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O caminho para a próxima aldeia, de Franz Kafka, 
uma análise epistemológica 
Vittorio Pastelli 
"Meu avô costumava dizer: 'A vida é espantosamente curta. Para mim ela agora se 
contrai tanto na lembrança que eu por exemplo quase não compreendo como um jovem pode 
resolver ir a cavalo à próxima aldeia sem temer que _totalmente descontados os incidentes 
desditosos_ até o tempo de uma vida comum que transcorre feliz não seja nem de longe 
suficiente para uma cavalgada como essa' ". 
O que segue é uma análise desse miniconto. 
Uma viagem à próxima aldeia é, do ponto de vista estritamente formal, impossível 
mesmo. A frase atribuída ao avô evoca o bem conhecido paradoxo de Zenon. Uma flecha, para 
atingir o alvo, deve, primeiramente, alcançar a metade do caminho. Mas, para chegar a esse 
ponto médio, deve alcançar, primeiro, um quarto do caminho, ou a metade da distância do 
ponto de partida ao ponto médio. E assim por diante. 
Essa formulação de Zenon da dinâmica do movimento só pôde ser satisfatoriamente 
resolvida quando matemáticos desenvolveram a noção de limite de uma sequência. Sem essa 
noção, não existia mesmo qualquer explicação racional para o fato de flechas atingirem seus 
alvos ou para que lebres, mesmo começando a corrida com muita desvantagem, fossem 
capazes de alcançar e ultrapassar tartarugas (outra formulação do mesmo paradoxo). Sem a 
noção de limite, é-se obrigado a concluir que o resultado final da soma de infinitas parcelas (a 
metade do caminho, mais a metade da metade, mais a metade da metade da metade etc.) é 
infinito, mesmo que as parcelas vão decrescendo de valor. 
Zenon não imaginou esses exemplos a fim de mostrar que o movimento é impossível, 
mas a fim de mostrar que a razão era insuficiente para dar conta mesmo do mais banal dos 
fenômenos, de qualquer movimento. Seu ceticismo, como acontece com o ceticismo de Hume, 
não é acerca do mundo, mas acerca do instrumento (a razão) com o qual o homem o 
perscruta. O mundo existe, se move, progride. Mas a razão leva à conclusão contrária: o 
movimento é impossível. Tanto pior para ela, ou tanto pior para quem não souber superá-la, 
como não o sabem os personagens de Kafka. 
Kafka retoma o paradoxo com o fim de provar o mesmo ponto: deixada a si própria, a 
razão é incapaz de promover qualquer ação, incapaz de causar movimento ou de compreendê-lo. 
Ou seja, atendo-se a um ponto de vista rigoroso, fazendo uso sempre da razão, exigindo 
justificação lógica para cada passo, um homem jamais se move. E, se nota movimento, como o 
nota o avô, não o compreende, ou quase não o compreende. 
A frase do avô não é um convite à inação, nem um veredicto sobre a impossibilidade da 
cavalgada. Ele "quase não compreende", ou seja, ainda lhe resta algo de ação, algo de saber
2 
viver, que lhe permite, ainda que grosseiramente, compreender o que vai na cabeça de quem 
empreende tal cavalgada. Assim, ele não conclui que a cavalgada é impossível. Conclui 
apenas que quase não a compreende, o que implica que ela é, de fato, possível, mas não mais 
para ele. 
Para esse avô preso ao paradoxo, a cavalgada é uma temeridade. Só a coragem vinda 
de se deixar de lado a razão é que pode fazer com que alguém a empreenda. 
Nessa altura, é conveniente lembrar de uma apreciação de Milena sobre Kafka, em 
carta a Max Brod: "Kafka não sabe viver". O que Milena levanta é que Kafka é incapaz de 
deixar de lado a razão, é incapaz de se deixar levar pelo conjunto pouco definido (e certamente 
inconsistente) de regras que norteiam a vida. Kafka é o homem que, em seus diários, faz listas 
de prós e contras quanto a se casar. Quem age assim senão aquele que só é capaz de 
proceder segundo os ditames rígidos da razão, que não é capaz de se apoiar na tradição, no 
preconceito, no julgamento apressado, nas regras de algibeira, como o fazem os que apenas 
vivem? 
