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Uma das figuras mais polêmicas do cristianismo e responsável maior pela
reforma protestante, Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483, na
cidade de Eisleben, filho de Hans e Margareth Luther. Na manhã seguinte, festa
de Martim de Tours, foi batizado com o nome do santo do dia, na igreja de São
Pedro e Paulo.
Hans Luther, seu pai, foi fazendeiro, mineiro, dono de mina, e posteriormente
fez parte do conselho da cidade de Mansfeld, para onde eles se mudaram
quando Lutero tinha um ano de vida. O luterano Martin Marty1
descreve a mãe
de Lutero como sendo uma grande trabalhadora da classe comerciante,
enquanto nota que os inimigos de Lutero a descreviam como prostituta ou
atendente de banheiros. Seus pais assinavam alternativamente os sobrenomes
de Lüder, Luder, Loder, Ludher, Lotter, Lutter ou Lauther. A forma conhecida
hoje como Luther foi escolhida pelo próprio Lutero por volta de 1512. Ele
derivou seu nome ou do duque Leuthari ou da palavra grega ελεύθερος (livre),
de onde ele tira a palavra flexionada Eleutherios (o livre)2
.
Lutero frequentou a escola da cidade de Mansfeld de 1488 até 1497. Depois
disto ele frequentou a Magdeburger Domschule. Ali ele estudou com os Irmãos
da Vida Comum, comunidade religiosa católica que enfatizava uma vida de
simples devoção a Jesus. Estes haviam estabelecido na Alemanha e Holanda
escolas onde o ensino era oferecido “para o amor de Deus apenas”. Depois
disto, em 1498, Lutero é enviado para os franciscanos em Eisenach, onde ele
recebeu educação em música e poesia, se destacando como cantor. Desde cedo
então, o jovem Lutero recebia influência religiosa.
De 1501 até 1505, Lutero vai estudar na faculdade de Erfurt, recebendo o título
de “Magister Artium” da faculdade de Filosofia. Ali ele recebe educação básica
em latim nas matérias de Gramática, Retórica, Dialética, Aritmética, Geometria,
Música e Astronomia.
Seguindo o desejo de seu pai, Lutero então inicia seus estudos de direito, na
mesma faculdade, no ano de 1505. No entanto, abandona os estudos não muito
tempo depois. Em 2 de julho daquele ano, depois de uma visita aos seus pais
em Mansfeld, retornando para Erfurt durante uma tempestade, Lutero teve
medo de morrer quando um raio cai perto dele, e chama Santa Ana, dizendo
“Me ajude, santa Ana, e eu me tornarei um monge!”. Sua promessa pode ser
explicada tanto pelo medo da morte e do julgamento divino, que
posteriormente ele confessa a seu pai, como também pela educação religiosa
que recebeu até então. Assim, em 17 de julho, contra a vontade de seu pai (que
via aquilo como um desperdício de toda a educação que Lutero recebeu), ele
entra em um monastério agostiniano em Erfurt.
Ali ele se dedica com tando afinco à vida monástica, se devotando a jejuar,
passar horas orando, em peregrinação e em frequente confissão.
Posteriormente ele diria que “Se alguém pudesse ganhar o céu como monge,
eu certamente estaria entre eles”3
. Foram anos de desespero espiritual que ele
posteriormente descreveria: “Eu perdi contato com Cristo o Salvador e
Confortador e fiz dele o carcereiro e carrasco da minha pobre alma”4
. Tanta
dedicação o faz diácono já em 27 de fevereiro de 1507, e padre em 4 de abril
do mesmo ano.
O motivo de tanto desespero espiritual se encontrava no sacramento da
penitência. Os pré-requisitos deste sacramento eram arrependimento sincero,
falta de medo diante da punição divina e a confissão de todos os pecados,
inclusive os pecados secretos, mesmo os desconhecidos pela pessoa. Estes pré-
requisitos Lutero levava bastante a sério, chegando posteriormente a duvidar da
sua capacidade de cumpri-los, o que o levou a duvidar ainda do perdão de
Deus.
