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O evangelho da
PROSPERIDADE
Alan B. Pieratt
tradução de
Robinson Malkomes
Digitalizado e revisado por Micscan
Para: semeador.forumeiros.com
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
Caixa Postal 21.406 • CEP 04698-970 • São Paulo-SP
Copyright • 1993 de Alan B. Pieratt
Arte de capa: Melody Pieratt e Íbis Roxane
Coordenação editorial: Robinson Malkomes
Coordenação de produção: Eber Cocareli
Primeira edição: abril de 1993
Todos os direitos de publicação reservados por
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
Caixa Postal 21486 - 04698-970 São Paulo-SP
Conteúdo
Capítulo 1. Considerações Introdutórias 08
1. Visão Geral 09
2. Antecedentes Históricos 16
3. Prévia do Conteúdo 28
Capítulo 2. Os Ensinos da Teologia da Prosperidade 31
1. Autoridade Espiritual 33
2. Saúde e Prosperidade 47
3. A Confissão Positiva 61
Capítulo 3. Respostas ao Evangelho da Prosperidade 90
1. Autoridade Espiritual 95
2. Saúde e Prosperidade 125
3. A Confissão Positiva 153
Capítulo 4. A Cosmologia da Prosperidade 173
1. O Dualismo do Corpo e do Espírito 176
2. O Dualismo no Conhecimento 183
3. O Dualismo na Salvação 196
4. O Dualismo de Deuses 203
5. O Problema do Mal 209
Capítulo 5. A Espiritualidade do Evangelho da Prosperidade 220
1. Promessas e Exigências 221
2. Teologia da Glória — Teologia da Cruz 228
Bibliografia 230
PREFÁCIO DOS EDITORES
Uma das características do século XX na esfera teológica é a
extensa produção das chamadas "teologias de genitivo". A
elaboração de reflexões cada vez menos sistemáticas e mais
especulativas fez surgir no cenário teológico do nosso tempo as
Teologias "do Processo", "da Esperança", "da Morte de Deus",
"da Libertação", dentre outras. Por meio de um processo
progressivo de fuga da teologia sistemática tradicional, essas
teologias, com suas diversas ênfases, alcançaram autonomia em
relação às diferentes confissões de fé cristãs, tornando-se, em
maior ou menor grau — dependendo da cultura onde estão
inseridas — objetos de opção pessoal.
Esse método de fazer teologia influenciou e incentivou, ainda
que não intencionalmente, o surgimento de "novas descobertas"
no campo das relações entre Deus e o homem. Há alguns anos,
por exemplo, descobriu-se que determinados ensinos que nos
foram transmitidos desde a era apostólica estavam errados. Os
filhos de Deus são filhos do Rei, e é nessa condição que devem
viver. A perspectiva de uma vida cristã repleta de restrições,
sofrimentos e tribulações por amor a Cristo não corresponde ao
verdadeiro plano de Deus para Seus filhos amados. Ao contrário,
Ele deseja que Seus filhos sejam em tudo bem sucedidos,
vitoriosos e triunfantes sobre todas as vicissitudes da vida.
Afinal, toda espécie de mal — incluindo as doenças e a pobreza
— é fruto da ação direta de Satanás e, portanto, destinada apenas
aos que se encontram sob o seu sinistro domínio, nunca aos
verdadeiros crentes. A razão de existirem muitos cristãos que
ainda padecem dos males deste mundo tenebroso é a sua
ignorância quanto a seus direitos como filhos de Deus e ao poder
divino disponível nas palavras daqueles que conhecem os
segredos da confissão positiva. Os méritos dessa descoberta são
reivindicados pelo norte-americano Kenneth Hagin, autor de
vários livros sobre o assunto, muitos deles já traduzidos para o
português.
No Brasil, essa nova teologia tem recebido designações
variadas, tais como: "Movimento Palavra da Fé", "Teologia da
Confissão Positiva" ou "Teologia da Prosperidade". Travamos
conhecimento com esses novos ensinos inicialmente por meio do
tele-evangelista norte-americano Rex Humbard e, atualmente,
mediante pregações em rádio e televisão e nos púlpitos de
grandes igrejas que se encontram em evidência. Milhares de
cristãos, membros de denominações tanto pentecostais quanto
históricas, tem abraçado com entusiasmo os ensinamentos dessa
nova teologia. Há também variantes mais místicas do mesmo
pensamento, representadas por aqueles que enfatizam à exaustão
a necessidade de o crente conhecer os mistérios ligados à batalha
espiritual e à ministração de cura interior. O impacto disso tudo
se faz sentir no grau de confusão, desorientação e assombro
presentes em quase toda a comunidade evangélica brasileira.
Mesmo a atividade pastoral tem se ressentido da falta de
referenciais teológicos, bíblicos e eruditos que confrontem
satisfatoriamente o problema.
O Evangelho da Prosperidade — Análise e Resposta tem por
objetivo iniciar um debate sério, honesto, bíblico e imparcial
sobre o tema. Para tanto, o autor analisa criteriosamente a tríplice
base da nova doutrina: 1) as alegações de Hagin sobre sua
autoridade espiritual de caráter profético; 2) as promessas de
saúde e riqueza; e 3) o método da confissão positiva. Cada uma
dessas bases é analisada separadamente, com numerosas citações
que enriquecem sobremaneira esta obra. No capítulo 4, discute-se
a cosmologia do evangelho da prosperidade, analisando-se seus
pressupostos ontológicos, antropológicos e. epistemológicos
de forma altamente elucidativa. Ali o autor também expõe a
teodicéia de Hagin, apresentando sua solução para o problema do
mal e contrapondo-a à solução cristã tradicional de origem
agostiniana.
O Dr. Alan Pieratt, teólogo, Ph.D. em Ciências da Religião,
professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde
leciona as disciplinas de Hermenêutica e Teologia
Contemporânea, traz com seu O Evangelho da Prosperidade —
Análise e Resposta uma contribuição inestimável ao labor
teológico atual, marcado por tantas controvérsias absolutamente
desnecessárias e por uma injustificável ausência de erudição.
Edições Vida Nova espera, com este livro, ajudar àqueles que
sinceramente procuram trilhar o caminho apertado e estreito que
conduz à salvação.
Rev. Eber Cocareli
Capítulo
Um
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
De onde veio o evangelho da prosperidade? Como ele se
relaciona com o pentecostalismo? Quem são Kenneth Hagin e
E. W. Kenyon e por que são importantes para este
movimento? Fornecemos aqui uma breve introdução his-
tórica ao movimento da prosperidade.
1. Visão Geral
A igreja protestante no Brasil de hoje enfrenta numerosos
problemas inerentes à América Latina, incluindo catolicismo
cultural, pobreza, analfabetismo, espiritismo, religiões africanas,
corrupção política, etc. Do lado de fora, cada um desses desafios
confronta a igreja como uma forma diferente do "mundo" contra
o qual o apóstolo João advertiu que nos preveníssemos (1 Jo
2.15). Entretanto, como o próprio título indica, esta obra trata de
um desafio para a igreja, que está surgindo dentro dela e,
portanto, constitui uma ameaça de natureza completamente
distinta. Uma interpretação do evangelho, nova e extremamente
atrativa, cruzou as fronteiras para invadir o cristianismo
brasileiro. Ela tem recebido vários nomes, a saber: "Palavra da
Fé", "Ensino da Fé", "Confissão Positiva" ou "Evangelho da
Prosperidade". Destes, o último parece o mais exato, pois esse
movimento surge para oferecer uma compreensão distinta do
evangelho de Cristo como um todo. A semelhança do conhecido
evangelho, ele proclama boas novas. Mas as novas não são de
que temos o perdão dos pecados e paz com Deus por meio de
Cristo. São de que podemos ter a solução de nossos problemas e
viver com saúde e prosperidade. Esta mudança no conteúdo da
esperança cristã, passando do porvir para o aqui e agora, tem
conseqüências de tão grande alcance que o nome "evangelho da
prosperidade" parece apropriado.
As raízes desse evangelho encontram-se no Primeiro Mundo.
Talvez isto seja justo, uma vez que sua ênfase está naquilo que os
países do norte tanto parecem ter — prosperidade financeira.
Mas ele foi rapidamente bem recebido aqui no Brasil e, apesar de
ainda estar em sua infância, parece crescer a passos gigantescos.
É claro que a atração no contexto brasileiro não é exercida pela
presença da prosperidade, mas por sua ausência. De qualquer
forma, o evangelho da prosperidade é uma mensagem de muito
poder e esperança que não está limitada a nenhum continente,
igreja ou denominação.
O propósito deste livro é analisar esse novo movimento e
oferecer uma resposta a ele. O leitor atento perceberá que, ao
chamá-lo "novo", colocamo-lo sob suspeita desde o princípio.
Em matéria de fé, raramente o novo é melhor. Voltaremos a esse
ponto no capítulo três. Basta afirmar agora que a teologia tem
como tarefa principal a transmissão fiel da mensagem recebida
pelos Doze (1 Co 15.3). O leitor que concordar comigo neste
ponto desejará então saber qual é meu ponto de vista sobre a
teologia. De que perspectiva serão feitas essa crítica e essa
análise? Esta é uma pergunta justa e necessária. A teologia que
está por trás deste livro foi formulada na Reforma e pode ser
chamada "protestantismo clássico". Seu princípio fundamental é
de que somente a Bíblia é o único guia para conhecermos a Deus
e apenas Cristo é a única esperança de salvação. Desses dois
critérios, o primeiro é suficiente para fornecer a base da crítica à
teologia da prosperidade. O leitor que se encaixa na tradição
protestante logo se sentirá à vontade com essa abordagem.
Entretanto, quaisquer que sejam suas convicções teológicas,
espero que ele se digne a ler o argumento até o fim. Qualquer
pessoa que tenha desembolsado dinheiro para comprar este livro
deve ser um pastor, um obreiro cristão ou um leigo inteligente.
Neste caso, você é um dos líderes de sua igreja e, conforme
Paulo afirmou há muito tempo, tem a responsabilidade tanto de
"exortar pelo reto ensino como para convencer os que
contradizem" (Tt 1.9). Para realizar essa tarefa, precisamos, em
primeiro lugar, entender com clareza nossa própria teologia e,
depois, a de nosso opositor.
Algumas obras norte-americanas, escritas contra a teologia da
prosperidade, tratam-na como se fosse uma heresia ou uma seita
(McConnell, 1988). A posição que adotamos aqui é de que,
certamente, ela não é uma seita. Uma seita é composta por um
grupo bem definido de pessoas, assim como as testemunhas de
Jeová ou os mórmons, que se chamam cristãos, mas negam
doutrinas básicas da Bíblia, tais como a trindade e a divindade de
Cristo. A compreensão defeituosa que têm do cristianismo é
suficientemente séria para colocá-las fora do círculo da fé. Isso,
porém, não se aplica aos ensinos do evangelho da prosperidade.
Seus adeptos não negam nenhuma doutrina básica nem buscam
outro fundamento que não seja Cristo e os apóstolos. Antes,
trata-se de uma forma de compreender a Bíblia que, conforme
mostrarei, abandona em alguns pontos as possibilidades de
interpretação permitidas pela própria Bíblia.1
Eu acrescentaria
que ela e uma forma bem moderna de interpretação, que reflete
pressuposições contemporâneas sobre aquilo que o homem pode
esperar da vida. Seus ensinos podem ser comparados a outro
fenômeno moderno: o vírus de computador. Ambos são capazes
de se espalhar em qualquer sistema, danificando aquilo que
1
O autor não deseja usar a palavra "heresia" para rotular a doutrina da prosperidade, pois
tal julgamento é severo e deve ser feito somente com muita cautela e por muitas vozes
juntas. Vale observar que, na Bíblia, a palavra heresia é usada para se referir a três coisas:
1) um partido ou facção dos judeus, como os saduceus ou os fariseus (At 5.17); 2) um
partido ou facção dos cristãos (At 24.14; 1 Co 11.19) — aqui, a palavra é sinônimo de
cisma; e 3) uma opinião ou doutrina contrária à crença da igreja (Gl 1.8; 5.20; 2 Pe 2.1).
Em grego, "allos" significa "outro" do mesmo tipo ou numa série. "Heteros" significa
"outro" de um tipo diferente. Em alguns contextos, as palavras são intercambiáveis. Mas,
em Gálatas, o sentido de "heteros" é claro. Além disso. Pedro classifica como destruidoras
as heresias que chegavam ao ponto de negar Jesus Cristo (2 Pe 2.1). Paulo afirma que o
homem que causa divisões na igreja é "herege", pervertido e autocondenado (Tt3.10; ARC).
tocam, mas raramente destruindo por completo o objeto da
infecção. De modo semelhante, esta interpretação do evangelho
altera a mensagem cristã, mas não a torna irreconhecível ou
irrecuperável.
Na história da igreja, novas interpretações da Bíblia ou de uma
única doutrina apareceram em dimensões e formas diferentes.
Algumas começaram em círculos pequenos e continuam assim,
tal como o reduzido grupo de igrejas "apostólicas" de hoje, que
crêem que a doutrina da trindade não é bíblica. Outros, tais como
os adventistas do sétimo dia, desenvolvem interpretações o
bastante para atrair adeptos que chegam a formar uma
denominação por si mesmos. Cada caso e diferente, mas, de
modo geral, uma nova interpretação da Bíblia irá se expandir se
atender uma ou mais das seguintes condições: 1) ter um líder
"carismático" (ou líderes) que expresse com eloqüência a nova
doutrina; 2) satisfazer as necessidades e esperanças das pessoas;
e 3) corresponder bem ao ambiente cultural. A teologia da
prosperidade atende com excelência cada uma dessas três
condições. É dirigida por um grupo relativamente pequeno de
líderes talentosos e que estão em evidência. Ela tem resposta para
algumas das esperanças mais profundas que as pessoas têm na
vida, ou seja, o desejo de ter saúde e prosperidade financeira.
Além disso, encaixa-se bem nas pressuposições culturais da
sociedade ocidental, no sentido de que as boas coisas da vida não
devem ser evitadas, mas buscadas e aproveitadas. Dentre esses
fatores, os mais importantes são o segundo e o terceiro. O
evangelho da prosperidade está fadado a se expandir por algum
tempo e a ser ouvido e acatado por muitos, pois diz aquilo que as
pessoas querem escutar. Novos movimentos crescem porque
satisfazem alguma necessidade do coração humano expressa na
cultura de determinada época. Na igreja primitiva, os primeiros
convertidos eram quase todos judeus. Durante décadas os
apóstolos lutaram contra a inclinação que eles apresentavam,
como seguidores de Cristo, de continuar sendo judeus antes de
mais nada. No segundo e terceiro séculos, o gnosticismo dizia
aos gregos e romanos recém-convertidos que havia um
conhecimento secreto que estava à disposição daqueles que o
buscassem. Isso exercia uma enorme atração sobre aqueles que
haviam sido educados segundo o pensamento grego, pois tais
pessoas haviam aprendido que as verdades mais elevadas sobre
as realidades espirituais estavam à disposição daqueles que as
buscassem. Em nossa época, parece que a promessa de saúde e
riqueza vai de encontro às mais profundas esperanças culturais e
pessoais do homem atual.
O evangelho da prosperidade aproveita-se das pressuposições de
nossa cultura e das esperanças pessoais de forma extremamente
agressiva. Observe o seguinte anúncio, colocado em dois jornais
que atendem a colônia brasileira da costa leste dos Estados
Unidos, o Brazilian Voice e o Brazilian Times. O anúncio
prometia solução para os seguintes casos:
Desemprego, caminhos fechados, dificuldades financeiras,
depressão, vontade de suicidar, solidão, casamento
destruído, desunião na família, vícios (cocaína, crack,
álcool, etc), doenças incuráveis (câncer, aids, etc), dores
constantes (de cabeça, coluna, pernas), insônia, desejos
homossexuais, perturbações espirituais (você vê vultos,
ouve vozes, tem pesadelos, foi vítima de bruxaria,
macumba, inveja ou olho grande), má sorte no amor,
desânimo total, obesidade, etc. ... Nós! Sim, nós temos a
solução para você! (Ultimato, janeiro de 93, 14.)
Dificilmente existe um problema conhecido pela humanidade que
não esteja incluído nessa lista. Qual a pessoa que, à margem de
uma sociedade estranha, sentindo-se deslocada e alienada, não
ficaria curiosa para buscar maiores informações?
Parte da fascinação dos ensinos sobre prosperidade está no fato
de eles, aparentemente, prometerem tantas coisas e exigirem tão
pouco em troca. Eles afirmam que a saúde e as riquezas são
nossas; basta que sigamos os passos apropriados da confissão
positiva. A maioria das religiões e pseudo-religiões exige mais de
seus seguidores. O marxismo oferece um bom contraste. No
início e até meados deste século, ele exerceu forte atração sobre
as sociedades que estavam desencantadas com a liberdade
política de que gozavam e cansadas da pobreza econômica. O
marxismo atraía seus adeptos por meio de promessas quase
religiosas de justiça, liberdade e cumprimento para toda a
sociedade do futuro. Entretanto, ele não prometeu que a utopia
futura viria sem um preço. Dificuldades econômicas, perda de
liberdade pessoal e governos ditatoriais faziam parte do preço
que a geração daquele momento deveria pagar. Muitos aceitaram
aquilo de boa vontade, pensando que assim trariam uma
sociedade melhor para seus filhos (Hyde, 1966). Mas isso não
aconteceu. A questão é que, ao contrário do marxismo, os
pregadores do evangelho da prosperidade parecem oferecer tudo
e exigir quase nada em troca, exceto, talvez, que o fiel seja mais
generoso na hora de abrir a carteira durante a oferta. No último
capítulo, verificaremos que as reais exigências são bem maiores
do que essa, embora, a princípio, sejam ocultadas.
Com esse tipo de mensagem é possível formar uma igreja grande
em pouco tempo. Dos que estão doentes, quem não virá para
ouvir promessas de cura? Satanás observou há muito tempo que a
oferta de cura é irresistível: "... e tudo quanto o homem tem dará
pela sua vida" (Jó 2.4). Dentre os pobres, quem não virá para
ouvir promessas de prosperidade? Dentre aqueles que não têm
certeza do que fazer e de qual direção dar à vida, quem não
seguirá prontamente os que afirmam ter autoridade divina? Resta
saber por quanto tempo essas pessoas permanecerão fiéis a tal
mensagem.
Iniciamos este exame do evangelho da prosperidade com a
consciência de que, junto com este trabalho, aparecem duas
responsabilidades. Primeira, os ensinos do evangelho da prospe-
ridade devem ser apresentados da forma mais justa e exata
possível. Não deve haver exageros ou distorções daquilo que está
sendo dito e pensado. Segunda. aqueles que consideram este
novo evangelho atraente devem ser tratados como irmãos.
Qualquer um que afirme ser cristão deve ser tratado como tal, até
que atos ou palavras provem o contrário. A responsabilidade dos
pastores e líderes na igreja é de examinar e avaliar
cuidadosamente qualquer doutrina que desafie o cristianismo
bíblico. Mas essa responsabilidade não envolve, o questio-
namento da salvação de alguém. Aqueles que afirmam ser
seguidores de Cristo devem ser recebidos, tanto quanto possível,
como irmãos na fé. Isso significa que eles devem ser amados, não
odiados, incentivados por meio da correção, não amaldiçoados
ou expulsos. É à luz dessas considerações que devem ser lidos os
comentários críticos presentes nesse trabalho.
2. Antecedentes Históricos
O evangelho da prosperidade é algo novo na história da igreja.
Parece que nada como ele já foi visto antes. Mas isso não quer
dizer que ele tenha surgido de modo repentino ou aparecido
totalmente formado. Como todo movimento, ele se desenvolveu
com o tempo, e isso significa que tem raízes ligadas a pessoas,
épocas e lugares diversos. Nesta parte, identificaremos alguns de
seus personagens principais e estabeleceremos o papel que
tiveram na expansão do movimento. Uma vez feito isso, o leitor
terá um fundamento histórico a partir do qual poderá entender
melhor a ramificação brasileira desse movimento contempo-
râneo.
Amplas pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre o assunto
revelam que existem duas raízes históricas e filosóficas do
evangelho da prosperidade: pentecostalismo (Barron, 1987) e
várias seitas metafísicas do início do século XX, que floresceram
na área de Boston (McConnell, 1988). Dessas duas fontes, o
pentecostalismo forneceu a base ou o grupo onde a teologia
encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os
pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos
pelas seitas metafísicas. É de suma importância que o leitor
pentecostal inquiridor perceba essa importante distinção. Desde
seu início, a teologia da prosperidade encontrou nas igrejas
pentecostais e carismáticas uma acolhida maior do que a de
qualquer outro contexto, mas foram as seitas metafísicas que
forneceram os ensinos distintivos e a cosmovisão geral que
deram forma ao evangelho da prosperidade. Desses dois
elementos, estamos mais preocupados com o último, ou seja, a
cosmovisão estranha que a doutrina da prosperidade absorveu.
Entretanto, antes de passarmos a considerá-la em detalhes,
precisamos olhar brevemente para as raízes históricas nas
denominações pentecostais e carismáticas.
2.1 A Conexão Pentecostal
O movimento pentecostal é um fenômeno relativamente novo e
teve suas origens no início do século XX, nos Estados Unidos.
Mas o evangelho da prosperidade é ainda mais novo. Suas
origens remontam com certeza até, no máximo, os dias de E. W.
Kenyon, que alcançou o auge de sua carreira nos anos 30 e 40. A
doutrina da prosperidade é tão recente que apenas nos anos 70 ela
havia se desenvolvido o bastante para ser identificada como um
movimento constituído. No Brasil, ela é ainda mais recente.
Entretanto, a questão histórica mais importante não é o fato de
ela ser nova, mas que o pentecostalismo não foi o pai desse novo
evangelho, embora talvez possa ser chamado de padrasto, por
causa da forma como o abraçou e seguiu seus ensinos. Então, a
primeira pergunta que se levanta é por que as denominações
pentecostais têm sido mais abertas a esse ensino do que qualquer
outro grupo protestante. A resposta parece estar na tendência que
elas têm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que
afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para visões,
revelações e orientações espirituais contínuas fora da Bíblia, cria-
se um espaço para a entrada das afirmações do evangelho da
prosperidade. Isso traz uma importante implicação para o leitor
que está tentando identificar as raízes e sutilezas da doutrina da
prosperidade — não há necessariamente nenhuma ligação entre o
pentecostalismo e os ensinos do evangelho da prosperidade.
Todavia, por causa das associações históricas, em vez de
conceptuais, vale a pena traçar brevemente a história do
pentecostalismo, com ênfase sobre aqueles que, dentro do
movimento, afirmavam curar pela fé e apoiavam essa prática.
As raízes históricas do movimento pentecostal remontam aos
meados do século XIX na Europa e início do século XX nos
Estados Unidos. Os primeiros pregadores que afirmavam ter os
atuais dons de cura e de línguas apareceram nas décadas de 1850
e 1860, na Inglaterra e na Alemanha. Entre eles estavam o
pregador escocês Edward Irving, Dorothea Trudel, uma
camponesa suíça, Johann Christian Blumhardt, ministro luterano,
e Otto Stockmayer, pastor suíço (Holleweger, 1988). Esses
indivíduos não estavam ligados como partes de um movimento
constituído, mas a fama do ministério deles espalhou-se pelo
mundo e chamou atenção para suas afirmações de cura por meio
da fé somente. Embora afirmassem possuir o dom espiritual da
cura, aquelas pessoas não ensinavam completamente um
evangelho de saúde e prosperidade. Isso apareceu muito mais
tarde.
