O documento relata uma experiência do autor durante seus estudos de medicina em que levou ossos humanos para casa para estudar. Durante uma sessão espírita, o espírito do antigo dono dos ossos se manifestou reclamando da "profanação" de seus ossos. O mediador explicou que os ossos seriam eternamente úteis para estudantes de medicina, salvando vidas. O espírito aceitou a explicação e foi encaminhado para um local agradável.
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
O ESPÍRITO E OS OSSOS: RESPEITO AO CORPO
1. O ESPÍRITO E OS OSSOS
Com esse relato, podemos entender a importância do respeito ao corpo, evitando o
apego excessivo ou o menosprezo.
POR DR. RICARDO DI BERNARDI
O s ossos estavam brilhantes, com uma leve camada de verniz. Eram perfeitos.
Eu os levara para casa visando estudar para a prova de anatomia. Transcorria
o mês de março de 1969, e eu estava com 18 anos. Obtive a autorização do
professor Nogueira, chefe do anatômico. Naturalmente, não eram todos os ossos do
corpo humano. A prova seria efetuada na segunda – feira, e um determinado grupo
de ossos foram escolhidos para que soubéssemos na ponta da língua todos os
detalhes. O osso esfenóide parecia-me o mais difícil. Havia dezenas de saliências,
reentrâncias e pequenos orifícios (foramens). Cada detalhe deveria ser
minuciosamente descrito e correlacionado com a entrada ou passagem de um nervo,
artéria ou músculo. Eu estava radiante pela possibilidade de passar o fim de semana
com aqueles ossos e na primeira prova da faculdade de medicina conseguir uma nota
excelente. Realmente, com o livro do DR. Gardner e a volumosa coleção de atlas de
anatomia, presente do meu tio Mário Di Bernardi, passei sexta à noite, sábado e
domingo com aqueles ossos. Até hoje me recordo de alguns detalhes (apenas
alguns...) do que estudei há quase 40 anos atrás.
Não esperava, no entanto, uma surpresa proporcionada pelo “dono” dos
respectivos órgãos...
Antes de tudo, não em dizer que quase consegui a nota desejada. Quando
comecei a descrever algumas minúcias, procurando exibir-me falando da relação do
nervo ótico e tudo mais com o famigerado osso esfenóide, nosso professor colocou-
me no lugar de calouro de 18 anos, excessivamente entusiasmado. Ele sempre dizia:
nota 10 para o assistente do professor e 9 para o aluno. Endereçaram-me algumas
perguntas sobre patologias que incidiam ali, correlações clínico-cirúrgicas e outras,
me ensinando, sutilmente, que a vida toda sempre haveria algo mais a estudar sobre
qualquer órgão... Bem, realmente a nota foi 9! Depois desta, as demais ficaram
sempre em torno dos 7. Nove, em anatomia, por mais que eu estudasse, nunca
mais...
Mas, voltando ao dono dos ossos... Segunda-feira, prova oral feita, satisfeito
com o resultado e já aprendendo a primeira lição de humildade (ainda preciso
aprender muito nesse quesito...), meu pai convidou-me para a sessão mediúnica,
que se realizava no segundo andar da farmácia homeopática do meu tio, João Di
Bernardi. Eu já estudava a comunicação com o mundo extrafísico desde os 13 anos e
freqüentava os estudos na FEC – Federação Espírita Catarinense.
Após toda a preparação prévia, concentração, leituras e comunicação dos
mentores, passou-se à fase do atendimento aos espíritos em desequilíbrio psíquico.
Uma senhora que estava bem à minha frente na mesa deu passagem, em
transe psicofônico, a uma entidade que assim se expressava:
- Vim aqui reclamar da profanação dos meus ossos!
O dirigente da sessão, meu pai Aldo Di Bernardi, hábil e inteligentemente
conduziu o encaminhamento.
2. - Pois não, meu irmão (era seu hábito este tratamento), em que posso ajudá-lo?
- Estou aqui para denunciar a falta de respeito com meus ossos...
- Mas seus ossos não estão devidamente enterrados no cemitério?
- Não! Não tive esta oportunidade, eu era um indigente sem família e nem isso pude
ter.
- Sim, continue, estamos lhe ouvindo com toda atenção e respeito...
- Nem mesmo um enterro pude ter. Nem um sepultamento digno...
- Em que podemos lhe ajudar?
A esta altura, eu já estava meio encolhido na cadeira...
- Vim aqui, tirar satisfações disso. Exijo uma reparação!
- Meu irmão! Você vai ser atendido com toda atenção e vai descobrir que sua
situação é melhor que a de todos, neste aspecto...
- Que absurdo! Você gostaria que seus ossos fossem profanados?
A esta altura eu já fazia fervorosa prece, pedindo que uma luz iluminasse o
entendimento do espírito e, sobretudo, do meu pai, para que soubesse dar uma
sequência adequada...
Meu pai continuava:
- Caro irmão, quando eu desencarnar, isto é, deixar este corpo físico, meus ossos irão
desaparecer, absorvidos pela terra.
- E, eu com isso?
- Escute-me com atenção! O corpo de cada um de nós irá desaparecer e se integrar a
terra.
Neste momento lembrei-me da etimologia de cadáver: “Carne Dada aos
Vermes”.
O espírito continuou através da médium:
- E nem isto eu pude ter...
- Escute-me até o fim.
Dirigindo-se a senhora em transe:
- Peço à médium que auxilie, evitando que ele fale... E continuou:
- Não, você neste aspecto sempre será um homem útil à sociedade. Seus ossos serão
para sempre conservados, admirados. Não serão destruídos nem absorvidos pela
terra. Estudantes se debruçarão sobre eles, noites a fio, aprendendo para se
tornarem médicos. Muitas gerações se passarão. Graças a estes ossos, formar-se-ão
cirurgiões que salvarão vidas de crianças e adultos, clínicos que diagnosticarão
doenças e procederão tratamentos especializados. Seus ossos serão eternamente
úteis a humanidade. Congratulo-me com você! Agora veja a luz que se forma ao seu
lado... É alguém que vem te encaminhar para um local agradável. Veja! Olhe quem
está aí!
- Minha mãe!
Para encurtar a história, ele foi levado... E, sempre quando alguém no
anatômico brincava com algum cadáver ou órgão, eu ficava arrepiado, imaginando...
Sempre que podia tentava falar na continuidade da vida etc, mas... Parecia ridículo,
coisa de fanático ou crendices... Só o tempo ensina quando falar, o que falar ou não
falar... Custei a aprender.
Quanto aos órgãos, cada vez cuidei mais...