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1
Os desafios da comunicação mediada pela tecnologia
Por Elizabeth Batista
Resumo:
O presente ensaio tem como objetivo apresentar as questões afetas à comunicação mediada pela tecnologia, com
vistas a dar clareza aos debates sobre as diferenças existentes entre a comunicação face a face e a comunicação
online, buscando sistematizar as reais dificuldades relacionais que são afetas ao uso da tecnologia ou que na
verdade se relacionam ao próprio processo de comunicação que, desde outrora, a despeito do meio e das
distâncias envolvidas, são complexas e desafiadoras.
Palavras-chave: Comunicação face a face, comunicação online ,co-presença, representação do eu, CMC.
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da convivência humana em sociedade, que o processo de comunicação é
percebido como uma necessidade fundamental. E esta necessidade de relacionar-se com o outro tem
impulsionado o empreendimento em pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias que auxiliam no
aprimoramento deste processo. Muito se avançou desde as pinturas rupestres, passando pela criação
dos diversos símbolos e idiomas até a criação da imprensa, telefone e mais recentemente da Rede
Mundial de Computadores.
A cada avanço nos meios e comunicação, que vieram alargando o potencial comunicacional do
homem à medida do desenvolvimento tecnológico, novas ondas de resistências foram surgindo,
considerando o receio ao desconhecido, característica tipicamente humana. Hoje, com a comunicação
sendo expandida de forma global por meio da Internet, é hora de novamente enfrentar os medos e
receios destes novos meios e nos apropriarmos dos benefícios provenientes deste avanço e nos
protegermos das inúmeras mazelas que a comunicação em massa nos insere.
Este texto visa debater alguns aspectos relativos à comunicação mediada pelo uso de
computadores, de modo a identificar quais são os pontos comuns e no que se diferencia de uma
comunicação presencial, de modo a contribuir para uma análise mais pragmática acerca dos desafios
relacionais que enfrentamos em nosso dia a dia, seja em um contato face a face ou mediado pela
tecnologia.
Um argumento que denota o movimento de resistência ao novo é o de que a comunicação
mediada pelos computadores isola e promove uma comunicação mais superficial e sujeita a equívocos.
A sequência deste texto é dedicada a apresentar evidências de que a comunicação mediada pela
2
tecnologia tem potencial e desafios semelhantes à comunicação face a face, podendo gerar interações
de alta qualidade, a depender dos meios e das estratégias de interação que são adotados.
1. COMUNICAÇÃO MEDIADA PELA TECNOLOGIA
A comunicação face a face é considerada por muitos estudiosos como a forma de comunicação
capaz de gerar interações mais verdadeiras e efetivas. Como afirmou o sociólogo G. Simmel (1950), o
olhar mútuo é um acontecimento social único, através do qual se estabeleceria a conexão entre dois
indivíduos, produzindo momentos de intimidade verdadeiros. Boden e Molotch (1994) trazem o
conceito de “compulsão para a proximidade”, afirmando que a co-presença facilitaria o acesso à parte
do corpo que nunca mente, os olhos, referindo-se a eles como “janelas da alma”. Consideram que a
comunicação eletrônica é menos fiável e mais sujeita a interpretações ambíguas do que na
comunicação presencial.
Observando-se o recorte temporal destes estudos, compreende-se o ponto de vista precavido
destes autores sobre a comunicação mediada pelos computadores, dada a limitação de acesso a
recursos tecnológicos que já nos dias atuais é possível ter. No entanto, já neste mesmo período pode-se
perceber a existência de estudos que já apontavam para o potencial qualitativo da comunicação
mediada, como o estudo de Daft e Lengel (1984) sobre a Riqueza dos Media, onde sinalizam a
existência de media ricos que facilitariam o feedback, a comunicação de múltiplas pistas, permitindo a
emissão de mensagens personalizadas, resultando numa interação não ambígua.
