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Baixar para ler offline
1
Sandhi Schimmel GoldConheça a artista que faz das incertezas vivas seu principal material para criar
Entrevista com a
cantora Duda Brack
Geek Girl: A representatividade
feminina no mundo dos Games
Criadora do “Vamos Juntas?”
fala sobre força e sororidade
Descubra quem é
a homenageada do mês
mensal-junhode2016-ano1
2
É preciso ter coragem para ser mulher neste mundo...
3
PAG. 4 - O FEMINISMO NO
MUNDO DAS ARTES
PAG. 6 - VOZ MULHER:
BILLIE HOLLIDAY
PAG. 8 - A SEXUALIZAÇÃO
NO MUNDO DOS GAMES
PAG. 10 - ESPECIAL:
SANDHI SCHIMMEL GOLD
PAG. 13 - NÓS, MADALENA PAG. 14- ENTREVISTA:
DUDA BRACK
PAG. 17 - MOVIMENTO
VAMOS JUNTAS?
PAG. 18 - HOMENAGEM:
UMA FORÇA CHAMADA PAGU
PAG. 20- LITERARTE:
PAGU DE RITA LEE
NA EVA DESTE MÊS...
4
O que é ser mulher? Poderia eu aqui acrescentar
diversas explicações cientificas ou culturais
como resposta. Mas sabemos que somos mais
que um corpo, mais que órgãos, mais que
comportamentos, mais que meras definições.
Ser mulher é ser absolutamente quem é, mesmo
que mutável, mesmo que camaleônico, mesmo
que exatamente igual, mesmo que diferente.
A Revista Eva convida todas as mulheres - não
gênero, mas alma! - a enxergarem outras
mulheres. Mulheres que fazem da arte e da
comunicação um veículo de transformação social
e cultural.
Nesta edição você conhecerá Sandhi Schimmel
Gold, uma artísta plástica preocupada com o
mundo em que habitamos, verá uma análise
sobre a representatividade feminina nos
games e um breve bate-papo com a criadora
do Movimento “Vamos Juntas?”. Tem também
uma entrevista com a cantora Duda Brack,
uma menina-mulher que utiliza a internet para
mostrar seu som, uma homenagem a Pagu e
muito mais.
Revista Eva é pra você, Mulher!
CARTA AO LEITORCARTA AO LEITOR
5
EXPEDIENTE
EDITORA-CHEFE
Camila Martins é formada em publicidade
e propaganda, técnico em canto popular
e cursa o segundo semestre de comuni-
cação visual. Trabalhou com musica e te-
atro. Escreveu para blogs colaborativos e
hoje é redatora chefe na Revista Eva.
DIAGRAMAÇÃO
Camila Martins
CONTEÚDO
Camila Martins
Dan Cilva
Hypness
O Globo
UOL EDITORA
Rua Monsenhor Andrade, 798 - São Paulo/SP
CEP 03009-100 - Telefone: (11) 3033-9263
contato@editoracaca.com.br
COLABORADORES
Dan Cilva
Allyson Souza
Edna Santos
Nilson Zimantas
Érico Oliveira
REVISÃO
Beatriz Xavier
6
Discussões sobre feminismo são necessárias e, ainda bem, estão em alta. Enquanto termos antes pouco conhe-
cidos como “sororidade” e “empoderamento” se popularizam, o mundo das artes se apropria desse discurso e
usa seu poder de influência para disseminá-lo. Na edição da Eva deste mês destacamos artistas que endossam e
reforçam essa mensagem, tão importante.
Enquanto o cinema hollywoodiano é
alvo de críticas por conta do núme-
ro cada vez menor de protagonis-
tas femininas — esta semana, uma
campanha para que se produza mais
cinebiografias de grandes mulheres
tomou a rede — a TV segue o ca-
minho oposto. Pelo menos no canal
americano ABC, aberto e de enorme
audiência, que deu a Shonda Rhi-
mes todo o horário nobre para que
ela exibisse suas produções. Nas
noites de quinta, as séries “Grey’s
Anatomy” e “Scandal”, criadas por
Shonda, e “How to get away with
murder”, produzida por ela, vão ao
ar em sequência (a mesma estraté-
gia foi incorporada pelo Sony, aqui
no Brasil).
Negra, mãe solteira, dona de um
corpo real e à frente de uma equipe
de mais de 500 pessoas, Shonda é
hoje a mulher forte da TV america-
na. E aproveita a visibilidade de seus
projetos, sucessos de crítica e públi-
co, para disseminar o discurso femi-
nista. Sempre que pode, faz ressoar
sua personalidade forte na voz dos
personagens que criou.
Caso da protagonista de “Scandal”,
Olivia Pope (Kerry Washington),
que defende vítimas de abuso sexu-
al, condena o uso da palavra “bitch”
(“cadela”), e dialoga com outras
mulheres que lutam pela autonomia
sexual ou para ter seus feitos reco-
nhecidos (veja uma cena no vídeo
abaixo). Mas não só. Shonda criou
personagens asiáticos, negros, bran-
cos, gays, e se recusa a fazer disso
uma questão. Eles são retratados
como o que são: pessoas normais vi-
vendo vidas normais.
O feminismo no mundo das artes
POR O GLOBO
Shonda Rhimes
Na metade do ano passado, Chima-
manda Ngozi Adichie se disse chateada.
Ela não suportava mais responder à tal
“pergunta da Beyoncé”. A cada entre-
vista, tinha que explicar como sua vida
mudou desde que a cantora americana
usou trechos do seu discurso “Sejamos
todos feministas” no hit “Flawless”.
É verdade que a carreira da nigeriana
pode ser dividida entre antes e depois
de 2014, quando ficou mundialmente
conhecida pela parceria com a diva pop.
Antes restrita aos círculos literários, a
autora ganhou também a cultura po-
pular, tornando-se uma referência na
luta pela igualdade das mulheres. Um
ativismo que começou há muito anos,
quando um conterrâneo lhe advertiu
para não se misturar com feminismo,
já que feministas são “infelizes e não
conseguem encontrar maridos“. Desde
então, passou a se autoproclamar uma
“feminista feliz“.
Chimamanda, porém, é muito mais do
que um hit de Beyoncé. Seu último ro-
mance publicado no Brasil, “America-
nah” (Companhia das Letras), narra
idas e vindas de um casal por três conti-
nentes e mais de uma década. Com ele,
ganhou seu primeiro prêmio importan-
te, o National Book Critics Circle Award,
concedido pela associação de críticos
dos Estados Unidos. A Companhia das
Letras também editou no Brasil seus
romances anteriores, “Hibisco roxo”
(2003) e “Meio sol amarelo” (2006), e
lançou em e-book o discurso completo
de “Sejamos todos feministas”.
Chimamanda Ngozi
Foto:divulgação
7
Beyoncé, um dos grandes nomes da
música pop, é multifacetada. Cantora,
compositora, dançarina, atriz, empresá-
ria e feminista. A artista de 33 anos ba-
talhou desde pequena pelo sucesso e há
muito tempo mostra que as mulheres
podem ser bem-sucedidas e plenas em
diversos âmbitos, como na carreira pro-
fissional, nos relacionamentos, na famí-
lia e em relação ao corpo ou ao sexo.
Na canção “Flawless”, de seu último dis-
co, a artista usa trechos do discurso es-
critora nigeriana Chimamanda Adichie,
que define como feminista “uma pessoa
que acredita na igualdade social, políti-
ca e econômica entre os sexos”.
Em 2013, Beyoncé fundou a campanha
“Chime for change”, ao lado da atriz
Salma Hayek e de Frida Giannini, dire-
tora criativa da Gucci. O projeto tem a
missão de promover educação, saúde e
justiça para cada menina e mulher, em
todos os lugares do mundo, além de re-
forçar a importância do papel das mu-
lheres na sociedade.
No show beneficente, comandado pela
cantora em Londres, não faltaram mú-
sicas sobre o empoderamento femini-
no. “Eu me considero feminista, apesar
do peso que algumas pessoas colocam
sobre a palavra”. A favor da igualdade
entre os sexos, a estrela também se
afirma como humanista e não hesita em
afirmar que as mulheres devem se sentir
confortáveis com suas escolhas.
Além de atriz e modelo, Emma Watson
pode se orgulhar de uma terceira ati-
vidade: a de ativista. Com apenas 24
anos, a ex-Hermione Granger da fran-
quia “Harry Potter” se tornou uma das
vozes mais ressonantes em Hollywood
no que diz respeito ao feminismo. Um
dos momentos mais memoráveis de seu
engajamento foi o seu discurso na ONU
— da qual é Embaixadora da Boa Vonta-
de —, em 2014, ao lançar a campanha
HeForShe, que incentiva os homens a
defenderem a igualdade de gêneros.
