1) O documento discute a adaptação inclusiva do livro infantil "The Black Book of Colors" para crianças cegas através de técnicas gráficas independentes do Braille.
2) O objetivo é estimular as habilidades sinestésicas necessárias à pré-alfabetização de crianças cegas por meio da tradução intersemiótica e adaptação gráfica de materiais.
3) A pesquisa utilizará o design centrado no usuário para identificar as necessidades de crianças cegas e adaptar o livro e recursos
Adaptação inclusiva do livro infantil "The Balck Book of Colors
1. ADAPTAÇÃO INCLUSIVA DO LIVRO INFANTIL
THE BLACK BOOK OF COLORS
Dominique Adam, Universidade Federal do Paraná
Email: domiadam@gmail.com
Carolina Calomeno
Email: carolcalomeno.ufpr@gmail.com
Adaptação inclusiva, literatura infantil, deficiência visual.
Utilizando técnicas de produção gráfica diferenciadas e independentes do método braile, o projeto visa estimular as
habilidades sinestésicas necessárias à pré-alfabetização - a partir de pesquisa, identificação e análise de materiais
direcionados – através da tradução intersemiótica para posterior adaptação gráfica.
Inclusive adjustment, children’s literature, visual impairment.
Using different kinds of graphic production independent of Braille process, this project aims to estimulate the necessary
synesthetic habilities for pre literacy – from research, identification and analisys of different graphic materials – through
intersemiotic translation for graphic adaptation afterwards.
Introdução pessoas, seja propondo entretenimento ou
conhecimento.
Como desenvolver projetos que possam ser
apreciados tanto por videntes como por pessoas que A literatura infantil, por sua vez, traz desde cedo a
carecem da visão? Como o design gráfico, que intenção de fazer com que os pequenos seres
trabalha com a comunicação visual pode também desbravem o mundo. O livro infantil é utilizado
trabalhar para aquilo que não pode ser visto? Essas como recurso pedagógico e pode ser um auxílio para
foram as relações encontradas entre o visual e o compor, enriquecer, constituir bagagem intelectual
invisual que motivaram a realização desta pesquisa. de cada um. Além de auxiliar na alfabetização, este
Mostrar como é necessária e possível a aliança entre tem o potencial de despertar curiosidade, auxiliar no
o design e projetos inclusivos é a proposta deste processo de captação e comparação de coisas,
projeto. objetos, pessoas, lugares, etc. Porém, estas
peculiaridades que os livros possuem são pouco
A linguagem é um tipo de ação que pode ter efeitos utilizadas em materiais gráficos destinados às
decisivos na vida do indivíduo e na vida das pessoas pessoas com deficiência visual. São necessárias
a seu redor sendo necessária para as mais variadas muitas palavras para representar uma ilustração, por
atividades: informar-se, comunicar-se, interpretar exemplo. Como descrever as cores de um arco íris
um poema, ler um livro. Através da linguagem para uma criança que possui deficiência visual? As
escrita, falada, desenhada é possível adquirir palavras servem como apoio, mas é necessário
conhecimento, entretenimento e localizar-se no proporcionar aos deficientes visuais experiências tão
mundo. Uma forma de interação entre pessoa-mundo ricas quanto aquelas vividas pelos videntes.
é dada através da leitura, dos livros extensos ou
curtos, lúdicos ou sistemáticos os quais são A partir do contexto apresentado, a pesquisa, teve
imprescindíveis para a alfabetização. Segundo como resultado, um projeto editorial focado na
Richard Bamberger (1994, p. 34), “Se conseguirmos efetividade da compreensão sensorial sendo capaz
fazer com que a criança tenha sistematicamente uma de integrar e estimular as experiências sensoriais das
experiência positiva com a linguagem, estaremos crianças cegas congênitas o mais cedo possível, bem
promovendo o seu desenvolvimento como ser como propiciar às crianças videntes a experiência de
humano.” De fato a leitura e os livros em geral têm outros sentidos. Quanto ao estímulo precoce para as
suma importância para o desenvolvimento das crianças cegas congênitas Amiralian (1997) afirma
2. ser de grande importância, pois a ausência da visão No Brasil, pesquisas demográficas datadas de 1872
altera a organização das informações sensoriais e incluem informações sobre deficiência. Estas
uma forma de minimizar o problema é estimular o pesquisas interpretavam a visão como sendo uma
cego desde bebê a participar o máximo possível do deficiência definida por um conjunto específico de
mundo externo, já que o conhecimento adquirido defeitos corporais. Cerca de 50 anos mais tarde, a
não terá o benefício da visão. pesquisa no Brasil acrescentou as categorias mentais
do Congresso de Londres, ocorrido em 1860, o qual
Dessa forma, utilizar o design e a produção gráfica posteriormente foi denominado Comissão Estatística
para produção editorial e de recursos gráficos Internacional, e um de seus temas diziam a respeito
inclusivos partindo da pesquisa, da identificação e de como levantar informações nas contagens de
da análise de materiais direcionados aos cegos – população sobre aqueles com “defeitos físicos”: a
através da tradução intersemiótica1 para posterior “cegueira” e a “surdomudez”, seguindo um modelo
adaptação gráfica é o objetivo. de classificação demográfica que seria mantido por
quase um século e meio em diversos países. Essa
Metodologia categorização se manteve, em determinada medida,
até o Censo de 1940, segundo uma tendência
A metodologia projetual utilizada será uma internacional, vinculada às dificuldades de recolher
adaptação do modelo centrado no usuário (Frascara, com precisão a informação sobre deficiência, então
2004), que abrange as etapas de definição do nomeada como espécie de demência (idiotismo,
problema, coleta de informações, definição do cretinismo e alienação mental).