No final do século XIX, vários pregadores na América do Norte
também começaram a afirmar que possuíam dons de cura e, além
disso, que todos os cristãos tinham direito à saúde como parte da
expiação. A. J. Gordon, fundador de uma respeitada instituição
de ensino teológico, e A. B. Simpson, fundador da Aliança Cristã
e Missionária, foram dois líderes importantes. Ambos escreveram
livros sobre cura que até hoje são utilizados como fontes básicas
por aqueles que ensinam a cura pela fé (Gordon, 1881; Simpson,
1925). Por meio da liderança deles, junto com muitos outros que
pregavam idéias semelhantes, o número de pessoas que
curavam pela fé havia crescido dramaticamente no final do
século XIX, e a expressão "cura pela fé" havia se tornado quase
um chavão na Europa e nos Estados Unidos. Alguns pregadores
da cura ganharam reconhecimento nacional, incluindo Dowie,
Parham, McPherson, Wigglesworth, Seymour, Bosworth e
alguns outros. Esses homens (e mulheres) trabalhavam de modo
independente, como evangelistas itinerantes que afirmavam ter
vários dons especiais, incluindo invariavelmente línguas e
cura. (Eles também partilhavam da característica de não terem
treinamento teológico formal.) Embora tenham levado grandes
multidões a seus encontros, o principal segmento da igreja
evangélica nunca aceitou realmente suas afirmações de que
tinham poder para curar. É surpreendente que nesse segmento
estavam incluídas as jovens denominações pentecostais daquela
época. Aparentemente elas consideravam sem substância e muito
radicais as afirmações dos detentores de dons de cura (Barron,
1987). Mais ou menos em meados da década de 1930, parecia
que a cura pela fé iria cair no esquecimento. Em vez disso, ela
encontrou nova vida no movimento carismático.
O leitor se lembrará de que a palavra "carismático" aplica-se
àqueles que afirmam ter o dom de línguas ou outros dons
espirituais extraordinários, mas que permanecem filiados às
denominações tradicionais. Nos Estados Unidos, o movimento
carismático floresceu nos anos 50 e 60, e foi nas principais
igrejas que a mensagem de cura e prosperidade encontrou um
novo público. Esse foi um ponto crítico para aqueles evangelistas
e pregadores que utilizavam o rádio, tais como Osborn, Lindsay e
Hagin, pois lhes conferiu uma audiência muito mais ampla e um
acesso bem maior às contribuições financeiras. Foi com o
impulso dado pelo movimento carismático que a mensagem de fé
e prosperidade não desapareceu, mas cresceu em alcance e
influência.
Resumindo, os ensinos de prosperidade não tiveram origem
dentro do pentecostalismo. Todavia, a tendência das denomi-
nações pentecostais de aceitarem afirmações de autoridade
profética criou um espaço teológico onde a doutrina da
prosperidade pôde se firmar e crescer. Após um período de
rejeição, muitos que faziam parte das denominações pentecostais
estavam seguindo os líderes que afirmavam ter tal autoridade e
que, com base nela, ensinavam a doutrina da prosperidade. Nossa
primeira conclusão histórica, então, é que o pentecostalismo foi o
portador dessa doutrina, mas ela necessariamente não faz parte
das crenças pentecostais.
2.2 As Raízes nas Seitas Metafísicas
A crença de que a cura é um direito do cristão há muito tempo
faz parte de várias igrejas. Mas o ensino de que o cristão também
tem direito à prosperidade e de que deve reivindicá-lo por meio
da confissão positiva encontra raízes diferentes. O núcleo
conceptual do evangelho da prosperidade está numa cosmovisão
que remonta não à doutrina pentecostal, mas a alguns pequenos
movimentos heterogêneos do início do século XX conhecidos
como "seitas metafísicas" (McConnell, 1988). Talvez essas seitas
possam ser consideradas o equivalente antigo daquilo que hoje
conhecemos como movimento da Nova Era. Nesta parte de nossa
introdução, verificaremos brevemente como as crenças dessas
seitas puderam influenciar as idéias de milhões de cristãos de
nossa época. A ligação doutrinária entre elas e o ensino do
evangelho da prosperidade converge para apenas dois homens:
Kenneth Hagin e E. W. Kenyon.
Kenneth Hagin
Hagin nasceu em 1918, prematuro de alguns meses. Parece que
isso o deixou com uma lesão congênita no coração que nunca foi
exatamente diagnosticada. É certo que ele foi frágil e doente em
sua infância. Para complicar mais as coisas, ele foi educado num
ambiente de relativa pobreza, porque aquela foi uma época difícil
na história dos Estados Unidos e também porque seu pai
abandonou a família, quando Hagin tinha seis anos de idade.
Quando ele atingiu a adolescência, sua saúde piorou. Aos 16
anos foi confinado a uma cama e recebeu esperança de pouco
tempo de vida. Segundo seu testemunho, ele ficou ali durante 16
meses, antes que sua vida mudasse radicalmente para melhor.
Aconteceram duas coisas para inverter sua sorte: primeira, ele
afirma ter recebido uma série de visões nas quais foi levado
primeiro ao inferno e depois ao céu, três vezes em seguida. As
viagens para o inferno afugentaram-no para o arrependimento, e
as visitas ao céu conduziram-no à fé e à conversão. Discutiremos
com mais detalhes essa e outras visões nos capítulos dois e três.)
Ele diz a seus seguidores que, logo depois disso, recebeu uma
revelação do "verdadeiro" significado de Marcos 11.23, 24 e da
natureza da fé cristã. A essência dessa revelação era que, para
obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz
alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido
respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que
a oração foi atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar
constantemente a resposta, até que surja a prova. Essa é, por
certo, a essência daquilo que é hoje ensinado como "confissão
positiva". Hagin afirma que a fonte disso não foi outra senão o
próprio Senhor.
Ele nos conta que, na condição de um adolescente preso à cama,
começou a colocar em prática essa nova compreensão do
evangelho. Depois de pedir ao Senhor que o curasse, ele
começou a declarar todos os dias que havia sido curado,
repetindo sempre para si próprio que Deus tinha respondido à sua
oração e que ele estava bem, não importando como se sentisse.
Por fim, depois de afirmar sua saúde durante oito meses, ele saiu
da cama e deu alguns passos. A cada dia ele andava um pouco
mais e foi se fortalecendo aos poucos. Embora Hagin tenha tido
uma saúde frágil durante muitos anos depois daquilo, ele
realmente não morreu como os médicos haviam previsto e,
segundo seu testemunho, nunca mais ficou doente.
As visões na adolescência de Hagin e as melhoras posteriores em
sua saúde foram um ponto crítico em sua vida. Ele decidiu que
iria consagrá-la ao Senhor e ganhar a vida pregando o evangelho.
Ele não freqüentou um seminário, mas depois de se formar no
segundo grau começou imediatamente a pastorear uma igreja
batista. O primeiro pastorado não durou mais do que alguns
meses depois de sua posse e, após recontar suas histórias das
visões de Deus, afirmou também ter recebido o dom de línguas.
Foi então convidado a sair. Ele se juntou à Assembléia de Deus,
pelo fato de haver ali uma política de maior abertura diante de
visões e dons espirituais. Nos 12 anos seguintes, ele pastoreou
várias igrejas pentecostais na região sul dos Estados Unidos.
Com a idade de 30 anos, decidiu deixar o pastorado e se tornar
pregador da cura itinerante. Aqueles eram os anos 50, época nos
Estados Unidos em que, como observamos acima, o movimento
carismático estava crescendo rapidamente, e assim começaram a
aparecer os grandes nomes de hoje da cura pela fé. Hagin fez um
pouco de sucesso e, tendo facilidade de ensinar num estilo
simples e despretensioso, começou a circular um boletim mensal.
Seu público leitor cresceu com o passar do tempo e, no início dos
anos 70, seu ministério tinha tamanho suficiente para justificar a
construção de sua própria escola, conhecida até hoje como
Instituto Bíblico Rhema.
É bom enfatizar que Hagin não tem nenhum treinamento
teológico formal. Ele nunca estudou os pais da igreja, nem os
reformadores, nunca teve de prestar um exame de teologia
sistemática ou fazer uma lista das regras básicas de herme-
nêutica. Pelo contrário, Hagin afirma ter superado a necessidade
de tal treinamento. À semelhança do apóstolo Paulo, ele diz que
nenhum homem lhe ensinou sua doutrina, uma vez que ele a
recebeu diretamente de Cristo. (Em contraste com isso, temos
Paulo, que, antes de se converter, era um rabino judeu altamente
treinado.) De importância fundamental é a alegação de, instrução
divina feita por Hagin. Antes de qualquer outra coisa, isso coloca
o selo de aprovação de Deus sobre sua mensagem e ministério.
Com efeito, discutir com Hagin é discutir com Deus. Em
segundo lugar, ele nega qualquer ligação com grupos ou pessoas
ou mesmo influência da parte deles. Tendo se originado na boca
de Deus, seu ensino de prosperidade não tem raízes históricas,
mas simplesmente caiu pronto do céu. Pelo menos é isso que ele
afirma. Entretanto, aqueles que têm pesquisado a doutrina da
prosperidade percebem que os ensinos de Hagin são
notavelmente parecidos com os de E. W. Kenyon, pregador da
cura que viveu uma geração antes. E para ele que agora nos
voltamos.
E. W. Kenyon
Kenyon participa de nossa história, porque parece que ele foi a
verdadeira fonte dos ensinos de Hagin sobre a confissão positiva.
Mais ou menos como Hagin, ele teve pouco treinamento
teológico formal e começou seu ministério pastoreando várias
igrejas, incluindo metodistas, batistas e pentecostais. Contudo,
sua teologia era diferente das de todas elas e, por fim, tornou-se
um evangelista itinerante sem vínculos com nenhuma
denominação. Com o passar do tempo, começou a atingir um
grande público por meio de seu programa de rádio e de um
boletim periódico, tendo chegado ao ponto máximo de audiência
no final dos anos 30 e início da década de 40. Para nós, o que
mais importa é que ele produziu 18 livretos sobre seus ensinos.
São esses livretos que nos permitem traçar sua ligação com
Hagin. Antes de discutirmos o conteúdo deles, será bom saber
algo mais dos antecedentes teológicos de Kenyon.
Embora não tenha freqüentado um seminário teológico, ele
estudou em uma escola de nível inferior ao universitário. Quando
jovem, matriculou-se no Emerson College, em Boston, o núcleo
do movimento "transcendental" do final do século XIX e início
do XX. As várias sociedades filosóficas que floresceram durante
certo tempo naquele campus, àquela época, são hoje reunidas sob
o título "seitas metafísicas". Muitas tiveram vida curta, e poucas
sobreviveram depois da Segunda Guerra Mundial. Mas durante
os anos 20 e 30, quanto estavam em seu auge, elas incluíam em
seu rol pequenas sociedades conhecidas como "Escola da
Unidade do Cristianismo", "Ciência Divina", "Igreja da Ciência
Religiosa", "Lar da Verdade", "Igreja da Verdade", "Liga da
Igreja de Cristo", "Sociedade do Cristo que Cura" e "Assembléia
Cristã". Para o leitor brasileiro é difícil compreender as sutilezas
dessas seitas orientais e as distinções entre elas, assim como não
é fácil explicar para um norte-americano os diferentes tipos de
espiritismo aqui no Brasil. Cada um desses grupos é
característico de sua própria cultura. Para nossos fins, não é
necessário conhecer detalhes de suas crenças, mas apenas captar
a maneira como eles enxergam o mundo.
Em primeiro lugar, aqueles grupos eram conhecidos como
"metafísicos", por ensinarem que a verdadeira realidade é "meta-
física", ou seja, vai além da realidade física. Isto significa que a
esfera do espírito não somente é maior do que o mundo físico,
mas também controla cada aspecto dele e é a causa de todos os
efeitos por ele sofrido. Alguns de seus ensinos centrais foram
registrados como declarações com efeito de credo e incluem as
seguintes proposições:
Todas as causas primárias são forças internas... A mente é
primária e causativa... A solução para todo defeito ou
desordem é metafísica, além do elemento físico, na esfera
das causas, que são mentais e espirituais... Deus é
imanente, Espírito que habita, Todo-Sabedoria, Todo-
Bondade, sempre presente no universo. Portanto, o Mal não
pode ter espaço no mundo como realidade permanente; ele
é a ausência do bem... (McConnell, 1988, 39, 40).
O leitor notará que o destaque dado à esfera espiritual foi casado
com a crença de que a mente humana pode controlá-la. É
fundamental para as crenças desses grupos sustentar que o
homem tem a capacidade inata de controlar o mundo material por
meio de sua influencia sobre o espiritual. Bastam conhecimento e
fé. Se o homem compreender corretamente as leis espirituais da
vida e tiver fé para agir segundo elas, poderá atingir resultados
espantosos,
Em segundo lugar, para eles a cura constituía o principal ponto
de destaque. No artigo sobre essas seitas metafísicas, a
Encyclopedia Britannica descreveu-as como um "movimento de
cura pela mente..." (15a
edição). Diziam eles que, se pensarmos
de modo certo, podemos controlar nossa saúde e, se nossa
capacidade mental for especialmente grande, podemos dar forma
a cada aspecto de nossa vida, decidindo-nos por ter saúde e
prosperidade. O leitor perspicaz observará que alguma coisa
parecida com isso está sendo ensinada hoje pelo movimento da
Nova Era e, em sua forma secular, pela grande variedade de
livros de auto-ajuda e de motivação ao sucesso. A maioria das
pessoas que lê esses livros não tem consciência de que eles
contêm uma visão metafísica distinta, que pressupõe que a mente
humana tem controle sobre a esfera espiritual. Kenyon, enquanto
estudava no Emerson, tornou-se um seguidor fiel desses ensinos
"transcendentais". Ele acreditava que essa forma de ver o mundo
não somente era compatível com o cristianismo, mas também
oferecia um aperfeiçoamento da espiritualidade cristã tradicional.
Decidiu, então, reunir a fé cristã na redenção por meio de Cristo
e o ensino transcendental de que a mente pode controlar a
realidade. Mediante o uso correto da mente, os benefícios da
redenção podiam ser reivindicados pelo fiel. Durante o restante
de sua vida, ele fez questão de ensinar essa nova interpretação
das Escrituras, certo de que aquilo representava um
aperfeiçoamento maravilhoso da tradição cristã e de que traria à
tona um cristianismo melhor, no qual todos os que seguissem a
Cristo gozariam de saúde e prosperidade durante toda a vida. Não
havia limite para as possibilidades — talvez surgisse uma super-
raça de cristãos que não mais estariam presos à doença ou a
pobreza. Conscientes do poder que estava à disposição deles na
esfera espiritual, esses cristãos poderiam assumir o controle do
mundo nos últimos dias antes da volta de Cristo (McConnell,
1988, 51).
Retornemos agora a Hagin e à sua interpretação de Marcos 11,
que ele afirma ter recebido enquanto estava doente, em 1934. Ele
diz que aquela visão foi o início de sua nova compreensão da
Bíblia e, tendo saído da boca do Senhor, era a Palavra de Deus
autêntica. Entretanto, existe outra explicação, que deriva do fato
de que os escritos de Hagin são muito parecidos com os de
Kenyon, e isso não é coincidência. Parece que, enquanto era
jovem. Hagin leu muita coisa escrita por Kenyon. As
semelhanças entre os livros que Kenyon escreveu sobre cura,
prosperidade, e confissão positiva e aqueles que Hagin mais tarde
escreveu, afirmando terem vindo diretamente de Deus, ficam
evidentes para qualquer pessoa que tenha em mãos as duas
coleções de livros. De fato, em alguns casos, Hagin não
somente leu os textos de Kenyon; ele copiou palavra por palavra
e, depois, lançou os resultados como se fossem fruto de seu
trabalho. Por exemplo, quase 75% da edição original do livro A
Autoridade do Crente coincide palavra por palavra com um
livreto anterior de Kenyon, publicado em sua origem com o
mesmo título. Desse modo, não nos causa nenhuma surpresa o
fato de os ensinos de ambos serem os mesmos. É claro que nem
todos os livros de Hagin são cópias dos de Kenyon mas as
semelhanças são grandes. Depois de fazer uma comparação entre
os escritos dos dois, McConnell escreveu: "Até as doutrinas
que fizeram de Kenneth Hagin e do Movimento da Fé uma força
poderosa e distintiva dentro do movimento carismático
independente são plagiadas de E. W. Kenyon" (1988, p.7).
Hagin nega de modo inflexível que isso seja verdade. Ele diz que
nunca plagiou Kenyon e que seus ensinos vieram diretamente da
boca do Senhor. Somente depois de 1979, quando as
semelhanças entre os livros foram apontadas por vários leitores,
ele veio a admitir ter lido as obras de Kenyon. Mesmo assim, ele
tem certeza de que não estudou nenhum dos escritos de Kenyon
antes de 1950, ou seja, 13 anos depois de ter recebido a revelação
que fez seu ministério decolar. Então, como ele explica as
semelhanças? Hagin diz que elas se devem ao fato de ambos os
escritos serem a Palavra de Deus.
A conclusão dessa história é que a teologia de Hagin tem suas
raízes nos escritos de Kenyon, os quais, por sua vez, estão
baseados numa cosmovisão estranha ao cristianismo. Por isso,
constitui ponto de destaque nessa introdução dizer que, apesar de
o evangelho da prosperidade ter se difundido dentro do círculo
pentecostal, ele não teve ali sua origem e não faz
obrigatoriamente parte de seus ensinos. Parte do alvo deste
trabalho é isolar essa influência estranha e demonstrar sua
incompatibilidade com o cristianismo bíblico.
3. Prévia do Conteúdo
Os quatro capítulos restantes deste livro assumem a seguinte
forma: no capítulo dois, os ensinos da teologia da prosperidade
serão apresentados de maneira sistemática. As fontes estarão
quase inteiramente limitadas aos escritos de Hagin, muitos dos
quais se encontram em português. Estes serão ocasionalmente
complementados com aquilo que escrevem R. R. Soares ou Ken
Copeland, mas Hagin é merecidamente conhecido como o pai da
doutrina da prosperidade, e até esta data seus escritos fornecem a
melhor exposição de suas idéias.
O leitor poderá fazer a objeção de que existem diferenças
importantes entre Hagin e outros indivíduos que pregam a
doutrina da prosperidade. É verdade que o evangelho da
prosperidade é antes um movimento, não uma denominação, e,
portanto, cada pessoa faz e ensina aquilo que acha mais
apropriado. Entretanto, parece haver um grau razoável de
homogeneidade nas crenças. Este livro teve origem num
ambiente de aulas de seminário, e uma das tarefas que cada aluno
recebeu foi a de ir a uma igreja que estivesse ensinando a
doutrina da prosperidade e depois fazer um relatório sobre aquilo
que ouviu. Os resultados confirmaram a suspeita de que o
evangelho da prosperidade pode ser um movimento que cruza as
fronteiras denominacionais, mas seus verdadeiros ensinos variam
muito pouco e são muito bem abrangidos pelos escritos de Hagin.
O capítulo dois considerará a teologia da prosperidade sob três
aspectos diferentes: l) autoridade espiritual; 2) saúde e
prosperidade; 3) confissão positiva. Os mesmos títulos serão
usados como temas divisores no capítulo três, onde será
oferecida uma resposta a cada ponto em particular. Na divisão
intitulada "Autoridade Espiritual", provarei que as afirmações de
Hagin e outros quanto à autoridade profética não resistem ao
escrutínio. Em segundo lugar, na seção chamada "Saúde e
Prosperidade", tentarei mostrar que as promessas feitas são
baseadas numa exegese da Bíblia que se revela defeituosa e de
qualidade inferior. Em terceiro lugar, na parte intitulada
"Confissão Positiva", procurarei demonstrar que as regras e os
métodos dessa prática tem suas raízes numa cosmovisão que tem
mais a ver com as seitas metafísicas do que com o cristianismo
bíblico.
O capítulo quatro analisará com mais detalhes a cosmovisão que
está por trás da doutrina da prosperidade. Embora os tópicos
desse capítulo raramente sejam pregados nos púlpitos da
prosperidade, eles são essenciais para compreendermos a razão
pela qual essa teologia faz as afirmações que vemos. A discussão
será dividida em cinco áreas: o dualismo da natureza humana, do
conhecimento humano, da salvação, dos deuses e, por fim, do
problema do mal.
No final, no capítulo cinco será oferecido um resumo que
compara a espiritualidade da doutrina da prosperidade com a
espiritualidade da Bíblia.
Capítulo
Dois
OS ENSINOS DA TEOLOGIA DA
PROSPERIDADE
Qual é a mensagem do evangelho da prosperidade como um
todo? Como ele justifica sua afirmação de que é uma nova e
melhor interpretação da Bíblia? O que o cristão precisa fazer
para conseguir gozar a promessa de saúde e prosperidade?
Neste capítulo, tentaremos apresentar de forma ordenada os
ensinos da doutrina da prosperidade, começando com sua
alegação de autoridade espiritual, seguida pelas promessas
feitas com base nessa autoridade, até chegarmos às regras ou
método necessário para a obtenção daquilo que é prometido.
Introdução
Conforme observamos acima, o evangelho da prosperidade será
considerado de acordo com as três divisões seguintes:
"Autoridade Espiritual", "Saúde e Prosperidade" e "Confissão
Positiva". Juntas, elas perfazem um sistema coeso. É claro que o
leitor não irá encontrar esse tipo de apresentação em nenhum dos
livros de Hagin nem ouvi-lo num sermão, pois essas categorias
são extraídas a partir de uma análise cuidadosa de seus livros,
vistos como um todo e organizados de maneira lógica. O leitor
descobrirá que, uma vez que a teologia de Hagin e assim
organizada, seus escritos fazem mais sentido.
Presume-se que muitos leitores deste livro leram poucos ou
nenhum dos livros sobre prosperidade que se encontram à venda.
Talvez você tenha tido contato com a doutrina da prosperidade
somente por meio do rádio ou da televisão ou ouvido falar sobre
ela em conversas com amigos e membros de sua igreja, sem
nunca havê-la conhecido de forma direta. Por isso, forneceremos
citações extensas das obras de Hagin. Isso dará condições ao
leitor de julgar por si próprio se as análises e respostas aqui
oferecidas são justas e convincentes. O leitor deve manter em
mente que o propósito do capítulo dois é somente de expor a
doutrina da saúde e da prosperidade e não apresentar uma
resposta a ela. Todos os comentários críticos foram colocados no
capítulo seguinte, onde se encontra uma resposta a cada questão
levantada.
Uma palavra sobre as citações: as de Hagin serão seguidas pela
palavra principal extraída do título do livro que está sendo citado.
Para localizar o texto, o leitor precisa simplesmente encontrar o
título completo do livro na bibliografia no final deste volume e,
então, verificar o número da página. Por exemplo, a referência
(Unção, 9) significa que a citação foi extraída da página 9 do
livro de Hagin chamado Compreendendo a Unção. Todos os
demais livros citados seguirão este padrão: nome do autor, data
de publicação e, se necessário, número da página.2
1. Autoridade Espiritual
A semelhança de muitas igrejas carismáticas e pentecostais,
Hagin ensina que Deus está ungindo profetas nos dias de hoje.
Tais homens são porta-vozes de Deus e, portanto, trazem consigo
a autoridade do próprio Senhor. "Deus ainda está ungindo
profetas hoje. Esses profetas são porta-vozes dEle..." (Unção, 9).
Ele ridiculariza aquelas denominações que ensinam que a
autoridade apostólica cessou com a morte dos Doze, dizendo que
"o diabo já ludibriou denominações inteiras", fazendo-as pensar
que esse dom cessou com os Doze (Nome, 51), Não nos
surpreende o fato de Hagin afirmar ser um desses porta-vozes
escolhidos, e seus sermões e escritos estão repletos de mensagens
e visões da parte de Deus. As expressões encontradas com maior
freqüência em seus livros são: "tive uma visão", "tive uma visão
espiritual rápida" ou "o Senhor me disse". Algumas vezes essas
visões são de natureza espetacular, à semelhança da vez em que
ele foi levado ao inferno três vezes num único dia.
2
Os textos extraídos dos livros de Hagin em português e os do livro de R. R. Soares serão
citados na íntegra, incluindo os erros gramaticais, freqüentes naquelas publicações (nota do
tradutor).
... conforme já preguei muitas vezes, eu mesmo fui para o
inferno. Foi no dia 22 de abril de 1933, às 19:30 do
sábado... meu coração parou em meu peito, e senti a
circulação desligada... tive a sensação de pular para fora
do meu corpo... Comecei a descer. Desci cada vez mais
fundo, como se fosse em direção ao fundo de um poço.
Olhei para cima, e ainda via as luzes da Terra, muito acima
de mim. Quanto mais descia, tanto mais escuro ficava.
