Este documento fornece instruções para uma caminhada espiritual durante o Advento baseada nas Antífonas do Magnificat. Apresenta quatro antífonas que serão meditadas ao longo das semanas, com passagens bíblicas e citações do Magistério que iluminam cada uma. O objetivo é preparar os corações para a vinda do Senhor através da oração e reflexão sobre os títulos messiânicos da Sabedoria, Raiz de Jessé, Chave de Davi e Rei das Nações.
1. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro
"Com(o) Maria, para a Vida e pela Vida"
CAMINHADA PARA O ADVENTO
Et venient thesauri cunctarum gentium (Ag 2, 7)
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0. NOTA INTRODUTÓRIA
Desde uma antiga tradição que remonta ao século VII a Igreja optou por sintetizar,
nas Antífonas do Magnificat dos dias que antecedem o Natal, os elementos
fundamentais da Cristologia já presentes no Antigo Testamento e que anunciavam a
vinda de Cristo. São estas Antífonas do Ó que servirão de base à nossa reflexão
reflexão.
Apenas escolheremos quatro das sete, pela limitação do tempo, embora a todos
desafiemos a tomar estas Antífonas como parte da sua oração e meditação pessoal.
Como é hábito, as costumadas bases de trabalho são a Sagrada Escritura,
particularmente os excertos que fazem referência à invocação que meditamos, bem
como um texto do Magistério que medite igualmente sobre a invocação abordada.
2. O Sapientia
DOMINGO I
Passo Bíblico:
Sb 8, 1-4
[A Sabedoria] estende-se com vigor de uma extremidade à outra e tudo governa com
bondade. 2Eu a amei e busquei desde a minha juventude, procurei tomá-la por esposa
e enamorei-me da sua formosura. 3A sua intimidade com Deus pro clama a nobreza
da sua origem, pois o Senhor do universo a amou. 4É que ela está iniciada na ciência
de Deus e é ela quem escolhe as suas obras.
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Da Audiência Geral do Papa Emérito Bento XVI de 22 de Outubro de 2008:
O Apóstolo [São Paulo] contempla fascinado o segredo escondido do CrucificadoRessuscitado e, através dos sofrimentos experimentados por Cristo na sua
humanidade (dimensão terrena), remonta àquela existência eterna em que Ele é um
só com o Pai (dimensão pré-temporal): "Quando chegou a plenitude dos tempos ele
escreve Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para
resgatar aqueles que estavam sob o jugo da Lei e para que recebêssemos a adopção de
filhos" (Gl 4, 4-5). Estas duas dimensões, a preexistência eterna no Pai e a descida do
Senhor na encarnação, anunciam-se já no Antigo Testamento, na figura da Sabedoria.
Encontramos nos Livros sapienciais do Antigo Testamento alguns textos que exaltam
o papel da Sabedoria preexistente à criação do mundo. É neste sentido que devem ser
lidos trechos como este, do Salmo 90: "Antes que nascessem as montanhas, e se
transformassem a terra e o universo, desde os séculos dos séculos Vós sois, ó Deus"
(v. 2); ou trechos como aquele que fala da Sabedoria criadora. "O Senhor criou-me
como primícias das suas obras, desde o princípio, antes que criasse qualquer coisa.
Desde a eternidade fui constituída, desde as origens, antes dos primórdios da terra"
(Pr 8, 22-23). É sugestivo também o elogio da Sabedoria, contido no livro homónimo:
"A Sabedoria estende o seu vigor de uma extremidade à outra e governa o universo
com suavidade" (Sb 8, 1).
Reflexão:
A Sabedoria recorda-nos que o Verbo sai da boca do Pai para se tornar carne no meio
de nós, no seio da Virgem Maria. Como nas palavras do Credo, este título da
Sabedoria apresenta-nos o Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os
séculos: Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não
criado, consubstancial ao Pai. Este estende e manifesta todo o Amor que o Pai tem
pela Humanidade e, por isso, como diz a Sagrada Escritura, o seu deleite é estar com
os Filhos dos Homens.
Que a Sabedoria nos ensine a ver o dedo de Deus na sua obra e nos revele o “caminho
da prudência”.