problema com base na coleta, definição dos
objetivos do produto, especificações e princípios do A partir dos anos 80, o tema da deficiência ocupa
design e por fim, a proposta de design (conteúdo, mais espaço nas grandes investigações domiciliares
forma, mídia, tecnologia) unindo, para análise de brasileiras, em vista de uma crescente estruturação
dados compilados, a adaptação do modelo de dos movimentos e das organizações “de” e “para”
Twyman (1979) por Spinillo (2003), e as variáveis pessoas com deficiência. Apesar disso, o
visuais de Bertin (1967) com análise posterior dos questionário pode conter apenas perguntas que se
níveis semióticos de compreensão de imagens referem à deficiência física e/ou mental, segundo a
propostos por Goldsmith (1984) e por fim, os níveis Lei n.º 7.853/1989. Dessa forma, inúmeras
de cognição propostos por Eleanor Rosch (1978). deficiências foram generalizadas e encaixadas
apenas nesses dois grupos. Os modelos de
Deficiência visual questionários baseiam-se em características físicas e
nas dificuldades encontradas ao realizar
determinadas tarefas:
A deficiência visual é um termo que designa a falta
de visão (total ou parcial) de um indivíduo. Um
“Os dados oficiais de deficiência coletados no Censo
indivíduo é classificado como cego se necessita de
de 2000 seguiram a orientação da Organização
instruções em braile, e com visão subnormal quando
Mundial de Saúde (OMS), que em seu questionário
necessita de tipos impressos ampliados ou recursos
amostral, utiliza um critério baseado em dois
ópticos diferenciados para efetuar a leitura, como
esquemas distintos: o primeiro, formado a partir de
óculos e lupas, por exemplo. Com o auxílio dessas
um modelo centrado nas características corporais,
ferramentas, o indivíduo com baixa visão consegue
como no Censo de 1991 e pesquisas anteriores; o
distinguir apenas vultos, a claridade ou objetos a
segundo, montado sobre uma escala de gradação de
uma distância reduzida. (Instituto Benjamin
dificuldades na realização de tarefas pelo indivíduo.
Constant, 2005).
A captação de dados, assim, evolui, em sua
concepção, para uma semelhança com outros
instrumentos de pesquisas mais modernos utilizados
1 atualmente.” (Censo 2000).
Roman Jacobson define tradução intersemiótica como
tradução que “consiste na interpretação dos signos verbais
por meios de sistema de signos não visuais”, ou “de um Muitos acreditam que a visão é o sentido mais
sistema de signos para outro, por exemplo, da arte verbal importante do ser humano. Se essa afirmativa for
para a música, a dança, o cinema ou a pintura”. Tradução considerada, como os cegos convivem sem ela? É
Intersemiótica, Julio Plaza. fato de que a cegueira impõe limites, exige
adaptações, mas é justamente através dos outros
3. sentidos que o deficiente visual tem a possibilidade compensação sensorial mágica apud Gibson (1969).
de conhecer o mundo em que vive. É importante
salientar que, segundo Vygotsky (1994/1997), um O impacto da deficiência visual sobre o
sentido não substitui o outro, de forma automática. É desenvolvimento individual e psíquico diverge
necessário um processo de aprendizagem, como muito entre as pessoas. Vários fatores interferem
outro qualquer, para que através do tato, olfato e como, por exemplo, a idade em que a deficiência é
audição seja possível compreender o mundo adquirida, seu grau, a disposição da família, a
independente da visão. personalidade, etc.