Finalmente, as trevas me envolveram... Minha mente, minha
alma, estava intacta... Vi lá longe, na minha frente, uma
chama alaranjada gigante, com uma crista branca. Então
cheguei ao portão, à entrada, aos portais do próprio
inferno. Algum tipo de criatura estava me esperando no
fundo do poço... a criatura... agarrou o meu braço... No
momento em que aquela criatura me pegou pelo braço para
me escoltar para dentro, uma voz falou... Não consegui
compreender o que a voz dizia... Quando, porém, Ele falou
aquilo, seja o que for... aquele local inteiro tremeu e
estremeceu como uma folha no vento. Então aquela criatura
largou o meu braço, e alguma coisa como uma sucção,
puxando-me irresistivelmente pelas costas, sem me virar,
me puxou para trás, para longe da entrada do inferno e das
trevas do abismo, e subi... O cenário inteiro repetiu-se três
vezes (Crescimento, 38-40).
A mesma experiência repetiu-se algum tempo depois, mas dessa
vez a direção foi para cima, em vez de para baixo:
E quatro meses mais tarde, no dia 16 de agosto de 1933, às
13:30, fiquei sabendo de novo que estava morrendo... tive a
mesma sensação que já tivera antes. Mas desta vez, eu era
salvo!... Dessa vez a viagem não era para baixo, mas para
cima (Crescimento, 41; veja também Nome, 63).
Muito mais importantes do que essas viagens para o céu e para o
inferno são suas afirmações de ter sido instruído pessoalmente
por Jesus em assuntos de doutrina. Ele alega ter recebido não
menos do que oito visitas pessoais de Jesus que visavam ensinar-
lhe a verdade. As seguintes passagens são bem características:
Em dezembro de 1952, enquanto eu e um pastor orávamos
na cozinha da sua casa pastoral, o Senhor Jesus Cristo
apareceu diante de mim numa visão. Disse: "Vou-lhe
ensinar a respeito do diabo, dos demônios, e dos espíritos
maus"... Fiquei arrebatado naquela visão durante uma hora
e meia enquanto Jesus me ensinava. (Nome, 78.)
Certa noite, enquanto alguns amigos se preparavam para
servir um lanche depois de um culto em Phoenix, Estado da
Arizona, recebi da parte do Espírito Santo um impulso
excepcionalmente forte para orar... "Estou obrigado a orar
agora", falei aos meus amigos. "Oremos todos nós,
portanto", concordaram. Mal meus joelhos tocaram no
chão, e eu já estava no Espírito... Durante 45 minutos, orei
em línguas, com gemidos... Em seguida, tive uma visão...
Então, o próprio Senhor Jesus apareceu a mim. Vi-O tão
claramente quanto poderia ver você. Ele ficou menos de um
metro de distância de mim. Tratou de assuntos que diziam
respeito ao meu ministério e à minha situação financeira, e
até mesmo ao nosso governo dos Estados Unidos...
Terminando, Ele me exortou: "Seja fiel e cumpra seu
ministério, meu filho, pois o tempo está curto". Essa visão
me foi dada em dezembro de 1953. Jesus virou-Se, e
começou a afastar-Se, mas falei: "Querido Senhor Jesus,
antes de ires embora, posso fazer-Te uma pergunta? Jesus
deu uns passos de volta, ficou em pé perto de onde me
ajoelhava, e disse: "Pode." (Crescimento, 75, 76.)
Quero voltar... para aquilo que Jesus me disse em fevereiro
de 1959 em El Paso, Texas. Eram seis e meia da tarde. Eu
estava sentado na cama, estudando... Ouvi passos. A porta
do meu quarto estava semi-aberta, uns 30 ou 40
centímetros. Olhei, portanto, para ver quem estava
entrando no meu quarto. Esperava ver alguma pessoa
física, literal. Mas quando olhei para ver quem era, vi
Jesus. Parecia que os cabelos do meu pescoço e da minha
cabeça ficaram eriçados, totalmente em pé. Caroços de
arrepio surgiram de repente em todas as partes do meu
corpo. Vi-O. Ele estava usando vestes brancas. Estava
usando sandálias romanas. (Jesus apareceu na minha frente
oito vezes. Em todas as demais ocasiões, senão esta, Seus
pés estavam descalços. Desta vez, Ele usava sandálias;
foram as sandálias que eu escutara). Ele parecia medir
cerca de 1 metro 80 centímetros, e dava a impressão de
pesar cerca de 82 kg. Ele passou pela porta e a empurrou
para trás até quase fechá-la. Andou em derredor do pé da
minha cama. Eu O seguia com os olhos — quase fascinado.
Ele pegou uma cadeira de costas retas e a puxou para perto
da minha cama. Depois, sentou-se nela, dobrou as mãos, e
começou Sua conversa, dizendo: "Disse-lhe anteontem à
noite no automóvel pelo Meu Espírito"... (Dirigido, 29, 30;
veja também Planos, 99; Unção, 39.)
Tais sessões educativas devem ter grande importância no reino
celestial, pois Hagin relata que, às vezes, demônios tentam
impedir que ele tenha percepção do ensino de Jesus durante essas
visitas.
Em 1952, o Senhor Jesus Cristo me apareceu numa visão...
No final daquela visão, um espírito maligno que parecia um
macaquinho ou um duende correu entre mim e Jesus,
espalhando alguma coisa parecida com fumaça ou nuvem
escura. Então este demônio começou a pular, gritando com
uma voz estridente: "Iaqueti-iac, iaqueti-iac, iaqueti-iac".
Eu não podia ver a Jesus, nem entender o que Ele dizia.
(Durante todo o tempo dessa experiência, Jesus estava me
ensinando alguma coisa... Não podia compreender por que
Jesus permitia ao demônio fazer tanta algazarra...
(Autoridade, 37.)
As entrevistas de Hagin com o Senhor são tão profundas e ele é
levado para tão longe da terra que, às vezes, tem medo de entrar
demais na dimensão espiritual, a ponto de não poder voltar.
Não sei se você já teve alguma experiência no Espírito, ou
não, mas eu já tive muitas, e posso falar-lhe com a mais
perfeita sinceridade: Quando vem aquela unção, quase
ficamos com medo do ponto de vista natural, porque temos
medo de não podermos voltar. (Unção, 145.)
A autoridade espiritual de Hagin é apoiada não apenas por
afirmações de visões do céu e do inferno e instruções pessoais
com Cristo. Ele também descreve com alguns detalhes unções
especiais de espiritualidade. Estas apresentam vários aspectos
diferentes; por exemplo, ele diz que, às vezes, fica em oração
durante horas, sem ter noção do tempo que passa (Planos, 36,
99). Outras vezes, ele sente uma unção de grande poder,
enquanto prega, e descreve-a como sendo semelhante a uma capa
ou manto caindo sobre seus ombros. Há oportunidades em que tal
sentimento é muito intenso, e ele entra em êxtase:
Às vezes no ministério, quando a unção vem sobre mim,
parece que um manto desce sobre mim. Parece que estou
vestindo um manto, um casaco, quando na realidade, não
estou. Mas o poder de Deus — a unção — me envolve tanto
que me sinto vestido assim. (Unção, 99; veja também 125.)
... veio sobre mim a unção. De novo, era como se alguém
tivesse passado por mim correndo e jogado uma capa sobre
mim. Sentia-a em todo o corpo. Sabia, de novo, que a unção
não duraria por muito tempo, porque eu não poderia
agüentá-la fisicamente... Fiquei arrebatado naquela glória,
e me contaram depois, que toda pessoa tocada por mim
caiu... (Unção, 141.)
Em Dezembro de 1962, eu estava pregando em Houston...
De repente, senti um vento soprando sobre mim. Veio com
tamanha força que me derrubou ao chão e caí em êxtase...
Vi... Jesus. (Planos, 34.)
Há vezes em que ele se vê cercado por uma nuvem de glória,
enquanto prega.3
Certo domingo de noite... tinha pregado durante uns 15
minutos, ungido pelo Espírito Santo, quando, então, o poder
de Deus entrou naquele auditório da igreja e o encheu
3
A presença de uma nuvem de glória era uma afirmação comum entre os pregadores,
durante os avivamentos de cura que vieram depois da Segunda Guerra Mundial, nos
Estados Unidos (McConnell, 74).
como nuvem. Não consegui ver nem um só membro —
estava dentro da nuvem. Escutava o som da minha voz, mas
não reconhecia uma única palavra daquilo que dizia...
Finalmente, consegui enxergar pessoas nas três primeiras
fileiras de assentos. Então, a unção começou a desaparecer.
(Unção, 50; veja também 54, 83.)
Hagin afirma que há vezes em que seus seguidores vêem seu
rosto brilhar, pelo fato de estar na nuvem de glória (Unção, 51).
Ele diz que, depois dessas experiências de êxtase, não consegue
andar durante algum tempo nem dirigir um carro. Antes, prefere
simplesmente ficar sozinho, sem falar com ninguém nem ser
tocado por nenhuma pessoa, a fim de que não seja trazido de
volta muito rapidamente de seu êxtase espiritual (Unção, 143).
Além de uma espiritualidade profunda e poderosa, Hagin
também alega ter recebido dons especiais de inteligência e
presciência. Depois de sua conversão, sua inteligência aumentou
entre 30 e 60% (Dirigido, 54), e ele recebeu o dom de uma
memória perfeita (Unção, 58). Como se isso não bastasse para
transformá-lo num erudito de primeira linha, ele também recebeu
diretamente do Senhor o dom de ensino e o de cura:
Lembro-me, porém, de certa quinta-feira às três horas da
tarde... Enquanto atravessava a sala... e estava bem no
centro dela, algo caiu sobre mim e para dentro de mim.
Desceu dentro de mim com um "clique," como quando a
ficha telefônica é recebida... Sabia do que se tratava. Era
um dom de ensino... Falei: "Agora sei ensinar". (Unção, 58,
59.)
Quando o Senhor apareceu a mim naquela primeira visão
em 2 de setembro de 1950... Ele tocou nas palmas das
minhas mãos com o dedo da Sua mão direita... e disse:
"Chamei-te e te ungi e te dei uma unção especial para
ministrar aos enfermos". (Unção, 137, 138.)
Hagin sempre recebe conhecimento do futuro, principalmente
quando se trata de prever uma desgraça iminente. Por exemplo,
ele diz que Deus o avisa de um problema que se aproxima,
sempre que se hospeda na casa de alguém:
Na realidade, até agora nunca fiquei hospedado na casa de
ninguém sem Deus me advertir no tocante a qualquer
tragédia iminente. Se estivesse para haver alguma morte
entre aquela família dentro dos dois anos futuros, Ele me
contava. (Unção, 89.)
Ele soube com antecedência, por meio de uma visão, com quem
iria se casar e os filhos que iria ter (Planos, 33).
Os mais espetaculares milagres de Hagin encontram-se relatados
nos boletins enviados regularmente aos seguidores nos Estados
Unidos. Eles ainda não foram publicados no Brasil, mas
apresentam afirmações muito mais dramáticas, incluindo
milagres de levitação e até ressurreição dos mortos. D. R.
McConnell, responsável pela produção dos mais bem
pesquisados relatos do ministério de Hagin, descreve alguns
desses acontecimentos miraculosos:
Em 1937, Hagin foi ordenado ministro da Assembléia de
Deus e pastoreou várias igrejas pequenas no estado do
Texas. Por ser pentecostal, seu ministério cresceu ainda
mais para o lado abertamente sobrenatural. Além da nuvem
de glória e das pregações em estado de suspensão
temporária das funções vitais, Hagin descreve reuniões em
que, numa delas, uma mulher levitou à meia-altura,
enquanto dançava, e outra ficou fisicamente congelada,
num transe de catalepsia, durante 8 horas e 40 minutos. As
curas eram freqüentes, e no ministério pastoral de Hagin
chegaram a acontecer até supostas ressurreições dos
mortos. (McConnell, 1988, 60.)
Talvez a afirmação mais notável de Hagin seja a de que, em 45
anos, ele nunca ficou desanimado, preocupado ou enfrentou
alguma luta.
Ouço as pessoas, Deus abençoe o coração delas, que falam
a respeito de estar no vale, e depois, de estar na montanha,
para então voltarem ao vale. Eu nunca fui para o vale. Faz
45 anos que sou salvo, e nunca fui para lugar algum senão
para o cume das montanhas... Oh, sim, tem havido provas e
provações, mas eu fiquei no cume da montanha, gritando a
vitória o tempo todo — vivendo acima dos problemas!
(Dirigido, 73, 74.)
Muito mais pode ser dito. Na verdade, se extraíssemos todos os
relatas de sinais e maravilhas daqueles textos já publicados no
Brasil poderíamos formar um livreto de tamanho razoável.
Aqueles citados aqui servem para que o leitor tenha um quadro
geral. A esta altura, precisamos nos lembrar do motivo dessas
visões, sinais e maravilhas. Eles são fornecidos para dar
substância à alegação de Hagin no sentido de ser um profeta de
Deus dos dias de hoje, que recebeu uma revelação nova para os
últimos tempos. Suas afirmações de visões e dons de profecia
justificam seu ministério público e colocam o selo de aprovação
divina sobre seus ensinos.
Vale notar que Hagin não tolera qualquer questionamento de seus
ensinos. Ele não permite que suas visões sejam objeto de
discussão por parte de seus seguidores. O relato seguinte de um
confronto com sua própria esposa ilustra dramaticamente essa
questão:
Após um caso sobrenatural de levitação em um de seus
cultos, a própria esposa de Hagin, o irmão e a esposa do
pastor, em cuja igreja ele estava ministrando, questionaram
se aquele fenômeno era de Deus. No dia seguinte, enquanto
ele orava, a "palavra do Senhor" veio a Hagin, instruindo-o
a tocar levemente a testa dos três com seu dedo mínimo. Ao
tocar sua esposa, ela caiu de costas no chão, "como se
tivesse sido atingida por um taco de beisebol". À
semelhança dela, os outros dois também foram "abatidos no
Espírito". As três vítimas paralisadas ficaram "coladas no
chão". Quando o pastor, logicamente preocupado, tentou
levantar sua esposa, ele "não conseguiu sequer levantar o
braço dela do chão, muito menos seu corpo". Então, uma
voz deu instruções a Hagin para que se ajoelhasse diante de
cada um deles. Diga-lhes que tentem se levantar. Depois,
pergunte-lhes se admitem que o que está acontecendo deve-
se ao poder de Deus". Ao tentarem se mexer e verem que
estavam completamente imobilizados, os três, é claro,
dispuseram-se a admitir que o poder e o ministério de
Hagin eram de Deus. Então, a voz instruiu a Hagin para
que os "soltasse", tocando novamente a testa de cada um
com seu dedo. Eles haviam sido convencidos. Se,
obedecendo à voz interior, Hagin podia fazer tudo isso
somente com seu dedo mínimo, era inevitável que tais
julgamentos proféticos aumentassem, à medida que seu
ministério crescia. Em 1959, em sua sexta visão de Jesus, o
Senhor disse a Hagin... (que) se uma igreja se recusasse a
aceitar seu ministério, Deus iria retirar dela seu candeeiro.
Por mais sérias que sejam essas conseqüências para a
igreja, elas não são nada se comparadas ao julgamento
pronunciado sobre o ministério de um indivíduo que desafie
o trabalho profético de Hagin. Afirmando que "se um pastor
não aceitar essa mensagem, então lhe sobrevirá
julgamento", Hagin escreve; "O Senhor me disse: Se eu lhe
der uma mensagem destinada a um indivíduo, igreja ou
pastor e eles não a aceitarem, você não será responsável.
Eles serão responsáveis. Haverá ministros que não a
aceitarão e cairão mortos no púlpito".
Aqueles que pensam que essas declarações não passam de
vãs ameaças ou de hipérbole profética devem ouvir mais o
"profeta": "Digo isso com relutância, mas realmente
aconteceu num lugar onde eu havia pregado. Duas semanas
depois da reunião, o pastor caiu morto no púlpito. Eu havia
saído chorando da igreja e disse ao pastor da igreja
seguinte, onde eu fora dirigir uma reunião: "Aquele homem
vai morrer no púlpito". E isso aconteceu pouquíssimo tempo
depois. Por quê? Porque ele não aceitou a mensagem que
Deus me deu para lhe entregar diretamente do Espírito". Se
um ministro pode ter um destino assim, o que dizer de um
mero leigo que ouse questionar a mensagem de Hagin? Na
publicação original deste material, Hagin também avisou
que "nos últimos dias, haverá leigos que cairão mortos na
igreja, à semelhança de Ananias e Safira. Eles mentiram
para Deus". (McConnell, 1988, 66. 67.)
Hagin diz que aqueles pregadores e leigos que rejeitarem seu
ensino serão atingidos de morte, como Ananias e Safira, e que a
ira divina cairá sobre aqueles que não seguem suas idéias. Desse
modo, não somente sua teologia vem diretamente de Jesus, mas
também a ira divina arde contra aqueles que se opõem a seu
ministério de ensino.
Hagin é um bom exemplo do tipo de autoridade que os líderes do
movimento da prosperidade alegam ter, e seus escritos
demonstram bem o destaque extraordinário que é dado aos sinais
e maravilhas dentro do movimento. Visões, profecias, entrevistas
com Jesus, curas, palavras de conhecimento, falar em línguas, ser
abatido no Espírito, nuvens de glória, rostos que brilham com luz
sobrenatural, conhecimento do futuro, rejeição de dores de
cabeça e gripes por meio de uma palavra de comando, etc; esses
são os elementos que tornam emocionante a doutrina da
prosperidade. Eles não apenas verificam que Deus está presente e
em atividade, mas também contribuem para sermões fascinantes.
Entretanto, essas histórias e casos não estão sozinhos. Eles são
sustentados pelo pressuposto teológico de que sinais e maravilhas
têm um lugar importante na igreja, pois se afirma que o poder de
Jesus para operar milagres foi cedido para o uso da igreja. O
argumento que apóia essa afirmação tem dois aspectos diferentes.
Primeiro, observa-se que os milagres são um fator importante do
ministério de Jesus, a maioria dos quais constituída de curas. Na
verdade, dos 33 milagres registrados nos evangelhos, 17 são
curas e quatro outros são exorcismos que envolviam cura. A
leitura dos autores dos evangelhos deixa claro que Jesus era
capaz de curar quando quisesse e que ele curou todos os que o
procuraram com esse propósito. Mateus 9.35 diz que "percorria
Jesus todas as cidades e povoados, ensinando... pregando... e
curando toda sorte de doenças e enfermidades". Em nenhum
lugar se vê Jesus mandar embora uma pessoa que desejasse ser
curada. Nas ocasiões em que se diz que Jesus operou poucos
milagres ou mesmo nenhum, a incredulidade é apresentada como
causa imediata daquilo, embora isso não queira dizer que Jesus
não poderia ter exercido seu poder se quisesse (Mc 6.5, 6). Com
base nessa ênfase no Novo Testamento, a doutrina da
prosperidade afirma que o mesmo poder para realizar milagres
encontra-se hoje à disposição da igreja. O raciocínio é este: uma
vez que Jesus permanece o mesmo (Hb 13.8), ele deve estar
disposto a curar agora, como estava naquela época. Sobretudo, o
próprio Jesus afirmou que seus seguidores fariam obras maiores
do que as dele (Jo 14.12). Assim, alega-se que a conclusão disso
tudo é a seguinte: os cristãos devem ser capazes de realizar
aquilo que Cristo realizou enquanto estava presente em seu corpo
sobre a terra (Duffield, 1983, II: 137-218).
O segundo aspecto desse argumento é que o poder de cura
revelado pelos apóstolos, enquanto viveram, mostra que Jesus, de
fato, concedeu seu poder à igreja. A missão que Cristo deu aos
doze (Mt 10.1; Lc 9.1) e aos setenta (Lc 10.9), ao enviá-los para
pregar, inclui a ordem de curar os doentes. Essa incumbência é
renovada pelo Cristo ressurreto, em Marcos 16.18, que ordena a
imposição de mãos sobre os doentes e acrescenta a promessa de
que estes serão curados. Afirma-se que Lucas registra o
cumprimento dessa promessa em seu livro de Atos, pois ele está
repleto de milagres, incluindo as narrativas em que Pedro cura o
homem coxo, na porta do templo (3.1ss.), da cura de Enéias, em
Lida (9.32ss.), e de Tabita, em Jope (9.36ss.). Lucas também
registra a cura de um paralítico em Listra (14.8ss.), do pai de
Públio, em Malta (28.7, 8), e a restauração de Êutico à vida, em
Trôade (20.9ss.). Conclui-se que Atos revela aquilo que Deus
espera de sua igreja, pois o mesmo poder concedido aos
apóstolos também foi dado à igreja. Portanto, o poder de Jesus
para a realização de milagres é um dom permanente concedido à
igreja, e esta deve manifestar tais sinais e maravilhas em seu dia-
a-dia.
Os próprios escritos de Hagin são incomuns, por causa da
quantidade e de sua natureza dramática, mas não deixam de ser
coerentes com a teologia que se encontra por trás deles, a qual
garante a possibilidade de autoridade e autenticação apostólicas
nos dias de hoje. Isso traz duas implicações para aquelas igrejas e
pastores que seguem Hagin e os ensinos sobre prosperidade.
Primeira, eles são obrigados a aceitar a responsabilidade que
decorre do fato de crerem que a autoridade profética ou
apostólica encontra-se presente na igreja de hoje, pois é
exatamente isso que Hagin afirma. Qualquer pessoa que aceite a
doutrina da prosperidade, está aceitando Implicitamente a
afirmação de Hagin de que essa nova doutrina foi-lhe ensinada
por Jesus Cristo em pessoa. Segunda, as alegações de Hagin de
autoridade apostólica são apoiadas por suas histórias mira-
culosas. Aquelas igrejas e pastores que seguem os ensinos da
prosperidade são obrigados a aceitar a responsabilidade de
garantir a validade dos sinais e maravilhas entre seus membros.
Voltaremos a esse ponto no capítulo seguinte para oferecer
algumas idéias que recomendam prudência no consentimento
com tais afirmações.
2. Saúde e Prosperidade
Chegamos agora às promessas centrais da doutrina da
prosperidade: o direito que todo cristão tem de gozar de saúde e
riqueza. Hagin não se cansa de dizer que as duas coisas
representam sempre a vontade de Deus para o cristão:
Nós, como cristãos, não precisamos sofrer reveses
financeiros; não precisamos ser cativos da pobreza ou da
enfermidade! Deus proverá a cura e a prosperidade para
Seus filhos se eles obedecerem aos Seus mandamentos...
Deus quer que Seus filhos... tenham o melhor de tudo.
(Limiares, 66.)
São essas promessas que tornam tão atraente o evangelho da
prosperidade. Embora estejam logicamente ligadas, faremos
distinção aqui entre as afirmações quanto à saúde e aquelas que
dizem respeito à riqueza ou prosperidade.
2.1 Saúde
A teologia da prosperidade não se cansa de repetir que nem
doenças nem problemas financeiros são da vontade de Deus para
o cristão, nem é necessário que este se confronte com eles
durante a vida.
As doenças e as enfermidades não são da vontade de Deus
para o Seu povo. Ele não quer que a maldição paire sobre
os Seus filhos por causa da desobediência; Ele quer
abençoá-los com a saúde... Não é da vontade de Deus que
fiquemos doentes. Nos dias do Antigo Testamento, não era
da vontade de Deus que os filhos de Israel ficassem doentes,
e eles eram servos de Deus. Hoje, somos filhos de Deus. Se
Sua vontade era que nem sequer Seus servos ficassem
doentes, não pode ser Sua vontade que Seus filhos fiquem
doentes! As doenças e as enfermidades não provêm do
amor. Deus é amor... Nunca diga a ninguém que a
enfermidade é a vontade de Deus para nós. Não é! A cura e
a saúde são a vontade de Deus para a humanidade. Se a
enfermidade fosse a vontade de Deus, o céu estaria cheio de
enfermidades e doenças. (Redimidos, 18-20.)
Se a vontade de Deus é sempre de que o cristão esteja bem, então
o contrário deve ser verdade; a doença nunca é da vontade de
Deus para o fiel. O testemunho de Hagin nesta área é um bom
exemplo. Ele alega não ter sofrido mais do que uma dor de
cabeça em toda a fase adulta de sua vida: "A última dor de
cabeça que senti foi em agosto de 1933" (Unção, 31). Mas, o que
falar daquelas passagens bíblicas que se referem aos problemas
na vida, tais como, por exemplo, 2 Coríntios 6.4-6, onde Paulo
diz que o cristão pode esperar aflições de todo tipo? Isso não
inclui as várias espécies de doença? Hagin diz que não. O cristão
pode passar por problemas, embora Hagin não os defina, mas
eles nunca incluem as doenças.
