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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO
DEPARTAMENTO DE CIËNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO
ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI
ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO
NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS
FLORIANÓPOLIS
2012
2
ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI
ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO
NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de
Ciências da Administração do Centro
Sócio-Econômico da Universidade
Federal de Santa Catarina, como
requisito para conclusão do Processo
de Reconhecimento do Diploma de
Bacharel em Administração.
Área de Concentração: Administração
Geral
FLORIANÓPOLIS
2012
3
ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI
ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO
NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado, atendendo os
requisitos parciais para obtenção do título de Bacharel em Administração da
Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 15 de fevereiro de 2012.
Banca Examinadora
4
ARMONICI, Adriana. Aspectos da Globalização na Internacionalização de
Negócios. 2012. 68 p. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em
Administração. Centro Sócio-Econômico. Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, 2012.
5
“A globalização permite alcançar o mundo como nunca foi feito
antes e permite ao mundo que alcance a cada um de nós como
jamais aconteceu.”
(Thomas Friedman)
6
DEDICATÓRIA
A minha mãe Crenilde, fonte
inesgotável de amor, força, sabedoria,
apoio e inspiração.
E ao meu marido Carlo e filhas Isabella
e Giuliana, razão do meu viver e minha
maior alegria.
7
AGRADECIMENTOS
Ao Professor MSc. João Nilo Linhares, pelo cuidado com que acolheu o meu
pedido de validação, pela Universidade Federal de Santa Catarina, de diploma
de Graduação em Administração obtido junto à New York University.
Ao Professor Dr. Luiz Salgado Klaes, que me orientou para equacionar todas as
exigências e requisitos documentais e tornar o processo mais completo.
Ao Professor Dr. Irineu Manoel de Souza, pela preciosa orientação e por ter
resgatado, em análise criteriosa, a equivalência entre currículos, metodologias e
créditos obtidos no exterior, em complementação aos obtidos nesta
universidade.
Ao Professor Dr. Gilberto de Oliveira Moritz, admirado Chefe do Departamento
de Ciências da Administração, pela extraordinária habilidade em conduzir
equipes e criar resultados.
Às secretárias do Centro de Ciências da Administração Lindamir Bosse Brinhosa
e Rosângela T. Emerim Moreira, e à estagiária Helena de Freitas Ferreira, por
personificarem as melhores qualidades como seres humanos e como servidoras
da Universidade Federal de Santa Catarina.
Ao amigo e empresário Carlos Alberto Marin pela disponibilidade em
compartilhar a história de sucesso da Weightech, uma empresa catarinense de
perspectiva verdadeiramente global.
8
RESUMO
Este é um estudo sobre globalização na internacionalização dos negócios. O
trabalho parte de conceitos, emitidos por autores de diversos campos do
conhecimento e publicados em livros e artigos científicos, para sintetizar
aspectos relevantes do fenômeno. Globalização é tratada como processo
complexo, multifacetado e ainda em curso, composto por outros processos
interdependentes e intrinsecamente relacionados entre si. Aspectos relevantes
desses processos são descritos para caracterizar as dimensões econômica,
política, social, ambiental e tecnológica da existência humana em todo o mundo.
Alguns conceitos teóricos do trabalho são resumidos e exemplificados, no relato
da experiência de internacionalização de negócios, de uma empresa de
tecnologia, provedora de soluções em sistemas de pesagem, operando em
mercado globalizado.
Palavras-chave: Globalização. Integração Econômica. Interdependência Social.
Internacionalização de Negócios. Alianças Estratégicas. Empresas
transnacionais. Mercados Globais.
9
ABSTRACT
This is a study about globalization in the internationalization of business. The
study summarizes relevant aspects of the phenomenon, based on concepts
developed by authors from various fields of knowledge and published in books
and scientific papers. Globalization is treated as a complex, multifaceted, and
ongoing process, composed by many other interdependent and inextricably
related processes. Relevant aspects of these processes are described in order
to characterize the economic, political, social, environmental and technological
dimensions of human existence around the world. Some of the theoretical
concepts studied are summarized and exemplified in the internationalization
experience of a technology company that operates as a weight systems solutions
provider in the global market.
Keywords: Globalization. Economic Integration. Social Interdependency.
Business Internationalization. Strategic Alliances. Transnational Organizations.
Global Markets.
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALAI – Associação Latino-Americana de Integração
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
OEM – Original Equipment Manufacturer (Fabricante de Equipamento Original)
OXFAM – Oxfam International – Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de
Oxford de Combate à Fome)
FMI – Fundo Monetário Internacional
ONU – Organização das Nações Unidas
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
CELTA – Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas
HBM – Hottinger Baldwin Messetechnik
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
SISCOMEX – Sistema de Gerenciamento de Comércio Exterior do Governo
Brasileiro
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a globalização.......20
Quadro 2 – Um Revolucionário Improvável.........................................................41
Quadro 3 – Tecnologia da Informação e a Nova Economia................................42
Quadro 4 – Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transformacionalistas........46
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14
1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO............................................................... 14
1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 16
1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivos Gerais......................................................................................... 17
1.3.2 Objetivos Específicos............................................................................... 17
1.4 METODOLOGIA.................................................................................................. 18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 20
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................... 20
2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS ....................................... 22
2.3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 28
2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO......................................................... 29
2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO ................................................................... 32
2.5.1 Globalização Econômica ......................................................................... 33
2.5.2 Globalização Política ................................................................................ 35
2.5.3 Globalização Social................................................................................... 37
2.5.4 Globalização Ambiental ........................................................................... 39
2.5.5 Globalização Tecnológica ....................................................................... 41
3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO....................................................... 43
4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE
NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL...................................................................... 46
4.1 APRESENTAÇÃO............................................................................................... 46
4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO.......................... 47
4.3 ENTREVISTA....................................................................................................... 49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA
PESQUISAS FUTURAS............................................................................................... 59
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 59
5.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS
....................................................................................................................................... 62
13
5.3 CONCLUSÃO....................................................................................................... 63
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 65
1. INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO
Pode parecer retórico falar na globalização de mercados, das empresas e
do mundo, dada a banalização do termo no vocabulário empresarial de hoje.
Mas o verdadeiro entendimento do que é globalização e de como este fenômeno
mundial afeta as operações de uma empresa é fundamental não só para o seu
sucesso, como para a sua sobrevivência.
Por séculos a humanidade tem se ocupado de negócios que buscam
oportunidades além das fronteiras nacionais. Em tempos recentes, mais do que
nunca, os negócios e a vida das pessoas, em todo mundo, vem sendo afetada
por eventos de nível internacional.
Organizações que conduzem operações de negócios além das fronteiras
do país de origem são denominadas empresas internacionais ou corporações
multinacionais e mesmo transnacionais.
As empresas têm numerosas razões para efetivar negócios além-
fronteira. Uma das maiores vantagens talvez seja a de alcançar mais clientes e
consumidores para seus produtos e serviços, aumentando retornos sobre
investimentos e assim a lucratividade.
Outra forte razão seria ampliar garantias de suprimento de matérias
primas e outros fatores de produção para redução de custos.
Além da busca pelo crescimento e expansão de mercado, as empresas
potencialmente encontram outras razões vantajosas para iniciar, continuar e
expandir operações internacionais.
Segundo David (2005, p.27) algumas destas vantagens são:
1. Operações no exterior podem absorver excesso de capacidade,
reduzir custos unitários, e diluir riscos econômicos entre um
número mais amplo de mercados.
2. Operações no exterior podem permitir às empresas estabelecer
unidades produtivas em localizações próximas de matérias primas
e/ou mão de obra barata.
15
3. A concorrência em mercados estrangeiros pode ainda não
existir ou ser menos intensa do que nos mercados domésticos.
4. Em certos países, operações no exterior podem resultar em
tarifas reduzidas, tributos menores e tratamento político favorável.
5. Operações em parcerias (joint-ventures) podem capacitar as
empresas a aprenderem tecnologias, culturas e práticas de
negócios de outros povos e fazer contatos com potenciais
consumidores, fornecedores, financiadores e distribuidores em
países estrangeiros.
6. Muitos governos e países estrangeiros oferecem diversos
incentivos para encorajar investimentos externos em localizações
específicas.
7. Economias de escala podem ser mais facilmente atingidas em
operações globais do que apenas em mercados domésticos.
Produção em larga escala e melhor eficiência permitem maiores
volumes de venda e menores preços.
Estes aspectos positivos não eliminam a consideração de dificuldades e
riscos que resultam da falta de compreensão das peculiaridades dos diversos
ambientes a nível internacional, onde ocorrerão as operações.
David (2005, p.28) também enumera possíveis desvantagens:
1. Quando realizam negócios internacionalmente, as empresas
encontram forças sociais, culturais, demográficas, ambientais,
políticas, governamentais, legais, tecnológicas, econômicas e
competitivas, frequentemente pouco entendidas e diferentes das
suas. Essas forças podem dificultar a comunicação entre a
empresa matriz e suas subsidiárias.
2. As fraquezas de competidores em terras estrangeiras são
frequentemente superestimadas enquanto suas forças são
frequentemente subestimadas. [...]
3. Idioma, cultura e sistema de valores variam entre países, e isso
pode criar barreiras de comunicação e dificuldades em gerenciar
pessoas.
4. Desenvolver um entendimento sobre organizações regionais
como a Comunidade Econômica Européia, Associação Latino-
Americana de Integração (ALAI), Mercado Comum do Sul
16
(MERCOSUL), Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento, e Corporação Internacional Financeira é difícil
mas é frequentemente necessário para se fazer negócios no
exterior.
5. Lidar com dois ou mais sistemas monetários pode complicar as
operações de negócios internacionais.
6. A disponibilidade, profundidade, confiabilidade de informações
econômicas e de marketing em diferentes países variam
imensamente, como também as estruturas industriais, práticas de
negócios e o número e natureza das organizações regionais.
Mesmo as pequenas empresas que operam apenas em seu país de
origem, com matérias primas regionais, e investem somente no mercado
nacional, precisam estar alertas, pois seus competidores serão globais e
idealmente seus clientes também.
De acordo com Kanter (1995, p.227), “No futuro, o sucesso virá para
aquelas empresas, grandes e pequenas, que conseguirem alcançar padrões
globais e infiltrar redes globais... e virá para aquelas cidades, estados, e regiões
que conseguirem fazer o melhor trabalho de ligar as empresas que nelas
operam com a economia global.”
Este trabalho foi realizado a partir da seguinte questão: O que é
globalização e quais seus aspectos mais relevantes?
1.2 JUSTIFICATIVA
A procura de entendimento sobre as características e dinâmicas mais
expressivas do fenômeno que vem sendo designado por “globalização” é
suscitado pela importância que a dimensão internacional, cada vez mais, impõe
à continuidade dos negócios e sua expansão para destinos que abrangem o
mundo.
Em busca do aumento de eficiência, de eficácia e de efetividade, como
condição de crescimento, os esforços dos dirigentes de negócios se voltam para
17
a melhoria final da competitividade, segundo opções estratégicas, nas escolhas
de mercado que integram distâncias cada vez maiores.
A intensificação da concorrência a nível mundial está obrigando uma
mudança de conduta, que significa abertura para mercados externos. Muitas
empresas que antes só operavam nos mercados domésticos e sem qualquer
tradição internacional, hoje buscam um novo posicionamento empresarial
voltado para o mundo.
Seja a busca por crescimento de mercado, por maior competitividade, por
novas oportunidades de negócios, pela construção de parcerias estratégicas, ou
pela redução de riscos, as empresas hoje se encontram em um processo de
globalização.
Viana e Hortinha (2005) apontam que o processo de globalização se
baseia em mercados globais, onde consumidores de diferentes lugares do
mundo partilham as mesmas necessidades provocadas pela propagação de
meios de comunicação verdadeiramente globais, viabilizados pela revolução da
Internet, que em segundos permite estabelecer contato entre quaisquer pontos
da rede.
Buscar um entendimento sobre este processo a partir das contribuições
de autores de diferentes campos de estudo é a justificativa deste trabalho.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivos Gerais
É objetivo geral deste estudo compreender o processo de globalização
conforme descrito por autores selecionados.
1.3.2 Objetivos Específicos
São objetivos específicos deste trabalho:
a) Caracterizar aspectos da globalização econômica;
18
b) Caracterizar aspectos da globalização política;
c) Caracterizar aspectos da globalização social;
d) Caracterizar aspectos da globalização ambiental;
e) Caracterizar aspectos da globalização tecnológica;
f) Exemplificar conceitos do processo de globalização na experiência
real de empresa.
1.4 METODOLOGIA
Rodrigues (2007, p. 02) define metodologia científica como “um conjunto
de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência para formular e
resolver problemas de aquisição objetiva de conhecimento, de uma maneira
sistemática.”
Com respeito aos seus objetivos, a pesquisa científica pode ser
subdividida em exploratória, descritiva, ou explicativa.
A pesquisa exploratória proporciona uma maior familiaridade sobre o
tema, através de levantamento bibliográfico, entrevistas e estudos de caso. Já
na pesquisa descritiva, os fatos são observados, registrados, analisados,
classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador. Finalmente, na
pesquisa explicativa, o pesquisador identifica fatores determinantes para a
ocorrência de fenômenos. (GIL 2002; RODRIGUES, 2007).
Como descrito anteriormente, este trabalho tem por objetivo compreender
o que é globalização, através de pesquisa exploratória com base nas
contribuições de autores que se ocuparam em analisar o processo de
globalização que é vivenciado hoje.
Considerando os procedimentos técnicos usados, este trabalho é uma
pesquisa bibliográfica. Gil (2002) caracteriza a pesquisa bibliográfica como
aquela que utiliza material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos.
Os autores consultados mereceram a escolha, sobretudo, pelo respeito
que têm recebido nos países de origem, bem como nos meios editoriais e
19
acadêmicos voltados ao estudo de administração e, concentradamente, na área
de marketing, além de economia, notadamente, economia política.
A literatura investigada com freqüência favoreceu o uso de textos em
idioma estrangeiro, principalmente quando o levantamento bibliográfico remeteu
aos pioneiros do estudo da globalização como Robert Buzzell, Theodore Levitt, e
Peter Druker. Nestes casos, a tradução do inglês para o português foi realizada
pela autora.
Adicionalmente, foi realizada extensa entrevista semi-estruturada com o
empresário Carlos Alberto Marin, proprietário e Diretor Executivo da Weightech
Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda.,
empresa provedora de soluções de pesagem para o mercado de Original
Equipment Manufacturer (OEM).
De acordo com Boni e Quaresma (2005) a entrevista semi-estruturada
utiliza uma combinação de perguntas abertas e fechadas em um contexto
semelhante ao de uma conversa informal. Seguindo um roteiro de questões
previamente definidas, este tipo de entrevista permite delimitar o volume de
informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo a
fim de que os objetivos sejam alcançados.
De modo sucinto, quanto à abordagem uma pesquisa pode ser
classificada como quantitativa ou qualitativa.
A pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação,
tanto das modalidades de coleta de informações, quanto ao tratamento destas
através de técnicas estatísticas (REIS, 2008). Em outras palavras, ela traduz
em números as opiniões e informações a serem classificadas e analisadas, e o
faz através de técnicas estatísticas.
A pesquisa qualitativa, por sua vez, é descritiva. Nela as informações
obtidas não podem ser quantificadas e são analisadas indutivamente. Nesta
abordagem o pesquisador trabalha com descrições, comparações e
interpretações. (ZANELLA, 2007).
Na pesquisa qualitativa, como é o caso neste trabalho, a interpretação
dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas.
20
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Quadro 1
O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a globalização
Alexandre (356 a.C. – 323 a.C.), filho de Felipe da Macedônia, tornou-se rei aos 20
anos. Liderou os gregos na destruição do império persa de Dario.
“Que diferença uma pessoa pode fazer no mundo?
Quanto um indivíduo sozinho pode mudar a história?
Alexandre viveu num mundo em que a imagem do herói era onipresente e sempre
demonstrou o desejo de igualar-se às figuras da mitologia. Se, por um lado, ele desejava
sinceramente superar os heróis das lendas, é inegável que o poder do mito funcionava
como uma estratégia de dominação.
... a helenização do mundo antigo pode ser interpretada como a primeira
globalização da história.
Alexandre foi o primeiro a realizar um projeto de unificação dirigida, planificada,
deliberada. Com a fundação de cidades gregas por todo o Oriente, ele estabeleceu focos
de irradiação da cultura clássica.
... durante séculos, Alexandre foi adotado como modelo por vários governantes,
incluindo os imperadores romanos e monarcas medievais...” (Botelho, 2005, p.48-49).
“Filho de Felipe. Subiu ao trono com 20 anos. Sua personalidade..., seu espírito,
ilustrado e inventivo, sua fé numa ascendência divina, sua coragem heróica, as paixões
vividas de seu temperamento sem freios...
Reconhece-se nele a ‘ambição desmedida’ que fez com que o considerassem o
último, em data, dos ‘heróis’” (Larousse, 1962, tomo II, p. 761).
Fontes:
José F. Botelho, “Alexandre, do homem ao mito”. Super-Interessante, edição 209, janeiro 2005.
Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962.
Fonte: Gonçalves (2005, p. 41).
Há quem considere que a globalização não é algo novo ou recente na
história da humanidade. Em tempos de paz e mesmo em tempos de
colonização, povos de todo mundo trocavam suas mercadorias além das suas
fronteiras, na busca por uma maior gama de produtos, ainda que as transações
ocorressem num perímetro limitado pela capacidade de viagem com animais ou
barcos.
No auge da tecnologia marítima, no século XVI, viagens patrocinadas
pelas coroas Portuguesa, Espanhola e Holandesa, deram impulso a integração
mundial. Contudo, foi na segunda metade do século XIX, com o advento da
eletricidade, a invenção da locomotiva a vapor, a expansão das ferrovias e o
21
estabelecimento do padrão-ouro, que a globalização teve o seu primeiro grande
impulso.
É importante lembrar que esta primeira grande onda de comércio
internacional e integração financeira foi interrompida por uma fase de
protecionismo e nacionalismo agressivo, que levou à Grande Depressão dos
anos de 1930 e à Segunda Guerra Mundial (KÖHLER, 2003).
Mesmo depois de recuperar propulsão mundial após a Segunda Guerra, o
movimento de globalização como caracterizada hoje não se cimentou até uma
nova revolução tecnológica – a Internet, maior difusora de informação da história
do mundo.
De acordo com Druker (1998), estamos vivenciando a quarta revolução
da informação da história da humanidade:
A primeira revolução foi a invenção da escrita há 5.000 ou 6.000
anos atrás na Mesopotâmia; depois – independentemente, mas
milhares de anos mais tarde – na China; e alguns 1500 anos
depois, na Civilização Maia da América Central. A segunda
revolução foi a invenção do livro escrito, primeiro na China por
volta de 1.300 a.C.; e em seguida, independentemente e 800 anos
mais tarde, na Grécia (quando Peisistratos, o tirano de Atenas,
mandou transcrever para livros os poemas épicos de Homero –
que até então eram apenas recitados). A terceira revolução
aconteceu com a invenção da imprensa escrita e prensa móvel
entre 1450 e 1455, pela qual Guttenberg foi responsável, e pela
invenção contemporânea do processo de gravação de texto e
imagem. Na quarta revolução, o foco vai além da tecnologia, dos
equipamentos, das técnicas, dos softwares, e da velocidade com
que informação é trocada. Estes, fornecem a estrutura que
sustenta verdadeira revolução atual, centrada no uso da
informação, que questiona a utilidade e o significado dos dados
disponíveis.
Como difusora de informação, a Internet é uma tecnologia revolucionária
que eliminou as barreiras geográficas entre consumidores e fornecedores,
independentemente da distância entre eles.
22
2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS
Com o objetivo de facilitar a compreensão dos conteúdos que são
tratados neste trabalho, é formulada uma delimitação operacional de conceitos,
como a seguir exposta:
Acomodação gerencial – inércia em conseqüência da proteção contra a
concorrência, que amortece a eficiência gerencial da empresa.
Ação afirmativa – iniciativa de empresários e empregadores para incluir
minorias marginalizadas abrindo oportunidades de acesso à economia produtiva,
através de emprego, treinamento e remuneração.
Aliança estratégica – acordo de cooperação entre concorrentes para
ampliar sinergias em áreas delimitadas de interesse comum, para desenvolver
vantagem competitiva no mercado global.
Barreiras não tarifárias – obstáculos sem a forma de tarifas aduaneiras
(como normas e regulamentos) que põem em desvantagem competidores
estrangeiros.
Bens de capital – conjunto de máquinas e instalações em que a empresa
investe com recursos próprios ou obtidos no mercado de capitais.
Bens públicos – qualidade dos bens que incluem todos os indivíduos
como usuários potenciais; bens que têm a propriedade de consumo não rival ou
concorrente e a impossibilidade de excluir alguém do seu consumo.
Bens rivais – bens cujo consumo ou uso por uma pessoa exclui o
consumo por outra.
Blocos comerciais regionais – conjunto de países vizinhos que
concordam em eliminar barreiras, não só ao comércio, como ao fluxo de capital
e de trabalho.
Capital humano – estoque de qualificações e experiências que tornam
os trabalhadores capazes para produção de bens e serviços.