Um autor separa claramente viver de pensar: Wittgenstein. Para ele, viver é se portar 
quase à margem da razão em seu sentido mais lógico e rigoroso, fazer dela apenas uso 
restrito, sem se importar com o fato de ela não ser aplicável a tudo. Coligir razões, expor 
cadeias de raciocínios que pretendam explicar cada fenômeno ou ação, procurar conjuntos de 
premissas sempre mais claros e livres de preconceito é a atividade que ele chama pensar. Mas 
todos os seres humanos estão imersos no que Wittgenstein denomina formas de vida. Nelas é 
que se desenvolvem as ações, baseadas em regras pouco claras, mas úteis. Quando 
justificações são pedidas, pode-se até fornecê-las, pode-se tentar explicar o porquê de se ter 
agido de tal e tal forma. Mas essa explicação é posterior, e nada tem a ver com a ação. Na 
hora da ação, conta jogar com o que é permitido pela forma de vida em que se está imerso, 
não com o ato de pensar ordenada e formalmente. 
Não que essa atividade formal não seja importante. Não haveria, sem ela, ciência 
natural. Mas, mesmo no âmbito da ciência, os cientistas, os verdadeiros agentes, devem agir, 
devem tomar decisões. E não há como, a cada momento, tomar decisões baseando-se num 
conjunto de premissas explícitas e bem fundadas. A ação exige rapidez, exige saber viver, 
saber fazer o certo sem pensar formalmente nisso, exige o que o filósofo da ciência Michael 
Polanyi chama de "conhecimento tácito". Polanyi diferencia este do "conhecimento explícito", 
aquele corpo de proposições devidamente testado publicamente e livre _tanto quanto seja isso 
possível_ de preconceitos. O conhecimento explícito é um ideal, é aquilo que o cientista usa 
como retórica e como ideia reguladora. Na prática, na vida (mesmo dentro do laboratório), ele 
simplesmente vive, simplesmente usa conhecimento tácito. 
Viver é, portanto, julgar cuidadosa e formalmente quando possível, quando houver 
tempo, quando forem exigidas explicações, e agir sem julgar, quando necessário. Milena 
mostra que isso é impossível para Kafka. Ele está sempre enredado na razão. Não consegue 
nada julgar sem apoio de premissas, testes, encadeamentos lógicos e conclusões. Seu 
pesadelo é que deve proceder dessa forma mesmo em campos nos quais qualquer idiota (que
3 
não pensa formalmente, mas que sabe viver) sabe que tal proceder é inútil. Isso fica evidente: 
apesar de sua lista de casamento, ele nunca pôde se decidir tranquilamente sobre o assunto e, 
no fim da vida, encontrou a felicidade com Dora Dymant não através de sopesadas razões, 
mas do acaso. 
Retornando à cavalgada à próxima aldeia. Por que é a um avô, um velho, que se atribui 
ter proferido uma forma do paradoxo de Zenon? Por que a história não poderia ser invertida, 
com o avô contando algo que o neto costuma dizer? Provavelmente, Kafka vê no 
envelhecimento uma tendência à razão, à diminuição da impulsividade, da exuberância do 
saber viver. O próprio Kafka já é esse velho desde jovem, desde o momento em que escreve o 
conto. Mas sabe que isso é uma condição pessoal. No entanto, e essa é mais uma nota para o 
pesadelo kafkiano, ele sabe que, mesmo que ele próprio não fosse assim, mesmo que, quando 
jovem, exibisse a exuberância e o saber viver próprios da pouca idade, ele se tornaria no avô, 
no futuro. O fato de ser um velho a dizer essa frase implica que, para Kafka, a vida termina na 
inação, que o progresso em idade, que o amadurecimento, que o evitar as bobagens da 
juventude etc. e outros chavões com que se revestem a degradação física são apenas outros 
modos de dizer que, com o avanço da idade, se desaprende a arte de viver. 
Cabe agora perguntar o que o neto entende da frase que reproduz. Ele diz "meu avô 
costumava dizer". Essa forma, sozinha, não implica anuência. Para que se possa inferir que o 
neto concorda com o avô, ter-se-ia de ser informado pelo texto sobre a situação em que a frase 
é proferida. Sem isso, "meu avô costumava dizer", é compatível com a concordância, com a 
discordância (muitas vezes, se diz algo apenas para marcar posição de desacordo) e com a 
simples incompreensão. 
Essa última alternativa parece a mais atraente, e a mais fiel ao espírito kafkiano. É 
comum que as pessoas repitam provérbios cujo sentido desconhecem. Um exemplo é o 
comum "a exceção prova a regra". O provérbio vem de uma má tradução do latim. O "provar" 
do provérbio quer dizer, na verdade, testar. Uma exceção testa uma regra. Suponha a regra 
"Todos os cisnes são brancos". A descoberta de mais um cisne branco apenas diria que a regra 
funcionou em mais um caso, que ela pode continuar a ser levada a sério, que ela teve de novo 
sucesso, mas não que ela é verdadeira. Porém, se se descobre um cisne negro, a certeza 
aparece: está provado que a regra é falsa. Esse é o sentido de que as exceções testam as 
regras. Mas, quem sabe disso quando profere essa sentença? 