Falamos em pessoas "aflitas" com enfermidades. Mas a
palavra grega aqui traduzida "aflições" significa "nas
provas" ou "nas provações". (Necessário, 12.)
Quando a Bíblia fala no sofrimento, não se refere à
"enfermidade". Não temos nenhum motivo para sofrermos
com enfermidades e doenças, porque Jesus nos redimiu
delas. (Necessário, 8.)
Sim, há sofrimento, mas não doença e enfermidades.
Graças a Deus que não precisamos padecer tais coisas,
porque Cristo carregou sobre Si as nossas enfermidades.
(Necessário, 43.)
A interpretação de 2 Coríntios 11.23-31, onde Paulo se refere aos
sofrimentos que ele suportou por Cristo, é da mesma natureza.
Paulo conclui, no versículo 30: "Se tenho de gloriar-me, gloriar-
me-ei no que diz respeito à minha fraqueza". Hagin diz que a
idéia que Paulo tem de fraqueza, nessa passagem, "nada tem que
ver com enfermidades; trata-se das provas e provações que o
apóstolo acaba de mencionar" (Necessário, 13). Outras passagens
que se referem a aflições são interpretadas de maneira
semelhante. Salmos 34.19, por exemplo, diz: "Muitas são as
aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra". Este é o
comentário que Hagin faz dessa passagem:
No Antigo Testamento, essa palavra "aflição" não significa
doença nem enfermidade; a palavra hebraica realmente
significa "teste" ou "provação". É isso que nossos
problemas são: testes e provações". (El Shaddai, 22.)
E aquelas passagens nas Escrituras onde alguém é mencionado
de forma específica como estando doente, a exemplo de Timóteo
(1 Tm 5.23), Epafrodito (Fp 2.27) e Trófimo (2 Tm 4.20)? Hagin
responde a isso de duas maneiras diferentes em ocasiões
distintas. Uma resposta diz que as referências à enfermidade no
Novo Testamento sempre destacam a cura, em vez da doença.
Esta é mencionada apenas para mostrar que a cura de Deus
estava a caminho. A segunda resposta, sem demonstrar
necessária coerência com a primeira, afirma que aquelas poucas
passagens que se referem a um cristão doente devem ser
interpretadas no sentido de que faltava fé à pessoa enferma. Se
esta possuísse fé suficiente, não haveria qualquer registro de
enfermidade. Permanece a passagem onde Paulo descreve a si
próprio como tendo um espinho na carne (2 Co 12.7). Mas
aparentemente, esse trecho não apresenta tamanha dificuldade,
pois Hagin responde que o espinho de Paulo não se referia a uma
enfermidade física. Antes, ele está falando de algum outro tipo de
problema, tal como perseguição, um demônio ou alguma
tentação ao pecado.
Essas respostas podem ser satisfatórias se aplicadas aos
personagens bíblicos, mas o que dizer de um cristão que adoece
nos dias de hoje? Como ele deve interpretar a doença, se a saúde
faz parte de seus direitos como cristão? A resposta mais comum,
seja de Hagin ou de qualquer outro pregador da doutrina da
prosperidade, é esta: a doença não é um problema com o qual
devamos nos preocupar. Se alguém ficar doente, essa pessoa
sempre terá a cura à sua disposição. Um pregador da cura dos
dias de hoje é citado como autor das seguintes palavras: "Ser
curado de câncer é tão fácil quanto ter os pecados perdoados"
(Biederwolf, 1934, 10). Entretanto, é óbvio que muitos cristãos
adoecem e alguns deles morrem. Por que isso acontece? Razões
diversas são mencionadas por diferentes pregadores da cura, mas
todas elas se encaixam numa lista de cinco: primeira, à
semelhança dos personagens bíblicos, as pessoas de hoje
adoecem por falta de fé. Se elas crerem, a cura estará à espera
dela. Segunda, muitas pessoas estão doentes por desconhecerem
seus direitos como cristãs. Elas seriam curadas imediatamente, se
conhecessem a interpretação correta da Bíblia. Terceira, alguns
estão doentes simplesmente porque não pedem ajuda. Em quarto
lugar, em alguns casos, existe pecado não confessado, e isso
bloqueia o poder da cura. Por fim, há quem permaneça doente
por deixar de expulsar a Satanás mediante a confissão positiva. É
provável que esta última razão seja a mais ouvida. São freqüentes
os casos em que o pastor da prosperidade afirma que há um
"espírito de miséria que paira sobre as pessoas" e, então, faz um
verdadeiro show de expulsão de demônio(s) e de libertação das
enfermidades por eles causadas. Entretanto, de qualquer modo, a
causa principal está no cristão ou no diabo; nunca se trata de uma
questão da vontade de Deus. Com efeito, Hagin insinua que,
além do sofrimento que procede do fato de estar doente, o cristão
tem de enfrentar a realidade de que as doenças exaltam o diabo.
Muitos cristãos nascidos de novo e cheios do Espírito vivem
num baixo nível de vida, vencidos pelo diabo. Na realidade,
falam mais no diabo do que em qualquer coisa. Cada vez
que contam uma desventura, exaltam o diabo. Cada vez que
contam quão doentes se sentem, exaltam o diabo (ele é o
autor das doenças e das enfermidades — e não Deus). Cada
vez que dizem: "Parece que não vamos conseguir", exaltam
o diabo. (Nome, 19.)
Conclui-se que é desnecessária toda e qualquer enfermidade entre
cristãos:
Por que, pois, o diabo — a depressão, a opressão, os
demônios, as enfermidades, e tudo mais que provém do
diabo — está dominando tantos cristãos e até mesmo
igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles. (Nome,
37.)
A Morte e os Médicos
Embora os cristãos tenham direito à saúde, isso não significa que
possamos evitar a morte ou que ela não seja real, conforme
ensina a Ciência Cristã. Hagin interpreta a morte como parte da
maldição decorrente da queda de Adão, a qual todos temos de
enfrentar. Mas, embora o cristão precise morrer, a morte deve ser
uma experiência indolor, não ligada às doenças, que ocorre
depois de uma vida "plena e longa" (Zoe, 37), sendo que sua
duração é de "70 ou 80 anos" (El Shaddai, 39). Uma
conseqüência disso e que há pouca necessidade de médicos entre
os cristãos adeptos da doutrina da prosperidade. É exatamente
essa a conclusão a que Hagin chega. Para aqueles que atingiram
uma fé madura, nem a medicina nem os conselhos médicos
devem ser necessários.
É claro que estamos a favor da ciência médica, e que damos
graças a Deus por aquilo que ela consegue fazer.
Certamente não nos opomos aos médicos. Mas algumas
pessoas confundem a ciência médica com os dons de curas.
Já ouvi alguns dizerem que os dons de curas eram os
médicos e os conhecimentos da medicina que Deus lhes deu.
Se a ciência médica é o método divino da cura, no entanto,
os médicos não deviam cobrar — seus serviços deviam ser
gratuitos... Além disso, a ciência médica estaria livre de
erros. Os médicos não cometeriam enganos. (Dons, 102.)
Não me compreenda mal: não sou contra os médicos. Dou
graças a Deus por eles. A ciência médica ajudará as
pessoas tanto quanto puder. Se eu tivesse tido necessidade
de ir a um médico nestes últimos cinqüenta anos, teria ido
— mas nunca foi necessário. Por outro lado, já mandei
outras pessoas aos médicos, paguei as contas, e comprei os
remédios (muitas vezes, os médicos conseguem manter as
pessoas com vida até que possamos colocar dentro delas
uma dose suficiente da Palavra para receberem a cura
divina total). (Unção, 31.)
Outros pregadores da prosperidade, tais como R. R. Soares,
assumem uma posição mais rígida e defendem a idéia de que,
para o cristão, é errado procurar um médico, sob quaisquer
circunstâncias. Aqueles que apelam para um médico, que são
internados em hospitais, demonstram uma falta de fé que desonra
a Deus. Os médicos destinam-se apenas aos descrentes, e a
profissão que eles exercem é um testemunho da bondade de Deus
para com o mundo pagão.
Alguém uma vez me disse: Mas, Deus não colocou os
médicos no mundo?... Eu respondi: É verdade. Ele é tão
bom que pensou nos crentes incrédulos. (Soares, 1987. 40.)
R R. Soares oferece sua própria experiência como norma para
todos os cristãos, dizendo que, desde que entendeu o ensino da
prosperidade, nunca mais ficou doente.
Um dia li o livro "O Nome de Jesus" de Kenneth Hagin.
Acabei de lê-lo no dia 2 de dezembro de 1984 e de lá para
cá nunca mais tomei um comprimido sequer, com exceção
de um antiácido que tomei 15 dias após, numa madrugada
por causa de uma indisposição estomacal... (Soares, 1987,
16.)
O ensino do evangelho da prosperidade é claro e sem
qualificações: todo cristão deve gozar de saúde durante toda sua
vida. Qualquer coisa que esteja aquém disso só pode significar
que existe um problema espiritual na vida do cristão. Ele
desconhece o meio de obter a saúde, ou não tem fé, ou está em
pecado, ou encontra-se sob o domínio do diabo.
2.2 Prosperidade
No campo das finanças, Hagin segue exatamente o mesmo
raciocínio que utiliza em suas afirmações sobre saúde. A
prosperidade financeira é um direito do cristão, pois faz parte da
expiação efetuada por Cristo. Assim como o cristão tem direito à
saúde, ele também tem direito de ser próspero. Exatamente da
mesma forma como as enfermidades nunca representam a
vontade de Deus para o fiel, assim também a pobreza ou as
dificuldades financeiras de qualquer espécie. O pastor de hoje
tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua força, pois
no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da
salvação. O direito de sermos financeiramente prósperos precisa
ser cada vez mais proclamado dos púlpitos. Depois de citar Josué
1.8, Hagin diz:
Você quer ser bem sucedido? Deus nos conta como
prosperar, neste versículo. Ele diz que se a Sua Palavra
enche o nosso coração ao ponto de "meditarmos nela dia e
noite", acharemos prosperidade. Subentende-se que o
homem cheio da Palavra de Deus prosperará
espiritualmente. Mas o aspecto que quero enfatizar aqui é a
promessa que Deus deu da prosperidade física, e não
somente espiritual. (Espírito, 15.)
Para defender sua idéia, Hagin aponta várias passagens bíblicas.
Em Filipenses 4, por exemplo, onde Paulo diz que havia
aprendido a "viver contente em toda e qualquer situação", Hagin
afirma que deve ser dado destaque não tanto ao contentamento,
mas à provisão que Deus faz de nossas necessidades financeiras e
materiais.
Paulo disse, escrevendo à igreja em Filipos: "E o meu
Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em
Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Fp 4.19).
Todas as suas necessidades incluem as necessidades
financeiras, materiais, e as demais. Na realidade, nesse
capítulo, Paulo está falando a respeito das coisas
financeiras e materiais. (Redimidos, 5, 6.)
Ele oferece uma interpretação semelhante de 3 João 2: "Amado,
acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim
como é próspera a tua alma". Hagin afirma que, nesse versículo,
João não está simplesmente fazendo uma saudação ou
expressando um desejo pessoal, mas revelando a vontade de
Deus no sentido de que todos os cristãos gozem de prosperidade
financeira.
A oração aqui traduzida "faço votos" é "orar" no grego
original. Logo, João disse aqui. Amado, acima de tudo
ORO por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera
a tua alma. Se ele foi motivado pelo Espírito para orar
assim, esse deve ser o desejo do Espírito para todas as
pessoas. É correto, portanto, orar pedindo prosperidade
financeira, porque João disse: Acima de tudo ORO... A
oração de João aqui diz respeito a três dimensões da nossa
vida: a física, a espiritual, e a material. Ele disse: ... oro
por tua prosperidade [bênçãos materiais] e saúde [bênçãos
físicas] assim como é próspera a tua alma [bênçãos
espirituais]. Assim, vemos que Deus deseja abençoar todas
as partes da vida do crente. (Paz, 99.)
É comum ouvirmos os pregadores da prosperidade afirmarem
que "Deus quer que seus filhos comam a melhor comida, vistam
as melhores roupas, dirijam os melhores carros e tenham o
melhor de todas as coisas". Hagin diz que Jesus dirigiria um
Cadillac, se estivesse desempenhando seu ministério messiânico
nos dias atuais:
... muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um
pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade,
porque andava num carro muito velho. Repliquei: "Isso não
é ser humilde — isso é ser ignorante!" A idéia que o
pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro
velho. Um outro observou: "Sabe, Jesus e os discípulos
nunca andaram num Cadilac." Não havia Cadilac naquela
época. Mas Jesus andou num jumento. Era o "Cadilac" da
época — o melhor meio de transporte existente. Os crentes
têm permitido ao diabo lesá-los em todas as bênçãos que
poderiam usufruir. Não era intenção de Deus que
vivêssemos em pobreza. Ele disse que éramos para reinar
em vida como reis. Quem jamais imaginaria um rei vivendo
em estrita pobreza? A idéia de pobreza simplesmente não
combina com reis. (Autoridade, 48.)
É natural que Hagin ouça críticas contra uma pregação que
parece tão materialista. Sua resposta é que somos filhos do rei e,
nessa posição elevada, devemos esperar viver não apenas com as
necessidades básicas da vida, mas abundantemente. Devemos
aproveitar todas as coisas boas do mundo, sem impor limites às
riquezas que os cristãos podem acumular. A história a seguir
ilustra bem esse fato:
Tenho uma fita-cassete de ensino que ajudou muitas
pessoas neste âmbito. Certo jovem, que conheço bastante
bem, deu seu testemunho de como a fita o ajudou, durante
uma de nossas reuniões recentes. Há apenas uns poucos
anos, quando ele tinha 31 ou 32 anos de idade, entrou nos
negócios. Deixou seu emprego assalariado, tendo em mãos
um total de USS 5.500... Deu o seguinte testemunho:
"Escutei as fitas do irmão Hagin. Havia três sobre a fé e a
confissão, e uma que se chamava: Como Treinar o Espírito
Humano. Deitava-me todas as noites ouvindo aquela fita.
Ligava-a de manhã e a escutava enquanto fazia a barba.
Escutei-a repetidas vezes — provavelmente centenas de
vezes — até que aquela mensagem entrasse no meu espírito.
Depois, por meio de escutar o meu espírito e de usar a
minha fé, já tenho um patrimônio cujo valor total ultrapassa
USS 30 milhões. Este jovem senhor tem apenas 38 anos,
mais ou menos, hoje. Ele não é pregador. É negociante.
Contou-me como seu espírito lhe tem falado e lhe ensinado
como investir e como comprar terras. (Dirigido, 129, 130.)
Isto se aplica aos ministros da palavra e também às pessoas
leigas. Um pregador que possua cem casas, por exemplo, é
coerente com o cristianismo bíblico.
Você já deve ter lido a respeito de pessoas que murmuram
porque um pregador tem uma casa bonita. E se ele tivesse
uma centena de casas? Isto seria bíblico. (Necessário, 20.)
Se somos filhos do rei e temos não apenas o privilégio, mas o
dever de ser prósperos, então, novamente, o contrário deve ser
verdade: um cristão que seja pobre tem somente a si para culpar.
Amigos, vocês sabem que a maioria de nós não é tão pobre
por ter honrado a Deus — mas por tê-lo desonrado. Vocês
devem também dizer amém, pois isso é assim. Dei-lhes
passagens bíblicas como prova. (Authority, 22.)
Com todas essas promessas bíblicas de riqueza e prosperidade, a
mente inquiridora é levada a indagar, como fizemos acima, na
parte sobre saúde, por que tantos cristãos não estão prosperando
financeiramente. Se há um motivo, este deve ser que os cristãos
de todo o mundo, aparentemente, procedem mais das classes
baixas e continuam a sofrer todos os problemas financeiros
próprios da posição social. Por que isso é assim? Uma vez que
esta pergunta tem a mesma essência daquela formulada acima,
sobre saúde, então a resposta parece ser a mesma aqui. Ou o
cristão desconhece seus direitos à prosperidade ou falta-lhe fé
para afirmar tais direitos ou o diabo o está impedindo de recebê-
los. Se houver uma suspeita de que a última causa é o problema,
uma sonora repreensão irá liberar tudo aquilo que o cristão tem
por direito. "... tudo quanto você precisa fazer é dizer: 'Satanás,
tire suas mãos do meu dinheiro'. (Limiares, 67.)
Nas mensagens pregadas sobre o assunto, existe mais uma razão
que freqüentemente aparece para explicar a falta de prosperidade
entre cristãos. Ela surge na mesma hora, a cada domingo, quando
se diz, durante a oferta, que alguns cristãos estão sofrendo com
dificuldades financeiras porque não estão dando o suficiente para
a obra de Deus. A regra espiritual das finanças e essa: se
queremos mais, precisamos dar mais.
Você gostaria de ver maiores bênçãos financeiras na sua
vida? Aumente suas contribuições e ofertas, porque as
Escrituras dizem que a sua colheita será... recalcada,
sacudida, transbordante... porque com a medida com que
tiverdes medido vos medirão também. Por outro lado,
podemos estorvar nossas orações em prol da prosperidade
financeira, se não cooperamos com Deus; se não entramos
pelas portas que Deus abriu para nós. (Paz, 111.)
Não é uma questão de graça, mas de lei, pois se afirma que o
retorno é proporcional à oferta do indivíduo. Muitos pregadores
da prosperidade fazem uso de Marcos 10.29, 30 como a principal
passagem sobre finanças para a igreja:
Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que
tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou
filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do
evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de
casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições; e no mundo por vir a vida eterna.
Essa é a chamada lei do retorno cem vezes maior: receberemos
cem vezes mais do que damos. Kenneth Copeland, herdeiro
provável de Hagin nos Estados Unidos, usa muito essa passagem
em suas pregações. Ela faz parte integrante de sua cosmovisão
financeira, evidenciando-se a partir da interpretação que ele dá a
Marcos 10.17-23, onde o jovem rico se recusa a vender suas
propriedades e se tornar um discípulo de Cristo:
E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu
encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que
farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por
que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só, que é
Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não
adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não
defraudarás ninguém, honra a teu pai e a tua mãe. Então
ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a
minha juventude. Mas Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só
uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos
pobres, e terás um tesouro no céu; então, vem, e segue-me,
Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste,
porque era dono de muitas propriedades. Então Jesus,
olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão
dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
Essa história parece oferecer excelentes instruções sobre o valor
do dinheiro e preço do discipulado. Mas Copeland encontra nela
outro significado. Ele diz que, em seu estudo dessa passagem, o
Senhor lhe falou e explicou que aquele jovem era rico por ter
sido fiel na observância da lei judaica. Ele teria se tornado ainda
mais rico, se tivesse dado suas riquezas ao Senhor. Copeland
conclui: "Aquela era a maior transação financeira que poderia' ter
sido oferecida ao jovem, mas ele se afastou dela, por não
conhecer o sistema financeiro de Deus" (Copeland, 1985, 62).
Concluímos o resumo das promessas do evangelho da
prosperidade na área de saúde e riquezas, fazendo uma
observação sobre sua coerência. Uma vez que se afirma que a
vontade do Senhor para o cristão envolve todas as coisas boas da
vida, não há imposição de condições nem se volta atrás naquilo
que é prometido, mas apenas a promessa clara de que qualquer
um que recorrer a Cristo receberá o que pede. As promessas têm
uma amplitude maravilhosa e uma extensão sem limites. Mas há
um porém: a "confissão positiva".
3. A Confissão Positiva
Nunca é demais enfatizar que o direito que o cristão tem às
riquezas e à saúde não é desfrutado automaticamente. Há
condições a serem satisfeitas e procedimentos a serem seguidos.
Conforme gostam de dizer os economistas, "não existe almoço
gratuito". Isto se aplica até mesmo ao evangelho da prosperidade.
Não basta apenas crer em Cristo, ser batizado, freqüentar uma
igreja, orar e viver uma vida piedosa. Esses elementos sozinhos
não podem trazer aquilo que o cristão tem por direito. A maneira
como vive a maioria dos cristãos torna isso óbvio. A maior parte
deles em todo o mundo é pobre e, à semelhança dos não-cristãos
que os cercam, passa por todos os problemas físicos e doenças
conhecidos pela sociedade em que vive. Na questão da saúde ou
da prosperidade, há poucas diferenças entre cristãos e não-
cristãos. Sempre foi assim. Se existe alguma diferença, esta se
encontra no fato de, através dos séculos, os cristãos tenderem a
ser, como observam Paulo e Tiago (1 Co 1.26; Tg 2.5), menos
sábios, menos poderosos, menos prósperos. Entretanto, segundo
a doutrina da prosperidade, os apóstolos estavam enganados
quanto à vontade de Deus nesse sentido. Deus pode ter escolhido
os pobres e os de condição inferior deste mundo, mas nunca
pretendeu que eles continuassem assim.
A grande descoberta de Hagin e dos mestres da prosperidade foi
a do elemento perdido do cristianismo, um elemento que pode
livrar os cristãos da condição miserável em que vivem, e ele nada
mais e do que certo conjunto de regras e procedimentos muito
simples, porém rígido. A doutrina da prosperidade entende que
este conjunto faz parte da expressão "confissão positiva". Desse
modo, a confissão positiva atua em ambas as direções; é a dádiva
por meio da qual a saúde e a prosperidade são recebidas, mas, ao
mesmo tempo, é uma exigência que não pode ser evitada. Se,
para Lutero a justificação pela fé é vista como a tônica do
evangelho, assim como a predestinação para Calvino, então é
nesse ponto, nessas regras e procedimentos, que se encontra o
coração do evangelho da prosperidade.
A fim de esclarecer tudo o que é englobado pelo termo
"confissão positiva", ele será dividido em três categorias:
conhecimento, fé e confissão propriamente dita. Para antecipar
nossa conclusão, diremos que a confissão positiva ensina que o
cristão será próspero segundo aquilo que ele conhece sobre seus
direitos, de acordo com a firmeza com que ele acredita neles e
pelo modo como os confessa.
3.1 O Conhecimento de Nossos Direitos
Hagin diz que a razão de muitos cristãos continuarem a sofrer
com os problemas na vida, depois de se converterem, está em
desconhecerem aquilo que lhes pertence por direito.
Por que, pois o diabo — a depressão, a opressão, os
demônios, as enfermidades, e tudo mais que provém do
diabo — está dominando tantos cristãos e até mesmo
igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles. (Nome,
37.)
No Velho Testamento, afirmou Deus: O meu povo está
sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento (Oséias
4.6). Em outras palavras, o Senhor está dizendo que, se os
israelitas tivessem consciência do que realmente
representavam e do que Deus representava para eles, não
seriam destruídos. Se conhecessem seus direitos, privilégios
e domínios não teriam sido submetidos a tantas angústias...
você tem direitos garantidos junto a Deus. (Zoe, 71, 72.)
Conforme vimos na seção anterior, não precisamos esperar a
outra vida para usufruir desses direitos. Eles visam nosso
benefício aqui e agora.
Bem, graças a Deus, iremos para o céu e será maravilhoso,
mas não precisamos esperar até chegarmos lá para
desfrutar dos direitos e privilégios que temos em Cristo!
(Combater, 56.)"
Como a cura se encaixa na obra da expiação? A expiação
perfeita, realizada por Jesus Cristo, resolveu o problema do
pecado de forma tão completa que remove também as
conseqüências dele. À passagem de Isaías 53 bem como a
citação dela em Mateus e sua inspirada interpretação
constituem uma afirmação bíblica bastante direta no
sentido de que a cura está contida na expiação. Esse ensino
de que a cura se acha contida na obra da expiação não é
uma afirmação, porém, de que a cura divina esteja à
disposição de todos os homens, universalmente, mas que se
acha à disposição dos crentes, com base na expiação do
sangue de Cristo. O sangue de Cristo é o preço por meio do
qual o crente obtém a cura. (Bailey, 1977, 50.)
A raiz do problema, quando sofremos a falta de alguma coisa,
está obrigatoriamente na ausência de conhecimento. Não
entendemos aquilo que nos pertence por direito.