Desde então muitos estudos buscaram compreender e explicar como acontece a comunicação
mediada pela tecnologia, em especial, a comunicação que acontece no espaço virtual das redes de
computadores, nomeadamente Ciberespaço. E, conforme afirma Castells (1999), as redes interativas,
promovidas pelos computadores não param de crescer e desenvolvem, por consequência, novas formas
e novos canais de comunicação, regulando a vida, mas também sendo regulados por elas. Estamos
vivendo num mundo cada vez mais global e conectado que se desenrola em um ciberespaço em
constante mutação (Lévy, 1999).
Um desafio trazido pela comunicação mediada pela tecnologia é a velocidade com que ela
acontece e a possibilidade de acontecer simultaneamente com vários interlocutores, geograficamente
distantes uns dos outros. É preciso, por isso, compreender as novas regras sociais específicas nas
interações neste espaço. Os mesmos argumentos que são utilizados para afirmar que a comunicação no
ciberespaço é mais frívola e superficial, portanto, menos intensa e isoladora, também podem ser
utilizados em sua defesa, afirmando seu potencial de socialização e interatividade.
3
Do ponto de vista antropológico, como afirma Silva (1999), a Internet seria:
Este novo espaço com áreas de privacidade – um mundo virtual ou mundo
mediatizado – é um suporte aos processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais
efetuam a transmutação da rede de tecnologia eletrônica e telecomunicações em
espaço social povoado por seres que (re)constroem as suas identidades e os seus laços
sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma teia de novas sociabilidades
que suscitam novos valores. Estes novos valores, por sua vez, reforçam as novas
sociabilidades. Esta dialética é geradora de novas práticas culturais.
Steve Harnad (1991, p.39), afirma que esta é uma era marcada por mudanças profundas no modo
como nos comunicamos e nos relacionamos. A este fenômeno ele denomina “quarta revolução” nos
meios de comunicação e cognição humana, que se equipara em força com as revoluções que lhe
antecederam, a saber: surgimento da linguagem oral, a invenção da escrita e criação do texto impresso.
Segundo Lapadat (2007), a tecnologia digital, traz a superação da divisão histórica entre oralidade e
escrita, por conta da capacidade de a Comunicação Mediada por Computadores transcender a distância
geográfica, democratizar o acesso a informação e de alterar restrições de tempo e materialidade.
Apesar do potencial revolucionário das novas tecnologias em transformar a comunicação humana
(Warschauer e Grimes, 2007, p. 1), é preciso mais do que aderir ao seu uso para ter sucesso em sua
experiência. É preciso se apropriar da sua história e também conhecer os conceitos teóricos associados
a ela, em especial no que se refere a sua capacidade de viabilizar interações entre sujeitos por meio do
texto escrito, sobretudo em comunicações assíncronas.
A comunicação mediada por computador (CMC) surge a partir do desenvolvimento do
ARPANET, um sistema de rede pelo qual os pesquisadores da Advanced Research Projects Agency,
conectados a um computador e usando um servidor local, se comunicavam usando um protótipo do
email nos anos 60. Já nessa época, essa ferramenta possibilitava a troca de informações escritas, de
maneira rápida, entre um grande número de pessoas. A partir daí a comunicação por texto, som e
imagem na rede vem sendo transformada à medida que novas tecnologias surgem. Na literatura sobre
CMC encontramos dois gêneros: a comunicação síncrona e assíncrona. No primeiro grupo, temos os
chats (mensagens instantâneas em tempo real). No segundo grupo temos os e-mails e fóruns, por
exemplo.
