1. O impactar de Cristo na cultura através da música
Por: David L. Bahnsen
01 de Março de 2001
Para aqueles de nós que defendem o credo e o básico manifesto da Calcedônia,
entender o impacto do cristianismo em toda a cultura deveria ser a força motriz em
nossas vidas. De fato, o próprio Deus ordenou que os cristãos levassem a
mensagem do evangelho (toda a mensagem) a todo o mundo (Mateus 28:18-20).
Talvez, a expressão mais relevante na cultura, atualmente, situa-se na música
moderna. Certamente, no que se refere às gerações mais novas (10 - 25 anos). Eu
tenho o privilégio de trabalhar no setor da música cristã contemporânea, desde que
eu comecei minha carreira profissional, há quase oito anos.
A minha mais firme convicção é que, aqueles de nós que procuram domínio
precisam ficar por dentro do que os cristãos estão fazendo na música moderna, os
problemas existentes que impedem o sucesso dela no setor, e as metas e objetivos
que os cristãos devem ter como incentivos para seguirem em frente. A música cristã
contemporânea tem sido o gênero de música que cresce mais rápido, em termos de
vendas certificadas, por quase cinco anos, (ultrapassando a música country) no
gráfico de vendas oficial da revista Billboard. Artistas como Sixpence None the
Richer, P.O.D., Jars of Clay, etc., têm alcançado um sucesso considerável no
mundo do comércio de rádio e vídeo. Artistas que costumavam vender de 10.000 a
20.000 álbuns nas bibliotecas cristãs, agora conseguem movimentar mais de
150.000, chegando a 300.000 álbuns, isso tudo em um pequeno mundo de
bibliotecas cristãs. Entre as receitas de ingressos de shows e álbuns vendidos, o
setor da música cristã é avaliado em $1 bilhão, e continua crescendo.
Para o propósito desse artigo, eu não estou me referindo a artistas contemporâneos
tradicionais mais velhos, como Sandi Patty e Amy Grant, e também não me refiro ao
consagrado setor do Black gospel e a Southern gospel music . Em termos de1
gênero musical, que as crianças na maioria das vezes recebem em suas estações
“seculares” de rádio local ou na MTV , o gênero de música “de ponta” está2
crescendo no mundo cristão. Para aqueles de nós que anseiam pelo domínio
cultural nas salas de aulas, hospitais, políticas, laboratórios de ciências, mercados
financeiros, e as artes, isso deveria ser visto como um cenário animador. Meu já
falecido pai, Dr. Greg Bahnsen, costumava a se referir ao estilo de música rock n’
1
Gênero de música cristã. Seu nome vem de suas origens no sudeste dos Estados Unidos, cujas
letras são escritas para expressar fé pessoal ou comunitária sobre os ensinamentos bíblicos e a vida
cristã, além de oferecer uma alternativa cristã à música secular convencional. (wiki)
2
“Music Television” canal televisivo americano com intuito de transmitir conteúdo musical aos
telespectadores, com o alvo de audiência os adolescentes e jovens adultos.
2. roll como um “rito de passagem” para a cultura jovem. De fato, tendo sido um
adolescente há menos de dez anos, e agora trabalhando com bandas que vendem
mais de 1 bilhão de discos, eu, certamente, posso provar a veracidade da afirmação
que a música foi um tremendo impacto no pensamento e no estilo de vida dos
adolescentes e dos ouvintes universitários. Idolatria é pecado, não importa qual
forma ela tenha, e eu, certamente, não concordo com crianças trocando suas vidas
espirituais ou sua educação pessoal por uma obsessão pecaminosa na cultura e
estilo de vida proporcionado pelo rock. Contudo, a música faz parte da nossa
sociedade, e os cristãos estão sendo negligentes em ignorar suas responsabilidade
de usá-la como ferramenta em nosso chamado de domínio e como meio de
glorificar nosso Pai Celestial.
O que embarga o crescimento do setor da música cristã? Por que demorou tanto
tempo para alguns desses mais talentosos grupos ganharem a exposição e o
sucesso que eles mereciam? Eu listei alguns motivos importantes, e espero que os
leitores da Report não se sintam culpados com nada disso.3
Teologia Pobre
Há uma atitude generalizada, no mundo da música cristã, que também permeia o
pensamento de uma boa parte das revendedoras, estações de rádio e promotores
de show. É a antiga falácia arminiana de que, a menos que a mensagem e o
propósito da música e dos músicos forem especificamente evangelística e
direcionada para aquilo que eles chamam de “ganhar almas,” não é digna de ser
rotulada de “música cristã.” Ao longo dos anos, gerenciei muitos grupos que foram
impedidos de se apresentarem em certos eventos, porque eles não faziam apelos
ao altar. O pensamento de que qualquer pessoa cristã que compõe canções ou toca
algum instrumento, está fadada a levar a mensagem de João 3:16 toda noite é
absurdo, e eu garanto a você que essa é uma atitude comum no setor da música
cristã. Algumas revendedoras encomendam os seus produtos, de novos
lançamentos, baseadas em quantas vezes a palavra “Jesus” aparece nas letras dos
álbuns. A realidade é que, uma pessoa cristã que escreve uma canção sobre o
divórcio de seus pais, ou sobre o amor que ele têm por sua esposa, ou sobre uma
situação confusa que ele está lidando em sua vida é justo e, também, legítimo, tão
quanto quem escolhe escrever uma canção mais evangelística. Graças a Deus que
Davi e Salomão não foram inibidos pelos padrões estabelecidos no setor da música
cristã atual. Além disso, há um pensamento fundamentalista que todo rock n’roll e
todas as danças são feitas pelo diabo e, portanto, não são apropriadas para
cristãos. Apesar desse pensamento estar diminuindo, ainda existem mais do que
deveria — particularmente, em certas partes do país — e é um pensamento
3
Revista que David L. Bahnsen escreveu.
