 2: A avaliação da Qualidade do Emprego Formal na Região Norte e
Fluminense: Um enfoque sobre Campos e Macaé.
Boletim Técnico No. 3: Investigação sobre o Perfil do Trabalho Informal em Campos: Um
enfoque sobre os Trabalhadores de Rua (camelôs).
Nota Técnica No. 2: Um Estudo Comparativo entre a Qualidade do Emprego Formal e
o Trabalho Informal na Cidade de Campos – Um enfoque sobre o
Grau de Escolaridade e a Renda Mensal.
Boletim Técnico No. 4: O Perfil da Educação na Região Norte Fluminense: Ensino
Infantil, Fundamental e Médio.
Boletim Técnico No. 5: Favelas/Comunidades de Baixa Renda no Município de Campos
dos Goytacazes.
Endereço: CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos
NEED – Núcleo de Estudos em Estratégia e Desenvolvimento
Observatório Sócio-Econômico da Região Norte Fluminense
Rua Dr. Siqueira, Nº 273
Parque Dom Bosco – Campos dos Goytacazes – RJ
CEP: 28.030-130
Telefone: (22) 2733-3255 Ramal 4229 / Site: www.cefetcampos.br/observatorio
5. 5
Sumário Pág.
1. Introdução 6
2. Panorama do setor sucroalcooleiro Nacional 9
3. O setor sucroalcooleiro no Brasil e sua relação com o Estado 16
4. Resumo histórico do setor canavieiro Brasileiro e a intervenção do Estado 17
4.1 – Período compreendido entre o descobrimento do Brasil a 1930 17
4.2 – Período compreendido entre 1930 a 1990 21
5. Resumo Histórico da Agroindústria no Estado do Rio de Janeiro 24
6. Panorama do Setor sucroalcooleiro no Estado do Rio de Janeiro 30
7. Competitividade do complexo sucroalcooleiro 39
7.1 – Diferenciação de produtos 40
7.2 – Diversificação da produção 41
7.3 – Especificação na produção de Açúcar e Álcool 42
8. Competitividade do Setor sucroalcooleiro do Estado do Rio de Janeiro 44
9. Conclusões 48
10. Bibliografia Consultada 49
6. 6
1 – Introdução
A região Norte Fluminense tem como uma de suas principais atividades
econômica a indústria sucroalcooleira, tendo gerado no ano de 2000 cerca de 175
milhões de reais e cerca de 15.000 empregos diretos e indiretos. Essa atividade,
entretanto, nas últimas três décadas vem passando por um processo de declínio em
função de sucessivos planos econômicos, desvalorização da moeda nacional em
relação ao dólar, dívidas em dólar assumidas pelas unidades produtivas na
modernização das indústrias, fortes pressões competitivas impostas pelo mercado
que exige produtividade e qualidade a custos cada vez menores e falta de matéria
prima (cana) devido ao déficit hídrico característico da região. Em conseqüência
desses acontecimentos, muitas unidades produtoras fecharam e muitas estão
descapitalizadas sem condições de se auto-alavancarem.
Pelo exposto não se pode esperar que estas empresas, trabalhando
individualmente num mercado altamente competitivo e globalizado, possam se tornar
competitivas com pequeno esforço. Assim um esforço conjunto torna-se necessário,
participando empresas, governo, universidades, sindicatos e todas as entidades
representativas, de forma a conseguirem as condições necessárias ao aumento de
competitividade das empresas do setor na região. Além disso, estas empresas
necessitam se articular entre si a fim de conquistarem as condições de
competitividade como economias de escala, poder de barganha na compra e na
venda, representatividade política, além de outros. Dessa forma este trabalho se
propõe a avaliar os modelos de articulação entre os diferentes agentes acima
citados de maneira a viabilizar a transferência de tecnologia para as empresas a fim
de aumentar a sua competitividade.
A escolha do estudo da cadeia produtiva sucroalcooleira se deu em função da
sua grande capacidade de gerar empregos e renda na região, conforme citado
anteriormente. O setor agroindustrial é um dos que possui melhor relação
investimentos por empregos gerados. Estimativas do BNDES (1998) citado por Orioli
et al. (1999), apontam que para cada R$ 1 milhão de investimentos neste setor são
gerados 182 empregos. Para efeito comparativo observa-se que no caso da
construção civil para cada R$ 1 milhão de investimentos são gerados 48 empregos.