Assim Johann von Staupitz, seu confessor e vicário geral da congregação,
concluiu que Lutero precisava de mais trabalho para distraí-lo de excessiva
introspecção, ordenando ele a buscar uma carreira acadêmica em Wittemberg,
em 1508, onde entra em contato com a teologia de Guilherme de Ockham. Em
março de 1509 recebe o grau de bacharelado em Estudos Bíblicos, que o
permitiu ler alguns trechos bíblicos com os acadêmicos. Poucos meses depois
recebe outro grau de bacharelado nas Sentenças de Pedro Lombardo, que o
permitiu expô-las. Pouco depois disto retorna para Erfurt.
Em 1510, Lutero viaja para Roma, em uma missão em nome de seu convento. A
casa de Erfurt e seu prior, Johann Nathin, pertenciam a um movimento de
reforma dentro da ordem Agostiniana que buscava expandir uma observância
mais estrita da Regra. Em setembro de 1510, uma união entre as ordens foi
anunciada, o que para estes monastérios reformados como o de Erfurt,
significava uma perda do que já havia sido obtido. Por este motivo, estas
congregações decidiram apelar para o vicário geral, Giles (Egidio) de Viterbo,
em Roma. Assim, Lutero foi escolhido para levar a apelação ao vicário geral.
Viagens assim não poderiam ser feitas sozinho, pois isto era proibido pela
ordem. Provavelmente foi acompanhado por Anton Kresz da casa de
Nuremberg, que estava encarregado da missão.
Foi em Roma que Lutero teve grande decepção. Segundo relatos de seu filho
Paulo, que ouviu isto de seu pai em 1541, Lutero ali subiu a famosa Scala Santa
de joelhos, pedindo penitência por ele e seus parentes. Arrependido de seus
atos, volta a Alemanha.
Em setembro de 1511, retorna a Wittenberg. Em 19 outubro de 1512 ele recebe
o título de Doutorado em Teologia, e em 21 de outubro de 1512 recebeu o
convite para ocupar a posição de Doutor na Bíblia na mesma faculdade, título
que manteve até o fim de sua vida. CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS
Um ano antes da elaboração das 95 teses, Lutero já pregava abertamente contra
as indulgências. No verão de 1517, ele recebe uma carta do cardeal Albrecht,
intitulada Instructio Summarium, permitindo a venda de indulgências no país.
Parte das rendas serviria para pagar as dívidas dele com a família Fugger, que
financiaram seu príncipe eleitor. Para esta tarefa, ele envia Johann Tetzel.
No dia 4 de setembro de 1517, Lutero distribui 97 teses entre seus discípulos e
colegas sobre uma disputa com a teologia escolástica. Depois disto Lutero
elabora suas 95 teses a respeito das indulgências, que, segundo Filipe
Melanchthon, teriam sido fixadas na porta principal da Igreja de Todos os
Santos, em Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, evento que ficou mais
tarde conhecido como o estopim para a reforma protestante.
Tal fato é hoje muito questionado. Alega-se por um lado que Filipe
Melanchthon não poderia ser testemunha ocular do evento, pois chegou à
universidade como professor apenas em 1518. Além disto se alega também que
tal ato seria interpretado como uma provocação aos seus superiores. Havia sim
o costume de se fixar teses nas portas da Igreja, mas isto acontecia apenas
depois de se verificar as reações de bispos ao trabalho fixado. Lutero não
desejava confrontar seus superiores, mas sim, esclarecer alguns pontos sobre as
indulgências.
Por outro lado, Filipe Melanchthon era amigo muito próximo de Lutero. Mesmo
não sendo testemunha ocular, ele poderia muito bem ter ouvido o relato do
próprio Lutero. Além disto, ele nunca fez disto um fato extraordinário, ficando
difícil entender por que Melanchthon poderia mentir ou até mesmo se enganar
sobre este ponto.
Sabe-se no entanto que Lutero escreveu uma carta ao arcebispo Albrecht de
Mainz e Magdeburg em 31 de outubro de 1517, onde ele denunciava a venda
de indulgências e exigia o esclarecimento de mal-entendidos. Com a carta ele
enviou 95 teses, as quais serviram de base para uma discussão sobre o assunto.
Mas Albrecht não respondeu esta carta, enviando-a para Roma. Johann Tetzel
reagiu escrevendo contra-teses, com a ajuda do teólogo Johannes Eck,
professor da cidade de Ingolstadt.
