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Petróleo
Nº 289 Agosto de 2013 Órgão Oficial do Corecon-Rj e Sindecon-Rj
Artigo de Maria Malta sobre a criação de empresa que descaracteriza a finalidade dos hospitais universitários.
Artigos de Raul Tadeu
Bergmann, Roberto Requião,
Marcelo Simas, Paulo Metri e
Fernando Siqueira e entrevista com
Ildo Sauer discutem petróleo,
pré-sal e shale gas, à luz
do leilão do campo de Libra.
Órgão Oficial do CORECON - RJ
	 E SINDECON - RJ
	 Issn 1519-7387
Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Edson Peterli Guimarães, José Ricardo
de Moraes Lopes, Leonardo de Moura Perdigão Pamplona, Sidney Pascoutto da Rocha, Gil-
berto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Paulo Gonzaga Mibielli e Gisele Rodrigues.
Jornalista Responsável: Mar­celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda (CNPJ:
74.155.763/0001-48; tel.: 21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques
(rossana.henriques@gmail.com). Ilustração: Aliedo. Fotolito e Impressão: Ediouro. Tiragem:
13.000 exemplares. Periodicidade: Mensal. Correio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.br
As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades.
É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.
CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ
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Efetivos: 1º Terço:  (2011-2013): Arthur Câmara Cardozo, Renato Elman, João Paulo de Almeida Maga-
lhães – 2º terço (2012 a 2014): Gilberto Caputo Santos, Edson Peterli Guimarães, Jorge de Oliveira Ca-
margo – 3º terço (2013-2015): Carlos Henrique Tibiriça Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antônio
Lutterbach Soares.  Conselheiros Suplentes: 1º terço: (2011-2013): Eduardo Kaplan Barbosa, Regi-
na Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º terço: (2012-2014): André Luiz Rodrigues
Osório, Leonardo de Moura Perdigão Pamplona, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º terço: (2013-2015):
Cesar Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes e Sérgio Carvalho Cunha da Motta.
Sindecon - Sindicato dos Economistas do estado do RJ
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2535 Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192. Correio eletrônico: sindecon@sindecon.org.br
Mandato – 2011/2014
Coordenação de Assuntos Institucionais: Sidney Pascoutto da Rocha (Coordenador Geral), An-
tonio Melki Júnior e Wellington Leonardo da Silva.
Coordenação de Relações Sindicais: João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Tibiriçá
Miranda, César Homero Fernandes Lopes, Gilberto Caputo Santos.
Coordenação de Divulgação Administração e Finanças: Gilberto Alcântara da Cruz, José An-
tônio Lutterbach, José Jannotti  Viegas e André Luiz Silva de Souza.
Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo.
O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo
Passarinho, de segunda à sexta-feira, das 8h às 10h, na Rádio Bandeirantes,
AM, do Rio, 1360 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br
Entrevista: Ildo Sauer.........................................................................3
“O governo trata Libra como
se fosse uma padaria ou pizzaria.”
Petróleo..............................................................................................5
Raul Tadeu Bergmann e Roberto Requião
Trocar Libra por superávit primário
é crime contra o Brasil
Petróleo..............................................................................................8
Marcelo Simas
Shale gas x pré-sal: os impactos dos
recursos não convencionais nas políticas
públicas dos EUA e Brasil
Petróleo........................................................................................... 10
Paulo Metri
Quem usufrui do nosso petróleo?
Petróleo........................................................................................... 12
Fernando Siqueira
Snowden pode salvar o petróleo brasileiro
Saúde.............................................................................................. 14
Maria Malta
EBSERH: proposta do MEC para
desconfigurar e empresariar
os hospitais de ensino
2 Editorial Sumário
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Petróleo
O leilão do campo de Libra, marcado para 21 de outubro, motivou o Conse-
lho Editorial do JE a voltar à discussão sobre o modelo de exploração e a destina-
ção dos recursos da imensa riqueza descoberta pela Petrobras em águas profundas.
Fomos ouvir Ildo Sauer, professor de USP e ex-diretor de Petrobras, que
criticou o leilão. Ildo alerta para o fato de o Brasil ainda não conhecer o vo-
lume de suas reservas no pré-sal. Ele propõe uma parceria com a China, na
qual os asiáticos antecipariam recursos para o investimento em exploração e
para o equilíbrio das contas externas do Brasil e, em troca, comprariam pe-
tróleo brasileiro a 80 ou 90% do preço internacional.
O senador Roberto Requião e o engenheiro aposentado da Petrobras Raul
Tadeu Bergmann afirmam, em artigo a quatro mãos, que o leilão permitirá
que o cartel das multinacionais obtenha a propriedade da maior parte do pe-
tróleo a ser extraído de Libra. Os autores alertam que o estrangulamento fi-
nanceiro da Petrobras impedirá que a empresa tenha uma maior participação
no processo. Eles propõem que o governo suspenda o leilão e negocie com a
Petrobras a cessão de áreas mediante contrato de partilha de produção.
Marcelo Simas, do Cenpes da Petrobras, alerta para a necessidade de o Brasil
acelerar a exploração do pré-sal, porque os EUA, com o aumento da produção
interna de shale gas e shale oil, sairão do mercado consumidor, restando apenas
a China e a Índia como potenciais grandes compradores do petróleo brasileiro.
Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia, ressalta que o gover-
no brasileiro está fazendo um mau negócio ao aceitar a redução dos recursos
para o Fundo Social durante 25 anos de exploração das reservas do pré-sal
em troca do recebimento no curto prazo de um bônus maior.
Fernando Siqueira, vice-presidente da Aepet, propõe que o MP suspenda de
imediato os leilões, em função da possibilidade de vazamento de dados, revela-
da pelo ex-agente da CIA Edward Snowden. O vazamento pode ter beneficiado
empresas petrolíferas norte-americanas, ferindo o princípio da obrigatoriedade
de igualdade de informações e condições entre os participantes do leilão.
Fora do bloco temático, Maria Malta, professora do IE/UFRJ, afirma
que a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)
descaracterizará o compromisso social dos hospitais-escola de serem espaços
de formação, pesquisa e atendimento, transformando-os em locais centra-
dos em metas de atendimento.
3Entrevista: Ildo Sauer
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
P: Como você avalia o modelo
criado pelo Brasil para explora-
ção e utilização dos recursos do
pré-sal? O país vai utilizar bem
essa riqueza?
R: Não. O modelo de concessões
formulado pelo governo neolibe-
ral de FHC, numa época em que
ainda se justificava no discurso a
possibilidade de um risco gené-
rico exploratório para encontrar
petróleo, não era o melhor. Na-
quele tempo, o modelo adequa-
do seria a partilha da produção,
com a Petrobras comandando.
Eu defendi transformar conces-
são em partilha. No momento
em que se conclui com sucesso
a definição de uma nova provín-
cia de petróleo no pré-sal, nem o
modelo de concessão nem o de
partilha servem.
Quando já há uma confirma-
ção de sucesso e com pouco in-
vestimento se pode descobrir o
volume de petróleo disponível
a ser produzido, o melhor mo-
delo é o monopólio público de
uma empresa puramente estatal
ou o modelo de prestação de ser-
viços em que uma empresa, pre-
ferencialmente uma estatal híbri-
da igual à Petrobras, é contratada
para fazer o serviço de delimita-
ção do volume de recursos. De-
pois se contrata essa empresa
num regime de prestação de ser-
viços, remunerando-a adequada-
mente por todos os custos.
Nós temos 50 bilhões de bar-
ris já confirmados, mas pode-
mos chegar a 100, 200 ou 300
bilhões. O governo não autori-
zou o custo pequeno, da ordem
“O governo trata Libra como
se fosse uma padaria ou pizzaria.”
Professor titular da USP
e um dos mais reconhe-
cidos cientistas brasilei-
ros na área de energia,
Ildo Sauer foi diretor de
gás e energia da Petro-
bras durante o primeiro
governo Lula. Nessa en-
trevista, critica o leilão
de Libra e propõe um
modelo alternativo.
de US$6 bilhões a US$7 bilhões,
para que a Petrobras, fazendo
cerca de cem poços na área do
pré-sal de Santa Catarina ao Es-
pírito Santo, definisse o volume
total de petróleo. Essa informa-
ção é essencial para delinear um
projeto estratégico para o país do
que fazer com o petróleo.
O governo está promovendo
o sucateamento das duas gran-
des riquezas do povo brasileiro:
o petróleo e, mais importante, a
Petrobras, uma construção histó-
rico-social capaz de intervir so-
bre a natureza e dela arrancar um
elemento essencial para a socie-
dade, a energia.
P: O motiva o governo a fazer
os leilões?
R: O governo precisa de dólares
para contrabalançar a situação
macroeconômica. O baixo índice
de crescimento da economia bra-
sileira, associado à potencial fuga
de dólares, fazem com que o Bra-
sil precise do fluxo de dólares pa-
ra manter o equilíbrio das contas
externas. Por isso, decidiu que vai
antecipar o leilão de Libra.
A segunda motivação talvez
seja ideológica, no sentido de
subordinar os recursos naturais
à lógica do interesse privado.
Não sei se há também interesses
menores do ponto de vista da
base de apoio econômico e po-
lítico ao governo, dinheiro para
campanha e para enriquecimen-
to de figuras ligadas ao proces-
so de poder, que está em xeque
agora no Brasil depois que o po-
vo foi às ruas.
P: Qual seria a melhor alter-
nativa?
P: Havia uma alternativa mais
inteligente para resolver o pro-
blema macroeconômico: contra-
ta-se a Petrobras, que delimita o
campo de Libra e produz. Ah,
faltam US$ 50 ou 60 bilhões pa-
ra desenvolver o campo. Faz par-
ceira internacional negociada
politicamente a partir do gover-
no. Chama a China, eventual-
mente a Índia e outros parceiros,
e investe, produz e controla o rit-
mo de produção. Em contrapar-
tida, a China recebe o petróleo
a 80 ou 90% do preço interna-
cional e antecipa o dinheiro do
investimento, coloca no Brasil o
dinheiro necessário para equili-
brar as contas externas.
Libra vai produzir cerca de
dois milhões de barris por dia,
700 milhões por ano. Se ven-
der o petróleo a US$90 por bar-
ril e custar US$20 para produ-
zir, sobram US$70 por barril.
São US$50 bilhões por ano que
estão em jogo, ao longo de 20
anos de produção, supondo que
as reservas sejam de 15 bilhões
de barris, como esperado. Com
US$50 bilhões por ano você
mantém as contas externas com
afluxo de US$10 ou 15 bilhões
em moeda, os outros US$35 ou
40 bilhões usa para investir em
infraestrutura.
Criaria a Metrobras que seria
a dona e operaria os metrôs de to-
das as cidades com mais de 500
mil habitantes no país. O Brasil
poderia estabelecer uma parceria
com a China que estabeleceria fá-
Reproduçãodeinternet/CPFLCultura
4 Entrevista: Ilso Sauer
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
bricas de trens no Brasil. Essa es-
pécie de escambo não danificaria
o equilíbrio da taxa de câmbio.
E nessa escala, os recebíveis do
próprio sistema de transporte
garantiriam o financiamento.
Eu estou dando um exemplo. O
mesmo podia acontecer para trens
de alta velocidade interestaduais,
portos, vias navegáveis. Esse seria
o modelo para o pré-sal em geral,
não só Libra.
Acima de tudo o ritmo de
produção tem que ser coorde-
nado com a OPEP. Você não
pode jogar dois bilhões de bar-
ris de petróleo no mundo sem
coordenação. Do contrário, há
um problema da renda petro-
lífera desaparecer. Está no ho-
rizonte uma ameaça geopolítica
contra a OPEP e a Rússia co-
mandada pelos EUA, que quer
difundir a tecnologia do shale
gas. Tem um petróleo e gás bara-
to vindo daí.
P: Você acha que no médio e
longo prazo o preço do petróleo
vai cair em função do shale gas?
R: O shale não tem força para
destruir a hegemonia do petróleo
nas próximas cinco décadas, mes-
mo sabendo que a China tem re-
cursos potenciais até superiores
que os dos EUA.
P: Mas já há estudos dizendo
que o shale pode tornar os EUA
autossuficientes.
R: Sim, mas é efêmero. Por quan-
to tempo vai ser autossuficien-
te? Até a semana que vem, depois
vai ter que voltar à mesa. Há uma
ameaça no horizonte sobre o pre-
ço do petróleo como construído
historicamente a partir de 2005
pela OPEP, a partir da hegemonia
da OPEP no controle do recurso
natural. Em 1960, 84% do petró-
leo estava nas mãos das multina-
cionais, 14% nas mãos da URSS,
e 2% nas empresas nacionais. Em
2010 era o contrário: 92% nas
mãos dos governos, de empresas
estatais ou híbridas. Com o con-
trole político, eles conseguiram
impor o preço.
O shale agora se apresenta co-
mo uma nova ameaça. O papel
do Brasil nesse sentido é abso-
lutamente destrutivo da geopo-
lítica dos países que querem ex-
trair renda do petróleo, que é o
grupo em que o Brasil está en-
trando. O modelo que o gover-
no está colocando em Libra e o
modelo aprovado no Congresso
ou são absolutamente ingênuos,
ou destituídos de visão geopolí-
tica estratégica, ou oportunistas,
para satisfazer interesses meno-
res no governo.
P: Se você partir do princípio de
que a demanda dos EUA cairá,
em função do shale, derruban-
do o preço do barril, não seria
melhor para o Brasil explorar
logo o pré-sal, e nesse sentido a
entrada de empresas internacio-
nais não é importante para ace-
lerar o financiamento?
R: Não acho. O shale não tem
dimensão para tomar o lugar do
petróleo. Essa é uma possibilidade
muito pequena. Depende do
modelo de coordenação da
indústria mundial do petróleo,
via OPEP. Se a OPEP tiver capa-
cidade de coordenação da produ-
ção do petróleo líquido, o shale
não vai tomar o lugar. A Arábia
Saudita vive exportando dois ou
três milhões de barris por dia.
Não precisam exportar 10 mi-
lhões. A Rússia também. Eles têm
fôlego para enfrentar a guerra
com o shale americano.
O problema é que um cachor-
ro louco igual ao que o governo
brasileiro está criando, leiloando
um campo subordinado apenas à
lógica microeconômica, sem le-
var em conta tudo isso, é um tiro
no pé porque vai destruir o pre-
ço do petróleo no mundo. Nem
Libra nem os outros podem pro-
duzir rapidamente, porque tem
que ter coordenação da produção
para manter o preço do petróleo
com renda elevada.
Os EUA apostam na estra-
tégia de desestabilizar o Orien-
te Médio, invadindo Síria, Ira-
que, Líbia, desestabilizando o Irã
e jogando shale no mundo. Eles
estão tentando extirpar a ren-
da acumulada pelos produtores
de petróleo e deslocar esse exce-
dente econômico para as esferas
das empresas comandadas a par-
tir da lógica imperialista ameri-
cana e europeia, as empresas de
produção de commodities, pro-
dutos, automóveis, informática
e serviços. O Brasil não compre-
endeu isso e está operando com
uma lógica microeconômica, do
contrato, do negócio, como se
estivesse lidando com uma pada-
ria. É como se a Petrobras fosse
a grande filha do povo e o gover-
no tivesse tornado essa filha ano-
réxica ao asfixiá-la com os pre-
ços dos derivados. A Petrobras
está sem caixa. E agora o gover-
no quer pegar a terra que perten-
ce ao povo e a filha do povo, que
é a Petrobras, e colocar numa es-
pécie de casamento arranjado
como faziam as antigas oligar-
quias. E quem se beneficia dis-
so é o eventual vencedor do lei-
lão. O governo trata Libra como
se fosse uma padaria ou pizzaria.
P: As regras dos leilões dizem
que a Petrobras é operadora de
todos os poços. Essas regras são
ruins para a Petrobras?
R: O governo está proletari-
zando a Petrobras. Asfixiou
seu fluxo de caixa com a po-
lítica de preços. Então a Pe-
trobras não tem poder de bar-
ganha de entrar num leilão e
valorizar a sua capacitação
tecnológica. Tem dois valo-
res em disputa: o petróleo e a
capacitação da Petrobras. E o
governo está vendendo as du-
as por um preço aviltado pe-
la política recente. Então a Pe-
trobras ser operadora é quase ser
escravizada em favor do capital
financeiro, em vez de usar esse
potencial para gerar valor para a
sociedade brasileira.
Se ela for prestadora de ser-
viço, recebendo de US$ 15 a 25
por barril, ela vai ganhar dinhei-
ro, pagar bem seus quadros e me-
lhorar a tecnologia. E o governo,
vendendo petróleo para a China
a 90% do valor, sobrariam entre
65 e 75 dólares por barril, que vi-
ram renda para o Tesouro inves-
tir em programas nacionais, fazer
uma Metrobras, uma Portobras,
reforma agrária, reforma urbana,
investir em educação e saúde pú-
blica, e coordenar o fluxo de capi-
tais para não tornar o Brasil um
país rentista, manter o país geran-
do valor pelo trabalho.
Reproduçãodeinternet/CPFLCultura
5Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Raul Tadeu Bergmann*
e Roberto Requião**
“A nação que entrega o seu pe-
tróleo à exploração estrangeira não
zela pelo seu futuro” - Woodrow
Wilson, presidente dos EUA
As privatizações e desnacionali-
zações feitas por FHC foram
os maiores crimes já perpetrados
contra a sociedade brasileira. Signi-
ficaram a entrega de centenas de bi-
lhões de dólares de patrimônio do
povo a preços aviltantes, milhões
de empregos destruídos, perda de
autonomia tecnológica, substitui-
ção de fornecimento de máquinas
e insumos nacionais por importa-
dos, centenas de bilhões de dóla-
res de remessas de lucros para o ex-
terior e tarifas de serviços públicos
extorsivas, as maiores do mundo.
Elas continuam causando sé-
rios problemas econômicos e são
as principais responsáveis pela sé-
ria crise que poderemos ter no fu-
turo muito próximo. As elevadas
tarifas de serviços públicos priva-
tizados são um dos principais fa-
tores que fazem com que nossa
moeda se mantenha tão valoriza-
da. Portanto, são uma das princi-
pais causas da desindustrialização.
A indexação dessas tarifas é a res-
ponsável pelo fato de a inflação no
Brasil ser tão resistente. Esses fato-
res, mais a grande remessa de lu-
cros das empresas desnacionali-
zadas e importação de insumos e
equipamentos por elas realizadas
são responsáveis por boa parte do
rombo em nosso balanço de paga-
mentos. O buraco no balanço de
pagamentos e essas tendências in-
Trocar Libra por superávit
primário é crime contra o Brasil
flacionárias dos serviços públicos
privatizados colocam o governo
em posição difícil, sendo pratica-
mente impossível evitar uma cri-
se inflacionária ou de desemprego.