O estudo ainda revela que os custos por empregos gerados na agricultura irrigada
são de aproximadamente R$ 26.500,00, muito menor do que em vários outros
setores conforme podemos observar na tabela a seguir.
Setores Custo (R$)
Agricultura irrigada 26.500
Agricultura de sequeiro 37.000
Bens de consumo 44.000
Turismo 66.000
Telecomunicações 78.000
Indústria em geral 83.000
Indústria automobilística 91.000
Bens de capital 98.000
Pecuária 100.000
Metalurgia 145.000
Química 220.000
Tabela I.1 – Custo de emprego em diversos setores
Fonte: MICT citado por Orioli et al.- 1999
7. 7
A agroindústria açucareira é a mais antiga atividade econômica do Brasil, está
relacionada aos principais eventos históricos do país. O Brasil é atualmente o maior
produtor mundial de cana-de-açúcar do mundo, empatando com a Índia. É
isoladamente o maior produtor de açúcar de álcool e o maior exportador mundial de
açúcar.
O produtor de açúcar mais competitivo do mundo atualmente é o Brasil.
Segundo Waak e Neves (1998), as usinas mais eficientes no Brasil, tem um custo de
produção de US$ 170,00 por tonelada de açúcar, contra uma média de US$ 190,00
no Estado de São Paulo. Os países concorrentes mais próximos do Brasil são a
Austrália com um custo de produção de US$ 270/tonelada e a Tailândia com custo
de US$ 310/tonelada. Os custos de produção do açúcar na Europa e nos EUA são
superiores a US$ 500/tonelada, com a produção de açúcar fortemente subsidiada.
Dos países cujo índice de auto-suficiência supera 100% e são concorrentes do Brasil
no mercado exportador, destacam-se Austrália, Tailândia e Cuba.
Em termos de desempenho recente no agrobusiness brasileiro o açúcar é um
dos produtos de maior sucesso. Houve um salto na produção de açúcar nacional
que passou de 7,8 milhões de toneladas na safra de 1985/86 para mais de 19,4
milhões de toneladas em 1999/00. Segundo Pinazza e Alimandro (2001) as
exportações de açúcar do brasileiro a partir da safra 1995/96 saltou de 8% para 30%
do total comercializado no mercado internacional.
A cadeia de produção sucroalcooleira tem como principais produtos e
subprodutos da cana-de-açúcar a água de lavagem, o bagaço, folhas e pontas e o
caldo. Desses a água de lavagem pode ser usada para produção de biogáz e
fertirrigação. O bagaço é utilizado para produção de energia (vapor/eletricidade),
combustível (natural, briquetado, peletizado, enfardado), hidrólise (rações, furfural,
lignina), polpa de papel, celulose e aglomerados. As folhas e pontas podem ser
usadas como forragem e as mesmas aplicações do bagaço. O caldo tem como uso
mais nobre em ordem de importância a produção de açúcar, álcool melaço e outras
fermentações.
Os principais produtos e subprodutos do álcool são o etanol, a vinhaça o gás
carbônico, o óleo de fúsel, recuperação de leveduras. O principal uso do etanol por
ordem de importância no Brasil é o de combustível veicular, indutor de octanagem,
solvente etc. Dentro da alcoolquímica o etanol pode ser usado na forma desidratada
para produção de etileno, PEVC, polietileno, poliestireno, óxido de etileno
(sulfactantes, poliésteres e glicóis) e na forma desidrogenada para produção de
acetaldeído que por sua vez entra na produção de crotonaldeído (butanol, octanol),
ácido acético (anidro acético, acetatos), vários outros (ácido panacético, pentaeritritol
etc.). Como gás carbônico é usado na produção de gelo seco, bicarbonato de
amônio. Como óleo de fúsel é usado na produção de álcoois amílico, isoamílico,
propílico, etc. Na recuperação de leveduras pode ser usado na fermentação alcólica
e na nutrição animal.
