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Paul o

Hart ung
Paul o Hart ung
Sumário

Apresentação – Paulo Hartung

05

Prefácio – Claudio Porto 

09

Introdução 

17

Capítulo 1 – Entre Gerações 
Organiz ação e edição:
Revisão:
Foto:

Capítulo 3 – Planejamento – Rumo e Estratégia

69

Capítulo 4 – Gestão – Investimento Decisivo

Alair Caliari

Impre ssão:

79

Link Editoração

GSA Gráfica e Editora

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária responsável: Amanda Luiza de Souza Mattioli

G633r		
		
		

GOMES, Paulo César Hartung, 1957Recortes / Paulo César Hartung Gomes ; organização, José
Antonio Martinuzzo. - Vitória, ES : Econos, 2012. -

		

152 p. ; 24 cm.

		

1.	 dministração pública – Economia – Planejamento
A
Estratégico – Gestão – Educação – Política.
I.	 Martinuzzo, José Antonio. II. Título

		

55

Márcia Rocha

Projeto gr áfico e di agr am ação:

	
	

Capítulo 2 – Economia – Desafios e Oportunidades

José Antonio Martinuzzo

21



ISBN 978-85-8173-024-0
E c o n o s – J a n e i r o d e 2012

Capítulo 5 – Educação e Juventude – Determinantes do Futuro101
Capítulo 6 – Política – Conquista Histórica Desafiada 

121
129

Referências bibliográficas

CDD - 350

Posfácio – Ana Paula Vescovi

152
Apresentação

O

ano de 2011 marca no calendário da minha jornada um
tempo de inovação. Findo o período de dois mandatos à frente do governo do Estado do Espírito Santo
(2003-2010), coloquei minha vida em novo curso, embora seguindo os mesmos valores que estão a orientá-la desde a juventude, pautados pela construção da

igualdade de oportunidade para todos.
Como consequência da decisão de não me candidatar a cargo ele-

tivo em 2010, dei início ao terceiro período da minha vida profissional
sem mandato – antes da minha primeira eleição, em 1982, atuei como
microempresário; em 1997, após deixar a Prefeitura de Vitória, assumi
a Diretoria Social do BNDES, até a disputa para o Senado. Neste atual
período distante dos cargos eletivos, entraram em pauta os estudos, as
atividades como economista e palestrante.
Ao voltar do período de três meses de estudos no exterior, associei-me, na Econos, a um dos grandes economistas deste País, José Teófilo Oliveira. Deste posto de trabalho e observação, tenho atuado segundo minha formação acadêmica. Em razão do momento que estamos vivendo, a dedicação às atividades de economista tem me proporcionado
um tempo de muito dinamismo e entusiasmo.
Experimentamos uma era de superação do paradigma pós-Segunda Guerra e, dentre as muitas mudanças registradas, a China ganha um
papel destacado na economia mundial e novas janelas de oportunidades de investimentos e dinamização produtiva se abrem aos emergentes, com resultados positivos para os brasileiros.
Apresentação

7
De outra sorte, trata-se de um período desafiador à atividade de

palestras, depoimentos, estudos, entrevistas, registram-se valores, ide-

economista, tendo em vista o desenrolar da crise financeira mundial,

ais, informações, percepções e avaliações acerca da desafiante vida atu-

cujos epicentros espalham-se no mundo desenvolvido (EUA, União Eu-

al, em âmbito estadual, nacional e internacional.

ropeia e Japão), exigindo dos especialistas um acompanhamento siste-

Trata-se de pontos de vista consolidados a partir de minha vida fa-

mático e profundo de um quadro fluido e complexo numa realidade de

miliar, formação acadêmica, na busca do conhecimento, militância so-

globalização econômica.

cial, trabalho nas esferas pública e privada. Enfim, são visões referen-

Enfim, ações como planejar, analisar, estudar cenários, verificar
possibilidades, desenhar projetos, entre tantas outras atribuições de economista que são, costumeiramente, inspiradoras e desafiantes, em um
tempo como o atual tornam-se atividades ainda mais vibrantes.

ciadas à minha ação política, esta entendida como o próprio e inexorável ato de viver em coletividade como cidadão.
Para mim, a política é condição da existência humana e se pratica não apenas nos partidos, na militância ou na esfera governativa. Ela

Como uma ação de responsabilidade social, e por considerar a edu-

perpassa todos os âmbitos da vida, constituindo-se como meio e exi-

cação a grande prioridade nacional, dedico-me também a fazer palestras à

gência do existir civilizado. Nesse sentido, coloco-me como um eterno

juventude, buscando o despertar para o olhar atento aos fenômenos socio-

militante de política emancipatória, de base republicana e democrática.

econômicos e político-culturais que modelam a nossa vida cotidianamente

Quanto à política relativa aos partidos e instituições governamen-

e, fundamentalmente, a relevância da instrução na vida contemporânea.

tais, reafirmo minha crença neste processo, visto como uma conquis-

Nesta caminhada de atividade na vida privada, com estudos, leitu-

ta da humanidade, um avanço da civilização. Saliento, no entanto, que

ras, reciclagens e interfaces profissionais com os mais variados públicos,

o atual sistema político brasileiro está ultrapassado e precário, incapaz

tenho me dedicado, ainda, a compartilhar o conhecimento que acumulei

de dar conta das tarefas do presente. É urgente a sua atualização, ten-

ao longo de quase 30 anos de mandatos conquistados em sete eleições, es-

do em vista o paradigma socioeconômico e tecnológico da atualidade.

pecialmente os dois períodos em que estive à frente do Executivo estadual.

Nessa conjuntura, decidi não disputar as eleições em 2010. Primei-

Como ex-governador, assumi uma postura que considero adequa-

ramente, pelo meu compromisso com a política de qualidade, de base re-

da a essa posição, evitando avaliações e palpites sobre os rumos da ad-

publicana, tendo em vista que considerava simbólico e necessário con-

ministração pública no Estado. De outra sorte, coloco-me sempre pron-

cluir os dois mandatos de governador a mim outorgados pelos capixabas.

to, quando solicitado, a continuar contribuindo para o desenvolvimento

Tinha uma missão a cumprir em sua totalidade, qual seja, liderar

do Espírito Santo, que, mesmo enfrentando os desafios comuns ao dia a

a reconstrução do Espírito Santo e entregar o Estado financeira, insti-

dia, vive um tempo de oportunidades ímpares em seus quase cinco sé-

tucional e administrativamente organizado ao meu sucessor, garantin-

culos de história. O treinamento que acumulei ao longo de minha cami-

do os fundamentos e as condições de continuidade deste novo tempo

nhada também tem sido disponibilizado a outros Estados da Federação.

de nossa história que começamos a construir coletivamente em 2003.

A publicação desta coletânea de algumas das produções do ano de
2011 ocorre exatamente nessa direção do compartilhamento. Por meio de
8

E também decidi não me candidatar por enxergar um enorme descompasso entre a política partidária e institucional e as marcas da vida

Recortes

Paulo Hartung

Apresentação

9
Prefácio

contemporânea. Esse distanciamento tem levado a um evidente desprestígio das instituições políticas junto à população e, tão grave quanto isso, ao abandono de uma agenda de reformas modernizantes do País.
Não custa lembrar que foi a execução de parte dessa agenda nos
anos 1990 e 2000 que criou as condições para que o Brasil pudesse viver os avanços sociais e econômicos dos últimos anos e até mesmo sentir com menos intensidade os efeitos da atual crise mundial. Tal fato
mostra a urgência da retomada da agenda das reformas para a modernização do Brasil, e também para a atualização do seu sistema político.
Enfim, acredito na política como princípio e meio de vida em
coletividade, mas o quadro geral da atividade política no País me parece hoje pouco inspirador, particularmente no que se refere à representação parlamentar.

H

á um consenso entre especialistas, estudiosos, formadores de opinião e lideranças políticas e empresariais que, entre 2003 e 2010, o Espírito Santo passou por grandes transformações econômicas, sociais, políticas e institucionais que mudaram positiva e decisivamente a face do Estado.

Muitos fatos sustentam essa evidência. Nesse período, o PIB capixaba
cresceu 49% enquanto o brasileiro expandiu 36%. O emprego formal no

No entanto, essa fragilidade do sistema político não pode turvar

Estado cresceu quase 60%, doze pontos a mais do que a taxa verificada

nosso olhar para a importância da política no processo de transforma-

para o Brasil. Quase 440 mil capixabas saíram da pobreza, cerca de 173

ção da realidade, como bem mostra a história recente do Espírito San-

mil deixaram de ser indigentes e, o mais valioso, mais de meio milhão

to, a partir de 2003, e do Brasil, pós-estabilidade da moeda.

ascenderam à classe média. Do ponto de vista fiscal, o Espírito Santo foi

Nesse sentido, é que, mesmo optando pela atividade privada, con-

um dos estados do País com maior crescimento na capacidade de inves-

tinuo militando pela atualização do sistema político brasileiro e pela re-

timento com recursos próprios: de menos de 1% da arrecadação desti-

tomada das ações que ampliem a competitividade do Brasil no mundo.

nado a investimentos em 2003 para 16% em 2010.

Para fazer política não é preciso ocupar cargos eletivos. É possí-

No bojo dessas transformações, o Espírito Santo iniciou um novo

vel contribuir para a evolução da vida em sociedade em quaisquer ativi-

ciclo de desenvolvimento, que marca a passagem de um modelo de in-

dades que desempenhamos. Basta que se tenha a consciência do lugar

dustrialização baseado apenas em grandes empreendimentos estatais ou

da política, qual seja, o caminhar nosso de todo dia, a história que es-

privados com foco em commodities para uma economia diversificada e

crevemos cotidianamente, nas casas, nas praças, nas ruas, nas redes so-

próspera, com crescente integração competitiva e maior valor agrega-

ciais, nos partidos, nas organizações sociais, nas empresas, nas institui-

do, que é sustentada por um acervo de capital humano, social e institu-

ções públicas. Afinal, a ação política é decisiva ao caminhar civilizatório.

cional com qualidade cada vez melhor. Este novo ciclo está associado a
um ambiente de negócios dinâmico e saudável, construído nos últimos

Paulo Hartung
Economista, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010)

10

Recortes

anos e que faz desse Estado um locus competitivo de atração de investimentos produtivos privados. Estou convencido – já o disse em várias en-

Paulo Hartung

Prefácio

11
trevistas com jornalistas e em diversos eventos públicos – que o Espírito

tentativa de intimidar os poderes e a sociedade da imensa tarefa de en-

Santo tem grandes chances de ser o primeiro estado brasileiro a alcançar

frentamento do crime organizado e de descontaminação da administra-

indicadores de primeiro mundo em qualidade de vida, educação, acesso

ção pública que então se impunha.

a bons serviços de saúde, habitação, renda per capita e meio ambiente.

O que mais me chamou a atenção, naquele cenário, foi a percep-

Tive a sorte e o privilégio de ser ao mesmo tempo um observador

ção que tive da atitude do então governador ao nos receber e conversar

próximo e um partícipe coadjuvante dessas grandes transformações.

conosco: uma pessoa simples mas muito firme, que demonstrava sere-

Essa foi uma das experiências mais ricas e estimulantes que vivenciei ao

nidade, objetividade e confiança na capacidade de sua equipe e dos ca-

longo de mais de 40 anos de vida profissional, seja como consultor seja

pixabas superarem a crise. E muita clareza do que tinha de ser feito.

como estudioso dos processos de desenvolvimento de nosso País e de

Palavras ditas por Paulo Hartung na entrevista daquele dia 19 de

seus estados e regiões. E foi justamente por conta dela que conheci Pau-

março: “nosso Estado possui um perfil econômico contemporâneo e com

lo Hartung e sua equipe de governo, com os quais convivi ao longo des-

excelentes condições competitivas. E, de fato, só há um gargalo que está

ses oito anos, que vão de 2003 a 2010.

comprometendo a nossa capacidade de desenvolvimento: a falência ou

Conheci Paulo Hartung pessoalmente no dia 19 de março de 2003,

destruição do Poder Público Estadual nas esferas do Executivo, do Legis-

no Palácio Anchieta, quando fui entrevistá-lo1 para colher suas diretrizes

lativo e do Judiciário. Nos últimos anos o setor público estadual foi ‘toma-

e orientações estratégicas para o primeiro ciclo de planejamento de seu

do de assalto’ pelas forças da corrupção e do crime organizado. Por essa

governo. O ambiente f ísico e emocional no palácio refletia bem o grave

razão, e já falei no meu discurso de posse, precisamos fazer do Governo

momento que atravessava o Espírito Santo: instalações precárias e mui-

do Estado um modelo de administração pública honrada, competente,

to deterioradas; forte tensão no ar e muita correria e senso de urgência

moderna e capaz de promover a igualdade de oportunidades para todos

das equipes, que me lembrava o funcionamento dos hospitais de emer-

os cidadãos. Este é o elo que falta para completar as condições sistêmicas

gência. Isto por conta da grave crise sistêmica que reinava no Estado, e

de competitividade e de desenvolvimento sustentado do Espírito Santo”.

não era para menos: o novo governo havia recebido uma dívida venci-

Nessa mesma ocasião, o governador nos falou longa e cuidadosa-

da de R$ 1,2 bilhão que incluía salários atrasados de servidores, faturas

mente da necessidade de administrar as expectativas da sociedade e, so-

não quitadas junto a fornecedores e prestadores de serviços; e o Estado

bretudo, dos valores que orientariam todo o seu governo. Falar e cuidar

estava inadimplente com a União, que por isso fazia a retenção dos seus

de valores, infelizmente, é um cuidado cada vez mais raro nos âmbitos

recursos no Fundo de Participação. Uma evidência da gravidade da si-

público e privado nesses ‘tempos pós-modernos’ que estamos vivendo.

tuação e da intensidade da crise: exatamente cinco dias depois dessa en-

O que se seguiu, ao longo deste percurso, é uma história de sucesso

trevista, foi assassinado o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, uma

que foi construída todos os dias com muito trabalho, entusiasmo, energia, foco e método. E, o mais importante, foi uma construção coletiva

1  essa entrevista juntamente com José Paulo Silveira e na companhia de Ricardo de Oliveira,
Fiz
Guilherme Dias, Dayse Lemos e Cezar Vasquez.

12

Recortes

Paulo Hartung

que engajou ‘pessoas f ísicas e jurídicas’ dentro e fora do governo e para
além das fronteiras capixabas. Esse foi um dos mais importantes traços
Prefácio

13
característicos da transformação recente do Espírito Santo: ela resultou

gia de longo prazo, tanto por conta da densidade técnica das suas pro-

de um processo social de concertação e convergência, em grande parte

posições, como também porque integra uma visão ampla de cenários e

fruto de uma mobilização e engajamento espontâneos, porém estimu-

uma macroestratégia antecipatória, com metas quantificadas e desdo-

lados e conduzidos pela liderança agregadora e habilidade política de

bradas em uma carteira de 93 projetos para 20 anos, todos eles com re-

Paulo Hartung. E que ganharam impulso e visão de futuro de longo pra-

sultados e recursos dimensionados.

zo com a elaboração do Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025.

A participação de Hartung e sua equipe foi muito intensa na for-

O trabalho de formulação do ES 2025 começou nos primeiros me-

mulação do Plano. Mas a diferença mais valiosa veio a seguir com dois

ses de 2005, logo após superados os principais sintomas e causas mais

movimentos paralelos. De um lado, Paulo Hartung tornou-se o maior e

agudas das crises ética, fiscal, financeira e institucional do Estado. E nessa

o melhor comunicador e disseminador do Plano ES 2025. Assumiu este

iniciativa está uma outra valiosa lição: embora desfrutando de crescen-

papel com desenvoltura e gosto tanto dentro do governo como fora dele.

te popularidade no Espírito Santo e de amplo reconhecimento nacional

Tanto porque havia estudado e conhecia todo o conteúdo gerado, mas,

por conta do grande feito de ter superado a crise estrutural e sistêmica,

sobretudo, porque acreditava nele. E os efeitos desta ‘catequese estraté-

e ainda com uma densa agenda de prioridades imediatas, Paulo Hartung

gica’ foram muito significativos: a estratégia de longo prazo foi-se enrai-

e sua equipe não se aprisionaram ao imediatismo nem se acomodaram

zando tanto entre os executivos e gestores públicos (entre os quais mui-

com as conquistas já alcançadas e que não eram pequenas. Pelo contrá-

tos prefeitos) como nas lideranças empresariais, nos formadores de opi-

rio, assim que se abriu um ‘espaço mental e emocional’, lançaram-se na

nião e na sociedade civil, que dela se apropriaram como referência rele-

construção de uma agenda muito mais ambiciosa e para além dos pró-

vante para suas decisões de médio e longo prazos.

prios horizontes do mandato do governante. Prevaleceu a visão dos in-

Em paralelo, e ainda mais impactante, o governador Hartung deu

teresses do Estado, que são mais permanentes, em vez da agenda cir-

o melhor exemplo de valorização da estratégia de longo prazo, ao fazê-

cunstancial do governo, que tem horizonte temporal finito.

-la marco de referência obrigatório para o desdobramento das priori-

O Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025 foi uma iniciati-

dades de governo em 20 projetos estratégicos, que passaram a ser obje-

va do Governo do Estado em parceria com o Movimento Espírito Santo

to de gerenciamento e monitoramento intensivos segundo as melhores

em Ação, com o patrocínio da Petrobras. Foi construído de forma com-

práticas e com os melhores instrumentos técnicos disponíveis, num es-

partilhada entre diversos atores da sociedade capixaba. Ao todo, envol-

forço coordenado diretamente pelo próprio governador e pelo seu vice

veu uma equipe técnica de consultoria de 25 pessoas, uma dezena de es-

Ricardo Ferraço num arranjo organizacional denominado Pró-Gestão.

pecialistas e quase 300 pessoas. Todas as etapas e produtos desse tra-

O foco principal era fazer a estratégia acontecer, no que ela dependia do

balho cooperativo estão amplamente documentados e são facilmente

governo, e dar velocidade e eficácia à execução dos projetos.

acessíveis no Portal www.espiritosanto2025.com.br. Até hoje o ES 2025
é fonte de muitas consultas e é considerado, em muitos outros gover-

Secretarias e demais órgãos da administração estadual com a elabora-

nos estaduais e municipais, como um modelo de qualidade em estraté14

A partir de então a cada ano era feito o alinhamento de todas as
ção participativa de planos anuais que definiram as entregas prioritárias

Recortes

Paulo Hartung

Prefácio

15
do governo para a sociedade capixaba em 2008, 2009 e 2010, tendo mais

mente, a grande cooperação e a convergência de vontades e interesses

uma vez a estratégia de longo prazo como referência principal. Este ali-

de atores políticos, econômicos e sociais na reconstrução institucional,

nhamento ocorria em oficinas de trabalho estruturadas, com forte pre-

ética e financeira do Estado também tiveram peso relevante.

paração prévia de todos, envolvendo toda a equipe do governo – cerca

Mas, entre os fatores críticos dessa história capixaba de suces-

de 150 executivos e gestores. Ao final de cada oficina, o próprio Hartung,

so, não tenho dúvida quanto a importância decisiva de Paulo Hartung

que sempre participou ativamente dos momentos decisivos em todas as

como líder e protagonista dessa travessia. Esta é a minha convicção,

oficinas, anunciava os principais compromissos de entrega em entrevis-

construída numa convivência de trabalho prolongada e mais inten-

tas coletivas à imprensa. E, mais importante ainda, seguia uma rotina de

sa no seu segundo mandato; e também quando comparo suas quali-

monitoramento e a gestão das entregas, na qual se envolvia pessoalmen-

dades e limitações com as de outros bons políticos e gestores públi-

te em reuniões com secretários e seus principais gestores.

cos e de empresas privadas com os quais convivi ao longo da minha

Os resultados alcançados com esse modelo de gestão – motiva-

vida profissional.

dor e mobilizador de toda a equipe, porém disciplinador e ancorado em

No Hartung político, admiro e aprecio a sua capacidade agrega-

bons métodos e ferramentas – foram muito expressivos. Dois exemplos:

dora e como exerce bem o soft power, que é a habilidade de influenciar

a execução de investimentos saltou de R$ 758 milhões em 2007 para R$

o comportamento de outras pessoas ou instituições por meio do con-

1,59 bilhão em 2010; e a velocidade de execução dos projetos estratégi-

vencimento, do uso do conhecimento ou de bons argumentos ideológi-

cos aumentou em 40% no mesmo período.

cos. É um estilo de liderança mais sutil, mas que não abdica do senso de

Michel Godet, um dos mais respeitados especialistas em análise

autoridade, que, aliás, ele não hesita em utilizar quando indispensável.

prospectiva no mundo, nos oferece na tríade antecipação-apropriação-

No gestor público, ressalto sua habilidade em identificar e manter

-ação, construída como uma elegante aplicação da ideia do “Triângulo

o foco no que faz a diferença; de agir com método e disciplina; além de

Grego” (logos = razão; epithumia = desejo; e erga = realização), um es-

ser um excelente formador, motivador e condutor de equipes. Raras ve-

quema conceitual que explica o sucesso estratégico. Podemos identifi-

zes, como profissional, trabalhei com uma equipe tão alinhada, coesa e

car os três vértices desse triângulo na história da transformação bem-

motivada como a do seu governo.

-sucedida do Espírito Santo de 2003 a 2010: (1) a antecipação de novos

Na ‘pessoa f ísica’, destaco como traços característicos sua integri-

horizontes de possibilidades para o desenvolvimento do Estado; (2) sua

dade e sua simplicidade no trato com as outras pessoas, além de ser um

apropriação por protagonistas de relevante peso político e econômico;

estudioso e economista com uma saudável obsessão com o rigor intelec-

e (3) a transformação das possibilidades em ações e resultados de im-

tual. Essas, aliás, são também as percepções de grande parte dos analis-

pacto por meio da gestão intensiva da execução dos projetos e entregas

tas e jornalistas especializados em política no Brasil, às quais tive aces-

prioritárias do governo.

so por meio de pesquisas periódicas.

Nessa trajetória de mudança, os contextos global e nacional, predominantemente favoráveis no período, contribuíram muito. E, segura16

Paulo Hartung com quem convivi também tem defeitos e falhas,
e quem não os tem? De várias pessoas já ouvi comentários e críticas

Recortes

Paulo Hartung

Prefácio

17
Introdução

quanto ao seu estilo e algumas escolhas políticas ou ao perfil gerencial.
Mas aqui não é o caso de se fazer um balanço das suas virtudes e defeitos. Nem isso é o que importa. Em seu livro mais recente, “A soma e o
resto”, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso destaca que para um intelectual ou um político o único julgamento que interessa é o da história.
No caso de Paulo Hartung, acredito que a história lhe será grata
e generosa, por conta do legado que já deixou: uma transformação positiva, sustentável e oxalá irreversível no seu Estado; e um bom exemplo como político e gestor público para todo o Brasil, algo muito valioso neste momento de forte escassez de exemplos inspiradores e de uma
grande desilusão da sociedade com a política.

E

sta publicação reúne reflexões do economista e ex-governador Paulo Hartung sobre fatos, ideias e eventos que movimentaram o dia a dia do cenário estadual, nacional e internacional no ano de 2011. Traz abordagens sobre temas
candentes na vida contemporânea, como economia, planejamento, gestão, educação, política, entre outros.

Esses pontos de vista são oriundos de análises, estudos de con-

Mas a história ainda não acabou nem tampouco o trabalho do Paulo Hartung. E este livro, que nos traz uma amostra de sua produção em

juntura, formulação de projetos, entre outras ações de um economista, sendo expressos em situações as mais diversas: palestras, publica-

2011, é uma evidência da sua vitalidade política e da fecundidade das suas

ções, encontros organizacionais, entre outros. Os públicos também fo-

reflexões intelectuais. Esta é uma leitura que recomendo com entusiasmo.

ram bastante diversificados: de empreendedores a estudantes, passando por lideranças sociais e políticas.