Comércio bilateral – transações e trocas entre duas partes, quer sejam
empresas ou países.
23
Comércio multilateral – transações e trocas envolvendo mais de duas
partes, quer sejam empresas ou países.
Concorrência – rivalidade ou disputa entre ofertantes de bens e serviços
por clientes ou consumidores; rivalidade ou disputa entre clientes ou
consumidores por bens e serviços em oferta no mercado.
Correlação – relação entre a alteração de uma variável e a alteração de
outra, sistematicamente associadas entre si.
Crescimento liderado pelas exportações – estratégia pela qual os
governos incentivam as exportações de produtos em que o país tem vantagem
comparativa, para promover o crescimento econômico.
Divisão do trabalho – separação do processo produtivo em etapas e
tarefas, concentrando-se cada trabalhador em um conjunto limitado de
atividades, de sorte a favorecer o aperfeiçoamento em certas habilidades e
competências específicas.
Economia de mercado – sistema produtivo de bens e serviços que aloca
recursos basicamente através da interação entre indivíduos (famílias) e
empresas privadas.
Empresa ou firma – unidade técnica que produz bens e serviços; pessoa
jurídica de direito privado (ou público) capaz de estabelecer operações
produtivas comerciais no mercado interno e/ou no mercado externo.
Escassez – disponibilidade limitada de recursos.
Estado nacional ou Estado nação – instituição que contém uma
sociedade politicamente organizada, com um governo que atua dentro de um
território demarcado e que se mantém unido por cultura, símbolos e valores
comuns.
Estratégia dominante – conjunto de ações e decisões que dão os
melhores resultados não importa o que façam outros parceiros intervenientes no
jogo.
Estrutura de mercado – organização da economia quanto à competição
entre os elementos constituintes da oferta e da procura, em que se identifica o
grau de competição.
24
Excesso de demanda – situação em que a quantidade procurada a um
dado preço de um produto excede à oferta.
Excesso de oferta – situação em que a quantidade ofertada a um dado
preço de um produto excede à demanda.
Exportações – bens produzidos internamente em um país, mas vendidos
no exterior.
Externalidade – fenômeno que ocorre quando um indivíduo ou empresa
tem uma atividade, mas não arca com todos os custos (externalidade negativa)
ou não recebe todos os benefícios (externalidade positiva).
Função de produção – relação entre os insumos usados na produção de
bens e serviços e o nível de produção obtido.
Ganho de capital – variação positiva do valor de um ativo entre o
momento da compra e o da venda.
Ganhos de comércio – os benefícios que cada parceiro obtém de uma
troca.
Globalização – estreitamento da integração entre os países do mundo,
especialmente maior nível de comércio e movimentos de capital decorrente da
redução dos custos de transporte e de comunicação (STIGLITZ; WALSH, 2003a,
p. 428).
Globalização econômica – ocorrência simultânea de expansão
extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais, o
acirramento da concorrência nos mercados mundiais e maior integração entre
sistemas econômicos nacionais (GONÇALVES, 2003, p. 21-22).
Hardware – parte física dos elementos constituintes de um computador,
especificamente unidade essencial de processamento, presente em
computadores e em qualquer utensílio que automatiza informações.
Importações – bens produzidos no exterior, mas comprados
internamente.
Imposto seletivo – tributo seletivo que recai sobre bens considerados
luxuosos, em geral consumidos mais do que proporcionalmente pelos indivíduos
e grupos mais ricos.
25
Incentivos – benefícios ou redução de custos, como tributos, que
motivam decisões em favor de uma escolha particular.
Indutores de globalização – condições do segmento que determinam o
potencial e a necessidade de competir com uma estrutura global; condições
críticas de qualquer segmento que afetam o potencial para globalização (YIP,
1996 p.15)
Informação – base da tomada de decisões que pode afetar a estrutura
do mercado e o uso eficiente dos recursos escassos de uma sociedade.
Internacionalização de produção – processo pelo qual residentes de
um país acessam bens e serviços com origem não residentes.
Internet – conglomerado de redes em escala mundial de milhões de
computadores interligados pelo TCP/IP (Protocolo de Controle de
Transmissão/Protocolo de Interconexão) que permite o acesso a informações e
todo tipo de transferência de dados. Ela carrega uma ampla variedade de
recursos e serviços, incluindo os documentos interligados por meio de
hiperligações da World Wide Web (Rede de Alcance Mundial), e a infra-estrutura
para suportar correio eletrônico e serviços como comunicação instantânea e
compartilhamento de arquivos.
Investimento financeiro – aplicações de dinheiro em ações, títulos de
dívida ou outros instrumentos financeiros que constituem fontes para bens de
capital.
Joint-Venture – acordo de parceria entre empresas, juridicamente
independentes, e em que é preservada a individualidade de cada qual, com o
objetivo de partilharem o risco do negócio, os investimentos, as
responsabilidades e os lucros associados a determinado projeto ou ação
estratégica essencial, de internacionalização ou de globalização.
Liquidez – facilidade com que um investimento pode ser convertido em
dinheiro vivo.
Livre comércio – ausência de barreiras legais, burocráticas, tarifárias ou
de quotas para transações comerciais entre países.
26
Mercado – local de encontro para a finalidade da permuta ou da compra
e venda (POLANYI, 1980, p. 71); onde oferta e demanda se encontram.
Nacionalidade – condição única e excludente pela qual o indivíduo
(pessoa, empresa, organização) se identifica pela origem em um território
determinado, sob jurisdição de um Estado soberano.
Nação – sociedade humana consciente de fazer parte de uma
comunidade que compartilha uma cultura e história em comum, em um território
claramente demarcado e que reclama o direito de se governar.
Negócio mundial – aquele que possui operações abrangentes e
significativas em mais de um continente, produzindo e vendendo em vários
países.
OEM – Original Equipment Manufacturer é uma modalidade diferenciada
de distribuição de produtos originais, na qual eles são vendidos a outras
empresas (chamadas de VAR ou Value-Added Reseller) que montam os
produtos finais (por exemplo, computadores) e os vendem ao consumidor final.
Privatização – processo pelo qual funções antes providas pelo Estado
são delegadas, cedidas ou transferidas ao setor privado da economia (pessoas
e firmas).
Propriedade intelectual – condição em que um conhecimento ou idéia é
reconhecido como pertencente à pessoa ou instituição como direito de
propriedade (em geral protegido por patentes e “copyright”).
Proteção da indústria nacional – medidas compensatórias e barreiras
de entrada à competição estrangeira, em geral quando são novas e até que
adquiram pela experiência a capacidade de competir em condições de
igualdade.
Quotas – quantidade de bens estrangeiros que se é permitido importar;
limites aos volumes de produção que se é permitido exportar.
Recursos naturais – natureza da base territorial de um país com
interesse para exploração econômica (clima, fertilidade e forma do solo,
reservas hidrominerais).
27
Royalty – taxa de rendimento cobrada por titular de uma patente de
invenção, criação ou extração para permitir que outro a use.
Sistema econômico internacional – espaço de encontro entre atores de
diferentes nacionalidades e atores transnacionais para interações econômicas.
Soberania do consumidor – idéia de que os indivíduos são os melhores
juízes a respeito do próprio interesse ou do que lhes proporciona mais bem
estar.
Software – Qualquer programa ou grupo de programas que instrui o
hardware sobre a maneira como ele deve executar uma tarefa, inclusive
sistemas operacionais, processadores de texto e programas de aplicação.
Tecnologia – conjunto de conhecimentos aplicados na forma de utilidade
para produção de bens e serviços.
Teoria – conjunto de hipóteses e conclusões que delas derivam,
apresentadas como explicação de algum fenômeno.
Transnacionalidade – condição da inserção econômica no mundo em
que há dispersão da atividade produtiva além das fronteiras do país de origem
para diversos outros países, deixando de haver uma referência nacional
predominante em termos de interesses e valores.
Vantagem absoluta – vantagem de um país sobre outro quando produz
um bem ou serviço de modo mais eficiente ou com menos insumos.
Vantagem comparativa – condição em que um país tem eficiência
relativamente mais favorável do que outra na produção de um bem ou serviço.
Vantagem competitiva – conceito de que o modo como a estratégia
escolhida e seguida pela organização pode determinar e sustentar o seu
sucesso competitivo (PORTER, 1989).
Vantagem competitiva global – condição favorável que decorre da
combinação de vantagem competitiva com vantagem comparativa.
Vantagem estratégica – condição favorável que decorre da estratégia do
negócio essencial da empresa.
28
2.3 REVISÃO DA LITERATURA
Globalização é tema de estudo em vasta literatura onde não faltam
controvérsias e contestações. O interesse sobre a crescente interdependência
entre países ao redor do mundo suscita a abordagem de globalização sob os
mais diversos enfoques, metodologias e conseqüentes conclusões, difíceis de
conciliar em presença de críticas ainda não superadas.
Em outras palavras, ainda falta consenso entre os estudiosos sobre o que
seja “globalização”, não existindo, pois, um conceito único e inquestionável para
explicá-lo.
Em certo sentido, “global” tem sido usado como sinônimo de “mundial” e
muitas vezes de “internacional” e até estendido para “universal”. Assim,
globalização se confunde com mundialização, internacionalização e
universalização.
Em sentido estrito, pode-se dizer que a confusão tem fundamento. De
acordo com o Dicionário Michaelis (2008), “global” significa considerado em
globo, por inteiro ou em conjunto; “mundial” significa que diz respeito ao mundo,
ao maior número de seus países; universal, geral; “internacional” significa
relativo às relações entre nações, que se faz entre nações, que se estabelece de
nação para nação, ou que reúne ou interessa a representantes de todas as
nações. Finalmente, de acordo com o mesmo dicionário, “universal” significa
geral, total, comum a todos, que abrange todas as coisas, que se estende a
tudo, que provém de todos, que é feito de todos, que tem caráter de
generalidade absoluta.
Além da confusão causada pelo uso intercambiável entre os termos
acima qualificados, outra razão para a dificuldade de consenso na abundante
literatura disponível sobre o tema, é que ela provém de diferentes disciplinas e
campos do conhecimento, cada qual focalizando aspectos que são vistos como
relevantes para a respectiva área de atuação.
Até os anos recentes, na maioria dos estudos, a ênfase está posta em
aspectos econômicos e tecnológicos da globalização.
29
Economistas se ocupam da internacionalização do comércio, das
finanças e da produção como sendo o fenômeno conhecido por “globalização da
economia mundial” (GREMAUD, 2004).
Em geral, os economistas têm destacado questões como fluxos de
capital, de bens e de serviços, inclusive questões monetárias e financeiras,
abordando ainda alianças regionais, distribuição de renda e emprego no país
sob estudo, em face das influências externas.
Sociólogos e cientistas políticos, e outros da área de ciências humanas,
estão preocupados com fragilidades sociais, o enfraquecimento e fracionamento
dos Estados Nacionais, a crise da cidadania e novos códigos de ética para o
século XXI (NAISBITT, 1994).
Para definir globalização, a discussão se amplia sobre os paradoxos da
substância econômica e política de mercados (PESQUEUX, 2010).
Geólogos e ambientalistas se preocupam com o esgotamento dos
recursos naturais, a destruição e desaparecimento de espécimes botânicos e
espécies animais, poluição e aquecimento do mundo, degelo das calotas
polares, como conseqüências adversas nas relações entre globalização e a vida
no planeta.
Os administradores vêm se ocupando da globalização dos mercados e
ampliando os estudos de marketing para novas fronteiras.
2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO
Na maioria das tentativas de conceituar globalização, os resultados vêm
embutidos em juízos de valor a respeito de como o mundo funciona e de como
deveria funcionar. Os aspectos descritivos vêm inextricavelmente ligados com o
prescritivo e o normativo (LEE, 2002).
A questão da globalização estaria intrinsecamente ligada aos movimentos
de capital, “commodities”, pessoas, imaginação e práticas culturais (BRAH;
HICKMAN; MAC AN GHAILL, 1999).
30
Uma discussão aparentemente inacabada é a respeito de quando teria
iniciado a globalização econômica, quando se teria intensificado, e se o
fenômeno é atual, sem precedentes, ou se já ocorreu no passado.
A Oxfam, uma instituição dedicada à luta contra a pobreza e a injustiça ao
redor do mundo, conceitua globalização como “um processo de rápida
integração econômica, impulsionada pela liberação do comércio, fluxos de
investimento e de capital, assim como pela rápida mudança tecnológica e a
revolução da informação” (OXFAM, 2000).
Rejeitando essa visão de globalização como integração rápida dos
mercados, Hirst e Thompson (2009) argumentam que “a atual economia
altamente internacionalizada não é sem precedentes na história, já que altos
níveis de comércio internacional ocorreram desde a segunda metade do século
XIX.”
Além disso, os fluxos de comércio, investimentos e capitais estariam
concentrados entre a Europa, Japão e Norte América, sendo raras as empresas
tipicamente transnacionais que operem em todo o mundo. Isto põe em
evidência que a globalização não acontece de modo homogêneo no mundo
todo.
O crescente número de pesquisadores e centros de pesquisa dedicados à
geração e disseminação do conhecimento sobre globalização e seus efeitos,
têm em comum a necessidade de serem considerados os impactos da
globalização descontrolada sobre a vida humana no mundo, fora e além do
espaço do mercado.
Outros autores reconhecem a continuidade da economia lastreada em
estados nacionais e o caminho desigual da mudança que está ocorrendo no
mundo.
Dicken (1998) aponta para o que chama de emergência de uma nova
geoeconomia mundial com estrutura qualitativamente diferente do passado, algo
que envolve tanto processos de internacionalização quanto de globalização.
Os processos de internacionalização conteriam a simples extensão das
atividades econômicas além das fronteiras nacionais. Nesse sentido, a
31
internacionalização seria uma mudança essencialmente quantitativa que está
levando a padrões geográficos mais intensos e mais extensos de atividade
econômica.
Em contraste, os processos de globalização envolveriam não apenas a
extensão geográfica da atividade econômica além das fronteiras nacionais, mas
também e mais importante ainda – a integração funcional de tais atividades
internacionalmente dispersas.
Assim, em sentido muito amplo, globalização poderia ser entendida como
processos, procedimentos, e tecnologias – econômicos, culturais e políticos –
que embasam a atual compressão de tempo/espaço e que gera um senso de
imediatismo e de simultaneidade no mundo.
O Fundo Monetário Internacional (IMF, 1997) define globalização como
sendo,
“a crescente interdependência econômica entre países do mundo,
através do aumento no volume e variedade de transações além
fronteira de bens e serviços, dos fluxos internacionais de capitais,
bem como da difusão acelerada e generalizada de tecnologia.”
Esta definição, conquanto seja bem aceita em círculos institucionais e
profissionais, apresenta três limitações do ponto de vista da Ciência da
Administração:
1. Ao configurar a interdependência global usando a categoria “países”, a
definição implicitamente excluí empresas, associações profissionais e
outras organizações internacionais que são agentes importantes no
processo;
2. Ao se concentrar no aumento do volume de transações e na difusão
de tecnologia, a definição ignora novos métodos impostos pela
abertura de fronteiras (cooperação entre empresas, a quebra e
reestruturação da cadeia de valores, relocação e terceirização);
3. Ao se limitar à interdependência entre países, a definição negligencia
a descompartimentação dos mercados nacionais.
32
Em resposta às limitações da definição de globalização proposta pelo
Fundo Monetário Internacional, Milliot (2005, p.43) interpreta o significado da
globalização de mercados como sendo, “uma movimentação que facilita a
coordenação e/ou a integração de operações industriais e de marketing além de
fronteiras nacionais, através da descompartimentação dos mercados e
ressaltando a interdependência de seus atores.”
Pieterse (2003) descreve globalização como um processo
multidimensional que, como todos os processos sociais significantes, desdobra-
se simultaneamente em múltiplas realidades da existência. Assim, haveria
tantos modos de globalização, quantos sejam os agentes globalizantes e as
dinâmicas ou impulsos.
Similarmente, Giddens (1990) refere a intensificação de relações sociais
ao redor do mundo de tal modo que acontecimentos locais são moldados por
eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa.
Deve-se, pois, pensar em globalização no plural – globalização
econômica, globalização política, globalização ambiental, globalização social,
globalização cultural, e assim por diante, processos que são múltiplos e
intimamente inter-relacionados.
2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO
Tão variadas quanto os conceitos de globalização, são as diferentes
óticas dos autores que as conceituam. Considerando a globalização como um
fenômeno abrangente e com impacto em múltiplas esferas existenciais, se faz
necessário visitar algumas destas dimensões crescentemente interconectadas.
Para os fins deste trabalho são destacados aspectos da globalização
econômica, política, social, ambiental e tecnológica.
Estas são apenas algumas das dimensões da globalização. Alguns
autores discutem ainda outras dimensões como a militar, a comunicacional, a
científica, a financeira, a religiosa, a interpessoal-afetiva, a populacional-
33
migratória, a esportiva, a epidemiológica e a criminal-policial (FERREIRA;
VIOLA, 1996).
2.5.1 Globalização Econômica
Muitos autores argumentam que o ponto de partida da globalização é o
processo de internacionalização da economia, ininterrupta desde a Segunda
Guerra Mundial. De acordo com Vieira (1998, p.76), entende-se por
internacionalização da economia mundial,
“um crescimento do comércio e do investimento internacional mais
rápido do que o da produção conjunta dos países, ampliando as
bases internacionais do capitalismo e unindo progressivamente o
conjunto do mundo num circuito único de reprodução das condições
humanas de existência.”
Dicken (1998) complementa que a economia mundial está sendo
transformada numa estrutura altamente complexa e caleidoscópica, envolvendo
a fragmentação de muitos processos produtivos e sua relocação, em escala
global, de tal modo que atravessam as fronteiras nacionais.
Em conseqüência, acredita-se que esteja ocorrendo algum tipo de
transição de industrialização para modernização ou mesmo “pós” modernização
tardia, uma fase às vezes chamada de pós-industrial ou economia pós-fordista.
Conforme Dicken (1998), os fatores de definição dessa nova ordem são
amplamente conhecidos através das seguintes características:
deslocamento de indústria pesada e de manufatura para maior
proteção de provisão de serviços;
crescimento de atividades econômicas envolvidas com geração,
processamento e disseminação de informação;
aprofundamento da integração econômica desde transações com
bens e serviços entre firmas independentes, até movimentos
internacionais de capital para estreita ligação na produção de bens e
serviços além das fronteiras nacionais;
34
uma tendência em produção e consumo no sentido de maiores
economias de escala, do nível sub-nacional e nacional para o regional
e o global;
maior grau de mobilidade de capital, bens e serviços e, em grau mais
limitado, seções selecionadas do mercado de trabalho.
Complementarmente, Naisbitt (1999) desenvolveu um conceito que ele
denomina “paradoxo global”, considerando que, quanto maior a economia
mundial, mais poderosos são seus protagonistas menores: “O estudo do
protagonista econômico menor, o empreendedor, se mesclará com o estudo de
como funciona a economia global.” Como o empreendedor é também o
protagonista mais importante da economia global, as grandes empresas estão
se descentralizando e reconstituindo a si mesmas, como redes de
empreendedores.
O princípio do paradoxo global decorre da observação de que mega-
empresas que promoveram a globalização, para se beneficiarem das economias
de escala, agora tiveram que se reestruturar como redes de pequenas unidades
de negócios ou redes de empreendedores, ou ainda como redes de unidades
autônomas.
Redução de tamanho, reengenharia, organizações em rede ou, mais
recentemente a empresa virtual, qualquer que seja a denominação, trata do
mesmo fenômeno: empresas grandes são obrigadas a desmantelar a
burocracia, reduzir número de níveis, agrupar competências em unidades
menores, para reduzir custos e poder sobreviver.
Ainda segundo Naisbitt (1999), a economia de escala está dando lugar à
economia de escopo que é encontrar a quantidade correta de sinergia,
flexibilidade diante do mercado e, sobretudo velocidade na tomada de decisão e
ação. O resultado buscado é a unidade menor e mais forte, como meio de
globalizar mais eficientemente as economias.
35
Resumindo, quanto maior e mais aberta a economia mundial, maior o
domínio das pequenas e médias empresas, exceto naqueles setores
intensamente exigentes de capital (como por exemplo, a indústria aeronáutica).
Numa compensação desse movimento, mais reforçando a autonomia das
unidades de negócio, verifica-se outra tendência para a constituição de alianças
estratégicas – acordos de cooperação em que são delimitados espaços de
integração de parte das atividades entre concorrentes. Alianças estratégicas
estão sendo criadas para um mundo de mercado unificado onde fica cada vez
mais difícil distinguir a nacionalidade de um produto ou de uma empresa.
Apesar de que a dimensão econômica possa impulsionar e até mesmo
dirigir processos de globalização, a esfera econômica é vista mais
frequentemente como parte de um amplo leque de mudanças complexas para a
sociedade humana como um todo.
2.5.2 Globalização Política
Nas discussões sobre a globalização dos negócios, resumidas na
expressão “pense globalmente, aja localmente”, Pesqueux (2010) denuncia o
antagonismo entre os valores do espaço geográfico dos mercados e os valores
contidos nos espaços das nações.
Afirma ele que, em verdade, a globalização apóia a assertiva de que o
espaço dos mercados deve se sobrepor ao das nações.