Já os principais usos produtos e subprodutos do açúcar são o consumo do
açúcar direto, a indústria sucroquímica produzindo glicose, frutose, ácido oxálico,
polióis (solventes e polióis), glicerina, ácido levulínico, ácido arabiônico, sorbitol,
manitol, sacarose e derivados (octobenzoato, acetato, isobutirato, ésteres graxos,
octacetato, et,), sucralose. Além dos produtos anteriormente citados existe
fermentações diversas produzindo acetona butanol, álcool dacetona, difenol
propano, metil metacrilato, além de fermentações finas como antibióticos, ácidos
orgânicos, vitaminas, ênzimas industriais, aminoácidos, e insumos biológicos.
8. 8
A descrição anterior dos produtos e subprodutos da cadeia sucroalcooleira
tem a finalidade de mostrar a ampla potencialidade do complexo, pois poderão vir a
ser uma importante alternativa estratégica para o setor.
A abordagem econômica mais tradicional centra o seu foco na concorrência
entre empresas de um setor econômico. No estudo das cadeias produtivas,
conforme proposto neste estudo, a análise possibilita uma visão integrada de
setores que trabalham e forma inter-relacionada. Ao se trabalhar em um nível
intersetorial, análise de agrupamentos dá especial relevância às diferentes formas
de interdependência entre os setores, Hauguenauer e Prochinik (1998). Os mesmos
autores definem uma cadeia produtiva de forma simplificada, como uma seqüência
de setores econômicos, unida entre si por relações significativas de compra e venda,
havendo uma divisão do trabalho entre estes setores, cada um realizando uma
etapa do processo.
A cadeia produtiva sucroalcooleira já foi bem definida por diversos autores,
dentre os quais podemos destacar Hauguenauer e Prochnik (2000) e Waack e
Neves (1998). Dessa forma não foi dada muita ênfase, neste estudo, a delimitação
da cadeia produtiva propriamente dita e sim na interação regional do setor
sucroalcooleiro na cadeia produtiva canavieira global, visando estabelecer pontos
fracos e potencialidades a serem desenvolvidas.
A seguir é apresentado um fluxograma da cadeia produtiva sucroalcooleira
segundo Waack e Neves (1998).
9. SISTEMA AGROINDUSTRIAL DA CANA-DE-AÇÚCAR 8
EXPORTAÇÃO CONSUMIDOR
REFINARIA DISTRIBUIÇÃO
VHP TRADINGS FINAL
IND. ALIMENTOS (MENOR
DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR
QUALIDADE)
SUPERIOR FINAL
AÇÚCAR
REFINARIA
INDÚSTRIA
IND. ALIMENTOS
SUCROQUÍMICA
IND. ALIMENTOS (MAIOR
QUALIDADE)
ESPECIAL CONSUMIDOR
DISTRIBUIÇÃO
EXTRA REFINARIA FINAL
PRODUÇÃO EMPACOTAMENTO
PRÓPRIA
EXPORTAÇÃO
TRADINGS
INSUMOS
ANIDRO INDÚSTRIA COMBUSTÍVEIS INDÚSTRIA CONSUMIDOR
DISTRIBUIÇÃO
ALCOOLQUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL
PRODUÇÃO DE
TERCEIROS INDÚSTRIA
ÁLCOOL COMBUSTÍVEIS
HIDRATADO
INDÚSTRIA INDÚSTRIA CONSUMIDOR
DISTRIBUIÇÃO
QUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL
INDÚSTRIA ALIMENTOS INDÚSTRIA
USINA NEUTRO DISTRIBUIÇÃO CONSUMIDOR
COSMÉTICOS QUÍMICA TRANSFORMAÇÃO FINAL
FARMACÊUTICA
GÁS NATURAL
VINHAÇA CONSUMIDOR
DISTRIBUIÇÃO
FERTILIZANTES FINAL
IND. ALIMENTOS
SUBPRODUTOS LEVEDURA CONSUMIDOR
DISTRIBUIÇÃO
IND. RAÇÃO ANIMAL FINAL
COMBUSTÍVEL (CALDEIRAS
VAPOR)
COGERAÇÃO ENERGIA CONSUMIDOR
BAGAÇO DISTRIBUIÇÃO FINAL
INDÚSTRIA PAPEL E CELULOSE
COMPENSADO
10. 9
2 – Panorama do Setor Sucroalcooleiro Nacional
O Brasil é o maior e mais eficiente produtor de açúcar e álcool do mundo. Num
mercado efetivamente livre e com economia globalizada estaríamos livres para
crescer e proporcionar ao país um número cada vez mais significativos de empregos
e divisas, bens fundamentais para o fortalecimento da economia de qualquer nação,
Carvalho (2001, a).