Claudio Porto

O livro reúne parte dessa produção intelectual, numa edição
orientada a fornecer um painel das ideias e atividades do ex-governador
do Espírito Santo. Nem tudo foi contemplado, como estudos acerca das
oportunidades de desenvolvimento apresentados a governos estaduais,
tendo como base a experiência capixaba entre os anos de 2003 e 2010.
O atento leitor poderá notar que alguns pronunciamentos apresentam raciocínios e citações semelhantes, o que se explica pelo fato de
que resumem o pensamento consolidado acerca de determinado tema,
portando análises que merecem ser enfatizadas quanto mais se puder.
As variações decorrem de ajustes com relação a públicos e também em
função de novas leituras e reflexões sobre os assuntos.
A publicação vem prefaciada pelo especialista em planejamento estratégico Claudio Porto. Economista, Porto coordenou mais de

18

Recortes

Paulo Hartung

Introdução

19
110 projetos de construção de cenários, estratégias e gestão para re-

Afinal, mais que esperar por um futuro melhor, um dos caminhos

sultados para instituições públicas e privadas em várias regiões do

mais indicados pelas lições da história é tentar interpretar os dias vivi-

País, incluindo o Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025. É

dos – os antigos e os recentes – para construir as jornadas que virão de

coorganizador do livro 2022 Propostas para um Brasil melhor no ano

maneira cada vez mais sábia e eficaz. Boa leitura!

do Bicentenário.

O organizador

O posfácio é de Ana Paula Vescovi, mestre em Administração Pública (FGV/Ebap-RJ) e mestre em Economia do Setor Público (UnB), com atuações na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e no Governo do Estado do Espírito Santo (Secretaria de Governo, Secretaria Extraordinária para o Combate à Pobreza, diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves), uma
das mais lúcidas e competentes estudiosas da condição socioeconômica do Espírito Santo.
Em meio à contribuição desses destacados profissionais, o conteúdo relativo às atividades do ex-governador em 2011 é apresentado segundo temáticas específicas. O livro é aberto com uma longa entrevista
de Paulo Hartung a Rodrigo Taveira Rocha, então estudante de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo, na qual lança um olhar
em panorâmica ao longo de sua vida militante de quase quatro décadas,
do movimento estudantil ao Palácio Anchieta.
Em seguida, há dois textos referenciados à economia, sua atual
área de trabalho. Na terceira seção, estão reflexões sobre planejamento
estratégico. Gestão é o tema do quarto capítulo. Na quinta parte, os assuntos são educação e juventude. Finalizando a publicação, uma análise acerca da condição da política na atualidade.
A proposta é, nestes tempos de correnteza velocíssima e percepções fugazes da “modernidade líquida”, expressão paradigmática de Bauman, fixar nas páginas da impressão um lugar de encontro com memórias recentes de um presente peculiar por sua dinamicidade e determinante por seus desafios.
20

Recortes

Paulo Hartung

Introdução

21
Cap. 1

Entre Gerações

D

a retrospectiva às perspectivas, numa conversa entre personagens de gerações distintas, mas conectadas pela mesma formação (Economia), na mesma
universidade (Ufes). Neste capítulo, reproduz-se a
entrevista concedida por Paulo Hartung a Rodrigo
Taveira Rocha, com vistas à elaboração de seu tra-

balho de conclusão de curso em 2011.
Trajetória política, agenda econômica, história recente, desafios

capixabas, questões nacionais, futuro, projetos... Com suas perguntas de pesquisador, perscrutador e jovem atento às questões da atualidade, Rodrigo Taveira Rocha constituiu um denso painel, com dados históricos, reflexões sobre passagens contemporâneas e análises
prospectivas, incluindo informações e revelações feitas pela primeira vez por Paulo Hartung após o término dos dois mandatos à frente
do Executivo capixaba.
A entrevista foi feita em 14 de novembro de 2011, para constituição da monografia “Política e Desenvolvimento Econômico: Uma análise do Estado do Espírito Santo no Governo Paulo Hartung (2003-2010)”,
defendida em 01/12/2011, no Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com observações e esclarecimentos
entre parênteses feitas pelo próprio pesquisador. A íntegra da entrevista
faz parte dos anexos da monografia de Rodrigo Taveira Rocha.

Cap.1

Entre Gerações

23
Fale um p o uco s obre sua hist ór i a

no passado (risos). Fui escolhido para representar o campus no ENE (En-

e tr a jetór ia p olític a .

contro Nacional dos Estudantes), encontro de reorganização da UNE, em
Belo Horizonte (MG). Fomos eu, pelo campus (de Goiabeiras), e o Adauto

A minha história política tem a ver com a minha relação familiar, mui-

Emerich, hoje dentista, pelo CBM (Centro Biomédico, atualmente Cen-

to embora não haja em meu núcleo familiar alguém que tenha exercido

tro de Ciências da Saúde, correspondendo ao campus de Maruípe). Era

mandatos. O meu pai, Paulo, formado em Contabilidade, filho de um pe-

mais ou menos isso, o movimento era muito lá e cá. O CBM tinha um de-

queno proprietário rural no Sul do Estado, em Iúna, sempre se interessou

senvolvimento maior de lideranças, e nós estávamos organizando o pes-

pelo debate político. Encantou-se pelo Socialismo, mantendo uma rela-

soal do campus de Goiabeiras. Sobre a ida a Belo Horizonte, nós fomos

ção de proximidade com o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, para o

presos, não participamos do encontro. Acho que o encontro nem acon-

qual contribuiu durante sua vida. Esse é um laço importante.

teceu. Foram algumas passeatas, algumas manifestações. Fomos presos,

Minha primeira atividade de militância foi ainda na vida estudantil,

passamos uma noite detidos na capital mineira e fomos soltos no dia se-

no ensino médio, mas algo bem incipiente. Fui dirigente do grêmio do Co-

guinte. Coincidiu com a vinda da primeira-dama dos Estados Unidos ao

légio Salesiano, mas o foco era o es-

Brasil, a esposa do Carter – se não me engano, o nome dela era Rosalynn

Minha primeira atividade de militân-

porte. Também havia algo no campo

Carter. E aí o governo brasileiro correu para soltar os estudantes, porque

cia foi ainda no ensino médio. Uma

da literatura, com os nossos colegas

era um escândalo aquele monte de estudantes presos em Belo Horizon-

militância política real veio com a en-

poetas. Tínhamos uma pequena pu-

te em função da proibição da realização de uma reunião.

trada na Universidade. 

blicação que circulava no Salesiano.

Isso foi criando um envolvimento muito grande. Nós conseguimos

Uma militância política real

reorganizar o Diretório Central dos Estudantes na Ufes. Eu fui eleito o

veio com a minha entrada na Universidade. Quando eu cheguei à facul-

primeiro presidente do DCE, numa disputa bem acirrada, com cinco cha-

dade, existia um movimento para reorganizar as entidades estudantis.

pas se não me engano. A nossa chapa acabou conseguindo mais de 70%

Na verdade, também havia algumas entidades, como era o nosso caso

dos votos. Foi um resultado muito importante. O nome da nossa cha-

lá no CCJE, que estavam funcionando, mas com grupos de direita, liga-

pa era “Construção”. A primeira chapa que nós fizemos lá no CCJE era

dos de alguma forma ao que se passava no Espírito Santo e no País na-

“Gota D’água”. Chico Buarque estava na nossa cabeça. O nome da cha-

quele momento (ditadura militar).

pa do DCE foi inspirado em “Construção”, uma música muito bonita e

Dessa forma, o primeiro movimento de que participei foi de uma
campanha para poder organizar o Diretório Acadêmico (na época não

litância política, para a luta pela melhoria da qualidade do ensino e ao

era Centro Acadêmico, era Diretório Acadêmico – DA) do Centro de Ci-

mesmo tempo pela redemocratização do nosso País. Nós também aca-

ências Jurídicas e Econômicas (CCJE). A partir daí, ingressamos no mo-

bamos participando da decisiva luta pela anistia. Fomos ao Rio de Janei-

vimento pela reconstrução da UNE. Acabei mesmo sendo representan-

ro receber alguns dos exilados, cujas chegadas se tornaram verdadeiras

te de esportes na chapa do DA do CCJE, o que era até motivo de gozação
24

expressiva do Chico. Enfim, esse movimento foi nos levando para a mi-

manifestações no aeroporto do Galeão.

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

25
Então, o fundamento vem daí: o laço familiar, a questão do mo-

ra eleição. No início do processo de debate, meu nome foi colocado para

vimento estudantil, a conjuntura do nosso tempo, uma época de luta

ser candidato a vereador em Vitória. Depois, por uma pressão de lideran-

pela liberdade, pela democracia, pela reconstrução das instituições de-

ças do interior, de onde eu nasci, em Guaçuí, a minha campanha de vere-

mocráticas no nosso País.

ador virou campanha de deputado estadual. A gente, de certa forma, fez

Eu me formei em Economia. Fiz duas provas para entrar no serviço

essa migração de candidatura porque não entendia absolutamente nada de

público. Uma no Instituto Jones dos Santos Neves e outra no Bandes, que

eleição. Se entendesse, não faria – você veja como as coisas são. Mas deu

eram os objetos de desejo de quem fazia Economia à época. Dentro do ser-

certo. Eu me elegi deputado estadual com uma votação estrondosa, e por

viço público, essas duas instituições

vários motivos. Eu tive votos onde nunca tinha ido na vida. Eu tive votos

O fundamento vem daí: o laço fami-

eram as que chamavam a atenção. Eu

em todos os municípios do Estado, muitos dos quais nem conhecia. Isso

liar, a questão do movimento estudan-

passei nas duas seleções, mas elas fo-

porque os estudantes da Universidade, que tinham votado em mim para

til, a conjuntura do nosso tempo, uma

ram anuladas pelo governador de en-

presidente do DCE e que participavam junto comigo dos movimentos,

época de luta pela liberdade, pela de-

tão. Segundo informações que recebi

das assembleias, das passeatas, não só votaram em mim como também

mocracia, pela reconstrução das ins-

muito posteriormente, o motivo se-

foram lá no interior pedir ao pai, à mãe, ao tio, que não sabiam nem quem

tituições democráticas no nosso País.

ria a aprovação de muitos, entre as-

eu era, para fazer a mesma coisa. Então, eu tive voto espalhado por todo o

pas, “subversivos” “comunistas” Com
,
.

território capixaba. Foram mais de 20 mil votos para deputado estadual.

a anulação dessas provas, não fui para o serviço público e acabei montan-

Quando estava terminando o meu primeiro mandato, o governa-

do uma microempresa, uma gráfica. Até nesse movimento, a inspiração

dor Gerson Camata se licenciou do governo para poder ser candidato a

política estava presente, pois gráfica dialoga com movimento político da

senador. Assumiu o vice, que tinha diferenças políticas comigo; e eu com

época. Assim, acabamos imprimindo material clandestino, jornais. Nós

ele. O plano era que eu fosse disputar uma vaga na Câmara Federal, mas

tínhamos um jornal do PCB, do Partidão, que, salvo engano, se chama-

acabei numa posição mais conservadora em função da realidade políti-

va “Voz do Trabalhador” Era escrito por alguns intelectuais e alguns pro.

ca. Eu repeti a disputa para deputado estadual, e novamente fui muito

fessores da Universidade. Então, eu acabei indo para um setor que dialo-

bem votado. Na primeira eleição, fui o quarto mais votado do Estado.

ga com a militância política, a partir da necessidade de ter papel, panfle-

Na segunda, fui o segundo mais votado, repetindo a votação, com vinte

to, jornal, essas coisas que têm muito a ver com a militância daquele pe-

mil votos e alguma coisa. Mas algumas bases eleitorais da primeira elei-

ríodo. Se fosse hoje, não precisava disso, bastava entrar numa rede social.

ção não se repetiram na segunda. Mudou muito em função da atuação

Atuando no setor gráfico e mantendo as conexões políticas, chega-

do governador de então, que operou tentando fazer com que eu não me

ram as primeiras eleições de 1982. Não havia pleitos para presidente da

elegesse mais. A votação dos estudantes também não se repetiu, porque

República nem para prefeitos de capitais, mas era uma eleição quase geral.

já eram quatro anos à frente, outra realidade, assim por diante.

Havia disputas para vereador, prefeito (com exceção das capitais), deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Foi a minha primei26

Disputei a primeira eleição pelo PMDB. Eu já havia saído do PCB,
mas o partido me apoiou, o que foi importante. Com a segunda eleição,

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

27
criou-se uma base bem mais sólida. Dessa forma, na eleição seguinte,

De certa forma, agora eu estou repetindo a experiência que eu tive

fui candidato a deputado federal. Foram cinquenta e tantos mil votos.

quando saí da prefeitura. Estou estudando muito, trabalhando numa coi-

Muito voto em Vitória. Aliás, em todas as eleições, desde a primeira, a

sa absolutamente diferenciada do que eu vinha fazendo no governo. E

minha votação em Vitória e na Grande Vitória é muito forte. Não con-

está sendo bacana, muito rico, muito interessante.

cluí esse mandato de quatro anos para a Câmara Federal, pois, no meio
do período, me elegi prefeito de Vitória. Terminada a gestão à frente da
capital, fiquei sem mandato. Um período igual a este que estou vivendo

Ao se eleger g overnad or e m 2 0 02, o senhor

agora. Foram dois anos sem mandato, pois não havia reeleição naque-

conseguiu for m ar um a a mpl a ba se aliada que se

la época. Elegemos o sucessor, e fui trabalhar como diretor da área so-

sustentou dur ante o s oito ano s de g overno . Por

cial do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Fiquei um ano

que e como foi p o ssí vel construir e ssa coaliz ão?

lá, numa experiência profissional muito rica. Pude voltar a estudar economia. Estudei Economia na facul-

Na verdade a coalizão começou a ser montada na sociedade, muito antes

De certa forma, agora eu estou repe-

dade e, depois, voltei a estudar mui-

da minha chegada ao governo. Eu vou dar dois exemplos da sociedade

tindo a experiência que eu tive quan-

to nesse período, assim como havia

civil: primeiro o movimento “Reage Espírito Santo”, que nasceu conec-

do saí da prefeitura. Estou estudando

ocorrido no mandato de deputado

tando a OAB, que era o centro, do Dr. Agesandro da Costa Pereira, uma

muito, trabalhando numa coisa abso-

federal. Na Câmara, integrei a Co-

figura emblemática, e a Igreja Católica, do arcebispo de então, Dom Sil-

lutamente diferenciada do que eu vi-

missão de Finanças, que era muito

vestre Scandian. Também tínhamos o apoio de um conjunto de igrejas

nha fazendo no governo. 

bem composta à época. Vou dar al-

evangélicas, com lideranças como o pastor Oliveira e o pastor Joaquim

guns nomes que estavam lá: Rober-

Beato. Havia ainda movimentos sociais, movimentos políticos, lideran-

to Campos, Delfim Netto, José Serra, Francisco Dornelles, César Maia,

ças políticas. Eu era senador nesse período. O nome do movimento in-

Aloizio Mercadante. Então, tive de correr muito atrás. Nesses anos, tra-

dicava bem a situação do Estado. Uma situação dramática: corrupção,

balhei com gente muito qualificada, com um corpo técnico muito bem

crime organizado, desorganização completa, uma falta de perspectiva

montado do BNDES. Foi muito rica essa experiência.

absoluta, empresas saindo do Espírito Santo em função de chantagens.

Depois disso, eu me desincompatibilizei do BNDES para vir disputar o Governo do Estado. Vim muito bem avaliado em pesquisas,

Enfim, o quadro era insustentável, e a sociedade organizada já articulava um movimento muito forte.

mas perdi a convenção do PSDB. Depois, o partido me chamou para
ser candidato a senador. Fui para o Senado, mas também não concluí

pírito Santo em Ação”, que depois virou uma ONG. Vou dar um exemplo

o mandato. Dos oito anos previstos, fiquei quatro, pois saí para a dis-

do que acontecia com relação ao meio produtivo. Fez-se uma lei que dizia

puta do Governo do Estado, à frente do qual fiquei oito anos como go-

que não se podia plantar eucalipto. Eu não lembro exatamente o termo

vernador (2003-2010).
28

Outro movimento que eu acho importante é o nascimento do “Es-

da lei, mas é engraçado: podia-se plantar eucalipto, podia vender euca-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

29
lipto para qualquer um, mas não podia ter eucalipto para Aracruz. Quer

à ditadura militar para tentar trazer de volta a democracia ao País. Ou

dizer, o que se queria com aquela lei não era nenhuma discussão sobre o

seja, a minha formação pessoal, familiar, política é devota à articulação

eucalipto, sobre a questão ambiental, sobre a monocultura. O que se que-

de forças. Além disso, o clima na sociedade também facilitava a cone-

ria ali era uma chantagem com relação à empresa, que, à época, se cha-

xão de um conjunto de forças que reagiam aos desmandos.

mava Aracruz Celulose, e agora se chama Fibria. Era uma ilegalidade fla-

Houve problema durante a minha primeira campanha ao governo.

grante, tanto que o Supremo Tribu-

Forças políticas que estavam juntas inicialmente se movimentaram e se se-

O quadro era insustentável, e a so-

nal Federal (STF) derrubou essa lei.

pararam no correr do processo. Quando acabou a campanha, fiz um movi-

ciedade organizada já articulava um

Os empresários também se levanta-

mento para trazer muitas dessas forças para nos ajudar no processo de re-

movimento muito forte. O intuito era

ram. Montaram um movimento di-

construção política, administrativa e institucional do Estado. E talvez o mais

buscar a superação daquele quadro

ferente das federações, sindicatos.

importante tenha sido trazer o PT. O PT não esteve comigo na minha pri-

dramático que o Estado vivia. 

Fizeram um movimento transver-

meira eleição; esteve na segunda. O PT foi contra a minha primeira campa-

sal, colocando em diálogo agricul-

nha. A minha relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha lá de

tura, indústria, serviço, todas as áreas da atividade econômica. O intui-

trás, uma relação muito sólida. Ao término da campanha, fui a São Paulo,

to era buscar a superação daquele quadro dramático que o Estado vivia.

eu eleito e o presidente Lula eleito. Ele me recebeu no escritório, que era um

A minha chegada ao governo é produto disso. O Estado já vinha

escritório de campanha. Pedi apoio, porque sabia que iria enfrentar um qua-

numa situação dramática, de dois governos que haviam dado errado. Aí

dro dramático no Espírito Santo. De certa forma, exemplifiquei com aquilo

eu perdi a convenção, e depois entra um terceiro governo que também

que o Fernando Henrique tinha feito lá no Acre, com o Jorge Viana, quatro

deu errado. Então, ao final de três governos problemáticos, o clima era

anos antes. Eu precisava da mesma presença que o governo federal teve no

de unir o Estado, independentemente do líder que fosse colocado no go-

Acre, no desmonte de uma teia cor-

verno para poder superar aquele quadro. É claro que o meu jeito de fazer

rupta, violenta, de desarticulação do

Desde cedo eu aprendi, com meu saudo-

política é buscar associar forças políticas em função dos objetivos que

crime organizado. Fiz esse pedido ao

so pai, que, se você tem uma tarefa com-

nós temos. Desde cedo eu aprendi, com meu saudoso pai, que, se você

presidente Lula e ele se comprometeu

plicada, não vá sozinho. O que quer di-

tem uma tarefa complicada, não vá sozinho. O que quer dizer isso? Não

a ajudar o Espírito Santo. E, no dia em

zer isso? Não adianta o voluntarismo.

adianta o voluntarismo. Isso não muda a realidade social de uma comu-

que eu o visitei, falei: “olha, eu vou ten-

nidade, de um Estado, de um país. Não adianta apenas ter uma boa cau-

tar trazer o PT lá do Estado para a minha base de trabalho” Na volta, con.

sa. É preciso ter gente agregada em torno dessas boas causas. Boas cau-

versei com o PT, conversei com as forças políticas que tinham me apoia-

sas sem mobilização ficam aí mofando em gavetas a vida inteira. É claro

do. Mostrei que o PT tinha como contribuir para aquele momento, até pela

que eu sou forjado nisso. A escola do velho Partidão é isso. Eu sou um

história do partido. E o PT reivindicou a presidência da Assembleia, como

quadro formado na escola do Partido Comunista Brasileiro, um parti-

mecanismo para participar daquele movimento. A eleição do Claudio Ve-

do que não foi para a luta armada, que buscou unir as forças contrárias

reza veio daí. Nós aceitamos como um caminho – foi um caminho difícil.

30

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

31
Além disso, também fiz movimentos em direção ao PDT. Tive uma longa

trutura governativa estadual durante mais de década. Com esse bloco de

conversa com o líder do PDT no Estado, o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal.

forças, aí sim nós conseguimos quebrar a coluna vertebral daquele esque-

Conversei com o PL (atualmente PR), que na época era o partido do atual

ma, enfraquecendo-o. Não acabamos com ele, ele está aí, vira e mexe está

senador Magno Malta. Eles não quiseram vir integrar o movimento. Mui-

tentando se articular. É visível isso, inclusive no presente. Mas nós con-

to embora tenham se comprometido a não ser obstáculo ao trabalho. Isso

seguimos enfraquecer esse sistema, que tinha laços dentro das institui-

ajuda. Na vida, quem não apoia, mas também não é pedra no caminho, na

ções, para além do Executivo, dentro das outras instituições públicas do

minha visão, na minha maneira de pensar, está ajudando.