Dois conceitos importantes para compreender o processo de comunicação e, em especial, a CMC
é o de “representação do eu” e “co-presença mediada”. Goffman (1959/2009, p.12), afirma que no dia
a dia a pessoas vivem um “jogo” no qual as impressões formadas de cada um, resultam da habilidade
de gerenciamento de dois tipos de expressividade na forma pela qual se apresenta aos outros:
expressão transmitida, aquilo se revela deliberadamente sobre si, por meio dos símbolos verbais
4
durante a interação; expressão emitida – aquilo que é revelado inconscientemente no comportamento
não-verbal durante a interação. Esta última pode validar a comunicação verbal. De acordo com o
autor, como base para essa construção, o indivíduo emprega um equipamento expressivo, padronizado,
intencional ou inconsciente, ao qual se denomina “fachada”. Assim sendo, quando a expressão
transmitida falha no apoio a expressão emitida, a apresentação é questionada pelos receptores,
deixando o emissor exposto. Este processo é conhecido como representação do eu e se refere a toda
atividade de um indivíduo que se passa na presença contínua de um grupo particular de receptores,
exercendo sobre eles influência (Goffman, 1959/2009, p. 29). Este conceito tem servido de base para
muitos estudos sobre a CMC no campo da psicologia. Todos esses estudos apresentam um objetivo
comum, que é o de buscar entendimento sobre como os sujeitos manipulam, reinventam ou revelam
aspectos de sua identidade para criação do seu eu virtual nos diferentes ambientes da rede
(Papacharissi, 2002). Desse modo, partem do princípio de que, o indivíduo ao assumir um papel que é
novo para si, e que não está estabelecido na sociedade, “provavelmente ele descobrirá a existência de
várias fachadas bem estabelecidas entre as quais tem de escolher” (Goffman, 1959/2009, p. 34).
Goffman (1963), descreve as condições de interação em contextos face a face: “as pessoas devem
sentir que estão próximas o suficiente para serem percebidas no que quer que estejam fazendo,
incluindo a sua vivência de sentir outro, e perto o suficiente para que o outro perceba que se está
fazendo isso” (p.17). A este sentimento de proximidade ele denomina co-presença, que implica a
existência de um nível de consciência mútua em um contexto compartilhado.
No entanto, a sensação de estar com outros é um fenômeno psicológico, pois um indivíduo pode
ser levado a achar que está interagindo com outros, apesar de estar fisicamente sozinho, a exemplo do
que acontece em um fórum de discussão, por exemplo, sendo esta situação enquadrada no conceito de
co-presença mediada.
O estudo da co-presença mediada colabora para a compreensão de como se torna possível na
CMC desenvolver o sentimento de pertencimento e de estar junto, mesmo em contatos assíncronos,
dispensando a presença física do interlocutor.
O uso de recursos linguísticos e tecnológicos ajudam na expressão de comportamentos verbais e
não-verbais que permitem ao emissor expressar seus sentimentos e ao receptor compreender a
mensagem, reagindo a ela, mesmo sem uma proximidade física. O estar junto no mundo virtual
adquire um caráter de subjetividade maior que na comunicação face a face, sendo as expressões
físicas, tão importantes para o relacionar-se no presencial, dispensáveis, quando da presença de
recursos linguísticos e tecnológicos que assumam esta função.
5
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O debate acerca da dicotomia qualitativa entre a comunicação face a face e a CMC, acredito,
perderá cada vez mais espaço, na medida em que a comunicação virtual se internalizará na cognição
humana. Ainda persiste o debate, pois boa parte de nós, ainda imigrantes digitais, precedemos ao
surgimento da rede mundial de computadores. No entanto, considerando que há uma geração de
nativos digitais, cuja CMC já está internalizada, chegaremos ao ponto que não questionaremos mais
sua ambiguidade e confiabilidade.
Desse modo, reforçando a ideia inicial do texto, não ignorando as particularidades da
comunicação mediada pela tecnologia, as questões que se remetem à sua ambiguidade e ao caráter
isolador perdem força e dão lugar aos debates que se remetem à complexidade do próprio processo de
comunicação humana. Processo este cuja ambiguidade, o isolamento, a proximidade, as dificuldades
relacionais e as incompreensões são passíveis de afetar qualquer tipo de comunicação, seja nos
contatos presenciais ou no mundo virtual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Boden, D., & Molotch, H. (1994). The compulsion of proximity.