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3. DOMINGO II
O Radix Jesse
Passo Bíblico:
Is 11, 10-16
Naquele dia, a raiz de Jessé, estandarte dos povos, será procurada pelas nações e será
gloriosa a sua morada. Naquele dia, o Senhor levantará de novo a sua mão para resgatar
o resto do seu povo, os sobreviventes da Assíria e do Egipto, dos territórios de Patros, de
Cuche, de Elam, de Chinear, de Hamat e das ilhas do mar. Levantará o seu estandarte
diante das nações, para juntar os exilados de Israel e reunir os dispersos de Judá dos
quatro cantos da terra. Cessará a inveja de Efraim e terminarão os rancores de Judá:
Efraim não mais invejará Judá, nem Judá terá rancor contra Efraim. Atacarão, pelo
ocidente, os filisteus, e, juntos, saquearão os povos a oriente. Conquistarão os povos da
Idumeia e Moab, e os de Amon prestar-lhes-ão obediência. O Senhor secará o braço de
mar do Egipto, e levantará a mão contra o Eufrates; com o seu sopro ardente ferirá os
seus sete canais, que se passarão a pé enxuto. E haverá uma estrada para o resto do seu
povo que escapar da Assíria, tal como existiu para Israel, no dia em que subiu da terra do
Egipto.
Da Audiência Geral de 19 de Dezembro de 2001 do Beato João Paulo II, Papa:
Como o antigo Israel, a Comunidade eclesial faz-se voz dos homens e das mulheres de
todos os tempos para cantar o advento do Salvador. Reza de cada vez: "Ó Sabedoria que
sai da boca do Altíssimo", "ó Guia da casa de Israel", "ó Raiz de Jessé", "ó Chave de David",
ó Astro nascente", "ó Sol de justiça", "ó Rei das nações, Emanuel, Deus-connosco".
Em cada uma destas apaixonadas invocações, carregadas de referências bíblicas,
sentimos o desejo ardente que os crentes sentem de ver realizadas as suas expectativas
de paz. Por isso imploram o dom do nascimento do Salvador prometido. Mas, ao
mesmo tempo, sentem com clareza que isso requer um empenho concreto em
predispor-Lhe uma morada digna, não só na sua alma, mas também no ambiente que os
circunda. Numa palavra, invocar a vinda d'Aquele que traz a paz ao mundo requer que
nos abramos docilmente à verdade libertadora e à força renovadora do Evangelho.
Reflexão:
Isaías é o profeta que apresenta o servo sofredor como Messias, sinal de salvação para os povos.
O ramo que brota da raiz de Jessé é Maria e o rebento desse ramo o Salvador, Jesus Cristo. Este
rebento nasce da vontade exclusiva de Deus, floresceu em Maria pela graça do Espírito Santo e
jamais conhecerá a corrupção. Concluindo, o “Vinde” proclama a soberania do Rei dos reis.
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4. DOMINGO III
O Clavis David
Passo Bíblico:
Is 22, 15-26
Isto diz o Senhor Deus do universo: «Vai ter com Chebna, esse tal administrador do
palácio real, que lavra para si próprio, lá em cima, um sepulcro e escava na pedra uma
morada, e diz-lhe: ‘Que estás aqui a fazer, que parentes tens tu, para estares a lavrar
um sepulcro? Vê bem, homem forte! O Senhor vai arremessar-te de uma só vez, e
arrojar-te com violência, far-te-á girar e dar voltas como um arco numa planície
imensa. Ali morrerás, ali ficarão os teus coches de gala, ó vergonha da corte do teu
senhor! Vou depor-te do teu cargo, destituir-te do teu posto. Naquele dia, chamarei o
meu servo Eliaquim, filho de Hilquias. Vesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com a
tua faixa, porei nas suas mãos o teu poder; será como pai para os habitantes de
Jerusalém, para o povo de Judá. Porei sobre os seus ombros a chave do palácio de
David: o que ele abrir ninguém fechará, o que ele fechar ninguém abrirá. Fixá-lo-ei
como prego em lugar firme, será como um trono de glória para a casa de seu pai.’»
Mas penduram-se nele todos os nobres da casa de seu pai, filhos e netos, tal como se
penduram num prego os utensílios de cozinha, desde os copos aos jarros. Naquele dia
– oráculo do Senhor do universo – o prego fixado em lugar firme cederá, a carga que
dele pendia soltar-se-á, cairá e será feita em pedaços. O Senhor assim o declarou.
Da Homília do Papa Bento XVI de 29 de Junho de 2012 na Solenidade dos
Santos Pedro e Paulo:
Detenhamo-nos agora no símbolo das chaves, de que nos fala o Evangelho. Ecoa nele
o oráculo do profeta Isaías a Eliaquim, de quem se diz: «Porei sobre os seus ombros a
chave do palácio de David; o que ele abrir, ninguém fechará; o que ele fechar,
ninguém abrirá» (Is 22, 22). A chave representa a autoridade sobre a casa de David.