Entretanto o chamado livre comércio globalizado, é extremamente distorcido e
antiético, onde os países mais ricos do mundo pregam livre comércio, explorando os
mercados alheios, e em contraposição protegem os seus mercado interno de todas
as formas.
O setor sucroalcooleiro tem grande importância econômica e social no Brasil
desde o seu período colonial. A cadeia produtiva brasileira da cana de açúcar tem,
segundo Carvalho (1997), uma grande dimensão, quando analisado segundo o
conceito dos recursos financeiros que movimenta a cada safra. Na safra 96/97 a
cadeia produtiva movimentou em insumos modernos (agrícola e industrial),
produção agrícola, industrial, comercialização e impostos cerca de R$ 10 bilhões,
sendo que R$ 0,82 bilhões em insumos modernos, R$ 2,86 bilhões na produção
agrícola, R$ 1,19 bilhão na produção industrial, R$ 2,12 bilhões na comercialização
e R$ 2,80 bilhões em impostos.
O setor sucroalcooleiro nacional gerou em 2000, cerca de 1,5 milhão de
empregos diretos e indiretos, sendo 613 mil empregos diretos e 966 mil empregos
indiretos, distribuídos por quase todos os estados brasileiros. Na tabela 1 é
apresentado o número de empregos gerado pelo setor (PNAD/IBGE/DPE/DEREN,
1996). Na Tabela 2 é apresentado o nível de escolaridade do trabalhador no setor
sucroalcooleiro para as diferentes categorias, ou seja na produção da cana, do
álcool e do açúcar, segundo dados do PNAD/IBGE (1996). É surpreendente
observar as diferenças de nível de escolaridade das distintas categorias do setor. Na
categoria produções de cana, 39 % dos trabalhadores têm menos de um ano de
instrução; no setor industrial esse percentual fica entre 11 e 13 %. Todavia o nível
de escolaridade de modo geral é baixo.
Subsetor Emprego Regiões Total
N NE CO SE S
Cana 2.043 249.600 12.072 194.781 52.270 510.766
Álcool Direto 205 25.007 1.219 19.349 5.247 51.027
Açúcar 204 24.950 1.207 19.381 5.240 50.982
Subtotais 2.452 299.557 14.498 233.511 62.757 612.775
Cana 290 36.809 6.162 58.289 14.180 115.730
Álcool Indireto 1.831 155.497 20.865 189.828 43.663 411.684
Açúcar 236 213.432 13.896 182.999 27.684 438.274
Subtotais 2.357 405.738 40.923 431.116 85.527 965.688
Total 4.809 705.295 55.421 664.627 148.284 1.578.436
Tabela II.1 – Número de empregos gerados pela cadeia produtiva da cana de açúcar
no Brasil e regiões
Fonte: IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001
11. 10
Sem 1 a 3 4 a 7 8 a 10 11 a 14 15 anos Total
instrução e anos anos anos anos ou mais
menos de
1 ano
Cana 39 31 25 4 1 0 100
Álcool 13 11 31 14 23 8 100
Açúcar 11 17 35 17 16 3 100
Tabela II.2 – Nível de escolaridade dos empregos diretos no setor sucroalcooleiro
em anos de estudo, valor percentual.
Fonte: PNAD, IBGE IN: Pinazza & Alimandro - 2001
São processados anualmente, cerca de 270 milhões de toneladas de cana no
Brasil para produção de açúcar e álcool (anidro e hidratado). Para isso são
cultivados 5 milhões de hectare nas regiões Nordeste e Centro-Sul. A título de
exemplo, a produção cana álcool e açúcar do Estado de São Paulo, que representa
hoje em torno de 60 % da produção de nacional, tem uma eficiência de produção
entre 20 e 30 % maior que o mais eficiente produtor mundial de álcool e açúcar de
cana, que é a Austrália. Os demais países produtores de açúcar de cana, beterraba
ou frutose de milho estão ainda mais distantes e em condições normais, não tem
condições de competir com o Brasil.