A audição, por meio da linguagem, é um sentido Estudiosos, com o objetivo de minimizar o
fundamental para o deficiente visual, pois muito do problema, orientam às pessoas a estimular o
que não é visto pode ser compreendido pela deficiente visual desde bebê, participando ao
linguagem verbal. Segundo Rabêllo (2003) apud máximo do mundo externo para que haja
Nunes e Lomônaco, alguns cegos se tornam experiências independentes da visão. Aguçar os
extremamente sensíveis aos matizes de inflexão, sentidos da criança através da experiência tátil,
volume, cadência, ressonância e das várias olfativa, auditiva e gustativa auxilia a organização
intensidades dos sons, os quais passam das percepções ajudando no desenvolvimento
despercebidos pelos videntes. Isso não significa que intelectual.
o cego é um “super ouvinte”, ele apenas utiliza a
audição de uma forma mais aprofundada, possível a Como um vidente pode ensinar um cego se não
qualquer indivíduo. conhece o “mundo” dos deficientes visuais? Pais,
educadores e profissionais podem e devem perceber
O tato é uma forma mais lenta de captação da que a possibilidade de aprendizado de uma criança
informação devido ao seu caráter sequencial, pois é ou de um adulto cego é imensa, como a de qualquer
necessário que o cego tateie toda uma superfície, por ser humano. Se a visão não está presente, porque não
exemplo, para conhecê-la. Ao passo que com a visão explorar os outros sentidos? Ao utilizar materiais
captar essa mesma informação é praticamente adaptados ao desenvolvimento tátil-sinestésico,
instantâneo. Apesar disso, Batista (2005) apud abordando de forma criativa e adequada, é possível
Nunes e Lomônaco, aponta que não é apenas o tato tornar acessível e prazeroso o ensino para uma parte
que possui caráter sequencial; a música, discursos, da população que necessita de olhares especiais.
livros e textos são formas sequenciais de transmissão
de uma informação e, nem por isso, podem ser Representação gráfica
consideradas melhores ou piores do que a
informação captada pela visão. Representar graficamente alguma informação requer
certos conhecimentos de elementos visuais. Como o
O acesso à comunicação via imagem na forma tátil, ponto, a linha e a forma. Através desses atributos as
segundo Lima, Lima e Silva (2000), é ainda pouco pessoas conseguem expressar graficamente qualquer
utilizada. Eles afirmam que isso é um grande informação desejada.
prejuízo ao cego. Não acessar materiais gráficos
adaptados com desenhos e figuras em relevo acaba O ponto é o elemento mais simples da linguagem
restringindo a possibilidade de o deficiente visual visual e para a representação gráfica de qualquer
conhecer o mundo. informação o ponto é o início de tudo. Quanto maior
for o número de pontos agrupados, e mais próximos
O olfato, o paladar e o sistema sinestésico – eles estiverem, mais específica torna-se a imagem.
responsável pela orientação espacial, movimento e Quanto vistos, ou tocados (relevo) esses pontos são
equilíbrio – são de extrema importância para o capazes de dirigir o olhar e formar uma imagem,
deficiente visual. Através da junção de todos esses como pode ser observado a seguir:
sentidos e também das experiências já vividas e
constituídas pelo indivíduo, é possível desenvolver-
se através de caminhos diferentes aos de um vidente.
Porém, segundo Santin, apud Simmons (1977) todo
o conhecimento adquirido através da correlação Figura 1: Representação gráfica do ponto.
desses sentidos é intermitente e consequentemente (DONDIS, 2007)
recebido de forma fragmentada. Afinal, não existe
4. diferentes níveis de cognição relacionados a
categorias mais ou menos amplas, mais ou menos
abstratas. A pesquisadora utiliza o termo “abstrato”
para significar o grau mais conceitual, mais ideativo
de uma categoria.
Figura 2: Sequência de pontos que formam uma imagem.
(DONDIS, 2007). O nível de cognição sub-ordenado é aquele no qual a
imagem mental visual do objeto é a mais específica.
A linha, formada por uma sequência ininterrupta de Dizer “cadeira de cozinha” implica referir-se a uma
pontos, é outro elemento gráfico primitivo para a cadeira precisa, cuja configuração e uso são bem
construção de representações gráficas. É um específicos. Aquele que diz “cadeira” está se
elemento que nunca é estático. É decisivo, tem referindo exatamente a uma cadeira qualquer, a um
propósito e direção. conceito de cadeira. Refere-se, segundo Rosch,
1978, apud Duarte, a uma cadeira abstrata que
ninguém é capaz de indicar com exatidão. Uma
imagem mental conceitual é criada, porque
Figura 3: Representação gráfica da linha. conhecemos o sentido do termo em nossa língua, e
(DONDIS, 2007). sabemos que o sujeito falante esta se referindo a um
objeto que utilizamos para sentar, que possui quatro
Na linguagem das artes visuais a linha tem o poder pés, um assento e um encosto. Cadeira é um
de descrever uma forma. As três formas básicas vocábulo/objeto do nível cognitivo de base por
existentes são o quadrado, o círculo e o triângulo apresentar uma ideia, um conceito geral e abstrato.
equilátero. Esses elementos possuem características A palavra “mobiliário” situa-se no nível super-
específicas que podem atribuir uma grande ordenado. É mais abstrata, uma vez que nomeia um
quantidade de significados, ora arbitrários ora vindos grande agrupamento de objetos e, por isso, é
das percepções psicológicas e fisiologias. (DONDIS, altamente imprecisa, indicando todo e qualquer
2007) objeto utilizado como mobília em qualquer tipo de
ambiente. (DUARTE, 2011).