O jovem que repete as palavras do avô o faz no mesmo sentido: ele não compreende o 
que está repetindo. E é natural que não. Afinal, ele é jovem e, no esquema traçado acima, 
nesse contínuo saber viver / pensar, o jovem está muito mais próximo do primeiro polo. O 
jovem se casa, enquanto o velho só faz listas de prós e contras e, no fim, permanece incapaz 
de concluir. Como o autor. 
A incompreensão do jovem e a quase-compreensão do avô, mais devida à memória 
que a qualquer outra coisa que ele sinta no presente, marcam os dois polos entre os quais se 
movimenta Kafka em outros textos. Esse corte não é apenas epistemológico. Tem
4 
consequências afetivas. De cada lado, formam-se partidos que se odeiam, que se desesperam 
um com o outro. 
Na Carta ao pai, Franz não afirma que seu pai é culpado de alguma coisa definida. 
Afirma apenas que o pai está entre os que vivem, o que o torna opressor para um filho que é 
incapaz de viver, que é capaz apenas de raciocinar. Para Franz Kafka, a ausência de culpa do 
pai é "inquestionável" (p. 48). Os polos, tomados muito radicalmente, se excluem: o que sabe 
viver não reconhece como sujeito capaz de viver aquele que apenas sabe raciocinar. Para o 
que raciocina, é um mistério o caminho trilhado pelo que vive. E Franz reconhece no pai essas 
qualidades do saber viver: o pai possui "conhecimento dos homens" (p. 12), ou, então, é capaz 
de "casar, fundar uma família, acolher todos os filhos que vierem, mantê-los neste mundo 
inseguro e guiá-los um pouco" (p. 57). Essas são coisas que só pode fazer quem sabe viver, 
não quem pensa em casamento, como o faz Franz, em termos de listas de justificativas. 
Para concluir a lista de o que o pai é, Kafka diz qual é o processo pelo qual ele é o que 
é: as coisas lhe acontecem, ele não as faz. Para quem se entrega à vida, as coisas naturais do 
viver acontecem, não é preciso que se faça muita coisa. Para quem se restringe ao pensar, 
tudo tem de ser feito: a decisão de se casar não vem à mente e ao coração, ela deve, antes, 
ser um teorema, o último estágio de uma longa demonstração formal. Quando se vive, é 
possível ser consequente, "mesmo sem se ter razão". 
Uma vez separados os dois polos, que Kafka epitomou em si e em seu pai, tudo segue. 
O excluído da esfera do viver não compreende seu sentido e, ao mesmo tempo, inveja o 
sucesso dos que nela circulam. Franz Kafka é incapaz de se casar, incapaz de fundar uma 
família e incapaz de aprender como se faz isso. Pois os que sabem não o sabem porque 
aprenderam. Apenas lhes aconteceu. 
Pelo lado do pai, do mundo, dos que vivem, Kafka e seus personagens são patéticas 
figuras que se perdem em pensamentos circulares, quando caberia apenas agir. A K., bastaria 
não comparecer às sessões do tribunal, bastaria dar uns safanões no inspetor e em seus 
acólitos, bastaria enxotá-los do quarto com alguns palavrões logo na primeira visita. Aliás, 
bastaria não pensar no assunto, dado que o tribunal é "atraído pela culpa" (p. 12 de 'O 
Processo'). Mas isso não é para os que veem as pessoas "fazendo" e tentam decodificar esse 
fazer em termos de "pensar". O inspetor de 'O processo', os parentes em 'A metamorfose', o 
público em 'O artista da fome' ou em 'Na galeria' não estão raciocinando, não estão agindo 
segundo sequências lógicas de proposições. Estão, bem no sentido de Wittgenstein, vivendo. A 
reconstrução do viver pela óptica da razão rende os textos característicos de Kafka, nos quais 
o mundo funciona de modo desesperadoramente incompreensível para o herói. 
Os que vivem desprezam os que pensam: eles são inativos, tomam tudo ao pé da letra, 
emprestam seriedade ao que pode dispensá-la. É por isso que, na 'Carta ao pai', Kafka se 
queixa de que Hermann Kafka jamais compreendera o judaísmo do filho. Para Hermann, a 
prática religiosa se integrava à vida em sociedade, não era algo para ser tomado como tema de 
reflexão. Refletir e articular a religião seria trabalho para profissionais, para teólogos, não para 
praticantes. Mas Franz não pode ser apenas um praticante comum. Precisa refletir, julgar,
5 
compreender profundamente, estudar. Este é seu único acesso à religião, se é que isso 
realmente lhe dará algum acesso a ela. O pai toma essa atitude como significando crítica do 
filho, crítica de que o pai não seria suficientemente pio. O resultado é a separação. 