Estado. A Assembleia era o mais visí-

De certa forma, buscamos o maior leque de aliança possível para

vel, mas não era, infelizmente, o úni-

Foi uma longa jornada. Foi possível

poder enfrentar a desorganização. Quando eu falo desorganização, não

co ponto de articulação e força des-

porque nós conseguimos uma enge-

é uma coisa burocrática. Desorganização tem dono, a gente tem que ter

se esquema. Tivemos que enfraque-

nharia política bem montada, que

clareza disso. Quando o Estado estava quebrado, desorganizado, tinha

cer esse esquema para poder ir para

dialogou com o estado de espírito do

gente ganhando muito dinheiro com isso, se aproveitando daquela si-

um processo de reconstrução e pro-

capixaba, das lideranças capixabas.

tuação. Articulamos para enfrentar

fissionalização da máquina pública,

Conseguimos montar uma base sóli-

Buscamos o maior leque de aliança

todo um conjunto de leis, de regula-

de planejamento, de colocar a estru-

da que nos permitiu avançar. 

possível para poder enfrentar a de-

mentos que tinham sido feitos para

tura de Estado, de governo, e de ins-

sorganização, que não era uma coisa

beneficiar grupos, dando privilégios

tituições públicas a serviço do cidadão capixaba. Foi uma longa jorna-

burocrática. Desorganização tinha

a segmentos da sociedade. Nós tive-

da. Foi possível porque nós conseguimos uma engenharia política bem

dono. Tinha gente ganhando muito

mos que desmontar isso tudo. Em

montada, que dialogou com o estado de espírito do capixaba, das lide-

dinheiro com isso, se aproveitando

um decreto nós cancelamos 450 re-

ranças capixabas, com a angústia, o mal-estar com aquele descalabro que

daquela situação. 

gimes especiais de ICMS. Isso é uma

vivíamos. Conseguimos montar uma base sólida que nos permitiu avan-

coisa que parece técnica, mas era um

çar. Enfim, acho que a composição política, a origem dela, está posta aí.

privilégio que foi dado sem nenhum critério. Na época, era a Assembleia
Legislativa que dava esses privilégios. Eu tive de fazer uma lei para trazer
de volta a administração tributária do Estado para a Secretaria da Fazen-

A in da s o b re a c oa l iz ã o , c omo e r a a re l a ç ã o d o

da, porque ela estava nas mãos da Assembleia Legislativa, mais precisa-

se n h o r c om o g ov e rn o fe de r a l , e m e spe c ia l o

mente na Comissão de Finanças da Assembleia Legislativa. Em função

pre side n te L ul a ? E a re l a ç ã o c om a s l ide r a n ç a s

da gravidade da situação, precisávamos de respaldo, e a gente buscou a

l o c a is d o E sta d o ?

maior coalizão política, partidária e social.
O enfrentamento era complexo, contra pessoas que se assenhorearam da máquina pública do Estado, faziam o que bem entendiam da es32

A relação foi boa, porque o presidente Lula cumpriu mais ou menos o
que acertou com a gente. No quarto mês de governo, eu recebi o pre-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

33
sidente Lula no Estado. Ele veio, ficou, pernoitou na residência oficial

nômico e social. Isso não é um problema do governo A, B, C ou D, isso é

da Praia da Costa, em Vila Velha. Era uma coisa simbólica, mas impor-

um problema histórico. E também não foi nesse momento que essa re-

tante. Não era trazer dinheiro; o governo federal não nos deu dinhei-

lação foi mudada, tendo em vista as nossas potencialidades, as nossas

ro. “Toma um dinheiro aí para pagar os servidores!” – não, ele não nos

vocações. Por exemplo, temos a questão da estrutura portuária, que é

deu. O governo federal comprou um ativo do Estado, recebíveis futuros

uma vocação que o Estado tem, funcionando como uma porta impor-

da produção do petróleo. Pagou bem? Pagou nada. É matemática finan-

tante de entrada e saída da região central do Brasil.

ceira: trouxe para valor presente, pagou com títulos do governo federal,

Eu só quero pontuar que a relação foi importante e que eu a valori-

vencendo em parcela durante dois anos. O único dinheiro que entrou

zo, mas registro que ela não promoveu a superação desse certo abandono

foi porque nós usamos, logo no início, uma parte desses títulos para pa-

do poder central em relação ao destino dos capixabas. Isso é histórico, vem

gar uma dívida que o Estado tinha no Clube de Paris, um endividamen-

lá da chegada dos portugueses ao Brasil e perpassou todos esses anos. Se

to que tinha uma caução. Essa caução da dívida foi liberada e entrou no

você olhar, os nossos vizinhos todos já foram apoiados pelo governo cen-

caixa. Mas nada foi dado ao Espíri-

tral: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, só para colocar os três vizinhos

O movimento presencial do presiden-

to Santo para que se resolvesse o im-

que fazem divisa com a gente. Eles já tiveram presença sólida. Quando foi

te Lula no Estado deu um sinal de que

bróglio administrativo, financeiro, e

feito o polo petroquímico de Camaçari, que está no II PND, se não me en-

nós não estávamos sozinhos na bri-

assim por diante. Eu fiz uma tenta-

gano, isso foi uma coisa importante, estruturante para a economia baiana.

ga para reorganizar o Espírito Santo.

tiva de passar o Banestes para o go-

Agora, recentemente, levou-se a fábrica da Ford para a Bahia com incen-

verno federal, que não foi aceita pelo

tivos criados especificamente para que isso acontecesse naquele estado.

ministro Antonio Palocci – nós é que tivemos de reestruturar o Banestes.

Então, a relação foi boa, importante na sustentação do enfrenta-

Agora, nos foi dada uma coisa muito relevante, que eu sempre va-

mento que estávamos fazendo aqui. E eu sou agradecido por isso, mas

lorizei: esse movimento presencial do presidente Lula no Estado deu

até hoje não conseguimos quebrar essa relação de pouco apoio do go-

um sinal de que nós não estávamos sozinhos na briga para reorganizar

verno central ao nosso Estado.

o Espírito Santo. Deu um sinal para esse segmento que destruiu a má-

Do ponto de vista da infraestrutura, nós estamos com problema

quina pública capixaba de que o governador não era um menino bem-

no aeroporto, que se arrasta há não sei quantos anos; problema na dra-

-intencionado e isolado no jogo da política nacional. Isso eu devo, e nós

gagem do canal de evolução do Porto de Vitória. Estamos aí, agora, com

devemos, ao presidente Lula, porque ele foi correto, nesse sentido, com

chance de ser licitada a BR 101, que é uma BR estrangulada já há mais de

o movimento que nós estávamos fazendo aqui. Ele deixou claro, ao vir

década; a BR 262 que está caminhando na mesma direção. Então é dis-

aqui, que ele e o governo dele estariam ao lado da gente nesse embate.

so que eu estou tratando.

Eu estou falando isso porque o Espírito Santo tem uma história
longa de ser colocado à margem do desenvolvimento nacional. O Espí-

nós nos reorganizamos, do ponto de vista fiscal, com os nossos recur-

rito Santo poucas vezes foi visto e apoiado no seu desenvolvimento eco34

Enfim, acho que foi importante o apoio do presidente Lula. Mas
sos. Como é que se reorganizou o Espírito Santo? Como é que nós saí-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

35
mos do penúltimo lugar no ranking do Tesouro Nacional para virar se-

verno do Estado com a administração da Presidência da República. Na

gundo, terceiro lugar? Foi com o nosso esforço. “Ah, com royalties de

verdade, é muito complexo administrar um governo estadual, bastando

petróleo?” – não, não é com royalties de petróleo. É com ICMS, com

que se note que, depois da Constituição de 1988, o que se tem são trans-

combate à sonegação, com reor-

ferências de obrigações para Estados e municípios sem o devido acom-

Com reestruturação da máquina ar-

ganização da máquina fazendária,

panhamento de transferências de recursos que financiem essas novas

recadadora, com planejamento e con-

com profissionalização do setor pú-

competências. No caso dos Estados federados, há uma incumbência na

trole dos gastos, com sentido de prio-

blico, com controle de gastos, com

área de financiamento de saúde pública, segurança pública e educação

ridade, o Espírito Santo se reorgani-

senso de planejamento, de priorida-

que é um desafio que não é pequeno. Mas eu não quero comparar, não

zou, se qualificou, se tornou o Esta-

des. Foi isso que colocou esse Esta-

acho que vá contribuir para o debate.

do com maior capacidade de investi-

do de pé. Somente neste 2011, é que

Primeiramente, eu vou separar: nós não fizemos esse movimen-

mento com recursos próprios, basica-

temos um volume maior de royal-

to que foi feito em nível nacional. Nós não fizemos, nós tínhamos uma

mente com ICMS. 

ties. O Espírito Santo se reorgani-

base sólida, e essa base não nos levou a produzir feudos dentro do go-

zou, se qualificou, se tornou o Es-

verno. Feudos: entrega a secretaria ao partido tal e o partido é dono

tado com maior capacidade de investimento com recursos próprios,

da secretaria. Não teve isso no nosso governo. É importante dizer isso.

basicamente com ICMS. Com reestruturação da máquina arrecadado-

Nós usamos uma base sólida, inclusive para profissionalizar a máqui-

ra, com planejamento e controle dos gastos públicos, com sentido de

na pública, para trazer quadros dos mais diversos partidos. Quadros

prioridade, e assim por diante.

que nunca tiveram filiação partidária, mas que tinham competência
para poder compor uma equipe extraordinária de governo. E conseguimos fazer isso. Não é a primeira

Recentemente, o senhor deu uma entrevista na

vez que eu faço, eu fiz durante oito

Governar não é administrar uma em-

qual criticava o modelo de gestão do governo

anos como governador e fiz como

presa privada. Na minha visão, repetin-

federal, que acaba por lotear ministérios e cargos

prefeito da capital. Esse modelo me

do o que disse o ex-presidente Fox: “go-

em função de privilegiar os partidos que fazem

acompanha por onde eu passei até

vernar é muito mais complexo do que

parte da base aliada. Como o senhor administrou

agora. Inclusive nos meus mandatos

administrar uma empresa privada” 
.

isso durante os seus oito anos à frente do

parlamentares, sempre me esmerei

Executivo estadual, visto que também contava com

em ter uma assessoria qualificada. Mas eu não estou fazendo compara-

uma vasta gama de partidos que o apoiavam?

ção de uma coisa com a outra. Aqui, o nosso modelo foi esse: foco na
profissionalização, foco em buscar pessoas e quadros dos mais diver-

Eu não quero ser simplista, porque essa não é uma questão simples. É absolutamente complexa. Eu não quero comparar a administração do Go36

Recortes

Paulo Hartung

sos pensamentos políticos, mas com competência para tocar.
Eu queria fazer uma observação antes de ir para o nacional: goverCap.1

Entre Gerações

37
nar não é administrar uma empresa privada. Na minha visão, repetin-

cialismo. E eu via na rua que nós íamos perder feio, porque as pesso-

do o que disse o ex-presidente do México Vicente Fox: “governar é mui-

as diziam assim: “prefeito, o senhor está pedindo a gente para entre-

to mais complexo do que administrar uma empresa privada”. Você pode

gar o governo aos deputados?” (risos). Quer dizer, era como o pesso-

ter um bom projeto, mas você precisa legitimá-lo e construir um leque

al que estava fazendo campanha para o presidencialismo passou essa

de apoio para que ele deixe de ser um projeto e passe a ser uma ação de

imagem para a população. E aí a população votou no presidencialis-

governo, em benef ício da sociedade. Eu não acredito num governo de

mo. Então, nós ficamos com uma Constituição com formato de par-

tecnocratas, não é isso que eu estou dizendo. E eu nunca fiz governo de

lamentarismo e com o Executivo de presidencialismo. Aí você preci-

tecnocrata. Eu acho que para montar uma equipe você precisa levar gen-

sa de medida provisória, os presidentes governando a partir de medi-

te que tenha conhecimento da área, e de preferência muito mais conhe-

da provisória, o orçamento é um orçamento autorizativo.

cimento do que o líder, porque o líder não é obrigado a ter um conheci-

Dessa forma, eu acho que é essa questão que precisa ser debatida

mento vertical de todas as questões que vão ser tratadas, ele precisa ter

no País novamente. Veio um esgotamento profundo já no segundo go-

um conhecimento horizontal. Mas esse quadro que vai ocupar uma fun-

verno do presidente Lula. Não foi percebido porque o País estava cres-

ção precisa ter conhecimento técnico, mas também precisa ter capaci-

cendo, aumentando emprego, aumentando a renda, aumentando a classe

dade política, sensibilidade política, para ocupar uma função em gover-

média, e por aí vai. Mas é a mesma classe média que traz novos valores,

no. Então, eu não estou propondo governo de tecnocrata, eu não acre-

e traz ética para o debate da política, na minha visão. É a contradição da

dito nisso. O que eu estou colocando é que precisa ter formação técni-

vida. Foi isso que eu debati numa entrevista recente que eu concedi. Eu

ca, precisa ter sensibilidade política, e não pode ter feudo. Não pode ter

acho que precisamos aprofundar essa visão. Para resolver isso, é preci-

feudo para nenhum tipo de ação de governo. Foi assim que nós fizemos

so equacionar o problema da estrutura político-eleitoral do País. O nos-

aqui; esse é o modelo em que eu acredito.

so sistema político é dos mais atrasa-

O que vem sendo feito em Brasília, que eu chamo “presidencia-

É preciso equacionar o problema da

lismo de coalizão”, é uma coisa que no limite já está dando errado, e

solver o problema de financiamen-

estrutura político-eleitoral do País.

vai dar cada vez mais errado nos próximos anos no nosso País, na mi-

to de campanha. Não tem não me

O nosso sistema político é dos mais

nha visão. Usando a linguagem dos engenheiros, esse modelo já deu

toque, não adianta fazer demagogia

atrasados do planeta. 

fadiga de material. E eu acho que quanto mais rápido o País debater

com a população e dizer que “ah, vai

isso em profundidade, melhor. Não acho que isso seja responsabilida-

tirar o dinheiro de tal setor para pagar campanha eleitoral”. Campanha

de do PT, ou do PSDB, ou de quem quer que seja. Isso vem do nosso

eleitoral tem custo. Nós optamos pela democracia, nós precisamos saber

debate da Constituição de 1988, quando nós começamos a preparar

como se financia um processo eleitoral. Isso precisa ser um debate cla-

uma constituição parlamentarista, e veio o plebiscito. Eu era prefeito

ro e transparente se a gente quiser evoluir com a democracia brasileira.

de Vitória quando veio o plebiscito. Eu defendi o parlamentarismo, e

Foi essa discussão que eu coloquei, o que, na minha visão, preci-

o parlamentarismo tomou uma surra no Brasil. Ganhou o presiden38

dos do planeta. Nós precisamos re-

sa ser resolvido em nível nacional. Nós temos aí sei lá quantos minis-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

39
tros que já caíram neste governo. É quase um roteiro único, um rotei-

País continuar avançando. O País está avançando nesses últimos anos.

ro se repetindo. Não tem nem roteiro diferente, a novela repete o ro-

Eu reputo que desde o governo do presidente Itamar Franco, desde o

teiro em cada caso, e eu não sei em quantos ministérios vai acontecer

Plano Real, o Brasil vem avançando do ponto de vista econômico, do

a mesma coisa. Para mim está claro. Por isso, eu falei que esse cami-

ponto de vista social, da diminuição da miséria, da pobreza. Colocamos

nho se esgotou. Precisamos rediscutir e colocar uma coisa melhor. E

as crianças no ensino fundamental. Há um problema de qualidade, um

para colocar uma coisa melhor, evidentemente tem de melhorar o sis-

problema sério de qualidade no ensino de Português, de Matemática,

tema político, eleitoral, partidário do País. Tem de aperfeiçoar, tem de

mas as crianças estão na escola. Há avanços dignos de registro no País.

resolver essa questão do financiamento de campanha, e tem de pro-

Mortalidade infantil em queda, expectativa de vida em alta, tem mui-

fissionalizar o setor público. Grosso modo, nos países desenvolvidos,

ta coisa digna de registro nesse período. Mas é evidente que aquilo que

você muda um primeiro-ministro, mas não muda a burocracia. Essa

nos fez chegar a esses registros positivos é insuficiente para continuar a

coisa de loteamento partidário de

caminhada. Nós precisamos refazer esse modelo para seguir em frente.

A questão da gestão precisa entrar no

estruturas públicas, isso é o atraso

debate nacional. Como é que você vai

do atraso do atraso. Você precisa

fazer as coisas, quanto vai custar, quais

caminhar no sentido da profissiona-

O se n h o r in gre s s o u f o r m a l me n te n a v ida

são as outras maneiras de fazer? Qual

lização da máquina pública. Tem de

p o l ític a n a dé c a da de 8 0 , a o se fil ia r a o

o retorno que vai dar para a socieda-

ter eficiência. O setor público tem

PMD B . D e p o is pa s s o u vá rio s a n o s n o P S D B ,

de? Tem que ter meta, objetivo. 

de fazer as coisas e ter avaliação do

te v e fil ia ç õ e s me n o s dur a d o ur a s n o PP S e P S B ,

que ele está fazendo, tem de olhar

te n d o vo lta d o p o ste rio r me n te a o PMD B , o n de

quanto está custando aquilo. Porque é público não tem que olhar isso?

se e n c o n tr a a g o r a . Q ua l é a o pin iã o d o se n h o r

Claro que tem, acho que tem de olhar mais, na minha modesta visão.

s o b re o s pa rtid o s p o l ític o s h oje n o B r a sil ,

A questão da gestão precisa entrar no debate nacional. Nos oito
anos à frente do governo do Espírito Santo, ela recebeu prioridade. Como

de m a n e ir a ge r a l ? Q ua is p o n t o s me re c e m se r
de sta c a d o s , p o siti va o u n e g ati va me n te ?

é que você vai fazer as coisas, quanto vai custar, quais são as outras maneiras de fazer? Qual o retorno que vai dar para a sociedade? Tem que

Eu comecei no PCB. Quando eu era estudante, na militância estudantil,

ter meta, objetivo. É preciso utilizar as mesmas ferramentas de traba-

eu me filiei ao PCB. Me filiei, assim, não tinha ficha não, era clandesti-

lho da iniciativa privada.

no. Me filiei ali, de passar à militância, e tudo. E depois, em algum mo-

Então, eu acho que esse modelo que está lá em cima já está completamente ultrapassado, fazendo água. E isso é visível para a sociedade,

va. A militância no MDB, no PMDB, foi uma militância que muitas for-

independentemente de ficar botando a culpa em A ou em B, em parti-

ças de esquerda tiveram porque estavam na clandestinidade e o espaço

do. Não quero saber de quem é a culpa, precisamos resolver isso para o
40

mento, eu refleti que aquele caminho não era o caminho que eu pensa-

legal de atuação era o MDB, depois o PMDB. Na verdade eu vim da mi-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

41
litância socialista para a militância social-democrata, é onde eu estou

to na Câmara dos Deputados. (Na verdade, com os recém-criados PSD

agora. Essa é a minha história, eu virei um social-democrata.

e PPL, o Brasil conta com 29 partidos oficiais, sendo que 23 têm repre-

A questão partidária no País, o retrato dela, é o PSD, criado ago-

sentação na Câmara dos Deputados). Talvez possamos ter um núme-

ra pelo Gilberto Kassab. Proibiram a mudança partidária de quem tinha

ro menor, mas ter partidos com uma relação programática mais bem

mandato, mas abriu uma janela para, criando um partido novo, você poder

estabelecida. E eu acho que aí é de certa forma dar uma olhada no que

mudar. Acho que eles colocaram quarenta deputados federais no partido,

está acontecendo no mundo.

quarenta e tantos. Isso é quase 10% da Câmara, você imagina. Então isso
aí é um sinal do que virou a vida partidária. Depois do mensalão, o PT, que

bém está mudando velozmente com as novas tecnologias. Quando você

tinha uma vida partidária mais organizada, perdeu muito do carisma que

pensa, por exemplo, que a função do Legislativo está em discussão na

tinha com a sociedade. A vida partidária brasileira está muito desorgani-

sociedade... Deixe-me fazer aqui uma simplificação histórica: mudou

zada. O que eu vejo de bom nela hoje?! Eu não vejo nada, sinceramente. O

muito da assembleia da Grécia An-

que eu vejo é que se precisa reestruturar a vida partidária brasileira, den-

tiga, quando todos os poucos cida-

Os partidos hoje são pouco progra-

tro daquilo que eu falei, da necessidade de uma reestruturação da políti-

dãos decidiam tudo pessoalmente

máticos. Eles se tornaram uma espé-

ca no País, dos partidos, da legislação eleitoral, do financiamento de cam-

a todo tempo, à democracia repre-

cie de cartório. Compete ao País ter

panha, de como organizar uma campanha eleitoral. Eu acho que esse é o

sentativa nos parlamentos, em que

capacidade de reformular as leis que

desafio. Os partidos hoje são pouco programáticos. Eles se tornaram qua-

você escolhe uma pessoa para re-

regem a estrutura política. 

se uma visão de uma coisa burocrática que nós temos no País, e em certos

presentá-lo, você dá uma procura-

pontos muito atrasada. Eles se tornaram uma espécie de cartório da polí-

ção para o cara ir lá votar em seu nome, decidir em seu nome. Ocorre

tica. Tem o cartório de registro de imóveis, tem o cartório de outras coi-

que, hoje, você tem, no meio disso tudo, a possibilidade de as pessoas

sas, então o partido se tornou quase um cartório. O cara tem necessida-

serem mais consultadas sobre os mais diversos temas. Pelo volume de

de de ter uma filiação partidária para poder ser candidato, independente-

gente que tem esses celulares modernos, a possibilidade de você con-

mente se ele sabe o que está escrito no programa do partido, e assim por

sultar a população está aumentando, está se aproximando de um nú-

diante. Essa é uma coisa que esses anos de democracia trouxeram para a

mero grande de pessoas para poder falar sobre o que pensam disso ou

luz do dia. Compete ao País ter capacidade de reformular as leis que re-

daquilo. Essas novas possibilidades precisam entrar no debate da refor-

gem a estrutura política. É isso que precisa ser feito, não tenho dúvida. A

ma política. E a própria discussão desse novo parlamento. Você vê, os

visão que tenho da questão partidária é essa. Você olha as coligações par-

meninos vão para a rua, acampam lá na Espanha, mas vão para a porta

tidárias hoje, e elas são feitas em cima de um episódio eleitoral. O PMDB

do parlamento espanhol fazer protesto. E o protesto diz assim: “nós não

esteve com o Fernando Henrique, esteve com o Lula, e está com a Dilma.

nos sentimos representados por essa instituição”. Então isso tem de le-

Essa estrutura precisa ser reorganizada. E aí você ter talvez um

var a uma discussão, quando a gente repensa essa questão da democra-

número menor de partidos. Hoje o País tem 28, 29 partidos com assen42

Não tem vida muito fácil nesse assunto porque o mundo tam-

cia representativa, nós precisamos levar em conta todos esses aspectos.

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

43
E e spec i fi c a mente s obre o parti d o d o
se nh o r , o PM DB? C omo o avalia , tan to

O se n h o r de i xo u o G ov e rn o d o E sta d o c om um
a ltís simo n í v e l de a prova ç ã o , e f o i q ue stio n a d o

na c i ona l m ente quant o regional m e n te ?

muita s v e z e s pe l a q ue stã o da un a n imida de , de

O PMDB teve um papel muito importante no processo de democrati-

se n h o r ava l ia e s sa s dua s c o isa s ?

g ov e rn a r pr atic a me n te se m o p o siç ã o . Como o

zação do País. Não como partido, mas como movimento, como frente. Isso foi um papel muito relevante e histórico do PMDB. A partir daí

Quem tiver em uma luta política com desafios gigantescos, como nós ti-

ele virou um partido que se acopla aos projetos, como eu disse. Aco-

vemos de enfrentar, e não buscar apoio, não tiver humildade para buscar

plou ao projeto do ex-presidente Fernando Henrique, deu número no

apoio em outras forças políticas, em grupos sociais, em instituições da

Parlamento para aprovar medidas que foram muito importantes para

sociedade, está fadado ao insucesso. Essa é a minha visão, como de certa

o País. Reformas que ajudaram o Brasil a se reestruturar. Muitas delas

forma já está construído no meu raciocínio lá atrás, na minha outra res-

que permitiram ao País passar melhor pela crise de 2008, como, por

posta. Quem tem desafios gigantes-

exemplo, a reforma do sistema bancário brasileiro.

cos pela frente, que não vá sozinho

Quem tiver em uma luta política com

Então o PMDB esteve lá nesse momento reformista que o País

pra ele. Isso é máxima-chave que eu

desafios gigantescos, como nós tive-

viveu. Mas é um partido, por exemplo, que há muitos anos não aspi-

aprendi na minha casa, com meu sau-

mos de enfrentar, e não tiver humil-

ra ao poder nacional, não disputa a Presidência da República à vera

doso pai. E foi isso que nós buscamos.

dade para buscar apoio em outras

mesmo, colocando-se sempre como caudatário do movimento de ou-

São críticas vazias, absoluta-

forças políticas, em grupos sociais,

mente inconsistentes. Se você busca

em instituições da sociedade, está fa-

Eu acho que é isso, está dentro dessa geleia geral partidária a

o apoio, e o tem, é porque você tem

dado ao insucesso. 

que eu me referi, desse sistema partidário gelatinoso que precisa ser

uma proposta que aquele interlocu-

reestruturado. Então acho que não faz diferença. O PMDB teve um

tor que você buscou entende como uma coisa importante, que tem re-

papel histórico. O PSDB teve um papel histórico, desmembrando-se

percussão para a sociedade. Porque, se você vai buscar apoio para uma

do PMDB para ser uma coisa diferente, fez esse governo do Fernan-

proposta equivocada, por um caminho que se revela um descaminho,

do Henrique. O PT teve o seu papel também importante, mas todos

você não junta gente. Você junta gente quando o objetivo é uma von-

perderam o brilho ao longo dessa caminhada. Por isso, talvez o me-

tade social, que tem reflexo na vida do cidadão. O que eu fiz foi mobi-

lhor fosse reestruturar a vida partidária e eleitoral, o sistema político

lizar o Estado, e ter humildade para procurar, conversar, explicar o ca-

do País como um todo. Eu acho que esse sistema em que estamos vi-

minho que eu queria seguir a políticos, partidos, entidades da socie-

vendo deixa muito a desejar.

dade civil, jornalistas, igrejas, universidade, faculdades. O que eu fiz

tros segmentos.

foi isso, e recebi o apoio. Um sinal de que a proposta fazia sentido. E a
história está aí: onde estava o Espírito Santo, e onde o Espírito Santo
44

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

45
está hoje? De onde nós saímos e aonde nós chegamos? Então acho que

versavam, eu conversava pessoalmente, e me dava ao trabalho do con-

a crítica não tem consistência, ela não se fundamenta em nada. Mui-

vencimento. Porque essa é a questão do governar, é você convencer as

tas vezes, são críticas feitas por pessoas que em outros momentos da

pessoas do caminho que você acha que deve seguir. Então trabalhamos

política tentaram a mesma coisa. Uns não conseguiram, porque não

com muito apoio, mas muito longe do comentário feito.

tiveram capacidade de mobilizar a sociedade; não conseguiram con-

Sempre trabalhamos com a oposição forte. Forte no sentido de que

vencer a sociedade do caminho, não trabalharam com bons argumen-

a oposição ao nosso trabalho foi e é justamente esse conjunto de forças

tos. Outros chegaram a conseguir apoios importantes para conseguir

políticas que mandou no Espírito Santo durante mais de uma década.

coisas que precisavam ser feitas.