Na ocasião, disse ter começado a re-
fletir sobre o tema aos 8 anos, quando
era vista como uma “menina mando-
na” para os padrões — como se o título
fosse adequado apenas para garotos.
Pouco tempo depois, versou no Uruguai
sobre a importância da participação das
mulheres na política, e foi nomeada a
celebridade feminista de 2014 pela Ms.
Foundation for Woman, organização
criada nos anos 1970 para garantir e
ampliar os direitos das mulheres.
Expoente feminino do cenário teatral
brasileiro, a diretora Christiane Jatahy
investigou, em duas de suas mais re-
centes criações, a condição social e o
lugar da mulher a partir de dois clás-
sicos do passado confrontados com o
mundo contemporâneo, “Julia” (2012),
inspirada em “Senhorita Julia”, de Strin-
dberg, e “Se elas fosse para Moscou?”
(2014), baseada em “As três irmãs”, de
Tchekhov.
— Nos últimos anos estive envolvi-
da com a peça “As três irmãs”, de
Tchekhov, personagens femininas que
desejavam mudanças e novas possibili-
dades tanto como mulheres, como indi-
víduos em uma época em que o movi-
mento feminista ainda estava longe de
acontecer. Mas seus pequenos sonhos
se transformaram em melancolia — diz.
— Hoje poderia ser diferente, mas será
que é? Em um mundo em que grandes
diferenças culturais e sociais convivem
lado a lado, ainda temos muito a con-
quistar. Não só na ação, porque muitas
mulheres hoje são tão atuantes como os
homens, e ocupam, ainda que minori-
tariamente, lugares que antes só eram
ocupados pelos homens. Mas o que
ainda precisamos, todos nós, conquis-
tar, é mais sutil e profundo, é o verda-
deiro respeito e consciência da absoluta
igualdade entre homens e mulheres,
sem preconceitos disfarçados, sem dis-
cursos machistas paternalistas. É uma
mudança de consciência o que ainda
precisamos, de que somos realmente
Beyoncé Knowles Christiane Jatahy todos iguais e com os mesmos direitos,
sejamos homens, mulheres, heterosse-
xuais, homossexuais, brancos, pretos,
amarelos ou vermelhos. Acho que quan-
do Tchekhov, através da fala dos seus
personagens, pensava um futuro mais
libertador e brilhante, infelizmente não
era esse em que estamos vivendo…
Emma Watson
8
B
illie Holiday é sem dúvida um dos nomes mais fortes na
história do Jazz. Nascida em 1915 – data questionável
devido a ausência de documentação que comprove seu
nascimento – passou por diversos problemas. Seus pais
tinham menos de 15 anos de idade quando ela nasceu, viveu
todas as dificuldades de uma criação com os pais separados, fora
violentada ainda na infância e internada numa casa de correção
para garotas vitimas de abuso, onde o tratamento nada con-
vencional somente a fazia sofrer como muitas outras meninas
pobres e negras de seu tempo. Trabalhando com limpeza em
prostíbulos, teve seu primeiro contato com os discos de Jazz.
B
illie Holiday é sem dúvida um dos nomes mais fortes na
história do Jazz. Nascida em 1915 – data questionável
devido a ausência de documentação que comprove seu
nascimento – passou por diversos problemas. Seus pais
tinham menos de 15 anos de idade quando ela nasceu, viveu
todas as dificuldades de uma criação com os pais separados, fora
violentada ainda na infância e internada numa casa de correção
para garotas vitimas de abuso, onde o tratamento nada con-
vencional somente a fazia sofrer como muitas outras meninas
pobres e negras de seu tempo. Trabalhando com limpeza em
prostíbulos, teve seu primeiro contato com os discos de Jazz.
VOZ MULHER: BILLIE HOLLIDAY
Sua carreira começou na década de trinta,
ameaçada de despejo se viu na necessida-
de de sair às ruas para trabalhar. Tentou
ser dançarina, mas não tinha aptidão para
tal oficio. Por um acaso fizeram-na cantar
e, desde então, não parou mais. Gravou
álbuns com várias Big Bands e foi à pri-
meira negra a cantar com banda formada
por brancos em um período critico na
segregação étnica dos EUA.
Após envolvimento com drogas e álcool
– que prejudicou notavelmente sua voz
– passou a ficar cada vez mais doente e
depressiva, vindo a falecer em 1959. Sua
vida, difícil desde menina, era só um dos
pontos que tornava a sua interpretação
musical tão grandiosa. Havia em sua voz
elementos que a diferenciava das demais
cantoras de sua época, uma melancolia
própria e, mesmo não tendo instruções
musicais, sabia transformar e incorporar a
melodia como ninguém.
Por Camila Martins
9
10
Por que as personagens femininas são constru-
ídas para serem sensuais?
Mesmo em alguns casos em que o roteiro é atraente,
o cenário é misterioso e a trilha de fundo leva o joga-
dor a plena imersão, produtores sentem a necessida-
de de conceber personagens com o quesito de ape-
lação sexual, mesmo que não haja sequer relações
de contato intimo no decorrer da historia, ainda sim,
a protagonista é desenhada cunho. Não é incomum
a sensação de que algumas personagens de jogos de
luta (que fazem sucesso desde sua criação) ainda
ostentam corpos fora de sentido como seios enor-
mes ou um maiô para lutar em plena rua.
Certa vez joguei um game chamado One Chambara
Z Kagura onde há duas moças, cada qual portando
suas grandes armas cortantes em um cenário fecha-
do desmembrando corpos de zumbies. Até aí tudo
bem, mas eu não entendo até hoje (fora o apelo
sexual) o porquê de uma das personagens usar um
biquíni e um chapéu de cowboy para lutar! Longe de
dizer que seria uma boa idéia trajar tais personagens
com vestes longas e pesadas dos pés a cabeça mas,
mesmo ainda hoje, tais seres virtuais arrancam sus-
piros de jovens (e adultos) pelo mundo, mas há um
certo raciocínio se adaptando aos novos tempos.
No desenvolvimento do game Mortal Kombat para
A sexualização de
personagens femininos nos
jogos de vídeo game
Por Dan Cilva
E tudo começou no pixel (não estou falando do filme do Adam Sandler), quando o sonho do entretenimento
infanto juvenil levou a toda sorte de jogos eletrônicos desde o Tele-jogo até as potencias mais altas do momento,
como Xbox One e o Playstation 4 (que já estão beirando o abismo do ultrapasso) vemos todo tipo de persona-
gens marcantes ou não, mas há um detalhe amplamente discutido para o bem e para o mal.
Playstations 3 e Xbox 360, as mulheres eram muito mus-
culosas, com decotes exagerados e em algumas cenas
você não sabia se tinha medo ou se nutria um tenro tesão
juvenil pela Millena, por exemplo. No entanto, em sua con-
Imagem-alvanista
11
tinuação (Mortal Kombat X) os desenvolvedores removeram a maior
parte desses artifícios seguindo a lógica do argumento. Sonia Blade já
era mãe, sua filha já é adulta e participa de Mortal Kombat X, as ninjas
de Out World agora são mais guerreiras e menos modelos de capa de
alguma revista masculina adulta.
Até mesmo uma antiga personagem se reinventou em seu reboot!
Lara Croft continua linda e desbravadora de masmorras e tum-
bas, mas agora sem as mamas gigantes e os trajes mínimos. O
realismo que a nova geração nos trás, reclama bom senso no
que diz respeito ao roteiro e a criação de todos os persona-
gens. Os homens são uma nova forma de herói assim como
a mulher está cada vez mais cativando pela pessoa (digital)
que é e menos pelos seus contornos.
O futuro será escasso de corpos esculturais? Pelo que o mer-
cado mostra, a resposta é um sincero não. Mas isso não é
ruim pois, ao menos, agora há a necessidade de existir
heroínas com características mais alem de um corpo
apenas. Ellie (The Last of Us), Judy (Beyond Two
Souls) e Feith (Mirror’s Edge) são exemplos de
personagens eternas que são lindas por serem
quem são e por suas jornadas, suas historias.
Apaixonamo-nos muito mais pelos valores e
virtudes que carregam e representam do que
apenas pelo seu visual.
Uma lembrança da primeira vez que joguei
Tomb Raider 2013 foi que, mesmo em meio
a todo o caos agressivo que castigava Lara,
ela sempre mantinha a força de vontade para
dizer “i can do that”.
Imagem-forum.outerspace
12
Sandhi Schimmel Gold
A artista que faz das incertezas vivas seu principal material para criar
Por Camila Martins
ESPECIAL | INCERTEZAS VIVAS 13
A
arte é o fio condutor, o
agente transformador
do pensar coletivo. E
é com esse principio
que a 32º Bienal que ocorrerá 10
de setembro a 12 de dezembro
de 2016 chega para alimentar
almas e mentes criativas. O tema
“Incerteza Viva” surge para refletir
as relações humanas diante de sua
história e de seu futuro. A melhor
definição vem do próprio curador
Jochen Volz durante a divulgação
do tema no final de 2015: “A arte
se alimenta da incerteza, enquanto
tenta contar o incontável, mensurar
o imensurável. E a noção de
incerteza faz parte do repertório
de várias ciências e linguagens”.