O caso do judaísmo representa a síntese, no que diz aos sentimentos mútuos, das 
relações entre os que pensam e os que vivem. Os que vivem não compreendem, desprezam e 
se sentem ofendidos pelos que pensam. 
Já do lado dos que pensam, existem os sentimentos de desprezo pelos que vivem, 
pelos que agem sem refletir, por aqueles a quem as coisas simplesmente acontecem e, ao 
mesmo tempo, existe a resignada inveja, a que Anders se refere como o sentimento do 
indivíduo que "só está na medida exata para se saber de fora". Os que vivem conseguem 
construir famílias, seguir adiante, criar e manter os filhos. Os que pensam estão para sempre 
condenados à margem, estão sempre condenados à inação. Eles não podem interagir com os 
outros além de relações muito superficiais. Essas relações são apenas o suficiente para que 
eles descubram o grau de sua exclusão. 
Kafka deixa sempre claro que os que pensam se sentem inferiores aos que vivem. 
Seus personagens são sempre culpados de alguma coisa: sabem que o são porque o mundo 
segue e eles não, porque as pessoas vivem bem e eles vivem (aqui apenas no sentido 
biológico) à margem, porque às pessoas as coisas simplesmente acontecem e dão certo, 
enquanto eles fazem tudo conscientemente e não têm sucesso. Aumenta o desespero o fato de 
esses personagens constatarem que bastaria um salto para que tudo mudasse, salto 
impossível, no entanto, para eles. "A lógica, na verdade, é inabalável, mas ela não resiste a 
uma pessoa que quer viver", diz K., pouco antes de entregar-se voluntariamente a seus 
executores. 
Os que pensam adorariam saber viver, mas não sabem como. Para eles, o único 
caminho aberto para essa redenção, para a integração final à vida, é pelo raciocínio. E, de 
saída, já sabe o que pensa que o caminho é inútil. As duas esferas, os dois polos, se excluem. 
Não é fazendo listas de razões que alguém poderá, algum dia, se decidir com segurança sobre 
o casamento. Essa segurança é aquela dos que, como Hermann Kafka, não precisam ser 
consequentes para ter razão. 
É claro que encontrar todos esses elementos em 'A próxima aldeia' é um exercício de 
ficção. Tudo isso só está lá porque mais da obra de e sobre Kafka foi lida e analisada de 
antemão. Mas, uma vez feito isso, passa a ser possível usar o conto como um resumo geral 
dos pontos de vista kafkianos. 
'A próxima aldeia', assim, marca claramente os dois polos, representados pelo avô e 
pelo jovem. Este não compreende o avô (nada há de necessário numa citação que obrigue a 
concluir que quem cita entende o que é citado) e o avô "quase não compreende" os jovens, 
como seu neto. O avô já se encontra enredado na razão, já se encontra perdido na rede de 
raciocínios da qual só é possível escapar pela ação impensada e temerária ("como um jovem 
pode resolver ir a cavalo à próxima aldeia sem temer...?"). Ele se tornou incapaz de cortar o nó 
com um golpe de espada. Insiste em desfazê-lo e, assim, está condenado ao insucesso.
6 
Em lugar de empreender a cavalgada, de agir, o avô a estuda formalmente. Nesse 
caminho lógico, a próxima aldeia, o objetivo final e justificativa única da cavalgada, sai de vista. 
O avô se concentra no meio e não no fim. E o meio o leva à regressão infinita representada 
pelo paradoxo de Zenon. A perda de vista do fim leva à inação. E inação desesperada, porque, 
como acontece no paradoxo, as parcelas do caminho, assim como as razões para a cavalgada, 
se multiplicam ao infinito. 
Não existe, praticamente, elo entre o avô e o jovem. E, quando o elo existir, quando o 
jovem for capaz de entender perfeitamente o que seu avô quis dizer, já não lhe restará 
capacidade para viver, para agir. Todo movimento lhe parecerá inútil ou temerário. 
Bibliografia 
ANDERS, GUNTER Kafka: pró e contra. Tradução de Modesto Carone. Editora 
Perspectiva, São Paulo, 1969. 
BROD, MAX Franz Kafka. Tradução de Suzana Schnitzer da Silva. Editora Ulisseia, 
Lisboa, s/d. 
KAFKA, FRANZ Carta ao pai. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São 
Paulo, 1992, 4ª edição. 
KAFKA, FRANZ Um médico rural. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, 
São Paulo, 1991, 2ª edição. 
KAFKA, FRANZ O processo. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São 
Paulo, 1989, 2ª edição. 
KAFKA, FRANZ Um artista da fome - A construção. Tradução de Modesto Carone. 
Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, 4ª edição. 
KAFKA, FRANZ A metamorfose. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, 
São Paulo, 1991, 11ª edição. 
POLANYI, MICHAEL Personal knowledge - Towards a post-critical philosophy. R&KP, 
Londres, 1983, reimpressão. 
WITTGENSTEIN, LUDWIG Philosophical investigations. Tradução de G. E. M. 
Anscombe. Basil Blackwell, Londres, 1988, reimpressão.

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O caminho para a próxima aldeia, de Franz Kafka, uma análise epistemológica

  • 1. 1 O caminho para a próxima aldeia, de Franz Kafka, uma análise epistemológica Vittorio Pastelli "Meu avô costumava dizer: 'A vida é espantosamente curta. Para mim ela agora se contrai tanto na lembrança que eu por exemplo quase não compreendo como um jovem pode resolver ir a cavalo à próxima aldeia sem temer que _totalmente descontados os incidentes desditosos_ até o tempo de uma vida comum que transcorre feliz não seja nem de longe suficiente para uma cavalgada como essa' ". O que segue é uma análise desse miniconto. Uma viagem à próxima aldeia é, do ponto de vista estritamente formal, impossível mesmo. A frase atribuída ao avô evoca o bem conhecido paradoxo de Zenon. Uma flecha, para atingir o alvo, deve, primeiramente, alcançar a metade do caminho. Mas, para chegar a esse ponto médio, deve alcançar, primeiro, um quarto do caminho, ou a metade da distância do ponto de partida ao ponto médio. E assim por diante. Essa formulação de Zenon da dinâmica do movimento só pôde ser satisfatoriamente resolvida quando matemáticos desenvolveram a noção de limite de uma sequência. Sem essa noção, não existia mesmo qualquer explicação racional para o fato de flechas atingirem seus alvos ou para que lebres, mesmo começando a corrida com muita desvantagem, fossem capazes de alcançar e ultrapassar tartarugas (outra formulação do mesmo paradoxo). Sem a noção de limite, é-se obrigado a concluir que o resultado final da soma de infinitas parcelas (a metade do caminho, mais a metade da metade, mais a metade da metade da metade etc.) é infinito, mesmo que as parcelas vão decrescendo de valor. Zenon não imaginou esses exemplos a fim de mostrar que o movimento é impossível, mas a fim de mostrar que a razão era insuficiente para dar conta mesmo do mais banal dos fenômenos, de qualquer movimento. Seu ceticismo, como acontece com o ceticismo de Hume, não é acerca do mundo, mas acerca do instrumento (a razão) com o qual o homem o perscruta. O mundo existe, se move, progride. Mas a razão leva à conclusão contrária: o movimento é impossível. Tanto pior para ela, ou tanto pior para quem não souber superá-la, como não o sabem os personagens de Kafka. Kafka retoma o paradoxo com o fim de provar o mesmo ponto: deixada a si própria, a razão é incapaz de promover qualquer ação, incapaz de causar movimento ou de compreendê-lo. Ou seja, atendo-se a um ponto de vista rigoroso, fazendo uso sempre da razão, exigindo justificação lógica para cada passo, um homem jamais se move. E, se nota movimento, como o nota o avô, não o compreende, ou quase não o compreende. A frase do avô não é um convite à inação, nem um veredicto sobre a impossibilidade da cavalgada. Ele "quase não compreende", ou seja, ainda lhe resta algo de ação, algo de saber
  • 2. 2 viver, que lhe permite, ainda que grosseiramente, compreender o que vai na cabeça de quem empreende tal cavalgada. Assim, ele não conclui que a cavalgada é impossível. Conclui apenas que quase não a compreende, o que implica que ela é, de fato, possível, mas não mais para ele. Para esse avô preso ao paradoxo, a cavalgada é uma temeridade. Só a coragem vinda de se deixar de lado a razão é que pode fazer com que alguém a empreenda. Nessa altura, é conveniente lembrar de uma apreciação de Milena sobre Kafka, em carta a Max Brod: "Kafka não sabe viver". O que Milena levanta é que Kafka é incapaz de deixar de lado a razão, é incapaz de se deixar levar pelo conjunto pouco definido (e certamente inconsistente) de regras que norteiam a vida. Kafka é o homem que, em seus diários, faz listas de prós e contras quanto a se casar. Quem age assim senão aquele que só é capaz de proceder segundo os ditames rígidos da razão, que não é capaz de se apoiar na tradição, no preconceito, no julgamento apressado, nas regras de algibeira, como o fazem os que apenas vivem? Um autor separa claramente viver de pensar: Wittgenstein. Para ele, viver é se portar quase à margem da razão em seu sentido mais lógico e rigoroso, fazer dela apenas uso