Mandaram e desmandaram, mais desmandaram, durante mais de uma

Eu acho que a crítica muitas vezes é útil para consertar algumas

década. Não é gente frágil. É gente acerca da qual nós buscamos real-

coisas, mas é preciso que haja fundamento. O Lula governou com mui-

mente uma forma para que se enfraquecessem no jogo de poder do Es-

to apoio, no estilo dele. Então, se a crítica fosse assim: “Para ter apoio, o

tado. Óbvio, caso contrário não conseguiríamos botar de pé essa estru-

Paulo Hartung fez coisas absurdas. Deu a Secretaria da Saúde para o cara

tura nova que nós propusemos.

fazer coisa errada lá dentro”. Mas isso não existiu, nem esse tipo de crítica existe. Não foi feita, inclusive por quem se diz oposição ao trabalho

se conseguiu aprovação? Com trabalho. A pessoa não recebia o salário,

que nós realizamos. Se eu tivesse trabalhado com uma equipe que tives-

passou a receber em dia. Tinha uns atrasados de salário, recebeu. Ti-

se sido uma politicagem só, aí haveria motivo. Podem até dizer que tive

nha uns atrasados de plano de cargos e de salários, recebeu. Toda vez

apoio amplo, mas reconhecem o valor da equipe. Também se argumen-

que o Estado podia avançar, ia lá e reestruturava o plano de cargos e de

tou: “Ah, porque ele teve muito apoio na Assembleia Legislativa”. Mas eu

salários, dentro das nossas possibilidades. E o Estado conseguiu se re-

trabalhei para ter apoio na Assembleia Legislativa. Eu ficava até dez ho-

organizar, fazer os concursos públicos, repor a força de trabalho que a

ras da noite atendendo parlamentar. Muitas vezes, não para fazer o que

máquina pública precisava, e ao mesmo tempo voltou a ser provedor

ele me pedia, mas para explicar o que era possível e o que não era possí-

de serviços para a sociedade. Então, o cidadão, na outra ponta, via que

vel atender, inclusive mostrando que aquilo fortaleceria o mandato de-

o Estado ia lá e construía uma unidade de saúde, reconstruía uma es-

les. E isso se revelou na prática, tanto que muitos deles disputaram a ree-

cola, construía uma escola nova, comprava equipamento para o hospi-

leição e foram bem-sucedidos. Quer dizer, mostrou também que eu não

tal, fazia estrada, levava energia para onde não tinha. O Estado voltou

aconselhei errado, que eu não vendi ilusões para líderes políticos. Falei:

a funcionar. Os órgãos da área da agricultura começaram a fazer polí-

“Olha, vamos trabalhar nessa direção aqui. Nessa direção você também

ticas inovadoras para melhorar a qualidade dos nossos produtos, seja

vai refazer o seu mandato político. Não é isso que você quer?”. E muitas

o café, o milho, a banana, e os diversos polos de fruticultura. O Estado

vezes o que vinha sendo proposto era uma coisa que ia destruir o rumo

voltou a funcionar. Então isso é que deu prestígio. O que dá prestígio

do que estava sendo feito, de profissionalização, de planejamento, de me-

é isso, não é gogó, não é discurso bonito. Com isso a população já está

tas, e assim por diante. Mas eu gastava tempo, os meus secretários con46

Acho que a aprovação também é uma coisa positiva. Como é que

impaciente. Não aguenta conversa fiada.

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

47
Por que o governo do Lula ganhou prestígio? Porque aumentou a

En tr a n d o n o c a mp o e c o n ômic o , o B r a sil

renda, aumentou o emprego. Por isso ganhou prestígio. Esse eu acho que

e o E spírit o S a n t o se de sta c a m h oje c omo

é o desafio, chegar à vida das pessoas, positivamente. Isso que dá prestígio

gr a n de s e xp o rta d o re s de c ommo ditie s . A l g un s

a governo, a governante. E eu não vejo mal nenhum, pois se há prestígio é

e spe c ia l ista s a p o n ta m pa r a um a te n dê n c ia de

porque se está trabalhando direito. Porque o povo é também um consumi-

re prim a riz a ç ã o da pau ta de e xp o rta ç õ e s , e q ue

dor de produtos e serviços de responsabilidade do governo. E a população

is s o p o de ria te r c o n se q uê n c ia s n e g ati va s pa r a

não é intransigente, fato importante de se ressaltar. Sabe-se que ninguém

o Pa ís e pa r a o E sta d o , n o l o n g o pr a z o . Como o

vai resolver tudo. Nós ficamos oito

se n h o r ava l ia e s sa q ue stã o ?

Eu não vejo mal nenhum em ter muito

anos no governo e não resolvemos

apoio, desde que isso não esteja ligado

todos os problemas; não tem como.

Eu concordo com os analistas. Tenho uma grande preocupação com isso.

ao fisiologismo, ao clientelismo, às prá-

Você acaba de resolver um problema

Com esse fato de se ter hoje como principal produto de exportação do

ticas equivocadas tão comuns da vida

e aparece um novo; a sociabilidade é

País o minério de ferro. Nos últimos doze meses, só para dar um núme-

pública brasileira. Não tenho proble-

dinâmica. Mas a população também

ro, nós fizemos 40 bilhões de dólares de exportação de minério de ferro.

ma nenhum em ter apoio de partidos,

percebe que as coisas estão andando

Essa é uma pauta que preocupa o Brasil e o Espírito Santo. Como se su-

de lideranças políticas, da sociedade.

para frente. Quem usa o SUS sabe o

pera isso? Modernizando o País. Precisa-se de uma agenda nova para o

quanto o hospital público melhorou.

País. Isso dialoga com o que eu falei em respostas anteriores. Nós passa-

Quem não usa fala que isso é um caos, e ponto. Ele vê que tem problema;

mos bem pela crise de 2008, pelo que nós fizemos lá atrás, desde a esta-

então isso é um caos. É fácil falar que é um caos, mas quem usa no dia a

bilização da moeda. Nós podemos passar melhor agora por essa conti-

dia sabe a hora que não tinha uma tomografia e passou a ter, que os exa-

nuidade da crise, que está expressa nos episódios da Europa, principal-

mes estão sendo feitos, que ninguém está ficando num leito hospitalar

mente, e dos Estados Unidos, ainda por conta do que fizemos no passa-

para esperar durante 60 dias um exame. Na hora que melhora, a peque-

do. Mas precisamos de uma nova geração de reformas. No caso, inclusi-

na melhora é percebida por quem usa, e entra na avaliação do governo.

ve, acho que mais microeconômicas do que macroeconômicas. Nós pre-

Dessa forma, eu não vejo mal nenhum em ter muito apoio, desde que isso aí não esteja ligado ao fisiologismo, ao clientelismo, às práti-

cisamos melhorar o Estado brasileiro, o funcionamento dele, para poder
aumentar a competitividade do País. A nossa competitividade é baixa.

cas equivocadas tão comuns da vida pública brasileira. Não tenho problema nenhum em ter apoio de partidos, de lideranças políticas, da so-

vale para o Brasil e para o Espírito Santo. O maior desafio que temos é

ciedade. E só vejo bem num governo bem avaliado. Aliás, nós trabalha-

a educação. Nós precisamos melhorar a educação pública do País, co-

mos, era um objetivo estratégico da gente ter uma boa avaliação com a

meçando lá com o ensino da Matemática e do Português. É o progra-

população. E acho que todo governo deve ter isso. Agora, tivemos opo-

ma que nós estruturamos aqui no Estado, “Ler, Escrever e Contar”, que

sição, e temos oposição ao que fizemos, e não é pequena.
48

Vou dizer, grosso modo, o que eu acho que precisa ser feito, e

dialoga com isso. Nós precisamos melhorar a educação. Nós precisa-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

49
mos investir mais em ciência e tecnologia, setor em que o País inves-

não aconteça. Eu espero que esse período de bonança empurre o País

te pouco. Se nós estamos hoje “bombando” nas commodities agríco-

para novas reformas modernizantes, que nos deem mais competitivida-

las e metálicas, e vamos ter pré-sal daqui a pouco tempo, nós precisa-

de. Que o País pare de flertar com o caminho fácil, porque não existe ca-

mos usar o dinheiro dessas commodities para aumentar o investimento

minho fácil. A vida é dura mesmo. Tanto é dura que o Fernando Henri-

em educação, ciência e tecnologia

que, que liderou o País em tantas reformas importantes, não tem popu-

Nossa competitividade é baixa. O

no País. Aliás, temos experiências

laridade. Talvez a obra dele vá ser reconhecida daqui a 30 anos. Mas não

maior desafio que temos é a educação.

boas. Quando você olha a Empre-

tem jeito, esse é o desafio. E a presidenta Dilma está terminando o pri-

Nós precisamos melhorar a educação

sa Brasileira de Agropecuária (Em-

meiro ano de governo com um estoque de mudanças muito pequeno, e

pública do País, começando lá com o

brapa), é uma experiência boa, que

uma sensação ruim, com esse monte de ministro envolvido em coisa er-

ensino da Matemática e do Português.

aproximou inclusive a Academia da

rada. Isso já é um quarto do governo. Veja você, como o tempo em gover-

área produtiva. A Empresa Brasilei-

no é um negócio rápido. Quando você abre o olho, já acabou o governo.

ra de Aeronáutica (Embraer) é uma boa experiência. A exploração de

Nós precisamos levantar a cabeça, olhar esse quadro de competi-

petróleo em águas profundas é outra boa experiência. São três experi-

tividade global. Eu não tenho inveja nenhuma da China. China não é ca-

ências, eu poderia citar outras, que nós precisamos replicar em outros

minho para a gente. Não é a isso que

setores em busca de competitividade mundo afora. Esse é um desafio.

eu estou me referindo. Eu não tenho

Nós precisamos desburocratizar o

Nós precisamos desburocratizar o País. Você não pode gastar dois

inveja de um país que não tem leis

País, melhorar o acesso ao crédito e

anos para conceder uma licença ambiental, não ter prazo para as coisas.

trabalhistas – está lá o sujeito traba-

investir na infraestrutura econômica

O Governo Federal agora começou a tentar encarar esse problema. Foram

lhando 14, 15 horas por dia. Não te-

do País, que é precaríssima. 

feitas portarias da ministra de Meio Ambiente nesse sentido. Precisamos

nho inveja de um país que não tem

melhorar o sistema tributário brasileiro. Precisamos melhorar o acesso

legislação ambiental, não tem legislação previdenciária, não é isso. Mas,

ao crédito no Brasil. Tem um conjunto de tarefas sobre as quais precisa-

tendo legislação trabalhista, ambiental, previdenciária, nós precisamos

mos nos debruçar, estou citando algumas delas rapidamente. E, por últi-

saber como é que damos competitividade aos nossos serviços, aos bens

mo, não estou dizendo nem por ordem de importância, mas a gente pre-

que produzimos aqui. Falo de competitividade planetária ao nosso País,

cisa melhorar a infraestrutura econômica do País, que é precaríssima. E

para que a gente não vá para um reducionismo de voltar a ter uma agenda

esse crescimento recente que nós tivemos só fez aflorar o problema. Por-

exportadora de produtos primários, como nós falávamos no nosso tempo

tos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia cara. Nós temos problemas

de estudante de Economia. São as commodities agrícolas, metálicas, sendo

de infraestrutura econômica que são gravíssimos. Se a gente não se de-

que, talvez, a gente vire exportador de petróleo um pouco mais à frente.

dicar a essa agenda, reformista, modernizante, é possível que esse perío-

Isso vale para o Brasil e vale para o Espírito Santo. Eu acho que o

do de bonança de 18, 19 anos que estamos vivendo vire mais uma vez um

maior obstáculo que o País tem, o obstáculo número um, é a instrução

período sobre o qual ficaremos falando no futuro. E eu espero que isso

do nosso povo, da nossa gente.

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Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

51
Como o senhor enxerga o futuro do Espírito Santo?

Argentina, está entrando nos Estados Unidos, ou já está lá, e agora tem
um parque fabril em Linhares. A Itatiaia anunciou um investimento

Eu enxergo positivamente. Vou dizer a você por quê. Nós temos esse

em Sooretama, para fabricar geladeiras e fogões, de olho no mercado

novo momento de turbulência internacional, e isso afeta o Espírito San-

interno brasileiro, dinamizado pelo crescimento da classe C. Em Ara-

to, temos que ter claro isso. Quando o mundo vai pra frente, o Espíri-

cruz, teremos a inauguração do terminal de GLP e C5+, agora nos pró-

to Santo costuma andar na frente do Brasil, e quando o mundo arrefe-

ximos dois ou três meses, uma base importante para o Estado. A Ca-

ce o desenvolvimento a gente costuma sofrer um pouco mais do que

rioca Engenharia apresentou um

o País. Em face da crise em curso, nós precisamos observar, ter caute-

projeto para fabricar módulos de

Quando o mundo vai pra frente, o Es-

la, e saber que ela afeta o Brasil e o Espírito Santo. Tem a questão dos

plataformas de petróleo, em Barra

pírito Santo costuma andar na frente

royalties. Só para a gente balizar direito, essa proposta do senador Vi-

do Riacho, também em Aracruz. A

do Brasil, e quando o mundo arrefece

tal do Rêgo – que eu acho que não vai prevalecer; acho que vamos ga-

Jurong está na iminência de come-

o desenvolvimento a gente costuma so-

nhar essa briga –, mas considerando que ela prevaleça, perdem mais

çar a sua obra. Na ponta de Tubarão

frer um pouco mais do que o País. 

os municípios do que o Governo do Estado. Quando se fala que o Espí-

estão construindo a oitava usina de

rito Santo está perdendo R$ 500 milhões, R$ 300 milhões são dos mu-

pelotização e na ponta de Ubu estão construindo a quarta. Há a pos-

nicípios, uns 14, 15 municípios que recebem royalties no nosso Estado.

sibilidade de instalação da Ferrous no extremo sul do Espírito Santo.

E mesmo no caso do Fundo de Desenvolvimento de Atividades Portu-

O setor público está organizado, e essa ambiência que nós criamos

árias (Fundap), que seria uma terceira frente de problema que nós terí-

no Espírito Santo para atração de investimento privado está possibili-

amos de enfrentar aí, esse é um problema quase só municipal. Tirando

tando uma grande diversificação da economia. Até o final de 2012, co-

o Bandes, que sofre numa hipótese de perder o Fundap, em termos de

meça a construção do polo gás-químico em Linhares – já estamos com

receita pública o Governo do Estado aufere muito pouco. Justamente a

capacidade de processar 18 milhões de m³ de gás. Temos capacidade de

parte do Governo do Estado é a parte do incentivo. A máquina do Go-

processar 3 milhões aqui na UTG Sul, e mais 18 milhões lá. E lá vamos

verno do Estado se estruturou nesses últimos anos. Do ponto de vis-

ter um polo gás-químico, para processar matéria-prima para fazer fer-

ta fiscal, somos um dos dois ou três estados mais organizados do País,

tilizante, tinta, cola, entre outros. Quer dizer, um importante exemplo

hoje. Somos o Estado com maior capacidade de investimentos com re-

de diversificação da nossa economia.

cursos próprios do Brasil. São elementos que apontam na direção de
um futuro positivo para o Espírito Santo.

Com o setor público organizado, o setor privado entrou em amplo processo de diversificação da nossa economia, permitindo ao Es-

Mas há coisas mais importantes que essas. O Estado está conseguindo diversificar a sua economia. Há poucos dias inaugurou-se o

do em que, depois da chegada dos portugueses, durante 300 anos não

parque fabril da WEG Motores, em Linhares. A WEG é uma empre-

ocorreu nada, praticamente nada, tirando os jesuítas que construí-

sa brasileira presente no mundo inteiro. Está na Europa, na China, na
52

tado enfrentar um grave problema na nossa história. Somos um Esta-

ram o Palácio Anchieta com o excedente das suas fazendas organiza-

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

53
das. Depois disso, passamos a plantar café, e o fizemos isso por mais

caso dos indicadores sociais, em uma boa parte deles nesses anos nós li-

de 100 anos. Com a planta de Tubarão nós começamos a diversifica-

deramos o País, inclusive na diminuição da pobreza.

ção da nossa economia, muito lentamente. Hoje nós estamos vivendo

Tudo isso me leva a acreditar no Estado. Eu tenho usado a ex-

outro tipo de dinamismo. Na nova sede da Petrobras, em Vitória, vão

pressão de que “o futuro do Espírito Santo está praticamente contra-

trabalhar mais de 1.800 técnicos. Isso quer dizer que nós vamos pro-

tado”. Por que praticamente? Porque isso é uma luta do dia a dia. Você

duzir petróleo mais uns 30 anos para frente. Então, nós temos opor-

tem de todo dia trabalhar para, de certa forma, conservar as conquis-

tunidades significativas nos próximos anos.

tas, garantir as vitórias que você já teve e ao mesmo tempo continuar

Setor público organizado, setor privado em diversificação, um

essa caminhada. Mas eu vejo, por tudo que está acontecendo na eco-

plano estratégico extraordinário, o ES 2025. Quer dizer, hoje o Espírito

nomia capixaba, independentemente do desfecho de crise internacio-

Santo conta, não é o governo, é o Estado que tem um plano estratégico

nal, royalties, Fundap – é claro que essas questões mexem –, mas inde-

organizado, com metas na educação, na questão da erradicação da po-

pendentemente disso, teremos um futuro importante de ampliação e

breza, na diversificação da nossa economia, na interiorização do desen-

democratização das oportunidades.

volvimento do Estado, que é outro desafio, porque ele está concentrado
na Grande Vitória e no litoral sul e norte, agora. Então cada ponto desses dá fé no futuro do Espírito SanO futuro do Espírito Santo está prati-

to. Fechando esses pontos, um quar-

camente contratado. Por que pratica-

to ponto são os indicadores, econô-

mente? Você tem de todo dia trabalhar

micos e sociais. Econômicos, eu vou

para, de certa forma, conservar as con-

apresentar dois: de 2003 a 2010, pe-

quistas, garantir as vitórias e ao mes-

ríodo do nosso governo, nós lidera-

mo tempo continuar essa caminhada.

mos o País no crescimento econômico. Nesse período, o crescimento

do PIB capixaba foi de 48,9% contra 36,5% do Brasil. Nosso PIB, quando
nós tomamos posse, era de 40,2 bilhões de reais, e foi para R$ 85,6 bilhões, mais que dobrou nesse período. Outro dado econômico importante, econômico e social, é a geração de empregos. Entre 2002 e 2010 o
Espírito Santo apresentou crescimento acumulado de 59,5% do nível de
empregados com carteira assinada, sendo superior à taxa verificada no
Brasil, de 47,7%. Então, quando você vai pegando os indicadores econômicos e sociais, vê que em todos eles nós operamos positivamente. No
54

Recortes

Paulo Hartung

Cap.1

Entre Gerações

55
Cap. 2

Economia

Desafios e oportunidades

E

sta seção reúne palestras dedicadas à análise das atuais
condições econômicas, afetadas em maior ou menor escala pela crise mundial eclodida em 2008. O ex-governador Paulo Hartung fala da origem e da natureza da crise e
seus rebatimentos nas conjunturas local, nacional e internacional, considerando de maneira especial os interesses

dos capixabas, em particular, e dos brasileiros em geral.
O primeiro texto foi apresentado no Encontro de Lideranças Em-

presariais, promovido pela Rede Gazeta de Comunicações. Em seguida, está reproduzido o pronunciamento feito em encontro no Conselho
Regional dos Corretores de Imóveis no Espírito Santo.

Co nj un t ur a e c o n ômic a :
in te rfa c e s e n tre o B r a sil e o mun d o
Gostaria de parabenizar os organizadores por mais esta edição do Encontro de Lideranças Empresariais, repetindo o sucesso dos encontros
anteriores. Este momento de reflexão, neste início de novembro, coincide com o período em que gestores públicos e privados fazem uma avaliação do ano que está acabando e estudam os cenários socioeconômicos e políticos tendo em vista o planejamento.
Cap.2

Economia – Desafios e oportunidades

57
É uma ação que busca o desenvolvimento capixaba, com dinami-

Cortes em políticas públicas e redução de investimentos, entre ou-

zação e desconcentração do crescimento econômico, melhoria da qua-

tros, são algumas das medidas tomadas ou previstas que vêm modifican-

lidade de vida, ampliação e democratização das oportunidades.

do o ambiente econômico e gerando reações mundo afora.

Estive em todas as edições anteriores como governador do Espí-

Como se vê, o enfrentamento dessa situação não guarda relação

rito Santo. Participo desta como economista, muito bem acompanhado

com as estratégias que se utilizaram para enfrentar a turbulência de três

do professor Luiz Carlos Mendonça de Barros. Durante sua gestão na

anos atrás. Nesse contexto, o mundo está vivendo um processo de desa-

presidência do BNDES, tive a oportunidade de estar à frente da direto-

celeração da atividade econômica.

ria Social do banco, num tempo de rico e sólido aprendizado.

No caso dos Estados Unidos, a aguerrida e precoce disputa políti-

A nossa tarefa aqui é propor uma agenda para reflexão acerca da

co-eleitoral, que ficou evidente no impasse gerado durante a negociação

atual contingência econômica e seus reflexos entre nós. Registro que

do limite da dívida, tem dificultado a adoção de medidas e uma ação co-

a atual crise guarda diferenças significativas com relação àquela vivida

ordenada para que o país saia mais rapidamente da crise. Dessa forma,

em 2008, muito embora seja um desdobramento daquele momento de

acredito que uma efetiva agenda de enfrentamento da crise seja imple-

graves turbulências.

mentada somente após o pleito presidencial, previsto para o final de 2012.

