Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição Ludovino 23 3 A 27 3 09
1. Maria Barry, Forever Friends
ECO
Nada se perdeu, querido ser,
Nada se perde nunca;
A palavra por dizer
Não está exausta, pode ainda ser ouvida.
Música que mancha;
O silêncio permanece…
Oh, o eco está por toda a parte, pássaro inarmadilhável.
Lawrence Durrell (1912-1990), Alexandria
***&***
Vamos esquecer que existe um tempo e não vamos contar os dias da
vida!
Johann Christian Friedrich Hőlderlin (1770-1843)
Suy, A Coroação do Belo Insignificante, 25/1/1987
2. OS PÁSSAROS NASCEM NA PONTA DAS ÁRVORES
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o Outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy Belo (1933-1978)
NATUREZA VIVA
Um pintassilgo desce pelas escadas
da canção, empoleira-se nos seus versos,
estende o bico para que o canto
não se perca pelo chão. Ainda bem que é
para o céu que ele está a olhar: assim,
não vê os teus cabelos que se espalham
por entre ervas e ramos, nem os teus
braços que se apoiam ao declive da
encosta. No entanto, a tua respiração
canta com ele; e só quando o vento
o enxota do ramo é que um silêncio
se faz para que, de dentro dele, nasçam o
bater de asas do seu voo e o teu riso, ao
veres um pássaro saltar de dentro do amor.
Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês
Steven Kenny, Paper Birds, 2007
Victor Safonkin (pintor surrealista
russo, nascido em 1967)
«Os pássaros, com as suas
plumagens e cantos, estão
em harmonia com as flores,
mas que rapaz ou rapariga
se associa à beleza
selvagem e luxuriante da
Natureza? Ela floresce
sobretudo sozinha, bem
longe das cidades onde
moram os homens. Falais do
céu, vós que degradais a
terra!»
Henry David Thoreau (1817-1862),
Walden, ou A Vida nos Bosques