A resposta do papa foi colocar a questão debaixo da jurisdição dos
agostinianos, cuja próxima reunião capitular seria em 26 de abril de 1518,
conhecida hoje como a Disputa de Heidelberg, cidade onde aconteceu. Para lá
foi Lutero, temendo por sua vida, mas encontrando amplo apoio por parte dos
monges ali. Nesta disputa, Lutero pôde elucidar sua teologia, onde pregava a
graça de Deus. A questão é que Lutero via seu entendimento sobre esta graça
como o alicerce para seu ataque às indulgências. Foi em Heidelberg que Lutero
convenceu muitos futuros reformadores, entre eles Martin Bucer, sobre a
veracidade de sua teologia.
Assim, o papa Leão X teve que tomar outro caminho. Se reuniria em Augsburgo,
em outubro de 1518, a dieta do império, ou seja, a assembléia de todos os
potentados alemães, sob presidência do imperador Maximiliano. O legado
papal para esta dieta era o cardeal Cajetano, cuja grande missão era convencer
os príncipes alemães da necessidade de empreender uma cruzada contra os
turcos, que ameaçavam a Europa, e de promulgar um novo imposto para este
fim. O papa então comissionou Cajetano a se entrevistar com Lutero e o obrigar
a se retratar. Se o monge negasse, deveria ser levado prisioneiro a Roma.
No entanto, o príncipe eleitor Frederico, o Sábio da Saxônia, em cuja jurisdição
vivia Lutero, obteve um salvo conduto do imperador Maximiliano para Lutero, a
quem se dispôs a ajudar em Augsburgo, mesmo sabendo que pouco mais de
cem anos antes, e em circunstâncias muito parecidas, Jan Huss tinha sido
queimado em violação a um salvo-conduto imperial.
A entrevista, que ocorreu entre 12 e 14 de outubro, não rendeu o resultado
desejado. O cardeal se recusava a discutir com o monge e exigia sua renúncia.
Por outro lado, Lutero não estava disposto a se retratar antes de ser convencido
de seu erro. Quando descobriu que Cajetano poderia levá-lo a Roma como
prisioneiro, abandonou a cidade às escondidas na noite do dia 20 para o dia 21.
Frederico ajudava Lutero não por que estava convencido por suas doutrinas,
mas sim por que ele desejava que fosse dado um tratamento justo a Lutero. Ele
desejava evitar o que havia acontecido com Jan Huss anos antes. Assim estavam
as coisas, quando em janeiro de 1519, morre o imperador Maximiliano. A
escolha de sucessores ao trono alemão não era feita por sucessão, e sim por
eleição. Logo começou-se a discutir quem seria o sucessor de Maximiliano. Os
dois candidatos mais poderosos eram Carlos I da Espanha e Francisco I, da
França. Para o papa, nenhum dos dois candidatos convinha ser eleito, já que o
império alemão fortaleceria qualquer um dos dois de forma desproporcional.
Roma precisava de um candidato cujos atrativos residiam não no poder, mas
sim, na sabedoria e justiça. E por isto não havia candidato melhor que Frederico.
Desta forma, como Frederico defendia Lutero até que este tivesse um
julgamento justo pelo menos, Leão X prorrogou a condenação de Lutero,
enquanto se aproximava do eleitor que o protegia. Por fim, Karl von Miltitz,
parente de Frederico, foi enviado pelo papa à Alemanha, para obter uma
solução amigável. Em entrevista com Lutero, conseguiu deste a promessa de
não continuar a controvérsia desde que seus inimigos fizessem o mesmo. Isto
trouxe uma breve trégua.
Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt,
colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a
cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519.
Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais
impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em
Leipzig, Lutero declarou que participaria também do debate.
Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero
conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas
matérias de Direito Canônico e Teologia Medieval. O assunto do debate foi
expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que
dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança
havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu
entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto
foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege
condenado (Huss) por um concílio ecumênico.
Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por
isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro
lado, os defensores da causa de Lutero souberam aproveitar bem as condições
políticas em seu favor. Além do número sempre crescente de seus seguidores,
Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da
reforma que eles mesmos propunham, e dos nacionalistas, para quem o monge
era o porta-voz do protesto alemão diante dos abusos de Roma.
Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt,
colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a
cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519.
Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais
impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em
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Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero
conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas
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expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que
dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança
havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu
entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto
foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege
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Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por
isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro
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Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da
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Uma das figuras mais polêmicas do cristianismo e responsável maior pela reforma protestante

  • 1. Uma das figuras mais polêmicas do cristianismo e responsável maior pela reforma protestante, Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483, na cidade de Eisleben, filho de Hans e Margareth Luther. Na manhã seguinte, festa de Martim de Tours, foi batizado com o nome do santo do dia, na igreja de São Pedro e Paulo. Hans Luther, seu pai, foi fazendeiro, mineiro, dono de mina, e posteriormente fez parte do conselho da cidade de Mansfeld, para onde eles se mudaram quando Lutero tinha um ano de vida. O luterano Martin Marty1 descreve a mãe de Lutero como sendo uma grande trabalhadora da classe comerciante, enquanto nota que os inimigos de Lutero a descreviam como prostituta ou atendente de banheiros. Seus pais assinavam alternativamente os sobrenomes de Lüder, Luder, Loder, Ludher, Lotter, Lutter ou Lauther. A forma conhecida hoje como Luther foi escolhida pelo próprio Lutero por volta de 1512. Ele derivou seu nome ou do duque Leuthari ou da palavra grega ελεύθερος (livre), de onde ele tira a palavra flexionada Eleutherios (o livre)2 . Lutero frequentou a escola da cidade de Mansfeld de 1488 até 1497. Depois disto ele frequentou a Magdeburger Domschule. Ali ele estudou com os Irmãos da Vida Comum, comunidade religiosa católica que enfatizava uma vida de simples devoção a Jesus. Estes haviam estabelecido na Alemanha e Holanda escolas onde o ensino era oferecido “para o amor de Deus apenas”. Depois disto, em 1498, Lutero é enviado para os franciscanos em Eisenach, onde ele recebeu educação em música e poesia, se destacando como cantor. Desde cedo então, o jovem Lutero recebia influência religiosa. De 1501 até 1505, Lutero vai estudar na faculdade de Erfurt, recebendo o título de “Magister Artium” da faculdade de Filosofia. Ali ele recebe educação básica em latim nas matérias de Gramática, Retórica, Dialética, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Seguindo o desejo de seu pai, Lutero então inicia seus estudos de direito, na mesma faculdade, no ano de 1505. No entanto, abandona os estudos não muito tempo depois. Em 2 de julho daquele ano, depois de uma visita aos seus pais em Mansfeld, retornando para Erfurt durante uma tempestade, Lutero teve medo de morrer quando um raio cai perto dele, e chama Santa Ana, dizendo “Me ajude, santa Ana, e eu me tornarei um monge!”. Sua promessa pode ser explicada tanto pelo medo da morte e do julgamento divino, que posteriormente ele confessa a seu pai, como também pela educação religiosa que recebeu até então. Assim, em 17 de julho, contra a vontade de seu pai (que via aquilo como um desperdício de toda a educação que Lutero recebeu), ele entra em um monastério agostiniano em Erfurt.