Um dos pontos apresentados é a
necessidade de um olhar atencioso
o meio ambiente.
Mais do que um conhecedor da
estética e do sentimento catártico
em que a arte se faz viva, o artista
tem de saber sua responsabilidade
para o meio em que habita, para o
tempo que ocupa, para o publico
que o contempla.
E eis que lhes apresento a artista
plástica Sandhi Schimmel Gold,
uma artista norte-americana
autodidata que utiliza em suas
criações de mosaicos materiais
que podem ser encontrados em
qualquer lugar evitando que os
mesmos tenham como destino o
descarte inapropriado na natureza.
Além disso, não há intervenção
tecnológica ou digital em qualquer
fase de sua elaboração artística.
Sobre sua inclinação para as artes Sandhi diz:
”Eu aprendi a misturar tinta antes que eu pudesse escrever meu nome, tocar piano, antes
até que eu pudesse ler música. Passei minha juventude sentada calmamente no meu
quarto de desenho. Eu faltei à escola para passar dias em museus e galerias de arte em
Nova York. Mudei de direção na graduação e disciplinas na pós-graduação tantas vezes,
eu decidi levar o meu amor ao longo da vida de aprendizagem fora da academia”.
ESPECIAL | INCERTEZAS VIVAS14
A artista fora fundadora da On Display Inc. um
projeto pioneiro de exibição de varejo e empresa
de produção. Ganhou a atenção nacional e
reconhecimento ao projetar lojas, jogos, e adereços.
Desenhos para Levi Strauss & Co. apareceram na
capa de Visual Merchandising e Design Magazine
Store. Pintou retratos personalizados e possui
imagem eidética – algo como uma memória
fotográfica. Sandhi esclarece:
“eu posso ver as imagens no ar, assistir a
filmes no ar… No meu mundo, palavras,
números, e sons são fundidos com a cor. Eu
vejo coisa diferente. Meu cérebro é o projetor
– colocando imagens sobre tela em branco.
Meu trabalho é uma equação algébrica. É
uma progressão matemática.”.
Sandhi possui obras dotadas de beleza em cores compostas com o dom
de quem tem a responsabilidade ambiental como ferramenta. Ela faz
do fim um recomeço cuja incerteza do futuro de nosso planeta torna-se
inspiração para ser diferente, para se reinventar. Infelizmente há pouco
material de divulgação para o publico brasileiro, mas é possível conhece-la
melhor pelo site www.sandhischimmelgold.com.
De sensibilidade impar, suas obras estão espalhadas pelo mundo em acervos de colecionadores particulares e
corporativos. Seu trabalho é uma mercadoria rara - altamente valorizada devido à sua natureza; meticulosamente
e habilmente artesanais totalmente verdes – cujas peças tornam-se exclusivas devido à produção unica.
Foto:divulgação
15
O feminismo não é uma simples ideia, mas uma ideologia que muda
percepções, aumenta a autoestima, empodera e transforma vidas. Como
forma de provar isso, a fotógrafa Maria Ribeiro deu início ao projeto foto-
gráfico Nós, Madalenas, uma série de retratos em que mulheres escrevem
em seus próprios corpos o que o feminismo significa para cada uma delas.
Em preto e branco e sem qualquer tipo de tratamento digital, significados
particulares da ideologia aparecem ao lado de rostos, histórias, marcas,
celulites e estrias. Essas mulheres não aceitam as regras de beleza ou de
vida impostas por uma sociedade que tem o homem como centro e desco-
briram-se ainda mais poderosas e plenas dentro do feminismo. “O projeto
tem por objetivo expressar, através da arte, o que a luta pelo direito de ser
mulher representa e o que os movimentos que têm unido as mulheres para
criar força e transformar esse quadro representam na vida de cada uma –
e, consequentemente, na sociedade“explicou a fotógrafa Maria Ribeiro.
Mais do que uma sensível série de fotografias, o projeto Nós, Madalenas
é uma proposta de reflexão sobre como o feminismo tem mudado vidas
e dado novos fôlego e perspectivas às mulheres. Veja a galeria de fotos
completa acessando www.facebook.com/nosmadalenaspage
NÓS, MADALENAPor hypeness
16
Foto:divulgação
17
Revista Eva: Que sua voz é notavelmen-
te linda, até os ouvidos mais dispersos
conseguem perceber, como foi o inicio
de sua carreira. Em qual momento veio
à sua mente “eu sou cantora”?
Duda: Sempre digo que sou a vontade
de cantar, e não a cantora. Nunca me
percebi cantora. Percebi a necessidade,
o impulso de cantar, quando eu fiz quin-
ze anos. Não cantava antes - só no chu-
veiro. Tampouco tinha qualquer tipo de
relação estreita com música, mas come-
cei a me experimentar. Cantei em bares,
em grupos vocais, ouvi muita música,
convivi com artistas. Mergulhei fun-
do numa busca de me entender nesse
mundo e compreender o que eu queria
fazer com isso. Foi um “afloramento”.
Não nasci cantora, de cimento, de bar-
ro, me fiz e me faço cantora no ato
(porque amar é agir!).
RE: É muito nova ainda – 20 anos de
idade, uma menina – e o mais notável
em sua música é a interpretação e as
letras que são, na sua maioria, pesadas,
dotadas de uma melancolia onde o ou-
vinte consegue senti-la em sua voz. Há
alguma vivência ou inspiração que utili-
ze para chegar ao resultado final de suas
músicas? Tem algum apego ao escolher
qual irá interpretar?
Duda: Acredito que toda vivência é a
inspiração, e mais, a matéria prima des-
se resultado final, consciente ou incons-
cientemente. A gente externa aquilo
que nos atravessa que nos perfura. Es-
tar vivo é estar exposto a todos esses
estímulos. Por isso a escolha do reper-
tório é tão substancial e emblemática
na construção do trabalho de um in-
térprete. A gente escolhe cantar o que
a gente queria dizer e não consegue. É
um “desafogamento”. Sou muito minu-
ciosa e cheia de apegos pra escolher o
que vou cantar. São várias instâncias de
apego: busco a melodia que me cabe na
voz, busco a mensagem que eu quero
sustentar, busco uma subversão dos ca-
minhos óbvios, busco algo que meu cor-
po possa cantar junto, busco sentir que
a música precisa de mim tanto quanto
eu preciso dela (tipo varinha do Harry
Potter, que escolhe o bruxo, sabe? rs),
mas tudo é isso é secundário. O que de
fato determina é o quanto aquilo tudo,
no conjunto da obra, me é absoluta e
incontrolavelmente visceral, e aí os por-
quês não tem mais a menor importân-
cia. É totalmente passional.
RE: Atualmente, devido a programas
de financiamento coletivo e encontros
musicais, muitos músicos estão se unin-
do de diferentes pontos do país para
mostrar sua arte (cito como exemplo
a cooperação para o “Na vida anterior”
de João Guarizo que contou com muitos
artistas no Catarse). Como você vê essa
nova geração da MPB e toda essa inte-
ração que atualmente se expande cada
vez mais?
Duda: Acho isso tudo a coisa mais ma-
ravilhosa do mundo. Essa interação
expande galáxias no trabalho de todo
jovem artista hoje. Música é troca, é co-
municação, é comunhão. Quanto mais
essa interação for ativada, tanto mais
cresceremos, e isso não só em relação
à construção musical e artística mas
também no que tange a disseminação
destes novos trabalhos e formação de
público. Voto que cada vez mais as vi-
draças da individualidade sejam rompi-
das, pra que a gente viva cada vez mais
e mais essa “suruba”musical .
ENTREVISTA: DUDA BRACK
A Revista Eva teve o prazer de entrevistar a cantora Duda Brack. Mulher, jovem e
cheia de personalidade, Duda integra a nova geração da MPB e utiliza a internet
como ferramenta de aproximação com os fãs. Leia a entrevista e conheça mais essa
mulher que com sua voz potente canta sentimentos e musicaliza atitudes.
Por Camila Martins
Foto:divulgação
18
RE: Como você vê a importância da internet
em sua carreira e esse cenário musical que
nasce e se expande por intermédio da web?
Já conheceu cantores ou fez parcerias musi-
cais por intermédio da mesma?
Duda: E tem como não achar maravilhoso?
Em tempos de reformatação do mercado
fonográfico e midiático a internet é o que
mantém acesa a fagulha da possibilidade de
realização. A internet é de uma importância
substancial, pois é o que permite que nosso
trabalho exista no mundo, para além do nos-
so controle e poder de alcance. Já conheci
vários cantores e compositores por meio da
internet e estabeleço várias trocas.