Daft, R.L. & Lengel, R.H. (1984). Information richness: a new approach to managerial behavior and
organizational design. In: Cummings, L.L. & Staw, B.M. (Eds.), Research in organizational
behavior 6, (191-233). Homewood, IL: JAI Press.
Goffman, E. (1959). A representação do eu na vida cotidiana (M.C.S. Raposo, Trad.). (16). Petrópolis:
Vozes. 2009.
Goffman, E. (1963). Behavior in Public Places: Notes on the Social Organization of Gatherings. New
York: Free Press.
Harnad, Stevan (1991). Post-Gutenberg Galaxy: The Fourth Revolution in the Means of Production of
Knowledge. Public-Access Computer Systems Review 2 (1): 39 – 53
Lapadat, J. C. (2007). Discourse Devices used to EStablish Community, Increase Coherence, and
Negotiate Agreement in a Online University Course. 21(3), 59-92. Recuperado em 26 fevereiro,
2016, de http://www.ijede.ca/index.php/jde/article/view/32/29
Lévy, P. (1999). Cibercultura (C. I. Costa, Trad.). São Paulo: Editora 34 Ltda. Recuperado em 16
novembro, 2015, de http://www.moodle.ufba.br/file.php/8897/levy_cibercultura.pdf.
Papacharissi, Z. (2002). The virtual sphere: The net as a public sphere. New Media & Society, 4 (1), 5-
23
Silva, L. O. (1999), Comunicação: A Internet – a geração de um novo espaço antropológico.
Recuperado em 26 fevereiro, 2016, de http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=silva-lidia-
oliveira-Internet-espaco-antropologico.html
Simmel, G. (1950). The stranger. In The Sociology of Georg Simmel, 402-408.
6
Warschauer, M., & Grimes, D. (2007). Audience, authorship, and artifact: The emergent semiotics of
Web 2.0. Annual Review of Applied Linguistics 27, 1-23.

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Ensaio psicologia da comunicação elizabeth batista_26.02.2016

  • 1. 1 Os desafios da comunicação mediada pela tecnologia Por Elizabeth Batista Resumo: O presente ensaio tem como objetivo apresentar as questões afetas à comunicação mediada pela tecnologia, com vistas a dar clareza aos debates sobre as diferenças existentes entre a comunicação face a face e a comunicação online, buscando sistematizar as reais dificuldades relacionais que são afetas ao uso da tecnologia ou que na verdade se relacionam ao próprio processo de comunicação que, desde outrora, a despeito do meio e das distâncias envolvidas, são complexas e desafiadoras. Palavras-chave: Comunicação face a face, comunicação online ,co-presença, representação do eu, CMC. INTRODUÇÃO Desde os primórdios da convivência humana em sociedade, que o processo de comunicação é percebido como uma necessidade fundamental. E esta necessidade de relacionar-se com o outro tem impulsionado o empreendimento em pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias que auxiliam no aprimoramento deste processo. Muito se avançou desde as pinturas rupestres, passando pela criação dos diversos símbolos e idiomas até a criação da imprensa, telefone e mais recentemente da Rede Mundial de Computadores. A cada avanço nos meios e comunicação, que vieram alargando o potencial comunicacional do homem à medida do desenvolvimento tecnológico, novas ondas de resistências foram surgindo, considerando o receio ao desconhecido, característica tipicamente humana. Hoje, com a comunicação sendo expandida de forma global por meio da Internet, é hora de novamente enfrentar os medos e receios destes novos meios e nos apropriarmos dos benefícios provenientes deste avanço e nos protegermos das inúmeras