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Educação e emprego
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 19 de novembro de 2012
Realizada em São Paulo na semana passada, a Olimpíada do Conhecimento do Senai reafirmou
a sua condição de maior e mais importante evento da educação profissionalizante do Brasil.
Durante cinco dias, 700 alunos disputaram provas em 54 ocupações profissionais.
Simultaneamente, competiram no torneio WorldSkills Americas, com a participação de 24
países das Américas e do Caribe. Ano que vem, os nossos campeões participarão da etapa
global dessa “Copa do Mundo” da educação profissional, em Leipzig, na Alemanha.
Há razões para nos orgulharmos de nossos estudantes. Em 2011, em Londres, durante a
mesma competição internacional, eles conquistaram seis medalhas de ouro, três de prata,
duas de bronze e sete certificados de excelência. Classificaram-se em segundo lugar,
superando concorrentes de países desenvolvidos como Japão, Suíça e Cingapura.
Por trás desse bom desempenho está a presença da indústria nacional, responsável, em última
instância, pela qualidade do ensino oferecido pelo Senai. É, porém, um esforço isolado -
praticamente uma ilha de excelência, que não encontra a necessária sinergia com a política
educacional brasileira nem apoio para disseminar-se e, assim, alcançar todos aqueles que
poderiam conquistar oportunidades de melhores empregos e salários por meio de um diploma
técnico.
Os equívocos começam já na definição da matriz educacional que privilegia e incentiva o
bacharelado. Apenas 6,6% dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos optam pelo ensino
profissionalizante. Na média dos 34 países da OCDE, são 42%, com picos de 55% no Japão, 53%
na Alemanha e 40% na França e na Coreia do Sul.
O mais preocupante é que o sonho da universidade se frustra para a grande maioria -apenas
14% dos nossos jovens chegam aos cursos superiores, contra a média de 40% nos países da
OCDE. Feitas as contas, constata-se que 86% deles, cerca de 20 milhões, ficam fora das
universidades e não conquistaram uma formação profissional. São condenados a empregos de
segunda classe, a subempregos.
Diante do risco iminente de um “apagão” de mão de obra no país, fatal para a competitividade
das empresas, o Brasil se defronta com o desafio de capacitar, até 2015, 7,2 milhões de
trabalhadores com cursos técnicos e de média qualificação para atuar em 177 ocupações,
segundo alerta do Mapa do Emprego Industrial, produzido pelo próprio Senai.
O governo parece não ter tempo nem interesse em priorizar essa questão. Ignora que as
nações que superaram a pobreza e se tornaram economicamente fortes, socialmente mais
justas e soberanas são exatamente as que investiram com seriedade e consequência na
educação de sua juventude.

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  • 1. Educação e emprego Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 19 de novembro de 2012 Realizada em São Paulo na semana passada, a Olimpíada do Conhecimento do Senai reafirmou a sua condição de maior e mais importante evento da educação profissionalizante do Brasil. Durante cinco dias, 700 alunos disputaram provas em 54 ocupações profissionais. Simultaneamente, competiram no torneio WorldSkills Americas, com a participação de 24 países das Américas e do Caribe. Ano que vem, os nossos campeões participarão da etapa global dessa “Copa do Mundo” da educação profissional, em Leipzig, na Alemanha. Há razões para nos orgulharmos de nossos estudantes. Em 2011, em Londres, durante a mesma competição internacional, eles conquistaram seis medalhas de ouro, três de prata, duas de bronze e sete certificados de excelência. Classificaram-se em segundo lugar, superando concorrentes de países desenvolvidos como Japão, Suíça e Cingapura. Por trás desse bom desempenho está a presença da indústria nacional, responsável, em última instância, pela qualidade do ensino oferecido pelo Senai. É, porém, um esforço isolado - praticamente uma ilha de excelência, que não encontra a necessária sinergia com a política educacional brasileira nem apoio para disseminar-se e, assim, alcançar todos aqueles que poderiam conquistar oportunidades de melhores empregos e salários por meio de um diploma técnico. Os equívocos começam já na definição da matriz educacional que privilegia e incentiva o bacharelado. Apenas 6,6% dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos optam pelo ensino profissionalizante. Na média dos 34 países da OCDE, são 42%, com picos de 55% no Japão, 53% na Alemanha e 40% na França e na Coreia do Sul. O mais preocupante é que o sonho da universidade se frustra para a grande maioria -apenas 14% dos nossos jovens chegam aos cursos superiores, contra a média de 40% nos países da OCDE. Feitas as contas, constata-se que 86% deles, cerca de 20 milhões, ficam fora das universidades e não conquistaram uma formação profissional. São condenados a empregos de segunda classe, a subempregos. Diante do risco iminente de um “apagão” de mão de obra no país, fatal para a competitividade das empresas, o Brasil se defronta com o desafio de capacitar, até 2015, 7,2 milhões de trabalhadores com cursos técnicos e de média qualificação para atuar em 177 ocupações, segundo alerta do Mapa do Emprego Industrial, produzido pelo próprio Senai. O governo parece não ter tempo nem interesse em priorizar essa questão. Ignora que as nações que superaram a pobreza e se tornaram economicamente fortes, socialmente mais justas e soberanas são exatamente as que investiram com seriedade e consequência na educação de sua juventude.