RE: Soube que em breve seu filho irá nascer
– o seu primeiro CD – o que podemos espe-
rar dele? Fale-nos mais sobre esse projeto.
Duda: É um disco subversivo, que sustenta a
tradição da canção, mas desconstrói o modo
com o qual ela é abordada, explorando no-
vas sonoridades. É um disco troncho e se-
dutor. É um retrato de quem eu sou agora,
do que me atravessa, do que inquieta, me
integra, e é o mel do meu melhor. Quanto ao
que vocês podem esperar dele: acho compli-
cado responder isso. Me pego pensando que
gostaria que vocês não esperassem nada, rs.
Gostaria que vocês simplesmente o recebes-
sem com uma escuta corporal e sensorial
aberta às novas possibilidades que proponho
ali. A única garantia que posso dar é de que
foi feito com todo amor que já fui capaz de
abrigar nessa vida. Muito amor, com todas
as formas, de todos os jeitos em todos os
gestos. Fala sobre coragem, sobre paixão,
sobre abismo, sobre dor, sobre certezas e
incertezas, sobre sonho e sobre fé.
RE: E falando em futuro, já tem em mente aonde quer chegar?
Quais são os seus sonhos nesses caminhos musicais?
Duda: Desejo cada vez mais poder conviver, trabalhar e trocar
com pessoas maravilhosas e que eu admire. Desejo cada vez
mais descobrir a “infinitude” de possibilidades que a música é.
Desejo me descobrir, cada vez mais. Desejo crescer, aprender,
melhorar, contribuir, agregar, e dar algum sentido (pra mim e
pro mundo) à minha existência.
Ouça e baixe gratuitamente as músicas em
www.dudabrack.com.br
“A gente externa aquilo que nos atravessa que
nos perfura. Estar vivo é estar exposto a todos
esses estímulos. Por isso a escolha do repertório
é tão substancial e emblemática na construção
do trabalho de um intérprete. A gente escolhe
cantar o que a gente queria dizer e não
consegue. É um desafogamento”.
19
O movimento começou, de fato, no dia 30 de julho, mas digamos que a sementinha dele,
dentro de mim, germinava há algum tempo. Sempre fui vista como uma jornalista idealista
que tem o sonho de mudar o mundo, e realmente tenho. Não que eu tenha a megalomania
de achar que o mundo não viveria sem mim e tal, mas acho que tenho a responsabilida-
de de “mudar” o MEU mundo e o mundo a minha volta, como acho que deveria pensar
qualquer cidadão. Nesse sentido, vinha pensando muito sobre a relevância que eu tinha,
não tanto como jornalista, mas principalmente como ser humano. Foi quando comecei a
estudar e pesquisar sobre colaborativismo e empreendedorismo social. Entrei em contato
com a incrível ideia de que as pessoas têm o poder de melhorar as suas vidas através da
união e que juntos podemos mais e somos mais felizes. A velha ideia de que a união faz a
força e de que ao invés de reclamar dos poderes, devemos nos propor, juntos, a deixar o
nosso mundo um pouquinho melhor.
Como já estava em contato com essa forma de ver o mundo, o movimento surgiu como
solução colaborativa para um problema real que passamos todos os dias. Tive o estalo no
caminho de volta para casa me sentindo insegura por passar pelo centro de POA à noite.
Convidei a Vika Schimitz (que hoje é designer do movimento) para montarmos um card
(texto em imagem) explicando qual seria a ideia do movimento. A ideia era postar apenas
nas minhas redes sociais para contar a ideia para as minhas amigas mas a repercussão foi
tanta que em menos de duas horas pessoas de fora do meu circulo de amizade estavam
compartilhando a imagem e perguntando se tínhamos página, aí que criamos ela.
É incrivelmente emocionante receber tantos relatos de mulheres desconhecidas. Quase
que posso ouvir dentro de mim uma voz que diz “sim, aquilo que as pessoas falam sobre
a desunião das mulheres é mentira”. Primeiro porque elas confiam e acreditam na gente
para contar sua história que às vezes nunca tiveram coragem de falar para ninguém e
segundo porque a grande maioria delas contam ocasiões em que mulheres Se uniram e
juntas foram mais tranquilas e felizes. Muitas têm me adicionado no face, inclusive, ape-
nas para agradecer. É muito emocionante. Posso ver um sinal de que o futuro do mundo
realmente é mais bondoso e colaborativo.
Convido todas a se unirem umas às outras e a acreditarem na sororidade. Se tiver dúvidas
sobre se ela realmente existe, visitem a página e tenham a prova de que nossa união é
possível, sim.
Vamos Juntas?Por Camila Martins
A REVISTA EVA CONVERSOU COM A BABI SOUZA DO MOVIMENTO
“VAMOS JUNTAS?”. SORORIDADE MOSTRANDO QUE JUNTAS SOMOS MAIS FORTES.
Acesse e conheça histórias incríveis de sororidade:
www.facebook.com/movimentovamosjuntas
20
P
atrícia Rehder Galvão defendia a participação
ativa da mulher na sociedade e na política
- e foi a primeira brasileira do século 20 a
ser presa política. Aos 15 anos, estudava
para professora na Escola Normal e era
colaboradora de um jornal de bairro em São Paulo, com
o pseudônimo Patty.
De acordo com seu biógrafo Augusto de Campos, o
apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, quando
Patrícia lhe mostrou alguns poemas. Bopp sugeriu que
ela adotasse um nome literário feito com primeiras
sílabas de seu nome e sobrenome: Pagu. Foi um engano
de Bopp, pensando que a moça se chamasse Patrícia
Goulart. Mas ele escreveu um poema para ela, O coco de
Pagu, e o apelido pegou.
Tinha 19 anos quando conheceu o casal de
modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral
que a apresentaram ao movimento antropofágico e
praticamente a “adotaram”.
Em 1930 Oswald separou-se de Tarsila e se casou-se
com Pagu que estava grávida de seu primeiro filho, Rudá
de Andrade, nascido no mesmo ano. Três meses após
o parto, Pagu viajou para Buenos Aires, na Argentina,
para participar de um festival de poesia. Conheceu Luís
Carlos Prestes, e voltou entusiasmada com os ideais
marxistas.
Na volta, filiou-se ao Partido Comunista (PCB), junto
com Oswald. Foi o início de um período de intensa
militância política. Em março de 1931, o casal fundou
o jornal “O Homem do Povo”, que apoiava “a esquerda
revolucionária em prol da realização das reformas
necessárias”. Em seus artigos, Pagu criticava as
“feministas de elite”, e os valores das mulheres paulistas
das classes dominantes.
Oswald publicou ataques à Faculdade de Direito do
Largo São Francisco, chamando-a de “cancro” que
minava o Estado. O tabloide foi empastelado pelos
estudantes da faculdade e o Secretário de Segurança do
Estado mandou fechar o jornal.
No mesmo ano, em 15 de abril de 1931, Pagu foi presa
como militante comunista, durante uma greve dos
estivadores em Santos. Quando foi solta, o PCB a fez
assinar um documento em que se declarava uma “
.
Seu primeiro romance, “Parque industrial”, foi publicada
em 1933, mas Pagu teve de assiná-la como Mara Lobo:
foi uma exigência do Partido Comunista. A obra é uma
narrativa urbana sobre a vida das operárias da cidade
de São Paulo.Correspondente de vários jornais, Pagu
visitou os Estados Unidos, o Japão e a China. Entrevistou
Sigmund Freud e assistiu à coroação de Pu-Yi, o último
imperador chinês. Foi por intermédio dele que Pagu
conseguiu sementes de soja, enviadas ao Brasil e
introduzidas na economia agrícola brasileiro.
Uma força chamada Pagu
21
POR ANTONIO CARLOS OLIVIERI - PORTAL UOL
Pagu separou-se de Oswald de Andrade e
começou a trabalhar no jornal “A Plateia”.
Durante a revolta comunista de 1935, Pagu
foi presa e torturada outra vez. Cumpre
cinco anos e mais seis meses por se recusar
a prestar homenagem a Adhemar de Barros,
interventorfederalemvisitaaopresídio.Nesse
período, foi perseguida pelos integrantes
do PC. Patrícia rompe com o partido ao sair
da cadeia, em 1940. Estava muito doente,
arrasada, e pesava 44 quilos - tentou suicídio
ao ser libertada.
No ano seguinte, casada com o jornalista
Geraldo Ferraz, teve seu segundo filho,
Geraldo Galvão Ferraz. Trabalhou nos
jornais cariocas “A Manhã”, “O Jornal”, e nos
paulistanos “A Noite” e “Diário de São Paulo”.
Com o pseudônimo de King Shelter, escreveu
contos de suspense para a revista “Detetive”,
dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.