O impacto das atividades de corporações multinacionais faz o mercado
global parecer um espaço privativo, onde as normas que estas corporações
propõem (ou impõem) tendem a criar um verdadeiro modo de governo. Isto leva
a uma transposição de “local-geral”, que é apropriado para descrever atividades
de negócios, para o “específico-universal” que, é apropriado a uma
compreensão política das sociedades.
Isto põe em evidência a questão da dimensão política da globalização:
enquanto a dimensão econômica do fenômeno é suficientemente reconhecida,
36
as categorias que ajudariam a representar a dimensão política ainda estão
sendo formuladas.
De Senarclens (2001) assinala três aspectos da dimensão política:
1. A evolução do conteúdo e das práticas associadas com o interesse
nacional (“raison d’état”), considerando a ampliação da esfera internacional,
rumo a uma forma de soberania que é limitada pelo reconhecimento da
expansão do comércio internacional – expansão que é percebida como o bem
comum “superior – tal qual o desenvolvimento de entes políticos além do Estado
(por exemplo, a União Européia).
2. A capacidade de Estados e instituições internacionais lidarem com
estes desenvolvimentos políticos, considerando, em particular, a vontade política
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico destinada a
promover uma economia capitalista, firmada no comércio de bens e serviços, e
fluxos financeiros. Esta vontade se assenta em ações políticas de liberação do
comércio e criação de áreas comerciais, baseadas em questões de integração
econômica e, mais marginalmente, em questões políticas e sociais.
3. O desenvolvimento de estruturas conceituais a respeito de meio
ambiente, saúde e segurança (como por exemplo, o “direito de interferência”
humanitária ou mesmo política, contra ditadores) e a atenção dada a agentes
não governamentais cujas reivindicações têm sido favorecidas.
Vieira (1998, p. 120) ousa propor que, como o Estado soberano já não é a
melhor instância para a tomada de decisões em escala planetária torna-se
imperiosa a necessidade de regulação em termos mundiais – uma
governabilidade global para enfrentar os desafios impostos à humanidade e ao
planeta.
Como Miotti e Sachwald (2006) enfatizam, a internacionalização dos
mercados já não é mais conduzida por países mais desenvolvidos, mas por
grandes companhias, que se tornam uma força propulsora dos processos desde
2000. Suas estratégias de desenvolvimento, que geralmente ignoram fronteiras
políticas, mais do que nunca estão rompendo hábitos de consumo, métodos de
organização do trabalho e tendências políticas de estados nacionais.
37
Apesar da marcante impressão causada por Levitt (1983), com suas
análises sobre a globalização dos mercados, ainda está longe de acontecer a
padronização da maioria dos bens de consumo que ele previu. De fato, em
reação à globalização, um número crescente de consumidores parece querer
retornar aos produtos tradicionais, estabelecidos na cultura de seu país. Num
mundo que evolui rapidamente e nem sempre oferece pontos de referência
estáveis, estes produtos oferecem sensação de segurança às pessoas e lhes
permitem manter certa identidade.
As forças contraditórias emergem de uma rede complexa de diferentes
idéias interagindo para criar numerosos paradoxos. Estes paradoxos afetam,
em particular e em diferentes graus, o funcionamento das empresas e seus
métodos de desenvolvimento.
Parece haver um crescente sentimento de atração – repulsão em relação
a produtos conhecidos como “produtos globais” (BRIARD, 2007). Consumidores
claramente manifestam desejo de serem cidadãos do mundo – cosmopolitas –
mas rejeitam qualquer mudança em suas particularidades locais. Gostariam de
viver numa sociedade que está aberta para o mundo, mas rejeitam a idéia de um
ambiente sem profundidade e sem raízes. Esta demanda ambivalente desafia
as companhias que tem sido vistas como os principais vetores da globalização.
2.5.3 Globalização Social
Céticos sobre globalização sustentam que os processos de mudança no
trabalho vão muito além da esfera econômica e incluem outros amplos
processos sociais.
Durante o século XX, a economia global passou por um processo de
reestruturação que levou inúmeros países em desenvolvimento à fome, e
grandes parcelas da população ao empobrecimento.
De acordo com Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à
Alimentação, “mais de dois milhões de pessoas morrem de fome a cada dia,
mais do que pela malária, a AIDS e a tuberculose juntas” (EFE, 2005).
38
A globalização da pobreza ocorre em época de notável progresso
tecnológico nas áreas de engenharia de produção e de biotecnologia.
Chossudovsky (1999) afirma que pela primeira vez na história da
humanidade, a agricultura mundial tem capacidade de satisfazer as
necessidades alimentares de todo o planeta. A fome hoje não resulta da falta de
alimentos, mas sim de interesses industriais e financeiros que estão em
crescente conflito com os interesses da sociedade civil.
Naisbitt (1999) reporta o retorno do que foi denominado “tribalismo” no
sentido de crença na fidelidade ao próprio grupo, definido pela etnia, pelo
idioma, pela cultura, pela religião, ou pela profissão. O tribalismo é distinto do
conceito de nacionalismo, pelo qual o Estado-nação de cada um é mais
importante do que princípios internacionais ou considerações pessoais.
Naisbitt (1999) afirma que o desejo de equilibrar o tribal e o universal
sempre existiu entre os povos, mas, agora a democracia e a revolução das
telecomunicações (que dissemina a idéia de democracia e a torna premente)
alçaram essa necessidade de equilíbrio a um novo patamar.
Uma forma de tribalismo moderno são as tribos virtuais ou eletrônicas,
conjunto de pessoas interagindo em razão de interesses comuns,
compartilhados através de correios eletrônicos. A eletrônica estimula a
constituição de tribos ao mesmo tempo em que globaliza. Com a nova ênfase
no tribal, em um mundo cada vez mais global, o mantra da Nova Era “pense
globalmente, aja localmente” vira de ponta cabeça. Agora é “pense localmente,
aja globalmente”, propõe Naisbitt (1999).
O atual padrão mundial de acumulação e desenvolvimento, assentado no
domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, reduz a oferta de
empregos produtivos e reforça as tendências de exclusão social.
A competição global recompensa aquele que é mais apto e eficiente, o
que se reflete no mercado de trabalho. Como resultado, ocorre uma
transferência espacial de investimentos para mercados emergentes, onde a
mão-de-obra é mais barata. Além disso, o uso de tecnologias que dispensam
39
trabalho em países industrializados, devido aos altos custos salariais e à
concorrência, gera desemprego e limitação de imigrações (VIEIRA, 1998).
Cabe a cada comunidade desenvolver a sua população produtiva, de
modo a manter competitividade no mercado de trabalho global.
Kanter (2000) argumenta que comunidades (cidades, estados, países)
podem estabelecer elos com empresas globais ao investirem e se
especializarem em capacidades que conectam suas populações locais com a
economia global, como pensadores, executores ou comerciantes:
Os pensadores se especializam em conceitos. Tais lugares atraem
pesquisadores, estudiosos e indivíduos dotados de suprema criatividade em
solucionar problemas, e concentram estes talentos em empresas do
conhecimento. A vantagem competitiva destes centros é a capacidade de
oferecerem inovação contínua, dominando a criatividade tecnológica do mundo.
Os executores se destacam por oferecerem habilidades superiores de
produção e por possuírem a infra-estrutura necessária para manter produção de
alta qualidade a baixo custo. Estes são centros de excelência em manufatura.
Finalmente, os comerciantes se especializam em estabelecer conexões
comerciais, desde a negociação de acordos à logística do transporte de
mercadorias e serviços além das suas fronteiras.
Ao se especializarem em uma competência central essas comunidades
voltam a se inserir no mercado de trabalho global. Atualmente, Florianópolis se
destaca como polo tecnológico. Seguindo a classificação proposta por Kanter,
Florianópolis é hoje um centro de pensadores e ao se tornar conhecida como tal,
a cidade passa a atrair novos talentos e novos negócios.
2.5.4 Globalização Ambiental
De todas as distintas esferas da globalização, nenhuma carrega o
sentimento de globalidade como a ambiental. Por certo, a tangibilidade que o
meio ambiente oferece quando comparado às demais, facilita este entendimento
40
– o planeta forma um todo frágil, onde todos os seres vivos são solidariamente
interdependentes.
Historicamente, o crescimento populacional, a urbanização acelerada, a
produção industrial e agrícola, as queimadas e desmatamento de florestas, a
extração de minérios, a contaminação das águas e do ar, a perda da
biodiversidade ameaça a sobrevivência da vida no planeta.
Alguns desequilíbrios ecológicos provocados pelas atividades
econômicas podem ser percebidos imediatamente como no caso da
desertificação, da erosão, ou da crise urbana. Acidentes tecnológicos como
vazamentos de petróleo, vazamentos químicos ou nucleares, são ainda mais
imediatos. Outros, porém, só serão percebidos com o tempo. É o caso do efeito
estufa, da destruição da camada de ozônio, e do esgotamento da diversidade
biológica (VIEIRA, 1998).
Isso não significa que seja preciso escolher entre meio ambiente ou
desenvolvimento. Significa sim, escolher novas formas de desenvolvimento que
se preocupem com o meio ambiente.
Empresas verdes, ecologicamente corretas, ou também chamadas de
sustentáveis, buscam a preservação do que é exaurível e a renovação do que
pode ser cultivado ou reposto, como no caso do cultivo de pescados, de
repovoamento de rios e florestas, ou a simples redução na produção de
resíduos.
Cabe aos consumidores exigir tal política das empresas e governos, bem
como assumir a responsabilidade de educar as gerações futuras para defesa e
uso racional do meio ambiente.
41
Quadro 2
Um Revolucionário Improvável
Em uma entrevista para a Business Ethics, em 1992, Richard J. Mahoney,
presidente da Monsanto, conclamou à ação que evidencia uma mudança profunda na
forma como os líderes empresariais vêem a sua intendência do planeta:
“O nosso compromisso é alcançar um desenvolvimento sustentável daqueles
aspectos do ambiente sobre os quais exercemos um impacto. O nosso compromisso é
obter um desenvolvimento sustentável que beneficie as pessoas tanto das nações
desenvolvidas como das menos desenvolvidas.”
Entretanto, ele insistiu que não basta apenas “despoluir” o planeta:
“As empresas precisam retificar o passado e proporcionar a tecnologia necessária
para servir os habitantes do futuro sem deixar para trás um bagunça.”
Fonte:
Executives of the World Unite. Business Ethics Set/Out 1992.
Fonte: NAISBITT (1999, p.184)
2.5.5 Globalização Tecnológica
Juntamente com o desenvolvimento de microprocessadores, a Internet é
a inovação tecnológica mais significativa das últimas décadas, e desempenha
um papel crucial no crescimento da globalização.
Numa evolução sem precedentes, a tecnologia se desenvolve em um
ritmo de crescente aceleração, com cada tecnologia nova capitalizando a
velocidade e as capacidades daquelas que a precederam.
A união da infra-estrutura necessária estabelecida pela Internet, com o
desenvolvimento acelerado da indústria de hardware e software, com melhores
computadores e conexões à rede, promoveram o estágio avançado das
telecomunicações que se presencia hoje.
A Internet permitiu o desenvolvimento de um meio de comunicação
instantâneo e mais barato, e eliminou completamente as barreiras geográficas,
aproximando fornecedores e consumidores, independentemente da distância
entre eles – aumentando a competitividade das partes a um nível global.
Além disso, o desenvolvimento da Internet propiciou a propagação de
informação sem censura ou barreiras, e a expansão do comércio eletrônico.
42
De acordo com Naisbitt (1999), as telecomunicações são a força
propulsora que está, simultaneamente, criando a gigantesca economia global e
tornando as suas partes menores e mais poderosas.
O autor também argumenta que “assim como estamos progredindo
globalmente para um mercado econômico unificado, nas telecomunicações
estamos progredindo para uma teia mundial única de redes de informações
onde tudo estará interligado [o tempo todo] a todo o restante” (NAISBITT, 1999,
p. 96).
A crescente conectividade, propiciada pela Internet, oferece à
comunidade global hoje o meio e o modo da comunicação do futuro.
Quadro 3
Tecnologia da Informação e a Nova Economia
A característica que talvez defina a nova economia é o papel das tecnologias de
informação. Essas novas tecnologias permitem a coleta, a análise e a transmissão de
vastas quantidades de informação – em maior escala do que qualquer um podia imaginar
há apenas dez anos. As novas tecnologias sem dúvida vão melhorar o fluxo de
informação em todos os mercados, inclusive mercados de produtos. Alguns sugeriram que
elas vão eliminar completamente a necessidade de intermediários como varejistas e
atacadistas. Em lugar disso, os consumidores poderão lidar diretamente com os
produtores. Essas interpretações são extremamente exageradas.
Certamente, em alguns mercados, as tecnologias da informação vão diminuir o papel
dos intermediários. Muitos consumidores já estão comprando computadores, seguro,
livros e passagens aéreas pela Internet. A Internet fará uma diferença enorme na
disseminação de preços para produtos homogêneos – determinado tipo de trigo, ou aço,
ou um novo Buick com direção elétrica, assentos de couro, etc. Mas as escolhas mais
difíceis muitas vezes envolvem diferença de qualidade e de características. De fato, a
maior parte dos varejistas entende sua função como a de procurar entre os produtores e
julgar a qualidade dos bens produzidos por diferentes manufaturas. Os varejistas que
estabelecem uma reputação, o conseguem na base da qualidade que eles oferecem
dentro de uma certa faixa de preços. Boa parte da informação relevante sobre qualidade e
características não pode ser facilmente transmitida pela Internet, de modo que o
consumidor precisa de acesso direto ao produto. Por exemplo, sem de fato sentar no
assento do motorista, como pode o comprador de um carro avaliar sua sensação dos
controles do carro? O mesmo se pode dizer de vários outros produtos. Assim, não só é
pouco provável que a tecnologia da informação tornará obsoletos os intermediários, mas
pode até ser que vá torná-los ainda mais competitivos e eficientes. Eles poderão varrer o
planeta em busca de melhores preços, checar os produtores para ter certeza de que são
confiáveis e de que o produto é de boa qualidade, e assim ajudar a criar um mercado
verdadeiramente global.
Fonte: STIGLITZ; WALSH (2003b, p.246)
43
3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO
A Teoria Tradicional se baseia no método de Descartes, pelo qual
através do questionamento e da dúvida, fica estabelecido que algo só é
considerado verdadeiro se puder ser comprovado (“penso, logo existo”). A
Teoria Crítica, iniciada por Horkheimer, argumenta que não basta analisar um
fenômeno e provar a sua existência, é preciso interpretá-lo para que possa ser
entendido (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006).
A Teoria Crítica procura unir a teoria e a prática. Os cientistas que
compartilham o diversificado campo da produção teórica incluída na teoria crítica
têm como traço de união, o compromisso com a emancipação do ser humano.
Em intenção, mantém uma preocupação de analisar as causas e prescrever
soluções contra todas as formas de dominação, exploração e injustiça. Ou
conforme Hoffman (1987, p. 233):
“A teoria crítica delineia a visão de que a humanidade tem outras
potencialidades além das que se manifestam na realidade concreta
da sociedade atual. A teoria crítica, portanto, procura não apenas
reproduzir a sociedade através da descrição, mas compreendê-la e
mudá-la. É ao mesmo tempo, descritiva e construtiva em suas
intenções teóricas; é ao mesmo tempo, um ato intelectual e social.
Não é meramente expressão das realidades concretas da situação
histórica, mas também uma força para a mudança dentro destas
condições.”
A Teoria Crítica contribui para o estudo da globalização oferecendo uma
estrutura normativa diferenciada, pois, apesar de estar imersa nas
complexidades e problemas do mundo em que vivemos, ela se recusa a abrir
mão da imaginação moral e política necessárias para avançar nas possibilidades
de transformação social e política da era global (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006).
Dentro desta estrutura, Held e McGrew (2002) definem globalização como
uma crescente interconexão mundial, levando em consideração uma
transformação na organização social humana que liga comunidades
44
geograficamente distantes e expande o alcance das relações de poder nas
principais regiões e continentes do mundo.
Assim, de acordo com Cochrane e Pain (2000), a globalização passa a
ser vista através de quatro conceitos:
há uma extensão dos relacionamentos sociais, de modo que eventos
e processos ocorridos em uma parte do globo têm impacto significativo em
outros lugares do mundo;
há uma intensificação de fluxos por todo o mundo, com uma
intensidade maior nos fluxos social, cultural, econômico e político;
há um maior aprofundamento da integração mundial, na medida em
que a extensão dos relacionamentos sociais aumenta, também aumenta o
aprofundamento de práticas sociais e econômicas, fazendo com que culturas
distantes se encontrem face a face;
cria-se uma infra-estrutura global, formada pelos acordos
institucionais, formais e informais, essenciais para o funcionamento de redes
globais.
Estes conceitos embasam três filosofias de globalização, a globalista, a
tradicionalista e a transformacionalista (COCHRANE; PAIN, 2000).
Para os globalistas, a globalização é vista como um processo social
contemporâneo vital e inescapável. Economias, políticas e culturas nacionais se
tornam, cada vez mais, partes de redes de fluxos globais. Globalistas podem
ser otimistas ou pessimistas, conforme a maneira como encaram o processo de
globalização. Os otimistas vislumbram a possibilidade de melhoria nos padrões
de vida, a difusão da democracia, e uma maior tolerância entre nações. Já os
pessimistas vêem a globalização como ameaçadora e destruidora, servindo
apenas a interesses políticos e econômicos restritos e com tendência a criar
homogeneidade, migração, violência e desigualdade.
Os tradicionalistas são profundamente céticos a respeito da globalização.
Alguns se recusam a admitir sequer a existência da globalização. Apóiam-se no
argumento que em termos econômicos, o que existe hoje é uma regionalização
ou interconexão entre estados geograficamente vizinhos. Com freqüência,
45
esses teóricos alegam que nações-estado e economias nacionais continuam a
ser de suma importância e negam que cultura seja global em qualquer sentido
pertinente.
Finalmente os transformacionalistas buscam um meio termo entre os
globalistas e os tradicionalistas. Para estes, a globalização não é algo
completamente novo ou uma irreconhecível era de transformação em direção a
economias, culturas e políticas globais. Mas também não alegam que nada
esteja acontecendo. O que os transformacionalistas defendem é que as
mudanças nas dimensões culturais, econômicas e políticas existem, são
complexas, e não evoluem na mesma velocidade.
O perfil dos três grupos é resumido no quadro abaixo.
Quadro 4
Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transformacionalistas
Globalistas
Existe hoje uma economia global completamente desenvolvida, que superou formas
passadas da economia internacional.
Esta economia global é impulsionada por forças de mercado incontroláveis que resultam
em redes multinacionais de interdependência e integração sem precedentes.
Fronteiras nacionais desapareceram e a categoria da economia nacional agora é
redundante.
Todos os agentes econômicos precisam ser competitivos internacionalmente.
Esta posição é defendida por neoliberalistas econômicos, mas condenada por
neomarxistas.
Tradicionalistas
A economia internacional não progrediu ao estágio de uma economia global na extensão
alegada pelos globalistas.
Economias nacionais distintas permanecem como uma categoria saliente.
Ainda é possível organizar cooperação entre autoridades nacionais para desafiar forças
de mercado, administrar economias domésticas e governar a economia internacional.
A preservação de direitos a benefícios sociais, por exemplo, ainda pode ser assegurada
no nível nacional.
Transformacionalistas
Novas formas de interdependência e integração intensa estão varrendo o sistema
econômico internacional.
Estas colocam limitações adicionais no modo como políticas econômicas são
desenvolvidas.
Elas também dificultam a formação de política pública internacional para governar e
administrar o sistema.
Esta posição vê a presente era como mais um passo num longo processo evolutivo, em
que economias locais e nacionais fechadas se desintegram e passam a formar
sociedades cosmopolitas mais interdependentes e integradas.
Fonte: Held (2000, p. 90).
46
4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE
NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL
Após investigar os conceitos teóricos sobre globalização, houve interesse
em conferir na prática da realidade empresarial catarinense um exemplo que
ilustrasse as assertivas dos autores referidos no trabalho.
Mais precisamente, buscou-se conhecer o modo como uma empresa, a
partir de Florianópolis, vem operando com sucesso no mercado globalizado.
Pelo critério da acessibilidade, a escolha recaiu em uma unidade de
negócios do setor tecnológico, cujo empreendedor principal, Engenheiro Carlos
Alberto Marin, natural de São Paulo, se dispôs a relatar a história das iniciativas,
estratégias e cuidados na perseguição de resultados, que dependem de
cooperação com parceiros dispersos pelo mundo.
4.1 APRESENTAÇÃO
A Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de
Pesagem Ltda. foi fundada na cidade de São Paulo em 2 de setembro de 1986,
para prestar serviços de venda, assistência técnica, calibragem e aluguel de
balanças, bem como o desenvolvimento de sistemas de pesagem.
Em julho de 2001 aprovou projeto para se estabelecer na incubadora de
empresas de tecnologia do Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias
Avançadas (CELTA), em Florianópolis, para onde mudou a sede da empresa,
além dos objetivos sociais que passaram a ser “comercialização, importação e
exportação de equipamentos de pesagem” (WEIGHTECH, 2012).