Apesar disso, há quem advo-
gue que mais privatizações sejam
a solução para os males causados
pelas privatizações do passado. Ao
contrário, isso alimenta uma bola
de neve: as privatizações e desna-
cionalizações geram mais remessa
de lucros, mais déficit em transa-
ções correntes, mais necessidade
de atrair capital estrangeiro para
cobrir o déficit, gerando um cír-
culo vicioso que redundará em fa-
lência do país, esvaindo o pré-sal
sem retorno para o Brasil. O lucro
do pré-sal tem que ser reinvesti-
do no desenvolvimento nacional,
o que não ocorrerá se ele for entre-
gue ao cartel internacional. O lei-
lão de Libra é uma forma de priva-
tização, cujo valor supera todas as
de FHC. Nesse sentido, Dilma es-
tará cometendo um erro até maior
do que os de FHC.
A produção de Libra sozi-
nha permitiria um grande avan-
ço econômico, financeiro e tecno-
lógico, resolvendo muito do nosso
histórico passivo social, resolven-
do os nossos problemas de educa-
ção, saúde, segurança, tecnologia,
mobilidade urbana, tornando-
-nos uma sociedade mais próspe-
ra e justa.
Com o leilão, o governo entre-
gará para o cartel das multinacio-
nais a propriedade da maior parte
do petróleo a ser extraído do cam-
po recém-descoberto e o maior do
mundo, com 15 bilhões de barris.
A reserva brasileira de petróleo an-
tes do pré-sal, fruto de 50 anos de
exploração, era de 14,2 bilhões de
barris, que assegurava 15 anos de
autossuficiência.
A Petrobras já descobriu, só
no pré-sal, campos com poten-
cial superior a 60 bilhões de barris
de óleo de reservas: Libra – 15 bi-
lhões; Lula – 9 bilhões; Iara – 4 bi-
lhões; Carioca – 10 bilhões; Fran-
co – 9 bilhões; Guará – 2 bilhões;
área das baleias - 5 bilhões e vários
outros. Somadas às anteriores ao
pré-sal, ultrapassamos 74 bilhões,
60 anos de autossuficiência. Fazer
leilões em áreas não exploradas é
absurdo. Ainda pior é leiloar Li-
bra, campo já descoberto de alto
retorno financeiro. Se não preci-
samos achar mais petróleo, como
justificar leilões? É para entregar
nosso petróleo?
O pré-sal é a maior oportunida-
de que já tivemos para o País se tor-
nar uma potência energética, tec-
nológica e econômica. Possui 100
bilhões de barris, no mínimo, pois
até o limite da zona economica-
mente exclusiva existem mais áre-
as com boas possibilidades de óleo
e gás, atingindo 300 bilhões de bar-
ris, segundo o ex-diretor de explo-
ração da Petrobrás e descobridor
do pré-sal, Guilherme Estrella.
O regime de partilha, aplicável
ao pré-sal, prevê 15% em dinheiro
para o Brasil como royalty e uma
participação no óleo-lucro de so-
mente de 0 a 30% do petróleo na
prática. Assim, o cartel internacio-
nal fica com a maior parte da ri-
queza mais cobiçada do mundo.
A situação é ainda pior fora do
pré-sal, como no 11º leilão feito
por Dilma, sob o regime de con-
cessão de FHC. Nele, a proprie-
dade do petróleo é entregue à con-
cessionária, pagando 10% em
royalties e podendo incluir pa-
ra alguns campos uma participa-
ção especial de, na prática, 11%
do valor da produção. No mundo
os países exportadores ficam com
a média de 80% da produção.
Assim, abre-se mão do petróleo
que deveríamos usar na geração de
novas riquezas e empregos no Bra-
sil, bem como seu poder geopolí-
tico, dado pela garantia de supri-
mento aos países dependentes de
petróleo, especialmente o G-7. Es-
se suprimento causou muitos con-
flitos desde a Segunda Guerra.
Diante disso, devemos per-
guntar: por que o governo Dilma
está promovendo um leilão pa-
ra entregar o campo de Libra, já
descoberto, com risco zero, direta-
mente às multinacionais do petró-
leo? Seriam três os motivos:
Pressões externas – O Congres-
so Mundial de Petróleo ocorrido em
fevereiro de 2013, no Riocentro,
foi um grande lobby pela reabertu-
ra dos leilões. No encerramento, o
Ministro de Minas e Energia Edison
Lobão declarou reabertos os leilões.
É provável que a vinda do vice-pre-
sidente americano, Joe Biden, em
maio de 2013, tenha visado “con-
vencer” a presidenta Dilma a leilo-
ar Libra e a presidente da Petrobrás,
Graça Foster, a não se empenhar na
aquisição desse campo.
Agradar os especuladores fi-
nanceiros – O governo prometeu
ao mercado financeiro uma meta
contábil de superávit primário. O
bônus de Libra, no valor de R$ 15
bilhões, vem a calhar para atingi-
6 Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
-la. Todavia, o valor não aumen-
tará o patrimônio do povo brasi-
leiro porque, segundo o contrato
da ANP (Agência Nacional de Pe-
tróleo), será simplesmente devol-
vido às multinacionais. Ou se-
ja, por um irrisório adiantamento
de 0,6% do PIB, serão entregues,
nos próximos 35 anos, mais de
R$ 3,45 trilhões em petróleo, um
bem finito com demanda e preço
permanentemente em elevação.
Pressões externa e interna – O
grave problema cambial: o déficit
em conta corrente externo está ca-
minhando para US$ 80 bilhões
e cresce avassaladoramente devi-
do, em grande parte, à remessa de
lucros das mais de 4.000 grandes
empresas que foram privatizadas
ou desnacionalizadas no governo
FHC e nos governos petistas.
Ora, o pré-sal se destina a ga-
rantir o futuro dos brasileiros, e
não a cumprir uma meta mera-
mente contábil de superávit pri-
mário, cuja função é mostrar ao
sistema financeiro que o governo
é “obediente” e coloca seus “com-
promissos” com “o mercado” aci-
ma das necessidades prementes
de aumentar os investimentos em
saúde, educação e tecnologia. Ho-
je praticamente nenhum país do
mundo se obriga a cumprir uma
meta de superávit primário, espe-
cialmente se não depende de em-
préstimos de instituições multila-
terais como o FMI. E poucos têm
superávits primários tão grandes
quanto o brasileiro. Entre as gran-
des nações, também poucas pos-
suem dívidas públicas menores do
que a brasileira. Ou seja, em ter-
mos do interesse público não há
razão para o Brasil cumprir uma
meta de superávit primário. Essa
irracionalidade, no fundo, se ba-
seia na submissão ao interesse dos
grandes bancos em manter um
sistema onde mesmo taxas de ju-
ros absurdamente altas não levem
a uma espiral explosiva de cresci-
mento da dívida pública. Ou se-
ja, a meta de superávit primário
brasileira tem como objetivo de
fundo simplesmente dar susten-
tabilidade à mais inócua política
de juros já conhecida, implantada
por FHC e mantida até hoje, ain-
da que de forma abrandada.
Se é um crime contra o Brasil
trocar petróleo por meta contábil
de superávit primário, pior ainda é
saber que, mesmo aceitando a tese
do governo da necessidade de fazê-
-lo, vemos que se tivesse entregado
esse bloco à Petrobras, o volume de
superávit primário gerado este ano
poderia ser imensamente maior.
O campo de Libra foi desco-
berto pela Petrobras. Logo após a
7Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
descoberta de seu fabuloso poten-
cial, a ANP e o governo decidiram
retirar o bloco de Libra do con-
junto que a União lhe havia entre-
gado em cessão onerosa visando à
capitalização da empresa. Ao invés
de negociar com a Petrobras um
contrato de partilha (a nova lei, no
seu art. 12º, permite), decide fazer
leilão para entregar ao cartel inter-
nacional do petróleo.
Se o bloco fosse mantido com
a Petrobras, a empresa poderia ser
recapitalizada pela mesma for-
ma adotada sabiamente pelo pre-
sidente Lula. Se isso tivesse sido
feito, o governo poderia obter, se
quisesse, o dobro ou mais do va-
lor que “obterá” com o leilão pa-
ra o cartel internacional. Esse re-
sultado poderia ser obtido, por
exemplo, com um adiantamento a
ser viabilizado pela Petrobras com
empréstimos. A Petrobras ofere-
ceria Libra como garantia, pois
o campo vale mais de um trilhão
de dólares. Outra alternativa se-
ria a União vender Libra em tro-
ca de ações ou em títulos de dí-
vida da Petrobrás. Ou seja, nada,
nem mesmo o argumento do su-
perávit primário, justifica o leilão,
verdadeiro atentado contra o inte-
resse público.
O problema cambial, por sua
vez, decorre, entre outros motivos,
da desnacionalização das grandes
empresas brasileiras, estatais e pri-
vadas. Já são mais de 4.000, a partir
do governo FHC, passando pelos
governos petistas. As empresas des-
nacionalizadas remetem enormes
montantes de lucro para o exterior,
gerando vultoso déficit nas transa-
ções correntes. Há quem preveja
um déficit de US$ 80 bilhões pa-
ra 2013. Assim, foi criado um cir-
culo vicioso perverso: a remessa de
dólares gera déficit, exigindo a atra-
ção de mais capital estrangeiro pa-
ra cobri-lo. O governo atrai capital
estrangeiro através de juros altíssi-
mos ou realizando privatizações.
Essas duas modalidades agravam o
problema, porque aumentam as re-
messas de lucro futuras. Se esta san-
gria não for estancada, vira hemor-
ragia e poderá consumir ao longo
das próximas décadas toda a rique-
za de US$ 20 trilhões prevista do
pré-sal. Isso sem que o seu verda-
deiro dono, o povo brasileiro, ob-
tenha qualquer vantagem.
Assim, aproveitando-se de
nossas limitações, o cartel inter-
nacional pretende usufruir lucros
fantásticos sem riscos para remetê-
-los para fora. É preciso parar es-
sa insanidade, não privatizando
mais o patrimônio público, insti-
tuindo uma política industrial que
fomente a criação de empresas ge-
nuinamente nacionais públicas ou
privadas e revendo a lei de remes-
sas de lucros.
A lei do governo Lula para o
pré-sal define a Petrobras como
operadora única da exploração do
petróleo e a participação obriga-
tória em todos os consórcios ex-
ploradores com no mínimo 30%
do investimento. Isso contraria os
interesses internacionais, pois ter
a Petrobras como operadora ini-
be as duas maiores fontes de cor-
rupção na produção internacional
do petróleo: o superfaturamento
nos custos de produção (ressarci-
dos em petróleo) e a medição frau-
dulenta da produção, sempre pa-
ra baixo. O Tribunal de Contas da
União constatou em auditoria que
a ANP não realiza o acompanha-
mento sistemático dos volumes de
petróleo e gás natural que as ope-
radoras alegam produzir (Acór-
dão 657/2013, no processo TC
010.147/2012-8), o que motivou
o Senado a requerer explicações ao
Ministro de Minas e Energia.
Mais grave: o leilão do Campo
de Libra e os próximos do pré-sal
ocorrem num momento em que
a Petrobras está sendo, irrespon-
savelmente, estrangulada finan-
ceiramente pela política governa-
mental que a obriga a importar
combustíveis e repassar ao merca-
do nacional por preços menores,
mas não obriga as suas concorren-
tes a fazer o mesmo. Trata-se de
um absurdo, porque a Petrobras
não tem mais o monopólio na im-
portação de petróleo e derivados,
e, portanto, não tem o dever de
vender com prejuízo em relação às
suas concorrentes.
Esse estrangulamento financei-
ro proposital está fazendo com que
a empresa fique impedida de ter
uma maior participação no consór-
cio vencedor. Além disso, em razão
do inexplicável e elevadíssimo va-
lor do bônus de adiantamento en-
volvido, também dificilmente te-
remos participação significativa de
empresas nacionais ou mesmo es-
trangeiras não pertencentes ao car-
tel. A quem interessa o afastamento
da Petrobras, a redução da concor-
rência no leilão e a desnacionaliza-
ção de uma riqueza que pertence
ao povo brasileiro?
O petróleo é um recurso mi-
neral estratégico, não renovável e
cada vez mais escasso, que, além
de combustível ainda insubstituí-
vel (move 90% do transporte do
mundo), é matéria-prima para
mais de 3.000 produtos petroquí-
micos (presente em 85% dos pro-
dutos que usamos). O Brasil é um
país privilegiado, pois sua matriz
energética para os próximos 20
anos dependerá de apenas 53% de
combustíveis fósseis, ao passo que
no resto do mundo a dependência
ficará em 86%.
A Petrobras é líder mundial na
exploração e produção de petróleo
em águas profundas, reconhecida
mundialmente pela OTC (Offsho-
re Technology Conference), que já
lhe concedeu dois prêmios. Meta-
de da exploração e produção mun-
dial de petróleo no mar é feita pela
Petrobras. Por outro lado, a histó-
ria demonstra que a presença es-
trangeira na indústria do petróleo
é fator de inquietação social, insta-
bilidade política, fraudes, guerras,
corrupção, assassinatos, golpes de
estado e outros incidentes.
O artigo 12º da nova lei do
petróleo permite que o governo,
atendendo ao interesse nacional e
ao suprimento de energia, negocie
com a Petrobras a cessão de áre-
as, sem leilão, e mediante contra-
to de partilha de produção. Se o
governo fizer isso pode obter um
superávit primário muito maior
do que pretende com a entrega às
multinacionais. Tomar o campo
de Libra e leiloá-lo é entregá-lo ao
cartel internacional do petróleo.
O governo admite explicitamente
sua submissão aos interesses dos
rentistas e dos grandes bancos, ao
“justificar” a necessidade de atin-
gir a meta do superávit primário.
Mas os fatos mostram que, além
do absurdo desta submissão ad-
mitida explicitamente, há outra,
não admitida, mas igualmente in-
contestável: a submissão ao cartel
internacional do petróleo. Leiloar
petróleo é um contrassenso, mas
leiloar petróleo já descoberto, e o
maior campo do Brasil, é um ver-
dadeiro crime de lesa-pátria que
comprometerá o nosso futuro e
o das gerações vindouras de bra-
sileiros. Os brasileiros, onde pu-
derem, devem dizer um rotundo
“não aos leilões do petróleo”, pois
eles são desnecessários, inoportu-
nos e injustificáveis.
* Raul Tadeu Bergmann é engenheiro
aposentado da Petrobras e diretor da As-
sociação dos Engenheiros da Petrobras
(Aepet).
** Roberto Requião é senador pelo Esta-
do do Paraná.
8 Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Marcelo Simas*
Dois recursos não convencio-
nais darão o tom do merca-
do global de óleo e gás (O&G) nos
próximos anos: o shale gas nos EUA
e o pré-sal no Brasil. Neste cenário,
que papel o Brasil terá no futuro?
E quanto às descobertas do shale
gas, que têm provocado uma revo-
lução na geopolítica do O&G, até
recentemente subestimada? Quais
as diferenças e similaridades entre
a utilização e os impactos dos dois
recursos em cada país? As conse-
quências deste novo cenário ainda
não estão claras, mas nos permitem
vislumbrar alguns importantes des-
dobramentos.
O que são pré-sal e
shale gas/shale oil?
Recursos não convencionais são
aqueles cuja viabilidade técnica-e-
conômica ainda não está totalmen-
te desenvolvida. No caso do pré-sal,
seus reservatórios são constituídos
por óleo leve nas Bacias de Santos
e Campos. Atualmente são produ-
zidos 300 mil bpd de óleo do pré-
sal,15% da produção da Petrobras.
O shale gas é o gás aprisiona-
do dentro de folhelhos, de baixa
permeabilidade. Seu crescimento
foi exponencial: de 1% da produ-
ção doméstica em 2000 alcançou
35% em 2012, segundo dados da
Energy Information Administra-
tion dos EUA (EIA). Já o shale oil
é o óleo que se forma numa rocha
com características geológicas
semelhantes ao shale gas, possibi-
litando seu aprisionamento (tam-
bém conhecido como tight oil).
Devido às similaridades, sua pro-
Shale gas x pré-sal: os impactos dos recursos não
convencionais nas políticas públicas dos EUA e Brasil
dução foi intensificada em função
dos avanços na produção de gás. É
um óleo leve que está substituindo
as importações.
Shale gas x pré-sal:
uma comparação
Mas o que há de diferente nos
dois recursos, que são contempo-
râneos?
O shale gas é um dos principais
instrumentos do governo ameri-
cano para combater a crise desde
2007, devido ao alto impacto de
suas atividades. Sua produção é
em terra, feita por pequenas e mé-
dias empresas, sendo intensiva em
mão de obra e próxima aos gran-
des centros consumidores, contri-
buindo para a redução do desem-
prego nos últimos anos. O pré-sal
foi pensado desde sua descober-
ta em 2006 como um carro-chefe
para o desenvolvimento econômi-
co, trabalhando a cadeia de valor
de O&G como um todo para ge-
ração de emprego, já que a indús-
tria é intensiva em capital (Progra-
ma de Mobilização da Indústria
Nacional de Petróleo e Gás - Pro-
minp e política de conteúdo lo-
cal). Sua produção é no mar, por
meio de grandes empresas e altís-
simos investimentos.
Quanto à propriedade do solo
e subsolo, nos EUA ambos perten-
cem ao dono da terra. Assim, o rit-
mo das novas descobertas é ditado
pelo mercado, bem como os inves-
timentos são mais estáveis e descon-
centrados. No Brasil, como o subso-
lo pertence à União, o ritmo é dado
pelos leilões promovidos pela ANP
e os investimentos são muito maio-
res e mais concentrados (os leilões só
foram retomados este ano, após sua
suspensão em 2008).
Com relação à logística, os
EUA desenvolveram a indústria
de gás desde o século XIX e pos-
suem 400 mil quilômetros de ga-
sodutos com capilaridade que o
torna um caso único no mundo.
No Brasil, a infraestrutura de óleo
é dos anos 1980, concentrada na
Bacia de Campos; a malha de ga-
sodutos possui 10 mil km, menos
de 3% da americana.
Um poço de shale dura de três
a cinco anos, necessitando cons-
tantemente novas descobertas pa-
ra ampliar a produção. Segundo a
EIA, as reservas com a tecnologia
disponível supririam a demanda
atual por mais de 100 anos, uma
situação confortável. No pré-sal,
a taxa de sucesso dos novos po-
ços (poços com óleo/total de po-
ços perfurados) é superior à média
da indústria, segundo a Petrobras
(82% contra 35%), para quem há
expectativas de reservas que po-
dem dobrar o volume atual de 16
para 31 bilhões bbl até 2020.
Com relação ao custo, a fim de
incentivar o shale, o governo ame-
ricano concedeu subsídios tan-
to na produção (custo <US$ 10/
barril de óleo equivalente - boe)
quanto na comercialização, o que
permitiu a redução dos preços do
gás em mais de dois terços desde
2005 (média de US$ 9, para US$
3 MMBTU em 2012). No entan-
to, o que torna o shale gas rentável
é o shale oil, já que boa parte do
gás é associado (O&G no mesmo
reservatório). No caso do pré-sal,
os custos ainda são extremamente
elevados e sua rentabilidade se dá a
partir de US$ 40 a 45/bbl.
Quanto à tecnologia, a expan-
são do shale deveu-se à junção de
duas outras que o viabilizaram
desde 2000: a perfuração horizon-
tal de poços e o fraturamento hi-
dráulico das rochas entre 3.000 a
5.000 metros de profundidade.