Uma razão por que nós, cristãos, vivemos em descrença e
nossa fé tem sido obstruída, é a falta do conhecimento da
redenção e dos nossos direitos na redenção, e essa falta de
conhecimento é a maior inimiga da fé. (Combater, 9.)
Na Bíblia, os grandes homens de fé foram capazes de realizar
tantas coisas não por causa da providência de Deus ou por fé e
força de vontade, mas, sim, porque eles conheciam aquilo que
lhes pertencia por direito.
Os homens que fizeram grandes coisas no passado não
eram especiais, privilegiados... A diferença entre eles e nós,
é que eles tinham o entendimento de como as coisas
espirituais funcionam. (Soares, 1987, 56.)
A idéia de que nosso êxito no mundo baseia-se em direitos que
temos perante Deus pode parecer estranha ao leitor acostumado
com o Novo Testamento, pois este sabe que a Bíblia fala de
nossa relação com Deus como algo baseado na graça. Mas Hagin
deixa bem claro que nossa posição como cristãos deve ser
interpretada em termos de direitos legais. As citações que vêm a
seguir são extraídas de quatro livros diferentes de Hagin, e em
cada um deles o Antigo Testamento e o Novo são descritos como
documentos legais que explicam tais direitos.
Graças a Deus, temos o documento jurídico da Nova
Aliança, o Novo Testamento, selado pelo sangue de Jesus
Cristo. (Nome, 53.)
A Palavra de Deus é um documento jurídico. O Novo
Testamento... é a vontade de Deus para eu ter tudo quanto a
Sua Palavra diz que me pertence. (Perdida, 102.)
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O evangelho da prosperidade: uma análise crítica

  • 1.
  • 2. O evangelho da PROSPERIDADE Alan B. Pieratt tradução de Robinson Malkomes Digitalizado e revisado por Micscan Para: semeador.forumeiros.com SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Caixa Postal 21.406 • CEP 04698-970 • São Paulo-SP
  • 3. Copyright • 1993 de Alan B. Pieratt Arte de capa: Melody Pieratt e Íbis Roxane Coordenação editorial: Robinson Malkomes Coordenação de produção: Eber Cocareli Primeira edição: abril de 1993 Todos os direitos de publicação reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Caixa Postal 21486 - 04698-970 São Paulo-SP
  • 4. Conteúdo Capítulo 1. Considerações Introdutórias 08 1. Visão Geral 09 2. Antecedentes Históricos 16 3. Prévia do Conteúdo 28 Capítulo 2. Os Ensinos da Teologia da Prosperidade 31 1. Autoridade Espiritual 33 2. Saúde e Prosperidade 47 3. A Confissão Positiva 61 Capítulo 3. Respostas ao Evangelho da Prosperidade 90 1. Autoridade Espiritual 95 2. Saúde e Prosperidade 125 3. A Confissão Positiva 153 Capítulo 4. A Cosmologia da Prosperidade 173 1. O Dualismo do Corpo e do Espírito 176 2. O Dualismo no Conhecimento 183 3. O Dualismo na Salvação 196 4. O Dualismo de Deuses 203 5. O Problema do Mal 209 Capítulo 5. A Espiritualidade do Evangelho da Prosperidade 220 1. Promessas e Exigências 221 2. Teologia da Glória — Teologia da Cruz 228 Bibliografia 230
  • 5. PREFÁCIO DOS EDITORES Uma das características do século XX na esfera teológica é a extensa produção das chamadas "teologias de genitivo". A elaboração de reflexões cada vez menos sistemáticas e mais especulativas fez surgir no cenário teológico do nosso tempo as Teologias "do Processo", "da Esperança", "da Morte de Deus", "da Libertação", dentre outras. Por meio de um processo progressivo de fuga da teologia sistemática tradicional, essas teologias, com suas diversas ênfases, alcançaram autonomia em relação às diferentes confissões de fé cristãs, tornando-se, em maior ou menor grau — dependendo da cultura onde estão inseridas — objetos de opção pessoal. Esse método de fazer teologia influenciou e incentivou, ainda que não intencionalmente, o surgimento de "novas descobertas" no campo das relações entre Deus e o homem. Há alguns anos, por exemplo, descobriu-se que determinados ensinos que nos foram transmitidos desde a era apostólica estavam errados. Os filhos de Deus são filhos do Rei, e é nessa condição que devem viver. A perspectiva de uma vida cristã repleta de restrições, sofrimentos e tribulações por amor a Cristo não corresponde ao verdadeiro plano de Deus para Seus filhos amados. Ao contrário, Ele deseja que Seus filhos sejam em tudo bem sucedidos, vitoriosos e triunfantes sobre todas as vicissitudes da vida. Afinal, toda espécie de mal — incluindo as doenças e a pobreza — é fruto da ação direta de Satanás e, portanto, destinada apenas aos que se encontram sob o seu sinistro domínio, nunca aos verdadeiros crentes. A razão de existirem muitos cristãos que
  • 6. ainda padecem dos males deste mundo tenebroso é a sua ignorância quanto a seus direitos como filhos de Deus e ao poder divino disponível nas palavras daqueles que conhecem os segredos da confissão positiva. Os méritos dessa descoberta são reivindicados pelo norte-americano Kenneth Hagin, autor de vários livros sobre o assunto, muitos deles já traduzidos para o português. No Brasil, essa nova teologia tem recebido designações variadas, tais como: "Movimento Palavra da Fé", "Teologia da Confissão Positiva" ou "Teologia da Prosperidade". Travamos conhecimento com esses novos ensinos inicialmente por meio do tele-evangelista norte-americano Rex Humbard e, atualmente, mediante pregações em rádio e televisão e nos púlpitos de grandes igrejas que se encontram em evidência. Milhares de cristãos, membros de denominações tanto pentecostais quanto históricas, tem abraçado com entusiasmo os ensinamentos dessa nova teologia. Há também variantes mais místicas do mesmo pensamento, representadas por aqueles que enfatizam à exaustão a necessidade de o crente conhecer os mistérios ligados à batalha espiritual e à ministração de cura interior. O impacto disso tudo se faz sentir no grau de confusão, desorientação e assombro presentes em quase toda a comunidade evangélica brasileira. Mesmo a atividade pastoral tem se ressentido da falta de referenciais teológicos, bíblicos e eruditos que confrontem satisfatoriamente o problema. O Evangelho da Prosperidade — Análise e Resposta tem por objetivo iniciar um debate sério, honesto, bíblico e imparcial sobre o tema. Para tanto, o autor analisa criteriosamente a tríplice base da nova doutrina: 1) as alegações de Hagin sobre sua autoridade espiritual de caráter profético; 2) as promessas de saúde e riqueza; e 3) o método da confissão positiva. Cada uma dessas bases é analisada separadamente, com numerosas citações
  • 7. que enriquecem sobremaneira esta obra. No capítulo 4, discute-se a cosmologia do evangelho da prosperidade, analisando-se seus pressupostos ontológicos, antropológicos e. epistemológicos de forma altamente elucidativa. Ali o autor também expõe a teodicéia de Hagin, apresentando sua solução para o problema do mal e contrapondo-a à solução cristã tradicional de origem agostiniana. O Dr. Alan Pieratt, teólogo, Ph.D. em Ciências da Religião, professor na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde leciona as disciplinas de Hermenêutica e Teologia Contemporânea, traz com seu O Evangelho da Prosperidade — Análise e Resposta uma contribuição inestimável ao labor teológico atual, marcado por tantas controvérsias absolutamente desnecessárias e por uma injustificável ausência de erudição. Edições Vida Nova espera, com este livro, ajudar àqueles que sinceramente procuram trilhar o caminho apertado e estreito que conduz à salvação. Rev. Eber Cocareli
  • 8. Capítulo Um CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS De onde veio o evangelho da prosperidade? Como ele se relaciona com o pentecostalismo? Quem são Kenneth Hagin e E. W. Kenyon e por que são importantes para este movimento? Fornecemos aqui uma breve introdução his- tórica ao movimento da prosperidade.
  • 9. 1. Visão Geral A igreja protestante no Brasil de hoje enfrenta numerosos problemas inerentes à América Latina, incluindo catolicismo cultural, pobreza, analfabetismo, espiritismo, religiões africanas, corrupção política, etc. Do lado de fora, cada um desses desafios confronta a igreja como uma forma diferente do "mundo" contra o qual o apóstolo João advertiu que nos preveníssemos (1 Jo 2.15). Entretanto, como o próprio título indica, esta obra trata de um desafio para a igreja, que está surgindo dentro dela e, portanto, constitui uma ameaça de natureza completamente distinta. Uma interpretação do evangelho, nova e extremamente atrativa, cruzou as fronteiras para invadir o cristianismo brasileiro. Ela tem recebido vários nomes, a saber: "Palavra da Fé", "Ensino da Fé", "Confissão Positiva" ou "Evangelho da Prosperidade". Destes, o último parece o mais exato, pois esse movimento surge para oferecer uma compreensão distinta do evangelho de Cristo como um todo. A semelhança do conhecido evangelho, ele proclama boas novas. Mas as novas não são de que temos o perdão dos pecados e paz com Deus por meio de Cristo. São de que podemos ter a solução de nossos problemas e viver com saúde e prosperidade. Esta mudança no conteúdo da esperança cristã, passando do porvir para o aqui e agora, tem conseqüências de tão grande alcance que o nome "evangelho da prosperidade" parece apropriado. As raízes desse evangelho encontram-se no Primeiro Mundo. Talvez isto seja justo, uma vez que sua ênfase está naquilo que os países do norte tanto parecem ter — prosperidade financeira. Mas ele foi rapidamente bem recebido aqui no Brasil e, apesar de ainda estar em sua infância, parece crescer a passos gigantescos.
  • 10. É claro que a atração no contexto brasileiro não é exercida pela presença da prosperidade, mas por sua ausência. De qualquer forma, o evangelho da prosperidade é uma mensagem de muito poder e esperança que não está limitada a nenhum continente, igreja ou denominação. O propósito deste livro é analisar esse novo movimento e oferecer uma resposta a ele. O leitor atento perceberá que, ao chamá-lo "novo", colocamo-lo sob suspeita desde o princípio. Em matéria de fé, raramente o novo é melhor. Voltaremos a esse ponto no capítulo três. Basta afirmar agora que a teologia tem como tarefa principal a transmissão fiel da mensagem recebida pelos Doze (1 Co 15.3). O leitor que concordar comigo neste ponto desejará então saber qual é meu ponto de vista sobre a teologia. De que perspectiva serão feitas essa crítica e essa análise? Esta é uma pergunta justa e necessária. A teologia que está por trás deste livro foi formulada na Reforma e pode ser chamada "protestantismo clássico". Seu princípio fundamental é de que somente a Bíblia é o único guia para conhecermos a Deus e apenas Cristo é a única esperança de salvação. Desses dois critérios, o primeiro é suficiente para fornecer a base da crítica à teologia da prosperidade. O leitor que se encaixa na tradição protestante logo se sentirá à vontade com essa abordagem. Entretanto, quaisquer que sejam suas convicções teológicas, espero que ele se digne a ler o argumento até o fim. Qualquer pessoa que tenha desembolsado dinheiro para comprar este livro deve ser um pastor, um obreiro cristão ou um leigo inteligente. Neste caso, você é um dos líderes de sua igreja e, conforme Paulo afirmou há muito tempo, tem a responsabilidade tanto de "exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem" (Tt 1.9). Para realizar essa tarefa, precisamos, em
  • 11. primeiro lugar, entender com clareza nossa própria teologia e, depois, a de nosso opositor. Algumas obras norte-americanas, escritas contra a teologia da prosperidade, tratam-na como se fosse uma heresia ou uma seita (McConnell, 1988). A posição que adotamos aqui é de que, certamente, ela não é uma seita. Uma seita é composta por um grupo bem definido de pessoas, assim como as testemunhas de Jeová ou os mórmons, que se chamam cristãos, mas negam doutrinas básicas da Bíblia, tais como a trindade e a divindade de Cristo. A compreensão defeituosa que têm do cristianismo é suficientemente séria para colocá-las fora do círculo da fé. Isso, porém, não se aplica aos ensinos do evangelho da prosperidade. Seus adeptos não negam nenhuma doutrina básica nem buscam outro fundamento que não seja Cristo e os apóstolos. Antes, trata-se de uma forma de compreender a Bíblia que, conforme mostrarei, abandona em alguns pontos as possibilidades de interpretação permitidas pela própria Bíblia.1 Eu acrescentaria que ela e uma forma bem moderna de interpretação, que reflete pressuposições contemporâneas sobre aquilo que o homem pode esperar da vida. Seus ensinos podem ser comparados a outro fenômeno moderno: o vírus de computador. Ambos são capazes de se espalhar em qualquer sistema, danificando aquilo que 1 O autor não deseja usar a palavra "heresia" para rotular a doutrina da prosperidade, pois tal julgamento é severo e deve ser feito somente com muita cautela e por muitas vozes juntas. Vale observar que, na Bíblia, a palavra heresia é usada para se referir a três coisas: 1) um partido ou facção dos judeus, como os saduceus ou os fariseus (At 5.17); 2) um partido ou facção dos cristãos (At 24.14; 1 Co 11.19) — aqui, a palavra é sinônimo de cisma; e 3) uma opinião ou doutrina contrária à crença da igreja (Gl 1.8; 5.20; 2 Pe 2.1). Em grego, "allos" significa "outro" do mesmo tipo ou numa série. "Heteros" significa "outro" de um tipo diferente. Em alguns contextos, as palavras são intercambiáveis. Mas, em Gálatas, o sentido de "heteros" é claro. Além disso. Pedro classifica como destruidoras as heresias que chegavam ao ponto de negar Jesus Cristo (2 Pe 2.1). Paulo afirma que o homem que causa divisões na igreja é "herege", pervertido e autocondenado (Tt3.10; ARC).
  • 12. tocam, mas raramente destruindo por completo o objeto da infecção. De modo semelhante, esta interpretação do evangelho altera a mensagem cristã, mas não a torna irreconhecível ou irrecuperável. Na história da igreja, novas interpretações da Bíblia ou de uma única doutrina apareceram em dimensões e formas diferentes. Algumas começaram em círculos pequenos e continuam assim, tal como o reduzido grupo de igrejas "apostólicas" de hoje, que crêem que a doutrina da trindade não é bíblica. Outros, tais como os adventistas do sétimo dia, desenvolvem interpretações o bastante para atrair adeptos que chegam a formar uma denominação por si mesmos. Cada caso e diferente, mas, de modo geral, uma nova interpretação da Bíblia irá se expandir se atender uma ou mais das seguintes condições: 1) ter um líder "carismático" (ou líderes) que expresse com eloqüência a nova doutrina; 2) satisfazer as necessidades e esperanças das pessoas; e 3) corresponder bem ao ambiente cultural. A teologia da prosperidade atende com excelência cada uma dessas três condições. É dirigida por um grupo relativamente pequeno de líderes talentosos e que estão em evidência. Ela tem resposta para algumas das esperanças mais profundas que as pessoas têm na vida, ou seja, o desejo de ter saúde e prosperidade financeira. Além disso, encaixa-se bem nas pressuposições culturais da sociedade ocidental, no sentido de que as boas coisas da vida não devem ser evitadas, mas buscadas e aproveitadas. Dentre esses fatores, os mais importantes são o segundo e o terceiro. O evangelho da prosperidade está fadado a se expandir por algum tempo e a ser ouvido e acatado por muitos, pois diz aquilo que as pessoas querem escutar. Novos movimentos crescem porque satisfazem alguma necessidade do coração humano expressa na cultura de determinada época. Na igreja primitiva, os primeiros
  • 13. convertidos eram quase todos judeus. Durante décadas os apóstolos lutaram contra a inclinação que eles apresentavam, como seguidores de Cristo, de continuar sendo judeus antes de mais nada. No segundo e terceiro séculos, o gnosticismo dizia aos gregos e romanos recém-convertidos que havia um conhecimento secreto que estava à disposição daqueles que o buscassem. Isso exercia uma enorme atração sobre aqueles que haviam sido educados segundo o pensamento grego, pois tais pessoas haviam aprendido que as verdades mais elevadas sobre as realidades espirituais estavam à disposição daqueles que as buscassem. Em nossa época, parece que a promessa de saúde e riqueza vai de encontro às mais profundas esperanças culturais e pessoais do homem atual. O evangelho da prosperidade aproveita-se das pressuposições de nossa cultura e das esperanças pessoais de forma extremamente agressiva. Observe o seguinte anúncio, colocado em dois jornais que atendem a colônia brasileira da costa leste dos Estados Unidos, o Brazilian Voice e o Brazilian Times. O anúncio prometia solução para os seguintes casos: Desemprego, caminhos fechados, dificuldades financeiras, depressão, vontade de suicidar, solidão, casamento destruído, desunião na família, vícios (cocaína, crack, álcool, etc), doenças incuráveis (câncer, aids, etc), dores constantes (de cabeça, coluna, pernas), insônia, desejos homossexuais, perturbações espirituais (você vê vultos, ouve vozes, tem pesadelos, foi vítima de bruxaria, macumba, inveja ou olho grande), má sorte no amor, desânimo total, obesidade, etc. ... Nós! Sim, nós temos a solução para você! (Ultimato, janeiro de 93, 14.)
  • 14. Dificilmente existe um problema conhecido pela humanidade que não esteja incluído nessa lista. Qual a pessoa que, à margem de uma sociedade estranha, sentindo-se deslocada e alienada, não ficaria curiosa para buscar maiores informações? Parte da fascinação dos ensinos sobre prosperidade está no fato de eles, aparentemente, prometerem tantas coisas e exigirem tão pouco em troca. Eles afirmam que a saúde e as riquezas são nossas; basta que sigamos os passos apropriados da confissão positiva. A maioria das religiões e pseudo-religiões exige mais de seus seguidores. O marxismo oferece um bom contraste. No início e até meados deste século, ele exerceu forte atração sobre as sociedades que estavam desencantadas com a liberdade política de que gozavam e cansadas da pobreza econômica. O marxismo atraía seus adeptos por meio de promessas quase religiosas de justiça, liberdade e cumprimento para toda a sociedade do futuro. Entretanto, ele não prometeu que a utopia futura viria sem um preço. Dificuldades econômicas, perda de liberdade pessoal e governos ditatoriais faziam parte do preço que a geração daquele momento deveria pagar. Muitos aceitaram aquilo de boa vontade, pensando que assim trariam uma sociedade melhor para seus filhos (Hyde, 1966). Mas isso não aconteceu. A questão é que, ao contrário do marxismo, os pregadores do evangelho da prosperidade parecem oferecer tudo e exigir quase nada em troca, exceto, talvez, que o fiel seja mais generoso na hora de abrir a carteira durante a oferta. No último capítulo, verificaremos que as reais exigências são bem maiores do que essa, embora, a princípio, sejam ocultadas. Com esse tipo de mensagem é possível formar uma igreja grande em pouco tempo. Dos que estão doentes, quem não virá para ouvir promessas de cura? Satanás observou há muito tempo que a
  • 15. oferta de cura é irresistível: "... e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida" (Jó 2.4). Dentre os pobres, quem não virá para ouvir promessas de prosperidade? Dentre aqueles que não têm certeza do que fazer e de qual direção dar à vida, quem não seguirá prontamente os que afirmam ter autoridade divina? Resta saber por quanto tempo essas pessoas permanecerão fiéis a tal mensagem. Iniciamos este exame do evangelho da prosperidade com a consciência de que, junto com este trabalho, aparecem duas responsabilidades. Primeira, os ensinos do evangelho da prospe- ridade devem ser apresentados da forma mais justa e exata possível. Não deve haver exageros ou distorções daquilo que está sendo dito e pensado. Segunda. aqueles que consideram este novo evangelho atraente devem ser tratados como irmãos. Qualquer um que afirme ser cristão deve ser tratado como tal, até que atos ou palavras provem o contrário. A responsabilidade dos pastores e líderes na igreja é de examinar e avaliar cuidadosamente qualquer doutrina que desafie o cristianismo bíblico. Mas essa responsabilidade não envolve, o questio- namento da salvação de alguém. Aqueles que afirmam ser seguidores de Cristo devem ser recebidos, tanto quanto possível, como irmãos na fé. Isso significa que eles devem ser amados, não odiados, incentivados por meio da correção, não amaldiçoados ou expulsos. É à luz dessas considerações que devem ser lidos os comentários críticos presentes nesse trabalho.
  • 16. 2. Antecedentes Históricos O evangelho da prosperidade é algo novo na história da igreja. Parece que nada como ele já foi visto antes. Mas isso não quer dizer que ele tenha surgido de modo repentino ou aparecido totalmente formado. Como todo movimento, ele se desenvolveu com o tempo, e isso significa que tem raízes ligadas a pessoas, épocas e lugares diversos. Nesta parte, identificaremos alguns de seus personagens principais e estabeleceremos o papel que tiveram na expansão do movimento. Uma vez feito isso, o leitor terá um fundamento histórico a partir do qual poderá entender melhor a ramificação brasileira desse movimento contempo- râneo. Amplas pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre o assunto revelam que existem duas raízes históricas e filosóficas do evangelho da prosperidade: pentecostalismo (Barron, 1987) e várias seitas metafísicas do início do século XX, que floresceram na área de Boston (McConnell, 1988). Dessas duas fontes, o pentecostalismo forneceu a base ou o grupo onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos, enquanto os pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos pelas seitas metafísicas. É de suma importância que o leitor pentecostal inquiridor perceba essa importante distinção. Desde seu início, a teologia da prosperidade encontrou nas igrejas pentecostais e carismáticas uma acolhida maior do que a de qualquer outro contexto, mas foram as seitas metafísicas que forneceram os ensinos distintivos e a cosmovisão geral que deram forma ao evangelho da prosperidade. Desses dois elementos, estamos mais preocupados com o último, ou seja, a
  • 17. cosmovisão estranha que a doutrina da prosperidade absorveu. Entretanto, antes de passarmos a considerá-la em detalhes, precisamos olhar brevemente para as raízes históricas nas denominações pentecostais e carismáticas. 2.1 A Conexão Pentecostal O movimento pentecostal é um fenômeno relativamente novo e teve suas origens no início do século XX, nos Estados Unidos. Mas o evangelho da prosperidade é ainda mais novo. Suas origens remontam com certeza até, no máximo, os dias de E. W. Kenyon, que alcançou o auge de sua carreira nos anos 30 e 40. A doutrina da prosperidade é tão recente que apenas nos anos 70 ela havia se desenvolvido o bastante para ser identificada como um movimento constituído. No Brasil, ela é ainda mais recente. Entretanto, a questão histórica mais importante não é o fato de ela ser nova, mas que o pentecostalismo não foi o pai desse novo evangelho, embora talvez possa ser chamado de padrasto, por causa da forma como o abraçou e seguiu seus ensinos. Então, a primeira pergunta que se levanta é por que as denominações pentecostais têm sido mais abertas a esse ensino do que qualquer outro grupo protestante. A resposta parece estar na tendência que elas têm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para visões, revelações e orientações espirituais contínuas fora da Bíblia, cria- se um espaço para a entrada das afirmações do evangelho da prosperidade. Isso traz uma importante implicação para o leitor que está tentando identificar as raízes e sutilezas da doutrina da prosperidade — não há necessariamente nenhuma ligação entre o pentecostalismo e os ensinos do evangelho da prosperidade. Todavia, por causa das associações históricas, em vez de
  • 18. conceptuais, vale a pena traçar brevemente a história do pentecostalismo, com ênfase sobre aqueles que, dentro do movimento, afirmavam curar pela fé e apoiavam essa prática. As raízes históricas do movimento pentecostal remontam aos meados do século XIX na Europa e início do século XX nos Estados Unidos. Os primeiros pregadores que afirmavam ter os atuais dons de cura e de línguas apareceram nas décadas de 1850 e 1860, na Inglaterra e na Alemanha. Entre eles estavam o pregador escocês Edward Irving, Dorothea Trudel, uma camponesa suíça, Johann Christian Blumhardt, ministro luterano, e Otto Stockmayer, pastor suíço (Holleweger, 1988). Esses indivíduos não estavam ligados como partes de um movimento constituído, mas a fama do ministério deles espalhou-se pelo mundo e chamou atenção para suas afirmações de cura por meio da fé somente. Embora afirmassem possuir o dom espiritual da cura, aquelas pessoas não ensinavam completamente um evangelho de saúde e prosperidade. Isso apareceu muito mais tarde. No final do século XIX, vários pregadores na América do Norte também começaram a afirmar que possuíam dons de cura e, além disso, que todos os cristãos tinham direito à saúde como parte da expiação. A. J. Gordon, fundador de uma respeitada instituição de ensino teológico, e A. B. Simpson, fundador da Aliança Cristã e Missionária, foram dois líderes importantes. Ambos escreveram livros sobre cura que até hoje são utilizados como fontes básicas por aqueles que ensinam a cura pela fé (Gordon, 1881; Simpson, 1925). Por meio da liderança deles, junto com muitos outros que pregavam idéias semelhantes, o número de pessoas que curavam pela fé havia crescido dramaticamente no final do século XIX, e a expressão "cura pela fé" havia se tornado quase
  • 19. um chavão na Europa e nos Estados Unidos. Alguns pregadores da cura ganharam reconhecimento nacional, incluindo Dowie, Parham, McPherson, Wigglesworth, Seymour, Bosworth e alguns outros. Esses homens (e mulheres) trabalhavam de modo independente, como evangelistas itinerantes que afirmavam ter vários dons especiais, incluindo invariavelmente línguas e cura. (Eles também partilhavam da característica de não terem treinamento teológico formal.) Embora tenham levado grandes multidões a seus encontros, o principal segmento da igreja evangélica nunca aceitou realmente suas afirmações de que tinham poder para curar. É surpreendente que nesse segmento estavam incluídas as jovens denominações pentecostais daquela época. Aparentemente elas consideravam sem substância e muito radicais as afirmações dos detentores de dons de cura (Barron, 1987). Mais ou menos em meados da década de 1930, parecia que a cura pela fé iria cair no esquecimento. Em vez disso, ela encontrou nova vida no movimento carismático. O leitor se lembrará de que a palavra "carismático" aplica-se àqueles que afirmam ter o dom de línguas ou outros dons espirituais extraordinários, mas que permanecem filiados às denominações tradicionais. Nos Estados Unidos, o movimento carismático floresceu nos anos 50 e 60, e foi nas principais igrejas que a mensagem de cura e prosperidade encontrou um novo público. Esse foi um ponto crítico para aqueles evangelistas e pregadores que utilizavam o rádio, tais como Osborn, Lindsay e Hagin, pois lhes conferiu uma audiência muito mais ampla e um acesso bem maior às contribuições financeiras. Foi com o impulso dado pelo movimento carismático que a mensagem de fé e prosperidade não desapareceu, mas cresceu em alcance e influência.