restrito, sem se importar com o fato de ela não ser aplicável a tudo. Coligir razões, expor cadeias de raciocínios que pretendam explicar cada fenômeno ou ação, procurar conjuntos de premissas sempre mais claros e livres de preconceito é a atividade que ele chama pensar. Mas todos os seres humanos estão imersos no que Wittgenstein denomina formas de vida. Nelas é que se desenvolvem as ações, baseadas em regras pouco claras, mas úteis. Quando justificações são pedidas, pode-se até fornecê-las, pode-se tentar explicar o porquê de se ter agido de tal e tal forma. Mas essa explicação é posterior, e nada tem a ver com a ação. Na hora da ação, conta jogar com o que é permitido pela forma de vida em que se está imerso, não com o ato de pensar ordenada e formalmente. Não que essa atividade formal não seja importante. Não haveria, sem ela, ciência natural. Mas, mesmo no âmbito da ciência, os cientistas, os verdadeiros agentes, devem agir, devem tomar decisões. E não há como, a cada momento, tomar decisões baseando-se num conjunto de premissas explícitas e bem fundadas. A ação exige rapidez, exige saber viver, saber fazer o certo sem pensar formalmente nisso, exige o que o filósofo da ciência Michael Polanyi chama de "conhecimento tácito". Polanyi diferencia este do "conhecimento explícito", aquele corpo de proposições devidamente testado publicamente e livre _tanto quanto seja isso possível_ de preconceitos. O conhecimento explícito é um ideal, é aquilo que o cientista usa como retórica e como ideia reguladora. Na prática, na vida (mesmo dentro do laboratório), ele simplesmente vive, simplesmente usa conhecimento tácito. Viver é, portanto, julgar cuidadosa e formalmente quando possível, quando houver tempo, quando forem exigidas explicações, e agir sem julgar, quando necessário. Milena mostra que isso é impossível para Kafka. Ele está sempre enredado na razão. Não consegue nada julgar sem apoio de premissas, testes, encadeamentos lógicos e conclusões. Seu pesadelo é que deve proceder dessa forma mesmo em campos nos quais qualquer idiota (que
  • 3. 3 não pensa formalmente, mas que sabe viver) sabe que tal proceder é inútil. Isso fica evidente: apesar de sua lista de casamento, ele nunca pôde se decidir tranquilamente sobre o assunto e, no fim da vida, encontrou a felicidade com Dora Dymant não através de sopesadas razões, mas do acaso. Retornando à cavalgada à próxima aldeia. Por que é a um avô, um velho, que se atribui ter proferido uma forma do paradoxo de Zenon? Por que a história não poderia ser invertida, com o avô contando algo que o neto costuma dizer? Provavelmente, Kafka vê no envelhecimento uma tendência à razão, à diminuição da impulsividade, da exuberância do saber viver. O próprio Kafka já é esse velho desde jovem, desde o momento em que escreve o conto. Mas sabe que isso é uma condição pessoal. No entanto, e essa é mais uma nota para o pesadelo kafkiano, ele sabe que, mesmo que ele próprio não fosse assim, mesmo que, quando jovem, exibisse a exuberância e o saber viver próprios da pouca idade, ele se tornaria no avô, no futuro. O fato de ser um velho a dizer essa frase implica que, para Kafka, a vida termina na inação, que o progresso em idade, que o amadurecimento, que o evitar as bobagens da juventude etc. e outros chavões com que se revestem a degradação física são apenas outros modos de dizer que, com o avanço da idade, se desaprende a arte de viver. Cabe agora perguntar o que o neto entende da frase que reproduz. Ele diz "meu avô costumava dizer". Essa forma, sozinha, não implica anuência. Para que se possa inferir que o neto concorda com o avô, ter-se-ia de ser informado pelo texto sobre a situação em que a frase é proferida. Sem isso, "meu avô costumava dizer", é compatível com a concordância, com a discordância (muitas vezes, se diz algo apenas para marcar posição de desacordo) e com a simples incompreensão. Essa última alternativa parece a mais atraente, e a mais fiel ao espírito kafkiano. É comum que as pessoas repitam provérbios cujo sentido desconhecem. Um exemplo é o comum "a exceção prova a regra". O provérbio vem de uma má tradução do latim. O "provar" do provérbio quer dizer, na verdade, testar. Uma exceção testa uma regra. Suponha a regra "Todos os cisnes são brancos". A descoberta de mais um cisne branco apenas diria que a regra funcionou em mais um caso, que ela pode continuar a ser levada a sério, que ela teve de novo sucesso, mas não que ela é verdadeira. Porém, se se descobre um cisne negro, a certeza aparece: está provado que a regra é