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Maria Barry, Forever Friends
ECO
Nada se perdeu, querido ser,
Nada se perde nunca;
A palavra por dizer
Não está exausta, pode ainda ser ouvida.
Música que mancha;
O silêncio permanece…
Oh, o eco está por toda a parte, pássaro inarmadilhável.
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Johann Christian Friedrich Hőlderlin (1770-1843)
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OS PÁSSAROS NASCEM NA PONTA DAS ÁRVORES
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
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Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
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Um pintassilgo desce pelas escadas
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não se perca pelo chão. Ainda bem que é
para o céu que ele está a olhar: assim,
não vê os teus cabelos que se espalham
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braços que se apoiam ao declive da
encosta. No entanto, a tua respiração
canta com ele; e só quando o vento
o enxota do ramo é que um silêncio
se faz para que, de dentro dele, nasçam o
bater de asas do seu voo e o teu riso, ao
veres um pássaro saltar de dentro do amor.
Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês
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Victor Safonkin (pintor surrealista
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«Os pássaros, com as suas
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  • 1. Maria Barry, Forever Friends ECO Nada se perdeu, querido ser, Nada se perde nunca; A palavra por dizer Não está exausta, pode ainda ser ouvida. Música que mancha; O silêncio permanece… Oh, o eco está por toda a parte, pássaro inarmadilhável. Lawrence Durrell (1912-1990), Alexandria ***&*** Vamos esquecer que existe um tempo e não vamos contar os dias da vida! Johann Christian Friedrich Hőlderlin (1770-1843) Suy, A Coroação do Belo Insignificante, 25/1/1987
  • 2. OS PÁSSAROS NASCEM NA PONTA DAS ÁRVORES Os pássaros nascem na ponta das árvores As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores Os pássaros começam onde as árvores acabam Os pássaros fazem cantar as árvores Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal Como pássaros poisam as folhas na terra quando o Outono desce veladamente sobre os campos Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores mas deixo essa forma de dizer ao romancista é complicada e não se dá bem na poesia não foi ainda isolada da filosofia Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros Quem é que lá os pendura nos ramos? De quem é a mão a inúmera mão? Eu passo e muda-se-me o coração Ruy Belo (1933-1978) NATUREZA VIVA Um pintassilgo desce pelas escadas da canção, empoleira-se nos seus versos, estende o bico para que o canto não se perca pelo chão. Ainda bem que é para o céu que ele está a olhar: assim, não vê os teus cabelos que se espalham por entre ervas e ramos, nem os teus braços que se apoiam ao declive da encosta. No entanto, a tua respiração canta com ele; e só quando o vento o enxota do ramo é que um silêncio se faz para que, de dentro dele, nasçam o bater de asas do seu voo e o teu riso, ao veres um pássaro saltar de dentro do amor. Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês Steven Kenny, Paper Birds, 2007 Victor Safonkin (pintor surrealista russo, nascido em 1967) «Os pássaros, com as suas plumagens e cantos, estão em harmonia com as flores, mas que rapaz ou rapariga se associa à beleza selvagem e luxuriante da Natureza? Ela floresce sobretudo sozinha, bem longe das cidades onde moram os homens. Falais do céu, vós que degradais a terra!» Henry David Thoreau (1817-1862), Walden, ou A Vida nos Bosques