  • 20. Resumindo, os ensinos de prosperidade não tiveram origem dentro do pentecostalismo. Todavia, a tendência das denomi- nações pentecostais de aceitarem afirmações de autoridade profética criou um espaço teológico onde a doutrina da prosperidade pôde se firmar e crescer. Após um período de rejeição, muitos que faziam parte das denominações pentecostais estavam seguindo os líderes que afirmavam ter tal autoridade e que, com base nela, ensinavam a doutrina da prosperidade. Nossa primeira conclusão histórica, então, é que o pentecostalismo foi o portador dessa doutrina, mas ela necessariamente não faz parte das crenças pentecostais. 2.2 As Raízes nas Seitas Metafísicas A crença de que a cura é um direito do cristão há muito tempo faz parte de várias igrejas. Mas o ensino de que o cristão também tem direito à prosperidade e de que deve reivindicá-lo por meio da confissão positiva encontra raízes diferentes. O núcleo conceptual do evangelho da prosperidade está numa cosmovisão que remonta não à doutrina pentecostal, mas a alguns pequenos movimentos heterogêneos do início do século XX conhecidos como "seitas metafísicas" (McConnell, 1988). Talvez essas seitas possam ser consideradas o equivalente antigo daquilo que hoje conhecemos como movimento da Nova Era. Nesta parte de nossa introdução, verificaremos brevemente como as crenças dessas seitas puderam influenciar as idéias de milhões de cristãos de nossa época. A ligação doutrinária entre elas e o ensino do evangelho da prosperidade converge para apenas dois homens: Kenneth Hagin e E. W. Kenyon.
  • 21. Kenneth Hagin Hagin nasceu em 1918, prematuro de alguns meses. Parece que isso o deixou com uma lesão congênita no coração que nunca foi exatamente diagnosticada. É certo que ele foi frágil e doente em sua infância. Para complicar mais as coisas, ele foi educado num ambiente de relativa pobreza, porque aquela foi uma época difícil na história dos Estados Unidos e também porque seu pai abandonou a família, quando Hagin tinha seis anos de idade. Quando ele atingiu a adolescência, sua saúde piorou. Aos 16 anos foi confinado a uma cama e recebeu esperança de pouco tempo de vida. Segundo seu testemunho, ele ficou ali durante 16 meses, antes que sua vida mudasse radicalmente para melhor. Aconteceram duas coisas para inverter sua sorte: primeira, ele afirma ter recebido uma série de visões nas quais foi levado primeiro ao inferno e depois ao céu, três vezes em seguida. As viagens para o inferno afugentaram-no para o arrependimento, e as visitas ao céu conduziram-no à fé e à conversão. Discutiremos com mais detalhes essa e outras visões nos capítulos dois e três.) Ele diz a seus seguidores que, logo depois disso, recebeu uma revelação do "verdadeiro" significado de Marcos 11.23, 24 e da natureza da fé cristã. A essência dessa revelação era que, para obter resultados da parte de Deus, o fiel deve confessar em voz alta seus pedidos e nunca duvidar de que tenham sido respondidos, mesmo que as evidencias físicas não indiquem que a oração foi atendida. Uma vez feita a oração, o fiel deve afirmar constantemente a resposta, até que surja a prova. Essa é, por certo, a essência daquilo que é hoje ensinado como "confissão
  • 22. positiva". Hagin afirma que a fonte disso não foi outra senão o próprio Senhor. Ele nos conta que, na condição de um adolescente preso à cama, começou a colocar em prática essa nova compreensão do evangelho. Depois de pedir ao Senhor que o curasse, ele começou a declarar todos os dias que havia sido curado, repetindo sempre para si próprio que Deus tinha respondido à sua oração e que ele estava bem, não importando como se sentisse. Por fim, depois de afirmar sua saúde durante oito meses, ele saiu da cama e deu alguns passos. A cada dia ele andava um pouco mais e foi se fortalecendo aos poucos. Embora Hagin tenha tido uma saúde frágil durante muitos anos depois daquilo, ele realmente não morreu como os médicos haviam previsto e, segundo seu testemunho, nunca mais ficou doente. As visões na adolescência de Hagin e as melhoras posteriores em sua saúde foram um ponto crítico em sua vida. Ele decidiu que iria consagrá-la ao Senhor e ganhar a vida pregando o evangelho. Ele não freqüentou um seminário, mas depois de se formar no segundo grau começou imediatamente a pastorear uma igreja batista. O primeiro pastorado não durou mais do que alguns meses depois de sua posse e, após recontar suas histórias das visões de Deus, afirmou também ter recebido o dom de línguas. Foi então convidado a sair. Ele se juntou à Assembléia de Deus, pelo fato de haver ali uma política de maior abertura diante de visões e dons espirituais. Nos 12 anos seguintes, ele pastoreou várias igrejas pentecostais na região sul dos Estados Unidos. Com a idade de 30 anos, decidiu deixar o pastorado e se tornar pregador da cura itinerante. Aqueles eram os anos 50, época nos Estados Unidos em que, como observamos acima, o movimento carismático estava crescendo rapidamente, e assim começaram a
  • 23. aparecer os grandes nomes de hoje da cura pela fé. Hagin fez um pouco de sucesso e, tendo facilidade de ensinar num estilo simples e despretensioso, começou a circular um boletim mensal. Seu público leitor cresceu com o passar do tempo e, no início dos anos 70, seu ministério tinha tamanho suficiente para justificar a construção de sua própria escola, conhecida até hoje como Instituto Bíblico Rhema. É bom enfatizar que Hagin não tem nenhum treinamento teológico formal. Ele nunca estudou os pais da igreja, nem os reformadores, nunca teve de prestar um exame de teologia sistemática ou fazer uma lista das regras básicas de herme- nêutica. Pelo contrário, Hagin afirma ter superado a necessidade de tal treinamento. À semelhança do apóstolo Paulo, ele diz que nenhum homem lhe ensinou sua doutrina, uma vez que ele a recebeu diretamente de Cristo. (Em contraste com isso, temos Paulo, que, antes de se converter, era um rabino judeu altamente treinado.) De importância fundamental é a alegação de, instrução divina feita por Hagin. Antes de qualquer outra coisa, isso coloca o selo de aprovação de Deus sobre sua mensagem e ministério. Com efeito, discutir com Hagin é discutir com Deus. Em segundo lugar, ele nega qualquer ligação com grupos ou pessoas ou mesmo influência da parte deles. Tendo se originado na boca de Deus, seu ensino de prosperidade não tem raízes históricas, mas simplesmente caiu pronto do céu. Pelo menos é isso que ele afirma. Entretanto, aqueles que têm pesquisado a doutrina da prosperidade percebem que os ensinos de Hagin são notavelmente parecidos com os de E. W. Kenyon, pregador da cura que viveu uma geração antes. E para ele que agora nos voltamos.
  • 24. E. W. Kenyon Kenyon participa de nossa história, porque parece que ele foi a verdadeira fonte dos ensinos de Hagin sobre a confissão positiva. Mais ou menos como Hagin, ele teve pouco treinamento teológico formal e começou seu ministério pastoreando várias igrejas, incluindo metodistas, batistas e pentecostais. Contudo, sua teologia era diferente das de todas elas e, por fim, tornou-se um evangelista itinerante sem vínculos com nenhuma denominação. Com o passar do tempo, começou a atingir um grande público por meio de seu programa de rádio e de um boletim periódico, tendo chegado ao ponto máximo de audiência no final dos anos 30 e início da década de 40. Para nós, o que mais importa é que ele produziu 18 livretos sobre seus ensinos. São esses livretos que nos permitem traçar sua ligação com Hagin. Antes de discutirmos o conteúdo deles, será bom saber algo mais dos antecedentes teológicos de Kenyon. Embora não tenha freqüentado um seminário teológico, ele estudou em uma escola de nível inferior ao universitário. Quando jovem, matriculou-se no Emerson College, em Boston, o núcleo do movimento "transcendental" do final do século XIX e início do XX. As várias sociedades filosóficas que floresceram durante certo tempo naquele campus, àquela época, são hoje reunidas sob o título "seitas metafísicas". Muitas tiveram vida curta, e poucas sobreviveram depois da Segunda Guerra Mundial. Mas durante os anos 20 e 30, quanto estavam em seu auge, elas incluíam em seu rol pequenas sociedades conhecidas como "Escola da Unidade do Cristianismo", "Ciência Divina", "Igreja da Ciência Religiosa", "Lar da Verdade", "Igreja da Verdade", "Liga da Igreja de Cristo", "Sociedade do Cristo que Cura" e "Assembléia Cristã". Para o leitor brasileiro é difícil compreender as sutilezas
  • 25. dessas seitas orientais e as distinções entre elas, assim como não é fácil explicar para um norte-americano os diferentes tipos de espiritismo aqui no Brasil. Cada um desses grupos é característico de sua própria cultura. Para nossos fins, não é necessário conhecer detalhes de suas crenças, mas apenas captar a maneira como eles enxergam o mundo. Em primeiro lugar, aqueles grupos eram conhecidos como "metafísicos", por ensinarem que a verdadeira realidade é "meta- física", ou seja, vai além da realidade física. Isto significa que a esfera do espírito não somente é maior do que o mundo físico, mas também controla cada aspecto dele e é a causa de todos os efeitos por ele sofrido. Alguns de seus ensinos centrais foram registrados como declarações com efeito de credo e incluem as seguintes proposições: Todas as causas primárias são forças internas... A mente é primária e causativa... A solução para todo defeito ou desordem é metafísica, além do elemento físico, na esfera das causas, que são mentais e espirituais... Deus é imanente, Espírito que habita, Todo-Sabedoria, Todo- Bondade, sempre presente no universo. Portanto, o Mal não pode ter espaço no mundo como realidade permanente; ele é a ausência do bem... (McConnell, 1988, 39, 40). O leitor notará que o destaque dado à esfera espiritual foi casado com a crença de que a mente humana pode controlá-la. É fundamental para as crenças desses grupos sustentar que o homem tem a capacidade inata de controlar o mundo material por meio de sua influencia sobre o espiritual. Bastam conhecimento e fé. Se o homem compreender corretamente as leis espirituais da
  • 26. vida e tiver fé para agir segundo elas, poderá atingir resultados espantosos, Em segundo lugar, para eles a cura constituía o principal ponto de destaque. No artigo sobre essas seitas metafísicas, a Encyclopedia Britannica descreveu-as como um "movimento de cura pela mente..." (15a edição). Diziam eles que, se pensarmos de modo certo, podemos controlar nossa saúde e, se nossa capacidade mental for especialmente grande, podemos dar forma a cada aspecto de nossa vida, decidindo-nos por ter saúde e prosperidade. O leitor perspicaz observará que alguma coisa parecida com isso está sendo ensinada hoje pelo movimento da Nova Era e, em sua forma secular, pela grande variedade de livros de auto-ajuda e de motivação ao sucesso. A maioria das pessoas que lê esses livros não tem consciência de que eles contêm uma visão metafísica distinta, que pressupõe que a mente humana tem controle sobre a esfera espiritual. Kenyon, enquanto estudava no Emerson, tornou-se um seguidor fiel desses ensinos "transcendentais". Ele acreditava que essa forma de ver o mundo não somente era compatível com o cristianismo, mas também oferecia um aperfeiçoamento da espiritualidade cristã tradicional. Decidiu, então, reunir a fé cristã na redenção por meio de Cristo e o ensino transcendental de que a mente pode controlar a realidade. Mediante o uso correto da mente, os benefícios da redenção podiam ser reivindicados pelo fiel. Durante o restante de sua vida, ele fez questão de ensinar essa nova interpretação das Escrituras, certo de que aquilo representava um aperfeiçoamento maravilhoso da tradição cristã e de que traria à tona um cristianismo melhor, no qual todos os que seguissem a Cristo gozariam de saúde e prosperidade durante toda a vida. Não havia limite para as possibilidades — talvez surgisse uma super- raça de cristãos que não mais estariam presos à doença ou a
  • 27. pobreza. Conscientes do poder que estava à disposição deles na esfera espiritual, esses cristãos poderiam assumir o controle do mundo nos últimos dias antes da volta de Cristo (McConnell, 1988, 51). Retornemos agora a Hagin e à sua interpretação de Marcos 11, que ele afirma ter recebido enquanto estava doente, em 1934. Ele diz que aquela visão foi o início de sua nova compreensão da Bíblia e, tendo saído da boca do Senhor, era a Palavra de Deus autêntica. Entretanto, existe outra explicação, que deriva do fato de que os escritos de Hagin são muito parecidos com os de Kenyon, e isso não é coincidência. Parece que, enquanto era jovem. Hagin leu muita coisa escrita por Kenyon. As semelhanças entre os livros que Kenyon escreveu sobre cura, prosperidade, e confissão positiva e aqueles que Hagin mais tarde escreveu, afirmando terem vindo diretamente de Deus, ficam evidentes para qualquer pessoa que tenha em mãos as duas coleções de livros. De fato, em alguns casos, Hagin não somente leu os textos de Kenyon; ele copiou palavra por palavra e, depois, lançou os resultados como se fossem fruto de seu trabalho. Por exemplo, quase 75% da edição original do livro A Autoridade do Crente coincide palavra por palavra com um livreto anterior de Kenyon, publicado em sua origem com o mesmo título. Desse modo, não nos causa nenhuma surpresa o fato de os ensinos de ambos serem os mesmos. É claro que nem todos os livros de Hagin são cópias dos de Kenyon mas as semelhanças são grandes. Depois de fazer uma comparação entre os escritos dos dois, McConnell escreveu: "Até as doutrinas que fizeram de Kenneth Hagin e do Movimento da Fé uma força poderosa e distintiva dentro do movimento carismático independente são plagiadas de E. W. Kenyon" (1988, p.7).
  • 28. Hagin nega de modo inflexível que isso seja verdade. Ele diz que nunca plagiou Kenyon e que seus ensinos vieram diretamente da boca do Senhor. Somente depois de 1979, quando as semelhanças entre os livros foram apontadas por vários leitores, ele veio a admitir ter lido as obras de Kenyon. Mesmo assim, ele tem certeza de que não estudou nenhum dos escritos de Kenyon antes de 1950, ou seja, 13 anos depois de ter recebido a revelação que fez seu ministério decolar. Então, como ele explica as semelhanças? Hagin diz que elas se devem ao fato de ambos os escritos serem a Palavra de Deus. A conclusão dessa história é que a teologia de Hagin tem suas raízes nos escritos de Kenyon, os quais, por sua vez, estão baseados numa cosmovisão estranha ao cristianismo. Por isso, constitui ponto de destaque nessa introdução dizer que, apesar de o evangelho da prosperidade ter se difundido dentro do círculo pentecostal, ele não teve ali sua origem e não faz obrigatoriamente parte de seus ensinos. Parte do alvo deste trabalho é isolar essa influência estranha e demonstrar sua incompatibilidade com o cristianismo bíblico. 3. Prévia do Conteúdo Os quatro capítulos restantes deste livro assumem a seguinte forma: no capítulo dois, os ensinos da teologia da prosperidade serão apresentados de maneira sistemática. As fontes estarão quase inteiramente limitadas aos escritos de Hagin, muitos dos quais se encontram em português. Estes serão ocasionalmente complementados com aquilo que escrevem R. R. Soares ou Ken Copeland, mas Hagin é merecidamente conhecido como o pai da
  • 29. doutrina da prosperidade, e até esta data seus escritos fornecem a melhor exposição de suas idéias. O leitor poderá fazer a objeção de que existem diferenças importantes entre Hagin e outros indivíduos que pregam a doutrina da prosperidade. É verdade que o evangelho da prosperidade é antes um movimento, não uma denominação, e, portanto, cada pessoa faz e ensina aquilo que acha mais apropriado. Entretanto, parece haver um grau razoável de homogeneidade nas crenças. Este livro teve origem num ambiente de aulas de seminário, e uma das tarefas que cada aluno recebeu foi a de ir a uma igreja que estivesse ensinando a doutrina da prosperidade e depois fazer um relatório sobre aquilo que ouviu. Os resultados confirmaram a suspeita de que o evangelho da prosperidade pode ser um movimento que cruza as fronteiras denominacionais, mas seus verdadeiros ensinos variam muito pouco e são muito bem abrangidos pelos escritos de Hagin. O capítulo dois considerará a teologia da prosperidade sob três aspectos diferentes: l) autoridade espiritual; 2) saúde e prosperidade; 3) confissão positiva. Os mesmos títulos serão usados como temas divisores no capítulo três, onde será oferecida uma resposta a cada ponto em particular. Na divisão intitulada "Autoridade Espiritual", provarei que as afirmações de Hagin e outros quanto à autoridade profética não resistem ao escrutínio. Em segundo lugar, na seção chamada "Saúde e Prosperidade", tentarei mostrar que as promessas feitas são baseadas numa exegese da Bíblia que se revela defeituosa e de qualidade inferior. Em terceiro lugar, na parte intitulada "Confissão Positiva", procurarei demonstrar que as regras e os métodos dessa prática tem suas raízes numa cosmovisão que tem
  • 30. mais a ver com as seitas metafísicas do que com o cristianismo bíblico. O capítulo quatro analisará com mais detalhes a cosmovisão que está por trás da doutrina da prosperidade. Embora os tópicos desse capítulo raramente sejam pregados nos púlpitos da prosperidade, eles são essenciais para compreendermos a razão pela qual essa teologia faz as afirmações que vemos. A discussão será dividida em cinco áreas: o dualismo da natureza humana, do conhecimento humano, da salvação, dos deuses e, por fim, do problema do mal. No final, no capítulo cinco será oferecido um resumo que compara a espiritualidade da doutrina da prosperidade com a espiritualidade da Bíblia.
  • 31. Capítulo Dois OS ENSINOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE Qual é a mensagem do evangelho da prosperidade como um todo? Como ele justifica sua afirmação de que é uma nova e melhor interpretação da Bíblia? O que o cristão precisa fazer para conseguir gozar a promessa de saúde e prosperidade? Neste capítulo, tentaremos apresentar de forma ordenada os ensinos da doutrina da prosperidade, começando com sua alegação de autoridade espiritual, seguida pelas promessas feitas com base nessa autoridade, até chegarmos às regras ou método necessário para a obtenção daquilo que é prometido.
  • 32. Introdução Conforme observamos acima, o evangelho da prosperidade será considerado de acordo com as três divisões seguintes: "Autoridade Espiritual", "Saúde e Prosperidade" e "Confissão Positiva". Juntas, elas perfazem um sistema coeso. É claro que o leitor não irá encontrar esse tipo de apresentação em nenhum dos livros de Hagin nem ouvi-lo num sermão, pois essas categorias são extraídas a partir de uma análise cuidadosa de seus livros, vistos como um todo e organizados de maneira lógica. O leitor descobrirá que, uma vez que a teologia de Hagin e assim organizada, seus escritos fazem mais sentido. Presume-se que muitos leitores deste livro leram poucos ou nenhum dos livros sobre prosperidade que se encontram à venda. Talvez você tenha tido contato com a doutrina da prosperidade somente por meio do rádio ou da televisão ou ouvido falar sobre ela em conversas com amigos e membros de sua igreja, sem nunca havê-la conhecido de forma direta. Por isso, forneceremos citações extensas das obras de Hagin. Isso dará condições ao leitor de julgar por si próprio se as análises e respostas aqui oferecidas são justas e convincentes. O leitor deve manter em mente que o propósito do capítulo dois é somente de expor a doutrina da saúde e da prosperidade e não apresentar uma resposta a ela. Todos os comentários críticos foram colocados no capítulo seguinte, onde se encontra uma resposta a cada questão levantada. Uma palavra sobre as citações: as de Hagin serão seguidas pela palavra principal extraída do título do livro que está sendo citado. Para localizar o texto, o leitor precisa simplesmente encontrar o
  • 33. título completo do livro na bibliografia no final deste volume e, então, verificar o número da página. Por exemplo, a referência (Unção, 9) significa que a citação foi extraída da página 9 do livro de Hagin chamado Compreendendo a Unção. Todos os demais livros citados seguirão este padrão: nome do autor, data de publicação e, se necessário, número da página.2 1. Autoridade Espiritual A semelhança de muitas igrejas carismáticas e pentecostais, Hagin ensina que Deus está ungindo profetas nos dias de hoje. Tais homens são porta-vozes de Deus e, portanto, trazem consigo a autoridade do próprio Senhor. "Deus ainda está ungindo profetas hoje. Esses profetas são porta-vozes dEle..." (Unção, 9). Ele ridiculariza aquelas denominações que ensinam que a autoridade apostólica cessou com a morte dos Doze, dizendo que "o diabo já ludibriou denominações inteiras", fazendo-as pensar que esse dom cessou com os Doze (Nome, 51), Não nos surpreende o fato de Hagin afirmar ser um desses porta-vozes escolhidos, e seus sermões e escritos estão repletos de mensagens e visões da parte de Deus. As expressões encontradas com maior freqüência em seus livros são: "tive uma visão", "tive uma visão espiritual rápida" ou "o Senhor me disse". Algumas vezes essas visões são de natureza espetacular, à semelhança da vez em que ele foi levado ao inferno três vezes num único dia. 2 Os textos extraídos dos livros de Hagin em português e os do livro de R. R. Soares serão citados na íntegra, incluindo os erros gramaticais, freqüentes naquelas publicações (nota do tradutor).