Este princípio utilizado por Rosch tem o objetivo de
reunir o máximo de informação com o mínimo de
esforço cognitivo (princípio da economia cognitiva);
Figura 4: As formas básicas. (DONDIS, 2007). e, com isso, a informação veiculada é eficaz porque
o mundo perceptivo chega até nós de modo
O desenho infantil estruturado e sistematizado muito mais do que de
modo arbitrário ou aleatório (Rosch, 1978, apud
Segundo Duarte, 2008 o desenho infantil pode ser Duarte).
interpretado como um resumo cognitivo dos objetos
desenhados pela criança, ou seja, um esquema Para além dos níveis de cognição, pesquisas
gráfico estabelecido pela criança como uma síntese comprovam que as crianças agrupam objetos
visual dos elementos mais relevantes da imagem a preferencialmente por suas propriedades perceptivas
ser grafada: (formais) A relação entre desenho infantil e
processos cognitivos está presente desde os
“Os esquemas gráficos são representações primórdios dos estudos referentes a essa prática
simplificadas e generalizantes dos objetos do infantil. Georges-Henri Luquet apud Duarte, entre
mundo”. “A função e a forma são as propriedades os anos de 1910 e 1930 dedicou-se ao estudo da arte
mais importantes na identificação e classificação pré-histórica e primitiva e também ao estudo do
desses objetos”. (DUARTE, 2011) desenho infantil analisando, em especial, os
desenhos de seus filhos. O pesquisador percebe o
Eleanor Rosch apud Duarte é reconhecida desenhar como “um ato de representação da
mundialmente por sua teoria sobre os níveis de realidade”. Em seu primeiro texto sobre desenho
cognição. Trabalhando sempre com objetos infantil “Sur lês debuts Du dessin enfatin” (1910), o
concretos, pertencentes ao cotidiano dos autor classifica, em um primeiro momento, o
participantes das investigações, ela formulou três desenho infantil como:
5. a) Imitação à escrita – traçar linhas no papel. deficiência visual foi realizada uma pesquisa de
b) Analogias visuais – identifica semelhança entre as campo de cunho observacional com crianças
linhas grafadas e determinados objetos. deficientes visuais (congênita e adquirida) que
c) Desenho propriamente dito – o qual a criança se fazem parte do Instituto Paranaense de Cegos,
esforça para estabelecer semelhanças entre seu localizado na cidade de Curitiba, PR. Foram
desenho e um objeto qualquer. analisados os materiais utilizados para a prática do
desenho e também a representação gráfica de figura
Após essa análise, Luquet nomeia o desenho infantil humana realizada por uma dessas crianças. Após
como “realismo lógico” em oposição ao “realismo essa observação, a representação gráfica foi
visual”, este representando o desenho de adultos. É explicada pela criança e pode-se observar que a
valido ressaltar que o autor se refere à qualidade do percepção de uma pessoa cega congênita é
desenho ser análogo a um objeto e não a concepção completamente diferente da percepção de um
de representação ideal. Sua ideia de realismo opõe- vidente e consequentemente suas representações
se às concepções de esquematismo e idealismo. gráficas.
Desta forma, afirma ser necessária a presença mental
de um “modelo interno”, isto é, a memória de um A representação visual (Figura 5) foi realizada pela
modo específico utilizado para desenhar esse ou criança de 11 anos. Em primeiro momento, pode-se
aquele conjunto de objetos (por exemplo: a figura notar a diferença da representação se comparada
humana e suas variáveis). com os modelos mentais de figura humana que
possuímos; sejam eles os famosos “bonecos palito”,
Segundo Luquet, pictogramas, ou ilustrações mais elaboradas. O
“Todo desenho é a tradução gráfica da imagem diferencial neste desenho, e o mais instigante, é que
visual que forneça o motivo apresentado e o círculo superior representa a cabeça,
acreditamos de uma imagem visual mais ou menos diferentemente das imagens mentais que possuímos
nítida realmente presente no espírito do desenhista, as quais não representam a cabeça separadamente do
no momento que ele desenha, o que nós rosto, ou seja, o “realismo visual” que representa
denominamos modelo interno. Qualquer que seja o cabeça como uma unidade completa (com olhos,
ponto de vista subjetivo,do ponto de vista objetivo o nariz e boca) o que é diferente do “realismo lógico”
desenho é incontestavelmente a tradução gráfica dos o qual representa a cabeça como o topo e unidade
caracteres visuais do objeto representado; isto é, separada do que vem a seguir, o rosto.
tomando emprestado dos estudiosos da lógica o
termo “compreensão” pelo qual eles designam o
conjunto de caracteres de um objeto, o desenho de
um motivo pode ser definido como a tradução
gráfica da compreensão visual desse motivo. (...)