Pagu voltou a Paris em setembro de 1962,
para ser operada de câncer. A cirurgia não teve
êxito e ela tentou suicídio novamente. Muito
doente, viveu até dezembro. Na véspera de
sua morte, um último texto seu é publicado
em “A Tribuna” - o poema “Nothing”.
Dominio Público
22
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hum! Hum!
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!
Fama de porra louca, tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Hanhan! Ah! Hanran!
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
PAGU
Literarte
Composição: Rita Lee
Ilustração:jboscocaricaturas
23
...para viver como uma. Para escrever sobre elas.
Think Olga
24

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Mulheres que inspiram: artistas que disseminam o feminismo

  • 1. 1 Sandhi Schimmel GoldConheça a artista que faz das incertezas vivas seu principal material para criar Entrevista com a cantora Duda Brack Geek Girl: A representatividade feminina no mundo dos Games Criadora do “Vamos Juntas?” fala sobre força e sororidade Descubra quem é a homenageada do mês mensal-junhode2016-ano1
  • 2. 2 É preciso ter coragem para ser mulher neste mundo...
  • 3. 3 PAG. 4 - O FEMINISMO NO MUNDO DAS ARTES PAG. 6 - VOZ MULHER: BILLIE HOLLIDAY PAG. 8 - A SEXUALIZAÇÃO NO MUNDO DOS GAMES PAG. 10 - ESPECIAL: SANDHI SCHIMMEL GOLD PAG. 13 - NÓS, MADALENA PAG. 14- ENTREVISTA: DUDA BRACK PAG. 17 - MOVIMENTO VAMOS JUNTAS? PAG. 18 - HOMENAGEM: UMA FORÇA CHAMADA PAGU PAG. 20- LITERARTE: PAGU DE RITA LEE NA EVA DESTE MÊS...
  • 4. 4 O que é ser mulher? Poderia eu aqui acrescentar diversas explicações cientificas ou culturais como resposta. Mas sabemos que somos mais que um corpo, mais que órgãos, mais que comportamentos, mais que meras definições. Ser mulher é ser absolutamente quem é, mesmo que mutável, mesmo que camaleônico, mesmo que exatamente igual, mesmo que diferente. A Revista Eva convida todas as mulheres - não gênero, mas alma! - a enxergarem outras mulheres. Mulheres que fazem da arte e da comunicação um veículo de transformação social e cultural. Nesta edição você conhecerá Sandhi Schimmel Gold, uma artísta plástica preocupada com o mundo em que habitamos, verá uma análise sobre a representatividade feminina nos games e um breve bate-papo com a criadora do Movimento “Vamos Juntas?”. Tem também uma entrevista com a cantora Duda Brack, uma menina-mulher que utiliza a internet para mostrar seu som, uma homenagem a Pagu e muito mais. Revista Eva é pra você, Mulher! CARTA AO LEITORCARTA AO LEITOR
  • 5. 5 EXPEDIENTE EDITORA-CHEFE Camila Martins é formada em publicidade e propaganda, técnico em canto popular e cursa o segundo semestre de comuni- cação visual. Trabalhou com musica e te- atro. Escreveu para blogs colaborativos e hoje é redatora chefe na Revista Eva. DIAGRAMAÇÃO Camila Martins CONTEÚDO Camila Martins Dan Cilva Hypness O Globo UOL EDITORA Rua Monsenhor Andrade, 798 - São Paulo/SP CEP 03009-100 - Telefone: (11) 3033-9263 contato@editoracaca.com.br COLABORADORES Dan Cilva Allyson Souza Edna Santos Nilson Zimantas Érico Oliveira REVISÃO Beatriz Xavier
  • 6. 6 Discussões sobre feminismo são necessárias e, ainda bem, estão em alta. Enquanto termos antes pouco conhe- cidos como “sororidade” e “empoderamento” se popularizam, o mundo das artes se apropria desse discurso e usa seu poder de influência para disseminá-lo. Na edição da Eva deste mês destacamos artistas que endossam e reforçam essa mensagem, tão importante. Enquanto o cinema hollywoodiano é alvo de críticas por conta do núme- ro cada vez menor de protagonis- tas femininas — esta semana, uma campanha para que se produza mais cinebiografias de grandes mulheres tomou a rede — a TV segue o ca- minho oposto. Pelo menos no canal americano ABC, aberto e de enorme audiência, que deu a Shonda Rhi- mes todo o horário nobre para que ela exibisse suas produções. Nas noites de quinta, as séries “Grey’s Anatomy” e “Scandal”, criadas por Shonda, e “How to get away with murder”, produzida por ela, vão ao ar em sequência (a mesma estraté- gia foi incorporada pelo Sony, aqui no Brasil). Negra, mãe solteira, dona de um corpo real e à frente de uma equipe de mais de 500 pessoas, Shonda é hoje a mulher forte da TV america- na. E aproveita a visibilidade de seus projetos, sucessos de crítica e públi- co, para disseminar o discurso femi- nista. Sempre que pode, faz ressoar sua personalidade forte na voz dos personagens que criou. Caso da protagonista de “Scandal”, Olivia Pope (Kerry Washington), que defende vítimas de abuso sexu- al, condena o uso da palavra “bitch” (“cadela”), e dialoga com outras mulheres que lutam pela autonomia sexual ou para ter seus feitos reco- nhecidos (veja uma cena no vídeo abaixo). Mas não só. Shonda criou personagens asiáticos, negros, bran- cos, gays, e se recusa a fazer disso uma questão. Eles são retratados como o que são: pessoas normais vi- vendo vidas normais. O feminismo no mundo das artes POR O GLOBO Shonda Rhimes Na metade do ano passado, Chima- manda Ngozi Adichie se disse chateada. Ela não suportava mais responder à tal “pergunta da Beyoncé”. A cada entre- vista, tinha que explicar como sua vida mudou desde que a cantora americana usou trechos do seu discurso “Sejamos todos feministas” no hit “Flawless”. É verdade que a carreira da nigeriana pode ser dividida entre antes e depois de 2014, quando ficou mundialmente conhecida pela parceria com a diva pop. Antes restrita aos círculos literários, a autora ganhou também a cultura po- pular, tornando-se uma referência na luta pela igualdade das mulheres. Um ativismo que começou há muito anos, quando um conterrâneo lhe advertiu para não se misturar com feminismo, já que feministas são “infelizes e não conseguem encontrar maridos“. Desde então, passou a se autoproclamar uma “feminista feliz“. Chimamanda, porém, é muito mais do que um hit de Beyoncé. Seu último ro- mance publicado no Brasil, “America- nah” (Companhia das Letras), narra idas e vindas de um casal por três conti- nentes e mais de uma década. Com ele, ganhou seu primeiro prêmio importan- te, o National Book Critics Circle Award, concedido pela associação de críticos dos Estados Unidos. A Companhia das Letras também editou no Brasil seus romances anteriores, “Hibisco roxo” (2003) e “Meio sol amarelo” (2006), e lançou em e-book o discurso completo de “Sejamos todos feministas”. Chimamanda Ngozi Foto:divulgação
  • 7. 7 Beyoncé, um dos grandes nomes da música pop, é multifacetada. Cantora, compositora, dançarina, atriz, empresá- ria e feminista. A artista de 33 anos ba- talhou desde pequena pelo sucesso e há muito tempo mostra que as mulheres podem ser bem-sucedidas e plenas em diversos âmbitos, como na carreira pro- fissional, nos relacionamentos, na famí- lia e em relação ao corpo ou ao sexo. Na canção “Flawless”, de seu último dis- co, a artista usa trechos do discurso es- critora nigeriana Chimamanda Adichie, que define como feminista “uma pessoa que acredita na igualdade social, políti- ca e econômica entre os sexos”. Em 2013, Beyoncé fundou a campanha “Chime for change”, ao lado da atriz Salma Hayek e de Frida Giannini, dire- tora criativa da Gucci. O projeto tem a missão de promover educação, saúde e justiça para cada menina e mulher, em todos os lugares do mundo, além de re- forçar a importância do papel das mu- lheres na sociedade. No show beneficente, comandado pela cantora em Londres, não faltaram mú- sicas sobre o empoderamento femini- no. “Eu me considero feminista, apesar do peso que algumas pessoas colocam sobre a palavra”. A favor da igualdade entre os sexos, a estrela também se afirma como humanista e não hesita em afirmar que as mulheres devem se sentir confortáveis com suas escolhas. Além de atriz e modelo, Emma Watson pode se orgulhar de uma terceira ati- vidade: a de ativista. Com apenas 24 anos, a ex-Hermione Granger da fran- quia “Harry Potter” se tornou uma das vozes mais ressonantes em Hollywood no que diz respeito ao feminismo. Um dos momentos mais memoráveis de seu engajamento foi o seu discurso na ONU — da qual é Embaixadora da Boa Vonta- de —, em 2014, ao lançar a campanha HeForShe, que incentiva os homens a defenderem a igualdade de gêneros. Na ocasião, disse ter começado a re- fletir sobre o tema aos 8 anos, quando era vista como uma “menina mando- na” para os padrões — como se o título fosse adequado apenas para garotos. Pouco tempo depois, versou no Uruguai sobre a importância da participação das mulheres na política, e foi nomeada a celebridade feminista de 2014 pela Ms. Foundation for Woman, organização criada nos anos 1970 para garantir e ampliar os direitos das mulheres. Expoente feminino do cenário teatral brasileiro, a diretora Christiane Jatahy investigou, em duas de suas mais re- centes criações, a condição social e o lugar da mulher a partir de dois clás- sicos do passado confrontados com o mundo contemporâneo, “Julia” (2012), inspirada em “Senhorita Julia”, de Strin- dberg, e “Se elas