  • 34. ... conforme já preguei muitas vezes, eu mesmo fui para o inferno. Foi no dia 22 de abril de 1933, às 19:30 do sábado... meu coração parou em meu peito, e senti a circulação desligada... tive a sensação de pular para fora do meu corpo... Comecei a descer. Desci cada vez mais fundo, como se fosse em direção ao fundo de um poço. Olhei para cima, e ainda via as luzes da Terra, muito acima de mim. Quanto mais descia, tanto mais escuro ficava. Finalmente, as trevas me envolveram... Minha mente, minha alma, estava intacta... Vi lá longe, na minha frente, uma chama alaranjada gigante, com uma crista branca. Então cheguei ao portão, à entrada, aos portais do próprio inferno. Algum tipo de criatura estava me esperando no fundo do poço... a criatura... agarrou o meu braço... No momento em que aquela criatura me pegou pelo braço para me escoltar para dentro, uma voz falou... Não consegui compreender o que a voz dizia... Quando, porém, Ele falou aquilo, seja o que for... aquele local inteiro tremeu e estremeceu como uma folha no vento. Então aquela criatura largou o meu braço, e alguma coisa como uma sucção, puxando-me irresistivelmente pelas costas, sem me virar, me puxou para trás, para longe da entrada do inferno e das trevas do abismo, e subi... O cenário inteiro repetiu-se três vezes (Crescimento, 38-40). A mesma experiência repetiu-se algum tempo depois, mas dessa vez a direção foi para cima, em vez de para baixo: E quatro meses mais tarde, no dia 16 de agosto de 1933, às 13:30, fiquei sabendo de novo que estava morrendo... tive a mesma sensação que já tivera antes. Mas desta vez, eu era
  • 35. salvo!... Dessa vez a viagem não era para baixo, mas para cima (Crescimento, 41; veja também Nome, 63). Muito mais importantes do que essas viagens para o céu e para o inferno são suas afirmações de ter sido instruído pessoalmente por Jesus em assuntos de doutrina. Ele alega ter recebido não menos do que oito visitas pessoais de Jesus que visavam ensinar- lhe a verdade. As seguintes passagens são bem características: Em dezembro de 1952, enquanto eu e um pastor orávamos na cozinha da sua casa pastoral, o Senhor Jesus Cristo apareceu diante de mim numa visão. Disse: "Vou-lhe ensinar a respeito do diabo, dos demônios, e dos espíritos maus"... Fiquei arrebatado naquela visão durante uma hora e meia enquanto Jesus me ensinava. (Nome, 78.) Certa noite, enquanto alguns amigos se preparavam para servir um lanche depois de um culto em Phoenix, Estado da Arizona, recebi da parte do Espírito Santo um impulso excepcionalmente forte para orar... "Estou obrigado a orar agora", falei aos meus amigos. "Oremos todos nós, portanto", concordaram. Mal meus joelhos tocaram no chão, e eu já estava no Espírito... Durante 45 minutos, orei em línguas, com gemidos... Em seguida, tive uma visão... Então, o próprio Senhor Jesus apareceu a mim. Vi-O tão claramente quanto poderia ver você. Ele ficou menos de um metro de distância de mim. Tratou de assuntos que diziam respeito ao meu ministério e à minha situação financeira, e até mesmo ao nosso governo dos Estados Unidos... Terminando, Ele me exortou: "Seja fiel e cumpra seu ministério, meu filho, pois o tempo está curto". Essa visão me foi dada em dezembro de 1953. Jesus virou-Se, e
  • 36. começou a afastar-Se, mas falei: "Querido Senhor Jesus, antes de ires embora, posso fazer-Te uma pergunta? Jesus deu uns passos de volta, ficou em pé perto de onde me ajoelhava, e disse: "Pode." (Crescimento, 75, 76.) Quero voltar... para aquilo que Jesus me disse em fevereiro de 1959 em El Paso, Texas. Eram seis e meia da tarde. Eu estava sentado na cama, estudando... Ouvi passos. A porta do meu quarto estava semi-aberta, uns 30 ou 40 centímetros. Olhei, portanto, para ver quem estava entrando no meu quarto. Esperava ver alguma pessoa física, literal. Mas quando olhei para ver quem era, vi Jesus. Parecia que os cabelos do meu pescoço e da minha cabeça ficaram eriçados, totalmente em pé. Caroços de arrepio surgiram de repente em todas as partes do meu corpo. Vi-O. Ele estava usando vestes brancas. Estava usando sandálias romanas. (Jesus apareceu na minha frente oito vezes. Em todas as demais ocasiões, senão esta, Seus pés estavam descalços. Desta vez, Ele usava sandálias; foram as sandálias que eu escutara). Ele parecia medir cerca de 1 metro 80 centímetros, e dava a impressão de pesar cerca de 82 kg. Ele passou pela porta e a empurrou para trás até quase fechá-la. Andou em derredor do pé da minha cama. Eu O seguia com os olhos — quase fascinado. Ele pegou uma cadeira de costas retas e a puxou para perto da minha cama. Depois, sentou-se nela, dobrou as mãos, e começou Sua conversa, dizendo: "Disse-lhe anteontem à noite no automóvel pelo Meu Espírito"... (Dirigido, 29, 30; veja também Planos, 99; Unção, 39.) Tais sessões educativas devem ter grande importância no reino celestial, pois Hagin relata que, às vezes, demônios tentam
  • 37. impedir que ele tenha percepção do ensino de Jesus durante essas visitas. Em 1952, o Senhor Jesus Cristo me apareceu numa visão... No final daquela visão, um espírito maligno que parecia um macaquinho ou um duende correu entre mim e Jesus, espalhando alguma coisa parecida com fumaça ou nuvem escura. Então este demônio começou a pular, gritando com uma voz estridente: "Iaqueti-iac, iaqueti-iac, iaqueti-iac". Eu não podia ver a Jesus, nem entender o que Ele dizia. (Durante todo o tempo dessa experiência, Jesus estava me ensinando alguma coisa... Não podia compreender por que Jesus permitia ao demônio fazer tanta algazarra... (Autoridade, 37.) As entrevistas de Hagin com o Senhor são tão profundas e ele é levado para tão longe da terra que, às vezes, tem medo de entrar demais na dimensão espiritual, a ponto de não poder voltar. Não sei se você já teve alguma experiência no Espírito, ou não, mas eu já tive muitas, e posso falar-lhe com a mais perfeita sinceridade: Quando vem aquela unção, quase ficamos com medo do ponto de vista natural, porque temos medo de não podermos voltar. (Unção, 145.) A autoridade espiritual de Hagin é apoiada não apenas por afirmações de visões do céu e do inferno e instruções pessoais com Cristo. Ele também descreve com alguns detalhes unções especiais de espiritualidade. Estas apresentam vários aspectos diferentes; por exemplo, ele diz que, às vezes, fica em oração durante horas, sem ter noção do tempo que passa (Planos, 36, 99). Outras vezes, ele sente uma unção de grande poder,
  • 38. enquanto prega, e descreve-a como sendo semelhante a uma capa ou manto caindo sobre seus ombros. Há oportunidades em que tal sentimento é muito intenso, e ele entra em êxtase: Às vezes no ministério, quando a unção vem sobre mim, parece que um manto desce sobre mim. Parece que estou vestindo um manto, um casaco, quando na realidade, não estou. Mas o poder de Deus — a unção — me envolve tanto que me sinto vestido assim. (Unção, 99; veja também 125.) ... veio sobre mim a unção. De novo, era como se alguém tivesse passado por mim correndo e jogado uma capa sobre mim. Sentia-a em todo o corpo. Sabia, de novo, que a unção não duraria por muito tempo, porque eu não poderia agüentá-la fisicamente... Fiquei arrebatado naquela glória, e me contaram depois, que toda pessoa tocada por mim caiu... (Unção, 141.) Em Dezembro de 1962, eu estava pregando em Houston... De repente, senti um vento soprando sobre mim. Veio com tamanha força que me derrubou ao chão e caí em êxtase... Vi... Jesus. (Planos, 34.) Há vezes em que ele se vê cercado por uma nuvem de glória, enquanto prega.3 Certo domingo de noite... tinha pregado durante uns 15 minutos, ungido pelo Espírito Santo, quando, então, o poder de Deus entrou naquele auditório da igreja e o encheu 3 A presença de uma nuvem de glória era uma afirmação comum entre os pregadores, durante os avivamentos de cura que vieram depois da Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos (McConnell, 74).
  • 39. como nuvem. Não consegui ver nem um só membro — estava dentro da nuvem. Escutava o som da minha voz, mas não reconhecia uma única palavra daquilo que dizia... Finalmente, consegui enxergar pessoas nas três primeiras fileiras de assentos. Então, a unção começou a desaparecer. (Unção, 50; veja também 54, 83.) Hagin afirma que há vezes em que seus seguidores vêem seu rosto brilhar, pelo fato de estar na nuvem de glória (Unção, 51). Ele diz que, depois dessas experiências de êxtase, não consegue andar durante algum tempo nem dirigir um carro. Antes, prefere simplesmente ficar sozinho, sem falar com ninguém nem ser tocado por nenhuma pessoa, a fim de que não seja trazido de volta muito rapidamente de seu êxtase espiritual (Unção, 143). Além de uma espiritualidade profunda e poderosa, Hagin também alega ter recebido dons especiais de inteligência e presciência. Depois de sua conversão, sua inteligência aumentou entre 30 e 60% (Dirigido, 54), e ele recebeu o dom de uma memória perfeita (Unção, 58). Como se isso não bastasse para transformá-lo num erudito de primeira linha, ele também recebeu diretamente do Senhor o dom de ensino e o de cura: Lembro-me, porém, de certa quinta-feira às três horas da tarde... Enquanto atravessava a sala... e estava bem no centro dela, algo caiu sobre mim e para dentro de mim. Desceu dentro de mim com um "clique," como quando a ficha telefônica é recebida... Sabia do que se tratava. Era um dom de ensino... Falei: "Agora sei ensinar". (Unção, 58, 59.)
  • 40. Quando o Senhor apareceu a mim naquela primeira visão em 2 de setembro de 1950... Ele tocou nas palmas das minhas mãos com o dedo da Sua mão direita... e disse: "Chamei-te e te ungi e te dei uma unção especial para ministrar aos enfermos". (Unção, 137, 138.) Hagin sempre recebe conhecimento do futuro, principalmente quando se trata de prever uma desgraça iminente. Por exemplo, ele diz que Deus o avisa de um problema que se aproxima, sempre que se hospeda na casa de alguém: Na realidade, até agora nunca fiquei hospedado na casa de ninguém sem Deus me advertir no tocante a qualquer tragédia iminente. Se estivesse para haver alguma morte entre aquela família dentro dos dois anos futuros, Ele me contava. (Unção, 89.) Ele soube com antecedência, por meio de uma visão, com quem iria se casar e os filhos que iria ter (Planos, 33). Os mais espetaculares milagres de Hagin encontram-se relatados nos boletins enviados regularmente aos seguidores nos Estados Unidos. Eles ainda não foram publicados no Brasil, mas apresentam afirmações muito mais dramáticas, incluindo milagres de levitação e até ressurreição dos mortos. D. R. McConnell, responsável pela produção dos mais bem pesquisados relatos do ministério de Hagin, descreve alguns desses acontecimentos miraculosos: Em 1937, Hagin foi ordenado ministro da Assembléia de Deus e pastoreou várias igrejas pequenas no estado do Texas. Por ser pentecostal, seu ministério cresceu ainda mais para o lado abertamente sobrenatural. Além da nuvem
  • 41. de glória e das pregações em estado de suspensão temporária das funções vitais, Hagin descreve reuniões em que, numa delas, uma mulher levitou à meia-altura, enquanto dançava, e outra ficou fisicamente congelada, num transe de catalepsia, durante 8 horas e 40 minutos. As curas eram freqüentes, e no ministério pastoral de Hagin chegaram a acontecer até supostas ressurreições dos mortos. (McConnell, 1988, 60.) Talvez a afirmação mais notável de Hagin seja a de que, em 45 anos, ele nunca ficou desanimado, preocupado ou enfrentou alguma luta. Ouço as pessoas, Deus abençoe o coração delas, que falam a respeito de estar no vale, e depois, de estar na montanha, para então voltarem ao vale. Eu nunca fui para o vale. Faz 45 anos que sou salvo, e nunca fui para lugar algum senão para o cume das montanhas... Oh, sim, tem havido provas e provações, mas eu fiquei no cume da montanha, gritando a vitória o tempo todo — vivendo acima dos problemas! (Dirigido, 73, 74.) Muito mais pode ser dito. Na verdade, se extraíssemos todos os relatas de sinais e maravilhas daqueles textos já publicados no Brasil poderíamos formar um livreto de tamanho razoável. Aqueles citados aqui servem para que o leitor tenha um quadro geral. A esta altura, precisamos nos lembrar do motivo dessas visões, sinais e maravilhas. Eles são fornecidos para dar substância à alegação de Hagin no sentido de ser um profeta de Deus dos dias de hoje, que recebeu uma revelação nova para os últimos tempos. Suas afirmações de visões e dons de profecia
  • 42. justificam seu ministério público e colocam o selo de aprovação divina sobre seus ensinos. Vale notar que Hagin não tolera qualquer questionamento de seus ensinos. Ele não permite que suas visões sejam objeto de discussão por parte de seus seguidores. O relato seguinte de um confronto com sua própria esposa ilustra dramaticamente essa questão: Após um caso sobrenatural de levitação em um de seus cultos, a própria esposa de Hagin, o irmão e a esposa do pastor, em cuja igreja ele estava ministrando, questionaram se aquele fenômeno era de Deus. No dia seguinte, enquanto ele orava, a "palavra do Senhor" veio a Hagin, instruindo-o a tocar levemente a testa dos três com seu dedo mínimo. Ao tocar sua esposa, ela caiu de costas no chão, "como se tivesse sido atingida por um taco de beisebol". À semelhança dela, os outros dois também foram "abatidos no Espírito". As três vítimas paralisadas ficaram "coladas no chão". Quando o pastor, logicamente preocupado, tentou levantar sua esposa, ele "não conseguiu sequer levantar o braço dela do chão, muito menos seu corpo". Então, uma voz deu instruções a Hagin para que se ajoelhasse diante de cada um deles. Diga-lhes que tentem se levantar. Depois, pergunte-lhes se admitem que o que está acontecendo deve- se ao poder de Deus". Ao tentarem se mexer e verem que estavam completamente imobilizados, os três, é claro, dispuseram-se a admitir que o poder e o ministério de Hagin eram de Deus. Então, a voz instruiu a Hagin para que os "soltasse", tocando novamente a testa de cada um com seu dedo. Eles haviam sido convencidos. Se, obedecendo à voz interior, Hagin podia fazer tudo isso
  • 43. somente com seu dedo mínimo, era inevitável que tais julgamentos proféticos aumentassem, à medida que seu ministério crescia. Em 1959, em sua sexta visão de Jesus, o Senhor disse a Hagin... (que) se uma igreja se recusasse a aceitar seu ministério, Deus iria retirar dela seu candeeiro. Por mais sérias que sejam essas conseqüências para a igreja, elas não são nada se comparadas ao julgamento pronunciado sobre o ministério de um indivíduo que desafie o trabalho profético de Hagin. Afirmando que "se um pastor não aceitar essa mensagem, então lhe sobrevirá julgamento", Hagin escreve; "O Senhor me disse: Se eu lhe der uma mensagem destinada a um indivíduo, igreja ou pastor e eles não a aceitarem, você não será responsável. Eles serão responsáveis. Haverá ministros que não a aceitarão e cairão mortos no púlpito". Aqueles que pensam que essas declarações não passam de vãs ameaças ou de hipérbole profética devem ouvir mais o "profeta": "Digo isso com relutância, mas realmente aconteceu num lugar onde eu havia pregado. Duas semanas depois da reunião, o pastor caiu morto no púlpito. Eu havia saído chorando da igreja e disse ao pastor da igreja seguinte, onde eu fora dirigir uma reunião: "Aquele homem vai morrer no púlpito". E isso aconteceu pouquíssimo tempo depois. Por quê? Porque ele não aceitou a mensagem que Deus me deu para lhe entregar diretamente do Espírito". Se um ministro pode ter um destino assim, o que dizer de um mero leigo que ouse questionar a mensagem de Hagin? Na publicação original deste material, Hagin também avisou que "nos últimos dias, haverá leigos que cairão mortos na igreja, à semelhança de Ananias e Safira. Eles mentiram para Deus". (McConnell, 1988, 66. 67.)
  • 44. Hagin diz que aqueles pregadores e leigos que rejeitarem seu ensino serão atingidos de morte, como Ananias e Safira, e que a ira divina cairá sobre aqueles que não seguem suas idéias. Desse modo, não somente sua teologia vem diretamente de Jesus, mas também a ira divina arde contra aqueles que se opõem a seu ministério de ensino. Hagin é um bom exemplo do tipo de autoridade que os líderes do movimento da prosperidade alegam ter, e seus escritos demonstram bem o destaque extraordinário que é dado aos sinais e maravilhas dentro do movimento. Visões, profecias, entrevistas com Jesus, curas, palavras de conhecimento, falar em línguas, ser abatido no Espírito, nuvens de glória, rostos que brilham com luz sobrenatural, conhecimento do futuro, rejeição de dores de cabeça e gripes por meio de uma palavra de comando, etc; esses são os elementos que tornam emocionante a doutrina da prosperidade. Eles não apenas verificam que Deus está presente e em atividade, mas também contribuem para sermões fascinantes. Entretanto, essas histórias e casos não estão sozinhos. Eles são sustentados pelo pressuposto teológico de que sinais e maravilhas têm um lugar importante na igreja, pois se afirma que o poder de Jesus para operar milagres foi cedido para o uso da igreja. O argumento que apóia essa afirmação tem dois aspectos diferentes. Primeiro, observa-se que os milagres são um fator importante do ministério de Jesus, a maioria dos quais constituída de curas. Na verdade, dos 33 milagres registrados nos evangelhos, 17 são curas e quatro outros são exorcismos que envolviam cura. A leitura dos autores dos evangelhos deixa claro que Jesus era capaz de curar quando quisesse e que ele curou todos os que o procuraram com esse propósito. Mateus 9.35 diz que "percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando... pregando... e
  • 45. curando toda sorte de doenças e enfermidades". Em nenhum lugar se vê Jesus mandar embora uma pessoa que desejasse ser curada. Nas ocasiões em que se diz que Jesus operou poucos milagres ou mesmo nenhum, a incredulidade é apresentada como causa imediata daquilo, embora isso não queira dizer que Jesus não poderia ter exercido seu poder se quisesse (Mc 6.5, 6). Com base nessa ênfase no Novo Testamento, a doutrina da prosperidade afirma que o mesmo poder para realizar milagres encontra-se hoje à disposição da igreja. O raciocínio é este: uma vez que Jesus permanece o mesmo (Hb 13.8), ele deve estar disposto a curar agora, como estava naquela época. Sobretudo, o próprio Jesus afirmou que seus seguidores fariam obras maiores do que as dele (Jo 14.12). Assim, alega-se que a conclusão disso tudo é a seguinte: os cristãos devem ser capazes de realizar aquilo que Cristo realizou enquanto estava presente em seu corpo sobre a terra (Duffield, 1983, II: 137-218). O segundo aspecto desse argumento é que o poder de cura revelado pelos apóstolos, enquanto viveram, mostra que Jesus, de fato, concedeu seu poder à igreja. A missão que Cristo deu aos doze (Mt 10.1; Lc 9.1) e aos setenta (Lc 10.9), ao enviá-los para pregar, inclui a ordem de curar os doentes. Essa incumbência é renovada pelo Cristo ressurreto, em Marcos 16.18, que ordena a imposição de mãos sobre os doentes e acrescenta a promessa de que estes serão curados. Afirma-se que Lucas registra o cumprimento dessa promessa em seu livro de Atos, pois ele está repleto de milagres, incluindo as narrativas em que Pedro cura o homem coxo, na porta do templo (3.1ss.), da cura de Enéias, em Lida (9.32ss.), e de Tabita, em Jope (9.36ss.). Lucas também registra a cura de um paralítico em Listra (14.8ss.), do pai de Públio, em Malta (28.7, 8), e a restauração de Êutico à vida, em Trôade (20.9ss.). Conclui-se que Atos revela aquilo que Deus
  • 46. espera de sua igreja, pois o mesmo poder concedido aos apóstolos também foi dado à igreja. Portanto, o poder de Jesus para a realização de milagres é um dom permanente concedido à igreja, e esta deve manifestar tais sinais e maravilhas em seu dia- a-dia. Os próprios escritos de Hagin são incomuns, por causa da quantidade e de sua natureza dramática, mas não deixam de ser coerentes com a teologia que se encontra por trás deles, a qual garante a possibilidade de autoridade e autenticação apostólicas nos dias de hoje. Isso traz duas implicações para aquelas igrejas e pastores que seguem Hagin e os ensinos sobre prosperidade. Primeira, eles são obrigados a aceitar a responsabilidade que decorre do fato de crerem que a autoridade profética ou apostólica encontra-se presente na igreja de hoje, pois é exatamente isso que Hagin afirma. Qualquer pessoa que aceite a doutrina da prosperidade, está aceitando Implicitamente a afirmação de Hagin de que essa nova doutrina foi-lhe ensinada por Jesus Cristo em pessoa. Segunda, as alegações de Hagin de autoridade apostólica são apoiadas por suas histórias mira- culosas. Aquelas igrejas e pastores que seguem os ensinos da prosperidade são obrigados a aceitar a responsabilidade de garantir a validade dos sinais e maravilhas entre seus membros. Voltaremos a esse ponto no capítulo seguinte para oferecer algumas idéias que recomendam prudência no consentimento com tais afirmações.
  • 47. 2. Saúde e Prosperidade Chegamos agora às promessas centrais da doutrina da prosperidade: o direito que todo cristão tem de gozar de saúde e riqueza. Hagin não se cansa de dizer que as duas coisas representam sempre a vontade de Deus para o cristão: Nós, como cristãos, não precisamos sofrer reveses financeiros; não precisamos ser cativos da pobreza ou da enfermidade! Deus proverá a cura e a prosperidade para Seus filhos se eles obedecerem aos Seus mandamentos... Deus quer que Seus filhos... tenham o melhor de tudo. (Limiares, 66.) São essas promessas que tornam tão atraente o evangelho da prosperidade. Embora estejam logicamente ligadas, faremos distinção aqui entre as afirmações quanto à saúde e aquelas que dizem respeito à riqueza ou prosperidade. 2.1 Saúde A teologia da prosperidade não se cansa de repetir que nem doenças nem problemas financeiros são da vontade de Deus para o cristão, nem é necessário que este se confronte com eles durante a vida. As doenças e as enfermidades não são da vontade de Deus para o Seu povo. Ele não quer que a maldição paire sobre os Seus filhos por causa da desobediência; Ele quer abençoá-los com a saúde... Não é da vontade de Deus que fiquemos doentes. Nos dias do Antigo Testamento, não era
  • 48. da vontade de Deus que os filhos de Israel ficassem doentes, e eles eram servos de Deus. Hoje, somos filhos de Deus. Se Sua vontade era que nem sequer Seus servos ficassem doentes, não pode ser Sua vontade que Seus filhos fiquem doentes! As doenças e as enfermidades não provêm do amor. Deus é amor... Nunca diga a ninguém que a enfermidade é a vontade de Deus para nós. Não é! A cura e a saúde são a vontade de Deus para a humanidade. Se a enfermidade fosse a vontade de Deus, o céu estaria cheio de enfermidades e doenças. (Redimidos, 18-20.) Se a vontade de Deus é sempre de que o cristão esteja bem, então o contrário deve ser verdade; a doença nunca é da vontade de Deus para o fiel. O testemunho de Hagin nesta área é um bom exemplo. Ele alega não ter sofrido mais do que uma dor de cabeça em toda a fase adulta de sua vida: "A última dor de cabeça que senti foi em agosto de 1933" (Unção, 31). Mas, o que falar daquelas passagens bíblicas que se referem aos problemas na vida, tais como, por exemplo, 2 Coríntios 6.4-6, onde Paulo diz que o cristão pode esperar aflições de todo tipo? Isso não inclui as várias espécies de doença? Hagin diz que não. O cristão pode passar por problemas, embora Hagin não os defina, mas eles nunca incluem as doenças. Falamos em pessoas "aflitas" com enfermidades. Mas a palavra grega aqui traduzida "aflições" significa "nas provas" ou "nas provações". (Necessário, 12.) Quando a Bíblia fala no sofrimento, não se refere à "enfermidade". Não temos nenhum motivo para sofrermos com enfermidades e doenças, porque Jesus nos redimiu delas. (Necessário, 8.)