Em outubro de 2001 firmou parceria comercial com a empresa alemã
Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM) para distribuir, revender e atuar como
agente exclusivo de vendas HBM no Brasil, na divisão de equipamentos de
pesagem.
Sendo a HBM referência mundial em equipamentos e tecnologia, a
Weightech reforçou sua posição como uma das mais respeitadas empresas de
47
tecnologia em pesagem, oferecendo serviços e produtos de primeira linha e
soluções completas para sistemas de pesagem e automação a indústrias,
agronegócios e outros.
Em maio de 2005 a Weightech obteve junto ao INMETRO – Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia a aprovação de modelo do
primeiro equipamento de pesagem com a marca Weightech e, ainda em
dezembro do mesmo ano, a aprovação para modelo do primeiro equipamento
desenvolvido sob medida e com exclusividade de fornecimento para um cliente
específico.
Ainda em 2005, obteve junto à Secretaria da Fazendo do Estado de
Santa Catarina autorização para operar em sistema de “Trader”. Habilitada
assim, a importar qualquer tipo de mercadoria por conta e ordem de terceiros,
abriu mais um nicho de oportunidade de negócios que vieram otimizar as
atividades de importação da empresa.
Dois anos depois, a Weightech contabilizava 24 portarias de aprovação
junto ao INMETRO, o que a colocou entre as 10 empresas brasileiras mais
destacadas na área de tecnologia de pesagem.
4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO
Especificadamente, podem ser encontradas conexões entre a experiência
da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de
Pesagem Ltda., e o estudo teórico deste trabalho, através da exemplificação dos
conceitos a seguir destacados:
A movimentação de pessoas, capital, imaginação e práticas culturais
pelo mundo, a serviço do negócio (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999).
A integração econômica ao redor do mundo, estimulada pela rápida
mudança tecnológica e a revolução da informação (OXFAM, 2000).
A emergência de uma nova geoeconomia mundial, que envolve tanto
processos de internacionalização quanto de globalização e a integração
funcional de tais atividades (DICKEN, 1998).
48
A crescente interdependência econômica entre países e o mundo e a
difusão acelerada e generalizada de tecnologia (IMF, 1997).
Uma movimentação que facilita a coordenação e integração de
operações industriais ou de marketing além das fronteiras nacionais (IMF, 1997).
Os processos, procedimentos e tecnologias – econômicos, culturais e
políticos – que geram compressão de tempo e espaço, um senso de imediatismo
e de simultaneidade no mundo, a partir da instantaneidade das
telecomunicações (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999).
O novo padrão mundial de acumulação e desenvolvimento econômico
assentado no domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, que
requalifica a oferta de emprego e reforça as tendências de exclusão social
(CHOSSUDOVSKY, 1999).
O mundo econômico transformado em uma estrutura altamente
complexa, envolvendo fragmentação em muitos processos de produção e sua
relocação em escala global, que encurta caminhos através das fronteiras
nacionais (DICKEN, 1998).
A transição de uma fase industrial para a modernização ou pós-
modernização ou modernização tardia, por vezes chamada de pós-industrial,
caracterizada por deslocamento do foco na indústria pesada para maior
proporção de serviços, em especial os ligados à geração, processamento e
disseminação da informação (DICKEN, 1998).
O fato de a competição global recompensar os mais aptos e mais
eficientes em produzir bens e serviços com qualidade, velocidade e baixo custo
(VIEIRA, 1998).
A possibilidade de ligar populações locais com a economia global,
através da capacitação, em categorias, como pensadores, executores ou
comerciantes, concentrando talentos em empresas de conhecimento, de modo a
oferecer inovação contínua e dominar a criatividade tecnológica do mundo para
solucionar problemas (KANTER, 2000).
49
O paradoxo global pelo qual, quanto maior e mais aberta a economia
mundial, mais poderosos são os seus protagonistas menores – os
empreendedores (NAISBITT, 1999).
A redução das unidades de negócio, para tamanhos cada vez
menores, como meio de globalizar mais eficientemente as economias. As
tendências apontam para a prevalência das micro, pequenas e médias
empresas, ou grandes empresas que se redefiniram como redes de
empreendedores (NAISBITT, 1999).
A interdependência entre todas as sociedades, implicando em
extensão dos relacionamentos sociais; eventos e processos ocorridos em uma
parte do globo têm impacto em outras partes ou no mundo todo (HELD;
MCGREW, 2002).
Uma complexa infra-estrutura, tecida por acordos institucionais,
formais e informais, alicerçando o funcionamento de redes sociais globais
(COCHRANE; PAIN, 2000)
4.3 ENTREVISTA
A entrevista realizada em 02 de fevereiro de 2012, com o Engenheiro
Carlos Alberto Marin, Diretor Executivo da Weightech Comércio, Importação e
Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., é relatada a seguir.
O que significa Weightech?
O nome resulta da combinação, aliás, síntese do nome inglês para
peso/pesagem e da primeira sílaba, ou forma reduzida e abreviada para
designar, também em inglês, o conceito de tecnologia. Com matriz em
Florianópolis, polo tecnológico de Santa Catarina, e filial na capital de São
Paulo, a localização é estratégica para a Weightech atender a todo o território
brasileiro com extrema agilidade logística.
50
O que faz a Weightech?
Precisamente, a Weightech é um provedor de soluções completas em
pesagem, para empresas que fabricam balanças eletrônicas e outras diversas
máquinas que incorporam uma balança entre seus elementos constituintes. É o
caso, por exemplo, das máquinas de empacotamento, onde as unidades dos
pacotes são definidas e graduadas pelo peso do conteúdo, ou sistemas de
engarrafamento onde o enchimento das garrafas também é regulado
automaticamente para quantidades programadas.
A Weightech não lida com os usuários finais dos produtos que o seu
produto vai integrar. A Weightech existe para os fabricantes que produzem em
série, com auxílio dos produtos Weightech, os mais diversos bens e serviços
destinados a alguns tipos de consumidor final ou usuário.
O que levou à escolha de um segmento de mercado tão
especializado?
Como filho de empresário que atuava no setor de pesagem, vendendo
balanças e serviços de assistência técnica e outros associados, como
calibragem, manutenção e aluguel, aprendi em família a operação deste
negócio. Trabalhando desde cedo na empresa da família pude acompanhar, de
perto, a evolução da tecnologia pela qual instrumentos de natureza mecânica,
ou analógicos, rapidamente mudaram para instrumentos eletrônicos.
Qual a principal diferença funcional entre as duas tecnologias?
A simplificação e a velocidade de operação, combinadas com precisão.
Pela maior integração entre os componentes dos instrumentos de pesagem,
poucos módulos passaram a ser exigidos para se construir uma balança. Antes,
havia um módulo estrutural, um módulo mecânico, um módulo eletrônico e uma
célula de carga – ou seja, um transdutor que transformava a grandeza da
força/peso em grandeza elétrica. Na célula de carga reside o essencial da nova
tecnologia, o princípio do funcionamento da balança eletrônica.
51
Onde a Weightech adquiria as células de pesagem?
Ao final dos anos 80 e ao longo de toda a década de 90 podia-se recorrer
a fornecedores dentro do Brasil. Entretanto havia uma grande dificuldade em
lidar com fornecedores locais, estando na posição de empresa consumidora de
células de carga, pela descontinuidade de padrões de qualidade, incerteza em
cumprimento de prazos e irregularidade de suprimentos.
Na impossibilidade de continuar dependentes das incertezas desses
fornecedores optou-se pela erradicação desta dificuldade invertendo os polos da
relação. A conduta da Weightech foi deixar de ser compradora e passar a ser
fornecedora de células de carga. De usuários passamos a fornecedores de
células de carga, hoje principal produto da empresa.
Como era então o setor de pesagem no Brasil?
O mercado era dominado por uma só empresa, que existe ainda hoje e
que detinha o monopólio de 90% do total do setor. Era uma situação muito
desequilibrada. Um monopólio tão forte que contrariava a natureza de uma
verdadeira economia de mercado.
Como era a comunicação internacional na Weightech?
Quando casei em 1996, com uma catarinense, passamos a lua-de-mel
nos Estados Unidos. Em matéria de comunicação no exterior vivi uma
experiência frustrante – eu pensava que falava inglês e descobri na prática que
era deficiente no domínio dessa língua. Isto dá uma idéia das limitações para a
comunicação internacional.
A primeira atitude positiva ao retornar de viagem, foi começar um bom
curso de inglês. Eu comprometia 10% da minha renda com isso. Com o inglês
aprendido, foi preenchido um requisito mínimo para a comunicação
internacional. Com o progressivo domínio do inglês, ainda trabalhando na
empresa da família, foi-me atribuída a responsabilidade de desenvolver
parcerias estratégicas com fornecedores. Com este trabalho, estabeleci
52
alianças de cooperação com fornecedores de equipamentos na Finlândia e
Estados Unidos, onde encontrei uma empresa fornecedora de células de carga.
Qual o efeito desta descoberta?
A partir de então a Weightech passou a ser consumidora de células
importadas. Mas as críticas e dificuldades persistiram devido ao decurso de
tempo entre o ato de fazer um pedido e dispor do produto importado na mão.
Tornou-se imperativo encontrar uma solução mais ágil e que também tivesse
continuidade.
Numa dessas críticas feitas a um fornecedor, o próprio criticado sugeriu
que a Weightech passasse a suprir a carência detectada. Aceito este desafio, o
próximo passo foi a preparação de um cuidadoso plano de negócios, que
resultou na vinda para Florianópolis.
Por que Florianópolis?
Ao nível pessoal, sempre houve o sonho de vir pra cá.
Coincidentemente, a adaptação de minha esposa em São Paulo foi muito ruim.
Percebemos que a nossa vida lá não daria certo.
A aprovação do projeto para a instalação na incubadora tecnológica da
Universidade Federal de Santa Catarina, no Centro Empresarial para Laboração
de Tecnologias Avançadas (CELTA), abriu caminho para a mudança da vida
pessoal e para a transferência da sede da empresa para Florianópolis.
O tempo e os resultados obtidos provaram o acerto da decisão de vir para
a Capital do Estado de Santa Catarina, que se converteu em centro de
convergência de pesquisadores, pensadores e criadores de soluções em
diversas tecnologias, um verdadeiro polo de informática.
Quais as principais ligações da Weightech com o exterior?
Uma condição excepcional para o desenvolvimento da Weightech foi
merecer a escolha como representante exclusiva, para o Brasil, da empresa
alemã Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM), referência mundial em
53
equipamentos e tecnologia, e líder nesse mercado, com operações em todo o
mundo.
Tratando-se de produtos tipo “premium”, portanto de altíssima qualidade,
a representação da HBM se somou, ao longo do tempo, às parcerias negociadas
com outros fornecedores, que permitiram compor um portfólio de soluções
completas para o mercado de pesagem.
Que outras ligações a Weightech conquistou?
A busca por novas parcerias coincidiu com o advento da Internet. Ainda
no tempo em que as conexões eram feitas por “modem” via linha telefônica,
foram eliminadas barreiras da língua e das comunicações, abrindo ilimitadas
conexões para a Weightech com o mundo interno e externo.
De um lado, foram descobertos fornecedores no exterior, cujos produtos
tinham mercado no Brasil. Empresas de porte pequeno, semelhante ao da
Weightech, que estavam dispostas e aptas a fazer negócios. Negócios não da
ordem de milhões, mas de 10 a 20 mil dólares por embarque.
De outro lado, a abertura do Brasil para o mundo vem se consolidando,
desde a implantação do SISCOMEX, Sistema de Gerenciamento de Comércio
Exterior, do Governo Brasileiro, um sistema totalmente informatizado, moderno e
avançado, que reduziu dramaticamente a burocracia, o tempo exigido e
conseqüentemente os custos para quem se dedica ao comércio exterior. Esta
simplificação de procedimentos para atividades de importação e exportação
eliminou a obrigação de contratar intermediários para importar e/ou exportar,
que oneravam o processo e o inviabilizavam para as pequenas empresas.
Importante notar um fato especial e interessante correlacionado: as
telecomunicações viabilizaram às pequenas empresas e à Weightech iniciarem
operações em comércio exterior justamente para atender a uma demanda
reprimida, dentro do mercado interno, onde simplesmente não havia qualquer
produto similar nacional. Através da Internet a Weightech passou a ser vista por
novos fornecedores e clientes potenciais e também pôde enxergar
oportunidades antes inalcançáveis.
54
De que modo a experiência acumulada em família contribuiu para a
Weightech?
O trabalho na empresa familiar pavimentou a minha formação
profissional, meu “background” e “expertise” no setor. Os anos de
relacionamento positivo com fornecedores de quem fomos cliente, e que
posteriormente passaram a ser nossos clientes, favoreceram a prospecção de
oportunidades de negócio a serem supridas pela Weightech.
Um exemplo enriquecedor ocorreu na transição da tecnologia de
equipamentos analógicos para eletrônicos. Pude observar que algumas
empresas, presentes por muito tempo no mercado – empresas de boa fé e boa
reputação, fabricantes de bons produtos – detinham excelência superior em
engenharia mecânica, mas reduzida “expertise” em eletrônica. Em resumo, toda
a trajetória de sucesso da empresa era baseada numa tecnologia então
ultrapassada.
Nessa desvantagem foi percebida uma oportunidade para a Weightech:
tornar-se um provedor de soluções para a carência de conhecimentos sobre
engenharia eletrônica. Como resultado, foram construídas boas parcerias,
baseadas no conceito de ser a Weightech um provedor de soluções globais.
Isto significa continuamente investigar qual tecnologia está sendo usada na
América do Norte, na Europa ou na Ásia, como um trabalho que a Weightech se
propõe a fazer.
É extremamente importante que os clientes no Brasil vejam a Weightech
como uma empresa conectada aos mercados globais, de tal modo que, se existir
alguma tecnologia diferente, em qualquer lugar no mundo, a Weightech possa
trazer essa tecnologia para o Brasil.
Como está a estrutura organizacional da Weightech?
Em 2010, houve uma estruturação da empresa, onde foram delegadas
para outras pessoas as atribuições operacionais antes concentradas na diretoria
executiva. Isso tornou a minha presença um pouco mais dispensável no
55
cotidiano dos negócios, liberando-me para viagens, trabalho de campo com
clientes, visitação a feiras, identificação de oportunidades, contato com
fornecedores para desenvolvimento de novos produtos e relacionamentos
estratégicos. Em termos de significado para o futuro, meu trabalho principal é
prospectar negócios e desenvolver relacionamentos estratégicos com
fornecedores e clientes.
Dos vinte funcionários da empresa, treze trabalham em Florianópolis,
respondendo pelos departamentos de administração, finanças, logística e
estoque. Também há um setor de produção, onde produtos projetados e
manufaturados pela Weightech, através de módulos terceirizados, são
integrados aqui. Os demais funcionários trabalham na filial de São Paulo e são
responsáveis pelos departamentos comercial, de marketing e de suporte técnico
aos clientes. Na equipe predominam técnicos e engenheiros confirmando o
caráter tecnológico da empresa, que lida internacionalmente com conhecimento
aplicado a solução de problemas.
Como é a ligação da Weightech com os clientes?
O relacionamento da Weightech com clientes tem duas particularidades:
primeiro a repetição de pedidos em períodos irregulares – alguns clientes
compram uma vez por mês, outros semanalmente, outros todos os dias; e,
segundo, a falta de um bom planejamento de aquisições por parte destes
clientes.
Pouquíssimos fornecem uma previsão de consumo precisa – para tais
clientes a empresa reserva uma parte exclusiva do estoque, garantindo-lhes o
suprimento planejado. Para todos os outros, cabe a Weightech analisar
estimativas de demanda, de modo a estar apta a atendê-los. Isto é feito por
meios alternativos, estudando o mercado de atuação de cada cliente e levando
em consideração flutuações tais como sazonalidade e outras condições
conjunturais. O importante é manter o cliente confiante na Weightech como a
melhor opção de fornecedor de componentes para os produtos que ele fabrica.
56
Como a imprevisão dos clientes afeta a Weightech?
Apesar de toda velocidade de comunicação que temos hoje, a logística
envolvida no processo de importação consome em média cento e vinte dias.
Isto porque, por uma questão de custo, continuamos a depender do modal de
transporte marítimo. O transporte aéreo só cabe para produtos com uma
relação peso/valor diferenciado, onde há alto valor agregado para pouco
volume/peso. De outro modo o custo é proibitivo.
Considerando as estimativas de demanda de clientes, a Weightech
mantém um estoque para cinco meses de venda, evitando o risco de não dispor
de produto para entrega. O que gera para a empresa uma imobilização de
recursos financeiros em estoques, com risco permanente de obsolescência
tecnológica e da variação cambial.
E o serviço pós-venda?
É dada a maior importância ao serviço pós-venda. Na transação de
venda é indispensável oferecer produtos de qualidade, a preços justos; na pós-
venda são necessários os melhores serviços de assistência técnica para
manutenção. O que mantém o elo com o cliente, porém, é a capacidade da
Weightech para ajudá-lo a alavancar mais negócios e gerar mais lucros. Isto só
acontecerá se a empresa conseguir resolver tecnicamente o problema por um
preço tal que gere lucro e/ou uma vantagem técnica no produto final.
Onde estão os clientes da Weightech?
O mercado nacional de usuários de equipamentos de pesagem está em
franca expansão. Os fabricantes destes equipamentos, que por sua vez são os
clientes da Weightech, estão concentrados, no sul e sudeste do Brasil. Como
resultado, apesar de a empresa atender clientes no país todo, 90% das receitas
procedem dos quatro estados do extremo sul. Neste sentido, Florianópolis está
estrategicamente situada no meio dos grandes mercados da Weightech.
57
Como a Weightech vê a concorrência?
Desde que a Weightech entrou no mercado, surgiram alguns
competidores nacionais tentando fazer o mesmo que a empresa faz. Das três
concorrentes que tentaram copiar o modelo da empresa, uma foi mal sucedida e
duas outras operam até hoje em escala muito menor. Atualmente, nenhuma
outra oferece um portfólio tão amplo de soluções, ou alcança a estrutura de
vendas, de atendimento, ou de estoques comparável ao da Weightech. Em
2008, uma pressão maior da concorrência obrigou a uma redução da margem
de lucro, que foi parcialmente sacrificada em troca da confirmação de posição no
mercado, com manutenção do espaço conquistado, seguida de expansão.
Mas a visão de concorrência da Weightech vai além do concorrente local.
Dentro de uma perspectiva global, a empresa se preocupa não apenas com o
concorrente que está no mesmo bairro, na mesma cidade, no mesmo estado ou
no mesmo país. A empresa está ciente de que a visão de concorrência hoje é
muito mais ampla e do tamanho do mundo.
Isto significa que, como fornecedora, a Weightech precisa estar informada
acerca de mudanças que afetem o negócio próprio e o de seus clientes.
Grandes empresas têm equipes e uma estrutura estabelecida para cuidar disso,
as demais não. A Weightech foi idealizada como ponte entre o cliente, o
fabricante e as soluções para os seus problemas, onde quer que eles estejam.
O segmento de tecnologia, principalmente em eletrônica, tem tido
evolução vertiginosa e surpreendente. Nada é definitivo: uma solução para um
problema, que parece excelente depois de demoradas buscas, pode ser
ultrapassada por uma inesperada invenção que traz em si solução mais eficaz e
mais barata. Contra eficiência maior a menor custo, o que era novo fica
obsoleto. A busca pela excelência em padrões mundiais é permanente e sem
trégua. A Weightech se mantém competitiva desenvolvendo as competências
próprias em antecipar tendências para trazê-las até o cliente, agregando valor
aos seus processos e produtos.
58
Como avalia os últimos dez anos da Weightech?
Nos últimos dez anos de operação a Weightech pode usufruir de uma
série de condições favoráveis, derivadas da evolução da tecnologia, do
aperfeiçoamento das telecomunicações, da expansão do comércio exterior, do
tratamento diferenciado recebido do governo através de incentivos fiscais e da
simplificação dos procedimentos de importação e exportação para o Brasil.
Foi exigido muito trabalho para provar que não estávamos no mercado
para viver uma aventura, mas sim para construir uma empresa capaz de
oferecer soluções tecnológicas avançadas para os seus clientes, mantendo-os
competitivos num mercado global.
Quais as perspectivas para o futuro da Weightech?
A Weightech é ponte entre a origem do conhecimento, aplicado ao
processo de pesagem e os usuários desse conhecimento, no setor produtivo,
tendo como clientes diretos os fabricantes de equipamentos e como clientes
indiretos os usuários dos produtos finais. Está comprometida em permanecer na
liderança dentro do Brasil, como provedora de soluções para esses fabricantes,
contribuindo para manter suas vantagens competitivas no novo mercado global.
Em anos recentes o Brasil tem sido visto como uma economia propícia a
expansão dos negócios nesta área. Fornecedores de outros países com
economia deprimida pela crise financeira internacional, como os Estados
Unidos, vêem no Brasil um novo mercado de destino de seus produtos e
serviços, ao ponto de se disporem a comprometer a margem de lucro, como
condição para competir aqui. A Weightech está atenta e compartilha a opinião
de que, não obstante as muitas turbulências, o Brasil está destinado a se tornar
um protagonista de peso na economia global do século XXI, já colocado entre as
dez maiores economias do mundo. É mantendo o cliente Weightech competitivo
aqui e no mundo, que a empresa se manterá próspera.
