Direito à indignação dos professores mais experientes
1. Direito à indignação
Como se já não bastassem as afrontas sucessivas de que, por parte da tutela,
os professores têm sido vítimas, surge agora, dentro da própria classe (que já
sabíamos heterogénea, desde professores que apenas têm, de facto, o ensino
básico até aos doutorados), a divisão “novos”/competentes e
“velhos”/incompetentes, como se de categorias estanques se tratassem.
Mas o que se segue poderá ilustrar como é uma falácia a passagem automática
a professor titular dos “professores do 10º escalão (os mais velhos) ” (SIC).
Sou professora do 10º escalão: início da carreira em 1972/73 com 23 anos de
idade, após uma licenciatura de cinco anos e um Curso de Ciências
pedagógicas, tendo realizado, posteriormente, o Estágio Clássico para o Ensino
Secundário, sem o qual não passaria de professor eventual/provisório a
professor efectivo /PQND (professor do quadro de nomeação definitiva).
Durante os quase 35 anos de carreira desempenhei, sempre e até este
momento, os seguintes cargos: directora do 2º ciclo liceal – 1 ano; estágio
clássico – 1 ano ; directora de turma – 14 anos; vogal do conselho directivo –
2 anos; presidente do conselho directivo/executivo – 3 anos; delegada de
grupo – 8 anos; coordenadora de directores de turma – 2 anos; directora de
biblioteca – 1 ano; directora de instalações audiovisuais – 1 ano; directora de
mediateca – 1 ano; orientadora de estágio pedagógico – 5 anos; criação e
organização do gabinete do aluno – 2 anos; criação do primeiro Clube
Intercultura (génese dos actuais Clubes Europeus) – 2 anos ; coordenação e
realização de intercâmbios escolares – 2 anos; orientação de cursos de
formação contínua para professores – dezenas; orientação de cursos para pais
e encarregados de educação (Portugal Continental, Regiões Autónomas e
PALOP) – dezenas ; orientação de cursos de metodologia de estudo para alunos
– dezenas ; leccionação de cursos de Língua Portuguesa e técnicas de
comunicação oral e escrita (PALOP) – 3 anos ; visitas de estudo (nunca
“passeios”) – dezenas ; orientação, participação e execução de projectos
educativos , planos anuais de actividades e projectos curriculares de turma –
dezenas ; licença sabática – 1 ano.
Com este currículo não passo à categoria de professora titular porque não
atinjo os 95 pontos necessários: desempenhei ainda cargos quando era
“nova”/competente e que, por serem anteriores a 1999-2000, não contam;
desempenhei outros cargos, sempre por “participação voluntária”, agora que
sou “velha”/incompetente que também não contam; acresce que por ter
apresentado um projecto para licença sabática, em 2002-2003, que, por
azar, foi aprovado, sou penalizada em 8 pontos; ainda por cima, em 35 anos de
serviço apenas contabilizei 1,22 por cento de faltas.
Por isto, conclui-se, veja-se lá, que os professores do 10º escalão nunca
estudaram, nunca fizeram estágio, nunca trabalharam, nunca leccionaram,
nunca realizaram projectos, nunca exerceram cargos, nem nunca foram
competentes… (…)
- Natália Izaura de Andrade Rodrigues Coimbra -