Nós acreditamos que a preocupação da criança
frente cada um de seus desenhos é de fazê-lo
exprimir de um modo bem exato, bem completo,
pode-se dizer o mais literal possível, a compreensão
visual do objeto que ele representa. Nenhum nome
nos parece exprimir melhor essa característica que
realismo, e nós diremos que o desenho infantil é
essencialmente e voluntariamente realista.(...) Mas
se o desenho infantil é impregnado de realismo de
tal forma que se opõe este termo aquele de
esquematismo, se em outros termos a criança não
visa simplificar os objetos na representação que ela
lhe dá, será exagerado concluir que o idealismo está Figura 5: Representação gráfica da figura humana
completamente ausente da arte infantil.” (Luquet,
1913, p.145, 166, apud Duarte). Esta representação foi realizada na sequência em que
a criança com deficiência visual tateia-se: primeiro
Pesquisa de campo toca a cabeça, após os olhos, nariz e boca, em
seguida pescoço, tronco e membros. Importante
Para compreender o desenho de crianças com ressaltar que o relato verbal por ela feita durante a
6. representação foi relevante para a compreensão de
seu modo de pensar e de realizar as atividades.
Comparando o tato com a visão, é possível ressaltar
que aquele é altamente hábil no reconhecimento de
padrões 3D. (apud Lederman & Klatzky, Lima & Da
Silva, 1997,1998 e Lima, Heller & Da Silva, 1998).
Através dele, é possível compreender o formato, as
texturas e também predizer a temperatura de um
objeto, tendo como base a associação da cor com o
material. As crianças com limitação visual
conseguem interpretar os padrões 3D e conseguem
decodificar esta representação para o bidimensional
de uma maneira diferente se comparado a um
vidente. O que varia são as formas de representação
apenas – enquanto a maioria das pessoas desenha
por planos, o deficiente visual o faz por linhas. Da
mesma forma que cada indivíduo é único, este tem
uma percepção diferente e também única de
determinada coisa. Figura 7: Representação gráfica de um ônibus feita por
uma criança vidente
Ainda no Instituto Paranaense de Cegos, foi
solicitado que um menino deficiente visual Os desenhos acima foram realizados por duas
congênito desenhasse um ônibus (Figura 6). O crianças de mesma idade, uma com deficiência
veículo é utilizado diariamente pelo menino, na ida e visual e outra com visão normal.
volta da escola, logo há familiaridade entre eles.
Bruno desenha o veículo utilizando a técnica de Com a finalidade de descobrir os tipos de técnicas e
punção e, através de linhas, reproduz o objeto 3D materiais perceptíveis ao tato, alguns papéis
(ônibus) de uma forma planificada, representando o texturizados foram apresentados a dois meninos com
espaço interno do ônibus, o espaço por onde ele deficiência visual, com o propósito de conhecer o
caminha e tem conhecimento da existência de repertório de cada um e saber se analogias entre
bancos e uma área específica para o motorista. As objeto e texturas poderiam ser feitas e
rodas do veículo não foram representadas, pois, posteriormente aplicadas ao projeto editorial.
segundo ele, ele não as “enxerga” de dentro do
ônibus. Os papéis analisados continham texturas que imitam
o couro, escamas, ondas e ranhuras. Foi interessante
observar o comportamento de cada um ao tatear os
papéis, resultando analogias como: o papel com
ondas “é uma montanha”, o papel com ranhuras
“textura é ruim, é muito áspera”.
Os acabamentos gráficos podem incrementar o
aspecto visual de um projeto gráfico. Porém, para
ser acessível a aqueles que dispõem somente da
percepção tátil, são necessárias algumas
considerações a respeito de como um indivíduo cego
compreende uma imagem, para assim representar as
informações através de acabamentos gráficos
perceptíveis ao tato. Este momento da pesquisa de
campo com acabamentos gráficos foi essencial para
compreender as representações realizadas pela
criança com deficiência visual, bem como para
Figura 6: Representação gráfica de um ônibus feita por compreender como ocorre o registro do processo de
uma criança deficiente visual. representação da informação. Essa atividade aliada
7. com a mostragem de cartelas de papéis texturizados, abordar o movimento – no caso de livros pop-up ou
foram as que resultaram na identificação de puxa-estica. Outros aspectos da produção gráfica
materiais mais utilizados – que proporcionam mais como técnicas de impressão, materiais utilizados,
sensibilidade ao tato, bem como a marcação do formato do livro, tamanho das representações
início, do meio e do fim do reconhecimento de uma gráficas foram levados em consideração.
representação gráfica.