mazelas que a comunicação em massa nos insere. Este texto visa debater alguns aspectos relativos à comunicação mediada pelo uso de computadores, de modo a identificar quais são os pontos comuns e no que se diferencia de uma comunicação presencial, de modo a contribuir para uma análise mais pragmática acerca dos desafios relacionais que enfrentamos em nosso dia a dia, seja em um contato face a face ou mediado pela tecnologia. Um argumento que denota o movimento de resistência ao novo é o de que a comunicação mediada pelos computadores isola e promove uma comunicação mais superficial e sujeita a equívocos. A sequência deste texto é dedicada a apresentar evidências de que a comunicação mediada pela
  • 2. 2 tecnologia tem potencial e desafios semelhantes à comunicação face a face, podendo gerar interações de alta qualidade, a depender dos meios e das estratégias de interação que são adotados. 1. COMUNICAÇÃO MEDIADA PELA TECNOLOGIA A comunicação face a face é considerada por muitos estudiosos como a forma de comunicação capaz de gerar interações mais verdadeiras e efetivas. Como afirmou o sociólogo G. Simmel (1950), o olhar mútuo é um acontecimento social único, através do qual se estabeleceria a conexão entre dois indivíduos, produzindo momentos de intimidade verdadeiros. Boden e Molotch (1994) trazem o conceito de “compulsão para a proximidade”, afirmando que a co-presença facilitaria o acesso à parte do corpo que nunca mente, os olhos, referindo-se a eles como “janelas da alma”. Consideram que a comunicação eletrônica é menos fiável e mais sujeita a interpretações ambíguas do que na comunicação presencial. Observando-se o recorte temporal destes estudos, compreende-se o ponto de vista precavido destes autores sobre a comunicação mediada pelos computadores, dada a limitação de acesso a recursos tecnológicos que já nos dias atuais é possível ter. No entanto, já neste mesmo período pode-se perceber a existência de estudos que já apontavam para o potencial qualitativo da comunicação mediada, como o estudo de Daft e Lengel (1984) sobre a Riqueza dos Media, onde sinalizam a existência de media ricos que facilitariam o feedback, a comunicação de múltiplas pistas, permitindo a emissão de mensagens personalizadas, resultando numa interação não ambígua. Desde então muitos estudos buscaram compreender e explicar como acontece a comunicação mediada pela tecnologia, em especial, a comunicação que acontece no espaço virtual das redes de computadores, nomeadamente Ciberespaço. E, conforme afirma Castells (1999), as redes interativas, promovidas pelos computadores não param de crescer e desenvolvem, por consequência, novas formas e novos canais de comunicação, regulando a vida, mas também sendo regulados por elas. Estamos vivendo num mundo cada vez mais global e conectado que se desenrola em um ciberespaço em constante mutação (Lévy, 1999). Um desafio trazido pela comunicação mediada pela tecnologia é a velocidade com que ela acontece e a possibilidade de acontecer simultaneamente com vários interlocutores, geograficamente distantes uns dos outros. É preciso, por isso, compreender as novas regras sociais específicas nas interações neste espaço. Os mesmos argumentos que são utilizados para afirmar que a comunicação no ciberespaço é mais frívola e superficial, portanto, menos intensa e isoladora, também podem ser utilizados em sua defesa, afirmando seu potencial de socialização e interatividade.