Há riscos ambientais, como a con-
taminação dos aquíferos (300m
de profundidade), e grande utili-
zação de água com produtos quí-
micos (11 MM l para estimular
cada poço!), sendo imprevisíveis
suas consequências, principal-
mente seu descarte. Os desafios
tecnológicos do pré-sal se devem
a dificuldades na perfuração, recu-
peração e logística (plataformas a
300 km da costa).
Por fim, a regulação deficien-
te do shale coloca em xeque seus
benefícios, como se pode obser-
var na guerra de versões empre-
sas x ambientalistas sobre sua ex-
ploração. No pré-sal aprendemos
com os acidentes da BP, no Golfo
do México, e Chevron, na Bacia
de Campos, e há forte apelo na so-
ciedade relativamente à segurança
nas novas áreas, além da própria
regulação estar sendo aprimorada.
9Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Perspectivas futuras
A tendência do Brasil com o
pré-sal é de, até 2020, consolidar
sua posição de player mundial e de
grande exportador fora da OPEP.
A produção prevista é de cerca de
cinco milhões de barris de óleo
por dia, sendo 50% proveniente
do pré-sal. As exportações alcan-
çarão 1,5 a 2 milhões de barris por
dia, segundo a ANP, passando o
país definitivamente de importa-
dor de óleo a exportador.
Impactos profundos serão sen-
tidos em relação à participação
dos EUA no mercado: o maior
consumidor mundial terá sua de-
pendência energética significati-
vamente diminuída. O consumo
de combustíveis nos EUA, após
atingir seu ápice em 2005 com
60% dependente de importações,
seis anos depois despencou para
45% e projeções indicam 37% em
2035 (Figura 1). Quanto ao gás,
em 2011 a produção doméstica já
era responsável por 95% do con-
sumo, o que permitiu não só re-
duzir as crescentes importações de
gás natural liquefeito (GNL), bem
como reverter esta posição e pre-
ver que os EUA serão exportado-
res líquidos de gás já em 2016. Em
2035 os EUA chegarão a apenas
10% de importações líquidas de
energia, considerados todos os ti-
pos de fontes (Figura 2).
Segundo a International Energy
Agengy (IEA) da OCDE (2012), os
EUA se tornarão o maior produtor
de óleo e gás do mundo em mea-
dos de 2020. Com o aumento da
produção doméstica, em 10 anos
os EUA deixarão de importar do
Oriente Médio. A partir da saída
dos EUA do mercado consumidor,
tornando-se um possível exporta-
dor, o espaço para as exportações
brasileiras diminuirá, restando a
China e a Índia como potenciais
compradores, motivo pelo qual de-
vemos acelerar o pré-sal se quiser-
mos ganhar market share antes da
chegada dos EUA ao mercado.
Em 2011, os EUA importa-
ram cerca de US$ 450 bilhões em
óleo e derivados, o equivalente a
seu déficit corrente de US$ 466
bilhões. O aumento da produção
de óleo e sua posição de exporta-
dor de gás no futuro permitirá ao
país fazer grandes ajustes nos défi-
cits fiscal e corrente – redução da
dependência energética e gastos
militares –, podendo assim reto-
mar sua hegemonia, abalada com
a crise econômica de 2007. Volta-
remos assim a uma ordem mun-
dial unipolar como no período
pós-queda do Muro de Berlim? Só
o futuro dirá.
Bibliografia:
Annual Energy Outlook 2013 Ear-
ly Release Overview da EIA/DoE in:
http://www.eia.gov/forecasts/aeo/er/
pdf/0383er(2013).pdf
BP Statistical Review of World Energy
2013 in: www.bp.com/statisticalreview
EIA.2013. U.S. Crude Oil, Natural Gas,
and Natural Gas Liquids Reserves Annu-
al Report. http://www.eia.gov/naturalgas/
crudeoilreserves/. Abril 2013.
* É economista da Petrobras desde 1998,
trabalha atualmente no Cenpes e é profes-
sor de Geopolítica do Petróleo na UFRJ
e Análise de Investimentos na Universida-
de Petrobras. Contato: mmsimas@petro-
bras.com.br
Figura 2 – Produção x Consumo de Energia Primária
dos EUA 1980-2040 (1015 Btu)
Fonte: EIA
Figura 1 – Importação líquida de combustíveis
dos EUA 1970 – 2040 (MM bpd)
Fonte: EIA
Xisto
10 Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Paulo Metri*
Adescoberta do pré-sal capa-
cita o Brasil a ser um gran-
de produtor mundial de petróleo
e também um exportador. No
entanto, não é garantido que o
balanço dos impactos para a so-
ciedade brasileira será positivo.
Hoje, o pré-sal é foco da cobi-
ça do capital internacional, em
virtude da extraordinária lucra-
tividade da produção petrolífera,
da contribuição para o abasteci-
mento mundial, do lucro com o
refino no exterior e da compra
de fornecedores estrangeiros de
bens e serviços.
Quem usufrui do nosso petróleo?
Em 2011, 57% da energia
consumida no mundo era prove-
niente de petróleo e gás natural.
Em geral, as maiores economias
do planeta não possuem petróleo,
enquanto os grandes excedentes
de produção estão concentrados
em países em desenvolvimento.
Mesmo com o aumento da par-
ticipação de outras fontes na ma-
triz energética mundial, inclusive
o polêmico xisto, petróleo e gás
ainda serão importantes fontes
energéticas em décadas futuras.
A ocorrência do pico da produ-
ção petrolífera mundial é passível
de discussão. No entanto, o fa-
to de as empresas petrolíferas es-
tarem investindo em novas áreas
transmite a sensação que o pe-
tróleo e o gás convencional con-
tinuarão sendo importantes fon-
tes, eventualmente mais escassas.
As forças políticas atuantes
no país têm diferentes objetivos
neste e em outros setores. A pres-
são exercida pelo capital interna-
cional sobre o governo brasilei-
ro é em direção conflitante com
o interesse da sociedade. O po-
vo não sabe quase nada do que
seus representantes decidem em
seu nome, tal o nível de aliena-
ção em que vive, e, infelizmente,
poucos destes representantes cui-
dam dos interesses do povo. Os
tradicionais veículos de mídia,
com raras exceções, não servem
para conscientização da popula-
ção, pois na verdade são instru-
mentos de convencimento do ca-
pital. O governo estadunidense,
como maior representante do ca-
pital, manda seu vice-presidente
distribuir recados aqui, que vão
desde a presidente da Republica
à presidente da Petrobras.
Quando o capital internacio-
nal ganha blocos no Brasil, além
do lucro da atividade ir para o ex-
terior, o país perde a possibilidade
de fazer acordos com outras na-
ções em que o suprimento de pe-
tróleo faria parte da negociação.
Mas o Brasil assinou contratos
com petroleiras internacionais,
que não permitem ao governo
determinar para onde o petróleo
brasileiro deve ir. Enfim, por estes
contratos, o petróleo aqui produ-
zido, se não é da Petrobras, não é
mais brasileiro.
O monopólio estatal é a me-
lhor opção de modelo para a ati-
vidade petrolífera de um país em
desenvolvimento, se a maximiza-
ção dos benefícios para a socieda-
de for o objetivo. Haja vista que
o Brasil teve o suprimento de pe-
tróleo garantido nos últimos 60
anos, suportando várias fases de
11Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
desenvolvimento e é detentor de
inegável infraestrutura petrolífe-
ra, que inclui uma das maiores
províncias petrolíferas do mun-
do, o pré-sal. Se não tivesse exis-
tido o monopólio, que deu ori-
gem à Petrobras, e só existissem
empresas estrangeiras no Brasil, o
pré-sal ainda não teria sido des-
coberto. A lógica das corpora-
ções, diferentemente da lógica do
Estado, não visa atingir priorita-
riamente benefícios sociais.
O monopólio estatal foi ex-
tinto no Brasil na década neoli-
beral. Sem monopólio, a explora-
ção de petróleo no mundo é feita
a partir de três tipos de contratos
entre empresas e Estados nacio-
nais: concessão, contrato de par-
tilha e contrato de serviços. Estão
ordenados do de mínima possi-
bilidade de controle pelo país e
menor benefício para sua socie-
dade até o de mínima satisfa-
ção para as empresas. Em 1997,
o Brasil optou pelo pior mode-
lo para a sociedade, o das conces-
sões (lei 9.478), em que só royal-
ties sobram para ela. A empresa
que descobre petróleo nem tem
a obrigação de abastecer o pa-
ís. Cerca de 900 blocos já foram
concedidos através deste modelo,
até hoje. Inclusive, 28% da área
do pré-sal já foram concedidos.
No contrato de partilha, além
de existirem os royalties, há uma
contribuição da empresa para o
Fundo Social e a entrega de par-
te do petróleo para o país comer-
cializar. É o modelo dos novos
contratos da área do pré-sal (lei
12.351). O contrato de serviços
é o melhor para a sociedade pe-
lo Estado ficar com todo lucro e
todo o petróleo. Contudo, o go-
vernante precisa ter muita for-
ça política para aplicá-lo. Países
em desenvolvimento com razoá-
vel grau de soberania tendem a
assinar contratos de partilha ou
de serviços.
Com a democracia que con-
seguimos ter, o Estado brasilei-
ro está loteado entre grupos de
interesse privado. O capital in-
ternacional está firme no setor
de energia e mineração, com al-
guma participação do capital
nacional. O autoritarismo dos
diversos órgãos com responsa-
bilidade sobre as decisões do se-
tor do petróleo só é justificado
pela prepotência de quem tem
total controle da situação. Não
prestam conta da razão da gran-
diosidade da entrega de blocos
que fazem, dos anos de abaste-
cimento garantido que resta ao
país, dos volumes de petróleo a
serem exportados e outras de-
cisões. O próximo leilão de Li-
bra, um campo do pré-sal, cujas
reservas são avaliadas entre oi-
to e doze bilhões de barris, é o
maior exemplo deste autorita-
rismo. Entregar 70% da reser-
va conhecida deste campo a em-
presas estrangeiras, que sempre
exportarão suas produções sem
adicionar valor algum, nun-
ca contribuirão para o abaste-
cimento do país, dificilmente
contratarão plataformas no Bra-
sil, o item de maior peso nos in-
vestimentos, não gerarão muitos
empregos aqui, não pagarão im-
postos, graças à lei Kandir, e só
pagarão os royalties e uma par-
cela “combinada” do lucro é o
exemplo máximo da desfaçatez.
O governo deveria entregar
sem leilão este campo à Petrobras,
que assinaria um contrato de par-
tilha com a União, atendendo ao
artigo 12 da lei 12.351, e ela fa-
ria o que as empresas estrangeiras
não fazem. Determinado jornal
econômico publicou que “as con-
tas da União neste ano só fecharão
se essa receita do bônus de assina-
tura de Libra ingressar nos cofres
públicos”. Assim, constata-se que
o Brasil continua preso ao fecha-
mento de suas contas. Creio que,
propositadamente, exauriram a ca-
pacidade financeira da Petrobras
com leilões desnecessários, pois o
país está abastecido por mais de 40
anos. A partir da 11ª rodada, o ca-
pital internacional irá sempre ga-
nhar vários blocos, graças a plano
maquiavélico com aprovação do
governo do Brasil.
Para fechar as contas, o gover-
no fixou o bônus de assinatura
de Libra, que é recebido no cur-
to prazo, em R$ 15 bilhões, acima
do esperado, abrindo mão de par-
te da parcela que irá para o Fundo
Social. Em outras palavras, ele es-
tá trocando o recebimento de me-
nos lucro durante 25 anos futuros
por mais bônus agora, o que re-
presenta receber um empréstimo
a 22% ao ano acima da inflação,
um mau negócio.
As concessões não deveriam
ser nunca assinadas, pelo me-
nos, em novas fronteiras. O pre-
juízo para a sociedade brasileira
será grande se ficar comprovado
que a margem equatorial é uma
província petrolífera, pois blo-
cos dela foram arrematados para
assinatura de concessões na re-
cente 11ª rodada.
Para explicar o “furor entre-
guista” existente nas rodadas, a
ANP argumenta que as bacias se-
dimentares brasileiras são pouco
conhecidas. Porém, esta agência
esquece que nem todas as áreas
sedimentares são atrativas para
a busca de petróleo, podendo-se
citar, como exemplo, o setor SF-
ZA-AR1 ofertado na 11ª roda-
da, onde existiam 56 blocos e so-
mente dois receberam propostas.
Outro erro da ANP é que assinar
concessões, danosas para a socie-
dade, para buscar um melhor co-
nhecimento das bacias não é in-
teligente.
A Associação dos Engenhei-
ros da Petrobras nos informa que
esta empresa já descobriu no pré-
sal 60 bilhões de barris, em blocos
arrematados através de leilões pe-
la lei das concessões. Entretanto,
ela só possui parte deste petróleo,
porque, devido à pressa da ANP
em leiloar, em muitos contra-
tos, ela está associada a petrolei-
ras estrangeiras. Gostaria de saber
quanto já foi entregue de petróleo
para as empresas estrangeiras, mas
os dados disponíveis na ANP não
permitem este cálculo.
Pensava-se que o pré-sal iria
alavancar um desenvolvimento
brasileiro, graças ao tamanho das
suas encomendas. No entanto,
está ocorrendo a compra de em-
presas nacionais genuínas, tra-
dicionais fornecedoras da Petro-
bras, por empresas estrangeiras.
A exigência da ANP de “conteú-
do local mínimo”, que não é um
conteúdo local genuíno, surte
efeito junto à Petrobras, porém,
há dúvida com relação às empre-
sas privadas, porque os descum-
primentos desta exigência não
são divulgados pela ANP.
A boa novidade no Brasil são
as manifestações de um povo que
ainda titubeia entre as diversas rei-
vindicações que querem que ele
absorva. Visando sua maior cons-
cientização, sugiro que movimen-
tos sociais, centrais sindicais, sin-
dicatos e associações de classe e de
empregados sejam ouvidos. Espe-
ro que o povo descubra que Libra,
uma riqueza de US$ 1 trilhão, es-
tará sendo doada em outubro pró-
ximo. Meu receio é que o capital,
péssimo perdedor, venha a usar al-
go mais drástico para continuar a
dominação.
* É conselheiro do Clube de Engenharia.
12 Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Fernando Siqueira*
Na política, há casos que deve-
riam servir como ensinamen-
to para se evitar cair em erro idên-
tico no futuro. Edward Snowden,
ex-empregado da CIA, compro-
vou que o governo norte-america-
no espionava o mundo todo e, em
especial, o Brasil.
A convocação do embaixador
deste país, que supostamente é um
país amigo, pelo Congresso brasi-
leiro, deve ser feita, assim como o
pedido formal de esclarecimentos
do nosso governo ao país bisbilho-
teiro. Porem, isto não é o mais im-
portante, porque o governo nor-
te-americano, como sempre, irá
negar tudo que for possível negar
e diminuir a importância do que
não for possível negar.
Verdadeiramente importan-
te é o Brasil fechar sua porta para
não ser mais roubado e verificar,
dentre as informações já roubadas,
quais podem estar causando ou vir
a causar prejuízos para a socieda-
de. A lição precisa ser aprendida.
Não se pode mais confiar em equi-
pamento militar guiado por GPS
que utiliza satélite estrangeiro. A
indústria de defesa não pode se
basear em subsidiárias estrangeiras
sediadas no país. É preciso recupe-
rar a proteção à empresa nacional
genuína, retirada da Constituição
durante a revisão neoliberal dos
anos 1990. A ABIN fica fiscalizan-
do o MST, enquanto deixa soltos
os espiões norte-americanos. Gra-
ças a Edward Snowden, ficamos
sabendo: quem tem um amigo as-
sim, não precisa de inimigos. O
que fez o Brasil para merecer isto?
Com relação ao petróleo, a
questão é muito mais séria, uma
Snowden pode salvar o petróleo brasileiro
vez que o ministro das Comunica-
ções, Paulo Bernardo, admitiu em
11 de julho, em depoimento ao
Senado, que “há a possibilidade de
vazamento de informações estraté-
gicas do governo brasileiro, como,
por exemplo, dados sobre os lei-
lões de exploração do petróleo do
pré-sal”. Se houve este vazamen-
to de informações sobre o pré-
-sal, então, uma ou mais empre-
sas petrolíferas norte-americanas
podem ter informações privilegia-
das. Nesta situação, o princípio
da obrigatoriedade de igualdade
de informações e condições pos-
suídas pelas empresas participan-
tes dos leilões não está sendo res-
peitado.
Este raciocínio nos faz lembrar
o que ocorreu no sexto leilão de
petróleo promovido pela Agencia
Nacional do Petróleo – ANP. Es-
ta agência introduziu uma subjeti-
vidade no edital, que consistiu em
fixar um peso de 40% no critério
de julgamento das propostas pela
compra no País (conteúdo local).
A Aepet alertou a ANP na ocasião
de que este critério propiciaria a
manipulação dos resultados, pois
uma concorrente poderia propor
um conteúdo local alto, mesmo
impraticável, e ganhar a concor-
rência.
Foi o que aconteceu. A empre-
sa americana Devon apresentou
em sua proposta um conteúdo lo-
cal da ordem de 80%, inviável, e
ganhou da Petrobras, que apresen-
tou cerca de 60%. Assim, a Devon
ganhou o bloco CM-65 pagando
13Petróleo
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
um bônus de assinatura bem me-
nor do que o oferecido pela Pe-
trobras. O fato relevante é que a
Devon conhecia a proposta da Pe-
trobras e sabia qual o percentual
que ela ofereceria.
É fundamental para a socie-
dade brasileira que o Ministério
Público requeira a suspensão do
primeiro leilão com contrato de
partilha, o do campo de Libra, lo-
calizado no pré-sal, que está mar-
cado para outubro próximo. E
existem vários motivos para isto:
1) O campo de Libra foi ce-
dido à Petrobras para sua capita-
lização através da cessão onerosa:
o governo cedeu cerca de seis blo-
cos à Petrobras, que deveriam con-
ter 5 bilhões de barris; a Petrobras
pagou por estes blocos com títu-
los de governo, e este usou os tí-
tulos para recomprar ações da Pe-
trobras. A Petrobras perfurou o
primeiro deles, Franco, e achou
reservas da ordem de 9 bilhões de
barris; perfurou o segundo, Li-
bra, e achou cerca de 15 bilhões
de barris. A ANP poderia contra-
tar Libra com a Petrobras, via con-
trato de partilha, conforme prevê
o artigo 12º da nova lei do petró-
leo. Mas, ao invés disto, a ANP to-
mou Libra da Petrobras e vai leilo-
ar um campo que hoje é o maior
do mundo e com risco zero, pois
está perfurado, testado e compro-
vado. Não tem sentido leiloar um
“bilhete premiado”, quanto mais
dessa magnitude.
2) Se a Petrobras ficar com o
bloco, ela reinvestirá todo o lucro
no país; já as empresas estrangei-
ras remetem o lucro para fora, ge-
rando grave déficit nas contas in-
ternacionais.
3) A Petrobras já descobriu
mais de 60 bilhões de barris no
pré-sal, o que nos dá uma autossu-
ficiência de mais de 50 anos. Pre-
cisamos é de refinarias para expor-
tar petróleo refinado, com valor
agregado, pois exportar petróleo
bruto gera uma perda, só de im-
postos, de mais de 30%, além da
perda de empregos e desenvolvi-
mento tecnológico.