fosse para Moscou?” (2014), baseada em “As três irmãs”, de Tchekhov. — Nos últimos anos estive envolvi- da com a peça “As três irmãs”, de Tchekhov, personagens femininas que desejavam mudanças e novas possibili- dades tanto como mulheres, como indi- víduos em uma época em que o movi- mento feminista ainda estava longe de acontecer. Mas seus pequenos sonhos se transformaram em melancolia — diz. — Hoje poderia ser diferente, mas será que é? Em um mundo em que grandes diferenças culturais e sociais convivem lado a lado, ainda temos muito a con- quistar. Não só na ação, porque muitas mulheres hoje são tão atuantes como os homens, e ocupam, ainda que minori- tariamente, lugares que antes só eram ocupados pelos homens. Mas o que ainda precisamos, todos nós, conquis- tar, é mais sutil e profundo, é o verda- deiro respeito e consciência da absoluta igualdade entre homens e mulheres, sem preconceitos disfarçados, sem dis- cursos machistas paternalistas. É uma mudança de consciência o que ainda precisamos, de que somos realmente Beyoncé Knowles Christiane Jatahy todos iguais e com os mesmos direitos, sejamos homens, mulheres, heterosse- xuais, homossexuais, brancos, pretos, amarelos ou vermelhos. Acho que quan- do Tchekhov, através da fala dos seus personagens, pensava um futuro mais libertador e brilhante, infelizmente não era esse em que estamos vivendo… Emma Watson
  • 8. 8 B illie Holiday é sem dúvida um dos nomes mais fortes na história do Jazz. Nascida em 1915 – data questionável devido a ausência de documentação que comprove seu nascimento – passou por diversos problemas. Seus pais tinham menos de 15 anos de idade quando ela nasceu, viveu todas as dificuldades de uma criação com os pais separados, fora violentada ainda na infância e internada numa casa de correção para garotas vitimas de abuso, onde o tratamento nada con- vencional somente a fazia sofrer como muitas outras meninas pobres e negras de seu tempo. Trabalhando com limpeza em prostíbulos, teve seu primeiro contato com os discos de Jazz. B illie Holiday é sem dúvida um dos nomes mais fortes na história do Jazz. Nascida em 1915 – data questionável devido a ausência de documentação que comprove seu nascimento – passou por diversos problemas. Seus pais tinham menos de 15 anos de idade quando ela nasceu, viveu todas as dificuldades de uma criação com os pais separados, fora violentada ainda na infância e internada numa casa de correção para garotas vitimas de abuso, onde o tratamento nada con- vencional somente a fazia sofrer como muitas outras meninas pobres e negras de seu tempo. Trabalhando com limpeza em prostíbulos, teve seu primeiro contato com os discos de Jazz. VOZ MULHER: BILLIE HOLLIDAY Sua carreira começou na década de trinta, ameaçada de despejo se viu na necessida- de de sair às ruas para trabalhar. Tentou ser dançarina, mas não tinha aptidão para tal oficio. Por um acaso fizeram-na cantar e, desde então, não parou mais. Gravou álbuns com várias Big Bands e foi à pri- meira negra a cantar com banda formada por brancos em um período critico na segregação étnica dos EUA. Após envolvimento com drogas e álcool – que prejudicou notavelmente sua voz – passou a ficar cada vez mais doente e depressiva, vindo a falecer em 1959. Sua vida, difícil desde menina, era só um dos pontos que tornava a sua interpretação musical tão grandiosa. Havia em sua voz elementos que a diferenciava das demais cantoras de sua época, uma melancolia própria e, mesmo não tendo instruções musicais, sabia transformar e incorporar a melodia como ninguém. Por Camila Martins
  • 9. 9
  • 10. 10 Por que as personagens femininas são constru- ídas para serem sensuais? Mesmo em alguns casos em que o roteiro é atraente, o cenário é misterioso e a trilha de fundo leva o joga- dor a plena imersão, produtores sentem a necessida- de de conceber personagens com o quesito de ape- lação sexual, mesmo que não haja sequer relações de contato intimo no decorrer da historia, ainda sim, a protagonista é desenhada cunho. Não é incomum a sensação de que algumas personagens de jogos de luta (que fazem sucesso desde sua criação) ainda ostentam corpos fora de sentido como seios enor- mes ou um maiô para lutar em plena rua. Certa vez joguei um game chamado One Chambara Z Kagura onde há duas moças, cada qual portando suas grandes armas cortantes em um cenário fecha- do desmembrando corpos de zumbies. Até aí tudo bem, mas eu não entendo até hoje (fora o apelo sexual) o porquê de uma das personagens usar um biquíni e um chapéu de cowboy para lutar! Longe de dizer que seria uma boa idéia trajar tais personagens com vestes longas e pesadas dos pés a cabeça mas, mesmo ainda hoje, tais seres virtuais arrancam sus- piros de jovens (e adultos) pelo mundo, mas há um certo raciocínio se adaptando aos novos tempos. No desenvolvimento do game Mortal Kombat para A sexualização de personagens femininos nos jogos de vídeo game Por Dan Cilva E tudo começou no pixel (não estou falando do filme do Adam Sandler), quando o sonho do entretenimento infanto juvenil levou a toda sorte de jogos eletrônicos desde o Tele-jogo até as potencias mais altas do momento, como Xbox One e o Playstation 4 (que já estão beirando o abismo do ultrapasso) vemos todo tipo de persona- gens marcantes ou não, mas há um detalhe amplamente discutido para o bem e para o mal. Playstations 3 e Xbox 360, as mulheres eram muito mus- culosas, com decotes exagerados e em algumas cenas você não sabia se tinha medo ou se nutria um tenro tesão juvenil pela Millena, por exemplo. No entanto, em sua con- Imagem-alvanista
  • 11. 11 tinuação (Mortal Kombat X) os desenvolvedores removeram a maior parte desses artifícios seguindo a lógica do argumento. Sonia Blade já era mãe, sua filha já é adulta e participa de Mortal Kombat X, as ninjas de Out World agora são mais guerreiras e menos modelos de capa de alguma revista masculina adulta. Até mesmo uma antiga personagem se reinventou em seu reboot! Lara Croft continua linda e desbravadora de masmorras e tum- bas, mas agora sem as mamas gigantes e os trajes mínimos. O realismo que a nova geração nos trás, reclama bom senso no que diz respeito ao roteiro e a criação de todos os persona- gens. Os homens são uma nova forma de herói assim como a mulher está cada vez mais cativando pela pessoa (digital) que é e menos pelos seus contornos. O futuro será escasso de corpos esculturais? Pelo que o mer- cado mostra, a resposta é um sincero não. Mas isso não é ruim pois, ao menos, agora há a necessidade de existir heroínas com características mais alem de um corpo apenas. Ellie (The Last of Us), Judy (Beyond Two Souls) e Feith (Mirror’s Edge) são exemplos de personagens eternas que são lindas por serem quem são e por suas jornadas, suas historias. Apaixonamo-nos muito mais pelos valores e virtudes que carregam e representam do que apenas pelo seu visual. Uma lembrança da primeira vez que joguei Tomb Raider 2013 foi que, mesmo em meio a todo o caos agressivo que castigava Lara, ela sempre mantinha a força de vontade para dizer “i can do that”. Imagem-forum.outerspace
  • 12. 12 Sandhi Schimmel Gold A artista que faz das incertezas vivas seu principal material para criar Por Camila Martins
  • 13. ESPECIAL | INCERTEZAS VIVAS 13 A arte é o fio condutor, o agente transformador do pensar coletivo. E é com esse principio que a 32º Bienal que ocorrerá 10 de setembro a 12 de dezembro de 2016 chega para alimentar almas e mentes criativas. O tema “Incerteza Viva” surge para refletir as relações humanas diante de sua história e de seu futuro. A melhor definição vem do próprio curador Jochen Volz durante a divulgação do tema no final de 2015: “A arte se alimenta da incerteza, enquanto tenta contar o incontável, mensurar o imensurável. E a noção de incerteza faz parte do repertório de várias ciências e linguagens”. Um dos pontos apresentados é a necessidade de um olhar atencioso o meio ambiente. Mais do que um conhecedor da estética e do sentimento catártico em que a arte se faz viva, o artista tem de saber sua responsabilidade para o meio em que habita, para o tempo que ocupa, para o publico que o contempla. E eis que lhes apresento a artista plástica Sandhi Schimmel Gold, uma artista norte-americana autodidata que utiliza em suas criações de mosaicos materiais que podem ser encontrados em qualquer lugar evitando que os mesmos tenham como destino o descarte inapropriado na natureza. Além disso, não há intervenção tecnológica ou digital em qualquer fase de sua elaboração artística. Sobre sua inclinação para as artes Sandhi diz: ”Eu aprendi a misturar tinta antes que eu pudesse escrever meu nome, tocar piano, antes até que eu pudesse ler música. Passei minha juventude sentada calmamente no meu quarto de desenho. Eu faltei à escola para passar dias em museus e galerias de arte em Nova York. Mudei de direção na graduação e disciplinas na pós-graduação tantas vezes, eu decidi levar o meu amor ao longo da vida de aprendizagem fora da academia”.