  • 2. Ali ele se dedica com tando afinco à vida monástica, se devotando a jejuar, passar horas orando, em peregrinação e em frequente confissão. Posteriormente ele diria que “Se alguém pudesse ganhar o céu como monge, eu certamente estaria entre eles”3 . Foram anos de desespero espiritual que ele posteriormente descreveria: “Eu perdi contato com Cristo o Salvador e Confortador e fiz dele o carcereiro e carrasco da minha pobre alma”4 . Tanta dedicação o faz diácono já em 27 de fevereiro de 1507, e padre em 4 de abril do mesmo ano. O motivo de tanto desespero espiritual se encontrava no sacramento da penitência. Os pré-requisitos deste sacramento eram arrependimento sincero, falta de medo diante da punição divina e a confissão de todos os pecados, inclusive os pecados secretos, mesmo os desconhecidos pela pessoa. Estes pré- requisitos Lutero levava bastante a sério, chegando posteriormente a duvidar da sua capacidade de cumpri-los, o que o levou a duvidar ainda do perdão de Deus. Assim Johann von Staupitz, seu confessor e vicário geral da congregação, concluiu que Lutero precisava de mais trabalho para distraí-lo de excessiva introspecção, ordenando ele a buscar uma carreira acadêmica em Wittemberg, em 1508, onde entra em contato com a teologia de Guilherme de Ockham. Em março de 1509 recebe o grau de bacharelado em Estudos Bíblicos, que o permitiu ler alguns trechos bíblicos com os acadêmicos. Poucos meses depois recebe outro grau de bacharelado nas Sentenças de Pedro Lombardo, que o permitiu expô-las. Pouco depois disto retorna para Erfurt. Em 1510, Lutero viaja para Roma, em uma missão em nome de seu convento. A casa de Erfurt e seu prior, Johann Nathin, pertenciam a um movimento de reforma dentro da ordem Agostiniana que buscava expandir uma observância mais estrita da Regra. Em setembro de 1510, uma união entre as ordens foi anunciada, o que para estes monastérios reformados como o de Erfurt, significava uma perda do que já havia sido obtido. Por este motivo, estas congregações decidiram apelar para o vicário geral, Giles (Egidio) de Viterbo, em Roma. Assim, Lutero foi escolhido para levar a apelação ao vicário geral. Viagens assim não poderiam ser feitas sozinho, pois isto era proibido pela ordem. Provavelmente foi acompanhado por Anton Kresz da casa de Nuremberg, que estava encarregado da missão. Foi em Roma que Lutero teve grande decepção. Segundo relatos de seu filho Paulo, que ouviu isto de seu pai em 1541, Lutero ali subiu a famosa Scala Santa de joelhos, pedindo penitência por ele e seus parentes. Arrependido de seus atos, volta a Alemanha. Em setembro de 1511, retorna a Wittenberg. Em 19 outubro de 1512 ele recebe o título de Doutorado em Teologia, e em 21 de outubro de 1512 recebeu o
  • 3. convite para ocupar a posição de Doutor na Bíblia na mesma faculdade, título que manteve até o fim de sua vida. CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS Um ano antes da elaboração das 95 teses, Lutero já pregava abertamente contra as indulgências. No verão de 1517, ele recebe uma carta do cardeal Albrecht, intitulada Instructio Summarium, permitindo a venda de indulgências no país. Parte das rendas serviria para pagar as dívidas dele com a família Fugger, que financiaram seu príncipe eleitor. Para esta tarefa, ele envia Johann Tetzel. No dia 4 de setembro de 1517, Lutero distribui 97 teses entre seus discípulos e colegas sobre uma disputa com a teologia escolástica. Depois disto Lutero elabora suas 95 teses a respeito das indulgências, que, segundo Filipe Melanchthon, teriam sido fixadas na porta principal da Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, evento que ficou mais tarde conhecido como o estopim para a reforma protestante. Tal fato é hoje muito questionado. Alega-se por um lado que Filipe Melanchthon não poderia ser testemunha ocular do evento, pois chegou à universidade como professor apenas em 1518. Além disto se alega também que tal ato seria interpretado como uma provocação aos seus superiores. Havia sim o costume de se fixar teses nas portas da Igreja, mas isto acontecia apenas depois de se verificar as reações de bispos ao trabalho fixado. Lutero não desejava confrontar seus superiores, mas sim, esclarecer alguns pontos sobre as indulgências. Por outro lado, Filipe Melanchthon era amigo muito próximo de Lutero. Mesmo não sendo testemunha ocular, ele poderia muito bem ter ouvido o relato do próprio Lutero. Além disto, ele nunca fez disto um fato extraordinário, ficando difícil entender por que Melanchthon poderia mentir ou até mesmo se enganar sobre este ponto. Sabe-se no entanto que Lutero escreveu uma carta ao arcebispo Albrecht de Mainz e Magdeburg em 31 de outubro de 1517, onde ele denunciava a venda de indulgências e exigia o esclarecimento de mal-entendidos. Com a carta ele enviou 95 teses, as quais serviram de base para uma discussão sobre o assunto. Mas Albrecht não respondeu esta carta, enviando-a para Roma. Johann Tetzel reagiu escrevendo contra-teses, com a ajuda do teólogo Johannes Eck, professor da cidade de Ingolstadt. A resposta do papa foi colocar a questão debaixo da jurisdição dos agostinianos, cuja próxima reunião capitular seria em 26 de abril de 1518, conhecida hoje como a Disputa de Heidelberg, cidade onde aconteceu. Para lá foi Lutero, temendo por sua vida, mas encontrando amplo apoio por parte dos monges ali. Nesta disputa, Lutero pôde elucidar sua teologia, onde pregava a graça de Deus. A questão é que Lutero via seu entendimento sobre esta graça