4) A Petrobras, como pionei-
ra na prospecção em águas pro-
fundas, é quem mais conhece a
tecnologia, pois por necessidade,
procurou ajudar nesse desenvolvi-
mento. Além do mais, como esta-
tal ela não faz concessões à insegu-
rança. Por exemplo: a Transocean,
que é uma prestadora de serviços
de perfuração, perfurou para a BP
em Macondo, no Golfo do Méxi-
co, e causou grave acidente porque
a BP mandou economizar na ci-
mentação. A Transocean furou pa-
ra a Chevron na Bacia de Campos
e causou acidente por não ter re-
vestido o poço e isolado o reser-
vatório superior antes de perfurar
o inferior. Como a pressão do se-
gundo era mais alta, houve ruptu-
ra do reservatório superior. A mes-
ma Transocean já perfurou mais
de 25 poços para a Petrobras e não
houve acidentes.
Portanto, não tem sentido lei-
lões de petróleo se o País já tem pe-
tróleo descoberto que lhe garan-
te uma grande autossuficiência e
se a Petrobras pode pesquisar com
muito mais segurança e desenvol-
vimento consolidado da tecnolo-
gia. Enquanto isso, deve-se prio-
rizar mais a construção de novas
refinarias, que permitem exportar
derivados com valor agregado, ge-
rando mais lucro, mais emprego e
mais desenvolvimento tecnológico.
Como há uma pressão exter-
na muito forte, visto que os paí-
ses desenvolvidos e o cartel inter-
nacional do petróleo estão numa
grande insegurança energética por
não serem detentores de reservas,
o governo precisa atrair a socieda-
de para fazer a contrapressão nas
ruas para não liberarmos a nossa
maior riqueza para atender à de-
manda desses atores. A vinda do
vice-presidente norte-americano
Joe Biden para falar com a presi-
dente Dilma e com a presidente
da Petrobras mostra bem a dimen-
são dessa pressão. E, como disse
o Papa, “jovem que não protesta
não me agrada”.
Lembramos ainda outro fa-
to ocorrido na época do 6º lei-
lão da ANP: a Aepet entrou com
uma ação de inconstitucionalida-
de (ADI) no STF, através do Sena-
dor Roberto Requião, para anular
o artigo 26 da Lei 9478/97, que
diz que o petróleo é totalmente
de quem produz. E obriga o pro-
dutor a pagar só 10% de royalties
(eventualmente uma participação
especial que monta cerca de 11%
para os campos de alta produção,
que, hoje, só a Petrobras paga).
Houve dois votos magistrais favo-
ráveis à ADI: dos ministros Ayres
Brito e Marco Aurélio Mello. Eis
que o presidente Lula entrou no
circuito e ajudou a derrubar a
ADI. Perguntou-se aos compa-
nheiros do PT: por que o Lula es-
tá contra o interesse nacional? A
resposta foi: “ele recebeu a men-
sagem dos EUA: “se esta ADI pas-
sar, desista da reeleição”. Portan-
to, temos motivos para crer que a
vinda do vice-presidente america-
no foi para trazer a mensagem de
Obama para Dilma: “Entrega Li-
bra e o pré-sal ou desista da ree-
leição”. Só que Lula, reeleito, deu
a volta por cima, criou o GT pa-
ra rever a Lei de FHC e acabou
gerando a nova lei do petróleo, a
12351/2010, que, embora peque
por não ter eliminado os leilões,
trouxe avanços consideráveis, tais
como: a mudança de contrato de
concessão (propriedade de quem
produz) para partilha de produção
(a União volta a ter a proprieda-
de do petróleo) e a Petrobras ser
a operadora única. Esta operação
cria pelo menos duas condições
favoráveis: a primeira é que a Pe-
trobras é quem compra no mer-
cado nacional, gerando empre-
go e tecnologia. A segunda e mais
importante é que isso dificulta a
ocorrência das duas maiores inci-
dências de corrupção na produção
internacional: o superfaturamento
dos custos de produção, ressarci-
dos em petróleo, e a medição pa-
ra menos do petróleo produzido.
Talvez seja por estas gestões
do Lula que se criou uma forte
reação contra ele dos EUA e do
cartel internacional do petróleo,
que querem destruí-lo através da
grande mídia.
Assim, propomos que o MP
suspenda de imediato os leilões
de petróleo por suspeita de favo-
recimento e informação privile-
giada e que o povo vá para as ru-
as, não por 20 centavos, mas por
riqueza da ordem de US$ 20 tri-
lhões, para contrabalançar a pres-
são internacional. Há que defen-
der a maior riqueza do País, que
permitiria que o Brasil se transfor-
masse numa potência econômica,
financeira e tecnológica, erradi-
cando todos os graves problemas
de saúde, educação e mobilidade
urbana. Enquanto uma averigua-
ção sobre os danos da espionagem
não for concluída, todo leilão tem
que ser suspenso de imediato.
Se não tivessem desmoralizado
o Prêmio Nobel da Paz com pre-
miados que nunca ajudaram a paz
no mundo, Snowden poderia ser
lançado candidato, atendendo ao
desejo de grande parte da popula-
ção mundial, por ser um dos ver-
dadeiros construtores da paz.
* É vice-presidente do Clube de Engenha-
ria e da Associação dos Engenheiros da Pe-
trobras (Aepet).
14 Saúde
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
Maria Malta*
Os hospitais universitários
(HUs) são equipamentos
sociais de educação e saúde. São
hospitais-escola e como tais se
caracterizam por serem parte da
universidade pública, atenden-
do ao projeto político-pedagó-
gico das instituições de ensino
às quais se associam. São pelo
menos 13 cursos diferentes que
encontram nos hospitais seus
espaços de formação prática: me-
dicina, enfermagem, farmácia,
biomedicina, fisioterapia, fono-
audiologia, nutrição, psicologia,
terapia ocupacional, musicote-
rapia, odontologia, medicina fo-
rense e serviço social. A estrutu-
ra dos HUs é tão complexa que
poderia ainda ser utilizada pa-
ra a prática de estudantes de en-
genharia, química, física, admi-
nistração, direito e economia, só
para dar os exemplos mais evi-
dentes. Esta formação não se dá
apenas em âmbito de graduação,
mas também de pós-graduação,
em especial no que se refere às
residências médica e multipro-
fissional, no campo da pesquisa
clínica e pré-clínica e no desen-
volvimento de tecnologias e pro-
cessos inovadores.
Um hospital-escola da uni-
versidade pública tem o mes-
mo objetivo que a universidade:
promover o ensino, a pesqui-
sa e a extensão universitária de
forma pública, gratuita e com
qualidade. No caso dos hospi-
EBSERH: proposta do MEC
para desconfigurar e empresariar
os hospitais de ensino
tais universitários, seu princi-
pal braço de extensão é a assis-
tência à saúde, o atendimento à
população por meio de sua vin-
culação com o Sistema Único
de Saúde (SUS). No campo da
assistência à saúde os hospitais
universitários desempenham as
funções de centros de referên-
cia de média e alta complexida-
de com o objetivo não apenas
de atender às demandas do sis-
tema, mas também desenvolver
e avaliar novas tecnologias com
a finalidade de incorporação das
melhores ao SUS.
Os hospitais-escola são as
grandes incubadoras da novida-
de, da eficiência e do desenvolvi-
mento da formação e da prática
da saúde no país com o foco nas
necessidades da população. Por
isso têm que ser públicos e não
podem ser permeados por inte-
resses econômicos que desloquem
seu eixo da formação e da neces-
sidade social para a produtivida-
de e a lucratividade (às vezes apre-
sentada com outros nomes, como
relação custo-benefício ou gestão
racional de recursos).
Apesar da dupla vinculação
dos HUs com o Ministério da
Educação (MEC) e com o Mi-
nistério da Saúde (MS), a maior
parte do financiamento destes
hospitais, até 2010, foi de res-
ponsabilidade do MEC (pelo
menos 70% do orçamento), que
tem o quadro de trabalhadores
como sua principal despesa. Is-
so significou que os recursos dis-
poníveis para manutenção e mo-
dernização dos hospitais eram
muito restritos, o que causou um
subfinanciamento destes hospi-
tais, por anos, e prejudicou sen-
sivelmente as condições de tra-
balho, ensino e pesquisa.
Em 27 de janeiro de 2010,
aparentemente reconhecendo a
necessidade de enfrentar o pro-
blema do abandono dos HUs pe-
lo Estado, o decreto presidencial
n° 7082 instituiu que o finan-
ciamento dos hospitais univer-
sitários federais seria partilhado,
paritariamente, entre as áreas
de educação e saúde. Este mes-
mo decreto instituiu também o
Programa Nacional de Reestru-
turação dos Hospitais Universi-
tários Federais (REHUF) para
“revitalização dos hospitais das
universidades federais, integra-
dos ao SUS”. Apontava ainda
que modernização dos HUs de-
pendia também da iniciativa das
próprias universidades de apre-
sentar planos de reestruturação
de seus hospitais, na medida em
que deveriam ser respeitadas em
sua autonomia.
As universidades reivindicam
seus hospitais. Os recursos para
recuperá-los precisam ser aplica-
dos pela própria instituição, res-
peitando a lógica da formação e
da pesquisa a serviço das neces-
sidades da população da região
em que cada um destes hospi-
tais se insere. O projeto políti-
co-pedagógico de cada curso que
se servir do hospital deve incluir
um compromisso com seu fun-
cionamento. Os professores en-
volvidos com os hospitais devem
dedicar parte de suas horas de
trabalho à extensão e ao ensino
nestes locais, cumprindo seu pa-
pel de supervisores, preceptores e
profissionais de referência, inclu-
15Saúde
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
sive nas áreas que não são direta-
mente ligadas à atenção à saúde.
Os cursos devem assumir enfer-
marias, salas de cirurgia, admi-
nistração de compras e licitação,
além das salas de aula e laborató-
rios de pesquisa. Enfim, as uni-
dades acadêmicas precisam assu-
mir a direção geral do hospital,
que apenas por elas dirigido será
de fato um hospital-escola.
Ao mesmo tempo o MEC,
por meio da Coordenadoria Ge-
ral dos Hospitais Universitários
(que viraria mais tarde uma em-
presa) estabeleceu lógica da ma-
triz de distribuição dos recur-
sos com base em um indicador
composto que pudesse compa-
rar e hierarquizar hospitais uni-
versitários. Tal indicador toma-
va por base três critérios: porte,
desempenho e integração com o
SUS. Quanto ao porte, os hospi-
tais são medidos de acordo com
o número de leitos ativos, leitos
de UTI, partos de alto risco, sa-
las cirúrgicas e habilitações para
atendimento. Quanto ao desem-
penho, os indicadores de refe-
rência são as relações funcioná-
rios/leito, estudantes/docentes,
docentes/residentes, pesquisas/
docentes, internações/estudan-
tes de medicina e internações/
residentes; taxa de ocupação;
média de permanência geral e
especialidade (sem hospital dia)
e média de permanência na ma-
ternidade. O último aspecto do
indicador depende da integração
do hospital com o SUS, que to-
ma como referência a variedade
de portas de entradas e o nível
de contratualização.
A maior parte dos indicadores
toma com referência o número de
leitos. O peso do número de lei-
tos na avaliação dos hospitais re-
flete um desconhecimento das
importantes mudanças na medi-
cina hospitalar ocorridas nas últi-
mas quatro décadas. Há aumento
do número de trabalhadores em
relação aos leitos em todos os hos-
pitais, visando melhorar o servi-
ço prestado. Esta tendência refle-
te principalmente um maior uso
de tecnologia intensiva em equi-
pamentos de alta complexidade
em exames e tratamentos, o que
não gera leitos, mas necessita pes-
soal especializado para operação,
supervisão de procedimentos,
manutenção adequada e treina-
mento, ao mesmo tempo em que
reduz o tempo de diagnóstico e
aumenta a eficácia dos tratamen-
tos. Além disso, outra tendência
que cumpre um papel semelhan-
te à anterior é o maior atendi-
mento ambulatorial e em hospi-
tal dia. Seu impacto nos hospitais
demanda mais pessoal para este
tipo de atendimento, no entan-
to também implica menor tempo
de internação, menor risco de in-
fecção hospitalar e maior confor-
to ao paciente.
Se estas são tendências dos
hospitais gerais em busca de uma
medicina de melhor qualidade,
imagine-se em hospitais de ensi-
no, que tendem a ter mais pes-
soal em virtude das atividades
de ensino, preceptoria e pesqui-
sa. Tais indicadores são extrema-
mente inadequados para medir
isoladamente o desempenho dos
hospitais-escola.
A estranheza da escolha des-
tes indicadores só começou a fa-
zer sentido quando, em 15 de de-
zembro de 2011, foi aprovada a
Lei Federal nº 12.550, criando
a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (EBSERH). A lei
contraria o princípio afirmado no
decreto de 2010 de que as univer-
sidades deveriam avaliar e propor
as soluções para os seus hospitais.
A proposta da empresa retira das
universidades as competências de
administrar unidades hospitala-
res, bem como prestar serviços
de assistência médico-hospitalar,
ambulatorial e de apoio diagnós-
tico e terapêutico à comunidade
no âmbito do SUS e inclui em
seus “clientes”, além das institui-
ções federais de ensino superior,
outras “instituições congêneres”.
Some-se a isso a determinação
de que todos os recursos que as
universidades federais recebes-
sem para atender às necessida-
des dos hospitais deveriam passar
ao controle da referida empresa,
compondo o seu capital. Assim,
a lei propõe que os hospitais-es-
cola deixem de ser administra-
dos pela universidade e transfor-
mem seu compromisso social de
serem os espaços de formação,
pesquisa e atendimento de mé-
dia e alta complexidade para se-
rem locais centrados em metas de
atendimento.
A transformação dos hospi-
tais-escola em hospitais de uma
empresa pública de direito pri-
vado também revela outra lógica
perversa no que se refere às rela-
ções de trabalho naqueles hos-
pitais. As novas contratações se-
rão regidas pela Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT). Es-
ta mudança retira do trabalhador
seu status de funcionário públi-
co, com fé pública, suas respon-
sabilidades regidas pela lei 8112
(a lei que institui o Regime Ju-
rídico Único – RJU) e seu com-
promisso com uma ação sempre
orientada para atender as neces-
sidades da população. Transfor-
ma o funcionário em um traba-
lhador sob as normas do direito
privado, em cujo contrato de tra-
balho o compromisso existente é
com os resultados da empresa.
Acompanhando esta mudança
vem o discurso que de é mais fá-
cil gerir trabalhadores com vín-
culo CLT que trabalhadores com
vínculo RJU.
Se o objeto de trabalho, os
meios de trabalho e a força de tra-
balho continuam sendo os mes-
mos, o que será que muda para
se pensar que sua administração
possa ser mais fácil em um regi-
me ao invés do outro? A hierar-
quia e o poder do empregador de
demitir sem justa causa. Esta evi-
dente instabilidade introduzida
na relação de trabalho é parte de
uma forma mais cara de contrata-
ção, pois exige depósito do FG-
TS, para o empregador, no caso
o Estado e o povo brasileiro. Não
faz sentido, em nome dos cofres
públicos, argumentar que é me-
lhor contratar na forma do direi-
to privado, especialmente consi-
derando que estes trabalhadores
produzirão saúde e educação pú-
blicas e gratuitas.
Este caminho de empresa-
riamento da saúde e da educa-
ção traçado pelo atual governo
se abre com a proposta da EB-
SERH, mas já tem no seu en-
calço a proposta de lei comple-
mentar 92 que já tramita no
Congresso. Tal lei cria a possibi-
lidade de estabelecer empresas e
fundações para desempenhar ati-
vidade estatal nas seguintes áreas:
saúde, educação, ciência e tecno-
logia, cultura, desporto, meio
ambiente, previdência comple-
mentar dos servidores públicos,
comunicação e turismo. A EB-
SERH é mais uma peça na en-
grenagem de destruição do Es-
tado construído na Constituição
de 1988, voltado para o atendi-
mento das necessidades da maio-
ria da população.
* É professora adjunta do IE/UFRJ e co-
ordenadora do Laboratório de Estudos
Marxistas (LEMA).
16
Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br
10h às 13h
A relação da obra de Ignácio
Rangel com a atualidade.
Palestrantes:	
Elias M. K. Jabbour
Marcio Henrique
Maria Malta
Moderador:
Arthur Câmara Cardozo
14h30 às 17h30
Perspectivas políticas a par-
tir das manifestações
populares de junho.
Palestrantes:
Paulo Passarinho
Daniel Iliescu
Tadeu Lemos
Moderador:
Sidney Pascoutto da Rocha
Debates marcam
Dia do Economista
18h30 às 21h30
A política econômica
de longo prazo face
às manifestações
populares de junho
Palestrantes:
Plínio Sampaio
João Paulo de Almeida Magalhães
Carlos Lessa
Moderador:
Sidney Pascoutto da Rocha
n Nos termos da Resolução nº.
1.865/2011 do COFECON faço
saber que no dia 31 (trinta e um) de
outubro de 2013, com início às 09h
e término às 18h, serão realizadas
eleições para renovação do 1º Ter-
ço de conselheiros efetivos e suplen-
tes do CORECON-RJ, e de dele-
gados-eleitores, efetivo e suplente,
junto ao Colégio Eleitoral do CO-
FECON, da seguinte forma: 1. 03
(três) conselheiros regionais efetivos
e 03 (três) conselheiros regionais su-
plentes para integrar o Plenário do
CORECON-RJ, com mandato de
03 (três) anos: (2014/2016); 2. 01
(um) delegado eleitor efetivo e 01
(um) delegado eleitor suplente para
integrar o Colégio Eleitoral do CO-
FECON; 3. Presidente e Vice-Pre-
sidente para a gestão de 2014, em
regime de consulta a ser ratificada
pelo Plenário do CORECON-RJ,
nos termos de sua Resolução nº.
