O documento discute como usar dados do Censo Demográfico brasileiro para ensinar conceitos de demografia para estudantes do 4o ano em diante. Ele sugere comparar pirâmides etárias ao longo do tempo para mostrar como taxas de natalidade e mortalidade mudaram, levando o Brasil por uma transição demográfica. Experiências dos alunos e suas famílias podem ajudar a ilustrar essas mudanças populacionais.
1. Introdução à demografia com os
dados do Censo
Aproveite os dados da maior pesquisa do país para abordar conceitos
relacionados à dinâmica da população e à construção de uma
pirâmide etária
Elisângela Fernandes (novaescola@fvc.org.br)
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DINÂMICA POPULACIONAL Nos exemplos acima, três momentos da transição demográfica do país. Fonte:
IBGE
O novo Censo mostra um país em movimento
Em 1950, éramos 51,9 milhões. Crescemos mais de 250% se compararmos com os
números atuais. Mas esse crescimento não ocorre da mesma forma que 60 anos atrás. A
dinâmica populacional está ligada a fatores como taxas de natalidade e expectativa de
vida. Mesmo sem abordar especificamente esses conceitos, que serão estudados mais
detalhadamente nos anos finais do Ensino Fundamental, é possível trabalhar com os
menores as mudanças na distribuição etária do país nas últimas décadas e, com isso,
2. aproximar a estatística do contexto local deles.
Para introduzir os conceitos de natalidade e longevidade e suas transformações ao longo
do tempo, a pirâmide etária, também chamada de pirâmide demográfica ou populacional,
pode ser uma importante ferramenta. "Aprender a interpretá-la é fundamental", explica a
geógrafa Iara Castellani (leia a sequência didática). Esse tipo de gráfico mostra a
distribuição de diferentes grupos etários em uma população: a base representa os jovens
(até 14 anos); a área intermediária, ou corpo, representa o grupo adulto (entre 15 e 59
anos); e o topo, ou ápice, representa a população idosa (acima de 60 anos). Seus
diferentes formatos sinalizam mudanças importantes na estrutura etária de uma
população. Bases largas indicam altas taxas de natalidade, ao passo que as estreitas
sugerem baixos índices de nascimento. Topos largos identificam populações com elevada
expectativa de vida, enquanto os estreitos mostram que há uma pequena participação de
idosos (veja o gráfico no quadro acima).
Taxas de mortalidade e natalidade não são constantes. Segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1950, 41,8% da população do país estava
na faixa até 14 anos. Em 2010, esse percentual é de apenas 24,7%. Há 60 anos, o
número médio de filhos por casal era superior a seis e, em 2010, não chega a dois.
Exemplos do cotidiano ajudam a compreender essas transformações.
Elisângela Fernandes (novaescola@fvc.org.br)
CONTEXTUALIZAÇÃO Dados do novo censo ajudam a entender quem são, como vivem e onde estão os
brasileiros
Os dados preliminares do Censo Demográfico, a maior pesquisa do país, acabam de ser
divulgados: somos 185 milhões de brasileiros, cerca de 16 milhões a mais do que em
2000. O que esse número diz aos alunos? Mencionar informações desse tipo sem
contextualização não traz conhecimentos concretos. Por isso, a regra é aproximar a
Geografia do cotidiano deles. O segredo para que a aula não fique apenas nos dados
numéricos, enfatiza o professor Jorge Barcellos, da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), é trabalhar as informações de forma sensível, colocando o aluno na discussão.
"Assim, ele compreende os temas tratados na disciplina."
Os números podem ser uma valiosa ferramenta para que a garotada a partir do 4º ano
3. comece a dar os primeiros passos rumo à compreensão de conceitos relacionados à
população e à sua dinâmica. Para José Carlos Milléo, docente do departamento de
Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), os alunos podem comparar a
população brasileira com a do seu estado e da sua cidade e analisar as alterações ao
longo dos anos. "Essa é uma informação básica para começar a entender que o
crescimento populacional é um processo dinâmico, que se modifica ao longo do tempo e
sofre transformações de acordo com as mudanças sociais", completa.
O professor também pode verificar se os alunos acompanharam o trabalho dos
recenseadores (quando foram à sua casa) e como eles avaliam a utilidade de uma
pesquisa como essa. Além disso, vale explicar como os dados são coletados e demonstrar
que a análise deles permite compreender quem são, onde estão e como vivem os
brasileiros.
Aproveite os dados da maior pesquisa do país para abordar conceitos
relacionados à dinâmica da população e à construção de uma
pirâmide etária
Experiência do aluno ajuda a entender a dinâmica populacional
Como estratégia para introduzir o tema, Milléo sugere comparar uma família típica da
década de 1950, em um filme ou mesmo uma fotografia, com outra dos tempos atuais. O
professor pode colocar em discussão a inserção cada vez maior da mulher no mercado de
trabalho e relacioná-la à redução do número de filhos. Para discutir o tema, os alunos
podem comentar se a mãe trabalha e em quais setores econômicos, se em comércio,
indústria, serviços...
A ampliação do acesso à informação e métodos contraceptivos, além do fator econômico,
são alguns dos motivos que levaram à redução da natalidade. Por isso, vale indicar para
os estudantes o peso do custo de vida na decisão dos casais sobre terem menos filhos.
Relacionar a estatística à história familiar das crianças também pode ser interessante. Eles
podem pesquisar quantos irmãos seus pais e avós tiveram, indica o professor Barcellos.
"Muito provavelmente o grupo perceberá que a tendência brasileira de redução do número
de filhos também ocorre em pequena escala na sua família."
A análise da pirâmide etária brasileira também indica que as pessoas estão vivendo mais.
Em 1950, os idosos representavam 4,2% da população brasileira. Em 2009, esse
percentual passou para 11,1%. Dados do IBGE desse mesmo ano mostram que o
brasileiro vive em média 73,1 anos. Há 60 anos, essa média era de apenas 45,9. Muitos
fatores estão ligados ao aumento da longevidade. Observando essa tendência, o
estudante pode, com a ajuda do professor, avaliar se a sua cidade está preparada para ter
um número cada vez maior de idosos. O ideal, diz Milléo, é mostrar com base na própria
experiência dele, situações que se modificaram ao longo do tempo por causa da mudança
da pirâmide etária do país.