  • 49. Sim, há sofrimento, mas não doença e enfermidades. Graças a Deus que não precisamos padecer tais coisas, porque Cristo carregou sobre Si as nossas enfermidades. (Necessário, 43.) A interpretação de 2 Coríntios 11.23-31, onde Paulo se refere aos sofrimentos que ele suportou por Cristo, é da mesma natureza. Paulo conclui, no versículo 30: "Se tenho de gloriar-me, gloriar- me-ei no que diz respeito à minha fraqueza". Hagin diz que a idéia que Paulo tem de fraqueza, nessa passagem, "nada tem que ver com enfermidades; trata-se das provas e provações que o apóstolo acaba de mencionar" (Necessário, 13). Outras passagens que se referem a aflições são interpretadas de maneira semelhante. Salmos 34.19, por exemplo, diz: "Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra". Este é o comentário que Hagin faz dessa passagem: No Antigo Testamento, essa palavra "aflição" não significa doença nem enfermidade; a palavra hebraica realmente significa "teste" ou "provação". É isso que nossos problemas são: testes e provações". (El Shaddai, 22.) E aquelas passagens nas Escrituras onde alguém é mencionado de forma específica como estando doente, a exemplo de Timóteo (1 Tm 5.23), Epafrodito (Fp 2.27) e Trófimo (2 Tm 4.20)? Hagin responde a isso de duas maneiras diferentes em ocasiões distintas. Uma resposta diz que as referências à enfermidade no Novo Testamento sempre destacam a cura, em vez da doença. Esta é mencionada apenas para mostrar que a cura de Deus estava a caminho. A segunda resposta, sem demonstrar necessária coerência com a primeira, afirma que aquelas poucas passagens que se referem a um cristão doente devem ser
  • 50. interpretadas no sentido de que faltava fé à pessoa enferma. Se esta possuísse fé suficiente, não haveria qualquer registro de enfermidade. Permanece a passagem onde Paulo descreve a si próprio como tendo um espinho na carne (2 Co 12.7). Mas aparentemente, esse trecho não apresenta tamanha dificuldade, pois Hagin responde que o espinho de Paulo não se referia a uma enfermidade física. Antes, ele está falando de algum outro tipo de problema, tal como perseguição, um demônio ou alguma tentação ao pecado. Essas respostas podem ser satisfatórias se aplicadas aos personagens bíblicos, mas o que dizer de um cristão que adoece nos dias de hoje? Como ele deve interpretar a doença, se a saúde faz parte de seus direitos como cristão? A resposta mais comum, seja de Hagin ou de qualquer outro pregador da doutrina da prosperidade, é esta: a doença não é um problema com o qual devamos nos preocupar. Se alguém ficar doente, essa pessoa sempre terá a cura à sua disposição. Um pregador da cura dos dias de hoje é citado como autor das seguintes palavras: "Ser curado de câncer é tão fácil quanto ter os pecados perdoados" (Biederwolf, 1934, 10). Entretanto, é óbvio que muitos cristãos adoecem e alguns deles morrem. Por que isso acontece? Razões diversas são mencionadas por diferentes pregadores da cura, mas todas elas se encaixam numa lista de cinco: primeira, à semelhança dos personagens bíblicos, as pessoas de hoje adoecem por falta de fé. Se elas crerem, a cura estará à espera dela. Segunda, muitas pessoas estão doentes por desconhecerem seus direitos como cristãs. Elas seriam curadas imediatamente, se conhecessem a interpretação correta da Bíblia. Terceira, alguns estão doentes simplesmente porque não pedem ajuda. Em quarto lugar, em alguns casos, existe pecado não confessado, e isso bloqueia o poder da cura. Por fim, há quem permaneça doente
  • 51. por deixar de expulsar a Satanás mediante a confissão positiva. É provável que esta última razão seja a mais ouvida. São freqüentes os casos em que o pastor da prosperidade afirma que há um "espírito de miséria que paira sobre as pessoas" e, então, faz um verdadeiro show de expulsão de demônio(s) e de libertação das enfermidades por eles causadas. Entretanto, de qualquer modo, a causa principal está no cristão ou no diabo; nunca se trata de uma questão da vontade de Deus. Com efeito, Hagin insinua que, além do sofrimento que procede do fato de estar doente, o cristão tem de enfrentar a realidade de que as doenças exaltam o diabo. Muitos cristãos nascidos de novo e cheios do Espírito vivem num baixo nível de vida, vencidos pelo diabo. Na realidade, falam mais no diabo do que em qualquer coisa. Cada vez que contam uma desventura, exaltam o diabo. Cada vez que contam quão doentes se sentem, exaltam o diabo (ele é o autor das doenças e das enfermidades — e não Deus). Cada vez que dizem: "Parece que não vamos conseguir", exaltam o diabo. (Nome, 19.) Conclui-se que é desnecessária toda e qualquer enfermidade entre cristãos: Por que, pois, o diabo — a depressão, a opressão, os demônios, as enfermidades, e tudo mais que provém do diabo — está dominando tantos cristãos e até mesmo igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles. (Nome, 37.)
  • 52. A Morte e os Médicos Embora os cristãos tenham direito à saúde, isso não significa que possamos evitar a morte ou que ela não seja real, conforme ensina a Ciência Cristã. Hagin interpreta a morte como parte da maldição decorrente da queda de Adão, a qual todos temos de enfrentar. Mas, embora o cristão precise morrer, a morte deve ser uma experiência indolor, não ligada às doenças, que ocorre depois de uma vida "plena e longa" (Zoe, 37), sendo que sua duração é de "70 ou 80 anos" (El Shaddai, 39). Uma conseqüência disso e que há pouca necessidade de médicos entre os cristãos adeptos da doutrina da prosperidade. É exatamente essa a conclusão a que Hagin chega. Para aqueles que atingiram uma fé madura, nem a medicina nem os conselhos médicos devem ser necessários. É claro que estamos a favor da ciência médica, e que damos graças a Deus por aquilo que ela consegue fazer. Certamente não nos opomos aos médicos. Mas algumas pessoas confundem a ciência médica com os dons de curas. Já ouvi alguns dizerem que os dons de curas eram os médicos e os conhecimentos da medicina que Deus lhes deu. Se a ciência médica é o método divino da cura, no entanto, os médicos não deviam cobrar — seus serviços deviam ser gratuitos... Além disso, a ciência médica estaria livre de erros. Os médicos não cometeriam enganos. (Dons, 102.) Não me compreenda mal: não sou contra os médicos. Dou graças a Deus por eles. A ciência médica ajudará as pessoas tanto quanto puder. Se eu tivesse tido necessidade de ir a um médico nestes últimos cinqüenta anos, teria ido — mas nunca foi necessário. Por outro lado, já mandei
  • 53. outras pessoas aos médicos, paguei as contas, e comprei os remédios (muitas vezes, os médicos conseguem manter as pessoas com vida até que possamos colocar dentro delas uma dose suficiente da Palavra para receberem a cura divina total). (Unção, 31.) Outros pregadores da prosperidade, tais como R. R. Soares, assumem uma posição mais rígida e defendem a idéia de que, para o cristão, é errado procurar um médico, sob quaisquer circunstâncias. Aqueles que apelam para um médico, que são internados em hospitais, demonstram uma falta de fé que desonra a Deus. Os médicos destinam-se apenas aos descrentes, e a profissão que eles exercem é um testemunho da bondade de Deus para com o mundo pagão. Alguém uma vez me disse: Mas, Deus não colocou os médicos no mundo?... Eu respondi: É verdade. Ele é tão bom que pensou nos crentes incrédulos. (Soares, 1987. 40.) R R. Soares oferece sua própria experiência como norma para todos os cristãos, dizendo que, desde que entendeu o ensino da prosperidade, nunca mais ficou doente. Um dia li o livro "O Nome de Jesus" de Kenneth Hagin. Acabei de lê-lo no dia 2 de dezembro de 1984 e de lá para cá nunca mais tomei um comprimido sequer, com exceção de um antiácido que tomei 15 dias após, numa madrugada por causa de uma indisposição estomacal... (Soares, 1987, 16.) O ensino do evangelho da prosperidade é claro e sem qualificações: todo cristão deve gozar de saúde durante toda sua vida. Qualquer coisa que esteja aquém disso só pode significar
  • 54. que existe um problema espiritual na vida do cristão. Ele desconhece o meio de obter a saúde, ou não tem fé, ou está em pecado, ou encontra-se sob o domínio do diabo. 2.2 Prosperidade No campo das finanças, Hagin segue exatamente o mesmo raciocínio que utiliza em suas afirmações sobre saúde. A prosperidade financeira é um direito do cristão, pois faz parte da expiação efetuada por Cristo. Assim como o cristão tem direito à saúde, ele também tem direito de ser próspero. Exatamente da mesma forma como as enfermidades nunca representam a vontade de Deus para o fiel, assim também a pobreza ou as dificuldades financeiras de qualquer espécie. O pastor de hoje tem o dever de pregar essa mensagem com toda sua força, pois no passado a igreja deu destaque demasiado ao lado espiritual da salvação. O direito de sermos financeiramente prósperos precisa ser cada vez mais proclamado dos púlpitos. Depois de citar Josué 1.8, Hagin diz: Você quer ser bem sucedido? Deus nos conta como prosperar, neste versículo. Ele diz que se a Sua Palavra enche o nosso coração ao ponto de "meditarmos nela dia e noite", acharemos prosperidade. Subentende-se que o homem cheio da Palavra de Deus prosperará espiritualmente. Mas o aspecto que quero enfatizar aqui é a promessa que Deus deu da prosperidade física, e não somente espiritual. (Espírito, 15.) Para defender sua idéia, Hagin aponta várias passagens bíblicas. Em Filipenses 4, por exemplo, onde Paulo diz que havia
  • 55. aprendido a "viver contente em toda e qualquer situação", Hagin afirma que deve ser dado destaque não tanto ao contentamento, mas à provisão que Deus faz de nossas necessidades financeiras e materiais. Paulo disse, escrevendo à igreja em Filipos: "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (Fp 4.19). Todas as suas necessidades incluem as necessidades financeiras, materiais, e as demais. Na realidade, nesse capítulo, Paulo está falando a respeito das coisas financeiras e materiais. (Redimidos, 5, 6.) Ele oferece uma interpretação semelhante de 3 João 2: "Amado, acima de tudo faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma". Hagin afirma que, nesse versículo, João não está simplesmente fazendo uma saudação ou expressando um desejo pessoal, mas revelando a vontade de Deus no sentido de que todos os cristãos gozem de prosperidade financeira. A oração aqui traduzida "faço votos" é "orar" no grego original. Logo, João disse aqui. Amado, acima de tudo ORO por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. Se ele foi motivado pelo Espírito para orar assim, esse deve ser o desejo do Espírito para todas as pessoas. É correto, portanto, orar pedindo prosperidade financeira, porque João disse: Acima de tudo ORO... A oração de João aqui diz respeito a três dimensões da nossa vida: a física, a espiritual, e a material. Ele disse: ... oro por tua prosperidade [bênçãos materiais] e saúde [bênçãos físicas] assim como é próspera a tua alma [bênçãos
  • 56. espirituais]. Assim, vemos que Deus deseja abençoar todas as partes da vida do crente. (Paz, 99.) É comum ouvirmos os pregadores da prosperidade afirmarem que "Deus quer que seus filhos comam a melhor comida, vistam as melhores roupas, dirijam os melhores carros e tenham o melhor de todas as coisas". Hagin diz que Jesus dirigiria um Cadillac, se estivesse desempenhando seu ministério messiânico nos dias atuais: ... muitos crentes confundem humildade com pobreza. Um pregador certa vez me disse que fulano possuía humildade, porque andava num carro muito velho. Repliquei: "Isso não é ser humilde — isso é ser ignorante!" A idéia que o pregador tinha de humildade era a de dirigir um carro velho. Um outro observou: "Sabe, Jesus e os discípulos nunca andaram num Cadilac." Não havia Cadilac naquela época. Mas Jesus andou num jumento. Era o "Cadilac" da época — o melhor meio de transporte existente. Os crentes têm permitido ao diabo lesá-los em todas as bênçãos que poderiam usufruir. Não era intenção de Deus que vivêssemos em pobreza. Ele disse que éramos para reinar em vida como reis. Quem jamais imaginaria um rei vivendo em estrita pobreza? A idéia de pobreza simplesmente não combina com reis. (Autoridade, 48.) É natural que Hagin ouça críticas contra uma pregação que parece tão materialista. Sua resposta é que somos filhos do rei e, nessa posição elevada, devemos esperar viver não apenas com as necessidades básicas da vida, mas abundantemente. Devemos aproveitar todas as coisas boas do mundo, sem impor limites às
  • 57. riquezas que os cristãos podem acumular. A história a seguir ilustra bem esse fato: Tenho uma fita-cassete de ensino que ajudou muitas pessoas neste âmbito. Certo jovem, que conheço bastante bem, deu seu testemunho de como a fita o ajudou, durante uma de nossas reuniões recentes. Há apenas uns poucos anos, quando ele tinha 31 ou 32 anos de idade, entrou nos negócios. Deixou seu emprego assalariado, tendo em mãos um total de USS 5.500... Deu o seguinte testemunho: "Escutei as fitas do irmão Hagin. Havia três sobre a fé e a confissão, e uma que se chamava: Como Treinar o Espírito Humano. Deitava-me todas as noites ouvindo aquela fita. Ligava-a de manhã e a escutava enquanto fazia a barba. Escutei-a repetidas vezes — provavelmente centenas de vezes — até que aquela mensagem entrasse no meu espírito. Depois, por meio de escutar o meu espírito e de usar a minha fé, já tenho um patrimônio cujo valor total ultrapassa USS 30 milhões. Este jovem senhor tem apenas 38 anos, mais ou menos, hoje. Ele não é pregador. É negociante. Contou-me como seu espírito lhe tem falado e lhe ensinado como investir e como comprar terras. (Dirigido, 129, 130.) Isto se aplica aos ministros da palavra e também às pessoas leigas. Um pregador que possua cem casas, por exemplo, é coerente com o cristianismo bíblico. Você já deve ter lido a respeito de pessoas que murmuram porque um pregador tem uma casa bonita. E se ele tivesse uma centena de casas? Isto seria bíblico. (Necessário, 20.)
  • 58. Se somos filhos do rei e temos não apenas o privilégio, mas o dever de ser prósperos, então, novamente, o contrário deve ser verdade: um cristão que seja pobre tem somente a si para culpar. Amigos, vocês sabem que a maioria de nós não é tão pobre por ter honrado a Deus — mas por tê-lo desonrado. Vocês devem também dizer amém, pois isso é assim. Dei-lhes passagens bíblicas como prova. (Authority, 22.) Com todas essas promessas bíblicas de riqueza e prosperidade, a mente inquiridora é levada a indagar, como fizemos acima, na parte sobre saúde, por que tantos cristãos não estão prosperando financeiramente. Se há um motivo, este deve ser que os cristãos de todo o mundo, aparentemente, procedem mais das classes baixas e continuam a sofrer todos os problemas financeiros próprios da posição social. Por que isso é assim? Uma vez que esta pergunta tem a mesma essência daquela formulada acima, sobre saúde, então a resposta parece ser a mesma aqui. Ou o cristão desconhece seus direitos à prosperidade ou falta-lhe fé para afirmar tais direitos ou o diabo o está impedindo de recebê- los. Se houver uma suspeita de que a última causa é o problema, uma sonora repreensão irá liberar tudo aquilo que o cristão tem por direito. "... tudo quanto você precisa fazer é dizer: 'Satanás, tire suas mãos do meu dinheiro'. (Limiares, 67.) Nas mensagens pregadas sobre o assunto, existe mais uma razão que freqüentemente aparece para explicar a falta de prosperidade entre cristãos. Ela surge na mesma hora, a cada domingo, quando se diz, durante a oferta, que alguns cristãos estão sofrendo com dificuldades financeiras porque não estão dando o suficiente para a obra de Deus. A regra espiritual das finanças e essa: se queremos mais, precisamos dar mais.
  • 59. Você gostaria de ver maiores bênçãos financeiras na sua vida? Aumente suas contribuições e ofertas, porque as Escrituras dizem que a sua colheita será... recalcada, sacudida, transbordante... porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. Por outro lado, podemos estorvar nossas orações em prol da prosperidade financeira, se não cooperamos com Deus; se não entramos pelas portas que Deus abriu para nós. (Paz, 111.) Não é uma questão de graça, mas de lei, pois se afirma que o retorno é proporcional à oferta do indivíduo. Muitos pregadores da prosperidade fazem uso de Marcos 10.29, 30 como a principal passagem sobre finanças para a igreja: Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no mundo por vir a vida eterna. Essa é a chamada lei do retorno cem vezes maior: receberemos cem vezes mais do que damos. Kenneth Copeland, herdeiro provável de Hagin nos Estados Unidos, usa muito essa passagem em suas pregações. Ela faz parte integrante de sua cosmovisão financeira, evidenciando-se a partir da interpretação que ele dá a Marcos 10.17-23, onde o jovem rico se recusa a vender suas propriedades e se tornar um discípulo de Cristo: E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por
  • 60. que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e a tua mãe. Então ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. Mas Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma cousa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; então, vem, e segue-me, Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Então Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Essa história parece oferecer excelentes instruções sobre o valor do dinheiro e preço do discipulado. Mas Copeland encontra nela outro significado. Ele diz que, em seu estudo dessa passagem, o Senhor lhe falou e explicou que aquele jovem era rico por ter sido fiel na observância da lei judaica. Ele teria se tornado ainda mais rico, se tivesse dado suas riquezas ao Senhor. Copeland conclui: "Aquela era a maior transação financeira que poderia' ter sido oferecida ao jovem, mas ele se afastou dela, por não conhecer o sistema financeiro de Deus" (Copeland, 1985, 62). Concluímos o resumo das promessas do evangelho da prosperidade na área de saúde e riquezas, fazendo uma observação sobre sua coerência. Uma vez que se afirma que a vontade do Senhor para o cristão envolve todas as coisas boas da vida, não há imposição de condições nem se volta atrás naquilo que é prometido, mas apenas a promessa clara de que qualquer um que recorrer a Cristo receberá o que pede. As promessas têm uma amplitude maravilhosa e uma extensão sem limites. Mas há um porém: a "confissão positiva".
  • 61. 3. A Confissão Positiva Nunca é demais enfatizar que o direito que o cristão tem às riquezas e à saúde não é desfrutado automaticamente. Há condições a serem satisfeitas e procedimentos a serem seguidos. Conforme gostam de dizer os economistas, "não existe almoço gratuito". Isto se aplica até mesmo ao evangelho da prosperidade. Não basta apenas crer em Cristo, ser batizado, freqüentar uma igreja, orar e viver uma vida piedosa. Esses elementos sozinhos não podem trazer aquilo que o cristão tem por direito. A maneira como vive a maioria dos cristãos torna isso óbvio. A maior parte deles em todo o mundo é pobre e, à semelhança dos não-cristãos que os cercam, passa por todos os problemas físicos e doenças conhecidos pela sociedade em que vive. Na questão da saúde ou da prosperidade, há poucas diferenças entre cristãos e não- cristãos. Sempre foi assim. Se existe alguma diferença, esta se encontra no fato de, através dos séculos, os cristãos tenderem a ser, como observam Paulo e Tiago (1 Co 1.26; Tg 2.5), menos sábios, menos poderosos, menos prósperos. Entretanto, segundo a doutrina da prosperidade, os apóstolos estavam enganados quanto à vontade de Deus nesse sentido. Deus pode ter escolhido os pobres e os de condição inferior deste mundo, mas nunca pretendeu que eles continuassem assim. A grande descoberta de Hagin e dos mestres da prosperidade foi a do elemento perdido do cristianismo, um elemento que pode livrar os cristãos da condição miserável em que vivem, e ele nada mais e do que certo conjunto de regras e procedimentos muito simples, porém rígido. A doutrina da prosperidade entende que este conjunto faz parte da expressão "confissão positiva". Desse modo, a confissão positiva atua em ambas as direções; é a dádiva
  • 62. por meio da qual a saúde e a prosperidade são recebidas, mas, ao mesmo tempo, é uma exigência que não pode ser evitada. Se, para Lutero a justificação pela fé é vista como a tônica do evangelho, assim como a predestinação para Calvino, então é nesse ponto, nessas regras e procedimentos, que se encontra o coração do evangelho da prosperidade. A fim de esclarecer tudo o que é englobado pelo termo "confissão positiva", ele será dividido em três categorias: conhecimento, fé e confissão propriamente dita. Para antecipar nossa conclusão, diremos que a confissão positiva ensina que o cristão será próspero segundo aquilo que ele conhece sobre seus direitos, de acordo com a firmeza com que ele acredita neles e pelo modo como os confessa. 3.1 O Conhecimento de Nossos Direitos Hagin diz que a razão de muitos cristãos continuarem a sofrer com os problemas na vida, depois de se converterem, está em desconhecerem aquilo que lhes pertence por direito. Por que, pois o diabo — a depressão, a opressão, os demônios, as enfermidades, e tudo mais que provém do diabo — está dominando tantos cristãos e até mesmo igrejas? É porque não sabem o que pertence a eles. (Nome, 37.) No Velho Testamento, afirmou Deus: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento (Oséias 4.6). Em outras palavras, o Senhor está dizendo que, se os
  • 63. israelitas tivessem consciência do que realmente representavam e do que Deus representava para eles, não seriam destruídos. Se conhecessem seus direitos, privilégios e domínios não teriam sido submetidos a tantas angústias... você tem direitos garantidos junto a Deus. (Zoe, 71, 72.) Conforme vimos na seção anterior, não precisamos esperar a outra vida para usufruir desses direitos. Eles visam nosso benefício aqui e agora. Bem, graças a Deus, iremos para o céu e será maravilhoso, mas não precisamos esperar até chegarmos lá para desfrutar dos direitos e privilégios que temos em Cristo! (Combater, 56.)" Como a cura se encaixa na obra da expiação? A expiação perfeita, realizada por Jesus Cristo, resolveu o problema do pecado de forma tão completa que remove também as conseqüências dele. À passagem de Isaías 53 bem como a citação dela em Mateus e sua inspirada interpretação constituem uma afirmação bíblica bastante direta no sentido de que a cura está contida na expiação. Esse ensino de que a cura se acha contida na obra da expiação não é uma afirmação, porém, de que a cura divina esteja à disposição de todos os homens, universalmente, mas que se acha à disposição dos crentes, com base na expiação do sangue de Cristo. O sangue de Cristo é o preço por meio do qual o crente obtém a cura. (Bailey, 1977, 50.) A raiz do problema, quando sofremos a falta de alguma coisa, está obrigatoriamente na ausência de conhecimento. Não entendemos aquilo que nos pertence por direito.
  • 64. Uma razão por que nós, cristãos, vivemos em descrença e nossa fé tem sido obstruída, é a falta do conhecimento da redenção e dos nossos direitos na redenção, e essa falta de conhecimento é a maior inimiga da fé. (Combater, 9.) Na Bíblia, os grandes homens de fé foram capazes de realizar tantas coisas não por causa da providência de Deus ou por fé e força de vontade, mas, sim, porque eles conheciam aquilo que lhes pertencia por direito. Os homens que fizeram grandes coisas no passado não eram especiais, privilegiados... A diferença entre eles e nós, é que eles tinham o entendimento de como as coisas espirituais funcionam. (Soares, 1987, 56.) A idéia de que nosso êxito no mundo baseia-se em direitos que temos perante Deus pode parecer estranha ao leitor acostumado com o Novo Testamento, pois este sabe que a Bíblia fala de nossa relação com Deus como algo baseado na graça. Mas Hagin deixa bem claro que nossa posição como cristãos deve ser interpretada em termos de direitos legais. As citações que vêm a seguir são extraídas de quatro livros diferentes de Hagin, e em cada um deles o Antigo Testamento e o Novo são descritos como documentos legais que explicam tais direitos. Graças a Deus, temos o documento jurídico da Nova Aliança, o Novo Testamento, selado pelo sangue de Jesus Cristo. (Nome, 53.) A Palavra de Deus é um documento jurídico. O Novo Testamento... é a vontade de Deus para eu ter tudo quanto a Sua Palavra diz que me pertence. (Perdida, 102.)