177/13. O prazo para registro de
chapas será de 30 (trinta) dias, con-
tados a partir da data desta publi-
cação encerrando-se às 17h do dia
13/09/13. O registro das chapas se-
rá feito na sede do Conselho, loca-
lizada na Avenida Rio Branco 109,
19º andar, Centro – Rio de Janei-
ro – RJ, no horário das 10 às 17
horas. A eleição será realizada em
REGIME MISTO, conforme dis-
põe a Resolução CORECON-RJ
nº. 175/13. Poderão votar os eco-
nomistas registrados e quites com
suas anuidades ou com o parce-
lamento dos débitos referentes às
mesmas, até a data da realização do
pleito, bem como os registrados na
condição de remidos, na jurisdição
deste Conselho, não sendo permi-
tido o voto por procuração. No ca-
so do voto por correspondência, o
economista deverá enviar seu voto
utilizando o envelope padroniza-
do encaminhado previamente pe-
lo CORECON-RJ. Somente serão
aceitos os votos postados na Em-
presa Brasileira de Correios e Telé-
grafos, encaminhados à Caixa Pos-
tal do CORECON-RJ e recebidos
antes do encerramento dos traba-
lhos de votação. Para o voto pre-
sencial, o economista que não te-
nha votado por correspondência,
deverá comparecer ao local de vo-
tação, exibir junto à mesa eleitoral
documento hábil de identificação e
assinar a folha de votação que obe-
decerá a ordem numérica ou alfa-
bética dos economistas registra-
dos no CORECON-RJ. LOCAL
DA VOTAÇÃO PRESENCIAL:
Conselho Regional de Econo-
mia 1ª Região- RJ, localizado na
Av. Rio Branco, 109 – 19º andar
– Centro – Rio de Janeiro-RJ. O
horário de votação será das 09 às
18h. Os trabalhos de apuração se-
rão realizados no dia 31/10/13, na
sede do CORECON-RJ, imedia-
tamente depois de encerrado o pe-
ríodo de votação e após a retirada
final dos votos por correspondên-
cia, na caixa postal mantida pelo
CORECON-RJ junto a ECT, às
17h. COMISSÃO ELEITORAL:
Fica designada, para executar e
responder pelo processo eleitoral,
da seguinte forma: Efetivos: Eco-
nomistas: João Manoel Gonçalves
Barbosa, Jorge de Oliveira Camar-
go, Antonio Melki Júnior. Presi-
dente: Antonio Melki Júnior. Su-
plente: Economista Cesar Homero
Fernandes Lopes. A primeira reu-
nião desta Comissão Eleitoral para
análise e julgamento do registro da
(s) chapa (s) inscrita (s) juntamen-
te com seus respectivos candidatos
será realizada na sede do CORE-
CON-RJ, em 17/09/13 às 18h.
Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2013
Sidney Pascoutto da Rocha
Presidente
Edital de convocação para eleições
Agosto
Macroeconomia e microeconomia para concursos
Professor Carlos Maximiliano
27 de agosto a 3 de dezembro - todas as 3ª feiras
18h30 às 21h30 - 45 horas
Prof. Pós- Graduação Engenharia Econômica UERJ
Valuation
Introdução à Avaliação de Empresas com Modelagem
Financeira em Excel
Professor Marco Antonio Monteiro
22 de agosto a 14 de novembro - todas as 5ª feiras
18h30 às 21h30 - 39 horas
Experiência de oito anos em finanças corporativas
e mercado de capitais.
Agenda de cursos
INSCRIÇÕES ABERTAS. Informações: www.corecon-rj.org.br/cursos.asp
Evento, aberto a economistas, acontece
na Firjan em 13 de agosto, terça-feira
Promoção: Corecon-RJ, Sindecon-RJ e CED
Sede da Firjan: Av. Graça Aranha, n° 1, 3° andar, Centro. Rio de Janeiro/RJ

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  • 2. Órgão Oficial do CORECON - RJ E SINDECON - RJ Issn 1519-7387 Conselho Editorial: Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Edson Peterli Guimarães, José Ricardo de Moraes Lopes, Leonardo de Moura Perdigão Pamplona, Sidney Pascoutto da Rocha, Gil- berto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, Paulo Gonzaga Mibielli e Gisele Rodrigues. Jornalista Responsável: Mar­celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda (CNPJ: 74.155.763/0001-48; tel.: 21 2232-3866). Projeto Gráfico e diagramação: Rossana Henriques (rossana.henriques@gmail.com). Ilustração: Aliedo. Fotolito e Impressão: Ediouro. Tiragem: 13.000 exemplares. Periodicidade: Mensal. Correio eletrônico: imprensa@corecon-rj.org.br As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte. CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ Av. Rio Branco, 109 – 19º andar – Rio de Janeiro – RJ – Centro – Cep 20054-900 Telefax: (21) 2103-0178 – Fax: (21) 2103-0106 Correio eletrônico: corecon-rj@corecon-rj.org.br Internet: http://www.corecon-rj.org.br Presidente: Sidney Pascoutto da Rocha. Vice-presidente: Edson Peterli Guimarães. Conselheiros Efetivos: 1º Terço: (2011-2013): Arthur Câmara Cardozo, Renato Elman, João Paulo de Almeida Maga- lhães – 2º terço (2012 a 2014): Gilberto Caputo Santos, Edson Peterli Guimarães, Jorge de Oliveira Ca- margo – 3º terço (2013-2015): Carlos Henrique Tibiriça Miranda, Sidney Pascoutto Rocha, José Antônio Lutterbach Soares. Conselheiros Suplentes: 1º terço: (2011-2013): Eduardo Kaplan Barbosa, Regi- na Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fernandes – 2º terço: (2012-2014): André Luiz Rodrigues Osório, Leonardo de Moura Perdigão Pamplona, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º terço: (2013-2015): Cesar Homero Fernandes Lopes, José Ricardo de Moraes Lopes e Sérgio Carvalho Cunha da Motta. Sindecon - Sindicato dos Economistas do estado do RJ Av. Treze de Maio, 23 – salas 1607 a 1609 – Rio de Janeiro – RJ – Cep 20031-000. Tel.: (21)2262- 2535 Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192. Correio eletrônico: sindecon@sindecon.org.br Mandato – 2011/2014 Coordenação de Assuntos Institucionais: Sidney Pascoutto da Rocha (Coordenador Geral), An- tonio Melki Júnior e Wellington Leonardo da Silva. Coordenação de Relações Sindicais: João Manoel Gonçalves Barbosa, Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, César Homero Fernandes Lopes, Gilberto Caputo Santos. Coordenação de Divulgação Administração e Finanças: Gilberto Alcântara da Cruz, José An- tônio Lutterbach, José Jannotti Viegas e André Luiz Silva de Souza. Conselho Fiscal: Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Luciano Amaral Pereira e Jorge de Oliveira Camargo. O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segunda à sexta-feira, das 8h às 10h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br Entrevista: Ildo Sauer.........................................................................3 “O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria.” Petróleo..............................................................................................5 Raul Tadeu Bergmann e Roberto Requião Trocar Libra por superávit primário é crime contra o Brasil Petróleo..............................................................................................8 Marcelo Simas Shale gas x pré-sal: os impactos dos recursos não convencionais nas políticas públicas dos EUA e Brasil Petróleo........................................................................................... 10 Paulo Metri Quem usufrui do nosso petróleo? Petróleo........................................................................................... 12 Fernando Siqueira Snowden pode salvar o petróleo brasileiro Saúde.............................................................................................. 14 Maria Malta EBSERH: proposta do MEC para desconfigurar e empresariar os hospitais de ensino 2 Editorial Sumário Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Petróleo O leilão do campo de Libra, marcado para 21 de outubro, motivou o Conse- lho Editorial do JE a voltar à discussão sobre o modelo de exploração e a destina- ção dos recursos da imensa riqueza descoberta pela Petrobras em águas profundas. Fomos ouvir Ildo Sauer, professor de USP e ex-diretor de Petrobras, que criticou o leilão. Ildo alerta para o fato de o Brasil ainda não conhecer o vo- lume de suas reservas no pré-sal. Ele propõe uma parceria com a China, na qual os asiáticos antecipariam recursos para o investimento em exploração e para o equilíbrio das contas externas do Brasil e, em troca, comprariam pe- tróleo brasileiro a 80 ou 90% do preço internacional. O senador Roberto Requião e o engenheiro aposentado da Petrobras Raul Tadeu Bergmann afirmam, em artigo a quatro mãos, que o leilão permitirá que o cartel das multinacionais obtenha a propriedade da maior parte do pe- tróleo a ser extraído de Libra. Os autores alertam que o estrangulamento fi- nanceiro da Petrobras impedirá que a empresa tenha uma maior participação no processo. Eles propõem que o governo suspenda o leilão e negocie com a Petrobras a cessão de áreas mediante contrato de partilha de produção. Marcelo Simas, do Cenpes da Petrobras, alerta para a necessidade de o Brasil acelerar a exploração do pré-sal, porque os EUA, com o aumento da produção interna de shale gas e shale oil, sairão do mercado consumidor, restando apenas a China e a Índia como potenciais grandes compradores do petróleo brasileiro. Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia, ressalta que o gover- no brasileiro está fazendo um mau negócio ao aceitar a redução dos recursos para o Fundo Social durante 25 anos de exploração das reservas do pré-sal em troca do recebimento no curto prazo de um bônus maior. Fernando Siqueira, vice-presidente da Aepet, propõe que o MP suspenda de imediato os leilões, em função da possibilidade de vazamento de dados, revela- da pelo ex-agente da CIA Edward Snowden. O vazamento pode ter beneficiado empresas petrolíferas norte-americanas, ferindo o princípio da obrigatoriedade de igualdade de informações e condições entre os participantes do leilão. Fora do bloco temático, Maria Malta, professora do IE/UFRJ, afirma que a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) descaracterizará o compromisso social dos hospitais-escola de serem espaços de formação, pesquisa e atendimento, transformando-os em locais centra- dos em metas de atendimento.
  • 3. 3Entrevista: Ildo Sauer Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br P: Como você avalia o modelo criado pelo Brasil para explora- ção e utilização dos recursos do pré-sal? O país vai utilizar bem essa riqueza? R: Não. O modelo de concessões formulado pelo governo neolibe- ral de FHC, numa época em que ainda se justificava no discurso a possibilidade de um risco gené- rico exploratório para encontrar petróleo, não era o melhor. Na- quele tempo, o modelo adequa- do seria a partilha da produção, com a Petrobras comandando. Eu defendi transformar conces- são em partilha. No momento em que se conclui com sucesso a definição de uma nova provín- cia de petróleo no pré-sal, nem o modelo de concessão nem o de partilha servem. Quando já há uma confirma- ção de sucesso e com pouco in- vestimento se pode descobrir o volume de petróleo disponível a ser produzido, o melhor mo- delo é o monopólio público de uma empresa puramente estatal ou o modelo de prestação de ser- viços em que uma empresa, pre- ferencialmente uma estatal híbri- da igual à Petrobras, é contratada para fazer o serviço de delimita- ção do volume de recursos. De- pois se contrata essa empresa num regime de prestação de ser- viços, remunerando-a adequada- mente por todos os custos. Nós temos 50 bilhões de bar- ris já confirmados, mas pode- mos chegar a 100, 200 ou 300 bilhões. O governo não autori- zou o custo pequeno, da ordem “O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria.” Professor titular da USP e um dos mais reconhe- cidos cientistas brasilei- ros na área de energia, Ildo Sauer foi diretor de gás e energia da Petro- bras durante o primeiro governo Lula. Nessa en- trevista, critica o leilão de Libra e propõe um modelo alternativo. de US$6 bilhões a US$7 bilhões, para que a Petrobras, fazendo cerca de cem poços na área do pré-sal de Santa Catarina ao Es- pírito Santo, definisse o volume total de petróleo. Essa informa- ção é essencial para delinear um projeto estratégico para o país do que fazer com o petróleo. O governo está promovendo o sucateamento das duas gran- des riquezas do povo brasileiro: o petróleo e, mais importante, a Petrobras, uma construção histó- rico-social capaz de intervir so- bre a natureza e dela arrancar um elemento essencial para a socie- dade, a energia. P: O motiva o governo a fazer os leilões? R: O governo precisa de dólares para contrabalançar a situação macroeconômica. O baixo índice de crescimento da economia bra- sileira, associado à potencial fuga de dólares, fazem com que o Bra- sil precise do fluxo de dólares pa- ra manter o equilíbrio das contas externas. Por isso, decidiu que vai antecipar o leilão de Libra. A segunda motivação talvez seja ideológica, no sentido de subordinar os recursos naturais à lógica do interesse privado. Não sei se há também interesses menores do ponto de vista da base de apoio econômico e po- lítico ao governo, dinheiro para campanha e para enriquecimen- to de figuras ligadas ao proces- so de poder, que está em xeque agora no Brasil depois que o po- vo foi às ruas. P: Qual seria a melhor alter- nativa? P: Havia uma alternativa mais inteligente para resolver o pro- blema macroeconômico: contra- ta-se a Petrobras, que delimita o campo de Libra e produz. Ah, faltam US$ 50 ou 60 bilhões pa- ra desenvolver o campo. Faz par- ceira internacional negociada politicamente a partir do gover- no. Chama a China, eventual- mente a Índia e outros parceiros, e investe, produz e controla o rit- mo de produção. Em contrapar- tida, a China recebe o petróleo a 80 ou 90% do preço interna- cional e antecipa o dinheiro do investimento, coloca no Brasil o dinheiro necessário para equili- brar as contas externas. Libra vai produzir cerca de dois milhões de barris por dia, 700 milhões por ano. Se ven- der o petróleo a US$90 por bar- ril e custar US$20 para produ- zir, sobram US$70 por barril. São US$50 bilhões por ano que estão em jogo, ao longo de 20 anos de produção, supondo que as reservas sejam de 15 bilhões de barris, como esperado. Com US$50 bilhões por ano você mantém as contas externas com afluxo de US$10 ou 15 bilhões em moeda, os outros US$35 ou 40 bilhões usa para investir em infraestrutura. Criaria a Metrobras que seria a dona e operaria os metrôs de to- das as cidades com mais de 500 mil habitantes no país. O Brasil poderia estabelecer uma parceria com a China que estabeleceria fá- Reproduçãodeinternet/CPFLCultura
  • 4. 4 Entrevista: Ilso Sauer Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br bricas de trens no Brasil. Essa es- pécie de escambo não danificaria o equilíbrio da taxa de câmbio. E nessa escala, os recebíveis do próprio sistema de transporte garantiriam o financiamento. Eu estou dando um exemplo. O mesmo podia acontecer para trens de alta velocidade interestaduais, portos, vias navegáveis. Esse seria o modelo para o pré-sal em geral, não só Libra. Acima de tudo o ritmo de produção tem que ser coorde- nado com a OPEP. Você não pode jogar dois bilhões de bar- ris de petróleo no mundo sem coordenação. Do contrário, há um problema da renda petro- lífera desaparecer. Está no ho- rizonte uma ameaça geopolítica contra a OPEP e a Rússia co- mandada pelos EUA, que quer difundir a tecnologia do shale gas. Tem um petróleo e gás bara- to vindo daí. P: Você acha que no médio e longo prazo o preço do petróleo vai cair em função do shale gas? R: O shale não tem força para destruir a hegemonia do petróleo nas próximas cinco décadas, mes- mo sabendo que a China tem re- cursos potenciais até superiores que os dos EUA. P: Mas já há estudos dizendo que o shale pode tornar os EUA autossuficientes. R: Sim, mas é efêmero. Por quan- to tempo vai ser autossuficien- te? Até a semana que vem, depois vai ter que voltar à mesa. Há uma ameaça no horizonte sobre o pre- ço do petróleo como construído historicamente a partir de 2005 pela OPEP, a partir da hegemonia da OPEP no controle do recurso natural. Em 1960, 84% do petró- leo estava nas mãos das multina- cionais, 14% nas mãos da URSS, e 2% nas empresas nacionais. Em 2010 era o contrário: 92% nas mãos dos governos, de empresas estatais ou híbridas. Com o con- trole político, eles conseguiram impor o preço. O shale agora se apresenta co- mo uma nova ameaça. O papel do Brasil nesse sentido é abso- lutamente destrutivo da geopo- lítica dos países que querem ex- trair renda do petróleo, que é o grupo em que o Brasil está en- trando. O modelo que o gover- no está colocando em Libra e o modelo aprovado no Congresso ou são absolutamente ingênuos, ou destituídos de visão geopolí- tica estratégica, ou oportunistas, para satisfazer interesses meno- res no governo. P: Se você partir do princípio de que a demanda dos EUA cairá, em função do shale, derruban- do o preço do barril, não seria melhor para o Brasil explorar logo o pré-sal, e nesse sentido a entrada de empresas internacio- nais não é importante para ace- lerar o financiamento? R: Não acho. O shale não tem dimensão para tomar o lugar do petróleo. Essa é uma possibilidade muito pequena. Depende do modelo de coordenação da indústria mundial do petróleo, via OPEP. Se a OPEP tiver capa- cidade de coordenação da produ- ção do petróleo líquido, o shale não vai tomar o lugar. A Arábia Saudita vive exportando dois ou três milhões de barris por dia. Não precisam exportar 10 mi- lhões. A Rússia também. Eles têm fôlego para enfrentar a guerra com o shale americano. O problema é que um cachor- ro louco igual ao que o governo brasileiro está criando, leiloando um campo subordinado apenas à lógica microeconômica, sem le- var em conta tudo isso, é um tiro no pé porque vai destruir o pre- ço do petróleo no mundo. Nem Libra nem os outros podem pro- duzir rapidamente, porque tem que ter coordenação da produção para manter o preço do petróleo com renda elevada. Os EUA apostam na estra- tégia de desestabilizar o Orien- te Médio, invadindo Síria, Ira- que, Líbia, desestabilizando o Irã e jogando shale no mundo. Eles estão tentando extirpar a ren- da acumulada pelos produtores de petróleo e deslocar esse exce- dente econômico para as esferas das empresas comandadas a par- tir da lógica imperialista ameri- cana e europeia, as empresas de produção de commodities, pro- dutos, automóveis, informática e serviços. O Brasil não compre- endeu isso e está operando com uma lógica microeconômica, do contrato, do negócio, como se estivesse lidando com uma pada- ria. É como se a Petrobras fosse a grande filha do povo e o gover- no tivesse tornado essa filha ano- réxica ao asfixiá-la com os pre- ços dos derivados. A Petrobras está sem caixa. E agora o gover- no quer pegar a terra que perten- ce ao povo e a filha do povo, que é a Petrobras, e colocar numa es- pécie de casamento arranjado como faziam as antigas oligar- quias. E quem se beneficia dis- so é o eventual vencedor do lei- lão. O governo trata Libra como se fosse uma padaria ou pizzaria. P: As regras dos leilões dizem que a Petrobras é operadora de todos os poços. Essas regras são ruins para a Petrobras? R: O governo está proletari- zando a Petrobras. Asfixiou seu fluxo de caixa com a po- lítica de preços. Então a Pe- trobras não tem poder de bar- ganha de entrar num leilão e valorizar a sua capacitação tecnológica. Tem dois valo- res em disputa: o petróleo e a capacitação da Petrobras. E o governo está vendendo as du- as por um preço aviltado pe- la política recente. Então a Pe- trobras ser operadora é quase ser escravizada em favor do capital financeiro, em vez de usar esse potencial para gerar valor para a sociedade brasileira. Se ela for prestadora de ser- viço, recebendo de US$ 15 a 25 por barril, ela vai ganhar dinhei- ro, pagar bem seus quadros e me- lhorar a tecnologia. E o governo, vendendo petróleo para a China a 90% do valor, sobrariam entre 65 e 75 dólares por barril, que vi- ram renda para o Tesouro inves- tir em programas nacionais, fazer uma Metrobras, uma Portobras, reforma agrária, reforma urbana, investir em educação e saúde pú- blica, e coordenar o fluxo de capi- tais para não tornar o Brasil um país rentista, manter o país geran- do valor pelo trabalho. Reproduçãodeinternet/CPFLCultura