Entre os similares analisados, está o livro The Black
Análise de similares Book of Colors, de Menena Cottin e Rosana Faría.
Este livro explica as cores através de sensações que
Foi realizada uma análise de produtos gráficos possam ser associadas a elas. O livro é inteiro preto,
similares com o objetivo de levantar informações a com ilustrações em verniz incolor de médio relevo,
respeito de livros infantis com acabamentos gráficos texto em branco e em braile, fazendo com que as
diferenciados, os quais podem estimular a crianças, videntes ou não, tenham uma percepção
capacidade tátil e olfativa de crianças. Os livros multisensorial sobre as cores. Este livro foi
analisados não são em totalidade destinados à publicado originalmente em espanhol e foi o
deficientes visuais, porém possuem processos de vencedor do Prêmio Novos Horizontes 2007 na
impressão em relevo, com texturas e aromas que Feira do Livro de Bolonha. Porém, ao ser analisado
possibilitam uma abordagem diferenciada para livros por uma criança deficiente visual, do Instituto
destinados ao público infantil. Paranaense de Cegos - IPC, este não foi totalmente
compreendido e, dessa, forma foi proposta uma
O modelo de análise criado foi baseado na seleção adaptação inclusiva de seu conteúdo.
de livros infantis direcionados para crianças com
deficiência visual e também para videntes. O livro é visualmente atraente, porém carece em
aspectos funcionais se tratando da representação
Os similares exploram a produção gráfica que gráfica destinada a deficientes visuais. Apesar de
servem como guias da tecnologia utilizada nos apresentar suas ilustrações em relevo, estas são
métodos de impressão atuais. O modelo foi adaptado muito complexas se levando em consideração que a
tendo como base a estrutura da linguagem proposta compreensão é somente tátil. As ilustrações
por Twyman, 1979 e revisto por Spinillo, 2001, a encontram-se, muitas vezes, sobrepostas e esse fator
qual agrega à questão da linguagem visual gráfica as dificulta a interpretação do cego, pois este
variantes verbais, pictóricas e esquemáticas a partir compreende a imagem através da linha, do contorno.
dos canais da linguagem – visual e tátil. Muitos elementos gráficos tendem a enriquecer
visualmente a imagem, porém as tornam inacessíveis
A partir do canal da linguagem, se ramificam os tatilmente. Não se trata de “empobrecer” uma
aspectos esquemático, verbal e pictórico. O aspecto imagem, e sim, de representar o que é mais
verbal abrange os textos em braile e textos de apoio importante para que o cego consiga compreendê-la.
que possam conter no livro. Já o pictórico aborda o Retirar a sobreposição, e os elementos visuais que
tamanho das representações gráficas e suas formas – “carregam” a imagem é uma alternativa para que a
que foram divididas em orgânicas ou geométricas. A representação gráfica fique menos complexa e mais
partir disso, os canais tátil e olfativo foram acessível aos cegos.
ramificados para análise mais profunda. Esses dois
canais possuem as funções de ênfase e destaque. O Como referência principal para a realização do
canal olfativo aborda essencialmente os aromas que projeto, foi utilizado o livro Adélia Cozinheira. Os
alguns livros podem representar através de técnicas acabamentos gráficos sugeridos para serem
de impressão em verniz aromático. O canal tátil utilizados no projeto são a timbragem e o “raspe e
abrange os relevos e as texturas. Relevo ficou cheire”. Para a impressão do braile, a indicação é do
definido como contorno de uma representação processo Braille - BR, porém com testes realizados
gráfica e textura como a silhueta que a representação com os alunos do Instituto Paranaense de Cegos,
gráfica apresenta. Para esses dois aspectos, quatro pode-se observar que esse tipo de impressão
características foram apontadas: se possui relevo ou proporciona um relevo ainda baixo, possível de ser
textura como fundo, em parte da imagem, na compreendido, porém não muito apreciado pelas
imagem completa ou se somente o texto é enfatizado crianças com deficiência visual.
por esse aspecto. Todos esses aspectos estão
relacionados com a produção gráfica que pode
8. Os resultados obtidos foram bastante variados, Testagem
devido à diversidade das amostras selecionadas,
porém tendo como base os livros em braile e Para deixar as representações gráficas perceptíveis
também nos tipos de materiais encontrados em livros ao tato, algumas técnicas foram testadas com o
infantis, pode-se perceber que muitos exploram a objetivo de simular a impressão em relevo (com
textura como um diferencial, sendo ela proveniente verniz e timbragem).
de tecidos, plásticos e acabamentos gráficos como o O primeiro teste foi utilizar a cola colorida para
verniz texturizado. Esta análise de similares foi conseguir o relevo necessário. Porém não é possível
realizada para conhecer os materiais existentes, ter um controle ao pressionar o tubo de cola e
tendo como foco principal abordar os métodos de desenhar. As imagens ficam irregulares e muito
produção gráfica possíveis de serem utilizados nesse tempo é gasto para a finalização.
projeto.