falsa. Esse é o sentido de que as exceções testam as regras. Mas, quem sabe disso quando profere essa sentença? O jovem que repete as palavras do avô o faz no mesmo sentido: ele não compreende o que está repetindo. E é natural que não. Afinal, ele é jovem e, no esquema traçado acima, nesse contínuo saber viver / pensar, o jovem está muito mais próximo do primeiro polo. O jovem se casa, enquanto o velho só faz listas de prós e contras e, no fim, permanece incapaz de concluir. Como o autor. A incompreensão do jovem e a quase-compreensão do avô, mais devida à memória que a qualquer outra coisa que ele sinta no presente, marcam os dois polos entre os quais se movimenta Kafka em outros textos. Esse corte não é apenas epistemológico. Tem
  • 4. 4 consequências afetivas. De cada lado, formam-se partidos que se odeiam, que se desesperam um com o outro. Na Carta ao pai, Franz não afirma que seu pai é culpado de alguma coisa definida. Afirma apenas que o pai está entre os que vivem, o que o torna opressor para um filho que é incapaz de viver, que é capaz apenas de raciocinar. Para Franz Kafka, a ausência de culpa do pai é "inquestionável" (p. 48). Os polos, tomados muito radicalmente, se excluem: o que sabe viver não reconhece como sujeito capaz de viver aquele que apenas sabe raciocinar. Para o que raciocina, é um mistério o caminho trilhado pelo que vive. E Franz reconhece no pai essas qualidades do saber viver: o pai possui "conhecimento dos homens" (p. 12), ou, então, é capaz de "casar, fundar uma família, acolher todos os filhos que vierem, mantê-los neste mundo inseguro e guiá-los um pouco" (p. 57). Essas são coisas que só pode fazer quem sabe viver, não quem pensa em casamento, como o faz Franz, em termos de listas de justificativas. Para concluir a lista de o que o pai é, Kafka diz qual é o processo pelo qual ele é o que é: as coisas lhe acontecem, ele não as faz. Para quem se entrega à vida, as coisas naturais do viver acontecem, não é preciso que se faça muita coisa. Para quem se restringe ao pensar, tudo tem de ser feito: a decisão de se casar não vem à mente e ao coração, ela deve, antes, ser um teorema, o último estágio de uma longa demonstração formal. Quando se vive, é possível ser consequente, "mesmo sem se ter razão". Uma vez separados os dois polos, que Kafka epitomou em si e em seu pai, tudo segue. O excluído da esfera do viver não compreende seu sentido e, ao mesmo tempo, inveja o sucesso dos que nela circulam. Franz Kafka é incapaz de se casar, incapaz de fundar uma família e incapaz de aprender como se faz isso. Pois os que sabem não o sabem porque aprenderam. Apenas lhes aconteceu. Pelo lado do pai, do mundo, dos que vivem, Kafka e seus personagens são patéticas figuras que se perdem em pensamentos circulares, quando caberia apenas agir. A K., bastaria não comparecer às sessões do tribunal, bastaria dar uns safanões no inspetor e em seus acólitos, bastaria enxotá-los do quarto com alguns palavrões logo na primeira visita. Aliás, bastaria não pensar no assunto, dado que o tribunal é "atraído pela culpa" (p. 12 de 'O Processo'). Mas isso não é para os que veem as pessoas "fazendo" e tentam decodificar esse fazer em termos de "pensar". O inspetor de 'O processo', os parentes em 'A metamorfose', o público em 'O artista da fome' ou em 'Na galeria' não estão raciocinando, não estão agindo segundo sequências lógicas de proposições. Estão, bem no sentido de Wittgenstein, vivendo. A reconstrução do viver pela óptica da razão rende os textos característicos de Kafka, nos quais o mundo funciona de modo desesperadoramente incompreensível para o herói. Os que vivem desprezam os que pensam: eles são inativos, tomam tudo ao pé da letra, emprestam seriedade ao que pode dispensá-la. É por isso que, na 'Carta ao pai', Kafka se queixa de que Hermann Kafka jamais compreendera o judaísmo do filho. Para Hermann, a prática religiosa se integrava à vida em sociedade, não era algo para ser tomado como tema de reflexão. Refletir e articular a religião seria trabalho para profissionais, para teólogos, não para praticantes. Mas Franz não pode ser apenas um praticante comum. Precisa refletir, julgar,