  • 5. 5Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Raul Tadeu Bergmann* e Roberto Requião** “A nação que entrega o seu pe- tróleo à exploração estrangeira não zela pelo seu futuro” - Woodrow Wilson, presidente dos EUA As privatizações e desnacionali- zações feitas por FHC foram os maiores crimes já perpetrados contra a sociedade brasileira. Signi- ficaram a entrega de centenas de bi- lhões de dólares de patrimônio do povo a preços aviltantes, milhões de empregos destruídos, perda de autonomia tecnológica, substitui- ção de fornecimento de máquinas e insumos nacionais por importa- dos, centenas de bilhões de dóla- res de remessas de lucros para o ex- terior e tarifas de serviços públicos extorsivas, as maiores do mundo. Elas continuam causando sé- rios problemas econômicos e são as principais responsáveis pela sé- ria crise que poderemos ter no fu- turo muito próximo. As elevadas tarifas de serviços públicos priva- tizados são um dos principais fa- tores que fazem com que nossa moeda se mantenha tão valoriza- da. Portanto, são uma das princi- pais causas da desindustrialização. A indexação dessas tarifas é a res- ponsável pelo fato de a inflação no Brasil ser tão resistente. Esses fato- res, mais a grande remessa de lu- cros das empresas desnacionali- zadas e importação de insumos e equipamentos por elas realizadas são responsáveis por boa parte do rombo em nosso balanço de paga- mentos. O buraco no balanço de pagamentos e essas tendências in- Trocar Libra por superávit primário é crime contra o Brasil flacionárias dos serviços públicos privatizados colocam o governo em posição difícil, sendo pratica- mente impossível evitar uma cri- se inflacionária ou de desemprego. Apesar disso, há quem advo- gue que mais privatizações sejam a solução para os males causados pelas privatizações do passado. Ao contrário, isso alimenta uma bola de neve: as privatizações e desna- cionalizações geram mais remessa de lucros, mais déficit em transa- ções correntes, mais necessidade de atrair capital estrangeiro para cobrir o déficit, gerando um cír- culo vicioso que redundará em fa- lência do país, esvaindo o pré-sal sem retorno para o Brasil. O lucro do pré-sal tem que ser reinvesti- do no desenvolvimento nacional, o que não ocorrerá se ele for entre- gue ao cartel internacional. O lei- lão de Libra é uma forma de priva- tização, cujo valor supera todas as de FHC. Nesse sentido, Dilma es- tará cometendo um erro até maior do que os de FHC. A produção de Libra sozi- nha permitiria um grande avan- ço econômico, financeiro e tecno- lógico, resolvendo muito do nosso histórico passivo social, resolven- do os nossos problemas de educa- ção, saúde, segurança, tecnologia, mobilidade urbana, tornando- -nos uma sociedade mais próspe- ra e justa. Com o leilão, o governo entre- gará para o cartel das multinacio- nais a propriedade da maior parte do petróleo a ser extraído do cam- po recém-descoberto e o maior do mundo, com 15 bilhões de barris. A reserva brasileira de petróleo an- tes do pré-sal, fruto de 50 anos de exploração, era de 14,2 bilhões de barris, que assegurava 15 anos de autossuficiência. A Petrobras já descobriu, só no pré-sal, campos com poten- cial superior a 60 bilhões de barris de óleo de reservas: Libra – 15 bi- lhões; Lula – 9 bilhões; Iara – 4 bi- lhões; Carioca – 10 bilhões; Fran- co – 9 bilhões; Guará – 2 bilhões; área das baleias - 5 bilhões e vários outros. Somadas às anteriores ao pré-sal, ultrapassamos 74 bilhões, 60 anos de autossuficiência. Fazer leilões em áreas não exploradas é absurdo. Ainda pior é leiloar Li- bra, campo já descoberto de alto retorno financeiro. Se não preci- samos achar mais petróleo, como justificar leilões? É para entregar nosso petróleo? O pré-sal é a maior oportunida- de que já tivemos para o País se tor- nar uma potência energética, tec- nológica e econômica. Possui 100 bilhões de barris, no mínimo, pois até o limite da zona economica- mente exclusiva existem mais áre- as com boas possibilidades de óleo e gás, atingindo 300 bilhões de bar- ris, segundo o ex-diretor de explo- ração da Petrobrás e descobridor do pré-sal, Guilherme Estrella. O regime de partilha, aplicável ao pré-sal, prevê 15% em dinheiro para o Brasil como royalty e uma participação no óleo-lucro de so- mente de 0 a 30% do petróleo na prática. Assim, o cartel internacio- nal fica com a maior parte da ri- queza mais cobiçada do mundo. A situação é ainda pior fora do pré-sal, como no 11º leilão feito por Dilma, sob o regime de con- cessão de FHC. Nele, a proprie- dade do petróleo é entregue à con- cessionária, pagando 10% em royalties e podendo incluir pa- ra alguns campos uma participa- ção especial de, na prática, 11% do valor da produção. No mundo os países exportadores ficam com a média de 80% da produção. Assim, abre-se mão do petróleo que deveríamos usar na geração de novas riquezas e empregos no Bra- sil, bem como seu poder geopolí- tico, dado pela garantia de supri- mento aos países dependentes de petróleo, especialmente o G-7. Es- se suprimento causou muitos con- flitos desde a Segunda Guerra. Diante disso, devemos per- guntar: por que o governo Dilma está promovendo um leilão pa- ra entregar o campo de Libra, já descoberto, com risco zero, direta- mente às multinacionais do petró- leo? Seriam três os motivos: Pressões externas – O Congres- so Mundial de Petróleo ocorrido em fevereiro de 2013, no Riocentro, foi um grande lobby pela reabertu- ra dos leilões. No encerramento, o Ministro de Minas e Energia Edison Lobão declarou reabertos os leilões. É provável que a vinda do vice-pre- sidente americano, Joe Biden, em maio de 2013, tenha visado “con- vencer” a presidenta Dilma a leilo- ar Libra e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, a não se empenhar na aquisição desse campo. Agradar os especuladores fi- nanceiros – O governo prometeu ao mercado financeiro uma meta contábil de superávit primário. O bônus de Libra, no valor de R$ 15 bilhões, vem a calhar para atingi-
  • 6. 6 Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br -la. Todavia, o valor não aumen- tará o patrimônio do povo brasi- leiro porque, segundo o contrato da ANP (Agência Nacional de Pe- tróleo), será simplesmente devol- vido às multinacionais. Ou se- ja, por um irrisório adiantamento de 0,6% do PIB, serão entregues, nos próximos 35 anos, mais de R$ 3,45 trilhões em petróleo, um bem finito com demanda e preço permanentemente em elevação. Pressões externa e interna – O grave problema cambial: o déficit em conta corrente externo está ca- minhando para US$ 80 bilhões e cresce avassaladoramente devi- do, em grande parte, à remessa de lucros das mais de 4.000 grandes empresas que foram privatizadas ou desnacionalizadas no governo FHC e nos governos petistas. Ora, o pré-sal se destina a ga- rantir o futuro dos brasileiros, e não a cumprir uma meta mera- mente contábil de superávit pri- mário, cuja função é mostrar ao sistema financeiro que o governo é “obediente” e coloca seus “com- promissos” com “o mercado” aci- ma das necessidades prementes de aumentar os investimentos em saúde, educação e tecnologia. Ho- je praticamente nenhum país do mundo se obriga a cumprir uma meta de superávit primário, espe- cialmente se não depende de em- préstimos de instituições multila- terais como o FMI. E poucos têm superávits primários tão grandes quanto o brasileiro. Entre as gran- des nações, também poucas pos- suem dívidas públicas menores do que a brasileira. Ou seja, em ter- mos do interesse público não há razão para o Brasil cumprir uma meta de superávit primário. Essa irracionalidade, no fundo, se ba- seia na submissão ao interesse dos grandes bancos em manter um sistema onde mesmo taxas de ju- ros absurdamente altas não levem a uma espiral explosiva de cresci- mento da dívida pública. Ou se- ja, a meta de superávit primário brasileira tem como objetivo de fundo simplesmente dar susten- tabilidade à mais inócua política de juros já conhecida, implantada por FHC e mantida até hoje, ain- da que de forma abrandada. Se é um crime contra o Brasil trocar petróleo por meta contábil de superávit primário, pior ainda é saber que, mesmo aceitando a tese do governo da necessidade de fazê- -lo, vemos que se tivesse entregado esse bloco à Petrobras, o volume de superávit primário gerado este ano poderia ser imensamente maior. O campo de Libra foi desco- berto pela Petrobras. Logo após a
  • 7. 7Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br descoberta de seu fabuloso poten- cial, a ANP e o governo decidiram retirar o bloco de Libra do con- junto que a União lhe havia entre- gado em cessão onerosa visando à capitalização da empresa. Ao invés de negociar com a Petrobras um contrato de partilha (a nova lei, no seu art. 12º, permite), decide fazer leilão para entregar ao cartel inter- nacional do petróleo. Se o bloco fosse mantido com a Petrobras, a empresa poderia ser recapitalizada pela mesma for- ma adotada sabiamente pelo pre- sidente Lula. Se isso tivesse sido feito, o governo poderia obter, se quisesse, o dobro ou mais do va- lor que “obterá” com o leilão pa- ra o cartel internacional. Esse re- sultado poderia ser obtido, por exemplo, com um adiantamento a ser viabilizado pela Petrobras com empréstimos. A Petrobras ofere- ceria Libra como garantia, pois o campo vale mais de um trilhão de dólares. Outra alternativa se- ria a União vender Libra em tro- ca de ações ou em títulos de dí- vida da Petrobrás. Ou seja, nada, nem mesmo o argumento do su- perávit primário, justifica o leilão, verdadeiro atentado contra o inte- resse público. O problema cambial, por sua vez, decorre, entre outros motivos, da desnacionalização das grandes empresas brasileiras, estatais e pri- vadas. Já são mais de 4.000, a partir do governo FHC, passando pelos governos petistas. As empresas des- nacionalizadas remetem enormes montantes de lucro para o exterior, gerando vultoso déficit nas transa- ções correntes. Há quem preveja um déficit de US$ 80 bilhões pa- ra 2013. Assim, foi criado um cir- culo vicioso perverso: a remessa de dólares gera déficit, exigindo a atra- ção de mais capital estrangeiro pa- ra cobri-lo. O governo atrai capital estrangeiro através de juros altíssi- mos ou realizando privatizações. Essas duas modalidades agravam o problema, porque aumentam as re- messas de lucro futuras. Se esta san- gria não for estancada, vira hemor- ragia e poderá consumir ao longo das próximas décadas toda a rique- za de US$ 20 trilhões prevista do pré-sal. Isso sem que o seu verda- deiro dono, o povo brasileiro, ob- tenha qualquer vantagem. Assim, aproveitando-se de nossas limitações, o cartel inter- nacional pretende usufruir lucros fantásticos sem riscos para remetê- -los para fora. É preciso parar es- sa insanidade, não privatizando mais o patrimônio público, insti- tuindo uma política industrial que fomente a criação de empresas ge- nuinamente nacionais públicas ou privadas e revendo a lei de remes- sas de lucros. A lei do governo Lula para o pré-sal define a Petrobras como operadora única da exploração do petróleo e a participação obriga- tória em todos os consórcios ex- ploradores com no mínimo 30% do investimento. Isso contraria os interesses internacionais, pois ter a Petrobras como operadora ini- be as duas maiores fontes de cor- rupção na produção internacional do petróleo: o superfaturamento nos custos de produção (ressarci- dos em petróleo) e a medição frau- dulenta da produção, sempre pa- ra baixo. O Tribunal de Contas da União constatou em auditoria que a ANP não realiza o acompanha- mento sistemático dos volumes de petróleo e gás natural que as ope- radoras alegam produzir (Acór- dão 657/2013, no processo TC 010.147/2012-8), o que motivou o Senado a requerer explicações ao Ministro de Minas e Energia. Mais grave: o leilão do Campo de Libra e os próximos do pré-sal ocorrem num momento em que a Petrobras está sendo, irrespon- savelmente, estrangulada finan- ceiramente pela política governa- mental que a obriga a importar combustíveis e repassar ao merca- do nacional por preços menores, mas não obriga as suas concorren- tes a fazer o mesmo. Trata-se de um absurdo, porque a Petrobras não tem mais o monopólio na im- portação de petróleo e derivados, e, portanto, não tem o dever de vender com prejuízo em relação às suas concorrentes. Esse estrangulamento financei- ro proposital está fazendo com que a empresa fique impedida de ter uma maior participação no consór- cio vencedor. Além disso, em razão do inexplicável e elevadíssimo va- lor do bônus de adiantamento en- volvido, também dificilmente te- remos participação significativa de empresas nacionais ou mesmo es- trangeiras não pertencentes ao car- tel. A quem interessa o afastamento da Petrobras, a redução da concor- rência no leilão e a desnacionaliza- ção de uma riqueza que pertence ao povo brasileiro? O petróleo é um recurso mi- neral estratégico, não renovável e cada vez mais escasso, que, além de combustível ainda insubstituí- vel (move 90% do transporte do mundo), é matéria-prima para mais de 3.000 produtos petroquí- micos (presente em 85% dos pro- dutos que usamos). O Brasil é um país privilegiado, pois sua matriz energética para os próximos 20 anos dependerá de apenas 53% de combustíveis fósseis, ao passo que no resto do mundo a dependência ficará em 86%. A Petrobras é líder mundial na exploração e produção de petróleo em águas profundas, reconhecida mundialmente pela OTC (Offsho- re Technology Conference), que já lhe concedeu dois prêmios. Meta- de da exploração e produção mun- dial de petróleo no mar é feita pela Petrobras. Por outro lado, a histó- ria demonstra que a presença es- trangeira na indústria do petróleo é fator de inquietação social, insta- bilidade política, fraudes, guerras, corrupção, assassinatos, golpes de estado e outros incidentes. O artigo 12º da nova lei do petróleo permite que o governo, atendendo ao interesse nacional e ao suprimento de energia, negocie com a Petrobras a cessão de áre- as, sem leilão, e mediante contra- to de partilha de produção. Se o governo fizer isso pode obter um superávit primário muito maior do que pretende com a entrega às multinacionais. Tomar o campo de Libra e leiloá-lo é entregá-lo ao cartel internacional do petróleo. O governo admite explicitamente sua submissão aos interesses dos rentistas e dos grandes bancos, ao “justificar” a necessidade de atin- gir a meta do superávit primário. Mas os fatos mostram que, além do absurdo desta submissão ad- mitida explicitamente, há outra, não admitida, mas igualmente in- contestável: a submissão ao cartel internacional do petróleo. Leiloar petróleo é um contrassenso, mas leiloar petróleo já descoberto, e o maior campo do Brasil, é um ver- dadeiro crime de lesa-pátria que comprometerá o nosso futuro e o das gerações vindouras de bra- sileiros. Os brasileiros, onde pu- derem, devem dizer um rotundo “não aos leilões do petróleo”, pois eles são desnecessários, inoportu- nos e injustificáveis. * Raul Tadeu Bergmann é engenheiro aposentado da Petrobras e diretor da As- sociação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet). ** Roberto Requião é senador pelo Esta- do do Paraná.
  • 8. 8 Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Marcelo Simas* Dois recursos não convencio- nais darão o tom do merca- do global de óleo e gás (O&G) nos próximos anos: o shale gas nos EUA e o pré-sal no Brasil. Neste cenário, que papel o Brasil terá no futuro? E quanto às descobertas do shale gas, que têm provocado uma revo- lução na geopolítica do O&G, até recentemente subestimada? Quais as diferenças e similaridades entre a utilização e os impactos dos dois recursos em cada país? As conse- quências deste novo cenário ainda não estão claras, mas nos permitem vislumbrar alguns importantes des- dobramentos. O que são pré-sal e shale gas/shale oil? Recursos não convencionais são aqueles cuja viabilidade técnica-e- conômica ainda não está totalmen- te desenvolvida. No caso do pré-sal, seus reservatórios são constituídos por óleo leve nas Bacias de Santos e Campos. Atualmente são produ- zidos 300 mil bpd de óleo do pré- sal,15% da produção da Petrobras. O shale gas é o gás aprisiona- do dentro de folhelhos, de baixa permeabilidade. Seu crescimento foi exponencial: de 1% da produ- ção doméstica em 2000 alcançou 35% em 2012, segundo dados da Energy Information Administra- tion dos EUA (EIA). Já o shale oil é o óleo que se forma numa rocha com características geológicas semelhantes ao shale gas, possibi- litando seu aprisionamento (tam- bém conhecido como tight oil). Devido às similaridades, sua pro- Shale gas x pré-sal: os impactos dos recursos não convencionais nas políticas públicas dos EUA e Brasil dução foi intensificada em função dos avanços na produção de gás. É um óleo leve que está substituindo as importações. Shale gas x pré-sal: uma comparação Mas o que há de diferente nos dois recursos, que são contempo- râneos? O shale gas é um dos principais instrumentos do governo ameri- cano para combater a crise desde 2007, devido ao alto impacto de suas atividades. Sua produção é em terra, feita por pequenas e mé- dias empresas, sendo intensiva em mão de obra e próxima aos gran- des centros consumidores, contri- buindo para a redução do desem- prego nos últimos anos. O pré-sal foi pensado desde sua descober- ta em 2006 como um carro-chefe para o desenvolvimento econômi- co, trabalhando a cadeia de valor de O&G como um todo para ge- ração de emprego, já que a indús- tria é intensiva em capital (Progra- ma de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás - Pro- minp e política de conteúdo lo- cal). Sua produção é no mar, por meio de grandes empresas e altís- simos investimentos. Quanto à propriedade do solo e subsolo, nos EUA ambos perten- cem ao dono da terra. Assim, o rit- mo das novas descobertas é ditado pelo mercado, bem como os inves- timentos são mais estáveis e descon- centrados. No Brasil, como o subso- lo pertence à União, o ritmo é dado pelos leilões promovidos pela ANP e os investimentos são muito maio- res e mais concentrados (os leilões só foram retomados este ano, após sua suspensão em 2008). Com relação à logística, os EUA desenvolveram a indústria de gás desde o século XIX e pos- suem 400 mil quilômetros de ga- sodutos com capilaridade que o torna um caso único no mundo. No Brasil, a infraestrutura de óleo é dos anos 1980, concentrada na Bacia de Campos; a malha de ga- sodutos possui 10 mil km, menos de 3% da americana. Um poço de shale dura de três a cinco anos, necessitando cons- tantemente novas descobertas pa- ra ampliar a produção. Segundo a EIA, as reservas com a tecnologia disponível supririam a demanda atual por mais de 100 anos, uma situação confortável. No pré-sal, a taxa de sucesso dos novos po- ços (poços com óleo/total de po- ços perfurados) é superior à média da indústria, segundo a Petrobras (82% contra 35%), para quem há expectativas de reservas que po- dem dobrar o volume atual de 16 para 31 bilhões bbl até 2020. Com relação ao custo, a fim de incentivar o shale, o governo ame- ricano concedeu subsídios tan- to na produção (custo <US$ 10/ barril de óleo equivalente - boe) quanto na comercialização, o que permitiu a redução dos preços do gás em mais de dois terços desde 2005 (média de US$ 9, para US$ 3 MMBTU em 2012). No entan- to, o que torna o shale gas rentável é o shale oil, já que boa parte do gás é associado (O&G no mesmo reservatório). No caso do pré-sal, os custos ainda são extremamente elevados e sua rentabilidade se dá a partir de US$ 40 a 45/bbl. Quanto à tecnologia, a expan- são do shale deveu-se à junção de duas outras que o viabilizaram desde 2000: a perfuração horizon- tal de poços e o fraturamento hi- dráulico das rochas entre 3.000 a 5.000 metros de profundidade. Há riscos ambientais, como a con- taminação dos aquíferos (300m de profundidade), e grande utili- zação de água com produtos quí- micos (11 MM l para estimular cada poço!), sendo imprevisíveis suas consequências, principal- mente seu descarte. Os desafios tecnológicos do pré-sal se devem a dificuldades na perfuração, recu- peração e logística (plataformas a 300 km da costa). Por fim, a regulação deficien- te do shale coloca em xeque seus benefícios, como se pode obser- var na guerra de versões empre- sas x ambientalistas sobre sua ex- ploração. No pré-sal aprendemos com os acidentes da BP, no Golfo do México, e Chevron, na Bacia de Campos, e há forte apelo na so- ciedade relativamente à segurança nas novas áreas, além da própria regulação estar sendo aprimorada.