Geração de alternativas
A partir dessas considerações de análise e pesquisa
de campo, alguns princípios foram estabelecidos
quanto à representação gráfica, para o projeto
gráfico ser inclusivo, em especial quanto às
ilustrações que:
• devem ser simples e compostas somente por linhas
e pontos (sem preenchimento);
• precisam conter elementos caracterizadores;
• de forma alguma podem estar sobrepostas;
• podem variar de tamanho e posição;
• nunca podem variar na quantidade de elementos. Figura 8: Ilustrações com cola colorida
Por exemplo, um morango de uma página do livro
não pode ser esteticamente diferente se comparado A segunda tentativa foi bolear as ilustrações com
ao de outra página. uma caneta sem tinta em um papel de alta
gramatura. O relevo obtido ficou semelhante ao
O objetivo inicial do projeto foi adaptar o livro “The relevo seco, do processo gráfico real, porém ainda
Black Book of colors” adicionando cores para que não ficou saliente o suficiente para ser perceptível ao
pudesse atingir, de forma ampla, o público cego e tato, pois é difícil manter o controle da pressão da
vidente. Porém, para manter a ideia original do livro mão sobre o papel.
ser inclusivo, que é a de remeter ao vidente a
sensação do cego em contato com um livro – este
será impresso somente na cor preto, com relevos
também pretos, escrita em tinta e em braile, sendo
necessário, para compreensão, tateá-lo e cheirá-lo,
para fazer associações sinestésicas e relacionar as
cores com relevos e aromas.
A abordagem do projeto, por fim, é a de trabalhar o
desenvolvimento do protótipo a partir das Figura 9: Ilustrações com caneta sem tinta sobre papel
necessidades dos usuários. O produto final tem canson
como objetivo ser de fácil manuseio, confortável,
agradável e ser 100% inclusivo, ou seja, tanto A terceira tentativa e a selecionada para realizar os
deficientes visuais que já apresentam familiaridade testes com o usuário foi a ilustração em papel
com representações gráficas quanto videntes vegetal 90 gramas boleada com a caneta sem tinta. O
poderão usufruir do objeto obtendo experiências relevo ficou bem saliente e perceptível ao tato.
semelhantes.
9. com que a experiência tida pelo vidente seja
semelhante àquela tida pelo deficiente visual. O
formato foi modificado, para ser de mais fácil
manuseio pelas crianças - 20 cm X 17 cm e também
por questões de acabamento final, que neste projeto
será manual, ou seja, as páginas de texto digitadas
em maquina braile e ilustrações boleadas em papel
vegetal de alta gramatura para simular o relevo
pretendido com a timbragem. A diagramação foi
feita em uma grade de construção retangular, que
estipula espaço para o texto em braile, a ilustração e
o texto impresso, respeitando as áreas para que não
haja sobreposição entre texto e imagem, já que a
impressão estipulada relevo/braile/ timbragem) pode
Figura 10: Ilustrações com caneta sem tinta sobre papel marcar o verso do papel. Dessa forma, não haverá
vegetal. interferência de impressão. A tipografia utilizada é
Meiryo UI, 12pt, caracteres sem serifa.
O procedimento para a análise das imagens foi
realizado com o menino cego precoce, no qual foram
apresentadas nove pranchas contendo de três a
quatro ilustrações numeradas que representavam o
mesmo objeto, apenas variando na quantidade de
detalhes.
Figura 11: Testagem do material Figura 12: Grade de construção.