Há três anos, o que tivemos foi um travamento mundial do crédi-

Na Europa, responsável pelo quadro mais grave, as lideranças po-

to, desencadeado pelo colapso do sistema de financiamento imobiliário

líticas produziram um plano que prescreve, entre outros, um deságio

norte-americano, com a quebra do Lehman Brothers.

de 50% da dívida grega, a capitalização de bancos e a ampliação do fun-

Como resposta à crise, os governos alocaram recursos para cobrir
os rombos dos bancos e tomaram medidas anticíclicas. Com essas e ou-

do de estabilização europeu, que passaria de 400 bilhões de euros para
um trilhão de euros.

tras ações, os governos se endivida-

É um passo importante, mas ainda faltam respostas acerca desse

Um dos fatores centrais para o co-

ram e, como está evidente, muitos

plano e alguns já sinalizam que ele não seria o bastante. O último imbró-

lapso das operações do mercado imo-

deles já não têm condições de hon-

glio em torno do pacote foi a tentativa do primeiro-ministro grego de fa-

biliário norte-americano, que mar-

rar seus compromissos.

zer um referendo sobre os termos da proposta de ajuda e ajustes à Gré-

cou o começo de toda essa história,

Vale ressaltar, ainda, que um

cia, o que, de certa forma, poderia travar o desenvolvimento do plano.

foi a desregulamentação do sistema

dos fatores centrais para o colapso

Um indicador mostra a gravidade da situação na zona do euro: há 16 mi-

financeiro, ocorrida principalmente

das operações do mercado imobili-

lhões de desempregados, ou 10,2% da população economicamente ativa.

a partir dos anos 1970. 

ário norte-americano, que marcou

O Japão, que acumula um longo período de baixo crescimento,

o começo de toda essa história, foi a

experimentou no início do ano um dramático desastre natural, também

desregulamentação do sistema financeiro, ocorrida principalmente a par-

com reflexos na economia. A China, que passou a ser vista como deci-

tir dos anos 1970. De certa forma, essa é a origem e a natureza dos pro-

siva na questão da ampliação do fundo para resgate de países europeus

blemas vividos atualmente.