A alta eficiência de produção alcançada pelo produtor brasileiro vem de uma
longa tradição na produção de cana e açúcar (cinco séculos), esforço conjunto em
pesquisa (setor privado e governo), criando novas variedades resistentes a pragas e
doenças, maior teor de sacarose e aclimatadas a diferentes tipos de solo e
condições climáticas, numa evolução que tende a se acelerar com o advento do
projeto genoma da cana-de-açúcar. Outro fator importante neste contexto é o fato do
país produzir açúcar e álcool, o que permite flexibilidade associada a uma grande
capacidade de produção, o que torna a qualidade do nosso açúcar insuperável.
Através do desenvolvimento de um terceiro produto, que é a co-geração de energia
elétrica por meio do bagaço de cana, a nossa competitividade terá um crescimento
ampliado.
A capacidade nacional de expansão da cultura da cana-de-açúcar é muito
grande, e após o grande crescimento da produção de álcool e da pesquisa, nas
últimas três décadas, a cana entrou no cerrado brasileiro, o que permite vislumbrar
uma área teoricamente potencial de cultivo de mais de 70 milhões de hectares,
segundo Carvalho (2001, a).
Hoje o Brasil não possui nenhuma restrição para a produção de álcool e
açúcar, a intervenção do Estado foi eliminada ao longo da década de 90, não mais
existindo obstáculos para produzir álcool e açúcar. Com a desregulamentação do
setor, qualquer empresário está livre para produzir, em condições onde nenhuma
outra cultura é mais rentável, mesmo nas condições mais adversas de mercado.
Com todas essas condições favoráveis, quando ocorre uma alta internacional
do preço do açúcar, há uma rápida expansão da produção de açúcar, o que
ocasiona excesso do produto quando a demanda diminui, não dando para evitar a
superprodução e seus efeitos danosos para o setor. Esses movimentos de
alternados de produção e de preço do produto são estruturais, e não é a toa que o
Estado sempre controlou rigidamente esse setor.
Como não é possível eliminar facilmente esse fenômeno, há que se trabalhar
para estabelecer um equilíbrio entre produção e demanda. Segundo Carvalho
12. 11
(2001) isso pode ser possível via auto-regulação do setor e, principalmente, pela
abertura de novos mercados.
No mercado internacional nenhum produto é tão protegido quanto o açúcar,
tanto no número de países que o praticam como as diferentes formas em que é
praticado, tais como subsídios a produção e exportação, cotas, barreiras
fitossanitárias etc.
Os maiores mercados consumidores, tais como EUA, Japão, União Européia,
é impossível entrar com o produto livremente. Os valores do custo de produção nos
EUA, União Européia e Japão chegam a mais de três, quatro e seis vezes,
respectivamente, ao do preço internacional, sendo os custos desses países
altamente subsidiados.
Esses mercados devem ser conquistados a todo custo. É inadmissível que a
abertura do comércio internacional não se dê com a inclusão do açúcar, onde o país
é competitivo e tem condições de globalizar, em vez de ser globalizado, como é em
tantas outras áreas. A derrubada dessas barreiras comerciais só se dará no âmbito
da Organização Mundial de Comércio e não serão obtidas em curto prazo, exigindo
negociações bastante complexas.
Enquanto isso não é factível em curto prazo, a ampliação do mercado do
álcool é a opção que se têm, tanto na forma de combustível carburante (álcool
hidratado), como aditivo para oxigenação de gasolina (álcool anidro). Além do Brasil
e dos EUA (maiores produtores mundiais de álcool etanol), há indicativos que
mostram a posição dos diferentes países e seus mecanismos para a viabilização do
etanol como aditivo da gasolina. Existe hoje uma crescente adesão do Canadá e
Suécia para carros a álcool ou carros flexíveis, movidos a álcool e gasolina em
diferentes proporções. Recentemente o Japão decidiu substituir o MTBE (Metil Tercil
Butil Éter, aditivo da gasolina) pelo etanol. Hoje exista um otimismo em relação aos
rumos que estão tomando o mercado do álcool, imaginando-se que num curto
espaço de tempo o etanol possa a vir transformar-se numa commodity internacional.