Foi possível observar que as ilustrações contendo As ilustrações representam cada momento da
traços mais simples foram de mais fácil história, em que objetos são comparados com outros
entendimento pelo menino com deficiência visual através da cor – evocando relações sinestésicas:
congênita. As associações foram ricas no sentido
que reativaram o repertório do menino, fazendo com Amarelo: suave como as penas de um pintinho, e
que este identificasse as imagens fazendo tem gosto de mostarda;
associações com suas experiências anteriores. As Vermelho: sabor ácido do morango, doce como a
associações que ele não conhecia, passou a melancia, mas ardido quando aparece em seu joelho
compreender após ler o livro e “sentir” as raspado;
representações gráficas. Marrom: tem o som das folhas secas do outono, às
vezes cheira chocolate, outras vezes é fedido;
Diante as escolhas anteriores, a proposta foi adaptar Azul: Cor do céu quando há pipas voando e o sol
uma história infantil para ser lida tanto por crianças está queimando sua cabeça;
cegas quanto por videntes. O livro possuirá Branco: a cor do céu quando as nuvens se reúnem e
impressão em braile, timbragem e verniz aromático. a chuva começa;
Arco-íris: Quando o sol aparece entre as nuvens sete
O objeto cores surgem;
Invisível: a água que não tem gosto, nem cor, nem
O layout final apresenta-se todo em uma única cor, cheiro;
para manter a ideia inicial do livro que é a de fazer Verde: cheira grama cortada e tem gosto de limão;
10. Preto: suave como os cabelos de sua mãe, e tem com o desenho. A investigação se constituiu em
cheiro de shampoo; observar o comportamento da criança deficiente
Todas as cores: a relação sinestésica proveniente das visual em sala de aula, os seus objetos de uso
cores, pois é possível senti-las, tocá-las e cheirá-las. recorrentes para o desenho e a sua percepção tátil em
relação a texturas e relevos que tendem a representar
subjetivamente algum objeto, sensação, ou aroma.
A pesquisa de campo para desenvolver o projeto
editorial foi imprescindível. Conhecer a realidade do
público alvo dia a dia, suas dificuldades e facilidades
em relação à compreensão da representação gráfica,
conhecer as formas de associações e construções
visuais que se realizam na mente de uma criança que
não possui um repertório visual foi rico e importante
Figura 12: Capa aberta do livro.
para desenvolver um material que se adapte às
necessidades desse usuário que apenas não enxerga,
A ilustração da capa do livro foi elaborada pelo
mas possui todas as outras habilidades que um
Bruno, aluno do Instituto Paranaense de Cegos, e é a
vidente carrega e uma “visão” de mundo única e
representação da cor azul, na forma de uma
intrigante.
paisagem: a linha sinuosa da parte superior do
desenho representa as montanhas, a linha central do
O número de livros infantis destinados às pessoas
desenho representa a linha do horizonte e as linhas
com deficiência visual é, infelizmente, reduzido.
abaixo, representam a água do mar que, segundo
Geralmente o que existe são adaptações visuais de
Bruno, é “uma linha que vai e que vem...”.
livros que foram projetados para videntes. Isso
necessariamente não atinge o objetivo que é o de
inserir o cego no mundo visual. A inclusão ocorre já
no momento do “imaginar” um livro. Pensar no
público alvo no momento da criação e não quando o
projeto está pronto é essencial para que haja a
inclusão, é necessário que o usuário direto esteja em
contato com o produto.
Aprendizado foi a palavra principal durante todo o
processo. Além de redescobrir os princípios de uma
representação gráfica – o ponto e a linha, os quais
fazemos automaticamente no momento de uma
representação gráfica, e muitas vezes, não sabemos a
devida importância deles – compreender como esses
elementos são caracterizadores para uma ilustração
destinada a uma pessoa que possui deficiência visual
foi necessário. Os desenhos de uma criança
deficiente visual se baseiam nesses dois elementos,
apenas. Estes são suficientes para que haja a
interpretação. Detalhes visualmente atraentes apenas
confundem o deficiente visual no momento de
“descoberta” da imagem. O que caracteriza um
Figura 13: Páginas duplas do livro objeto em uma representação gráfica é seu contorno,
basicamente. Através dele e do conhecimento prévio
Considerações finais adquirido é possível identificar qualquer objeto.
Esta pesquisa e desenvolvimento de um projeto Este projeto tem o intuito de instigar os designers
editorial tiveram como objetivo adaptar para também pesquisarem e criarem para deficientes
representações gráficas a serem compreensíveis para visuais, visto que há pouquíssima quantidade de
deficientes visuais que já possuem familiaridade materiais destinados a esse público e que eles tem o
11. direito de obter o conhecimento e a sensação de
liberdade ao estarem em contato com um material
gráfico impresso podendo dizer: eu compreendo!
Referências Bibliográficas
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les rseaux, les cartes. Mouton and Gauthiers-Villars,
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Paraná, 2009.
TWYMAN, Michael. Using Pictorial Language: a
discussion of the dimensions of the problem. In
Designing Usable Texts, (Eds, Thomas Duffy &
Robert Walker), Academic Press, Orlando, 1985
Agradecimentos
Toda a pesquisa realizada, os resultados obtidos e o
conhecimento apreendido é fruto de uma
convivência de aproximadamente sete meses com
uma criança deficiente visual congênita, do Instituto
Paranaense de Cegos. O maior agradecimento aqui é
para Bruno, esse menino de ouro que pode ensinar
como é possível se comunicar com representações
gráficas sem o auxílio da visão.