em dificuldades, também dá sinais de que registra problemas. O descon-

58

Recortes

Paulo Hartung

Cap.2

Economia – Desafios e oportunidades

59
Recortes
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Recortes

  • 3. Sumário Apresentação – Paulo Hartung 05 Prefácio – Claudio Porto 09 Introdução 17 Capítulo 1 – Entre Gerações Organiz ação e edição: Revisão: Foto: Capítulo 3 – Planejamento – Rumo e Estratégia 69 Capítulo 4 – Gestão – Investimento Decisivo Alair Caliari Impre ssão: 79 Link Editoração GSA Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária responsável: Amanda Luiza de Souza Mattioli G633r GOMES, Paulo César Hartung, 1957Recortes / Paulo César Hartung Gomes ; organização, José Antonio Martinuzzo. - Vitória, ES : Econos, 2012. - 152 p. ; 24 cm. 1. dministração pública – Economia – Planejamento A Estratégico – Gestão – Educação – Política. I. Martinuzzo, José Antonio. II. Título 55 Márcia Rocha Projeto gr áfico e di agr am ação: Capítulo 2 – Economia – Desafios e Oportunidades José Antonio Martinuzzo 21 ISBN 978-85-8173-024-0 E c o n o s – J a n e i r o d e 2012 Capítulo 5 – Educação e Juventude – Determinantes do Futuro101 Capítulo 6 – Política – Conquista Histórica Desafiada 121 129 Referências bibliográficas CDD - 350 Posfácio – Ana Paula Vescovi 152
  • 4. Apresentação O ano de 2011 marca no calendário da minha jornada um tempo de inovação. Findo o período de dois mandatos à frente do governo do Estado do Espírito Santo (2003-2010), coloquei minha vida em novo curso, embora seguindo os mesmos valores que estão a orientá-la desde a juventude, pautados pela construção da igualdade de oportunidade para todos. Como consequência da decisão de não me candidatar a cargo ele- tivo em 2010, dei início ao terceiro período da minha vida profissional sem mandato – antes da minha primeira eleição, em 1982, atuei como microempresário; em 1997, após deixar a Prefeitura de Vitória, assumi a Diretoria Social do BNDES, até a disputa para o Senado. Neste atual período distante dos cargos eletivos, entraram em pauta os estudos, as atividades como economista e palestrante. Ao voltar do período de três meses de estudos no exterior, associei-me, na Econos, a um dos grandes economistas deste País, José Teófilo Oliveira. Deste posto de trabalho e observação, tenho atuado segundo minha formação acadêmica. Em razão do momento que estamos vivendo, a dedicação às atividades de economista tem me proporcionado um tempo de muito dinamismo e entusiasmo. Experimentamos uma era de superação do paradigma pós-Segunda Guerra e, dentre as muitas mudanças registradas, a China ganha um papel destacado na economia mundial e novas janelas de oportunidades de investimentos e dinamização produtiva se abrem aos emergentes, com resultados positivos para os brasileiros. Apresentação 7
  • 5. De outra sorte, trata-se de um período desafiador à atividade de palestras, depoimentos, estudos, entrevistas, registram-se valores, ide- economista, tendo em vista o desenrolar da crise financeira mundial, ais, informações, percepções e avaliações acerca da desafiante vida atu- cujos epicentros espalham-se no mundo desenvolvido (EUA, União Eu- al, em âmbito estadual, nacional e internacional. ropeia e Japão), exigindo dos especialistas um acompanhamento siste- Trata-se de pontos de vista consolidados a partir de minha vida fa- mático e profundo de um quadro fluido e complexo numa realidade de miliar, formação acadêmica, na busca do conhecimento, militância so- globalização econômica. cial, trabalho nas esferas pública e privada. Enfim, são visões referen- Enfim, ações como planejar, analisar, estudar cenários, verificar possibilidades, desenhar projetos, entre tantas outras atribuições de economista que são, costumeiramente, inspiradoras e desafiantes, em um tempo como o atual tornam-se atividades ainda mais vibrantes. ciadas à minha ação política, esta entendida como o próprio e inexorável ato de viver em coletividade como cidadão. Para mim, a política é condição da existência humana e se pratica não apenas nos partidos, na militância ou na esfera governativa. Ela Como uma ação de responsabilidade social, e por considerar a edu- perpassa todos os âmbitos da vida, constituindo-se como meio e exi- cação a grande prioridade nacional, dedico-me também a fazer palestras à gência do existir civilizado. Nesse sentido, coloco-me como um eterno juventude, buscando o despertar para o olhar atento aos fenômenos socio- militante de política emancipatória, de base republicana e democrática. econômicos e político-culturais que modelam a nossa vida cotidianamente Quanto à política relativa aos partidos e instituições governamen- e, fundamentalmente, a relevância da instrução na vida contemporânea. tais, reafirmo minha crença neste processo, visto como uma conquis- Nesta caminhada de atividade na vida privada, com estudos, leitu- ta da humanidade, um avanço da civilização. Saliento, no entanto, que ras, reciclagens e interfaces profissionais com os mais variados públicos, o atual sistema político brasileiro está ultrapassado e precário, incapaz tenho me dedicado, ainda, a compartilhar o conhecimento que acumulei de dar conta das tarefas do presente. É urgente a sua atualização, ten- ao longo de quase 30 anos de mandatos conquistados em sete eleições, es- do em vista o paradigma socioeconômico e tecnológico da atualidade. pecialmente os dois períodos em que estive à frente do Executivo estadual. Nessa conjuntura, decidi não disputar as eleições em 2010. Primei- Como ex-governador, assumi uma postura que considero adequa- ramente, pelo meu compromisso com a política de qualidade, de base re- da a essa posição, evitando avaliações e palpites sobre os rumos da ad- publicana, tendo em vista que considerava simbólico e necessário con- ministração pública no Estado. De outra sorte, coloco-me sempre pron- cluir os dois mandatos de governador a mim outorgados pelos capixabas. to, quando solicitado, a continuar contribuindo para o desenvolvimento Tinha uma missão a cumprir em sua totalidade, qual seja, liderar do Espírito Santo, que, mesmo enfrentando os desafios comuns ao dia a a reconstrução do Espírito Santo e entregar o Estado financeira, insti- dia, vive um tempo de oportunidades ímpares em seus quase cinco sé- tucional e administrativamente organizado ao meu sucessor, garantin- culos de história. O treinamento que acumulei ao longo de minha cami- do os fundamentos e as condições de continuidade deste novo tempo nhada também tem sido disponibilizado a outros Estados da Federação. de nossa história que começamos a construir coletivamente em 2003. A publicação desta coletânea de algumas das produções do ano de 2011 ocorre exatamente nessa direção do compartilhamento. Por meio de 8 E também decidi não me candidatar por enxergar um enorme descompasso entre a política partidária e institucional e as marcas da vida Recortes Paulo Hartung Apresentação 9
  • 6. Prefácio contemporânea. Esse distanciamento tem levado a um evidente desprestígio das instituições políticas junto à população e, tão grave quanto isso, ao abandono de uma agenda de reformas modernizantes do País. Não custa lembrar que foi a execução de parte dessa agenda nos anos 1990 e 2000 que criou as condições para que o Brasil pudesse viver os avanços sociais e econômicos dos últimos anos e até mesmo sentir com menos intensidade os efeitos da atual crise mundial. Tal fato mostra a urgência da retomada da agenda das reformas para a modernização do Brasil, e também para a atualização do seu sistema político. Enfim, acredito na política como princípio e meio de vida em coletividade, mas o quadro geral da atividade política no País me parece hoje pouco inspirador, particularmente no que se refere à representação parlamentar. H á um consenso entre especialistas, estudiosos, formadores de opinião e lideranças políticas e empresariais que, entre 2003 e 2010, o Espírito Santo passou por grandes transformações econômicas, sociais, políticas e institucionais que mudaram positiva e decisivamente a face do Estado. Muitos fatos sustentam essa evidência. Nesse período, o PIB capixaba cresceu 49% enquanto o brasileiro expandiu 36%. O emprego formal no No entanto, essa fragilidade do sistema político não pode turvar Estado cresceu quase 60%, doze pontos a mais do que a taxa verificada nosso olhar para a importância da política no processo de transforma- para o Brasil. Quase 440 mil capixabas saíram da pobreza, cerca de 173 ção da realidade, como bem mostra a história recente do Espírito San- mil deixaram de ser indigentes e, o mais valioso, mais de meio milhão to, a partir de 2003, e do Brasil, pós-estabilidade da moeda. ascenderam à classe média. Do ponto de vista fiscal, o Espírito Santo foi Nesse sentido, é que, mesmo optando pela atividade privada, con- um dos estados do País com maior crescimento na capacidade de inves- tinuo militando pela atualização do sistema político brasileiro e pela re- timento com recursos próprios: de menos de 1% da arrecadação desti- tomada das ações que ampliem a competitividade do Brasil no mundo. nado a investimentos em 2003 para 16% em 2010. Para fazer política não é preciso ocupar cargos eletivos. É possí- No bojo dessas transformações, o Espírito Santo iniciou um novo vel contribuir para a evolução da vida em sociedade em quaisquer ativi- ciclo de desenvolvimento, que marca a passagem de um modelo de in- dades que desempenhamos. Basta que se tenha a consciência do lugar dustrialização baseado apenas em grandes empreendimentos estatais ou da política, qual seja, o caminhar nosso de todo dia, a história que es- privados com foco em commodities para uma economia diversificada e crevemos cotidianamente, nas casas, nas praças, nas ruas, nas redes so- próspera, com crescente integração competitiva e maior valor agrega- ciais, nos partidos, nas organizações sociais, nas empresas, nas institui- do, que é sustentada por um acervo de capital humano, social e institu- ções públicas. Afinal, a ação política é decisiva ao caminhar civilizatório. cional com qualidade cada vez melhor. Este novo ciclo está associado a um ambiente de negócios dinâmico e saudável, construído nos últimos Paulo Hartung Economista, ex-governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010) 10 Recortes anos e que faz desse Estado um locus competitivo de atração de investimentos produtivos privados. Estou convencido – já o disse em várias en- Paulo Hartung Prefácio 11
  • 7. trevistas com jornalistas e em diversos eventos públicos – que o Espírito tentativa de intimidar os poderes e a sociedade da imensa tarefa de en- Santo tem grandes chances de ser o primeiro estado brasileiro a alcançar frentamento do crime organizado e de descontaminação da administra- indicadores de primeiro mundo em qualidade de vida, educação, acesso ção pública que então se impunha. a bons serviços de saúde, habitação, renda per capita e meio ambiente. O que mais me chamou a atenção, naquele cenário, foi a percep- Tive a sorte e o privilégio de ser ao mesmo tempo um observador ção que tive da atitude do então governador ao nos receber e conversar próximo e um partícipe coadjuvante dessas grandes transformações. conosco: uma pessoa simples mas muito firme, que demonstrava sere- Essa foi uma das experiências mais ricas e estimulantes que vivenciei ao nidade, objetividade e confiança na capacidade de sua equipe e dos ca- longo de mais de 40 anos de vida profissional, seja como consultor seja pixabas superarem a crise. E muita clareza do que tinha de ser feito. como estudioso dos processos de desenvolvimento de nosso País e de Palavras ditas por Paulo Hartung na entrevista daquele dia 19 de seus estados e regiões. E foi justamente por conta dela que conheci Pau- março: “nosso Estado possui um perfil econômico contemporâneo e com lo Hartung e sua equipe de governo, com os quais convivi ao longo des- excelentes condições competitivas. E, de fato, só há um gargalo que está ses oito anos, que vão de 2003 a 2010. comprometendo a nossa capacidade de desenvolvimento: a falência ou Conheci Paulo Hartung pessoalmente no dia 19 de março de 2003, destruição do Poder Público Estadual nas esferas do Executivo, do Legis- no Palácio Anchieta, quando fui entrevistá-lo1 para colher suas diretrizes lativo e do Judiciário. Nos últimos anos o setor público estadual foi ‘toma- e orientações estratégicas para o primeiro ciclo de planejamento de seu do de assalto’ pelas forças da corrupção e do crime organizado. Por essa governo. O ambiente f ísico e emocional no palácio refletia bem o grave razão, e já falei no meu discurso de posse, precisamos fazer do Governo momento que atravessava o Espírito Santo: instalações precárias e mui- do Estado um modelo de administração pública honrada, competente, to deterioradas; forte tensão no ar e muita correria e senso de urgência moderna e capaz de promover a igualdade de oportunidades para todos das equipes, que me lembrava o funcionamento dos hospitais de emer- os cidadãos. Este é o elo que falta para completar as condições sistêmicas gência. Isto por conta da grave crise sistêmica que reinava no Estado, e de competitividade e de desenvolvimento sustentado do Espírito Santo”. não era para menos: o novo governo havia recebido uma dívida venci- Nessa mesma ocasião, o governador nos falou longa e cuidadosa- da de R$ 1,2 bilhão que incluía salários atrasados de servidores, faturas mente da necessidade de administrar as expectativas da sociedade e, so- não quitadas junto a fornecedores e prestadores de serviços; e o Estado bretudo, dos valores que orientariam todo o seu governo. Falar e cuidar estava inadimplente com a União, que por isso fazia a retenção dos seus de valores, infelizmente, é um cuidado cada vez mais raro nos âmbitos recursos no Fundo de Participação. Uma evidência da gravidade da si- público e privado nesses ‘tempos pós-modernos’ que estamos vivendo. tuação e da intensidade da crise: exatamente cinco dias depois dessa en- O que se seguiu, ao longo deste percurso, é uma história de sucesso trevista, foi assassinado o juiz Alexandre Martins de Castro Filho, uma que foi construída todos os dias com muito trabalho, entusiasmo, energia, foco e método. E, o mais importante, foi uma construção coletiva 1  essa entrevista juntamente com José Paulo Silveira e na companhia de Ricardo de Oliveira, Fiz Guilherme Dias, Dayse Lemos e Cezar Vasquez. 12 Recortes Paulo Hartung que engajou ‘pessoas f ísicas e jurídicas’ dentro e fora do governo e para além das fronteiras capixabas. Esse foi um dos mais importantes traços Prefácio 13
  • 8. característicos da transformação recente do Espírito Santo: ela resultou gia de longo prazo, tanto por conta da densidade técnica das suas pro- de um processo social de concertação e convergência, em grande parte posições, como também porque integra uma visão ampla de cenários e fruto de uma mobilização e engajamento espontâneos, porém estimu- uma macroestratégia antecipatória, com metas quantificadas e desdo- lados e conduzidos pela liderança agregadora e habilidade política de bradas em uma carteira de 93 projetos para 20 anos, todos eles com re- Paulo Hartung. E que ganharam impulso e visão de futuro de longo pra- sultados e recursos dimensionados. zo com a elaboração do Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025. A participação de Hartung e sua equipe foi muito intensa na for- O trabalho de formulação do ES 2025 começou nos primeiros me- mulação do Plano. Mas a diferença mais valiosa veio a seguir com dois ses de 2005, logo após superados os principais sintomas e causas mais movimentos paralelos. De um lado, Paulo Hartung tornou-se o maior e agudas das crises ética, fiscal, financeira e institucional do Estado. E nessa o melhor comunicador e disseminador do Plano ES 2025. Assumiu este iniciativa está uma outra valiosa lição: embora desfrutando de crescen- papel com desenvoltura e gosto tanto dentro do governo como fora dele. te popularidade no Espírito Santo e de amplo reconhecimento nacional Tanto porque havia estudado e conhecia todo o conteúdo gerado, mas, por conta do grande feito de ter superado a crise estrutural e sistêmica, sobretudo, porque acreditava nele. E os efeitos desta ‘catequese estraté- e ainda com uma densa agenda de prioridades imediatas, Paulo Hartung gica’ foram muito significativos: a estratégia de longo prazo foi-se enrai- e sua equipe não se aprisionaram ao imediatismo nem se acomodaram zando tanto entre os executivos e gestores públicos (entre os quais mui- com as conquistas já alcançadas e que não eram pequenas. Pelo contrá- tos prefeitos) como nas lideranças empresariais, nos formadores de opi- rio, assim que se abriu um ‘espaço mental e emocional’, lançaram-se na nião e na sociedade civil, que dela se apropriaram como referência rele- construção de uma agenda muito mais ambiciosa e para além dos pró- vante para suas decisões de médio e longo prazos. prios horizontes do mandato do governante. Prevaleceu a visão dos in- Em paralelo, e ainda mais impactante, o governador Hartung deu teresses do Estado, que são mais permanentes, em vez da agenda cir- o melhor exemplo de valorização da estratégia de longo prazo, ao fazê- cunstancial do governo, que tem horizonte temporal finito. -la marco de referência obrigatório para o desdobramento das priori- O Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025 foi uma iniciati- dades de governo em 20 projetos estratégicos, que passaram a ser obje- va do Governo do Estado em parceria com o Movimento Espírito Santo to de gerenciamento e monitoramento intensivos segundo as melhores em Ação, com o patrocínio da Petrobras. Foi construído de forma com- práticas e com os melhores instrumentos técnicos disponíveis, num es- partilhada entre diversos atores da sociedade capixaba. Ao todo, envol- forço coordenado diretamente pelo próprio governador e pelo seu vice veu uma equipe técnica de consultoria de 25 pessoas, uma dezena de es- Ricardo Ferraço num arranjo organizacional denominado Pró-Gestão. pecialistas e quase 300 pessoas. Todas as etapas e produtos desse tra- O foco principal era fazer a estratégia acontecer, no que ela dependia do balho cooperativo estão amplamente documentados e são facilmente governo, e dar velocidade e eficácia à execução dos projetos. acessíveis no Portal www.espiritosanto2025.com.br. Até hoje o ES 2025 é fonte de muitas consultas e é considerado, em muitos outros gover- Secretarias e demais órgãos da administração estadual com a elabora- nos estaduais e municipais, como um modelo de qualidade em estraté14 A partir de então a cada ano era feito o alinhamento de todas as ção participativa de planos anuais que definiram as entregas prioritárias Recortes Paulo Hartung Prefácio 15
  • 9. do governo para a sociedade capixaba em 2008, 2009 e 2010, tendo mais mente, a grande cooperação e a convergência de vontades e interesses uma vez a estratégia de longo prazo como referência principal. Este ali- de atores políticos, econômicos e sociais na reconstrução institucional, nhamento ocorria em oficinas de trabalho estruturadas, com forte pre- ética e financeira do Estado também tiveram peso relevante. paração prévia de todos, envolvendo toda a equipe do governo – cerca Mas, entre os fatores críticos dessa história capixaba de suces- de 150 executivos e gestores. Ao final de cada oficina, o próprio Hartung, so, não tenho dúvida quanto a importância decisiva de Paulo Hartung que sempre participou ativamente dos momentos decisivos em todas as como líder e protagonista dessa travessia. Esta é a minha convicção, oficinas, anunciava os principais compromissos de entrega em entrevis- construída numa convivência de trabalho prolongada e mais inten- tas coletivas à imprensa. E, mais importante ainda, seguia uma rotina de sa no seu segundo mandato; e também quando comparo suas quali- monitoramento e a gestão das entregas, na qual se envolvia pessoalmen- dades e limitações com as de outros bons políticos e gestores públi- te em reuniões com secretários e seus principais gestores. cos e de empresas privadas com os quais convivi ao longo da minha Os resultados alcançados com esse modelo de gestão – motiva- vida profissional. dor e mobilizador de toda a equipe, porém disciplinador e ancorado em No Hartung político, admiro e aprecio a sua capacidade agrega- bons métodos e ferramentas – foram muito expressivos. Dois exemplos: dora e como exerce bem o soft power, que é a habilidade de influenciar a execução de investimentos saltou de R$ 758 milhões em 2007 para R$ o comportamento de outras pessoas ou instituições por meio do con- 1,59 bilhão em 2010; e a velocidade de execução dos projetos estratégi- vencimento, do uso do conhecimento ou de bons argumentos ideológi- cos aumentou em 40% no mesmo período. cos. É um estilo de liderança mais sutil, mas que não abdica do senso de Michel Godet, um dos mais respeitados especialistas em análise autoridade, que, aliás, ele não hesita em utilizar quando indispensável. prospectiva no mundo, nos oferece na tríade antecipação-apropriação- No gestor público, ressalto sua habilidade em identificar e manter -ação, construída como uma elegante aplicação da ideia do “Triângulo o foco no que faz a diferença; de agir com método e disciplina; além de Grego” (logos = razão; epithumia = desejo; e erga = realização), um es- ser um excelente formador, motivador e condutor de equipes. Raras ve- quema conceitual que explica o sucesso estratégico. Podemos identifi- zes, como profissional, trabalhei com uma equipe tão alinhada, coesa e car os três vértices desse triângulo na história da transformação bem- motivada como a do seu governo. -sucedida do Espírito Santo de 2003 a 2010: (1) a antecipação de novos Na ‘pessoa f ísica’, destaco como traços característicos sua integri- horizontes de possibilidades para o desenvolvimento do Estado; (2) sua dade e sua simplicidade no trato com as outras pessoas, além de ser um apropriação por protagonistas de relevante peso político e econômico; estudioso e economista com uma saudável obsessão com o rigor intelec- e (3) a transformação das possibilidades em ações e resultados de im- tual. Essas, aliás, são também as percepções de grande parte dos analis- pacto por meio da gestão intensiva da execução dos projetos e entregas tas e jornalistas especializados em política no Brasil, às quais tive aces- prioritárias do governo. so por meio de pesquisas periódicas. Nessa trajetória de mudança, os contextos global e nacional, predominantemente favoráveis no período, contribuíram muito. E, segura16 Paulo Hartung com quem convivi também tem defeitos e falhas, e quem não os tem? De várias pessoas já ouvi comentários e críticas Recortes Paulo Hartung Prefácio 17
  • 10. Introdução quanto ao seu estilo e algumas escolhas políticas ou ao perfil gerencial. Mas aqui não é o caso de se fazer um balanço das suas virtudes e defeitos. Nem isso é o que importa. Em seu livro mais recente, “A soma e o resto”, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso destaca que para um intelectual ou um político o único julgamento que interessa é o da história. No caso de Paulo Hartung, acredito que a história lhe será grata e generosa, por conta do legado que já deixou: uma transformação positiva, sustentável e oxalá irreversível no seu Estado; e um bom exemplo como político e gestor público para todo o Brasil, algo muito valioso neste momento de forte escassez de exemplos inspiradores e de uma grande desilusão da sociedade com a política. E sta publicação reúne reflexões do economista e ex-governador Paulo Hartung sobre fatos, ideias e eventos que movimentaram o dia a dia do cenário estadual, nacional e internacional no ano de 2011. Traz abordagens sobre temas candentes na vida contemporânea, como economia, planejamento, gestão, educação, política, entre outros. Esses pontos de vista são oriundos de análises, estudos de con- Mas a história ainda não acabou nem tampouco o trabalho do Paulo Hartung. E este livro, que nos traz uma amostra de sua produção em juntura, formulação de projetos, entre outras ações de um economista, sendo expressos em situações as mais diversas: palestras, publica- 2011, é uma evidência da sua vitalidade política e da fecundidade das suas ções, encontros organizacionais, entre outros. Os públicos também fo- reflexões intelectuais. Esta é uma leitura que recomendo com entusiasmo. ram bastante diversificados: de empreendedores a estudantes, passando por lideranças sociais e políticas. Claudio Porto O livro reúne parte dessa produção intelectual, numa edição orientada a fornecer um painel das ideias e atividades do ex-governador do Espírito Santo. Nem tudo foi contemplado, como estudos acerca das oportunidades de desenvolvimento apresentados a governos estaduais, tendo como base a experiência capixaba entre os anos de 2003 e 2010. O atento leitor poderá notar que alguns pronunciamentos apresentam raciocínios e citações semelhantes, o que se explica pelo fato de que resumem o pensamento consolidado acerca de determinado tema, portando análises que merecem ser enfatizadas quanto mais se puder. As variações decorrem de ajustes com relação a públicos e também em função de novas leituras e reflexões sobre os assuntos. A publicação vem prefaciada pelo especialista em planejamento estratégico Claudio Porto. Economista, Porto coordenou mais de 18 Recortes Paulo Hartung Introdução 19
  • 11. 110 projetos de construção de cenários, estratégias e gestão para re- Afinal, mais que esperar por um futuro melhor, um dos caminhos sultados para instituições públicas e privadas em várias regiões do mais indicados pelas lições da história é tentar interpretar os dias vivi- País, incluindo o Plano de Desenvolvimento Espírito Santo 2025. É dos – os antigos e os recentes – para construir as jornadas que virão de coorganizador do livro 2022 Propostas para um Brasil melhor no ano maneira cada vez mais sábia e eficaz. Boa leitura! do Bicentenário. O organizador O posfácio é de Ana Paula Vescovi, mestre em Administração Pública (FGV/Ebap-RJ) e mestre em Economia do Setor Público (UnB), com atuações na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e no Governo do Estado do Espírito Santo (Secretaria de Governo, Secretaria Extraordinária para o Combate à Pobreza, diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves), uma das mais lúcidas e competentes estudiosas da condição socioeconômica do Espírito Santo. Em meio à contribuição desses destacados profissionais, o conteúdo relativo às atividades do ex-governador em 2011 é apresentado segundo temáticas específicas. O livro é aberto com uma longa entrevista de Paulo Hartung a Rodrigo Taveira Rocha, então estudante de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo, na qual lança um olhar em panorâmica ao longo de sua vida militante de quase quatro décadas, do movimento estudantil ao Palácio Anchieta. Em seguida, há dois textos referenciados à economia, sua atual área de trabalho. Na terceira seção, estão reflexões sobre planejamento estratégico. Gestão é o tema do quarto capítulo. Na quinta parte, os assuntos são educação e juventude. Finalizando a publicação, uma análise acerca da condição da política na atualidade. A proposta é, nestes tempos de correnteza velocíssima e percepções fugazes da “modernidade líquida”, expressão paradigmática de Bauman, fixar nas páginas da impressão um lugar de encontro com memórias recentes de um presente peculiar por sua dinamicidade e determinante por seus desafios. 20 Recortes Paulo Hartung Introdução 21
  • 12. Cap. 1 Entre Gerações D a retrospectiva às perspectivas, numa conversa entre personagens de gerações distintas, mas conectadas pela mesma formação (Economia), na mesma universidade (Ufes). Neste capítulo, reproduz-se a entrevista concedida por Paulo Hartung a Rodrigo Taveira Rocha, com vistas à elaboração de seu tra- balho de conclusão de curso em 2011. Trajetória política, agenda econômica, história recente, desafios capixabas, questões nacionais, futuro, projetos... Com suas perguntas de pesquisador, perscrutador e jovem atento às questões da atualidade, Rodrigo Taveira Rocha constituiu um denso painel, com dados históricos, reflexões sobre passagens contemporâneas e análises prospectivas, incluindo informações e revelações feitas pela primeira vez por Paulo Hartung após o término dos dois mandatos à frente do Executivo capixaba. A entrevista foi feita em 14 de novembro de 2011, para constituição da monografia “Política e Desenvolvimento Econômico: Uma análise do Estado do Espírito Santo no Governo Paulo Hartung (2003-2010)”, defendida em 01/12/2011, no Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com observações e esclarecimentos entre parênteses feitas pelo próprio pesquisador. A íntegra da entrevista faz parte dos anexos da monografia de Rodrigo Taveira Rocha. Cap.1 Entre Gerações 23
  • 13. Fale um p o uco s obre sua hist ór i a no passado (risos). Fui escolhido para representar o campus no ENE (En- e tr a jetór ia p olític a . contro Nacional dos Estudantes), encontro de reorganização da UNE, em Belo Horizonte (MG). Fomos eu, pelo campus (de Goiabeiras), e o Adauto A minha história política tem a ver com a minha relação familiar, mui- Emerich, hoje dentista, pelo CBM (Centro Biomédico, atualmente Cen- to embora não haja em meu núcleo familiar alguém que tenha exercido tro de Ciências da Saúde, correspondendo ao campus de Maruípe). Era mandatos. O meu pai, Paulo, formado em Contabilidade, filho de um pe- mais ou menos isso, o movimento era muito lá e cá. O CBM tinha um de- queno proprietário rural no Sul do Estado, em Iúna, sempre se interessou senvolvimento maior de lideranças, e nós estávamos organizando o pes- pelo debate político. Encantou-se pelo Socialismo, mantendo uma rela- soal do campus de Goiabeiras. Sobre a ida a Belo Horizonte, nós fomos ção de proximidade com o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, para o presos, não participamos do encontro. Acho que o encontro nem acon- qual contribuiu durante sua vida. Esse é um laço importante. teceu. Foram algumas passeatas, algumas manifestações. Fomos presos, Minha primeira atividade de militância foi ainda na vida estudantil, passamos uma noite detidos na capital mineira e fomos soltos no dia se- no ensino médio, mas algo bem incipiente. Fui dirigente do grêmio do Co- guinte. Coincidiu com a vinda da primeira-dama dos Estados Unidos ao légio Salesiano, mas o foco era o es- Brasil, a esposa do Carter – se não me engano, o nome dela era Rosalynn Minha primeira atividade de militân- porte. Também havia algo no campo Carter. E aí o governo brasileiro correu para soltar os estudantes, porque cia foi ainda no ensino médio. Uma da literatura, com os nossos colegas era um escândalo aquele monte de estudantes presos em Belo Horizon- militância política real veio com a en- poetas. Tínhamos uma pequena pu- te em função da proibição da realização de uma reunião. trada na Universidade. blicação que circulava no Salesiano. Isso foi criando um envolvimento muito grande. Nós conseguimos Uma militância política real reorganizar o Diretório Central dos Estudantes na Ufes. Eu fui eleito o veio com a minha entrada na Universidade. Quando eu cheguei à facul- primeiro presidente do DCE, numa disputa bem acirrada, com cinco cha- dade, existia um movimento para reorganizar as entidades estudantis. pas se não me engano. A nossa chapa acabou conseguindo mais de 70% Na verdade, também havia algumas entidades, como era o nosso caso dos votos. Foi um resultado muito importante. O nome da nossa cha- lá no CCJE, que estavam funcionando, mas com grupos de direita, liga- pa era “Construção”. A primeira chapa que nós fizemos lá no CCJE era dos de alguma forma ao que se passava no Espírito Santo e no País na- “Gota D’água”. Chico Buarque estava na nossa cabeça. O nome da cha- quele momento (ditadura militar). pa do DCE foi inspirado em “Construção”, uma música muito bonita e Dessa forma, o primeiro movimento de que participei foi de uma campanha para poder organizar o Diretório Acadêmico (na época não litância política, para a luta pela melhoria da qualidade do ensino e ao era Centro Acadêmico, era Diretório Acadêmico – DA) do Centro de Ci- mesmo tempo pela redemocratização do nosso País. Nós também aca- ências Jurídicas e Econômicas (CCJE). A partir daí, ingressamos no mo- bamos participando da decisiva luta pela anistia. Fomos ao Rio de Janei- vimento pela reconstrução da UNE. Acabei mesmo sendo representan- ro receber alguns dos exilados, cujas chegadas se tornaram verdadeiras te de esportes na chapa do DA do CCJE, o que era até motivo de gozação 24 expressiva do Chico. Enfim, esse movimento foi nos levando para a mi- manifestações no aeroporto do Galeão. Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 25