  • 3. 3 Do ponto de vista antropológico, como afirma Silva (1999), a Internet seria: Este novo espaço com áreas de privacidade – um mundo virtual ou mundo mediatizado – é um suporte aos processos cognitivos, sociais e afetivos, os quais efetuam a transmutação da rede de tecnologia eletrônica e telecomunicações em espaço social povoado por seres que (re)constroem as suas identidades e os seus laços sociais nesse novo contexto comunicacional. Geram uma teia de novas sociabilidades que suscitam novos valores. Estes novos valores, por sua vez, reforçam as novas sociabilidades. Esta dialética é geradora de novas práticas culturais. Steve Harnad (1991, p.39), afirma que esta é uma era marcada por mudanças profundas no modo como nos comunicamos e nos relacionamos. A este fenômeno ele denomina “quarta revolução” nos meios de comunicação e cognição humana, que se equipara em força com as revoluções que lhe antecederam, a saber: surgimento da linguagem oral, a invenção da escrita e criação do texto impresso. Segundo Lapadat (2007), a tecnologia digital, traz a superação da divisão histórica entre oralidade e escrita, por conta da capacidade de a Comunicação Mediada por Computadores transcender a distância geográfica, democratizar o acesso a informação e de alterar restrições de tempo e materialidade. Apesar do potencial revolucionário das novas tecnologias em transformar a comunicação humana (Warschauer e Grimes, 2007, p. 1), é preciso mais do que aderir ao seu uso para ter sucesso em sua experiência. É preciso se apropriar da sua história e também conhecer os conceitos teóricos associados a ela, em especial no que se refere a sua capacidade de viabilizar interações entre sujeitos por meio do texto escrito, sobretudo em comunicações assíncronas. A comunicação mediada por computador (CMC) surge a partir do desenvolvimento do ARPANET, um sistema de rede pelo qual os pesquisadores da Advanced Research Projects Agency, conectados a um computador e usando um servidor local, se comunicavam usando um protótipo do email nos anos 60. Já nessa época, essa ferramenta possibilitava a troca de informações escritas, de maneira rápida, entre um grande número de pessoas. A partir daí a comunicação por texto, som e imagem na rede vem sendo transformada à medida que novas tecnologias surgem. Na literatura sobre CMC encontramos dois gêneros: a comunicação síncrona e assíncrona. No primeiro grupo, temos os chats (mensagens instantâneas em tempo real). No segundo grupo temos os e-mails e fóruns, por exemplo. Dois conceitos importantes para compreender o processo de comunicação e, em especial, a CMC é o de “representação do eu” e “co-presença mediada”. Goffman (1959/2009, p.12), afirma que no dia a dia a pessoas vivem um “jogo” no qual as impressões formadas de cada um, resultam da habilidade de gerenciamento de dois tipos de expressividade na forma pela qual se apresenta aos outros: expressão transmitida, aquilo se revela deliberadamente sobre si, por meio dos símbolos verbais
  • 4. 4 durante a interação; expressão emitida – aquilo que é revelado inconscientemente no comportamento não-verbal durante a interação. Esta última pode validar a comunicação verbal. De acordo com o autor, como base para essa construção, o indivíduo emprega um equipamento expressivo, padronizado, intencional ou inconsciente, ao qual se denomina “fachada”. Assim sendo, quando a expressão transmitida falha no apoio a expressão emitida, a apresentação é questionada pelos receptores, deixando o emissor exposto. Este processo é conhecido como representação do eu e se refere a toda atividade de um indivíduo que se passa na presença contínua de um grupo particular de receptores, exercendo sobre eles influência (Goffman, 1959/2009, p. 29). Este conceito tem servido de base para muitos estudos sobre a CMC no campo da psicologia. Todos esses estudos apresentam um objetivo comum, que é o de buscar entendimento sobre como os sujeitos manipulam, reinventam ou revelam aspectos de sua identidade para criação do seu eu virtual nos diferentes ambientes da rede (Papacharissi, 2002). Desse modo, partem do princípio de que, o indivíduo ao assumir um papel que é novo para si, e que não está estabelecido na sociedade, “provavelmente ele descobrirá a existência de várias fachadas bem estabelecidas entre as quais tem de escolher” (Goffman, 1959/2009, p. 34). Goffman (1963), descreve as condições de interação em contextos face a face: “as pessoas devem sentir que estão próximas o suficiente para serem percebidas no que quer que estejam fazendo, incluindo a sua vivência de sentir outro, e perto o suficiente para que o outro perceba que se está fazendo isso” (p.17). A este sentimento de proximidade ele denomina co-presença, que implica a existência de um nível de consciência mútua em um contexto compartilhado. No entanto, a sensação de estar com outros é um fenômeno psicológico, pois um indivíduo pode ser levado a achar que está interagindo com outros, apesar de estar fisicamente sozinho, a exemplo do que acontece em um fórum de discussão, por exemplo, sendo esta situação enquadrada no conceito de co-presença mediada. O estudo da co-presença mediada colabora para a compreensão de como se torna possível na CMC desenvolver o sentimento de pertencimento e de estar junto, mesmo em contatos assíncronos, dispensando a presença física do interlocutor. O uso de recursos linguísticos e tecnológicos ajudam na expressão de comportamentos verbais e não-verbais que permitem ao emissor expressar seus sentimentos e ao receptor compreender a mensagem, reagindo a ela, mesmo sem uma proximidade física. O estar junto no mundo virtual adquire um caráter de subjetividade maior que na comunicação face a face, sendo as expressões físicas, tão importantes para o relacionar-se no presencial, dispensáveis, quando da presença de recursos linguísticos e tecnológicos que assumam esta função.