  • 9. 9Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Perspectivas futuras A tendência do Brasil com o pré-sal é de, até 2020, consolidar sua posição de player mundial e de grande exportador fora da OPEP. A produção prevista é de cerca de cinco milhões de barris de óleo por dia, sendo 50% proveniente do pré-sal. As exportações alcan- çarão 1,5 a 2 milhões de barris por dia, segundo a ANP, passando o país definitivamente de importa- dor de óleo a exportador. Impactos profundos serão sen- tidos em relação à participação dos EUA no mercado: o maior consumidor mundial terá sua de- pendência energética significati- vamente diminuída. O consumo de combustíveis nos EUA, após atingir seu ápice em 2005 com 60% dependente de importações, seis anos depois despencou para 45% e projeções indicam 37% em 2035 (Figura 1). Quanto ao gás, em 2011 a produção doméstica já era responsável por 95% do con- sumo, o que permitiu não só re- duzir as crescentes importações de gás natural liquefeito (GNL), bem como reverter esta posição e pre- ver que os EUA serão exportado- res líquidos de gás já em 2016. Em 2035 os EUA chegarão a apenas 10% de importações líquidas de energia, considerados todos os ti- pos de fontes (Figura 2). Segundo a International Energy Agengy (IEA) da OCDE (2012), os EUA se tornarão o maior produtor de óleo e gás do mundo em mea- dos de 2020. Com o aumento da produção doméstica, em 10 anos os EUA deixarão de importar do Oriente Médio. A partir da saída dos EUA do mercado consumidor, tornando-se um possível exporta- dor, o espaço para as exportações brasileiras diminuirá, restando a China e a Índia como potenciais compradores, motivo pelo qual de- vemos acelerar o pré-sal se quiser- mos ganhar market share antes da chegada dos EUA ao mercado. Em 2011, os EUA importa- ram cerca de US$ 450 bilhões em óleo e derivados, o equivalente a seu déficit corrente de US$ 466 bilhões. O aumento da produção de óleo e sua posição de exporta- dor de gás no futuro permitirá ao país fazer grandes ajustes nos défi- cits fiscal e corrente – redução da dependência energética e gastos militares –, podendo assim reto- mar sua hegemonia, abalada com a crise econômica de 2007. Volta- remos assim a uma ordem mun- dial unipolar como no período pós-queda do Muro de Berlim? Só o futuro dirá. Bibliografia: Annual Energy Outlook 2013 Ear- ly Release Overview da EIA/DoE in: http://www.eia.gov/forecasts/aeo/er/ pdf/0383er(2013).pdf BP Statistical Review of World Energy 2013 in: www.bp.com/statisticalreview EIA.2013. U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves Annu- al Report. http://www.eia.gov/naturalgas/ crudeoilreserves/. Abril 2013. * É economista da Petrobras desde 1998, trabalha atualmente no Cenpes e é profes- sor de Geopolítica do Petróleo na UFRJ e Análise de Investimentos na Universida- de Petrobras. Contato: mmsimas@petro- bras.com.br Figura 2 – Produção x Consumo de Energia Primária dos EUA 1980-2040 (1015 Btu) Fonte: EIA Figura 1 – Importação líquida de combustíveis dos EUA 1970 – 2040 (MM bpd) Fonte: EIA Xisto
  • 10. 10 Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Paulo Metri* Adescoberta do pré-sal capa- cita o Brasil a ser um gran- de produtor mundial de petróleo e também um exportador. No entanto, não é garantido que o balanço dos impactos para a so- ciedade brasileira será positivo. Hoje, o pré-sal é foco da cobi- ça do capital internacional, em virtude da extraordinária lucra- tividade da produção petrolífera, da contribuição para o abasteci- mento mundial, do lucro com o refino no exterior e da compra de fornecedores estrangeiros de bens e serviços. Quem usufrui do nosso petróleo? Em 2011, 57% da energia consumida no mundo era prove- niente de petróleo e gás natural. Em geral, as maiores economias do planeta não possuem petróleo, enquanto os grandes excedentes de produção estão concentrados em países em desenvolvimento. Mesmo com o aumento da par- ticipação de outras fontes na ma- triz energética mundial, inclusive o polêmico xisto, petróleo e gás ainda serão importantes fontes energéticas em décadas futuras. A ocorrência do pico da produ- ção petrolífera mundial é passível de discussão. No entanto, o fa- to de as empresas petrolíferas es- tarem investindo em novas áreas transmite a sensação que o pe- tróleo e o gás convencional con- tinuarão sendo importantes fon- tes, eventualmente mais escassas. As forças políticas atuantes no país têm diferentes objetivos neste e em outros setores. A pres- são exercida pelo capital interna- cional sobre o governo brasilei- ro é em direção conflitante com o interesse da sociedade. O po- vo não sabe quase nada do que seus representantes decidem em seu nome, tal o nível de aliena- ção em que vive, e, infelizmente, poucos destes representantes cui- dam dos interesses do povo. Os tradicionais veículos de mídia, com raras exceções, não servem para conscientização da popula- ção, pois na verdade são instru- mentos de convencimento do ca- pital. O governo estadunidense, como maior representante do ca- pital, manda seu vice-presidente distribuir recados aqui, que vão desde a presidente da Republica à presidente da Petrobras. Quando o capital internacio- nal ganha blocos no Brasil, além do lucro da atividade ir para o ex- terior, o país perde a possibilidade de fazer acordos com outras na- ções em que o suprimento de pe- tróleo faria parte da negociação. Mas o Brasil assinou contratos com petroleiras internacionais, que não permitem ao governo determinar para onde o petróleo brasileiro deve ir. Enfim, por estes contratos, o petróleo aqui produ- zido, se não é da Petrobras, não é mais brasileiro. O monopólio estatal é a me- lhor opção de modelo para a ati- vidade petrolífera de um país em desenvolvimento, se a maximiza- ção dos benefícios para a socieda- de for o objetivo. Haja vista que o Brasil teve o suprimento de pe- tróleo garantido nos últimos 60 anos, suportando várias fases de
  • 11. 11Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br desenvolvimento e é detentor de inegável infraestrutura petrolífe- ra, que inclui uma das maiores províncias petrolíferas do mun- do, o pré-sal. Se não tivesse exis- tido o monopólio, que deu ori- gem à Petrobras, e só existissem empresas estrangeiras no Brasil, o pré-sal ainda não teria sido des- coberto. A lógica das corpora- ções, diferentemente da lógica do Estado, não visa atingir priorita- riamente benefícios sociais. O monopólio estatal foi ex- tinto no Brasil na década neoli- beral. Sem monopólio, a explora- ção de petróleo no mundo é feita a partir de três tipos de contratos entre empresas e Estados nacio- nais: concessão, contrato de par- tilha e contrato de serviços. Estão ordenados do de mínima possi- bilidade de controle pelo país e menor benefício para sua socie- dade até o de mínima satisfa- ção para as empresas. Em 1997, o Brasil optou pelo pior mode- lo para a sociedade, o das conces- sões (lei 9.478), em que só royal- ties sobram para ela. A empresa que descobre petróleo nem tem a obrigação de abastecer o pa- ís. Cerca de 900 blocos já foram concedidos através deste modelo, até hoje. Inclusive, 28% da área do pré-sal já foram concedidos. No contrato de partilha, além de existirem os royalties, há uma contribuição da empresa para o Fundo Social e a entrega de par- te do petróleo para o país comer- cializar. É o modelo dos novos contratos da área do pré-sal (lei 12.351). O contrato de serviços é o melhor para a sociedade pe- lo Estado ficar com todo lucro e todo o petróleo. Contudo, o go- vernante precisa ter muita for- ça política para aplicá-lo. Países em desenvolvimento com razoá- vel grau de soberania tendem a assinar contratos de partilha ou de serviços. Com a democracia que con- seguimos ter, o Estado brasilei- ro está loteado entre grupos de interesse privado. O capital in- ternacional está firme no setor de energia e mineração, com al- guma participação do capital nacional. O autoritarismo dos diversos órgãos com responsa- bilidade sobre as decisões do se- tor do petróleo só é justificado pela prepotência de quem tem total controle da situação. Não prestam conta da razão da gran- diosidade da entrega de blocos que fazem, dos anos de abaste- cimento garantido que resta ao país, dos volumes de petróleo a serem exportados e outras de- cisões. O próximo leilão de Li- bra, um campo do pré-sal, cujas reservas são avaliadas entre oi- to e doze bilhões de barris, é o maior exemplo deste autorita- rismo. Entregar 70% da reser- va conhecida deste campo a em- presas estrangeiras, que sempre exportarão suas produções sem adicionar valor algum, nun- ca contribuirão para o abaste- cimento do país, dificilmente contratarão plataformas no Bra- sil, o item de maior peso nos in- vestimentos, não gerarão muitos empregos aqui, não pagarão im- postos, graças à lei Kandir, e só pagarão os royalties e uma par- cela “combinada” do lucro é o exemplo máximo da desfaçatez. O governo deveria entregar sem leilão este campo à Petrobras, que assinaria um contrato de par- tilha com a União, atendendo ao artigo 12 da lei 12.351, e ela fa- ria o que as empresas estrangeiras não fazem. Determinado jornal econômico publicou que “as con- tas da União neste ano só fecharão se essa receita do bônus de assina- tura de Libra ingressar nos cofres públicos”. Assim, constata-se que o Brasil continua preso ao fecha- mento de suas contas. Creio que, propositadamente, exauriram a ca- pacidade financeira da Petrobras com leilões desnecessários, pois o país está abastecido por mais de 40 anos. A partir da 11ª rodada, o ca- pital internacional irá sempre ga- nhar vários blocos, graças a plano maquiavélico com aprovação do governo do Brasil. Para fechar as contas, o gover- no fixou o bônus de assinatura de Libra, que é recebido no cur- to prazo, em R$ 15 bilhões, acima do esperado, abrindo mão de par- te da parcela que irá para o Fundo Social. Em outras palavras, ele es- tá trocando o recebimento de me- nos lucro durante 25 anos futuros por mais bônus agora, o que re- presenta receber um empréstimo a 22% ao ano acima da inflação, um mau negócio. As concessões não deveriam ser nunca assinadas, pelo me- nos, em novas fronteiras. O pre- juízo para a sociedade brasileira será grande se ficar comprovado que a margem equatorial é uma província petrolífera, pois blo- cos dela foram arrematados para assinatura de concessões na re- cente 11ª rodada. Para explicar o “furor entre- guista” existente nas rodadas, a ANP argumenta que as bacias se- dimentares brasileiras são pouco conhecidas. Porém, esta agência esquece que nem todas as áreas sedimentares são atrativas para a busca de petróleo, podendo-se citar, como exemplo, o setor SF- ZA-AR1 ofertado na 11ª roda- da, onde existiam 56 blocos e so- mente dois receberam propostas. Outro erro da ANP é que assinar concessões, danosas para a socie- dade, para buscar um melhor co- nhecimento das bacias não é in- teligente. A Associação dos Engenhei- ros da Petrobras nos informa que esta empresa já descobriu no pré- sal 60 bilhões de barris, em blocos arrematados através de leilões pe- la lei das concessões. Entretanto, ela só possui parte deste petróleo, porque, devido à pressa da ANP em leiloar, em muitos contra- tos, ela está associada a petrolei- ras estrangeiras. Gostaria de saber quanto já foi entregue de petróleo para as empresas estrangeiras, mas os dados disponíveis na ANP não permitem este cálculo. Pensava-se que o pré-sal iria alavancar um desenvolvimento brasileiro, graças ao tamanho das suas encomendas. No entanto, está ocorrendo a compra de em- presas nacionais genuínas, tra- dicionais fornecedoras da Petro- bras, por empresas estrangeiras. A exigência da ANP de “conteú- do local mínimo”, que não é um conteúdo local genuíno, surte efeito junto à Petrobras, porém, há dúvida com relação às empre- sas privadas, porque os descum- primentos desta exigência não são divulgados pela ANP. A boa novidade no Brasil são as manifestações de um povo que ainda titubeia entre as diversas rei- vindicações que querem que ele absorva. Visando sua maior cons- cientização, sugiro que movimen- tos sociais, centrais sindicais, sin- dicatos e associações de classe e de empregados sejam ouvidos. Espe- ro que o povo descubra que Libra, uma riqueza de US$ 1 trilhão, es- tará sendo doada em outubro pró- ximo. Meu receio é que o capital, péssimo perdedor, venha a usar al- go mais drástico para continuar a dominação. * É conselheiro do Clube de Engenharia.
  • 12. 12 Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Fernando Siqueira* Na política, há casos que deve- riam servir como ensinamen- to para se evitar cair em erro idên- tico no futuro. Edward Snowden, ex-empregado da CIA, compro- vou que o governo norte-america- no espionava o mundo todo e, em especial, o Brasil. A convocação do embaixador deste país, que supostamente é um país amigo, pelo Congresso brasi- leiro, deve ser feita, assim como o pedido formal de esclarecimentos do nosso governo ao país bisbilho- teiro. Porem, isto não é o mais im- portante, porque o governo nor- te-americano, como sempre, irá negar tudo que for possível negar e diminuir a importância do que não for possível negar. Verdadeiramente importan- te é o Brasil fechar sua porta para não ser mais roubado e verificar, dentre as informações já roubadas, quais podem estar causando ou vir a causar prejuízos para a socieda- de. A lição precisa ser aprendida. Não se pode mais confiar em equi- pamento militar guiado por GPS que utiliza satélite estrangeiro. A indústria de defesa não pode se basear em subsidiárias estrangeiras sediadas no país. É preciso recupe- rar a proteção à empresa nacional genuína, retirada da Constituição durante a revisão neoliberal dos anos 1990. A ABIN fica fiscalizan- do o MST, enquanto deixa soltos os espiões norte-americanos. Gra- ças a Edward Snowden, ficamos sabendo: quem tem um amigo as- sim, não precisa de inimigos. O que fez o Brasil para merecer isto? Com relação ao petróleo, a questão é muito mais séria, uma Snowden pode salvar o petróleo brasileiro vez que o ministro das Comunica- ções, Paulo Bernardo, admitiu em 11 de julho, em depoimento ao Senado, que “há a possibilidade de vazamento de informações estraté- gicas do governo brasileiro, como, por exemplo, dados sobre os lei- lões de exploração do petróleo do pré-sal”. Se houve este vazamen- to de informações sobre o pré- -sal, então, uma ou mais empre- sas petrolíferas norte-americanas podem ter informações privilegia- das. Nesta situação, o princípio da obrigatoriedade de igualdade de informações e condições pos- suídas pelas empresas participan- tes dos leilões não está sendo res- peitado. Este raciocínio nos faz lembrar o que ocorreu no sexto leilão de petróleo promovido pela Agencia Nacional do Petróleo – ANP. Es- ta agência introduziu uma subjeti- vidade no edital, que consistiu em fixar um peso de 40% no critério de julgamento das propostas pela compra no País (conteúdo local). A Aepet alertou a ANP na ocasião de que este critério propiciaria a manipulação dos resultados, pois uma concorrente poderia propor um conteúdo local alto, mesmo impraticável, e ganhar a concor- rência. Foi o que aconteceu. A empre- sa americana Devon apresentou em sua proposta um conteúdo lo- cal da ordem de 80%, inviável, e ganhou da Petrobras, que apresen- tou cerca de 60%. Assim, a Devon ganhou o bloco CM-65 pagando
  • 13. 13Petróleo Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br um bônus de assinatura bem me- nor do que o oferecido pela Pe- trobras. O fato relevante é que a Devon conhecia a proposta da Pe- trobras e sabia qual o percentual que ela ofereceria. É fundamental para a socie- dade brasileira que o Ministério Público requeira a suspensão do primeiro leilão com contrato de partilha, o do campo de Libra, lo- calizado no pré-sal, que está mar- cado para outubro próximo. E existem vários motivos para isto: 1) O campo de Libra foi ce- dido à Petrobras para sua capita- lização através da cessão onerosa: o governo cedeu cerca de seis blo- cos à Petrobras, que deveriam con- ter 5 bilhões de barris; a Petrobras pagou por estes blocos com títu- los de governo, e este usou os tí- tulos para recomprar ações da Pe- trobras. A Petrobras perfurou o primeiro deles, Franco, e achou reservas da ordem de 9 bilhões de barris; perfurou o segundo, Li- bra, e achou cerca de 15 bilhões de barris. A ANP poderia contra- tar Libra com a Petrobras, via con- trato de partilha, conforme prevê o artigo 12º da nova lei do petró- leo. Mas, ao invés disto, a ANP to- mou Libra da Petrobras e vai leilo- ar um campo que hoje é o maior do mundo e com risco zero, pois está perfurado, testado e compro- vado. Não tem sentido leiloar um “bilhete premiado”, quanto mais dessa magnitude. 2) Se a Petrobras ficar com o bloco, ela reinvestirá todo o lucro no país; já as empresas estrangei- ras remetem o lucro para fora, ge- rando grave déficit nas contas in- ternacionais. 3) A Petrobras já descobriu mais de 60 bilhões de barris no pré-sal, o que nos dá uma autossu- ficiência de mais de 50 anos. Pre- cisamos é de refinarias para expor- tar petróleo refinado, com valor agregado, pois exportar petróleo bruto gera uma perda, só de im- postos, de mais de 30%, além da perda de empregos e desenvolvi- mento tecnológico. 4) A Petrobras, como pionei- ra na prospecção em águas pro- fundas, é quem mais conhece a tecnologia, pois por necessidade, procurou ajudar nesse desenvolvi- mento. Além do mais, como esta- tal ela não faz concessões à insegu- rança. Por exemplo: a Transocean, que é uma prestadora de serviços de perfuração, perfurou para a BP em Macondo, no Golfo do Méxi- co, e causou grave acidente porque a BP mandou economizar na ci- mentação. A Transocean furou pa- ra a Chevron na Bacia de Campos e causou acidente por não ter re- vestido o poço e isolado o reser- vatório superior antes de perfurar o inferior. Como a pressão do se- gundo era mais alta, houve ruptu- ra do reservatório superior. A mes- ma Transocean já perfurou mais de 25 poços para a Petrobras e não houve acidentes. Portanto, não tem sentido lei- lões de petróleo se o País já tem pe- tróleo descoberto que lhe garan- te uma grande autossuficiência e se a Petrobras pode pesquisar com muito mais segurança e desenvol- vimento consolidado da tecnolo- gia. Enquanto isso, deve-se prio- rizar mais a construção de novas refinarias, que permitem exportar derivados com valor agregado, ge- rando mais lucro, mais emprego e mais desenvolvimento tecnológico. Como há uma pressão exter- na muito forte, visto que os paí- ses desenvolvidos e o cartel inter- nacional do petróleo estão numa grande insegurança energética por não serem detentores de reservas, o governo precisa atrair a socieda- de para fazer a contrapressão nas ruas para não liberarmos a nossa maior riqueza para atender à de- manda desses atores. A vinda do vice-presidente norte-americano Joe Biden para falar com a presi- dente Dilma e com a presidente da Petrobras mostra bem a dimen- são dessa pressão. E, como disse o Papa, “jovem que não protesta não me agrada”. Lembramos ainda outro fa- to ocorrido na época do 6º lei- lão da ANP: a Aepet entrou com uma ação de inconstitucionalida- de (ADI) no STF, através do Sena- dor Roberto Requião, para anular o artigo 26 da Lei 9478/97, que diz que o petróleo é totalmente de quem produz. E obriga o pro- dutor a pagar só 10% de royalties (eventualmente uma participação especial que monta cerca de 11% para os campos de alta produção, que, hoje, só a Petrobras paga). Houve dois votos magistrais favo- ráveis à ADI: dos ministros Ayres Brito e Marco Aurélio Mello. Eis que o presidente Lula entrou no circuito e ajudou a derrubar a ADI. Perguntou-se aos compa- nheiros do PT: por que o Lula es- tá contra o interesse nacional? A resposta foi: “ele recebeu a men- sagem dos EUA: “se esta ADI pas- sar, desista da reeleição”. Portan- to, temos motivos para crer que a vinda do vice-presidente america- no foi para trazer a mensagem de Obama para Dilma: “Entrega Li- bra e o pré-sal ou desista da ree- leição”. Só que Lula, reeleito, deu a volta por cima, criou o GT pa- ra rever a Lei de FHC e acabou gerando a nova lei do petróleo, a 12351/2010, que, embora peque por não ter eliminado os leilões, trouxe avanços consideráveis, tais como: a mudança de contrato de concessão (propriedade de quem produz) para partilha de produção (a União volta a ter a proprieda- de do petróleo) e a Petrobras ser a operadora única. Esta operação cria pelo menos duas condições favoráveis: a primeira é que a Pe- trobras é quem compra no mer- cado nacional, gerando empre- go e tecnologia. A segunda e mais importante é que isso dificulta a ocorrência das duas maiores inci- dências de corrupção na produção internacional: o superfaturamento dos custos de produção, ressarci- dos em petróleo, e a medição pa- ra menos do petróleo produzido. Talvez seja por estas gestões do Lula que se criou uma forte reação contra ele dos EUA e do cartel internacional do petróleo, que querem destruí-lo através da grande mídia. Assim, propomos que o MP suspenda de imediato os leilões de petróleo por suspeita de favo- recimento e informação privile- giada e que o povo vá para as ru- as, não por 20 centavos, mas por riqueza da ordem de US$ 20 tri- lhões, para contrabalançar a pres- são internacional. Há que defen- der a maior riqueza do País, que permitiria que o Brasil se transfor- masse numa potência econômica, financeira e tecnológica, erradi- cando todos os graves problemas de saúde, educação e mobilidade urbana. Enquanto uma averigua- ção sobre os danos da espionagem não for concluída, todo leilão tem que ser suspenso de imediato. Se não tivessem desmoralizado o Prêmio Nobel da Paz com pre- miados que nunca ajudaram a paz no mundo, Snowden poderia ser lançado candidato, atendendo ao desejo de grande parte da popula- ção mundial, por ser um dos ver- dadeiros construtores da paz. * É vice-presidente do Clube de Engenha- ria e da Associação dos Engenheiros da Pe- trobras (Aepet).
