O documento discute a situação do mercado de trabalho no Brasil, onde vagas requerem atribuições complexas porém oferecem salários baixos, transformando profissionais qualificados em "bufões". Também critica a ascensão de "coaches" e "motivadores" que prometem segredos do sucesso sem experiência prática relevante. Sugere que vagas geralmente destinadas a vários setores sejam chamadas de "Vaga para Canivete Suíço" pelo perfil multitarefa requerido.
1. Vaga para canivete suíço
Em quase quarenta anos de trajetória profissional já tive a oportunidade
de ver, ouvir e vivenciar quase tudo no mundo corporativo.
Vi as reengenharias, com mirabolantes estratégias de mudança e a sua
reinvenção das empresas demitindo em massa excelentes profissionais, o
boom dos programas de qualidade total, a introdução do método japonês
dos 5 Sensos revirando mesas e gavetas, deixando perplexos
colaboradores que tentavam compreender o que significavam os termos
Seiton, Seiri, Seiso, Seiketsu e Shitsuke e mais recentemente a
avassaladora invasão dos palestrantes motivadores (como se motivação
pudesse ser comprada), com seus livrecos ou pockets oferecendo gotas
milagrosas de sabedoria, e no rastro de luz desses cometas eis que surgem
os coaches (para tudo e todos) alguns se autopromovendo como
verdadeiros gurus que farão emergir o seu grande potencial, que estava
(sem que voce soubesse, claro...) guardado, esperando o momento de
manifestar-se para torná-lo um super ultra puxa profissional ou um ser
humano incrível.
Sem querer desmerecer nenhuma “filosofia” e nem ninguém,
principalmente agora, que os números indicam doze milhões de
desempregados no país e todos precisam garantir a sobrevivência, sempre
que posso vou dar uma espiadinha na trajetória profissional de alguns
desses expertos, até para entender como obtiveram tanto conhecimento
2. e onde e como o colocaram em prática. SURPRESA! Grande parte nunca
atuou mais do que dois anos em alguma vaga estratégica, muitos fizeram
cursos rápidos na área ou workshops de imersão realizados nos finais de
semana e outros são ricos mesmo, e isso parece torná-los aptos a escrever
livros, ministrar palestras-show, falar demotivação e criar frases de efeito,
que são repetidas como mântras, principalmente no Linkedin.
Resta que, com ou sem os milagreiros de plantão o mercado de trabalho
está uma desordem, um verdadeiro caos, na base do segure-se quem
puder com gente roendo a corda do outro pra todo lado e fazendo suas
preces noturnas e matinais rigorosamente, pois vai que a empresa-sonho
seja adotada por outra ou amanheça envolvida em alguma investigação,
dessas com nomes bacanas ou bizarros criados pelos encarregados da
ordem e da justiça no país, já que do progresso ninguém cuida mesmo, e o
seu emprego-sonho se torne um pesadelo.
Uma busca rápida nos anúncios já nos fornece uma amostra do que vem
ocorrendo: vaga de analista, atribuições de superintendente, salário de
recepcionista. É pra fazer rima mesmo! A tragicomédia das ofertas de
emprego estão transformando profissionais qualificados em bufões, que
sob a lona do circo e as luzes da ribalta contemplam atônitos publicações
de vagas com o elenco de competências e habilidades requeridas versus a
remuneração oferecida.
Claro que as empresas estão vivendo momentos difíceis, muitas por
equívocos estratégicos, e para garantir a sobrevivência criaram um padrão
de profissional extinto lá pelos idos dos anos noventa: o coringa. Aquele
que sabe de tudo um pouco e não é especialista em nada. Esse novo
profissional que ressurge do passado, tanto atua na área financeira,
quanto contábil, administrativa, suprimentos, segurança e de quebra, em
recursos humanos.
Seria então o momento de nomear essa nova categoria de profissionais.
Assim é que reservei quinze minutos do meu tempo para sugerir que os
novos anúncios de emprego sejam publicados sob o título: Vaga para
CANIVETE SUIÇO.
Precisa elencar as habilidades e competências?