Entretanto, no Evangelho, há outra palavra de Jesus, mas dirigida aos escribas e
fariseus, censurando-os por terem fechado aos homens o Reino dos Céus (cf. Mt 23,
13). Também este dito nos ajuda a compreender a promessa feita a Pedro: como fiel
administrador da mensagem de Cristo, compete-lhe abrir a porta do Reino dos Céus e
decidir se alguém será aí acolhido ou rejeitado (cf. Ap 3, 7). As duas imagens – a das
chaves e a de ligar e desligar – possuem significado semelhante e reforçam-se
mutuamente. A expressão «ligar e desligar» pertencia à linguagem rabínica,
aplicando-se tanto no contexto das decisões doutrinais como no do poder disciplinar,
ou seja, a faculdade de infligir ou levantar a excomunhão. O paralelismo «na terra (...)
nos Céus» assegura que as decisões de Pedro, no exercício desta sua função eclesial,
têm valor também diante de Deus.
Reflexão:
Esta antífona retoma o símbolo do poder das chaves. Quem tem as chaves tem o
poder de abrir e fechar. Jesus recebe este poder do Pai e simbolicamente permite que
a Igreja também o tenha (Mt 16,19; Mt 18,18; Jo 20,23). Quem se vê diante da porta
aberta pode encontrar a luz e seguir na claridade da paz. O Messias liberta os homens
ao abrir e fechar a porta do Reino do Céu.
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5. O Rex gentium
DOMINGO IV
Passo Bíblico:
Ag 2, 1-9
No segundo ano do rei Dario, no vigésimo primeiro dia do sétimo mês, a palavra do Senhor
fez-se ouvir por meio do profeta Ageu, nestes termos: «Fala ao governador de Judá,
Zorobabel, filho de Salatiel, ao Sumo Sacerdote Josué, filho de Joçadac, e ao resto do povo:
Quem é que resta entre vós que tenha visto este templo na sua glória passada? E
como o vedes agora? Não vos parece que não é nada? Mas agora coragem, Zorobabel!
Coragem, Josué, Sumo Sacerdote, filho de Joçadac! Coragem, povo todo do país! Mãos
à obra! Pois Eu estou convosco – oráculo do Senhor do universo. Segundo a aliança
que fiz convosco quando saístes do Egipto, o meu espírito permanece no meio de vós.
Não temais. Porque assim fala o Senhor do universo: Ainda um pouco de tempo e Eu
abalarei o céu e a terra, os mares e os continentes. Sacudirei todas as nações para que
afluam os tesouros de todos os povos e encherei de glória este templo – diz o Senhor
do universo. A prata e o ouro pertencem-me – diz o Senhor do universo. O esplendor
futuro deste templo será maior que o primeiro – oráculo do Senhor do universo – e
neste lugar Eu darei a paz» – diz o Senhor do universo.
Da Audiência Geral de 22 de Dezembro de 1982 do Beato João Paulo II, Papa:
Não podemos portanto transformar e degradar o Natal numa festa de inútil
desperdício, numa manifestação assinalada pelo fácil consumismo: o Natal é a festa
da Humildade, da Pobreza, do Despojamento, do Aviltamento do Filho de Deus, que
vem para nos dar o seu infinito Amor; deve portanto ser celebrada com autêntico
espírito de partilha, de comparticipação com os irmãos, que têm necessidade da
nossa ajuda afectuosa. Deve ser uma etapa fundamental para a meditação sobre o
nosso comportamento para com o "Deus que vem"; e este Deus que vem podemos
encontrá-lo numa criança indefesa que chora; num doente que sente faltarem-lhe
inexoravelmente as forças do próprio corpo; num ancião, que depois de ter
trabalhado durante toda a vida, se encontra de facto marginalizado e tolerado na
nossa sociedade moderna, baseada sobre a produtividade e sobre o êxito.
Nas Vésperas de hoje a Igreja eleva a Cristo esta esplêndida oração: Ó Cristo, Rei das
nações, esperado e desejado durante séculos pela humanidade ferida e dividida pelo
pecado; tu que és a pedra angular sobre a qual a humanidade pode reconstruir-se e
receber uma definitiva e iluminadora guia para o seu caminho na história; vós que
uniste, mediante a tua doação, sacrificai ao Pai, os povos divididos; vem e salva o
homem, miserável e grande, feito por ti "com o pó da terra" e que traz em si a tua
imagem e semelhança!
Reflexão:
Esta antífona canta o Filho de Deus com a pedra angular, a pedra principal de
qualquer construção. No Antigo Testamento, o Senhor é chamado como sendo a
Rocha. O rei das nações vai restituir ao homem pecador a imagem e semelhança de
Deus. Cristo, pela redenção, congregará na unidade todos os filhos dispersos e assim
haverá um só rebanho e um só pastor. Ela também nos recorda que viemos do “pó e
para o pó voltaremos”.
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