  • 14. 14 Saúde Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br Maria Malta* Os hospitais universitários (HUs) são equipamentos sociais de educação e saúde. São hospitais-escola e como tais se caracterizam por serem parte da universidade pública, atenden- do ao projeto político-pedagó- gico das instituições de ensino às quais se associam. São pelo menos 13 cursos diferentes que encontram nos hospitais seus espaços de formação prática: me- dicina, enfermagem, farmácia, biomedicina, fisioterapia, fono- audiologia, nutrição, psicologia, terapia ocupacional, musicote- rapia, odontologia, medicina fo- rense e serviço social. A estrutu- ra dos HUs é tão complexa que poderia ainda ser utilizada pa- ra a prática de estudantes de en- genharia, química, física, admi- nistração, direito e economia, só para dar os exemplos mais evi- dentes. Esta formação não se dá apenas em âmbito de graduação, mas também de pós-graduação, em especial no que se refere às residências médica e multipro- fissional, no campo da pesquisa clínica e pré-clínica e no desen- volvimento de tecnologias e pro- cessos inovadores. Um hospital-escola da uni- versidade pública tem o mes- mo objetivo que a universidade: promover o ensino, a pesqui- sa e a extensão universitária de forma pública, gratuita e com qualidade. No caso dos hospi- EBSERH: proposta do MEC para desconfigurar e empresariar os hospitais de ensino tais universitários, seu princi- pal braço de extensão é a assis- tência à saúde, o atendimento à população por meio de sua vin- culação com o Sistema Único de Saúde (SUS). No campo da assistência à saúde os hospitais universitários desempenham as funções de centros de referên- cia de média e alta complexida- de com o objetivo não apenas de atender às demandas do sis- tema, mas também desenvolver e avaliar novas tecnologias com a finalidade de incorporação das melhores ao SUS. Os hospitais-escola são as grandes incubadoras da novida- de, da eficiência e do desenvolvi- mento da formação e da prática da saúde no país com o foco nas necessidades da população. Por isso têm que ser públicos e não podem ser permeados por inte- resses econômicos que desloquem seu eixo da formação e da neces- sidade social para a produtivida- de e a lucratividade (às vezes apre- sentada com outros nomes, como relação custo-benefício ou gestão racional de recursos). Apesar da dupla vinculação dos HUs com o Ministério da Educação (MEC) e com o Mi- nistério da Saúde (MS), a maior parte do financiamento destes hospitais, até 2010, foi de res- ponsabilidade do MEC (pelo menos 70% do orçamento), que tem o quadro de trabalhadores como sua principal despesa. Is- so significou que os recursos dis- poníveis para manutenção e mo- dernização dos hospitais eram muito restritos, o que causou um subfinanciamento destes hospi- tais, por anos, e prejudicou sen- sivelmente as condições de tra- balho, ensino e pesquisa. Em 27 de janeiro de 2010, aparentemente reconhecendo a necessidade de enfrentar o pro- blema do abandono dos HUs pe- lo Estado, o decreto presidencial n° 7082 instituiu que o finan- ciamento dos hospitais univer- sitários federais seria partilhado, paritariamente, entre as áreas de educação e saúde. Este mes- mo decreto instituiu também o Programa Nacional de Reestru- turação dos Hospitais Universi- tários Federais (REHUF) para “revitalização dos hospitais das universidades federais, integra- dos ao SUS”. Apontava ainda que modernização dos HUs de- pendia também da iniciativa das próprias universidades de apre- sentar planos de reestruturação de seus hospitais, na medida em que deveriam ser respeitadas em sua autonomia. As universidades reivindicam seus hospitais. Os recursos para recuperá-los precisam ser aplica- dos pela própria instituição, res- peitando a lógica da formação e da pesquisa a serviço das neces- sidades da população da região em que cada um destes hospi- tais se insere. O projeto políti- co-pedagógico de cada curso que se servir do hospital deve incluir um compromisso com seu fun- cionamento. Os professores en- volvidos com os hospitais devem dedicar parte de suas horas de trabalho à extensão e ao ensino nestes locais, cumprindo seu pa- pel de supervisores, preceptores e profissionais de referência, inclu-
  • 15. 15Saúde Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br sive nas áreas que não são direta- mente ligadas à atenção à saúde. Os cursos devem assumir enfer- marias, salas de cirurgia, admi- nistração de compras e licitação, além das salas de aula e laborató- rios de pesquisa. Enfim, as uni- dades acadêmicas precisam assu- mir a direção geral do hospital, que apenas por elas dirigido será de fato um hospital-escola. Ao mesmo tempo o MEC, por meio da Coordenadoria Ge- ral dos Hospitais Universitários (que viraria mais tarde uma em- presa) estabeleceu lógica da ma- triz de distribuição dos recur- sos com base em um indicador composto que pudesse compa- rar e hierarquizar hospitais uni- versitários. Tal indicador toma- va por base três critérios: porte, desempenho e integração com o SUS. Quanto ao porte, os hospi- tais são medidos de acordo com o número de leitos ativos, leitos de UTI, partos de alto risco, sa- las cirúrgicas e habilitações para atendimento. Quanto ao desem- penho, os indicadores de refe- rência são as relações funcioná- rios/leito, estudantes/docentes, docentes/residentes, pesquisas/ docentes, internações/estudan- tes de medicina e internações/ residentes; taxa de ocupação; média de permanência geral e especialidade (sem hospital dia) e média de permanência na ma- ternidade. O último aspecto do indicador depende da integração do hospital com o SUS, que to- ma como referência a variedade de portas de entradas e o nível de contratualização. A maior parte dos indicadores toma com referência o número de leitos. O peso do número de lei- tos na avaliação dos hospitais re- flete um desconhecimento das importantes mudanças na medi- cina hospitalar ocorridas nas últi- mas quatro décadas. Há aumento do número de trabalhadores em relação aos leitos em todos os hos- pitais, visando melhorar o servi- ço prestado. Esta tendência refle- te principalmente um maior uso de tecnologia intensiva em equi- pamentos de alta complexidade em exames e tratamentos, o que não gera leitos, mas necessita pes- soal especializado para operação, supervisão de procedimentos, manutenção adequada e treina- mento, ao mesmo tempo em que reduz o tempo de diagnóstico e aumenta a eficácia dos tratamen- tos. Além disso, outra tendência que cumpre um papel semelhan- te à anterior é o maior atendi- mento ambulatorial e em hospi- tal dia. Seu impacto nos hospitais demanda mais pessoal para este tipo de atendimento, no entan- to também implica menor tempo de internação, menor risco de in- fecção hospitalar e maior confor- to ao paciente. Se estas são tendências dos hospitais gerais em busca de uma medicina de melhor qualidade, imagine-se em hospitais de ensi- no, que tendem a ter mais pes- soal em virtude das atividades de ensino, preceptoria e pesqui- sa. Tais indicadores são extrema- mente inadequados para medir isoladamente o desempenho dos hospitais-escola. A estranheza da escolha des- tes indicadores só começou a fa- zer sentido quando, em 15 de de- zembro de 2011, foi aprovada a Lei Federal nº 12.550, criando a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). A lei contraria o princípio afirmado no decreto de 2010 de que as univer- sidades deveriam avaliar e propor as soluções para os seus hospitais. A proposta da empresa retira das universidades as competências de administrar unidades hospitala- res, bem como prestar serviços de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnós- tico e terapêutico à comunidade no âmbito do SUS e inclui em seus “clientes”, além das institui- ções federais de ensino superior, outras “instituições congêneres”. Some-se a isso a determinação de que todos os recursos que as universidades federais recebes- sem para atender às necessida- des dos hospitais deveriam passar ao controle da referida empresa, compondo o seu capital. Assim, a lei propõe que os hospitais-es- cola deixem de ser administra- dos pela universidade e transfor- mem seu compromisso social de serem os espaços de formação, pesquisa e atendimento de mé- dia e alta complexidade para se- rem locais centrados em metas de atendimento. A transformação dos hospi- tais-escola em hospitais de uma empresa pública de direito pri- vado também revela outra lógica perversa no que se refere às rela- ções de trabalho naqueles hos- pitais. As novas contratações se- rão regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Es- ta mudança retira do trabalhador seu status de funcionário públi- co, com fé pública, suas respon- sabilidades regidas pela lei 8112 (a lei que institui o Regime Ju- rídico Único – RJU) e seu com- promisso com uma ação sempre orientada para atender as neces- sidades da população. Transfor- ma o funcionário em um traba- lhador sob as normas do direito privado, em cujo contrato de tra- balho o compromisso existente é com os resultados da empresa. Acompanhando esta mudança vem o discurso que de é mais fá- cil gerir trabalhadores com vín- culo CLT que trabalhadores com vínculo RJU. Se o objeto de trabalho, os meios de trabalho e a força de tra- balho continuam sendo os mes- mos, o que será que muda para se pensar que sua administração possa ser mais fácil em um regi- me ao invés do outro? A hierar- quia e o poder do empregador de demitir sem justa causa. Esta evi- dente instabilidade introduzida na relação de trabalho é parte de uma forma mais cara de contrata- ção, pois exige depósito do FG- TS, para o empregador, no caso o Estado e o povo brasileiro. Não faz sentido, em nome dos cofres públicos, argumentar que é me- lhor contratar na forma do direi- to privado, especialmente consi- derando que estes trabalhadores produzirão saúde e educação pú- blicas e gratuitas. Este caminho de empresa- riamento da saúde e da educa- ção traçado pelo atual governo se abre com a proposta da EB- SERH, mas já tem no seu en- calço a proposta de lei comple- mentar 92 que já tramita no Congresso. Tal lei cria a possibi- lidade de estabelecer empresas e fundações para desempenhar ati- vidade estatal nas seguintes áreas: saúde, educação, ciência e tecno- logia, cultura, desporto, meio ambiente, previdência comple- mentar dos servidores públicos, comunicação e turismo. A EB- SERH é mais uma peça na en- grenagem de destruição do Es- tado construído na Constituição de 1988, voltado para o atendi- mento das necessidades da maio- ria da população. * É professora adjunta do IE/UFRJ e co- ordenadora do Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA).
  • 16. 16 Jornal dos Economistas / Agosto 2013www.corecon-rj.org.br 10h às 13h A relação da obra de Ignácio Rangel com a atualidade. Palestrantes: Elias M. K. Jabbour Marcio Henrique Maria Malta Moderador: Arthur Câmara Cardozo 14h30 às 17h30 Perspectivas políticas a par- tir das manifestações populares de junho. Palestrantes: Paulo Passarinho Daniel Iliescu Tadeu Lemos Moderador: Sidney Pascoutto da Rocha Debates marcam Dia do Economista 18h30 às 21h30 A política econômica de longo prazo face às manifestações populares de junho Palestrantes: Plínio Sampaio João Paulo de Almeida Magalhães Carlos Lessa Moderador: Sidney Pascoutto da Rocha n Nos termos da Resolução nº. 1.865/2011 do COFECON faço saber que no dia 31 (trinta e um) de outubro de 2013, com início às 09h e término às 18h, serão realizadas eleições para renovação do 1º Ter- ço de conselheiros efetivos e suplen- tes do CORECON-RJ, e de dele- gados-eleitores, efetivo e suplente, junto ao Colégio Eleitoral do CO- FECON, da seguinte forma: 1. 03 (três) conselheiros regionais efetivos e 03 (três) conselheiros regionais su- plentes para integrar o Plenário do CORECON-RJ, com mandato de 03 (três) anos: (2014/2016); 2. 01 (um) delegado eleitor efetivo e 01 (um) delegado eleitor suplente para integrar o Colégio Eleitoral do CO- FECON; 3. Presidente e Vice-Pre- sidente para a gestão de 2014, em regime de consulta a ser ratificada pelo Plenário do CORECON-RJ, nos termos de sua Resolução nº. 177/13. O prazo para registro de chapas será de 30 (trinta) dias, con- tados a partir da data desta publi- cação encerrando-se às 17h do dia 13/09/13. O registro das chapas se- rá feito na sede do Conselho, loca- lizada na Avenida Rio Branco 109, 19º andar, Centro – Rio de Janei- ro – RJ, no horário das 10 às 17 horas. A eleição será realizada em REGIME MISTO, conforme dis- põe a Resolução CORECON-RJ nº. 175/13. Poderão votar os eco- nomistas registrados e quites com suas anuidades ou com o parce- lamento dos débitos referentes às mesmas, até a data da realização do pleito, bem como os registrados na condição de remidos, na jurisdição deste Conselho, não sendo permi- tido o voto por procuração. No ca- so do voto por correspondência, o economista deverá enviar seu voto utilizando o envelope padroniza- do encaminhado previamente pe- lo CORECON-RJ. Somente serão aceitos os votos postados na Em- presa Brasileira de Correios e Telé- grafos, encaminhados à Caixa Pos- tal do CORECON-RJ e recebidos antes do encerramento dos traba- lhos de votação. Para o voto pre- sencial, o economista que não te- nha votado por correspondência, deverá comparecer ao local de vo- tação, exibir junto à mesa eleitoral documento hábil de identificação e assinar a folha de votação que obe- decerá a ordem numérica ou alfa- bética dos economistas registra- dos no CORECON-RJ. LOCAL DA VOTAÇÃO PRESENCIAL: Conselho Regional de Econo- mia 1ª Região- RJ, localizado na Av. Rio Branco, 109 – 19º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ. O horário de votação será das 09 às 18h. Os trabalhos de apuração se- rão realizados no dia 31/10/13, na sede do CORECON-RJ, imedia- tamente depois de encerrado o pe- ríodo de votação e após a retirada final dos votos por correspondên- cia, na caixa postal mantida pelo CORECON-RJ junto a ECT, às 17h. COMISSÃO ELEITORAL: Fica designada, para executar e responder pelo processo eleitoral, da seguinte forma: Efetivos: Eco- nomistas: João Manoel Gonçalves Barbosa, Jorge de Oliveira Camar- go, Antonio Melki Júnior. Presi- dente: Antonio Melki Júnior. Su- plente: Economista Cesar Homero Fernandes Lopes. A primeira reu- nião desta Comissão Eleitoral para análise e julgamento do registro da (s) chapa (s) inscrita (s) juntamen- te com seus respectivos candidatos será realizada na sede do CORE- CON-RJ, em 17/09/13 às 18h. Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2013 Sidney Pascoutto da Rocha Presidente Edital de convocação para eleições Agosto Macroeconomia e microeconomia para concursos Professor Carlos Maximiliano 27 de agosto a 3 de dezembro - todas as 3ª feiras 18h30 às 21h30 - 45 horas Prof. Pós- Graduação Engenharia Econômica UERJ Valuation Introdução à Avaliação de Empresas com Modelagem Financeira em Excel Professor Marco Antonio Monteiro 22 de agosto a 14 de novembro - todas as 5ª feiras 18h30 às 21h30 - 39 horas Experiência de oito anos em finanças corporativas e mercado de capitais. Agenda de cursos INSCRIÇÕES ABERTAS. Informações: www.corecon-rj.org.br/cursos.asp Evento, aberto a economistas, acontece na Firjan em 13 de agosto, terça-feira Promoção: Corecon-RJ, Sindecon-RJ e CED Sede da Firjan: Av. Graça Aranha, n° 1, 3° andar, Centro. Rio de Janeiro/RJ