59
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA
PESQUISAS FUTURAS
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho relata um estudo sobre o processo de globalização na
internacionalização dos negócios. Como estudo qualitativo de natureza
exploratória, nele predominaram procedimentos técnicos de pesquisa
bibliográfica, ou seja, partiu-se de conteúdos elaborados por autores
reconhecidos, publicados em livros e artigos científicos.
O objetivo geral de compreender o processo de globalização foi
alcançado ao longo do processo de busca dos conteúdos coletados, analisados
e descritos ao longo do trabalho.
Em complemento aos conhecimentos teóricos, buscou-se contato com a
experiência concreta de uma empresa de tecnologia, que a partir de
Florianópolis, está operando a internacionalização dos negócios em ambiente
globalizado. Foi realizada entrevista semi-estruturada com o Diretor Executivo
da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de
Pesagem Ltda., empresa de tecnologia, inserida no segmento de pesagem, e
diretamente relacionada com parceiros dispersos no mercado global.
A fundamentação teórica a respeito de globalização realçou a idéia geral
de um processo social complexo, ainda em curso e em ritmo acelerado, nas
últimas décadas, em todo o mundo. Embora praticamente cada autor tenha uma
definição própria de globalização, conforme os fins a que se propõe, ou segundo
o campo profissional a que pertence, algumas convergências permitem sintetizar
uma aproximação de conceito geral nestes termos:
“Globalização é o estreitamento da integração entre países do
mundo, especialmente em maior nível de comércio e movimentos
de capital, decorrente da redução de custos de transporte e de
comunicação.” (STIGLITZ; WALSH, 2003a)
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TCC Revisado

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE CIËNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS FLORIANÓPOLIS 2012
  • 2. 2 ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciências da Administração do Centro Sócio-Econômico da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para conclusão do Processo de Reconhecimento do Diploma de Bacharel em Administração. Área de Concentração: Administração Geral FLORIANÓPOLIS 2012
  • 3. 3 ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado, atendendo os requisitos parciais para obtenção do título de Bacharel em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 15 de fevereiro de 2012. Banca Examinadora
  • 4. 4 ARMONICI, Adriana. Aspectos da Globalização na Internacionalização de Negócios. 2012. 68 p. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Administração. Centro Sócio-Econômico. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2012.
  • 5. 5 “A globalização permite alcançar o mundo como nunca foi feito antes e permite ao mundo que alcance a cada um de nós como jamais aconteceu.” (Thomas Friedman)
  • 6. 6 DEDICATÓRIA A minha mãe Crenilde, fonte inesgotável de amor, força, sabedoria, apoio e inspiração. E ao meu marido Carlo e filhas Isabella e Giuliana, razão do meu viver e minha maior alegria.
  • 7. 7 AGRADECIMENTOS Ao Professor MSc. João Nilo Linhares, pelo cuidado com que acolheu o meu pedido de validação, pela Universidade Federal de Santa Catarina, de diploma de Graduação em Administração obtido junto à New York University. Ao Professor Dr. Luiz Salgado Klaes, que me orientou para equacionar todas as exigências e requisitos documentais e tornar o processo mais completo. Ao Professor Dr. Irineu Manoel de Souza, pela preciosa orientação e por ter resgatado, em análise criteriosa, a equivalência entre currículos, metodologias e créditos obtidos no exterior, em complementação aos obtidos nesta universidade. Ao Professor Dr. Gilberto de Oliveira Moritz, admirado Chefe do Departamento de Ciências da Administração, pela extraordinária habilidade em conduzir equipes e criar resultados. Às secretárias do Centro de Ciências da Administração Lindamir Bosse Brinhosa e Rosângela T. Emerim Moreira, e à estagiária Helena de Freitas Ferreira, por personificarem as melhores qualidades como seres humanos e como servidoras da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao amigo e empresário Carlos Alberto Marin pela disponibilidade em compartilhar a história de sucesso da Weightech, uma empresa catarinense de perspectiva verdadeiramente global.
  • 8. 8 RESUMO Este é um estudo sobre globalização na internacionalização dos negócios. O trabalho parte de conceitos, emitidos por autores de diversos campos do conhecimento e publicados em livros e artigos científicos, para sintetizar aspectos relevantes do fenômeno. Globalização é tratada como processo complexo, multifacetado e ainda em curso, composto por outros processos interdependentes e intrinsecamente relacionados entre si. Aspectos relevantes desses processos são descritos para caracterizar as dimensões econômica, política, social, ambiental e tecnológica da existência humana em todo o mundo. Alguns conceitos teóricos do trabalho são resumidos e exemplificados, no relato da experiência de internacionalização de negócios, de uma empresa de tecnologia, provedora de soluções em sistemas de pesagem, operando em mercado globalizado. Palavras-chave: Globalização. Integração Econômica. Interdependência Social. Internacionalização de Negócios. Alianças Estratégicas. Empresas transnacionais. Mercados Globais.
  • 9. 9 ABSTRACT This is a study about globalization in the internationalization of business. The study summarizes relevant aspects of the phenomenon, based on concepts developed by authors from various fields of knowledge and published in books and scientific papers. Globalization is treated as a complex, multifaceted, and ongoing process, composed by many other interdependent and inextricably related processes. Relevant aspects of these processes are described in order to characterize the economic, political, social, environmental and technological dimensions of human existence around the world. Some of the theoretical concepts studied are summarized and exemplified in the internationalization experience of a technology company that operates as a weight systems solutions provider in the global market. Keywords: Globalization. Economic Integration. Social Interdependency. Business Internationalization. Strategic Alliances. Transnational Organizations. Global Markets.
  • 10. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALAI – Associação Latino-Americana de Integração MERCOSUL – Mercado Comum do Sul OEM – Original Equipment Manufacturer (Fabricante de Equipamento Original) OXFAM – Oxfam International – Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de Oxford de Combate à Fome) FMI – Fundo Monetário Internacional ONU – Organização das Nações Unidas AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CELTA – Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas HBM – Hottinger Baldwin Messetechnik INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia SISCOMEX – Sistema de Gerenciamento de Comércio Exterior do Governo Brasileiro
  • 11. 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a globalização.......20 Quadro 2 – Um Revolucionário Improvável.........................................................41 Quadro 3 – Tecnologia da Informação e a Nova Economia................................42 Quadro 4 – Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transformacionalistas........46
  • 12. 12 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14 1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO............................................................... 14 1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 16 1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................... 17 1.3.1 Objetivos Gerais......................................................................................... 17 1.3.2 Objetivos Específicos............................................................................... 17 1.4 METODOLOGIA.................................................................................................. 18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 20 2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................... 20 2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS ....................................... 22 2.3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 28 2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO......................................................... 29 2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO ................................................................... 32 2.5.1 Globalização Econômica ......................................................................... 33 2.5.2 Globalização Política ................................................................................ 35 2.5.3 Globalização Social................................................................................... 37 2.5.4 Globalização Ambiental ........................................................................... 39 2.5.5 Globalização Tecnológica ....................................................................... 41 3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO....................................................... 43 4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL...................................................................... 46 4.1 APRESENTAÇÃO............................................................................................... 46 4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO.......................... 47 4.3 ENTREVISTA....................................................................................................... 49 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS............................................................................................... 59 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 59 5.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS ....................................................................................................................................... 62
  • 14. 1. INTRODUÇÃO 1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO Pode parecer retórico falar na globalização de mercados, das empresas e do mundo, dada a banalização do termo no vocabulário empresarial de hoje. Mas o verdadeiro entendimento do que é globalização e de como este fenômeno mundial afeta as operações de uma empresa é fundamental não só para o seu sucesso, como para a sua sobrevivência. Por séculos a humanidade tem se ocupado de negócios que buscam oportunidades além das fronteiras nacionais. Em tempos recentes, mais do que nunca, os negócios e a vida das pessoas, em todo mundo, vem sendo afetada por eventos de nível internacional. Organizações que conduzem operações de negócios além das fronteiras do país de origem são denominadas empresas internacionais ou corporações multinacionais e mesmo transnacionais. As empresas têm numerosas razões para efetivar negócios além- fronteira. Uma das maiores vantagens talvez seja a de alcançar mais clientes e consumidores para seus produtos e serviços, aumentando retornos sobre investimentos e assim a lucratividade. Outra forte razão seria ampliar garantias de suprimento de matérias primas e outros fatores de produção para redução de custos. Além da busca pelo crescimento e expansão de mercado, as empresas potencialmente encontram outras razões vantajosas para iniciar, continuar e expandir operações internacionais. Segundo David (2005, p.27) algumas destas vantagens são: 1. Operações no exterior podem absorver excesso de capacidade, reduzir custos unitários, e diluir riscos econômicos entre um número mais amplo de mercados. 2. Operações no exterior podem permitir às empresas estabelecer unidades produtivas em localizações próximas de matérias primas e/ou mão de obra barata.
  • 15. 15 3. A concorrência em mercados estrangeiros pode ainda não existir ou ser menos intensa do que nos mercados domésticos. 4. Em certos países, operações no exterior podem resultar em tarifas reduzidas, tributos menores e tratamento político favorável. 5. Operações em parcerias (joint-ventures) podem capacitar as empresas a aprenderem tecnologias, culturas e práticas de negócios de outros povos e fazer contatos com potenciais consumidores, fornecedores, financiadores e distribuidores em países estrangeiros. 6. Muitos governos e países estrangeiros oferecem diversos incentivos para encorajar investimentos externos em localizações específicas. 7. Economias de escala podem ser mais facilmente atingidas em operações globais do que apenas em mercados domésticos. Produção em larga escala e melhor eficiência permitem maiores volumes de venda e menores preços. Estes aspectos positivos não eliminam a consideração de dificuldades e riscos que resultam da falta de compreensão das peculiaridades dos diversos ambientes a nível internacional, onde ocorrerão as operações. David (2005, p.28) também enumera possíveis desvantagens: 1. Quando realizam negócios internacionalmente, as empresas encontram forças sociais, culturais, demográficas, ambientais, políticas, governamentais, legais, tecnológicas, econômicas e competitivas, frequentemente pouco entendidas e diferentes das suas. Essas forças podem dificultar a comunicação entre a empresa matriz e suas subsidiárias. 2. As fraquezas de competidores em terras estrangeiras são frequentemente superestimadas enquanto suas forças são frequentemente subestimadas. [...] 3. Idioma, cultura e sistema de valores variam entre países, e isso pode criar barreiras de comunicação e dificuldades em gerenciar pessoas. 4. Desenvolver um entendimento sobre organizações regionais como a Comunidade Econômica Européia, Associação Latino- Americana de Integração (ALAI), Mercado Comum do Sul
  • 16. 16 (MERCOSUL), Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, e Corporação Internacional Financeira é difícil mas é frequentemente necessário para se fazer negócios no exterior. 5. Lidar com dois ou mais sistemas monetários pode complicar as operações de negócios internacionais. 6. A disponibilidade, profundidade, confiabilidade de informações econômicas e de marketing em diferentes países variam imensamente, como também as estruturas industriais, práticas de negócios e o número e natureza das organizações regionais. Mesmo as pequenas empresas que operam apenas em seu país de origem, com matérias primas regionais, e investem somente no mercado nacional, precisam estar alertas, pois seus competidores serão globais e idealmente seus clientes também. De acordo com Kanter (1995, p.227), “No futuro, o sucesso virá para aquelas empresas, grandes e pequenas, que conseguirem alcançar padrões globais e infiltrar redes globais... e virá para aquelas cidades, estados, e regiões que conseguirem fazer o melhor trabalho de ligar as empresas que nelas operam com a economia global.” Este trabalho foi realizado a partir da seguinte questão: O que é globalização e quais seus aspectos mais relevantes? 1.2 JUSTIFICATIVA A procura de entendimento sobre as características e dinâmicas mais expressivas do fenômeno que vem sendo designado por “globalização” é suscitado pela importância que a dimensão internacional, cada vez mais, impõe à continuidade dos negócios e sua expansão para destinos que abrangem o mundo. Em busca do aumento de eficiência, de eficácia e de efetividade, como condição de crescimento, os esforços dos dirigentes de negócios se voltam para
  • 17. 17 a melhoria final da competitividade, segundo opções estratégicas, nas escolhas de mercado que integram distâncias cada vez maiores. A intensificação da concorrência a nível mundial está obrigando uma mudança de conduta, que significa abertura para mercados externos. Muitas empresas que antes só operavam nos mercados domésticos e sem qualquer tradição internacional, hoje buscam um novo posicionamento empresarial voltado para o mundo. Seja a busca por crescimento de mercado, por maior competitividade, por novas oportunidades de negócios, pela construção de parcerias estratégicas, ou pela redução de riscos, as empresas hoje se encontram em um processo de globalização. Viana e Hortinha (2005) apontam que o processo de globalização se baseia em mercados globais, onde consumidores de diferentes lugares do mundo partilham as mesmas necessidades provocadas pela propagação de meios de comunicação verdadeiramente globais, viabilizados pela revolução da Internet, que em segundos permite estabelecer contato entre quaisquer pontos da rede. Buscar um entendimento sobre este processo a partir das contribuições de autores de diferentes campos de estudo é a justificativa deste trabalho. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivos Gerais É objetivo geral deste estudo compreender o processo de globalização conforme descrito por autores selecionados. 1.3.2 Objetivos Específicos São objetivos específicos deste trabalho: a) Caracterizar aspectos da globalização econômica;
  • 18. 18 b) Caracterizar aspectos da globalização política; c) Caracterizar aspectos da globalização social; d) Caracterizar aspectos da globalização ambiental; e) Caracterizar aspectos da globalização tecnológica; f) Exemplificar conceitos do processo de globalização na experiência real de empresa. 1.4 METODOLOGIA Rodrigues (2007, p. 02) define metodologia científica como “um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência para formular e resolver problemas de aquisição objetiva de conhecimento, de uma maneira sistemática.” Com respeito aos seus objetivos, a pesquisa científica pode ser subdividida em exploratória, descritiva, ou explicativa. A pesquisa exploratória proporciona uma maior familiaridade sobre o tema, através de levantamento bibliográfico, entrevistas e estudos de caso. Já na pesquisa descritiva, os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador. Finalmente, na pesquisa explicativa, o pesquisador identifica fatores determinantes para a ocorrência de fenômenos. (GIL 2002; RODRIGUES, 2007). Como descrito anteriormente, este trabalho tem por objetivo compreender o que é globalização, através de pesquisa exploratória com base nas contribuições de autores que se ocuparam em analisar o processo de globalização que é vivenciado hoje. Considerando os procedimentos técnicos usados, este trabalho é uma pesquisa bibliográfica. Gil (2002) caracteriza a pesquisa bibliográfica como aquela que utiliza material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Os autores consultados mereceram a escolha, sobretudo, pelo respeito que têm recebido nos países de origem, bem como nos meios editoriais e
  • 19. 19 acadêmicos voltados ao estudo de administração e, concentradamente, na área de marketing, além de economia, notadamente, economia política. A literatura investigada com freqüência favoreceu o uso de textos em idioma estrangeiro, principalmente quando o levantamento bibliográfico remeteu aos pioneiros do estudo da globalização como Robert Buzzell, Theodore Levitt, e Peter Druker. Nestes casos, a tradução do inglês para o português foi realizada pela autora. Adicionalmente, foi realizada extensa entrevista semi-estruturada com o empresário Carlos Alberto Marin, proprietário e Diretor Executivo da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., empresa provedora de soluções de pesagem para o mercado de Original Equipment Manufacturer (OEM). De acordo com Boni e Quaresma (2005) a entrevista semi-estruturada utiliza uma combinação de perguntas abertas e fechadas em um contexto semelhante ao de uma conversa informal. Seguindo um roteiro de questões previamente definidas, este tipo de entrevista permite delimitar o volume de informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados. De modo sucinto, quanto à abordagem uma pesquisa pode ser classificada como quantitativa ou qualitativa. A pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto das modalidades de coleta de informações, quanto ao tratamento destas através de técnicas estatísticas (REIS, 2008). Em outras palavras, ela traduz em números as opiniões e informações a serem classificadas e analisadas, e o faz através de técnicas estatísticas. A pesquisa qualitativa, por sua vez, é descritiva. Nela as informações obtidas não podem ser quantificadas e são analisadas indutivamente. Nesta abordagem o pesquisador trabalha com descrições, comparações e interpretações. (ZANELLA, 2007). Na pesquisa qualitativa, como é o caso neste trabalho, a interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas.
  • 20. 20 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS Quadro 1 O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a globalização Alexandre (356 a.C. – 323 a.C.), filho de Felipe da Macedônia, tornou-se rei aos 20 anos. Liderou os gregos na destruição do império persa de Dario. “Que diferença uma pessoa pode fazer no mundo? Quanto um indivíduo sozinho pode mudar a história? Alexandre viveu num mundo em que a imagem do herói era onipresente e sempre demonstrou o desejo de igualar-se às figuras da mitologia. Se, por um lado, ele desejava sinceramente superar os heróis das lendas, é inegável que o poder do mito funcionava como uma estratégia de dominação. ... a helenização do mundo antigo pode ser interpretada como a primeira globalização da história. Alexandre foi o primeiro a realizar um projeto de unificação dirigida, planificada, deliberada. Com a fundação de cidades gregas por todo o Oriente, ele estabeleceu focos de irradiação da cultura clássica. ... durante séculos, Alexandre foi adotado como modelo por vários governantes, incluindo os imperadores romanos e monarcas medievais...” (Botelho, 2005, p.48-49). “Filho de Felipe. Subiu ao trono com 20 anos. Sua personalidade..., seu espírito, ilustrado e inventivo, sua fé numa ascendência divina, sua coragem heróica, as paixões vividas de seu temperamento sem freios... Reconhece-se nele a ‘ambição desmedida’ que fez com que o considerassem o último, em data, dos ‘heróis’” (Larousse, 1962, tomo II, p. 761). Fontes: José F. Botelho, “Alexandre, do homem ao mito”. Super-Interessante, edição 209, janeiro 2005. Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962. Fonte: Gonçalves (2005, p. 41). Há quem considere que a globalização não é algo novo ou recente na história da humanidade. Em tempos de paz e mesmo em tempos de colonização, povos de todo mundo trocavam suas mercadorias além das suas fronteiras, na busca por uma maior gama de produtos, ainda que as transações ocorressem num perímetro limitado pela capacidade de viagem com animais ou barcos. No auge da tecnologia marítima, no século XVI, viagens patrocinadas pelas coroas Portuguesa, Espanhola e Holandesa, deram impulso a integração mundial. Contudo, foi na segunda metade do século XIX, com o advento da eletricidade, a invenção da locomotiva a vapor, a expansão das ferrovias e o
  • 21. 21 estabelecimento do padrão-ouro, que a globalização teve o seu primeiro grande impulso. É importante lembrar que esta primeira grande onda de comércio internacional e integração financeira foi interrompida por uma fase de protecionismo e nacionalismo agressivo, que levou à Grande Depressão dos anos de 1930 e à Segunda Guerra Mundial (KÖHLER, 2003). Mesmo depois de recuperar propulsão mundial após a Segunda Guerra, o movimento de globalização como caracterizada hoje não se cimentou até uma nova revolução tecnológica – a Internet, maior difusora de informação da história do mundo. De acordo com Druker (1998), estamos vivenciando a quarta revolução da informação da história da humanidade: A primeira revolução foi a invenção da escrita há 5.000 ou 6.000 anos atrás na Mesopotâmia; depois – independentemente, mas milhares de anos mais tarde – na China; e alguns 1500 anos depois, na Civilização Maia da América Central. A segunda revolução foi a invenção do livro escrito, primeiro na China por volta de 1.300 a.C.; e em seguida, independentemente e 800 anos mais tarde, na Grécia (quando Peisistratos, o tirano de Atenas, mandou transcrever para livros os poemas épicos de Homero – que até então eram apenas recitados). A terceira revolução aconteceu com a invenção da imprensa escrita e prensa móvel entre 1450 e 1455, pela qual Guttenberg foi responsável, e pela invenção contemporânea do processo de gravação de texto e imagem. Na quarta revolução, o foco vai além da tecnologia, dos equipamentos, das técnicas, dos softwares, e da velocidade com que informação é trocada. Estes, fornecem a estrutura que sustenta verdadeira revolução atual, centrada no uso da informação, que questiona a utilidade e o significado dos dados disponíveis. Como difusora de informação, a Internet é uma tecnologia revolucionária que eliminou as barreiras geográficas entre consumidores e fornecedores, independentemente da distância entre eles.