Os efeitos danosos de aditivos usados comumente na gasolina, como o MTBE,
derivado do petróleo considerado cancerígeno e poluidor dos lençóis freáticos pela
Agencia de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA, além de questões ambientais
ligadas à necessidade da redução do efeito estufa dão relevância ao etanol pelos
seguintes motivos: o etanol é um produto biodegradável, ajuda a diminuir a poluição
local pelo resultado de redução das emissões da gasolina e do poder de reduzir a
poluição global uma vez que, o produto (álcool etanol) e o processo de produção
(álcool de cana), contribui para a diminuição do efeito estufa, ao substituir
combustível proveniente do petróleo e seqüestrar carbono da atmosfera.
A produção de cana, álcool e açúcar no Brasil passaram por grandes
mudanças nas últimas três décadas. Com a criação do Proálcool nos anos 70 houve
uma grande expansão na sua capacidade produtiva. De 1975 a 1987 houve um
veloz crescimento na produção de cana, o que pode ser observado na Figura 1,
onde é apresentada a evolução da produção de cana, em mil toneladas, entre as
safras 70/71 e 00/01. Observa-se também que em meados dos anos 90 houve um
novo salto na produção de cana, com o setor já se reacomodando a
desregulamentação do setor.
13. 12
PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01
400.000
315.641
302.169
310.049
285.664
350.000
Cana-de-açúcar (1000 TM)
258.500
251.346
240.869
300.000
228.791
227.873
223.410
224.364
216.963
224.496
223.991
222.163
221.339
202.765
197.995
250.000
166.753
153.858
148.651
138.899
200.000
129.145
120.082
103.173
95.074
91.525
95.624
150.000
91.994
79.753
79.595
100.000
50.000
0
1970/71
1971/72
1972/73
1973/74
1974/75
1975/76
1976/77
1977/78
1978/79
1979/80
1980/81
1981/82
1982/83
1983/84
1984/85
1985/86
1986/87
1987/88
1988/89
1989/90
1990/91
1991/92
1992/93
1993/94
1994/95
1995/96
1996/97
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
Safras
Gráfico II.1 - Evolução da produção de cana-de-açúcar no Brasil entre as safras 71/72 à 00/01
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado por http://www.udop.com.br
No Gráfico II.1 é apresentada a evolução de produção de álcool (hidratado e
anidro em m3). Observa-se que a partir da década de 80 a produção de álcool
hidratado teve um crescimento vertiginoso estabilizando-se entre 1990 e 1998, a
partir da qual a produção começou a diminuir. Segundo Pinasa e Alimandro (2001),
o carro movido a álcool representava em 1988, 90% das vendas no mercado
interno. Desde os meados dos anos 80, a não correção dos preços de energia no
país, inclusive do álcool, gerou desequilíbrio entre a oferta e a demanda, pela
estagnação da oferta. No caso do setor sucroalcooleiro, mesmo sem exportar,
houve o problema das faltas localizadas de álcool, pela limitação de matéria prima e
pelo crescimento da demanda. Surgiu uma crise de abastecimento doméstico de
álcool. O episódio deixou seqüelas. A indústria automobilística reduziu seus projetos
de pesquisa e desenvolvimento do carro a álcool e consumidor caiu na
desconfiança. A participação das vendas de veículos a álcool no total teve queda
súbita. No período Collor houve uma retomada das vendas dos carros a álcool,
chegando a 20% do total comercializado ao mês. Após 1994 as vendas despencam
para 1% ao mês. Nos anos 90 a produção de álcool era elevada e com a queda de
venda de veículos a álcool, o governo decretou uma lei em 1993, que fixou em 22%
a mistura do álcool anidro à gasolina, o que compensou em parte a queda do
consumo de álcool hidratado.