  • 4. como o alicerce para seu ataque às indulgências. Foi em Heidelberg que Lutero convenceu muitos futuros reformadores, entre eles Martin Bucer, sobre a veracidade de sua teologia. Assim, o papa Leão X teve que tomar outro caminho. Se reuniria em Augsburgo, em outubro de 1518, a dieta do império, ou seja, a assembléia de todos os potentados alemães, sob presidência do imperador Maximiliano. O legado papal para esta dieta era o cardeal Cajetano, cuja grande missão era convencer os príncipes alemães da necessidade de empreender uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam a Europa, e de promulgar um novo imposto para este fim. O papa então comissionou Cajetano a se entrevistar com Lutero e o obrigar a se retratar. Se o monge negasse, deveria ser levado prisioneiro a Roma. No entanto, o príncipe eleitor Frederico, o Sábio da Saxônia, em cuja jurisdição vivia Lutero, obteve um salvo conduto do imperador Maximiliano para Lutero, a quem se dispôs a ajudar em Augsburgo, mesmo sabendo que pouco mais de cem anos antes, e em circunstâncias muito parecidas, Jan Huss tinha sido queimado em violação a um salvo-conduto imperial. A entrevista, que ocorreu entre 12 e 14 de outubro, não rendeu o resultado desejado. O cardeal se recusava a discutir com o monge e exigia sua renúncia. Por outro lado, Lutero não estava disposto a se retratar antes de ser convencido de seu erro. Quando descobriu que Cajetano poderia levá-lo a Roma como prisioneiro, abandonou a cidade às escondidas na noite do dia 20 para o dia 21. Frederico ajudava Lutero não por que estava convencido por suas doutrinas, mas sim por que ele desejava que fosse dado um tratamento justo a Lutero. Ele desejava evitar o que havia acontecido com Jan Huss anos antes. Assim estavam as coisas, quando em janeiro de 1519, morre o imperador Maximiliano. A escolha de sucessores ao trono alemão não era feita por sucessão, e sim por eleição. Logo começou-se a discutir quem seria o sucessor de Maximiliano. Os dois candidatos mais poderosos eram Carlos I da Espanha e Francisco I, da França. Para o papa, nenhum dos dois candidatos convinha ser eleito, já que o império alemão fortaleceria qualquer um dos dois de forma desproporcional. Roma precisava de um candidato cujos atrativos residiam não no poder, mas sim, na sabedoria e justiça. E por isto não havia candidato melhor que Frederico. Desta forma, como Frederico defendia Lutero até que este tivesse um julgamento justo pelo menos, Leão X prorrogou a condenação de Lutero, enquanto se aproximava do eleitor que o protegia. Por fim, Karl von Miltitz, parente de Frederico, foi enviado pelo papa à Alemanha, para obter uma solução amigável. Em entrevista com Lutero, conseguiu deste a promessa de não continuar a controvérsia desde que seus inimigos fizessem o mesmo. Isto trouxe uma breve trégua.
  • 5. Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt, colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519. Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em Leipzig, Lutero declarou que participaria também do debate. Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas matérias de Direito Canônico e Teologia Medieval. O assunto do debate foi expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege condenado (Huss) por um concílio ecumênico. Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro lado, os defensores da causa de Lutero souberam aproveitar bem as condições políticas em seu favor. Além do número sempre crescente de seus seguidores, Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da reforma que eles mesmos propunham, e dos nacionalistas, para quem o monge era o porta-voz do protesto alemão diante dos abusos de Roma.
  • 6. Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt, colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519. Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em Leipzig, Lutero declarou que participaria também do debate. Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas matérias de Direito Canônico e Teologia Medieval. O assunto do debate foi expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege condenado (Huss) por um concílio ecumênico. Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro lado, os defensores da causa de Lutero souberam aproveitar bem as condições políticas em seu favor. Além do número sempre crescente de seus seguidores, Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da reforma que eles mesmos propunham, e dos nacionalistas, para quem o monge era o porta-voz do protesto alemão diante dos abusos de Roma.