  • 22. 22 2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS Com o objetivo de facilitar a compreensão dos conteúdos que são tratados neste trabalho, é formulada uma delimitação operacional de conceitos, como a seguir exposta: Acomodação gerencial – inércia em conseqüência da proteção contra a concorrência, que amortece a eficiência gerencial da empresa. Ação afirmativa – iniciativa de empresários e empregadores para incluir minorias marginalizadas abrindo oportunidades de acesso à economia produtiva, através de emprego, treinamento e remuneração. Aliança estratégica – acordo de cooperação entre concorrentes para ampliar sinergias em áreas delimitadas de interesse comum, para desenvolver vantagem competitiva no mercado global. Barreiras não tarifárias – obstáculos sem a forma de tarifas aduaneiras (como normas e regulamentos) que põem em desvantagem competidores estrangeiros. Bens de capital – conjunto de máquinas e instalações em que a empresa investe com recursos próprios ou obtidos no mercado de capitais. Bens públicos – qualidade dos bens que incluem todos os indivíduos como usuários potenciais; bens que têm a propriedade de consumo não rival ou concorrente e a impossibilidade de excluir alguém do seu consumo. Bens rivais – bens cujo consumo ou uso por uma pessoa exclui o consumo por outra. Blocos comerciais regionais – conjunto de países vizinhos que concordam em eliminar barreiras, não só ao comércio, como ao fluxo de capital e de trabalho. Capital humano – estoque de qualificações e experiências que tornam os trabalhadores capazes para produção de bens e serviços. Comércio bilateral – transações e trocas entre duas partes, quer sejam empresas ou países.
  • 23. 23 Comércio multilateral – transações e trocas envolvendo mais de duas partes, quer sejam empresas ou países. Concorrência – rivalidade ou disputa entre ofertantes de bens e serviços por clientes ou consumidores; rivalidade ou disputa entre clientes ou consumidores por bens e serviços em oferta no mercado. Correlação – relação entre a alteração de uma variável e a alteração de outra, sistematicamente associadas entre si. Crescimento liderado pelas exportações – estratégia pela qual os governos incentivam as exportações de produtos em que o país tem vantagem comparativa, para promover o crescimento econômico. Divisão do trabalho – separação do processo produtivo em etapas e tarefas, concentrando-se cada trabalhador em um conjunto limitado de atividades, de sorte a favorecer o aperfeiçoamento em certas habilidades e competências específicas. Economia de mercado – sistema produtivo de bens e serviços que aloca recursos basicamente através da interação entre indivíduos (famílias) e empresas privadas. Empresa ou firma – unidade técnica que produz bens e serviços; pessoa jurídica de direito privado (ou público) capaz de estabelecer operações produtivas comerciais no mercado interno e/ou no mercado externo. Escassez – disponibilidade limitada de recursos. Estado nacional ou Estado nação – instituição que contém uma sociedade politicamente organizada, com um governo que atua dentro de um território demarcado e que se mantém unido por cultura, símbolos e valores comuns. Estratégia dominante – conjunto de ações e decisões que dão os melhores resultados não importa o que façam outros parceiros intervenientes no jogo. Estrutura de mercado – organização da economia quanto à competição entre os elementos constituintes da oferta e da procura, em que se identifica o grau de competição.
  • 24. 24 Excesso de demanda – situação em que a quantidade procurada a um dado preço de um produto excede à oferta. Excesso de oferta – situação em que a quantidade ofertada a um dado preço de um produto excede à demanda. Exportações – bens produzidos internamente em um país, mas vendidos no exterior. Externalidade – fenômeno que ocorre quando um indivíduo ou empresa tem uma atividade, mas não arca com todos os custos (externalidade negativa) ou não recebe todos os benefícios (externalidade positiva). Função de produção – relação entre os insumos usados na produção de bens e serviços e o nível de produção obtido. Ganho de capital – variação positiva do valor de um ativo entre o momento da compra e o da venda. Ganhos de comércio – os benefícios que cada parceiro obtém de uma troca. Globalização – estreitamento da integração entre os países do mundo, especialmente maior nível de comércio e movimentos de capital decorrente da redução dos custos de transporte e de comunicação (STIGLITZ; WALSH, 2003a, p. 428). Globalização econômica – ocorrência simultânea de expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais, o acirramento da concorrência nos mercados mundiais e maior integração entre sistemas econômicos nacionais (GONÇALVES, 2003, p. 21-22). Hardware – parte física dos elementos constituintes de um computador, especificamente unidade essencial de processamento, presente em computadores e em qualquer utensílio que automatiza informações. Importações – bens produzidos no exterior, mas comprados internamente. Imposto seletivo – tributo seletivo que recai sobre bens considerados luxuosos, em geral consumidos mais do que proporcionalmente pelos indivíduos e grupos mais ricos.
  • 25. 25 Incentivos – benefícios ou redução de custos, como tributos, que motivam decisões em favor de uma escolha particular. Indutores de globalização – condições do segmento que determinam o potencial e a necessidade de competir com uma estrutura global; condições críticas de qualquer segmento que afetam o potencial para globalização (YIP, 1996 p.15) Informação – base da tomada de decisões que pode afetar a estrutura do mercado e o uso eficiente dos recursos escassos de uma sociedade. Internacionalização de produção – processo pelo qual residentes de um país acessam bens e serviços com origem não residentes. Internet – conglomerado de redes em escala mundial de milhões de computadores interligados pelo TCP/IP (Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo de Interconexão) que permite o acesso a informações e todo tipo de transferência de dados. Ela carrega uma ampla variedade de recursos e serviços, incluindo os documentos interligados por meio de hiperligações da World Wide Web (Rede de Alcance Mundial), e a infra-estrutura para suportar correio eletrônico e serviços como comunicação instantânea e compartilhamento de arquivos. Investimento financeiro – aplicações de dinheiro em ações, títulos de dívida ou outros instrumentos financeiros que constituem fontes para bens de capital. Joint-Venture – acordo de parceria entre empresas, juridicamente independentes, e em que é preservada a individualidade de cada qual, com o objetivo de partilharem o risco do negócio, os investimentos, as responsabilidades e os lucros associados a determinado projeto ou ação estratégica essencial, de internacionalização ou de globalização. Liquidez – facilidade com que um investimento pode ser convertido em dinheiro vivo. Livre comércio – ausência de barreiras legais, burocráticas, tarifárias ou de quotas para transações comerciais entre países.
  • 26. 26 Mercado – local de encontro para a finalidade da permuta ou da compra e venda (POLANYI, 1980, p. 71); onde oferta e demanda se encontram. Nacionalidade – condição única e excludente pela qual o indivíduo (pessoa, empresa, organização) se identifica pela origem em um território determinado, sob jurisdição de um Estado soberano. Nação – sociedade humana consciente de fazer parte de uma comunidade que compartilha uma cultura e história em comum, em um território claramente demarcado e que reclama o direito de se governar. Negócio mundial – aquele que possui operações abrangentes e significativas em mais de um continente, produzindo e vendendo em vários países. OEM – Original Equipment Manufacturer é uma modalidade diferenciada de distribuição de produtos originais, na qual eles são vendidos a outras empresas (chamadas de VAR ou Value-Added Reseller) que montam os produtos finais (por exemplo, computadores) e os vendem ao consumidor final. Privatização – processo pelo qual funções antes providas pelo Estado são delegadas, cedidas ou transferidas ao setor privado da economia (pessoas e firmas). Propriedade intelectual – condição em que um conhecimento ou idéia é reconhecido como pertencente à pessoa ou instituição como direito de propriedade (em geral protegido por patentes e “copyright”). Proteção da indústria nacional – medidas compensatórias e barreiras de entrada à competição estrangeira, em geral quando são novas e até que adquiram pela experiência a capacidade de competir em condições de igualdade. Quotas – quantidade de bens estrangeiros que se é permitido importar; limites aos volumes de produção que se é permitido exportar. Recursos naturais – natureza da base territorial de um país com interesse para exploração econômica (clima, fertilidade e forma do solo, reservas hidrominerais).
  • 27. 27 Royalty – taxa de rendimento cobrada por titular de uma patente de invenção, criação ou extração para permitir que outro a use. Sistema econômico internacional – espaço de encontro entre atores de diferentes nacionalidades e atores transnacionais para interações econômicas. Soberania do consumidor – idéia de que os indivíduos são os melhores juízes a respeito do próprio interesse ou do que lhes proporciona mais bem estar. Software – Qualquer programa ou grupo de programas que instrui o hardware sobre a maneira como ele deve executar uma tarefa, inclusive sistemas operacionais, processadores de texto e programas de aplicação. Tecnologia – conjunto de conhecimentos aplicados na forma de utilidade para produção de bens e serviços. Teoria – conjunto de hipóteses e conclusões que delas derivam, apresentadas como explicação de algum fenômeno. Transnacionalidade – condição da inserção econômica no mundo em que há dispersão da atividade produtiva além das fronteiras do país de origem para diversos outros países, deixando de haver uma referência nacional predominante em termos de interesses e valores. Vantagem absoluta – vantagem de um país sobre outro quando produz um bem ou serviço de modo mais eficiente ou com menos insumos. Vantagem comparativa – condição em que um país tem eficiência relativamente mais favorável do que outra na produção de um bem ou serviço. Vantagem competitiva – conceito de que o modo como a estratégia escolhida e seguida pela organização pode determinar e sustentar o seu sucesso competitivo (PORTER, 1989). Vantagem competitiva global – condição favorável que decorre da combinação de vantagem competitiva com vantagem comparativa. Vantagem estratégica – condição favorável que decorre da estratégia do negócio essencial da empresa.
  • 28. 28 2.3 REVISÃO DA LITERATURA Globalização é tema de estudo em vasta literatura onde não faltam controvérsias e contestações. O interesse sobre a crescente interdependência entre países ao redor do mundo suscita a abordagem de globalização sob os mais diversos enfoques, metodologias e conseqüentes conclusões, difíceis de conciliar em presença de críticas ainda não superadas. Em outras palavras, ainda falta consenso entre os estudiosos sobre o que seja “globalização”, não existindo, pois, um conceito único e inquestionável para explicá-lo. Em certo sentido, “global” tem sido usado como sinônimo de “mundial” e muitas vezes de “internacional” e até estendido para “universal”. Assim, globalização se confunde com mundialização, internacionalização e universalização. Em sentido estrito, pode-se dizer que a confusão tem fundamento. De acordo com o Dicionário Michaelis (2008), “global” significa considerado em globo, por inteiro ou em conjunto; “mundial” significa que diz respeito ao mundo, ao maior número de seus países; universal, geral; “internacional” significa relativo às relações entre nações, que se faz entre nações, que se estabelece de nação para nação, ou que reúne ou interessa a representantes de todas as nações. Finalmente, de acordo com o mesmo dicionário, “universal” significa geral, total, comum a todos, que abrange todas as coisas, que se estende a tudo, que provém de todos, que é feito de todos, que tem caráter de generalidade absoluta. Além da confusão causada pelo uso intercambiável entre os termos acima qualificados, outra razão para a dificuldade de consenso na abundante literatura disponível sobre o tema, é que ela provém de diferentes disciplinas e campos do conhecimento, cada qual focalizando aspectos que são vistos como relevantes para a respectiva área de atuação. Até os anos recentes, na maioria dos estudos, a ênfase está posta em aspectos econômicos e tecnológicos da globalização.
  • 29. 29 Economistas se ocupam da internacionalização do comércio, das finanças e da produção como sendo o fenômeno conhecido por “globalização da economia mundial” (GREMAUD, 2004). Em geral, os economistas têm destacado questões como fluxos de capital, de bens e de serviços, inclusive questões monetárias e financeiras, abordando ainda alianças regionais, distribuição de renda e emprego no país sob estudo, em face das influências externas. Sociólogos e cientistas políticos, e outros da área de ciências humanas, estão preocupados com fragilidades sociais, o enfraquecimento e fracionamento dos Estados Nacionais, a crise da cidadania e novos códigos de ética para o século XXI (NAISBITT, 1994). Para definir globalização, a discussão se amplia sobre os paradoxos da substância econômica e política de mercados (PESQUEUX, 2010). Geólogos e ambientalistas se preocupam com o esgotamento dos recursos naturais, a destruição e desaparecimento de espécimes botânicos e espécies animais, poluição e aquecimento do mundo, degelo das calotas polares, como conseqüências adversas nas relações entre globalização e a vida no planeta. Os administradores vêm se ocupando da globalização dos mercados e ampliando os estudos de marketing para novas fronteiras. 2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO Na maioria das tentativas de conceituar globalização, os resultados vêm embutidos em juízos de valor a respeito de como o mundo funciona e de como deveria funcionar. Os aspectos descritivos vêm inextricavelmente ligados com o prescritivo e o normativo (LEE, 2002). A questão da globalização estaria intrinsecamente ligada aos movimentos de capital, “commodities”, pessoas, imaginação e práticas culturais (BRAH; HICKMAN; MAC AN GHAILL, 1999).
  • 30. 30 Uma discussão aparentemente inacabada é a respeito de quando teria iniciado a globalização econômica, quando se teria intensificado, e se o fenômeno é atual, sem precedentes, ou se já ocorreu no passado. A Oxfam, uma instituição dedicada à luta contra a pobreza e a injustiça ao redor do mundo, conceitua globalização como “um processo de rápida integração econômica, impulsionada pela liberação do comércio, fluxos de investimento e de capital, assim como pela rápida mudança tecnológica e a revolução da informação” (OXFAM, 2000). Rejeitando essa visão de globalização como integração rápida dos mercados, Hirst e Thompson (2009) argumentam que “a atual economia altamente internacionalizada não é sem precedentes na história, já que altos níveis de comércio internacional ocorreram desde a segunda metade do século XIX.” Além disso, os fluxos de comércio, investimentos e capitais estariam concentrados entre a Europa, Japão e Norte América, sendo raras as empresas tipicamente transnacionais que operem em todo o mundo. Isto põe em evidência que a globalização não acontece de modo homogêneo no mundo todo. O crescente número de pesquisadores e centros de pesquisa dedicados à geração e disseminação do conhecimento sobre globalização e seus efeitos, têm em comum a necessidade de serem considerados os impactos da globalização descontrolada sobre a vida humana no mundo, fora e além do espaço do mercado. Outros autores reconhecem a continuidade da economia lastreada em estados nacionais e o caminho desigual da mudança que está ocorrendo no mundo. Dicken (1998) aponta para o que chama de emergência de uma nova geoeconomia mundial com estrutura qualitativamente diferente do passado, algo que envolve tanto processos de internacionalização quanto de globalização. Os processos de internacionalização conteriam a simples extensão das atividades econômicas além das fronteiras nacionais. Nesse sentido, a
  • 31. 31 internacionalização seria uma mudança essencialmente quantitativa que está levando a padrões geográficos mais intensos e mais extensos de atividade econômica. Em contraste, os processos de globalização envolveriam não apenas a extensão geográfica da atividade econômica além das fronteiras nacionais, mas também e mais importante ainda – a integração funcional de tais atividades internacionalmente dispersas. Assim, em sentido muito amplo, globalização poderia ser entendida como processos, procedimentos, e tecnologias – econômicos, culturais e políticos – que embasam a atual compressão de tempo/espaço e que gera um senso de imediatismo e de simultaneidade no mundo. O Fundo Monetário Internacional (IMF, 1997) define globalização como sendo, “a crescente interdependência econômica entre países do mundo, através do aumento no volume e variedade de transações além fronteira de bens e serviços, dos fluxos internacionais de capitais, bem como da difusão acelerada e generalizada de tecnologia.” Esta definição, conquanto seja bem aceita em círculos institucionais e profissionais, apresenta três limitações do ponto de vista da Ciência da Administração: 1. Ao configurar a interdependência global usando a categoria “países”, a definição implicitamente excluí empresas, associações profissionais e outras organizações internacionais que são agentes importantes no processo; 2. Ao se concentrar no aumento do volume de transações e na difusão de tecnologia, a definição ignora novos métodos impostos pela abertura de fronteiras (cooperação entre empresas, a quebra e reestruturação da cadeia de valores, relocação e terceirização); 3. Ao se limitar à interdependência entre países, a definição negligencia a descompartimentação dos mercados nacionais.
  • 32. 32 Em resposta às limitações da definição de globalização proposta pelo Fundo Monetário Internacional, Milliot (2005, p.43) interpreta o significado da globalização de mercados como sendo, “uma movimentação que facilita a coordenação e/ou a integração de operações industriais e de marketing além de fronteiras nacionais, através da descompartimentação dos mercados e ressaltando a interdependência de seus atores.” Pieterse (2003) descreve globalização como um processo multidimensional que, como todos os processos sociais significantes, desdobra- se simultaneamente em múltiplas realidades da existência. Assim, haveria tantos modos de globalização, quantos sejam os agentes globalizantes e as dinâmicas ou impulsos. Similarmente, Giddens (1990) refere a intensificação de relações sociais ao redor do mundo de tal modo que acontecimentos locais são moldados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. Deve-se, pois, pensar em globalização no plural – globalização econômica, globalização política, globalização ambiental, globalização social, globalização cultural, e assim por diante, processos que são múltiplos e intimamente inter-relacionados. 2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO Tão variadas quanto os conceitos de globalização, são as diferentes óticas dos autores que as conceituam. Considerando a globalização como um fenômeno abrangente e com impacto em múltiplas esferas existenciais, se faz necessário visitar algumas destas dimensões crescentemente interconectadas. Para os fins deste trabalho são destacados aspectos da globalização econômica, política, social, ambiental e tecnológica. Estas são apenas algumas das dimensões da globalização. Alguns autores discutem ainda outras dimensões como a militar, a comunicacional, a científica, a financeira, a religiosa, a interpessoal-afetiva, a populacional-
  • 33. 33 migratória, a esportiva, a epidemiológica e a criminal-policial (FERREIRA; VIOLA, 1996). 2.5.1 Globalização Econômica Muitos autores argumentam que o ponto de partida da globalização é o processo de internacionalização da economia, ininterrupta desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com Vieira (1998, p.76), entende-se por internacionalização da economia mundial, “um crescimento do comércio e do investimento internacional mais rápido do que o da produção conjunta dos países, ampliando as bases internacionais do capitalismo e unindo progressivamente o conjunto do mundo num circuito único de reprodução das condições humanas de existência.” Dicken (1998) complementa que a economia mundial está sendo transformada numa estrutura altamente complexa e caleidoscópica, envolvendo a fragmentação de muitos processos produtivos e sua relocação, em escala global, de tal modo que atravessam as fronteiras nacionais. Em conseqüência, acredita-se que esteja ocorrendo algum tipo de transição de industrialização para modernização ou mesmo “pós” modernização tardia, uma fase às vezes chamada de pós-industrial ou economia pós-fordista. Conforme Dicken (1998), os fatores de definição dessa nova ordem são amplamente conhecidos através das seguintes características: deslocamento de indústria pesada e de manufatura para maior proteção de provisão de serviços; crescimento de atividades econômicas envolvidas com geração, processamento e disseminação de informação; aprofundamento da integração econômica desde transações com bens e serviços entre firmas independentes, até movimentos internacionais de capital para estreita ligação na produção de bens e serviços além das fronteiras nacionais;
  • 34. 34 uma tendência em produção e consumo no sentido de maiores economias de escala, do nível sub-nacional e nacional para o regional e o global; maior grau de mobilidade de capital, bens e serviços e, em grau mais limitado, seções selecionadas do mercado de trabalho. Complementarmente, Naisbitt (1999) desenvolveu um conceito que ele denomina “paradoxo global”, considerando que, quanto maior a economia mundial, mais poderosos são seus protagonistas menores: “O estudo do protagonista econômico menor, o empreendedor, se mesclará com o estudo de como funciona a economia global.” Como o empreendedor é também o protagonista mais importante da economia global, as grandes empresas estão se descentralizando e reconstituindo a si mesmas, como redes de empreendedores. O princípio do paradoxo global decorre da observação de que mega- empresas que promoveram a globalização, para se beneficiarem das economias de escala, agora tiveram que se reestruturar como redes de pequenas unidades de negócios ou redes de empreendedores, ou ainda como redes de unidades autônomas. Redução de tamanho, reengenharia, organizações em rede ou, mais recentemente a empresa virtual, qualquer que seja a denominação, trata do mesmo fenômeno: empresas grandes são obrigadas a desmantelar a burocracia, reduzir número de níveis, agrupar competências em unidades menores, para reduzir custos e poder sobreviver. Ainda segundo Naisbitt (1999), a economia de escala está dando lugar à economia de escopo que é encontrar a quantidade correta de sinergia, flexibilidade diante do mercado e, sobretudo velocidade na tomada de decisão e ação. O resultado buscado é a unidade menor e mais forte, como meio de globalizar mais eficientemente as economias.