  • 14. ESPECIAL | INCERTEZAS VIVAS14 A artista fora fundadora da On Display Inc. um projeto pioneiro de exibição de varejo e empresa de produção. Ganhou a atenção nacional e reconhecimento ao projetar lojas, jogos, e adereços. Desenhos para Levi Strauss & Co. apareceram na capa de Visual Merchandising e Design Magazine Store. Pintou retratos personalizados e possui imagem eidética – algo como uma memória fotográfica. Sandhi esclarece: “eu posso ver as imagens no ar, assistir a filmes no ar… No meu mundo, palavras, números, e sons são fundidos com a cor. Eu vejo coisa diferente. Meu cérebro é o projetor – colocando imagens sobre tela em branco. Meu trabalho é uma equação algébrica. É uma progressão matemática.”. Sandhi possui obras dotadas de beleza em cores compostas com o dom de quem tem a responsabilidade ambiental como ferramenta. Ela faz do fim um recomeço cuja incerteza do futuro de nosso planeta torna-se inspiração para ser diferente, para se reinventar. Infelizmente há pouco material de divulgação para o publico brasileiro, mas é possível conhece-la melhor pelo site www.sandhischimmelgold.com. De sensibilidade impar, suas obras estão espalhadas pelo mundo em acervos de colecionadores particulares e corporativos. Seu trabalho é uma mercadoria rara - altamente valorizada devido à sua natureza; meticulosamente e habilmente artesanais totalmente verdes – cujas peças tornam-se exclusivas devido à produção unica. Foto:divulgação
  • 15. 15 O feminismo não é uma simples ideia, mas uma ideologia que muda percepções, aumenta a autoestima, empodera e transforma vidas. Como forma de provar isso, a fotógrafa Maria Ribeiro deu início ao projeto foto- gráfico Nós, Madalenas, uma série de retratos em que mulheres escrevem em seus próprios corpos o que o feminismo significa para cada uma delas. Em preto e branco e sem qualquer tipo de tratamento digital, significados particulares da ideologia aparecem ao lado de rostos, histórias, marcas, celulites e estrias. Essas mulheres não aceitam as regras de beleza ou de vida impostas por uma sociedade que tem o homem como centro e desco- briram-se ainda mais poderosas e plenas dentro do feminismo. “O projeto tem por objetivo expressar, através da arte, o que a luta pelo direito de ser mulher representa e o que os movimentos que têm unido as mulheres para criar força e transformar esse quadro representam na vida de cada uma – e, consequentemente, na sociedade“explicou a fotógrafa Maria Ribeiro. Mais do que uma sensível série de fotografias, o projeto Nós, Madalenas é uma proposta de reflexão sobre como o feminismo tem mudado vidas e dado novos fôlego e perspectivas às mulheres. Veja a galeria de fotos completa acessando www.facebook.com/nosmadalenaspage NÓS, MADALENAPor hypeness
  • 17. 17 Revista Eva: Que sua voz é notavelmen- te linda, até os ouvidos mais dispersos conseguem perceber, como foi o inicio de sua carreira. Em qual momento veio à sua mente “eu sou cantora”? Duda: Sempre digo que sou a vontade de cantar, e não a cantora. Nunca me percebi cantora. Percebi a necessidade, o impulso de cantar, quando eu fiz quin- ze anos. Não cantava antes - só no chu- veiro. Tampouco tinha qualquer tipo de relação estreita com música, mas come- cei a me experimentar. Cantei em bares, em grupos vocais, ouvi muita música, convivi com artistas. Mergulhei fun- do numa busca de me entender nesse mundo e compreender o que eu queria fazer com isso. Foi um “afloramento”. Não nasci cantora, de cimento, de bar- ro, me fiz e me faço cantora no ato (porque amar é agir!). RE: É muito nova ainda – 20 anos de idade, uma menina – e o mais notável em sua música é a interpretação e as letras que são, na sua maioria, pesadas, dotadas de uma melancolia onde o ou- vinte consegue senti-la em sua voz. Há alguma vivência ou inspiração que utili- ze para chegar ao resultado final de suas músicas? Tem algum apego ao escolher qual irá interpretar? Duda: Acredito que toda vivência é a inspiração, e mais, a matéria prima des- se resultado final, consciente ou incons- cientemente. A gente externa aquilo que nos atravessa que nos perfura. Es- tar vivo é estar exposto a todos esses estímulos. Por isso a escolha do reper- tório é tão substancial e emblemática na construção do trabalho de um in- térprete. A gente escolhe cantar o que a gente queria dizer e não consegue. É um “desafogamento”. Sou muito minu- ciosa e cheia de apegos pra escolher o que vou cantar. São várias instâncias de apego: busco a melodia que me cabe na voz, busco a mensagem que eu quero sustentar, busco uma subversão dos ca- minhos óbvios, busco algo que meu cor- po possa cantar junto, busco sentir que a música precisa de mim tanto quanto eu preciso dela (tipo varinha do Harry Potter, que escolhe o bruxo, sabe? rs), mas tudo é isso é secundário. O que de fato determina é o quanto aquilo tudo, no conjunto da obra, me é absoluta e incontrolavelmente visceral, e aí os por- quês não tem mais a menor importân- cia. É totalmente passional. RE: Atualmente, devido a programas de financiamento coletivo e encontros musicais, muitos músicos estão se unin- do de diferentes pontos do país para mostrar sua arte (cito como exemplo a cooperação para o “Na vida anterior” de João Guarizo que contou com muitos artistas no Catarse). Como você vê essa nova geração da MPB e toda essa inte- ração que atualmente se expande cada vez mais? Duda: Acho isso tudo a coisa mais ma- ravilhosa do mundo. Essa interação expande galáxias no trabalho de todo jovem artista hoje. Música é troca, é co- municação, é comunhão. Quanto mais essa interação for ativada, tanto mais cresceremos, e isso não só em relação à construção musical e artística mas também no que tange a disseminação destes novos trabalhos e formação de público. Voto que cada vez mais as vi- draças da individualidade sejam rompi- das, pra que a gente viva cada vez mais e mais essa “suruba”musical . ENTREVISTA: DUDA BRACK A Revista Eva teve o prazer de entrevistar a cantora Duda Brack. Mulher, jovem e cheia de personalidade, Duda integra a nova geração da MPB e utiliza a internet como ferramenta de aproximação com os fãs. Leia a entrevista e conheça mais essa mulher que com sua voz potente canta sentimentos e musicaliza atitudes. Por Camila Martins Foto:divulgação
  • 18. 18 RE: Como você vê a importância da internet em sua carreira e esse cenário musical que nasce e se expande por intermédio da web? Já conheceu cantores ou fez parcerias musi- cais por intermédio da mesma? Duda: E tem como não achar maravilhoso? Em tempos de reformatação do mercado fonográfico e midiático a internet é o que mantém acesa a fagulha da possibilidade de realização. A internet é de uma importância substancial, pois é o que permite que nosso trabalho exista no mundo, para além do nos- so controle e poder de alcance. Já conheci vários cantores e compositores por meio da internet e estabeleço várias trocas. RE: Soube que em breve seu filho irá nascer – o seu primeiro CD – o que podemos espe- rar dele? Fale-nos mais sobre esse projeto. Duda: É um disco subversivo, que sustenta a tradição da canção, mas desconstrói o modo com o qual ela é abordada, explorando no- vas sonoridades. É um disco troncho e se- dutor. É um retrato de quem eu sou agora, do que me atravessa, do que inquieta, me integra, e é o mel do meu melhor. Quanto ao que vocês podem esperar dele: acho compli- cado responder isso. Me pego pensando que gostaria que vocês não esperassem nada, rs. Gostaria que vocês simplesmente o recebes- sem com uma escuta corporal e sensorial aberta às novas possibilidades que proponho ali. A única garantia que posso dar é de que foi feito com todo amor que já fui capaz de abrigar nessa vida. Muito amor, com todas as formas, de todos os jeitos em todos os gestos. Fala sobre coragem, sobre paixão, sobre abismo, sobre dor, sobre certezas e incertezas, sobre sonho e sobre fé. RE: E falando em futuro, já tem em mente aonde quer chegar? Quais são os seus sonhos nesses caminhos musicais? Duda: Desejo cada vez mais poder conviver, trabalhar e trocar com pessoas maravilhosas e que eu admire. Desejo cada vez mais descobrir a “infinitude” de possibilidades que a música é. Desejo me descobrir, cada vez mais. Desejo crescer, aprender, melhorar, contribuir, agregar, e dar algum sentido (pra mim e pro mundo) à minha existência. Ouça e baixe gratuitamente as músicas em www.dudabrack.com.br “A gente externa aquilo que nos atravessa que nos perfura. Estar vivo é estar exposto a todos esses estímulos. Por isso a escolha do repertório é tão substancial e emblemática na construção do trabalho de um intérprete. A gente escolhe cantar o que a gente queria dizer e não consegue. É um desafogamento”.