  • 5. 5 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS O debate acerca da dicotomia qualitativa entre a comunicação face a face e a CMC, acredito, perderá cada vez mais espaço, na medida em que a comunicação virtual se internalizará na cognição humana. Ainda persiste o debate, pois boa parte de nós, ainda imigrantes digitais, precedemos ao surgimento da rede mundial de computadores. No entanto, considerando que há uma geração de nativos digitais, cuja CMC já está internalizada, chegaremos ao ponto que não questionaremos mais sua ambiguidade e confiabilidade. Desse modo, reforçando a ideia inicial do texto, não ignorando as particularidades da comunicação mediada pela tecnologia, as questões que se remetem à sua ambiguidade e ao caráter isolador perdem força e dão lugar aos debates que se remetem à complexidade do próprio processo de comunicação humana. Processo este cuja ambiguidade, o isolamento, a proximidade, as dificuldades relacionais e as incompreensões são passíveis de afetar qualquer tipo de comunicação, seja nos contatos presenciais ou no mundo virtual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Boden, D., & Molotch, H. (1994). The compulsion of proximity. Daft, R.L. & Lengel, R.H. (1984). Information richness: a new approach to managerial behavior and organizational design. In: Cummings, L.L. & Staw, B.M. (Eds.), Research in organizational behavior 6, (191-233). Homewood, IL: JAI Press. Goffman, E. (1959). A representação do eu na vida cotidiana (M.C.S. Raposo, Trad.). (16). Petrópolis: Vozes. 2009. Goffman, E. (1963). Behavior in Public Places: Notes on the Social Organization of Gatherings. New York: Free Press. Harnad, Stevan (1991). Post-Gutenberg Galaxy: The Fourth Revolution in the Means of Production of Knowledge. Public-Access Computer Systems Review 2 (1): 39 – 53 Lapadat, J. C. (2007). Discourse Devices used to EStablish Community, Increase Coherence, and Negotiate Agreement in a Online University Course. 21(3), 59-92. Recuperado em 26 fevereiro, 2016, de http://www.ijede.ca/index.php/jde/article/view/32/29 Lévy, P. (1999). Cibercultura (C. I. Costa, Trad.). São Paulo: Editora 34 Ltda. Recuperado em 16 novembro, 2015, de http://www.moodle.ufba.br/file.php/8897/levy_cibercultura.pdf. Papacharissi, Z. (2002). The virtual sphere: The net as a public sphere. New Media & Society, 4 (1), 5- 23 Silva, L. O. (1999), Comunicação: A Internet – a geração de um novo espaço antropológico. Recuperado em 26 fevereiro, 2016, de http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=silva-lidia- oliveira-Internet-espaco-antropologico.html Simmel, G. (1950). The stranger. In The Sociology of Georg Simmel, 402-408.
  • 6. 6 Warschauer, M., & Grimes, D. (2007). Audience, authorship, and artifact: The emergent semiotics of Web 2.0. Annual Review of Applied Linguistics 27, 1-23.