  • 35. 35 Resumindo, quanto maior e mais aberta a economia mundial, maior o domínio das pequenas e médias empresas, exceto naqueles setores intensamente exigentes de capital (como por exemplo, a indústria aeronáutica). Numa compensação desse movimento, mais reforçando a autonomia das unidades de negócio, verifica-se outra tendência para a constituição de alianças estratégicas – acordos de cooperação em que são delimitados espaços de integração de parte das atividades entre concorrentes. Alianças estratégicas estão sendo criadas para um mundo de mercado unificado onde fica cada vez mais difícil distinguir a nacionalidade de um produto ou de uma empresa. Apesar de que a dimensão econômica possa impulsionar e até mesmo dirigir processos de globalização, a esfera econômica é vista mais frequentemente como parte de um amplo leque de mudanças complexas para a sociedade humana como um todo. 2.5.2 Globalização Política Nas discussões sobre a globalização dos negócios, resumidas na expressão “pense globalmente, aja localmente”, Pesqueux (2010) denuncia o antagonismo entre os valores do espaço geográfico dos mercados e os valores contidos nos espaços das nações. Afirma ele que, em verdade, a globalização apóia a assertiva de que o espaço dos mercados deve se sobrepor ao das nações. O impacto das atividades de corporações multinacionais faz o mercado global parecer um espaço privativo, onde as normas que estas corporações propõem (ou impõem) tendem a criar um verdadeiro modo de governo. Isto leva a uma transposição de “local-geral”, que é apropriado para descrever atividades de negócios, para o “específico-universal” que, é apropriado a uma compreensão política das sociedades. Isto põe em evidência a questão da dimensão política da globalização: enquanto a dimensão econômica do fenômeno é suficientemente reconhecida,
  • 36. 36 as categorias que ajudariam a representar a dimensão política ainda estão sendo formuladas. De Senarclens (2001) assinala três aspectos da dimensão política: 1. A evolução do conteúdo e das práticas associadas com o interesse nacional (“raison d’état”), considerando a ampliação da esfera internacional, rumo a uma forma de soberania que é limitada pelo reconhecimento da expansão do comércio internacional – expansão que é percebida como o bem comum “superior – tal qual o desenvolvimento de entes políticos além do Estado (por exemplo, a União Européia). 2. A capacidade de Estados e instituições internacionais lidarem com estes desenvolvimentos políticos, considerando, em particular, a vontade política da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico destinada a promover uma economia capitalista, firmada no comércio de bens e serviços, e fluxos financeiros. Esta vontade se assenta em ações políticas de liberação do comércio e criação de áreas comerciais, baseadas em questões de integração econômica e, mais marginalmente, em questões políticas e sociais. 3. O desenvolvimento de estruturas conceituais a respeito de meio ambiente, saúde e segurança (como por exemplo, o “direito de interferência” humanitária ou mesmo política, contra ditadores) e a atenção dada a agentes não governamentais cujas reivindicações têm sido favorecidas. Vieira (1998, p. 120) ousa propor que, como o Estado soberano já não é a melhor instância para a tomada de decisões em escala planetária torna-se imperiosa a necessidade de regulação em termos mundiais – uma governabilidade global para enfrentar os desafios impostos à humanidade e ao planeta. Como Miotti e Sachwald (2006) enfatizam, a internacionalização dos mercados já não é mais conduzida por países mais desenvolvidos, mas por grandes companhias, que se tornam uma força propulsora dos processos desde 2000. Suas estratégias de desenvolvimento, que geralmente ignoram fronteiras políticas, mais do que nunca estão rompendo hábitos de consumo, métodos de organização do trabalho e tendências políticas de estados nacionais.
  • 37. 37 Apesar da marcante impressão causada por Levitt (1983), com suas análises sobre a globalização dos mercados, ainda está longe de acontecer a padronização da maioria dos bens de consumo que ele previu. De fato, em reação à globalização, um número crescente de consumidores parece querer retornar aos produtos tradicionais, estabelecidos na cultura de seu país. Num mundo que evolui rapidamente e nem sempre oferece pontos de referência estáveis, estes produtos oferecem sensação de segurança às pessoas e lhes permitem manter certa identidade. As forças contraditórias emergem de uma rede complexa de diferentes idéias interagindo para criar numerosos paradoxos. Estes paradoxos afetam, em particular e em diferentes graus, o funcionamento das empresas e seus métodos de desenvolvimento. Parece haver um crescente sentimento de atração – repulsão em relação a produtos conhecidos como “produtos globais” (BRIARD, 2007). Consumidores claramente manifestam desejo de serem cidadãos do mundo – cosmopolitas – mas rejeitam qualquer mudança em suas particularidades locais. Gostariam de viver numa sociedade que está aberta para o mundo, mas rejeitam a idéia de um ambiente sem profundidade e sem raízes. Esta demanda ambivalente desafia as companhias que tem sido vistas como os principais vetores da globalização. 2.5.3 Globalização Social Céticos sobre globalização sustentam que os processos de mudança no trabalho vão muito além da esfera econômica e incluem outros amplos processos sociais. Durante o século XX, a economia global passou por um processo de reestruturação que levou inúmeros países em desenvolvimento à fome, e grandes parcelas da população ao empobrecimento. De acordo com Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, “mais de dois milhões de pessoas morrem de fome a cada dia, mais do que pela malária, a AIDS e a tuberculose juntas” (EFE, 2005).
  • 38. 38 A globalização da pobreza ocorre em época de notável progresso tecnológico nas áreas de engenharia de produção e de biotecnologia. Chossudovsky (1999) afirma que pela primeira vez na história da humanidade, a agricultura mundial tem capacidade de satisfazer as necessidades alimentares de todo o planeta. A fome hoje não resulta da falta de alimentos, mas sim de interesses industriais e financeiros que estão em crescente conflito com os interesses da sociedade civil. Naisbitt (1999) reporta o retorno do que foi denominado “tribalismo” no sentido de crença na fidelidade ao próprio grupo, definido pela etnia, pelo idioma, pela cultura, pela religião, ou pela profissão. O tribalismo é distinto do conceito de nacionalismo, pelo qual o Estado-nação de cada um é mais importante do que princípios internacionais ou considerações pessoais. Naisbitt (1999) afirma que o desejo de equilibrar o tribal e o universal sempre existiu entre os povos, mas, agora a democracia e a revolução das telecomunicações (que dissemina a idéia de democracia e a torna premente) alçaram essa necessidade de equilíbrio a um novo patamar. Uma forma de tribalismo moderno são as tribos virtuais ou eletrônicas, conjunto de pessoas interagindo em razão de interesses comuns, compartilhados através de correios eletrônicos. A eletrônica estimula a constituição de tribos ao mesmo tempo em que globaliza. Com a nova ênfase no tribal, em um mundo cada vez mais global, o mantra da Nova Era “pense globalmente, aja localmente” vira de ponta cabeça. Agora é “pense localmente, aja globalmente”, propõe Naisbitt (1999). O atual padrão mundial de acumulação e desenvolvimento, assentado no domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, reduz a oferta de empregos produtivos e reforça as tendências de exclusão social. A competição global recompensa aquele que é mais apto e eficiente, o que se reflete no mercado de trabalho. Como resultado, ocorre uma transferência espacial de investimentos para mercados emergentes, onde a mão-de-obra é mais barata. Além disso, o uso de tecnologias que dispensam
  • 39. 39 trabalho em países industrializados, devido aos altos custos salariais e à concorrência, gera desemprego e limitação de imigrações (VIEIRA, 1998). Cabe a cada comunidade desenvolver a sua população produtiva, de modo a manter competitividade no mercado de trabalho global. Kanter (2000) argumenta que comunidades (cidades, estados, países) podem estabelecer elos com empresas globais ao investirem e se especializarem em capacidades que conectam suas populações locais com a economia global, como pensadores, executores ou comerciantes: Os pensadores se especializam em conceitos. Tais lugares atraem pesquisadores, estudiosos e indivíduos dotados de suprema criatividade em solucionar problemas, e concentram estes talentos em empresas do conhecimento. A vantagem competitiva destes centros é a capacidade de oferecerem inovação contínua, dominando a criatividade tecnológica do mundo. Os executores se destacam por oferecerem habilidades superiores de produção e por possuírem a infra-estrutura necessária para manter produção de alta qualidade a baixo custo. Estes são centros de excelência em manufatura. Finalmente, os comerciantes se especializam em estabelecer conexões comerciais, desde a negociação de acordos à logística do transporte de mercadorias e serviços além das suas fronteiras. Ao se especializarem em uma competência central essas comunidades voltam a se inserir no mercado de trabalho global. Atualmente, Florianópolis se destaca como polo tecnológico. Seguindo a classificação proposta por Kanter, Florianópolis é hoje um centro de pensadores e ao se tornar conhecida como tal, a cidade passa a atrair novos talentos e novos negócios. 2.5.4 Globalização Ambiental De todas as distintas esferas da globalização, nenhuma carrega o sentimento de globalidade como a ambiental. Por certo, a tangibilidade que o meio ambiente oferece quando comparado às demais, facilita este entendimento
  • 40. 40 – o planeta forma um todo frágil, onde todos os seres vivos são solidariamente interdependentes. Historicamente, o crescimento populacional, a urbanização acelerada, a produção industrial e agrícola, as queimadas e desmatamento de florestas, a extração de minérios, a contaminação das águas e do ar, a perda da biodiversidade ameaça a sobrevivência da vida no planeta. Alguns desequilíbrios ecológicos provocados pelas atividades econômicas podem ser percebidos imediatamente como no caso da desertificação, da erosão, ou da crise urbana. Acidentes tecnológicos como vazamentos de petróleo, vazamentos químicos ou nucleares, são ainda mais imediatos. Outros, porém, só serão percebidos com o tempo. É o caso do efeito estufa, da destruição da camada de ozônio, e do esgotamento da diversidade biológica (VIEIRA, 1998). Isso não significa que seja preciso escolher entre meio ambiente ou desenvolvimento. Significa sim, escolher novas formas de desenvolvimento que se preocupem com o meio ambiente. Empresas verdes, ecologicamente corretas, ou também chamadas de sustentáveis, buscam a preservação do que é exaurível e a renovação do que pode ser cultivado ou reposto, como no caso do cultivo de pescados, de repovoamento de rios e florestas, ou a simples redução na produção de resíduos. Cabe aos consumidores exigir tal política das empresas e governos, bem como assumir a responsabilidade de educar as gerações futuras para defesa e uso racional do meio ambiente.
  • 41. 41 Quadro 2 Um Revolucionário Improvável Em uma entrevista para a Business Ethics, em 1992, Richard J. Mahoney, presidente da Monsanto, conclamou à ação que evidencia uma mudança profunda na forma como os líderes empresariais vêem a sua intendência do planeta: “O nosso compromisso é alcançar um desenvolvimento sustentável daqueles aspectos do ambiente sobre os quais exercemos um impacto. O nosso compromisso é obter um desenvolvimento sustentável que beneficie as pessoas tanto das nações desenvolvidas como das menos desenvolvidas.” Entretanto, ele insistiu que não basta apenas “despoluir” o planeta: “As empresas precisam retificar o passado e proporcionar a tecnologia necessária para servir os habitantes do futuro sem deixar para trás um bagunça.” Fonte: Executives of the World Unite. Business Ethics Set/Out 1992. Fonte: NAISBITT (1999, p.184) 2.5.5 Globalização Tecnológica Juntamente com o desenvolvimento de microprocessadores, a Internet é a inovação tecnológica mais significativa das últimas décadas, e desempenha um papel crucial no crescimento da globalização. Numa evolução sem precedentes, a tecnologia se desenvolve em um ritmo de crescente aceleração, com cada tecnologia nova capitalizando a velocidade e as capacidades daquelas que a precederam. A união da infra-estrutura necessária estabelecida pela Internet, com o desenvolvimento acelerado da indústria de hardware e software, com melhores computadores e conexões à rede, promoveram o estágio avançado das telecomunicações que se presencia hoje. A Internet permitiu o desenvolvimento de um meio de comunicação instantâneo e mais barato, e eliminou completamente as barreiras geográficas, aproximando fornecedores e consumidores, independentemente da distância entre eles – aumentando a competitividade das partes a um nível global. Além disso, o desenvolvimento da Internet propiciou a propagação de informação sem censura ou barreiras, e a expansão do comércio eletrônico.
  • 42. 42 De acordo com Naisbitt (1999), as telecomunicações são a força propulsora que está, simultaneamente, criando a gigantesca economia global e tornando as suas partes menores e mais poderosas. O autor também argumenta que “assim como estamos progredindo globalmente para um mercado econômico unificado, nas telecomunicações estamos progredindo para uma teia mundial única de redes de informações onde tudo estará interligado [o tempo todo] a todo o restante” (NAISBITT, 1999, p. 96). A crescente conectividade, propiciada pela Internet, oferece à comunidade global hoje o meio e o modo da comunicação do futuro. Quadro 3 Tecnologia da Informação e a Nova Economia A característica que talvez defina a nova economia é o papel das tecnologias de informação. Essas novas tecnologias permitem a coleta, a análise e a transmissão de vastas quantidades de informação – em maior escala do que qualquer um podia imaginar há apenas dez anos. As novas tecnologias sem dúvida vão melhorar o fluxo de informação em todos os mercados, inclusive mercados de produtos. Alguns sugeriram que elas vão eliminar completamente a necessidade de intermediários como varejistas e atacadistas. Em lugar disso, os consumidores poderão lidar diretamente com os produtores. Essas interpretações são extremamente exageradas. Certamente, em alguns mercados, as tecnologias da informação vão diminuir o papel dos intermediários. Muitos consumidores já estão comprando computadores, seguro, livros e passagens aéreas pela Internet. A Internet fará uma diferença enorme na disseminação de preços para produtos homogêneos – determinado tipo de trigo, ou aço, ou um novo Buick com direção elétrica, assentos de couro, etc. Mas as escolhas mais difíceis muitas vezes envolvem diferença de qualidade e de características. De fato, a maior parte dos varejistas entende sua função como a de procurar entre os produtores e julgar a qualidade dos bens produzidos por diferentes manufaturas. Os varejistas que estabelecem uma reputação, o conseguem na base da qualidade que eles oferecem dentro de uma certa faixa de preços. Boa parte da informação relevante sobre qualidade e características não pode ser facilmente transmitida pela Internet, de modo que o consumidor precisa de acesso direto ao produto. Por exemplo, sem de fato sentar no assento do motorista, como pode o comprador de um carro avaliar sua sensação dos controles do carro? O mesmo se pode dizer de vários outros produtos. Assim, não só é pouco provável que a tecnologia da informação tornará obsoletos os intermediários, mas pode até ser que vá torná-los ainda mais competitivos e eficientes. Eles poderão varrer o planeta em busca de melhores preços, checar os produtores para ter certeza de que são confiáveis e de que o produto é de boa qualidade, e assim ajudar a criar um mercado verdadeiramente global. Fonte: STIGLITZ; WALSH (2003b, p.246)
  • 43. 43 3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO A Teoria Tradicional se baseia no método de Descartes, pelo qual através do questionamento e da dúvida, fica estabelecido que algo só é considerado verdadeiro se puder ser comprovado (“penso, logo existo”). A Teoria Crítica, iniciada por Horkheimer, argumenta que não basta analisar um fenômeno e provar a sua existência, é preciso interpretá-lo para que possa ser entendido (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006). A Teoria Crítica procura unir a teoria e a prática. Os cientistas que compartilham o diversificado campo da produção teórica incluída na teoria crítica têm como traço de união, o compromisso com a emancipação do ser humano. Em intenção, mantém uma preocupação de analisar as causas e prescrever soluções contra todas as formas de dominação, exploração e injustiça. Ou conforme Hoffman (1987, p. 233): “A teoria crítica delineia a visão de que a humanidade tem outras potencialidades além das que se manifestam na realidade concreta da sociedade atual. A teoria crítica, portanto, procura não apenas reproduzir a sociedade através da descrição, mas compreendê-la e mudá-la. É ao mesmo tempo, descritiva e construtiva em suas intenções teóricas; é ao mesmo tempo, um ato intelectual e social. Não é meramente expressão das realidades concretas da situação histórica, mas também uma força para a mudança dentro destas condições.” A Teoria Crítica contribui para o estudo da globalização oferecendo uma estrutura normativa diferenciada, pois, apesar de estar imersa nas complexidades e problemas do mundo em que vivemos, ela se recusa a abrir mão da imaginação moral e política necessárias para avançar nas possibilidades de transformação social e política da era global (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006). Dentro desta estrutura, Held e McGrew (2002) definem globalização como uma crescente interconexão mundial, levando em consideração uma transformação na organização social humana que liga comunidades
  • 44. 44 geograficamente distantes e expande o alcance das relações de poder nas principais regiões e continentes do mundo. Assim, de acordo com Cochrane e Pain (2000), a globalização passa a ser vista através de quatro conceitos: há uma extensão dos relacionamentos sociais, de modo que eventos e processos ocorridos em uma parte do globo têm impacto significativo em outros lugares do mundo; há uma intensificação de fluxos por todo o mundo, com uma intensidade maior nos fluxos social, cultural, econômico e político; há um maior aprofundamento da integração mundial, na medida em que a extensão dos relacionamentos sociais aumenta, também aumenta o aprofundamento de práticas sociais e econômicas, fazendo com que culturas distantes se encontrem face a face; cria-se uma infra-estrutura global, formada pelos acordos institucionais, formais e informais, essenciais para o funcionamento de redes globais. Estes conceitos embasam três filosofias de globalização, a globalista, a tradicionalista e a transformacionalista (COCHRANE; PAIN, 2000). Para os globalistas, a globalização é vista como um processo social contemporâneo vital e inescapável. Economias, políticas e culturas nacionais se tornam, cada vez mais, partes de redes de fluxos globais. Globalistas podem ser otimistas ou pessimistas, conforme a maneira como encaram o processo de globalização. Os otimistas vislumbram a possibilidade de melhoria nos padrões de vida, a difusão da democracia, e uma maior tolerância entre nações. Já os pessimistas vêem a globalização como ameaçadora e destruidora, servindo apenas a interesses políticos e econômicos restritos e com tendência a criar homogeneidade, migração, violência e desigualdade. Os tradicionalistas são profundamente céticos a respeito da globalização. Alguns se recusam a admitir sequer a existência da globalização. Apóiam-se no argumento que em termos econômicos, o que existe hoje é uma regionalização ou interconexão entre estados geograficamente vizinhos. Com freqüência,
  • 45. 45 esses teóricos alegam que nações-estado e economias nacionais continuam a ser de suma importância e negam que cultura seja global em qualquer sentido pertinente. Finalmente os transformacionalistas buscam um meio termo entre os globalistas e os tradicionalistas. Para estes, a globalização não é algo completamente novo ou uma irreconhecível era de transformação em direção a economias, culturas e políticas globais. Mas também não alegam que nada esteja acontecendo. O que os transformacionalistas defendem é que as mudanças nas dimensões culturais, econômicas e políticas existem, são complexas, e não evoluem na mesma velocidade. O perfil dos três grupos é resumido no quadro abaixo. Quadro 4 Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transformacionalistas Globalistas Existe hoje uma economia global completamente desenvolvida, que superou formas passadas da economia internacional. Esta economia global é impulsionada por forças de mercado incontroláveis que resultam em redes multinacionais de interdependência e integração sem precedentes. Fronteiras nacionais desapareceram e a categoria da economia nacional agora é redundante. Todos os agentes econômicos precisam ser competitivos internacionalmente. Esta posição é defendida por neoliberalistas econômicos, mas condenada por neomarxistas. Tradicionalistas A economia internacional não progrediu ao estágio de uma economia global na extensão alegada pelos globalistas. Economias nacionais distintas permanecem como uma categoria saliente. Ainda é possível organizar cooperação entre autoridades nacionais para desafiar forças de mercado, administrar economias domésticas e governar a economia internacional. A preservação de direitos a benefícios sociais, por exemplo, ainda pode ser assegurada no nível nacional. Transformacionalistas Novas formas de interdependência e integração intensa estão varrendo o sistema econômico internacional. Estas colocam limitações adicionais no modo como políticas econômicas são desenvolvidas. Elas também dificultam a formação de política pública internacional para governar e administrar o sistema. Esta posição vê a presente era como mais um passo num longo processo evolutivo, em que economias locais e nacionais fechadas se desintegram e passam a formar sociedades cosmopolitas mais interdependentes e integradas. Fonte: Held (2000, p. 90).
  • 46. 46 4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL Após investigar os conceitos teóricos sobre globalização, houve interesse em conferir na prática da realidade empresarial catarinense um exemplo que ilustrasse as assertivas dos autores referidos no trabalho. Mais precisamente, buscou-se conhecer o modo como uma empresa, a partir de Florianópolis, vem operando com sucesso no mercado globalizado. Pelo critério da acessibilidade, a escolha recaiu em uma unidade de negócios do setor tecnológico, cujo empreendedor principal, Engenheiro Carlos Alberto Marin, natural de São Paulo, se dispôs a relatar a história das iniciativas, estratégias e cuidados na perseguição de resultados, que dependem de cooperação com parceiros dispersos pelo mundo. 4.1 APRESENTAÇÃO A Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda. foi fundada na cidade de São Paulo em 2 de setembro de 1986, para prestar serviços de venda, assistência técnica, calibragem e aluguel de balanças, bem como o desenvolvimento de sistemas de pesagem. Em julho de 2001 aprovou projeto para se estabelecer na incubadora de empresas de tecnologia do Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (CELTA), em Florianópolis, para onde mudou a sede da empresa, além dos objetivos sociais que passaram a ser “comercialização, importação e exportação de equipamentos de pesagem” (WEIGHTECH, 2012). Em outubro de 2001 firmou parceria comercial com a empresa alemã Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM) para distribuir, revender e atuar como agente exclusivo de vendas HBM no Brasil, na divisão de equipamentos de pesagem. Sendo a HBM referência mundial em equipamentos e tecnologia, a Weightech reforçou sua posição como uma das mais respeitadas empresas de
  • 47. 47 tecnologia em pesagem, oferecendo serviços e produtos de primeira linha e soluções completas para sistemas de pesagem e automação a indústrias, agronegócios e outros. Em maio de 2005 a Weightech obteve junto ao INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia a aprovação de modelo do primeiro equipamento de pesagem com a marca Weightech e, ainda em dezembro do mesmo ano, a aprovação para modelo do primeiro equipamento desenvolvido sob medida e com exclusividade de fornecimento para um cliente específico. Ainda em 2005, obteve junto à Secretaria da Fazendo do Estado de Santa Catarina autorização para operar em sistema de “Trader”. Habilitada assim, a importar qualquer tipo de mercadoria por conta e ordem de terceiros, abriu mais um nicho de oportunidade de negócios que vieram otimizar as atividades de importação da empresa. Dois anos depois, a Weightech contabilizava 24 portarias de aprovação junto ao INMETRO, o que a colocou entre as 10 empresas brasileiras mais destacadas na área de tecnologia de pesagem. 4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO Especificadamente, podem ser encontradas conexões entre a experiência da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., e o estudo teórico deste trabalho, através da exemplificação dos conceitos a seguir destacados: A movimentação de pessoas, capital, imaginação e práticas culturais pelo mundo, a serviço do negócio (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999). A integração econômica ao redor do mundo, estimulada pela rápida mudança tecnológica e a revolução da informação (OXFAM, 2000). A emergência de uma nova geoeconomia mundial, que envolve tanto processos de internacionalização quanto de globalização e a integração funcional de tais atividades (DICKEN, 1998).