  • 19. 19 O movimento começou, de fato, no dia 30 de julho, mas digamos que a sementinha dele, dentro de mim, germinava há algum tempo. Sempre fui vista como uma jornalista idealista que tem o sonho de mudar o mundo, e realmente tenho. Não que eu tenha a megalomania de achar que o mundo não viveria sem mim e tal, mas acho que tenho a responsabilida- de de “mudar” o MEU mundo e o mundo a minha volta, como acho que deveria pensar qualquer cidadão. Nesse sentido, vinha pensando muito sobre a relevância que eu tinha, não tanto como jornalista, mas principalmente como ser humano. Foi quando comecei a estudar e pesquisar sobre colaborativismo e empreendedorismo social. Entrei em contato com a incrível ideia de que as pessoas têm o poder de melhorar as suas vidas através da união e que juntos podemos mais e somos mais felizes. A velha ideia de que a união faz a força e de que ao invés de reclamar dos poderes, devemos nos propor, juntos, a deixar o nosso mundo um pouquinho melhor. Como já estava em contato com essa forma de ver o mundo, o movimento surgiu como solução colaborativa para um problema real que passamos todos os dias. Tive o estalo no caminho de volta para casa me sentindo insegura por passar pelo centro de POA à noite. Convidei a Vika Schimitz (que hoje é designer do movimento) para montarmos um card (texto em imagem) explicando qual seria a ideia do movimento. A ideia era postar apenas nas minhas redes sociais para contar a ideia para as minhas amigas mas a repercussão foi tanta que em menos de duas horas pessoas de fora do meu circulo de amizade estavam compartilhando a imagem e perguntando se tínhamos página, aí que criamos ela. É incrivelmente emocionante receber tantos relatos de mulheres desconhecidas. Quase que posso ouvir dentro de mim uma voz que diz “sim, aquilo que as pessoas falam sobre a desunião das mulheres é mentira”. Primeiro porque elas confiam e acreditam na gente para contar sua história que às vezes nunca tiveram coragem de falar para ninguém e segundo porque a grande maioria delas contam ocasiões em que mulheres Se uniram e juntas foram mais tranquilas e felizes. Muitas têm me adicionado no face, inclusive, ape- nas para agradecer. É muito emocionante. Posso ver um sinal de que o futuro do mundo realmente é mais bondoso e colaborativo. Convido todas a se unirem umas às outras e a acreditarem na sororidade. Se tiver dúvidas sobre se ela realmente existe, visitem a página e tenham a prova de que nossa união é possível, sim. Vamos Juntas?Por Camila Martins A REVISTA EVA CONVERSOU COM A BABI SOUZA DO MOVIMENTO “VAMOS JUNTAS?”. SORORIDADE MOSTRANDO QUE JUNTAS SOMOS MAIS FORTES. Acesse e conheça histórias incríveis de sororidade: www.facebook.com/movimentovamosjuntas
  • 20. 20 P atrícia Rehder Galvão defendia a participação ativa da mulher na sociedade e na política - e foi a primeira brasileira do século 20 a ser presa política. Aos 15 anos, estudava para professora na Escola Normal e era colaboradora de um jornal de bairro em São Paulo, com o pseudônimo Patty. De acordo com seu biógrafo Augusto de Campos, o apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, quando Patrícia lhe mostrou alguns poemas. Bopp sugeriu que ela adotasse um nome literário feito com primeiras sílabas de seu nome e sobrenome: Pagu. Foi um engano de Bopp, pensando que a moça se chamasse Patrícia Goulart. Mas ele escreveu um poema para ela, O coco de Pagu, e o apelido pegou. Tinha 19 anos quando conheceu o casal de modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral que a apresentaram ao movimento antropofágico e praticamente a “adotaram”. Em 1930 Oswald separou-se de Tarsila e se casou-se com Pagu que estava grávida de seu primeiro filho, Rudá de Andrade, nascido no mesmo ano. Três meses após o parto, Pagu viajou para Buenos Aires, na Argentina, para participar de um festival de poesia. Conheceu Luís Carlos Prestes, e voltou entusiasmada com os ideais marxistas. Na volta, filiou-se ao Partido Comunista (PCB), junto com Oswald. Foi o início de um período de intensa militância política. Em março de 1931, o casal fundou o jornal “O Homem do Povo”, que apoiava “a esquerda revolucionária em prol da realização das reformas necessárias”. Em seus artigos, Pagu criticava as “feministas de elite”, e os valores das mulheres paulistas das classes dominantes. Oswald publicou ataques à Faculdade de Direito do Largo São Francisco, chamando-a de “cancro” que minava o Estado. O tabloide foi empastelado pelos estudantes da faculdade e o Secretário de Segurança do Estado mandou fechar o jornal. No mesmo ano, em 15 de abril de 1931, Pagu foi presa como militante comunista, durante uma greve dos estivadores em Santos. Quando foi solta, o PCB a fez assinar um documento em que se declarava uma “ . Seu primeiro romance, “Parque industrial”, foi publicada em 1933, mas Pagu teve de assiná-la como Mara Lobo: foi uma exigência do Partido Comunista. A obra é uma narrativa urbana sobre a vida das operárias da cidade de São Paulo.Correspondente de vários jornais, Pagu visitou os Estados Unidos, o Japão e a China. Entrevistou Sigmund Freud e assistiu à coroação de Pu-Yi, o último imperador chinês. Foi por intermédio dele que Pagu conseguiu sementes de soja, enviadas ao Brasil e introduzidas na economia agrícola brasileiro. Uma força chamada Pagu
  • 21. 21 POR ANTONIO CARLOS OLIVIERI - PORTAL UOL Pagu separou-se de Oswald de Andrade e começou a trabalhar no jornal “A Plateia”. Durante a revolta comunista de 1935, Pagu foi presa e torturada outra vez. Cumpre cinco anos e mais seis meses por se recusar a prestar homenagem a Adhemar de Barros, interventorfederalemvisitaaopresídio.Nesse período, foi perseguida pelos integrantes do PC. Patrícia rompe com o partido ao sair da cadeia, em 1940. Estava muito doente, arrasada, e pesava 44 quilos - tentou suicídio ao ser libertada. No ano seguinte, casada com o jornalista Geraldo Ferraz, teve seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz. Trabalhou nos jornais cariocas “A Manhã”, “O Jornal”, e nos paulistanos “A Noite” e “Diário de São Paulo”. Com o pseudônimo de King Shelter, escreveu contos de suspense para a revista “Detetive”, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. Pagu voltou a Paris em setembro de 1962, para ser operada de câncer. A cirurgia não teve êxito e ela tentou suicídio novamente. Muito doente, viveu até dezembro. Na véspera de sua morte, um último texto seu é publicado em “A Tribuna” - o poema “Nothing”. Dominio Público
  • 22. 22 Mexo, remexo na inquisição Só quem já morreu na fogueira Sabe o que é ser carvão Hum! Hum! Eu sou pau pra toda obra Deus dá asas à minha cobra Hum! Hum! Hum! Hum! Minha força não é bruta Não sou freira, nem sou puta Sou rainha do meu tanque Sou Pagu indignada no palanque Hanhan! Ah! Hanran! Fama de porra louca, tudo bem! Minha mãe é Maria Ninguém Hanhan! Ah! Hanran! Não sou atriz, modelo, dançarina Meu buraco é mais em cima Porque nem toda feiticeira é corcunda Nem toda brasileira é bunda Meu peito não é de silicone Sou mais macho que muito homem PAGU Literarte Composição: Rita Lee Ilustração:jboscocaricaturas
  • 23. 23 ...para viver como uma. Para escrever sobre elas. Think Olga
  • 24. 24