14. 13
PRODUÇÃO DE ÁLCOOL ANIDRO E HIDRATADO 70/71 a 00/01
14000
10.768
10.474
10.557
12000
9.978
9.720
9.825
9.631
9.470
9.634
9.474
8.774
8.612
8.338
8.236
10000
Álcool (1000 m3)
6.934
7.150
8000
5.990
5.392
5.692
5.689
3.550
4.600
6000
1.413
2.104
6.134
2.274
3.208
3.040
2.867
2.712
2.523
2.750
4000
2.469
2.168
1.602
2.102
2.096
4.941
2.216
1.984
1.983
1.726
1.777
1.341
1.309
252
389
233
300
306
390
217
2000
671
323
395
385
364
409
293
260
292
223
0
1970/71
1971/72
1972/73
1973/74
1974/75
1975/76
1976/77
1977/78
1978/79
1979/80
1980/81
1981/82
1982/83
1983/84
1984/85
1985/86
1986/87
1987/88
1988/89
1989/90
1990/91
1991/92
1992/93
1993/94
1994/95
1995/96
1996/97
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
Safras
Álcool Anidro Álcool Hidratado
Gráfico II.2 - Evolução da produção de álcool anidro e hidratado no Brasil entre as
safras de 70/71 à 00/01.
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.
A produção de álcool hidratado nacional representa ainda cerca de 25% do total
de cana esmagada, que se convertida em açúcar, fariam o preço internacional do
açúcar ter uma brusca queda. O preço internacional do açúcar sofreu muita pressão
nos últimos 5 anos, em virtude da maior exportação brasileira de açúcar.
Recentemente (1999), o excesso de produção de álcool trouxe uma brusca queda
nos preços, pois com a desregulamentação do setor, o Estado não mais entrevêem
na determinação de preços e quantidades a ser produzida. No Gráfico II.2 são
apresentadas a evolução da produção brasileira de automóveis a álcool, entre os
anos 1979 e 1999, bem como a relação percentual entre a produção de automóveis
a álcool e a produção de automóveis a álcool mais a gasolina. Observa-se pela
figura, que a produção de veículos a álcool atingiu em 1986 o seu maior valor com
619,9 mil veículos, o que representou 76,4% da produção nacional de automóveis.
Atualmente a produção de veículos a álcool alcançou em 1999 a marca de 10,2 mil
veículos, em função do estímulo dos baixos preços do álcool, o que representou
cerca de 0,9% da produção.
15. 14
PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS À ÁLCOOL
900 100%
76,4%
75,9%
90%
75,1%
800
74,0%
Automóveis à álcool (mil veículos)
% (Álcool/Álcool+Gasolina)
80%
493,0 63,1%
619,9
700
58,9%
573,4
549,6
70%
600
496,7
34,5%
47,4%
60%
500
25,6%
388,3
227,7 20,9%
120,9 20,6%
50%
345,6
163,1 20,1%
128,9 18,3%
214,4
400
9,7%
40%
71,5 10,8%
239,3
300
30%
32,6 2,5%
0,4%
120,2
10,2 0,9%
200
6,4 0,4%
1,1 0,1%
0,1%
20%
100
3,3
10%
1,2
0 0%
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
Anos
Veículos a álcool % Álcool/Gasolina+Álcool
Gráfico II.3 – Evolução da produção de automóveis à álcool e a relação percentual
entre veículos à álcool e veículos à gasolina mais à álcool.
Fonte: ANFAVEA – Anuário Estatístico da Indústria Brasileira 2000 e Anuário da
Agencia Nacional de Petróleo 2001.
Segundo a análise de Pinazza e Alimandro (2001), uma combinação de alta de
preços nos derivados de petróleo com excesso de produção interna de álcool pode
fazer com que a estrutura de preços relativos favoreça o consumo de álcool
carburante. Sendo o que aconteceu de julho a dezembro de 1999, quando houve um
pequeno aumento de 400 para 1700 unidades nas vendas de carro a álcool, um
indício de que, se o preço da gasolina no mercado interno se mantiver em ascensão,
a retomada das vendas de carros movidos a álcool hidratado será uma hipótese
plausível. A elevação do consumo interno criaria condições para a implantação do
livre mercado. Segundo os mesmos autores, quando o preço do álcool representar
cerca de 75% do valor da gasolina, cria uma indiferença no consumidor em relação
ao seu consumo.