  • 5. 5 compreender profundamente, estudar. Este é seu único acesso à religião, se é que isso realmente lhe dará algum acesso a ela. O pai toma essa atitude como significando crítica do filho, crítica de que o pai não seria suficientemente pio. O resultado é a separação. O caso do judaísmo representa a síntese, no que diz aos sentimentos mútuos, das relações entre os que pensam e os que vivem. Os que vivem não compreendem, desprezam e se sentem ofendidos pelos que pensam. Já do lado dos que pensam, existem os sentimentos de desprezo pelos que vivem, pelos que agem sem refletir, por aqueles a quem as coisas simplesmente acontecem e, ao mesmo tempo, existe a resignada inveja, a que Anders se refere como o sentimento do indivíduo que "só está na medida exata para se saber de fora". Os que vivem conseguem construir famílias, seguir adiante, criar e manter os filhos. Os que pensam estão para sempre condenados à margem, estão sempre condenados à inação. Eles não podem interagir com os outros além de relações muito superficiais. Essas relações são apenas o suficiente para que eles descubram o grau de sua exclusão. Kafka deixa sempre claro que os que pensam se sentem inferiores aos que vivem. Seus personagens são sempre culpados de alguma coisa: sabem que o são porque o mundo segue e eles não, porque as pessoas vivem bem e eles vivem (aqui apenas no sentido biológico) à margem, porque às pessoas as coisas simplesmente acontecem e dão certo, enquanto eles fazem tudo conscientemente e não têm sucesso. Aumenta o desespero o fato de esses personagens constatarem que bastaria um salto para que tudo mudasse, salto impossível, no entanto, para eles. "A lógica, na verdade, é inabalável, mas ela não resiste a uma pessoa que quer viver", diz K., pouco antes de entregar-se voluntariamente a seus executores. Os que pensam adorariam saber viver, mas não sabem como. Para eles, o único caminho aberto para essa redenção, para a integração final à vida, é pelo raciocínio. E, de saída, já sabe o que pensa que o caminho é inútil. As duas esferas, os dois polos, se excluem. Não é fazendo listas de razões que alguém poderá, algum dia, se decidir com segurança sobre o casamento. Essa segurança é aquela dos que, como Hermann Kafka, não precisam ser consequentes para ter razão. É claro que encontrar todos esses elementos em 'A próxima aldeia' é um exercício de ficção. Tudo isso só está lá porque mais da obra de e sobre Kafka foi lida e analisada de antemão. Mas, uma vez feito isso, passa a ser possível usar o conto como um resumo geral dos pontos de vista kafkianos. 'A próxima aldeia', assim, marca claramente os dois polos, representados pelo avô e pelo jovem. Este não compreende o avô (nada há de necessário numa citação que obrigue a concluir que quem cita entende o que é citado) e o avô "quase não compreende" os jovens, como seu neto. O avô já se encontra enredado na razão, já se encontra perdido na rede de raciocínios da qual só é possível escapar pela ação impensada e temerária ("como um jovem pode resolver ir a cavalo à próxima aldeia sem temer...?"). Ele se tornou incapaz de cortar o nó com um golpe de espada. Insiste em desfazê-lo e, assim, está condenado ao insucesso.
  • 6. 6 Em lugar de empreender a cavalgada, de agir, o avô a estuda formalmente. Nesse caminho lógico, a próxima aldeia, o objetivo final e justificativa única da cavalgada, sai de vista. O avô se concentra no meio e não no fim. E o meio o leva à regressão infinita representada pelo paradoxo de Zenon. A perda de vista do fim leva à inação. E inação desesperada, porque, como acontece no paradoxo, as parcelas do caminho, assim como as razões para a cavalgada, se multiplicam ao infinito. Não existe, praticamente, elo entre o avô e o jovem. E, quando o elo existir, quando o jovem for capaz de entender perfeitamente o que seu avô quis dizer, já não lhe restará capacidade para viver, para agir. Todo movimento lhe parecerá inútil ou temerário. Bibliografia ANDERS, GUNTER Kafka: pró e contra. Tradução de Modesto Carone. Editora Perspectiva, São Paulo, 1969. BROD, MAX Franz Kafka. Tradução de Suzana Schnitzer da Silva. Editora Ulisseia, Lisboa, s/d. KAFKA, FRANZ Carta ao pai. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São Paulo, 1992, 4ª edição. KAFKA, FRANZ Um médico rural. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, 2ª edição. KAFKA, FRANZ O processo. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São Paulo, 1989, 2ª edição. KAFKA, FRANZ Um artista da fome - A construção. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, 4ª edição. KAFKA, FRANZ A metamorfose. Tradução de Modesto Carone. Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, 11ª edição. POLANYI, MICHAEL Personal knowledge - Towards a post-critical philosophy. R&KP, Londres, 1983, reimpressão. WITTGENSTEIN, LUDWIG Philosophical investigations. Tradução de G. E. M. Anscombe. Basil Blackwell, Londres, 1988, reimpressão.