3. destrutivo e pequeno, que tira dos cristãos a chance de permear a cultura com boas
músicas. As deficiências teológicas do setor são assustadoras.
Musicalidade Pobre
Francamente, por anos e anos, a música produzida por artistas cristãos têm sido tão
abaixo do padrão, que não têm merecido atenção na cultura. Eu acredito que isso
está mudando, mas, algumas das falácias teológicas que mencionei acima
restringem severamente a qualidade e o talento que deveria existir na música cristã.
Assim como Deus exige que médicos crentes sejam os melhores em suas
profissões, e assim como Deus espera que os pastores sejam minuciosos, precisos,
e que articulem bem suas pregações, Deus chama músicos crentes para
escreverem boas músicas e que as toquem de uma maneira que glorifica a Ele.
Constantemente leio artigos que afirmam que “todas músicas cristãs são horríveis.”
Esse estereótipo foi bem merecido no passado, então sou moderado em minha
crítica. Mas estou confiante que esse panorama está mudando, e incentivo os
leitores da Report a avaliarem alguma música que está disponível agora. É uma
batalha constante, mas, o nível de talento está mais alto do que nunca, e aí há uma
oportunidade única para o domínio cristão nos campos de composição e
performance.
Business Pobre
Em adição à teologia ruim, eu acredito que o setor sofreu imensamente pela
incompetência no aspecto comercial deste negócio. Tomar decisões ruins, má
aplicação de seus recursos, má gestão de funcionários, planos de marketing
incompletos, etc., é comum nesses negócios. Infelizmente, a prática de maus
negócios que me refiro são, na maioria das vezes, justificadas por alegações como,
“de qualquer jeito, é apenas um ministério” ou “eu não faço isso por dinheiro.” A
suposição que não está explícita é: “estou fazendo isso para Deus, então não
importa quão bem eu faça”; exatamente o oposto do que a bíblia ensina. Na medida
em que o setor da música melhorar a qualidade de seus negócios, sua sabedoria no
investimento financeiro e sua sofisticação na produção, marketing e distribuição,
mais portas se abrirão para aqueles que levam a sério o impactar de Cristo através
da música na cultura.
Ética pobre
A última, mas não menos importante, e, certamente, a mais deprimente de todas as
categoria que acredito, é que o setor é embargado, massivamente, por éticas ruins
nas vidas de muitos dos empresários e celebridades da música que fazem parte do
setor. Escândalos pessoais, horrível vivência familiar, fraude financeira etc., são
4. coisas muito comum no setor que carrega em seu título o nome “cristão”. Como
acontece frequentemente, os cristãos podem ser os piores na prática do que eles
pregam e, certamente, há uma enorme necessidade de piedade e reforma nas vidas
pessoais de todos aqueles no negócio da música cristã que professam o nome de
Cristo.
Para mim mesmo, como um homem cristão e ativo no setor da música, acredito
que, a fim de avançar no setor, devemos corrigir cada um dos problemas citados
aqui. Para um potencial consumidor, cético em relação à música cristã, eu o
encorajo a reavaliar o que está disponível na música cristã hoje. A internet percorreu
um longo caminho para aumentar o nível de exposição nacional de seletos artistas
cristãos, e isso só irá aumentar ao longo dos anos. Isso não é de forma alguma um
negócio perfeito. Mas qualquer um que realmente deseja ver sua comunidade ser
impactada por Cristo, sem falar a sociedade em geral, a música será uma
ferramenta muito importante nesse sentido. Se os cristãos não usarem a música
para opinar, alguém usará. Pela graça de Deus, que os compositores cristãos
possam melhorar seus ofícios, que as empresas de música cristã melhorem suas
habilidades e conhecimentos, e que os consumidores da música cristã abram suas
mentes para o bom material que existem por aí. Mais importante, que todos aqueles
que estão dentro ou fora do setor queiram viver suas vidas santificadas, para que
quando a mensagem atingir o cerne de nossa cultura, não seja tomada como vazia.
Música como entretenimento, como mensagem, e como uma expressão criativa,
são todos objetivos válidos. Que seja os cristão que dominem todas essas
categorias nas próximas gerações.
Tradução: Miquéias Viana.