  • 14. Então, o fundamento vem daí: o laço familiar, a questão do mo- ra eleição. No início do processo de debate, meu nome foi colocado para vimento estudantil, a conjuntura do nosso tempo, uma época de luta ser candidato a vereador em Vitória. Depois, por uma pressão de lideran- pela liberdade, pela democracia, pela reconstrução das instituições de- ças do interior, de onde eu nasci, em Guaçuí, a minha campanha de vere- mocráticas no nosso País. ador virou campanha de deputado estadual. A gente, de certa forma, fez Eu me formei em Economia. Fiz duas provas para entrar no serviço essa migração de candidatura porque não entendia absolutamente nada de público. Uma no Instituto Jones dos Santos Neves e outra no Bandes, que eleição. Se entendesse, não faria – você veja como as coisas são. Mas deu eram os objetos de desejo de quem fazia Economia à época. Dentro do ser- certo. Eu me elegi deputado estadual com uma votação estrondosa, e por viço público, essas duas instituições vários motivos. Eu tive votos onde nunca tinha ido na vida. Eu tive votos O fundamento vem daí: o laço fami- eram as que chamavam a atenção. Eu em todos os municípios do Estado, muitos dos quais nem conhecia. Isso liar, a questão do movimento estudan- passei nas duas seleções, mas elas fo- porque os estudantes da Universidade, que tinham votado em mim para til, a conjuntura do nosso tempo, uma ram anuladas pelo governador de en- presidente do DCE e que participavam junto comigo dos movimentos, época de luta pela liberdade, pela de- tão. Segundo informações que recebi das assembleias, das passeatas, não só votaram em mim como também mocracia, pela reconstrução das ins- muito posteriormente, o motivo se- foram lá no interior pedir ao pai, à mãe, ao tio, que não sabiam nem quem tituições democráticas no nosso País. ria a aprovação de muitos, entre as- eu era, para fazer a mesma coisa. Então, eu tive voto espalhado por todo o pas, “subversivos” “comunistas” Com , . território capixaba. Foram mais de 20 mil votos para deputado estadual. a anulação dessas provas, não fui para o serviço público e acabei montan- Quando estava terminando o meu primeiro mandato, o governa- do uma microempresa, uma gráfica. Até nesse movimento, a inspiração dor Gerson Camata se licenciou do governo para poder ser candidato a política estava presente, pois gráfica dialoga com movimento político da senador. Assumiu o vice, que tinha diferenças políticas comigo; e eu com época. Assim, acabamos imprimindo material clandestino, jornais. Nós ele. O plano era que eu fosse disputar uma vaga na Câmara Federal, mas tínhamos um jornal do PCB, do Partidão, que, salvo engano, se chama- acabei numa posição mais conservadora em função da realidade políti- va “Voz do Trabalhador” Era escrito por alguns intelectuais e alguns pro. ca. Eu repeti a disputa para deputado estadual, e novamente fui muito fessores da Universidade. Então, eu acabei indo para um setor que dialo- bem votado. Na primeira eleição, fui o quarto mais votado do Estado. ga com a militância política, a partir da necessidade de ter papel, panfle- Na segunda, fui o segundo mais votado, repetindo a votação, com vinte to, jornal, essas coisas que têm muito a ver com a militância daquele pe- mil votos e alguma coisa. Mas algumas bases eleitorais da primeira elei- ríodo. Se fosse hoje, não precisava disso, bastava entrar numa rede social. ção não se repetiram na segunda. Mudou muito em função da atuação Atuando no setor gráfico e mantendo as conexões políticas, chega- do governador de então, que operou tentando fazer com que eu não me ram as primeiras eleições de 1982. Não havia pleitos para presidente da elegesse mais. A votação dos estudantes também não se repetiu, porque República nem para prefeitos de capitais, mas era uma eleição quase geral. já eram quatro anos à frente, outra realidade, assim por diante. Havia disputas para vereador, prefeito (com exceção das capitais), deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Foi a minha primei26 Disputei a primeira eleição pelo PMDB. Eu já havia saído do PCB, mas o partido me apoiou, o que foi importante. Com a segunda eleição, Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 27
  • 15. criou-se uma base bem mais sólida. Dessa forma, na eleição seguinte, De certa forma, agora eu estou repetindo a experiência que eu tive fui candidato a deputado federal. Foram cinquenta e tantos mil votos. quando saí da prefeitura. Estou estudando muito, trabalhando numa coi- Muito voto em Vitória. Aliás, em todas as eleições, desde a primeira, a sa absolutamente diferenciada do que eu vinha fazendo no governo. E minha votação em Vitória e na Grande Vitória é muito forte. Não con- está sendo bacana, muito rico, muito interessante. cluí esse mandato de quatro anos para a Câmara Federal, pois, no meio do período, me elegi prefeito de Vitória. Terminada a gestão à frente da capital, fiquei sem mandato. Um período igual a este que estou vivendo Ao se eleger g overnad or e m 2 0 02, o senhor agora. Foram dois anos sem mandato, pois não havia reeleição naque- conseguiu for m ar um a a mpl a ba se aliada que se la época. Elegemos o sucessor, e fui trabalhar como diretor da área so- sustentou dur ante o s oito ano s de g overno . Por cial do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Fiquei um ano que e como foi p o ssí vel construir e ssa coaliz ão? lá, numa experiência profissional muito rica. Pude voltar a estudar economia. Estudei Economia na facul- Na verdade a coalizão começou a ser montada na sociedade, muito antes De certa forma, agora eu estou repe- dade e, depois, voltei a estudar mui- da minha chegada ao governo. Eu vou dar dois exemplos da sociedade tindo a experiência que eu tive quan- to nesse período, assim como havia civil: primeiro o movimento “Reage Espírito Santo”, que nasceu conec- do saí da prefeitura. Estou estudando ocorrido no mandato de deputado tando a OAB, que era o centro, do Dr. Agesandro da Costa Pereira, uma muito, trabalhando numa coisa abso- federal. Na Câmara, integrei a Co- figura emblemática, e a Igreja Católica, do arcebispo de então, Dom Sil- lutamente diferenciada do que eu vi- missão de Finanças, que era muito vestre Scandian. Também tínhamos o apoio de um conjunto de igrejas nha fazendo no governo. bem composta à época. Vou dar al- evangélicas, com lideranças como o pastor Oliveira e o pastor Joaquim guns nomes que estavam lá: Rober- Beato. Havia ainda movimentos sociais, movimentos políticos, lideran- to Campos, Delfim Netto, José Serra, Francisco Dornelles, César Maia, ças políticas. Eu era senador nesse período. O nome do movimento in- Aloizio Mercadante. Então, tive de correr muito atrás. Nesses anos, tra- dicava bem a situação do Estado. Uma situação dramática: corrupção, balhei com gente muito qualificada, com um corpo técnico muito bem crime organizado, desorganização completa, uma falta de perspectiva montado do BNDES. Foi muito rica essa experiência. absoluta, empresas saindo do Espírito Santo em função de chantagens. Depois disso, eu me desincompatibilizei do BNDES para vir disputar o Governo do Estado. Vim muito bem avaliado em pesquisas, Enfim, o quadro era insustentável, e a sociedade organizada já articulava um movimento muito forte. mas perdi a convenção do PSDB. Depois, o partido me chamou para ser candidato a senador. Fui para o Senado, mas também não concluí pírito Santo em Ação”, que depois virou uma ONG. Vou dar um exemplo o mandato. Dos oito anos previstos, fiquei quatro, pois saí para a dis- do que acontecia com relação ao meio produtivo. Fez-se uma lei que dizia puta do Governo do Estado, à frente do qual fiquei oito anos como go- que não se podia plantar eucalipto. Eu não lembro exatamente o termo vernador (2003-2010). 28 Outro movimento que eu acho importante é o nascimento do “Es- da lei, mas é engraçado: podia-se plantar eucalipto, podia vender euca- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 29
  • 16. lipto para qualquer um, mas não podia ter eucalipto para Aracruz. Quer à ditadura militar para tentar trazer de volta a democracia ao País. Ou dizer, o que se queria com aquela lei não era nenhuma discussão sobre o seja, a minha formação pessoal, familiar, política é devota à articulação eucalipto, sobre a questão ambiental, sobre a monocultura. O que se que- de forças. Além disso, o clima na sociedade também facilitava a cone- ria ali era uma chantagem com relação à empresa, que, à época, se cha- xão de um conjunto de forças que reagiam aos desmandos. mava Aracruz Celulose, e agora se chama Fibria. Era uma ilegalidade fla- Houve problema durante a minha primeira campanha ao governo. grante, tanto que o Supremo Tribu- Forças políticas que estavam juntas inicialmente se movimentaram e se se- O quadro era insustentável, e a so- nal Federal (STF) derrubou essa lei. pararam no correr do processo. Quando acabou a campanha, fiz um movi- ciedade organizada já articulava um Os empresários também se levanta- mento para trazer muitas dessas forças para nos ajudar no processo de re- movimento muito forte. O intuito era ram. Montaram um movimento di- construção política, administrativa e institucional do Estado. E talvez o mais buscar a superação daquele quadro ferente das federações, sindicatos. importante tenha sido trazer o PT. O PT não esteve comigo na minha pri- dramático que o Estado vivia. Fizeram um movimento transver- meira eleição; esteve na segunda. O PT foi contra a minha primeira campa- sal, colocando em diálogo agricul- nha. A minha relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha lá de tura, indústria, serviço, todas as áreas da atividade econômica. O intui- trás, uma relação muito sólida. Ao término da campanha, fui a São Paulo, to era buscar a superação daquele quadro dramático que o Estado vivia. eu eleito e o presidente Lula eleito. Ele me recebeu no escritório, que era um A minha chegada ao governo é produto disso. O Estado já vinha escritório de campanha. Pedi apoio, porque sabia que iria enfrentar um qua- numa situação dramática, de dois governos que haviam dado errado. Aí dro dramático no Espírito Santo. De certa forma, exemplifiquei com aquilo eu perdi a convenção, e depois entra um terceiro governo que também que o Fernando Henrique tinha feito lá no Acre, com o Jorge Viana, quatro deu errado. Então, ao final de três governos problemáticos, o clima era anos antes. Eu precisava da mesma presença que o governo federal teve no de unir o Estado, independentemente do líder que fosse colocado no go- Acre, no desmonte de uma teia cor- verno para poder superar aquele quadro. É claro que o meu jeito de fazer rupta, violenta, de desarticulação do Desde cedo eu aprendi, com meu saudo- política é buscar associar forças políticas em função dos objetivos que crime organizado. Fiz esse pedido ao so pai, que, se você tem uma tarefa com- nós temos. Desde cedo eu aprendi, com meu saudoso pai, que, se você presidente Lula e ele se comprometeu plicada, não vá sozinho. O que quer di- tem uma tarefa complicada, não vá sozinho. O que quer dizer isso? Não a ajudar o Espírito Santo. E, no dia em zer isso? Não adianta o voluntarismo. adianta o voluntarismo. Isso não muda a realidade social de uma comu- que eu o visitei, falei: “olha, eu vou ten- nidade, de um Estado, de um país. Não adianta apenas ter uma boa cau- tar trazer o PT lá do Estado para a minha base de trabalho” Na volta, con. sa. É preciso ter gente agregada em torno dessas boas causas. Boas cau- versei com o PT, conversei com as forças políticas que tinham me apoia- sas sem mobilização ficam aí mofando em gavetas a vida inteira. É claro do. Mostrei que o PT tinha como contribuir para aquele momento, até pela que eu sou forjado nisso. A escola do velho Partidão é isso. Eu sou um história do partido. E o PT reivindicou a presidência da Assembleia, como quadro formado na escola do Partido Comunista Brasileiro, um parti- mecanismo para participar daquele movimento. A eleição do Claudio Ve- do que não foi para a luta armada, que buscou unir as forças contrárias reza veio daí. Nós aceitamos como um caminho – foi um caminho difícil. 30 Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 31
  • 17. Além disso, também fiz movimentos em direção ao PDT. Tive uma longa trutura governativa estadual durante mais de década. Com esse bloco de conversa com o líder do PDT no Estado, o prefeito da Serra, Sérgio Vidigal. forças, aí sim nós conseguimos quebrar a coluna vertebral daquele esque- Conversei com o PL (atualmente PR), que na época era o partido do atual ma, enfraquecendo-o. Não acabamos com ele, ele está aí, vira e mexe está senador Magno Malta. Eles não quiseram vir integrar o movimento. Mui- tentando se articular. É visível isso, inclusive no presente. Mas nós con- to embora tenham se comprometido a não ser obstáculo ao trabalho. Isso seguimos enfraquecer esse sistema, que tinha laços dentro das institui- ajuda. Na vida, quem não apoia, mas também não é pedra no caminho, na ções, para além do Executivo, dentro das outras instituições públicas do minha visão, na minha maneira de pensar, está ajudando. Estado. A Assembleia era o mais visí- De certa forma, buscamos o maior leque de aliança possível para vel, mas não era, infelizmente, o úni- Foi uma longa jornada. Foi possível poder enfrentar a desorganização. Quando eu falo desorganização, não co ponto de articulação e força des- porque nós conseguimos uma enge- é uma coisa burocrática. Desorganização tem dono, a gente tem que ter se esquema. Tivemos que enfraque- nharia política bem montada, que clareza disso. Quando o Estado estava quebrado, desorganizado, tinha cer esse esquema para poder ir para dialogou com o estado de espírito do gente ganhando muito dinheiro com isso, se aproveitando daquela si- um processo de reconstrução e pro- capixaba, das lideranças capixabas. tuação. Articulamos para enfrentar fissionalização da máquina pública, Conseguimos montar uma base sóli- Buscamos o maior leque de aliança todo um conjunto de leis, de regula- de planejamento, de colocar a estru- da que nos permitiu avançar. possível para poder enfrentar a de- mentos que tinham sido feitos para tura de Estado, de governo, e de ins- sorganização, que não era uma coisa beneficiar grupos, dando privilégios tituições públicas a serviço do cidadão capixaba. Foi uma longa jorna- burocrática. Desorganização tinha a segmentos da sociedade. Nós tive- da. Foi possível porque nós conseguimos uma engenharia política bem dono. Tinha gente ganhando muito mos que desmontar isso tudo. Em montada, que dialogou com o estado de espírito do capixaba, das lide- dinheiro com isso, se aproveitando um decreto nós cancelamos 450 re- ranças capixabas, com a angústia, o mal-estar com aquele descalabro que daquela situação. gimes especiais de ICMS. Isso é uma vivíamos. Conseguimos montar uma base sólida que nos permitiu avan- coisa que parece técnica, mas era um çar. Enfim, acho que a composição política, a origem dela, está posta aí. privilégio que foi dado sem nenhum critério. Na época, era a Assembleia Legislativa que dava esses privilégios. Eu tive de fazer uma lei para trazer de volta a administração tributária do Estado para a Secretaria da Fazen- A in da s o b re a c oa l iz ã o , c omo e r a a re l a ç ã o d o da, porque ela estava nas mãos da Assembleia Legislativa, mais precisa- se n h o r c om o g ov e rn o fe de r a l , e m e spe c ia l o mente na Comissão de Finanças da Assembleia Legislativa. Em função pre side n te L ul a ? E a re l a ç ã o c om a s l ide r a n ç a s da gravidade da situação, precisávamos de respaldo, e a gente buscou a l o c a is d o E sta d o ? maior coalizão política, partidária e social. O enfrentamento era complexo, contra pessoas que se assenhorearam da máquina pública do Estado, faziam o que bem entendiam da es32 A relação foi boa, porque o presidente Lula cumpriu mais ou menos o que acertou com a gente. No quarto mês de governo, eu recebi o pre- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 33
  • 18. sidente Lula no Estado. Ele veio, ficou, pernoitou na residência oficial nômico e social. Isso não é um problema do governo A, B, C ou D, isso é da Praia da Costa, em Vila Velha. Era uma coisa simbólica, mas impor- um problema histórico. E também não foi nesse momento que essa re- tante. Não era trazer dinheiro; o governo federal não nos deu dinhei- lação foi mudada, tendo em vista as nossas potencialidades, as nossas ro. “Toma um dinheiro aí para pagar os servidores!” – não, ele não nos vocações. Por exemplo, temos a questão da estrutura portuária, que é deu. O governo federal comprou um ativo do Estado, recebíveis futuros uma vocação que o Estado tem, funcionando como uma porta impor- da produção do petróleo. Pagou bem? Pagou nada. É matemática finan- tante de entrada e saída da região central do Brasil. ceira: trouxe para valor presente, pagou com títulos do governo federal, Eu só quero pontuar que a relação foi importante e que eu a valori- vencendo em parcela durante dois anos. O único dinheiro que entrou zo, mas registro que ela não promoveu a superação desse certo abandono foi porque nós usamos, logo no início, uma parte desses títulos para pa- do poder central em relação ao destino dos capixabas. Isso é histórico, vem gar uma dívida que o Estado tinha no Clube de Paris, um endividamen- lá da chegada dos portugueses ao Brasil e perpassou todos esses anos. Se to que tinha uma caução. Essa caução da dívida foi liberada e entrou no você olhar, os nossos vizinhos todos já foram apoiados pelo governo cen- caixa. Mas nada foi dado ao Espíri- tral: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, só para colocar os três vizinhos O movimento presencial do presiden- to Santo para que se resolvesse o im- que fazem divisa com a gente. Eles já tiveram presença sólida. Quando foi te Lula no Estado deu um sinal de que bróglio administrativo, financeiro, e feito o polo petroquímico de Camaçari, que está no II PND, se não me en- nós não estávamos sozinhos na bri- assim por diante. Eu fiz uma tenta- gano, isso foi uma coisa importante, estruturante para a economia baiana. ga para reorganizar o Espírito Santo. tiva de passar o Banestes para o go- Agora, recentemente, levou-se a fábrica da Ford para a Bahia com incen- verno federal, que não foi aceita pelo tivos criados especificamente para que isso acontecesse naquele estado. ministro Antonio Palocci – nós é que tivemos de reestruturar o Banestes. Então, a relação foi boa, importante na sustentação do enfrenta- Agora, nos foi dada uma coisa muito relevante, que eu sempre va- mento que estávamos fazendo aqui. E eu sou agradecido por isso, mas lorizei: esse movimento presencial do presidente Lula no Estado deu até hoje não conseguimos quebrar essa relação de pouco apoio do go- um sinal de que nós não estávamos sozinhos na briga para reorganizar verno central ao nosso Estado. o Espírito Santo. Deu um sinal para esse segmento que destruiu a má- Do ponto de vista da infraestrutura, nós estamos com problema quina pública capixaba de que o governador não era um menino bem- no aeroporto, que se arrasta há não sei quantos anos; problema na dra- -intencionado e isolado no jogo da política nacional. Isso eu devo, e nós gagem do canal de evolução do Porto de Vitória. Estamos aí, agora, com devemos, ao presidente Lula, porque ele foi correto, nesse sentido, com chance de ser licitada a BR 101, que é uma BR estrangulada já há mais de o movimento que nós estávamos fazendo aqui. Ele deixou claro, ao vir década; a BR 262 que está caminhando na mesma direção. Então é dis- aqui, que ele e o governo dele estariam ao lado da gente nesse embate. so que eu estou tratando. Eu estou falando isso porque o Espírito Santo tem uma história longa de ser colocado à margem do desenvolvimento nacional. O Espí- nós nos reorganizamos, do ponto de vista fiscal, com os nossos recur- rito Santo poucas vezes foi visto e apoiado no seu desenvolvimento eco34 Enfim, acho que foi importante o apoio do presidente Lula. Mas sos. Como é que se reorganizou o Espírito Santo? Como é que nós saí- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 35
  • 19. mos do penúltimo lugar no ranking do Tesouro Nacional para virar se- verno do Estado com a administração da Presidência da República. Na gundo, terceiro lugar? Foi com o nosso esforço. “Ah, com royalties de verdade, é muito complexo administrar um governo estadual, bastando petróleo?” – não, não é com royalties de petróleo. É com ICMS, com que se note que, depois da Constituição de 1988, o que se tem são trans- combate à sonegação, com reor- ferências de obrigações para Estados e municípios sem o devido acom- Com reestruturação da máquina ar- ganização da máquina fazendária, panhamento de transferências de recursos que financiem essas novas recadadora, com planejamento e con- com profissionalização do setor pú- competências. No caso dos Estados federados, há uma incumbência na trole dos gastos, com sentido de prio- blico, com controle de gastos, com área de financiamento de saúde pública, segurança pública e educação ridade, o Espírito Santo se reorgani- senso de planejamento, de priorida- que é um desafio que não é pequeno. Mas eu não quero comparar, não zou, se qualificou, se tornou o Esta- des. Foi isso que colocou esse Esta- acho que vá contribuir para o debate. do com maior capacidade de investi- do de pé. Somente neste 2011, é que Primeiramente, eu vou separar: nós não fizemos esse movimen- mento com recursos próprios, basica- temos um volume maior de royal- to que foi feito em nível nacional. Nós não fizemos, nós tínhamos uma mente com ICMS. ties. O Espírito Santo se reorgani- base sólida, e essa base não nos levou a produzir feudos dentro do go- zou, se qualificou, se tornou o Es- verno. Feudos: entrega a secretaria ao partido tal e o partido é dono tado com maior capacidade de investimento com recursos próprios, da secretaria. Não teve isso no nosso governo. É importante dizer isso. basicamente com ICMS. Com reestruturação da máquina arrecadado- Nós usamos uma base sólida, inclusive para profissionalizar a máqui- ra, com planejamento e controle dos gastos públicos, com sentido de na pública, para trazer quadros dos mais diversos partidos. Quadros prioridade, e assim por diante. que nunca tiveram filiação partidária, mas que tinham competência para poder compor uma equipe extraordinária de governo. E conseguimos fazer isso. Não é a primeira Recentemente, o senhor deu uma entrevista na vez que eu faço, eu fiz durante oito Governar não é administrar uma em- qual criticava o modelo de gestão do governo anos como governador e fiz como presa privada. Na minha visão, repetin- federal, que acaba por lotear ministérios e cargos prefeito da capital. Esse modelo me do o que disse o ex-presidente Fox: “go- em função de privilegiar os partidos que fazem acompanha por onde eu passei até vernar é muito mais complexo do que parte da base aliada. Como o senhor administrou agora. Inclusive nos meus mandatos administrar uma empresa privada” . isso durante os seus oito anos à frente do parlamentares, sempre me esmerei Executivo estadual, visto que também contava com em ter uma assessoria qualificada. Mas eu não estou fazendo compara- uma vasta gama de partidos que o apoiavam? ção de uma coisa com a outra. Aqui, o nosso modelo foi esse: foco na profissionalização, foco em buscar pessoas e quadros dos mais diver- Eu não quero ser simplista, porque essa não é uma questão simples. É absolutamente complexa. Eu não quero comparar a administração do Go36 Recortes Paulo Hartung sos pensamentos políticos, mas com competência para tocar. Eu queria fazer uma observação antes de ir para o nacional: goverCap.1 Entre Gerações 37
  • 20. nar não é administrar uma empresa privada. Na minha visão, repetin- cialismo. E eu via na rua que nós íamos perder feio, porque as pesso- do o que disse o ex-presidente do México Vicente Fox: “governar é mui- as diziam assim: “prefeito, o senhor está pedindo a gente para entre- to mais complexo do que administrar uma empresa privada”. Você pode gar o governo aos deputados?” (risos). Quer dizer, era como o pesso- ter um bom projeto, mas você precisa legitimá-lo e construir um leque al que estava fazendo campanha para o presidencialismo passou essa de apoio para que ele deixe de ser um projeto e passe a ser uma ação de imagem para a população. E aí a população votou no presidencialis- governo, em benef ício da sociedade. Eu não acredito num governo de mo. Então, nós ficamos com uma Constituição com formato de par- tecnocratas, não é isso que eu estou dizendo. E eu nunca fiz governo de lamentarismo e com o Executivo de presidencialismo. Aí você preci- tecnocrata. Eu acho que para montar uma equipe você precisa levar gen- sa de medida provisória, os presidentes governando a partir de medi- te que tenha conhecimento da área, e de preferência muito mais conhe- da provisória, o orçamento é um orçamento autorizativo. cimento do que o líder, porque o líder não é obrigado a ter um conheci- Dessa forma, eu acho que é essa questão que precisa ser debatida mento vertical de todas as questões que vão ser tratadas, ele precisa ter no País novamente. Veio um esgotamento profundo já no segundo go- um conhecimento horizontal. Mas esse quadro que vai ocupar uma fun- verno do presidente Lula. Não foi percebido porque o País estava cres- ção precisa ter conhecimento técnico, mas também precisa ter capaci- cendo, aumentando emprego, aumentando a renda, aumentando a classe dade política, sensibilidade política, para ocupar uma função em gover- média, e por aí vai. Mas é a mesma classe média que traz novos valores, no. Então, eu não estou propondo governo de tecnocrata, eu não acre- e traz ética para o debate da política, na minha visão. É a contradição da dito nisso. O que eu estou colocando é que precisa ter formação técni- vida. Foi isso que eu debati numa entrevista recente que eu concedi. Eu ca, precisa ter sensibilidade política, e não pode ter feudo. Não pode ter acho que precisamos aprofundar essa visão. Para resolver isso, é preci- feudo para nenhum tipo de ação de governo. Foi assim que nós fizemos so equacionar o problema da estrutura político-eleitoral do País. O nos- aqui; esse é o modelo em que eu acredito. so sistema político é dos mais atrasa- O que vem sendo feito em Brasília, que eu chamo “presidencia- É preciso equacionar o problema da lismo de coalizão”, é uma coisa que no limite já está dando errado, e solver o problema de financiamen- estrutura político-eleitoral do País. vai dar cada vez mais errado nos próximos anos no nosso País, na mi- to de campanha. Não tem não me O nosso sistema político é dos mais nha visão. Usando a linguagem dos engenheiros, esse modelo já deu toque, não adianta fazer demagogia atrasados do planeta. fadiga de material. E eu acho que quanto mais rápido o País debater com a população e dizer que “ah, vai isso em profundidade, melhor. Não acho que isso seja responsabilida- tirar o dinheiro de tal setor para pagar campanha eleitoral”. Campanha de do PT, ou do PSDB, ou de quem quer que seja. Isso vem do nosso eleitoral tem custo. Nós optamos pela democracia, nós precisamos saber debate da Constituição de 1988, quando nós começamos a preparar como se financia um processo eleitoral. Isso precisa ser um debate cla- uma constituição parlamentarista, e veio o plebiscito. Eu era prefeito ro e transparente se a gente quiser evoluir com a democracia brasileira. de Vitória quando veio o plebiscito. Eu defendi o parlamentarismo, e Foi essa discussão que eu coloquei, o que, na minha visão, preci- o parlamentarismo tomou uma surra no Brasil. Ganhou o presiden38 dos do planeta. Nós precisamos re- sa ser resolvido em nível nacional. Nós temos aí sei lá quantos minis- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 39
  • 21. tros que já caíram neste governo. É quase um roteiro único, um rotei- País continuar avançando. O País está avançando nesses últimos anos. ro se repetindo. Não tem nem roteiro diferente, a novela repete o ro- Eu reputo que desde o governo do presidente Itamar Franco, desde o teiro em cada caso, e eu não sei em quantos ministérios vai acontecer Plano Real, o Brasil vem avançando do ponto de vista econômico, do a mesma coisa. Para mim está claro. Por isso, eu falei que esse cami- ponto de vista social, da diminuição da miséria, da pobreza. Colocamos nho se esgotou. Precisamos rediscutir e colocar uma coisa melhor. E as crianças no ensino fundamental. Há um problema de qualidade, um para colocar uma coisa melhor, evidentemente tem de melhorar o sis- problema sério de qualidade no ensino de Português, de Matemática, tema político, eleitoral, partidário do País. Tem de aperfeiçoar, tem de mas as crianças estão na escola. Há avanços dignos de registro no País. resolver essa questão do financiamento de campanha, e tem de pro- Mortalidade infantil em queda, expectativa de vida em alta, tem mui- fissionalizar o setor público. Grosso modo, nos países desenvolvidos, ta coisa digna de registro nesse período. Mas é evidente que aquilo que você muda um primeiro-ministro, mas não muda a burocracia. Essa nos fez chegar a esses registros positivos é insuficiente para continuar a coisa de loteamento partidário de caminhada. Nós precisamos refazer esse modelo para seguir em frente. A questão da gestão precisa entrar no estruturas públicas, isso é o atraso debate nacional. Como é que você vai do atraso do atraso. Você precisa fazer as coisas, quanto vai custar, quais caminhar no sentido da profissiona- O se n h o r in gre s s o u f o r m a l me n te n a v ida são as outras maneiras de fazer? Qual lização da máquina pública. Tem de p o l ític a n a dé c a da de 8 0 , a o se fil ia r a o o retorno que vai dar para a socieda- ter eficiência. O setor público tem PMD B . D e p o is pa s s o u vá rio s a n o s n o P S D B , de? Tem que ter meta, objetivo. de fazer as coisas e ter avaliação do te v e fil ia ç õ e s me n o s dur a d o ur a s n o PP S e P S B , que ele está fazendo, tem de olhar te n d o vo lta d o p o ste rio r me n te a o PMD B , o n de quanto está custando aquilo. Porque é público não tem que olhar isso? se e n c o n tr a a g o r a . Q ua l é a o pin iã o d o se n h o r Claro que tem, acho que tem de olhar mais, na minha modesta visão. s o b re o s pa rtid o s p o l ític o s h oje n o B r a sil , A questão da gestão precisa entrar no debate nacional. Nos oito anos à frente do governo do Espírito Santo, ela recebeu prioridade. Como de m a n e ir a ge r a l ? Q ua is p o n t o s me re c e m se r de sta c a d o s , p o siti va o u n e g ati va me n te ? é que você vai fazer as coisas, quanto vai custar, quais são as outras maneiras de fazer? Qual o retorno que vai dar para a sociedade? Tem que Eu comecei no PCB. Quando eu era estudante, na militância estudantil, ter meta, objetivo. É preciso utilizar as mesmas ferramentas de traba- eu me filiei ao PCB. Me filiei, assim, não tinha ficha não, era clandesti- lho da iniciativa privada. no. Me filiei ali, de passar à militância, e tudo. E depois, em algum mo- Então, eu acho que esse modelo que está lá em cima já está completamente ultrapassado, fazendo água. E isso é visível para a sociedade, va. A militância no MDB, no PMDB, foi uma militância que muitas for- independentemente de ficar botando a culpa em A ou em B, em parti- ças de esquerda tiveram porque estavam na clandestinidade e o espaço do. Não quero saber de quem é a culpa, precisamos resolver isso para o 40 mento, eu refleti que aquele caminho não era o caminho que eu pensa- legal de atuação era o MDB, depois o PMDB. Na verdade eu vim da mi- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 41