Entre os anos 1975 1990, enquanto a produção cana e de álcool tiveram um
crescimento significativo, a produção de açúcar teve incrementos de produção bem
menores (Gráfico II.3). A partir de 1995/96 houve um surpreendente aumento de
produção de açúcar, cuja comercialização foi voltada principalmente ao mercado
externo. Segundo Pinazza e Alimandro (2001), nesse período a participação do
açúcar brasileiro no mercado internacional saltou de 8% para 30% do total
comercializado. Esse brusco crescimento da exportação de açúcar se deu num
período de queda de preços no mercado internacional. A crescente oferta brasileira
afetou a cotação externa da commodity.
16. 15
PRODUÇÃO DE AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01
25.000
19.380
17.961
20.000
15.700
Açúcar (1000 TM)
14.845
13.467
13.235
11.696
15.000
9.326
8.849
9.249
9.086
8.843
8.157
8.665
8.306
8.070
7.983
7.912
7.819
7.844
7.301
7.365
7.476
6.980
6.851
6.673
10.000
6.680
6.017
5.926
5.081
5.070
5.000
0
1970/71
1972/73
1974/75
1976/77
1978/79
1980/81
1982/83
1984/85
1986/87
1988/89
1990/91
1992/93
1994/95
1996/97
1998/99
2000/01
Safras
Gráfico II.4 - Evolução da produção de açúcar no Brasil entre as safras 70/71 à
00/01
Fonte: Datagro 2000, número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.
No Gráfico II.4 é apresentado o percentual de conversão em açúcar do total de
cana colhida no Brasil entre as safras 70/71 a 00/01. Observa-se pela figura, que na
década de 70 o percentual de cana usada para produzir açúcar era maior que 80%,
passando de 30 a 35% entre os anos de 85 e 95 e subindo a mais de 43% a partir
de 1998, sinalizando a opção do produtor pelo açúcar que estava com seus preços
mais favoráveis a comercialização que o álcool.
17. 16
% DE CANA CONVERTIDA EM AÇÚCAR DE 71/72 A 00/01
100%
86%
87%
86%
86%
83%
83%
82%
90%
76%
Porcentagem de açúcar
80%
63%
70%
54%
55%
53%
60%
46%
45%
47%
43%
40%
38%
36%
36%
50%
36%
35%
33%
31%
32%
29%
29%
29%
28%
27%
40%
27%
30%
20%
10%
0%
1970/71
1972/73
1974/75
1976/77
1978/79
1980/81
1982/83
1984/85
1986/87
1988/89
1990/91
1992/93
1994/95
1996/97
1998/99
2000/01
Safras
Gráfico II.5 - Percentagem de cana convertida em açúcar das safras 70/71 à 00/01.
Fonte: Datagro 2000 número 24, citado no http://www.udop.com.br/estatística.
3 – O Setor Sucroalcooleiro no Brasil e sua Relação com o Estado
O Sistema Agroindustrial da cana-de-açúcar teve seu desenvolvimento
histórico, atrelado à participação do Estado na definição de políticas agrícolas e
industriais e de grupos econômicos atuando junto ao Estado, buscando acumular
privilégios ou melhorar sua posição em relação aos concorrentes. Dessa forma, o
Estado participou do setor como parceiro na regulação ou na atuação em diferentes
graus.
Existe uma relação direta entre a evolução histórica e os condicionantes
culturais de uma sociedade. Esta formação enseja uma determinada relação entre o
Estado e o desenvolvimento econômico de uma nação. Na realidade, o conceito de
Estado é uma convenção acordada pela população, organizada segundo suas
formas de representação, que elege procedimentos e rotinas que visam atingir um
determinado nível de bem-estar (BELIK et al. 1998).
Durante os últimos 70 anos o Sistema Agroindustrial sucroalcooleiro brasileiro
é marcado pela intervenção do Estado e em virtude dessa mediação, o setor sofreu
transformações no padrão tecnológico e na distribuição espacial desta cadeia
agroindustrial. A estrutura produtiva influenciada pela ação do Estado permanece
muito diferenciada entre as regiões Nordeste e Centro-Sul do país. Entretanto a
partir dos anos 90, houve uma inversão nessa tendência, diminuindo rapidamente
essa interferência do Estado no setor, com a desregulamentação e com a saída do
governo na atividade de financiamentos, subsídios, estímulo e controle da produção
e comercialização.
O setor sucroalcooleiro historicamente apresentou problemas de auto-
regulação. Assim o Estado e seu papel mediador foram fundamentais para