  • 48. 48 A crescente interdependência econômica entre países e o mundo e a difusão acelerada e generalizada de tecnologia (IMF, 1997). Uma movimentação que facilita a coordenação e integração de operações industriais ou de marketing além das fronteiras nacionais (IMF, 1997). Os processos, procedimentos e tecnologias – econômicos, culturais e políticos – que geram compressão de tempo e espaço, um senso de imediatismo e de simultaneidade no mundo, a partir da instantaneidade das telecomunicações (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999). O novo padrão mundial de acumulação e desenvolvimento econômico assentado no domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, que requalifica a oferta de emprego e reforça as tendências de exclusão social (CHOSSUDOVSKY, 1999). O mundo econômico transformado em uma estrutura altamente complexa, envolvendo fragmentação em muitos processos de produção e sua relocação em escala global, que encurta caminhos através das fronteiras nacionais (DICKEN, 1998). A transição de uma fase industrial para a modernização ou pós- modernização ou modernização tardia, por vezes chamada de pós-industrial, caracterizada por deslocamento do foco na indústria pesada para maior proporção de serviços, em especial os ligados à geração, processamento e disseminação da informação (DICKEN, 1998). O fato de a competição global recompensar os mais aptos e mais eficientes em produzir bens e serviços com qualidade, velocidade e baixo custo (VIEIRA, 1998). A possibilidade de ligar populações locais com a economia global, através da capacitação, em categorias, como pensadores, executores ou comerciantes, concentrando talentos em empresas de conhecimento, de modo a oferecer inovação contínua e dominar a criatividade tecnológica do mundo para solucionar problemas (KANTER, 2000).
  • 49. 49 O paradoxo global pelo qual, quanto maior e mais aberta a economia mundial, mais poderosos são os seus protagonistas menores – os empreendedores (NAISBITT, 1999). A redução das unidades de negócio, para tamanhos cada vez menores, como meio de globalizar mais eficientemente as economias. As tendências apontam para a prevalência das micro, pequenas e médias empresas, ou grandes empresas que se redefiniram como redes de empreendedores (NAISBITT, 1999). A interdependência entre todas as sociedades, implicando em extensão dos relacionamentos sociais; eventos e processos ocorridos em uma parte do globo têm impacto em outras partes ou no mundo todo (HELD; MCGREW, 2002). Uma complexa infra-estrutura, tecida por acordos institucionais, formais e informais, alicerçando o funcionamento de redes sociais globais (COCHRANE; PAIN, 2000) 4.3 ENTREVISTA A entrevista realizada em 02 de fevereiro de 2012, com o Engenheiro Carlos Alberto Marin, Diretor Executivo da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., é relatada a seguir. O que significa Weightech? O nome resulta da combinação, aliás, síntese do nome inglês para peso/pesagem e da primeira sílaba, ou forma reduzida e abreviada para designar, também em inglês, o conceito de tecnologia. Com matriz em Florianópolis, polo tecnológico de Santa Catarina, e filial na capital de São Paulo, a localização é estratégica para a Weightech atender a todo o território brasileiro com extrema agilidade logística.
  • 50. 50 O que faz a Weightech? Precisamente, a Weightech é um provedor de soluções completas em pesagem, para empresas que fabricam balanças eletrônicas e outras diversas máquinas que incorporam uma balança entre seus elementos constituintes. É o caso, por exemplo, das máquinas de empacotamento, onde as unidades dos pacotes são definidas e graduadas pelo peso do conteúdo, ou sistemas de engarrafamento onde o enchimento das garrafas também é regulado automaticamente para quantidades programadas. A Weightech não lida com os usuários finais dos produtos que o seu produto vai integrar. A Weightech existe para os fabricantes que produzem em série, com auxílio dos produtos Weightech, os mais diversos bens e serviços destinados a alguns tipos de consumidor final ou usuário. O que levou à escolha de um segmento de mercado tão especializado? Como filho de empresário que atuava no setor de pesagem, vendendo balanças e serviços de assistência técnica e outros associados, como calibragem, manutenção e aluguel, aprendi em família a operação deste negócio. Trabalhando desde cedo na empresa da família pude acompanhar, de perto, a evolução da tecnologia pela qual instrumentos de natureza mecânica, ou analógicos, rapidamente mudaram para instrumentos eletrônicos. Qual a principal diferença funcional entre as duas tecnologias? A simplificação e a velocidade de operação, combinadas com precisão. Pela maior integração entre os componentes dos instrumentos de pesagem, poucos módulos passaram a ser exigidos para se construir uma balança. Antes, havia um módulo estrutural, um módulo mecânico, um módulo eletrônico e uma célula de carga – ou seja, um transdutor que transformava a grandeza da força/peso em grandeza elétrica. Na célula de carga reside o essencial da nova tecnologia, o princípio do funcionamento da balança eletrônica.
  • 51. 51 Onde a Weightech adquiria as células de pesagem? Ao final dos anos 80 e ao longo de toda a década de 90 podia-se recorrer a fornecedores dentro do Brasil. Entretanto havia uma grande dificuldade em lidar com fornecedores locais, estando na posição de empresa consumidora de células de carga, pela descontinuidade de padrões de qualidade, incerteza em cumprimento de prazos e irregularidade de suprimentos. Na impossibilidade de continuar dependentes das incertezas desses fornecedores optou-se pela erradicação desta dificuldade invertendo os polos da relação. A conduta da Weightech foi deixar de ser compradora e passar a ser fornecedora de células de carga. De usuários passamos a fornecedores de células de carga, hoje principal produto da empresa. Como era então o setor de pesagem no Brasil? O mercado era dominado por uma só empresa, que existe ainda hoje e que detinha o monopólio de 90% do total do setor. Era uma situação muito desequilibrada. Um monopólio tão forte que contrariava a natureza de uma verdadeira economia de mercado. Como era a comunicação internacional na Weightech? Quando casei em 1996, com uma catarinense, passamos a lua-de-mel nos Estados Unidos. Em matéria de comunicação no exterior vivi uma experiência frustrante – eu pensava que falava inglês e descobri na prática que era deficiente no domínio dessa língua. Isto dá uma idéia das limitações para a comunicação internacional. A primeira atitude positiva ao retornar de viagem, foi começar um bom curso de inglês. Eu comprometia 10% da minha renda com isso. Com o inglês aprendido, foi preenchido um requisito mínimo para a comunicação internacional. Com o progressivo domínio do inglês, ainda trabalhando na empresa da família, foi-me atribuída a responsabilidade de desenvolver parcerias estratégicas com fornecedores. Com este trabalho, estabeleci
  • 52. 52 alianças de cooperação com fornecedores de equipamentos na Finlândia e Estados Unidos, onde encontrei uma empresa fornecedora de células de carga. Qual o efeito desta descoberta? A partir de então a Weightech passou a ser consumidora de células importadas. Mas as críticas e dificuldades persistiram devido ao decurso de tempo entre o ato de fazer um pedido e dispor do produto importado na mão. Tornou-se imperativo encontrar uma solução mais ágil e que também tivesse continuidade. Numa dessas críticas feitas a um fornecedor, o próprio criticado sugeriu que a Weightech passasse a suprir a carência detectada. Aceito este desafio, o próximo passo foi a preparação de um cuidadoso plano de negócios, que resultou na vinda para Florianópolis. Por que Florianópolis? Ao nível pessoal, sempre houve o sonho de vir pra cá. Coincidentemente, a adaptação de minha esposa em São Paulo foi muito ruim. Percebemos que a nossa vida lá não daria certo. A aprovação do projeto para a instalação na incubadora tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina, no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (CELTA), abriu caminho para a mudança da vida pessoal e para a transferência da sede da empresa para Florianópolis. O tempo e os resultados obtidos provaram o acerto da decisão de vir para a Capital do Estado de Santa Catarina, que se converteu em centro de convergência de pesquisadores, pensadores e criadores de soluções em diversas tecnologias, um verdadeiro polo de informática. Quais as principais ligações da Weightech com o exterior? Uma condição excepcional para o desenvolvimento da Weightech foi merecer a escolha como representante exclusiva, para o Brasil, da empresa alemã Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM), referência mundial em
  • 53. 53 equipamentos e tecnologia, e líder nesse mercado, com operações em todo o mundo. Tratando-se de produtos tipo “premium”, portanto de altíssima qualidade, a representação da HBM se somou, ao longo do tempo, às parcerias negociadas com outros fornecedores, que permitiram compor um portfólio de soluções completas para o mercado de pesagem. Que outras ligações a Weightech conquistou? A busca por novas parcerias coincidiu com o advento da Internet. Ainda no tempo em que as conexões eram feitas por “modem” via linha telefônica, foram eliminadas barreiras da língua e das comunicações, abrindo ilimitadas conexões para a Weightech com o mundo interno e externo. De um lado, foram descobertos fornecedores no exterior, cujos produtos tinham mercado no Brasil. Empresas de porte pequeno, semelhante ao da Weightech, que estavam dispostas e aptas a fazer negócios. Negócios não da ordem de milhões, mas de 10 a 20 mil dólares por embarque. De outro lado, a abertura do Brasil para o mundo vem se consolidando, desde a implantação do SISCOMEX, Sistema de Gerenciamento de Comércio Exterior, do Governo Brasileiro, um sistema totalmente informatizado, moderno e avançado, que reduziu dramaticamente a burocracia, o tempo exigido e conseqüentemente os custos para quem se dedica ao comércio exterior. Esta simplificação de procedimentos para atividades de importação e exportação eliminou a obrigação de contratar intermediários para importar e/ou exportar, que oneravam o processo e o inviabilizavam para as pequenas empresas. Importante notar um fato especial e interessante correlacionado: as telecomunicações viabilizaram às pequenas empresas e à Weightech iniciarem operações em comércio exterior justamente para atender a uma demanda reprimida, dentro do mercado interno, onde simplesmente não havia qualquer produto similar nacional. Através da Internet a Weightech passou a ser vista por novos fornecedores e clientes potenciais e também pôde enxergar oportunidades antes inalcançáveis.
  • 54. 54 De que modo a experiência acumulada em família contribuiu para a Weightech? O trabalho na empresa familiar pavimentou a minha formação profissional, meu “background” e “expertise” no setor. Os anos de relacionamento positivo com fornecedores de quem fomos cliente, e que posteriormente passaram a ser nossos clientes, favoreceram a prospecção de oportunidades de negócio a serem supridas pela Weightech. Um exemplo enriquecedor ocorreu na transição da tecnologia de equipamentos analógicos para eletrônicos. Pude observar que algumas empresas, presentes por muito tempo no mercado – empresas de boa fé e boa reputação, fabricantes de bons produtos – detinham excelência superior em engenharia mecânica, mas reduzida “expertise” em eletrônica. Em resumo, toda a trajetória de sucesso da empresa era baseada numa tecnologia então ultrapassada. Nessa desvantagem foi percebida uma oportunidade para a Weightech: tornar-se um provedor de soluções para a carência de conhecimentos sobre engenharia eletrônica. Como resultado, foram construídas boas parcerias, baseadas no conceito de ser a Weightech um provedor de soluções globais. Isto significa continuamente investigar qual tecnologia está sendo usada na América do Norte, na Europa ou na Ásia, como um trabalho que a Weightech se propõe a fazer. É extremamente importante que os clientes no Brasil vejam a Weightech como uma empresa conectada aos mercados globais, de tal modo que, se existir alguma tecnologia diferente, em qualquer lugar no mundo, a Weightech possa trazer essa tecnologia para o Brasil. Como está a estrutura organizacional da Weightech? Em 2010, houve uma estruturação da empresa, onde foram delegadas para outras pessoas as atribuições operacionais antes concentradas na diretoria executiva. Isso tornou a minha presença um pouco mais dispensável no
  • 55. 55 cotidiano dos negócios, liberando-me para viagens, trabalho de campo com clientes, visitação a feiras, identificação de oportunidades, contato com fornecedores para desenvolvimento de novos produtos e relacionamentos estratégicos. Em termos de significado para o futuro, meu trabalho principal é prospectar negócios e desenvolver relacionamentos estratégicos com fornecedores e clientes. Dos vinte funcionários da empresa, treze trabalham em Florianópolis, respondendo pelos departamentos de administração, finanças, logística e estoque. Também há um setor de produção, onde produtos projetados e manufaturados pela Weightech, através de módulos terceirizados, são integrados aqui. Os demais funcionários trabalham na filial de São Paulo e são responsáveis pelos departamentos comercial, de marketing e de suporte técnico aos clientes. Na equipe predominam técnicos e engenheiros confirmando o caráter tecnológico da empresa, que lida internacionalmente com conhecimento aplicado a solução de problemas. Como é a ligação da Weightech com os clientes? O relacionamento da Weightech com clientes tem duas particularidades: primeiro a repetição de pedidos em períodos irregulares – alguns clientes compram uma vez por mês, outros semanalmente, outros todos os dias; e, segundo, a falta de um bom planejamento de aquisições por parte destes clientes. Pouquíssimos fornecem uma previsão de consumo precisa – para tais clientes a empresa reserva uma parte exclusiva do estoque, garantindo-lhes o suprimento planejado. Para todos os outros, cabe a Weightech analisar estimativas de demanda, de modo a estar apta a atendê-los. Isto é feito por meios alternativos, estudando o mercado de atuação de cada cliente e levando em consideração flutuações tais como sazonalidade e outras condições conjunturais. O importante é manter o cliente confiante na Weightech como a melhor opção de fornecedor de componentes para os produtos que ele fabrica.
  • 56. 56 Como a imprevisão dos clientes afeta a Weightech? Apesar de toda velocidade de comunicação que temos hoje, a logística envolvida no processo de importação consome em média cento e vinte dias. Isto porque, por uma questão de custo, continuamos a depender do modal de transporte marítimo. O transporte aéreo só cabe para produtos com uma relação peso/valor diferenciado, onde há alto valor agregado para pouco volume/peso. De outro modo o custo é proibitivo. Considerando as estimativas de demanda de clientes, a Weightech mantém um estoque para cinco meses de venda, evitando o risco de não dispor de produto para entrega. O que gera para a empresa uma imobilização de recursos financeiros em estoques, com risco permanente de obsolescência tecnológica e da variação cambial. E o serviço pós-venda? É dada a maior importância ao serviço pós-venda. Na transação de venda é indispensável oferecer produtos de qualidade, a preços justos; na pós- venda são necessários os melhores serviços de assistência técnica para manutenção. O que mantém o elo com o cliente, porém, é a capacidade da Weightech para ajudá-lo a alavancar mais negócios e gerar mais lucros. Isto só acontecerá se a empresa conseguir resolver tecnicamente o problema por um preço tal que gere lucro e/ou uma vantagem técnica no produto final. Onde estão os clientes da Weightech? O mercado nacional de usuários de equipamentos de pesagem está em franca expansão. Os fabricantes destes equipamentos, que por sua vez são os clientes da Weightech, estão concentrados, no sul e sudeste do Brasil. Como resultado, apesar de a empresa atender clientes no país todo, 90% das receitas procedem dos quatro estados do extremo sul. Neste sentido, Florianópolis está estrategicamente situada no meio dos grandes mercados da Weightech.
  • 57. 57 Como a Weightech vê a concorrência? Desde que a Weightech entrou no mercado, surgiram alguns competidores nacionais tentando fazer o mesmo que a empresa faz. Das três concorrentes que tentaram copiar o modelo da empresa, uma foi mal sucedida e duas outras operam até hoje em escala muito menor. Atualmente, nenhuma outra oferece um portfólio tão amplo de soluções, ou alcança a estrutura de vendas, de atendimento, ou de estoques comparável ao da Weightech. Em 2008, uma pressão maior da concorrência obrigou a uma redução da margem de lucro, que foi parcialmente sacrificada em troca da confirmação de posição no mercado, com manutenção do espaço conquistado, seguida de expansão. Mas a visão de concorrência da Weightech vai além do concorrente local. Dentro de uma perspectiva global, a empresa se preocupa não apenas com o concorrente que está no mesmo bairro, na mesma cidade, no mesmo estado ou no mesmo país. A empresa está ciente de que a visão de concorrência hoje é muito mais ampla e do tamanho do mundo. Isto significa que, como fornecedora, a Weightech precisa estar informada acerca de mudanças que afetem o negócio próprio e o de seus clientes. Grandes empresas têm equipes e uma estrutura estabelecida para cuidar disso, as demais não. A Weightech foi idealizada como ponte entre o cliente, o fabricante e as soluções para os seus problemas, onde quer que eles estejam. O segmento de tecnologia, principalmente em eletrônica, tem tido evolução vertiginosa e surpreendente. Nada é definitivo: uma solução para um problema, que parece excelente depois de demoradas buscas, pode ser ultrapassada por uma inesperada invenção que traz em si solução mais eficaz e mais barata. Contra eficiência maior a menor custo, o que era novo fica obsoleto. A busca pela excelência em padrões mundiais é permanente e sem trégua. A Weightech se mantém competitiva desenvolvendo as competências próprias em antecipar tendências para trazê-las até o cliente, agregando valor aos seus processos e produtos.
  • 58. 58 Como avalia os últimos dez anos da Weightech? Nos últimos dez anos de operação a Weightech pode usufruir de uma série de condições favoráveis, derivadas da evolução da tecnologia, do aperfeiçoamento das telecomunicações, da expansão do comércio exterior, do tratamento diferenciado recebido do governo através de incentivos fiscais e da simplificação dos procedimentos de importação e exportação para o Brasil. Foi exigido muito trabalho para provar que não estávamos no mercado para viver uma aventura, mas sim para construir uma empresa capaz de oferecer soluções tecnológicas avançadas para os seus clientes, mantendo-os competitivos num mercado global. Quais as perspectivas para o futuro da Weightech? A Weightech é ponte entre a origem do conhecimento, aplicado ao processo de pesagem e os usuários desse conhecimento, no setor produtivo, tendo como clientes diretos os fabricantes de equipamentos e como clientes indiretos os usuários dos produtos finais. Está comprometida em permanecer na liderança dentro do Brasil, como provedora de soluções para esses fabricantes, contribuindo para manter suas vantagens competitivas no novo mercado global. Em anos recentes o Brasil tem sido visto como uma economia propícia a expansão dos negócios nesta área. Fornecedores de outros países com economia deprimida pela crise financeira internacional, como os Estados Unidos, vêem no Brasil um novo mercado de destino de seus produtos e serviços, ao ponto de se disporem a comprometer a margem de lucro, como condição para competir aqui. A Weightech está atenta e compartilha a opinião de que, não obstante as muitas turbulências, o Brasil está destinado a se tornar um protagonista de peso na economia global do século XXI, já colocado entre as dez maiores economias do mundo. É mantendo o cliente Weightech competitivo aqui e no mundo, que a empresa se manterá próspera.
  • 59. 59 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho relata um estudo sobre o processo de globalização na internacionalização dos negócios. Como estudo qualitativo de natureza exploratória, nele predominaram procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica, ou seja, partiu-se de conteúdos elaborados por autores reconhecidos, publicados em livros e artigos científicos. O objetivo geral de compreender o processo de globalização foi alcançado ao longo do processo de busca dos conteúdos coletados, analisados e descritos ao longo do trabalho. Em complemento aos conhecimentos teóricos, buscou-se contato com a experiência concreta de uma empresa de tecnologia, que a partir de Florianópolis, está operando a internacionalização dos negócios em ambiente globalizado. Foi realizada entrevista semi-estruturada com o Diretor Executivo da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., empresa de tecnologia, inserida no segmento de pesagem, e diretamente relacionada com parceiros dispersos no mercado global. A fundamentação teórica a respeito de globalização realçou a idéia geral de um processo social complexo, ainda em curso e em ritmo acelerado, nas últimas décadas, em todo o mundo. Embora praticamente cada autor tenha uma definição própria de globalização, conforme os fins a que se propõe, ou segundo o campo profissional a que pertence, algumas convergências permitem sintetizar uma aproximação de conceito geral nestes termos: “Globalização é o estreitamento da integração entre países do mundo, especialmente em maior nível de comércio e movimentos de capital, decorrente da redução de custos de transporte e de comunicação.” (STIGLITZ; WALSH, 2003a)