  • 22. litância socialista para a militância social-democrata, é onde eu estou to na Câmara dos Deputados. (Na verdade, com os recém-criados PSD agora. Essa é a minha história, eu virei um social-democrata. e PPL, o Brasil conta com 29 partidos oficiais, sendo que 23 têm repre- A questão partidária no País, o retrato dela, é o PSD, criado ago- sentação na Câmara dos Deputados). Talvez possamos ter um núme- ra pelo Gilberto Kassab. Proibiram a mudança partidária de quem tinha ro menor, mas ter partidos com uma relação programática mais bem mandato, mas abriu uma janela para, criando um partido novo, você poder estabelecida. E eu acho que aí é de certa forma dar uma olhada no que mudar. Acho que eles colocaram quarenta deputados federais no partido, está acontecendo no mundo. quarenta e tantos. Isso é quase 10% da Câmara, você imagina. Então isso aí é um sinal do que virou a vida partidária. Depois do mensalão, o PT, que bém está mudando velozmente com as novas tecnologias. Quando você tinha uma vida partidária mais organizada, perdeu muito do carisma que pensa, por exemplo, que a função do Legislativo está em discussão na tinha com a sociedade. A vida partidária brasileira está muito desorgani- sociedade... Deixe-me fazer aqui uma simplificação histórica: mudou zada. O que eu vejo de bom nela hoje?! Eu não vejo nada, sinceramente. O muito da assembleia da Grécia An- que eu vejo é que se precisa reestruturar a vida partidária brasileira, den- tiga, quando todos os poucos cida- Os partidos hoje são pouco progra- tro daquilo que eu falei, da necessidade de uma reestruturação da políti- dãos decidiam tudo pessoalmente máticos. Eles se tornaram uma espé- ca no País, dos partidos, da legislação eleitoral, do financiamento de cam- a todo tempo, à democracia repre- cie de cartório. Compete ao País ter panha, de como organizar uma campanha eleitoral. Eu acho que esse é o sentativa nos parlamentos, em que capacidade de reformular as leis que desafio. Os partidos hoje são pouco programáticos. Eles se tornaram qua- você escolhe uma pessoa para re- regem a estrutura política. se uma visão de uma coisa burocrática que nós temos no País, e em certos presentá-lo, você dá uma procura- pontos muito atrasada. Eles se tornaram uma espécie de cartório da polí- ção para o cara ir lá votar em seu nome, decidir em seu nome. Ocorre tica. Tem o cartório de registro de imóveis, tem o cartório de outras coi- que, hoje, você tem, no meio disso tudo, a possibilidade de as pessoas sas, então o partido se tornou quase um cartório. O cara tem necessida- serem mais consultadas sobre os mais diversos temas. Pelo volume de de de ter uma filiação partidária para poder ser candidato, independente- gente que tem esses celulares modernos, a possibilidade de você con- mente se ele sabe o que está escrito no programa do partido, e assim por sultar a população está aumentando, está se aproximando de um nú- diante. Essa é uma coisa que esses anos de democracia trouxeram para a mero grande de pessoas para poder falar sobre o que pensam disso ou luz do dia. Compete ao País ter capacidade de reformular as leis que re- daquilo. Essas novas possibilidades precisam entrar no debate da refor- gem a estrutura política. É isso que precisa ser feito, não tenho dúvida. A ma política. E a própria discussão desse novo parlamento. Você vê, os visão que tenho da questão partidária é essa. Você olha as coligações par- meninos vão para a rua, acampam lá na Espanha, mas vão para a porta tidárias hoje, e elas são feitas em cima de um episódio eleitoral. O PMDB do parlamento espanhol fazer protesto. E o protesto diz assim: “nós não esteve com o Fernando Henrique, esteve com o Lula, e está com a Dilma. nos sentimos representados por essa instituição”. Então isso tem de le- Essa estrutura precisa ser reorganizada. E aí você ter talvez um var a uma discussão, quando a gente repensa essa questão da democra- número menor de partidos. Hoje o País tem 28, 29 partidos com assen42 Não tem vida muito fácil nesse assunto porque o mundo tam- cia representativa, nós precisamos levar em conta todos esses aspectos. Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 43
  • 23. E e spec i fi c a mente s obre o parti d o d o se nh o r , o PM DB? C omo o avalia , tan to O se n h o r de i xo u o G ov e rn o d o E sta d o c om um a ltís simo n í v e l de a prova ç ã o , e f o i q ue stio n a d o na c i ona l m ente quant o regional m e n te ? muita s v e z e s pe l a q ue stã o da un a n imida de , de O PMDB teve um papel muito importante no processo de democrati- se n h o r ava l ia e s sa s dua s c o isa s ? g ov e rn a r pr atic a me n te se m o p o siç ã o . Como o zação do País. Não como partido, mas como movimento, como frente. Isso foi um papel muito relevante e histórico do PMDB. A partir daí Quem tiver em uma luta política com desafios gigantescos, como nós ti- ele virou um partido que se acopla aos projetos, como eu disse. Aco- vemos de enfrentar, e não buscar apoio, não tiver humildade para buscar plou ao projeto do ex-presidente Fernando Henrique, deu número no apoio em outras forças políticas, em grupos sociais, em instituições da Parlamento para aprovar medidas que foram muito importantes para sociedade, está fadado ao insucesso. Essa é a minha visão, como de certa o País. Reformas que ajudaram o Brasil a se reestruturar. Muitas delas forma já está construído no meu raciocínio lá atrás, na minha outra res- que permitiram ao País passar melhor pela crise de 2008, como, por posta. Quem tem desafios gigantes- exemplo, a reforma do sistema bancário brasileiro. cos pela frente, que não vá sozinho Quem tiver em uma luta política com Então o PMDB esteve lá nesse momento reformista que o País pra ele. Isso é máxima-chave que eu desafios gigantescos, como nós tive- viveu. Mas é um partido, por exemplo, que há muitos anos não aspi- aprendi na minha casa, com meu sau- mos de enfrentar, e não tiver humil- ra ao poder nacional, não disputa a Presidência da República à vera doso pai. E foi isso que nós buscamos. dade para buscar apoio em outras mesmo, colocando-se sempre como caudatário do movimento de ou- São críticas vazias, absoluta- forças políticas, em grupos sociais, mente inconsistentes. Se você busca em instituições da sociedade, está fa- Eu acho que é isso, está dentro dessa geleia geral partidária a o apoio, e o tem, é porque você tem dado ao insucesso. que eu me referi, desse sistema partidário gelatinoso que precisa ser uma proposta que aquele interlocu- reestruturado. Então acho que não faz diferença. O PMDB teve um tor que você buscou entende como uma coisa importante, que tem re- papel histórico. O PSDB teve um papel histórico, desmembrando-se percussão para a sociedade. Porque, se você vai buscar apoio para uma do PMDB para ser uma coisa diferente, fez esse governo do Fernan- proposta equivocada, por um caminho que se revela um descaminho, do Henrique. O PT teve o seu papel também importante, mas todos você não junta gente. Você junta gente quando o objetivo é uma von- perderam o brilho ao longo dessa caminhada. Por isso, talvez o me- tade social, que tem reflexo na vida do cidadão. O que eu fiz foi mobi- lhor fosse reestruturar a vida partidária e eleitoral, o sistema político lizar o Estado, e ter humildade para procurar, conversar, explicar o ca- do País como um todo. Eu acho que esse sistema em que estamos vi- minho que eu queria seguir a políticos, partidos, entidades da socie- vendo deixa muito a desejar. dade civil, jornalistas, igrejas, universidade, faculdades. O que eu fiz tros segmentos. foi isso, e recebi o apoio. Um sinal de que a proposta fazia sentido. E a história está aí: onde estava o Espírito Santo, e onde o Espírito Santo 44 Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 45
  • 24. está hoje? De onde nós saímos e aonde nós chegamos? Então acho que versavam, eu conversava pessoalmente, e me dava ao trabalho do con- a crítica não tem consistência, ela não se fundamenta em nada. Mui- vencimento. Porque essa é a questão do governar, é você convencer as tas vezes, são críticas feitas por pessoas que em outros momentos da pessoas do caminho que você acha que deve seguir. Então trabalhamos política tentaram a mesma coisa. Uns não conseguiram, porque não com muito apoio, mas muito longe do comentário feito. tiveram capacidade de mobilizar a sociedade; não conseguiram con- Sempre trabalhamos com a oposição forte. Forte no sentido de que vencer a sociedade do caminho, não trabalharam com bons argumen- a oposição ao nosso trabalho foi e é justamente esse conjunto de forças tos. Outros chegaram a conseguir apoios importantes para conseguir políticas que mandou no Espírito Santo durante mais de uma década. coisas que precisavam ser feitas. Mandaram e desmandaram, mais desmandaram, durante mais de uma Eu acho que a crítica muitas vezes é útil para consertar algumas década. Não é gente frágil. É gente acerca da qual nós buscamos real- coisas, mas é preciso que haja fundamento. O Lula governou com mui- mente uma forma para que se enfraquecessem no jogo de poder do Es- to apoio, no estilo dele. Então, se a crítica fosse assim: “Para ter apoio, o tado. Óbvio, caso contrário não conseguiríamos botar de pé essa estru- Paulo Hartung fez coisas absurdas. Deu a Secretaria da Saúde para o cara tura nova que nós propusemos. fazer coisa errada lá dentro”. Mas isso não existiu, nem esse tipo de crítica existe. Não foi feita, inclusive por quem se diz oposição ao trabalho se conseguiu aprovação? Com trabalho. A pessoa não recebia o salário, que nós realizamos. Se eu tivesse trabalhado com uma equipe que tives- passou a receber em dia. Tinha uns atrasados de salário, recebeu. Ti- se sido uma politicagem só, aí haveria motivo. Podem até dizer que tive nha uns atrasados de plano de cargos e de salários, recebeu. Toda vez apoio amplo, mas reconhecem o valor da equipe. Também se argumen- que o Estado podia avançar, ia lá e reestruturava o plano de cargos e de tou: “Ah, porque ele teve muito apoio na Assembleia Legislativa”. Mas eu salários, dentro das nossas possibilidades. E o Estado conseguiu se re- trabalhei para ter apoio na Assembleia Legislativa. Eu ficava até dez ho- organizar, fazer os concursos públicos, repor a força de trabalho que a ras da noite atendendo parlamentar. Muitas vezes, não para fazer o que máquina pública precisava, e ao mesmo tempo voltou a ser provedor ele me pedia, mas para explicar o que era possível e o que não era possí- de serviços para a sociedade. Então, o cidadão, na outra ponta, via que vel atender, inclusive mostrando que aquilo fortaleceria o mandato de- o Estado ia lá e construía uma unidade de saúde, reconstruía uma es- les. E isso se revelou na prática, tanto que muitos deles disputaram a ree- cola, construía uma escola nova, comprava equipamento para o hospi- leição e foram bem-sucedidos. Quer dizer, mostrou também que eu não tal, fazia estrada, levava energia para onde não tinha. O Estado voltou aconselhei errado, que eu não vendi ilusões para líderes políticos. Falei: a funcionar. Os órgãos da área da agricultura começaram a fazer polí- “Olha, vamos trabalhar nessa direção aqui. Nessa direção você também ticas inovadoras para melhorar a qualidade dos nossos produtos, seja vai refazer o seu mandato político. Não é isso que você quer?”. E muitas o café, o milho, a banana, e os diversos polos de fruticultura. O Estado vezes o que vinha sendo proposto era uma coisa que ia destruir o rumo voltou a funcionar. Então isso é que deu prestígio. O que dá prestígio do que estava sendo feito, de profissionalização, de planejamento, de me- é isso, não é gogó, não é discurso bonito. Com isso a população já está tas, e assim por diante. Mas eu gastava tempo, os meus secretários con46 Acho que a aprovação também é uma coisa positiva. Como é que impaciente. Não aguenta conversa fiada. Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 47
  • 25. Por que o governo do Lula ganhou prestígio? Porque aumentou a En tr a n d o n o c a mp o e c o n ômic o , o B r a sil renda, aumentou o emprego. Por isso ganhou prestígio. Esse eu acho que e o E spírit o S a n t o se de sta c a m h oje c omo é o desafio, chegar à vida das pessoas, positivamente. Isso que dá prestígio gr a n de s e xp o rta d o re s de c ommo ditie s . A l g un s a governo, a governante. E eu não vejo mal nenhum, pois se há prestígio é e spe c ia l ista s a p o n ta m pa r a um a te n dê n c ia de porque se está trabalhando direito. Porque o povo é também um consumi- re prim a riz a ç ã o da pau ta de e xp o rta ç õ e s , e q ue dor de produtos e serviços de responsabilidade do governo. E a população is s o p o de ria te r c o n se q uê n c ia s n e g ati va s pa r a não é intransigente, fato importante de se ressaltar. Sabe-se que ninguém o Pa ís e pa r a o E sta d o , n o l o n g o pr a z o . Como o vai resolver tudo. Nós ficamos oito se n h o r ava l ia e s sa q ue stã o ? Eu não vejo mal nenhum em ter muito anos no governo e não resolvemos apoio, desde que isso não esteja ligado todos os problemas; não tem como. Eu concordo com os analistas. Tenho uma grande preocupação com isso. ao fisiologismo, ao clientelismo, às prá- Você acaba de resolver um problema Com esse fato de se ter hoje como principal produto de exportação do ticas equivocadas tão comuns da vida e aparece um novo; a sociabilidade é País o minério de ferro. Nos últimos doze meses, só para dar um núme- pública brasileira. Não tenho proble- dinâmica. Mas a população também ro, nós fizemos 40 bilhões de dólares de exportação de minério de ferro. ma nenhum em ter apoio de partidos, percebe que as coisas estão andando Essa é uma pauta que preocupa o Brasil e o Espírito Santo. Como se su- de lideranças políticas, da sociedade. para frente. Quem usa o SUS sabe o pera isso? Modernizando o País. Precisa-se de uma agenda nova para o quanto o hospital público melhorou. País. Isso dialoga com o que eu falei em respostas anteriores. Nós passa- Quem não usa fala que isso é um caos, e ponto. Ele vê que tem problema; mos bem pela crise de 2008, pelo que nós fizemos lá atrás, desde a esta- então isso é um caos. É fácil falar que é um caos, mas quem usa no dia a bilização da moeda. Nós podemos passar melhor agora por essa conti- dia sabe a hora que não tinha uma tomografia e passou a ter, que os exa- nuidade da crise, que está expressa nos episódios da Europa, principal- mes estão sendo feitos, que ninguém está ficando num leito hospitalar mente, e dos Estados Unidos, ainda por conta do que fizemos no passa- para esperar durante 60 dias um exame. Na hora que melhora, a peque- do. Mas precisamos de uma nova geração de reformas. No caso, inclusi- na melhora é percebida por quem usa, e entra na avaliação do governo. ve, acho que mais microeconômicas do que macroeconômicas. Nós pre- Dessa forma, eu não vejo mal nenhum em ter muito apoio, desde que isso aí não esteja ligado ao fisiologismo, ao clientelismo, às práti- cisamos melhorar o Estado brasileiro, o funcionamento dele, para poder aumentar a competitividade do País. A nossa competitividade é baixa. cas equivocadas tão comuns da vida pública brasileira. Não tenho problema nenhum em ter apoio de partidos, de lideranças políticas, da so- vale para o Brasil e para o Espírito Santo. O maior desafio que temos é ciedade. E só vejo bem num governo bem avaliado. Aliás, nós trabalha- a educação. Nós precisamos melhorar a educação pública do País, co- mos, era um objetivo estratégico da gente ter uma boa avaliação com a meçando lá com o ensino da Matemática e do Português. É o progra- população. E acho que todo governo deve ter isso. Agora, tivemos opo- ma que nós estruturamos aqui no Estado, “Ler, Escrever e Contar”, que sição, e temos oposição ao que fizemos, e não é pequena. 48 Vou dizer, grosso modo, o que eu acho que precisa ser feito, e dialoga com isso. Nós precisamos melhorar a educação. Nós precisa- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 49
  • 26. mos investir mais em ciência e tecnologia, setor em que o País inves- não aconteça. Eu espero que esse período de bonança empurre o País te pouco. Se nós estamos hoje “bombando” nas commodities agríco- para novas reformas modernizantes, que nos deem mais competitivida- las e metálicas, e vamos ter pré-sal daqui a pouco tempo, nós precisa- de. Que o País pare de flertar com o caminho fácil, porque não existe ca- mos usar o dinheiro dessas commodities para aumentar o investimento minho fácil. A vida é dura mesmo. Tanto é dura que o Fernando Henri- em educação, ciência e tecnologia que, que liderou o País em tantas reformas importantes, não tem popu- Nossa competitividade é baixa. O no País. Aliás, temos experiências laridade. Talvez a obra dele vá ser reconhecida daqui a 30 anos. Mas não maior desafio que temos é a educação. boas. Quando você olha a Empre- tem jeito, esse é o desafio. E a presidenta Dilma está terminando o pri- Nós precisamos melhorar a educação sa Brasileira de Agropecuária (Em- meiro ano de governo com um estoque de mudanças muito pequeno, e pública do País, começando lá com o brapa), é uma experiência boa, que uma sensação ruim, com esse monte de ministro envolvido em coisa er- ensino da Matemática e do Português. aproximou inclusive a Academia da rada. Isso já é um quarto do governo. Veja você, como o tempo em gover- área produtiva. A Empresa Brasilei- no é um negócio rápido. Quando você abre o olho, já acabou o governo. ra de Aeronáutica (Embraer) é uma boa experiência. A exploração de Nós precisamos levantar a cabeça, olhar esse quadro de competi- petróleo em águas profundas é outra boa experiência. São três experi- tividade global. Eu não tenho inveja nenhuma da China. China não é ca- ências, eu poderia citar outras, que nós precisamos replicar em outros minho para a gente. Não é a isso que setores em busca de competitividade mundo afora. Esse é um desafio. eu estou me referindo. Eu não tenho Nós precisamos desburocratizar o Nós precisamos desburocratizar o País. Você não pode gastar dois inveja de um país que não tem leis País, melhorar o acesso ao crédito e anos para conceder uma licença ambiental, não ter prazo para as coisas. trabalhistas – está lá o sujeito traba- investir na infraestrutura econômica O Governo Federal agora começou a tentar encarar esse problema. Foram lhando 14, 15 horas por dia. Não te- do País, que é precaríssima. feitas portarias da ministra de Meio Ambiente nesse sentido. Precisamos nho inveja de um país que não tem melhorar o sistema tributário brasileiro. Precisamos melhorar o acesso legislação ambiental, não tem legislação previdenciária, não é isso. Mas, ao crédito no Brasil. Tem um conjunto de tarefas sobre as quais precisa- tendo legislação trabalhista, ambiental, previdenciária, nós precisamos mos nos debruçar, estou citando algumas delas rapidamente. E, por últi- saber como é que damos competitividade aos nossos serviços, aos bens mo, não estou dizendo nem por ordem de importância, mas a gente pre- que produzimos aqui. Falo de competitividade planetária ao nosso País, cisa melhorar a infraestrutura econômica do País, que é precaríssima. E para que a gente não vá para um reducionismo de voltar a ter uma agenda esse crescimento recente que nós tivemos só fez aflorar o problema. Por- exportadora de produtos primários, como nós falávamos no nosso tempo tos, aeroportos, rodovias, ferrovias, energia cara. Nós temos problemas de estudante de Economia. São as commodities agrícolas, metálicas, sendo de infraestrutura econômica que são gravíssimos. Se a gente não se de- que, talvez, a gente vire exportador de petróleo um pouco mais à frente. dicar a essa agenda, reformista, modernizante, é possível que esse perío- Isso vale para o Brasil e vale para o Espírito Santo. Eu acho que o do de bonança de 18, 19 anos que estamos vivendo vire mais uma vez um maior obstáculo que o País tem, o obstáculo número um, é a instrução período sobre o qual ficaremos falando no futuro. E eu espero que isso do nosso povo, da nossa gente. 50 Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 51
  • 27. Como o senhor enxerga o futuro do Espírito Santo? Argentina, está entrando nos Estados Unidos, ou já está lá, e agora tem um parque fabril em Linhares. A Itatiaia anunciou um investimento Eu enxergo positivamente. Vou dizer a você por quê. Nós temos esse em Sooretama, para fabricar geladeiras e fogões, de olho no mercado novo momento de turbulência internacional, e isso afeta o Espírito San- interno brasileiro, dinamizado pelo crescimento da classe C. Em Ara- to, temos que ter claro isso. Quando o mundo vai pra frente, o Espíri- cruz, teremos a inauguração do terminal de GLP e C5+, agora nos pró- to Santo costuma andar na frente do Brasil, e quando o mundo arrefe- ximos dois ou três meses, uma base importante para o Estado. A Ca- ce o desenvolvimento a gente costuma sofrer um pouco mais do que rioca Engenharia apresentou um o País. Em face da crise em curso, nós precisamos observar, ter caute- projeto para fabricar módulos de Quando o mundo vai pra frente, o Es- la, e saber que ela afeta o Brasil e o Espírito Santo. Tem a questão dos plataformas de petróleo, em Barra pírito Santo costuma andar na frente royalties. Só para a gente balizar direito, essa proposta do senador Vi- do Riacho, também em Aracruz. A do Brasil, e quando o mundo arrefece tal do Rêgo – que eu acho que não vai prevalecer; acho que vamos ga- Jurong está na iminência de come- o desenvolvimento a gente costuma so- nhar essa briga –, mas considerando que ela prevaleça, perdem mais çar a sua obra. Na ponta de Tubarão frer um pouco mais do que o País. os municípios do que o Governo do Estado. Quando se fala que o Espí- estão construindo a oitava usina de rito Santo está perdendo R$ 500 milhões, R$ 300 milhões são dos mu- pelotização e na ponta de Ubu estão construindo a quarta. Há a pos- nicípios, uns 14, 15 municípios que recebem royalties no nosso Estado. sibilidade de instalação da Ferrous no extremo sul do Espírito Santo. E mesmo no caso do Fundo de Desenvolvimento de Atividades Portu- O setor público está organizado, e essa ambiência que nós criamos árias (Fundap), que seria uma terceira frente de problema que nós terí- no Espírito Santo para atração de investimento privado está possibili- amos de enfrentar aí, esse é um problema quase só municipal. Tirando tando uma grande diversificação da economia. Até o final de 2012, co- o Bandes, que sofre numa hipótese de perder o Fundap, em termos de meça a construção do polo gás-químico em Linhares – já estamos com receita pública o Governo do Estado aufere muito pouco. Justamente a capacidade de processar 18 milhões de m³ de gás. Temos capacidade de parte do Governo do Estado é a parte do incentivo. A máquina do Go- processar 3 milhões aqui na UTG Sul, e mais 18 milhões lá. E lá vamos verno do Estado se estruturou nesses últimos anos. Do ponto de vis- ter um polo gás-químico, para processar matéria-prima para fazer fer- ta fiscal, somos um dos dois ou três estados mais organizados do País, tilizante, tinta, cola, entre outros. Quer dizer, um importante exemplo hoje. Somos o Estado com maior capacidade de investimentos com re- de diversificação da nossa economia. cursos próprios do Brasil. São elementos que apontam na direção de um futuro positivo para o Espírito Santo. Com o setor público organizado, o setor privado entrou em amplo processo de diversificação da nossa economia, permitindo ao Es- Mas há coisas mais importantes que essas. O Estado está conseguindo diversificar a sua economia. Há poucos dias inaugurou-se o do em que, depois da chegada dos portugueses, durante 300 anos não parque fabril da WEG Motores, em Linhares. A WEG é uma empre- ocorreu nada, praticamente nada, tirando os jesuítas que construí- sa brasileira presente no mundo inteiro. Está na Europa, na China, na 52 tado enfrentar um grave problema na nossa história. Somos um Esta- ram o Palácio Anchieta com o excedente das suas fazendas organiza- Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 53
  • 28. das. Depois disso, passamos a plantar café, e o fizemos isso por mais caso dos indicadores sociais, em uma boa parte deles nesses anos nós li- de 100 anos. Com a planta de Tubarão nós começamos a diversifica- deramos o País, inclusive na diminuição da pobreza. ção da nossa economia, muito lentamente. Hoje nós estamos vivendo Tudo isso me leva a acreditar no Estado. Eu tenho usado a ex- outro tipo de dinamismo. Na nova sede da Petrobras, em Vitória, vão pressão de que “o futuro do Espírito Santo está praticamente contra- trabalhar mais de 1.800 técnicos. Isso quer dizer que nós vamos pro- tado”. Por que praticamente? Porque isso é uma luta do dia a dia. Você duzir petróleo mais uns 30 anos para frente. Então, nós temos opor- tem de todo dia trabalhar para, de certa forma, conservar as conquis- tunidades significativas nos próximos anos. tas, garantir as vitórias que você já teve e ao mesmo tempo continuar Setor público organizado, setor privado em diversificação, um essa caminhada. Mas eu vejo, por tudo que está acontecendo na eco- plano estratégico extraordinário, o ES 2025. Quer dizer, hoje o Espírito nomia capixaba, independentemente do desfecho de crise internacio- Santo conta, não é o governo, é o Estado que tem um plano estratégico nal, royalties, Fundap – é claro que essas questões mexem –, mas inde- organizado, com metas na educação, na questão da erradicação da po- pendentemente disso, teremos um futuro importante de ampliação e breza, na diversificação da nossa economia, na interiorização do desen- democratização das oportunidades. volvimento do Estado, que é outro desafio, porque ele está concentrado na Grande Vitória e no litoral sul e norte, agora. Então cada ponto desses dá fé no futuro do Espírito SanO futuro do Espírito Santo está prati- to. Fechando esses pontos, um quar- camente contratado. Por que pratica- to ponto são os indicadores, econô- mente? Você tem de todo dia trabalhar micos e sociais. Econômicos, eu vou para, de certa forma, conservar as con- apresentar dois: de 2003 a 2010, pe- quistas, garantir as vitórias e ao mes- ríodo do nosso governo, nós lidera- mo tempo continuar essa caminhada. mos o País no crescimento econômico. Nesse período, o crescimento do PIB capixaba foi de 48,9% contra 36,5% do Brasil. Nosso PIB, quando nós tomamos posse, era de 40,2 bilhões de reais, e foi para R$ 85,6 bilhões, mais que dobrou nesse período. Outro dado econômico importante, econômico e social, é a geração de empregos. Entre 2002 e 2010 o Espírito Santo apresentou crescimento acumulado de 59,5% do nível de empregados com carteira assinada, sendo superior à taxa verificada no Brasil, de 47,7%. Então, quando você vai pegando os indicadores econômicos e sociais, vê que em todos eles nós operamos positivamente. No 54 Recortes Paulo Hartung Cap.1 Entre Gerações 55
  • 29. Cap. 2 Economia Desafios e oportunidades E sta seção reúne palestras dedicadas à análise das atuais condições econômicas, afetadas em maior ou menor escala pela crise mundial eclodida em 2008. O ex-governador Paulo Hartung fala da origem e da natureza da crise e seus rebatimentos nas conjunturas local, nacional e internacional, considerando de maneira especial os interesses dos capixabas, em particular, e dos brasileiros em geral. O primeiro texto foi apresentado no Encontro de Lideranças Em- presariais, promovido pela Rede Gazeta de Comunicações. Em seguida, está reproduzido o pronunciamento feito em encontro no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis no Espírito Santo. Co nj un t ur a e c o n ômic a : in te rfa c e s e n tre o B r a sil e o mun d o Gostaria de parabenizar os organizadores por mais esta edição do Encontro de Lideranças Empresariais, repetindo o sucesso dos encontros anteriores. Este momento de reflexão, neste início de novembro, coincide com o período em que gestores públicos e privados fazem uma avaliação do ano que está acabando e estudam os cenários socioeconômicos e políticos tendo em vista o planejamento. Cap.2 Economia – Desafios e oportunidades 57
  • 30. É uma ação que busca o desenvolvimento capixaba, com dinami- Cortes em políticas públicas e redução de investimentos, entre ou- zação e desconcentração do crescimento econômico, melhoria da qua- tros, são algumas das medidas tomadas ou previstas que vêm modifican- lidade de vida, ampliação e democratização das oportunidades. do o ambiente econômico e gerando reações mundo afora. Estive em todas as edições anteriores como governador do Espí- Como se vê, o enfrentamento dessa situação não guarda relação rito Santo. Participo desta como economista, muito bem acompanhado com as estratégias que se utilizaram para enfrentar a turbulência de três do professor Luiz Carlos Mendonça de Barros. Durante sua gestão na anos atrás. Nesse contexto, o mundo está vivendo um processo de desa- presidência do BNDES, tive a oportunidade de estar à frente da direto- celeração da atividade econômica. ria Social do banco, num tempo de rico e sólido aprendizado. No caso dos Estados Unidos, a aguerrida e precoce disputa políti- A nossa tarefa aqui é propor uma agenda para reflexão acerca da co-eleitoral, que ficou evidente no impasse gerado durante a negociação atual contingência econômica e seus reflexos entre nós. Registro que do limite da dívida, tem dificultado a adoção de medidas e uma ação co- a atual crise guarda diferenças significativas com relação àquela vivida ordenada para que o país saia mais rapidamente da crise. Dessa forma, em 2008, muito embora seja um desdobramento daquele momento de acredito que uma efetiva agenda de enfrentamento da crise seja imple- graves turbulências. mentada somente após o pleito presidencial, previsto para o final de 2012. Há três anos, o que tivemos foi um travamento mundial do crédi- Na Europa, responsável pelo quadro mais grave, as lideranças po- to, desencadeado pelo colapso do sistema de financiamento imobiliário líticas produziram um plano que prescreve, entre outros, um deságio norte-americano, com a quebra do Lehman Brothers. de 50% da dívida grega, a capitalização de bancos e a ampliação do fun- Como resposta à crise, os governos alocaram recursos para cobrir os rombos dos bancos e tomaram medidas anticíclicas. Com essas e ou- do de estabilização europeu, que passaria de 400 bilhões de euros para um trilhão de euros. tras ações, os governos se endivida- É um passo importante, mas ainda faltam respostas acerca desse Um dos fatores centrais para o co- ram e, como está evidente, muitos plano e alguns já sinalizam que ele não seria o bastante. O último imbró- lapso das operações do mercado imo- deles já não têm condições de hon- glio em torno do pacote foi a tentativa do primeiro-ministro grego de fa- biliário norte-americano, que mar- rar seus compromissos. zer um referendo sobre os termos da proposta de ajuda e ajustes à Gré- cou o começo de toda essa história, Vale ressaltar, ainda, que um cia, o que, de certa forma, poderia travar o desenvolvimento do plano. foi a desregulamentação do sistema dos fatores centrais para o colapso Um indicador mostra a gravidade da situação na zona do euro: há 16 mi- financeiro, ocorrida principalmente das operações do mercado imobili- lhões de desempregados, ou 10,2% da população economicamente ativa. a partir dos anos 1970. ário norte-americano, que marcou O Japão, que acumula um longo período de baixo crescimento, o começo de toda essa história, foi a experimentou no início do ano um dramático desastre natural, também desregulamentação do sistema financeiro, ocorrida principalmente a par- com reflexos na economia. A China, que passou a ser vista como deci- tir dos anos 1970. De certa forma, essa é a origem e a natureza dos pro- siva na questão da ampliação do fundo para resgate de países europeus blemas vividos atualmente. em dificuldades, também dá sinais de que registra problemas. O descon- 58 Recortes Paulo Hartung Cap.2 Economia – Desafios e oportunidades 59