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Foto: Juliano Gouveia
                                                                        p15




                                           Niède
                                           Guidon
                                           TEXTO CARLA MENDES
                                           DATA DA REPORTAGEM 08/2007
 Trilobites na mão de Niède Guidon, 2007




                                           Arqueologia
                                           Brasil
Parque Nacional Serra da Capivara, 2007   Foto: Joana Barros
Joana Barros
Toca do Sítio do Meio, terceira missão franco-brasileira 1978   Foto: arquivo Fumdham
Niède
Guidon
/ PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA, BRASIL
/ FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO, BRASIL




TEXTO CARLA MENDES, AGÊNCIA LUSA



Às seis horas da manhã, Niède Guidon já                        vencer subidas e descidas íngremes para
está a guiar o seu 4x4 pelas estradas de terra                 orientar o trabalho de técnicos e alunos.
do sertão brasileiro rumo às escavações que                    Faz isso todos os dias.
coordena. Aos 75 anos, a arqueóloga pau-                       Niède Guidon é um exemplo de tenaz
lista, que pôs por terra teorias tradicionais                  dedicação à ciência e ao desenvolvimento.
sobre a presença do homem nas Américas,                        É uma pessoa que faz a diferença. Deter-
está em plena actividade. É o trabalho que                     minada e objectiva, empenha-se a fundo
lhe dá mais prazer na vida. Pesquisadora                       em tudo o que faz. Com o seu trabalho,
incansável, nem mesmo os dois joelhos                          mudou a vida de muitas pessoas numa das
com parafusos, devido a fracturas sofridas                     regiões mais pobres do Brasil, no interior
há dez anos, a impedem de ir ao campo e                        do Nordeste.



A guardiã do tesouro arqueológico                              tatus, macacos, onças, periquitos, cobras,
«A arqueologia muitas vezes destrói tudo em                    aranhas, roedores e anfíbios. A vida ador-
que o homem moderno acredita. É muito                          mecida parece acordar.
divertido quando a ciência destrói uma                           Foi nesta região que Niède Guidon
crença. É um passo à frente. E, como cien-                     encontrou as provas da mais antiga pre-
tista, se alguém me provar que uma teoria                      sença humana nas Américas. A sua equipa
minha está errada agradeço, porque estou                       escavou, na década de 1970, cerca de 1200
procurando a realidade, não um sonho.                          metros cúbicos na Toca do Boqueirão da
Mas tem de o provar», diz-nos.                                 Pedra Furada — um dos mais de mil e
   Durante os seus largos anos de pes-                         trezentos sítios arqueológicos que hoje
quisas, Niède Guidon destruiu várias                           encontramos ali — um lugar imponente,
crenças sobre o homem americano. Foi                           marcado pela presença de dois grandes
um trabalho árduo no estado do Piauí, no                       blocos de rocha que se desmoronaram da
coração do chamado Polígono das Secas,                         imensa escarpa. A impressão de estarmos a
uma região sujeita a estiagens prolonga-                       entrar numa grande boca inspirou o nome
das, que duram até nove meses por ano.                         deste abrigo pré-histórico, onde os nossos
A falta de chuvas torna a paisagem um                          antepassados deixaram centenas de pintu-
manto esbranquiçado1, um emaranhado                            ras rupestres. Estas não podem ser datadas
de ramos retorcidos, salpicado por plantas                     em laboratórios, porque não contêm
espinhosas e recortado por desfiladeiros                       material orgânico. Contudo, a datação por
gigantescos. Apesar do aspecto seco, todas                     Carbono-14 de alguns dos objectos encon-
as plantas estão vivas. Quando chega a                         trados nas escavações do abrigo remonta a
chuva, as árvores cobrem-se de folhas e a                      57 000 anos BP2.
vegetação torna-se exuberante. A fauna                           «Ficou assim comprovado que os ho-
acompanha a transformação, revelando                           mens já estavam no continente americano
a sua diversidade. São papa-formigas,                          bem antes do que se postulava. E mais:

1. A vegetação predominante é a caatinga, que significa mato   2. Sigla do inglês Before Present, «Antes do Presente», escala
branco na língua indígena tupi-guarani.                        usada pela Arqueologia e outras disciplinas científicas para
                                                               datar eventos do passado em relação à data presente.
NIÈDE GUIDON, ARQUEOLOGIA, p21




                                                                                                Foto: Juliano Gouveia
Niède Guidon, 2007



esses homens não poderiam ter vindo da          do Homo sapiens para as Américas vindo
América do Norte, porque, naquela altura,       de África ou da Europa. A hipótese defende
esta região estava coberta de gelo até à zona   que o sistema de correntes marítimas e
da Florida. Definitivamente, Pedra Furada,      ventos terá favorecido possíveis travessias
no Parque Nacional Serra da Capivara é hoje     do oceano Atlântico em embarcações rudi-
o sítio com as mais antigas evidências de       mentares, oceano esse que na altura seria
ocupação humana na América», explica-           bem menos profundo, ficando pontuado de
-nos a arqueóloga.                              ilhas que facilitariam essa passagem. Uma
   Na avaliação de Guidon, a teoria pre-        possibilidade é a de o Homo sapiens ter
valente até então sobre a chegada do            chegado à América proveniente da Penín-
Homo sapiens ao continente americano            sula Ibérica ou das ilhas ao sul, próximas
carecia de dados. A hipótese era que há         da costa de Marrocos, levado pela corrente
12 000 anos, data correspondente ao             das Canárias até à corrente do Golfo. Outra
período final da última grande glaciação        via possível, segundo Niède Guidon, que
terrestre, grupos de caçadores teriam           poderia explicar a antiguidade da presença
chegado à América pelo estreito de Behring.     humana no Nordeste do Brasil, é o per-
Saindo da Ásia, o homem teria atraves-          curso que segue pela costa oeste de África,
sado a pé essa nova «ponte» de gelo que         utilizando a corrente de Benguela e depois
ligava a Sibéria ao Alasca, acompanhando        a corrente equatorial do Golfo da Guiné,
manadas de mamutes. Dos planaltos norte-        até à costa nordestina do Brasil.
-americanos, os grupos teriam então inicia-        Estas conjecturas não excluem a hipótese
do a sua migração rumo ao Sul, espalhando-      da existência de outros caminhos da Ásia
-se pelas Américas.                             para as Américas, como o colar das ilhas
   O trabalho da cientista mostrou, no          Aleútas, um arquipélago a sudoeste do
entanto, que a pré-história terá sido ou-       Alasca, as ilhas da Malásia, da Indonésia
tra. Embora a passagem pelo estreito de         e da Oceânia. As vias de acesso abriam-
Behring continue válida, os novos dados         -se e fechavam-se segundo as oscilações
indicam que houve uma primeira migração         climáticas e podem ter sido utilizadas em

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Niède Guidon (excerto do livro "Vidas a Descobrir")

  • 1.
  • 2. Foto: Juliano Gouveia p15 Niède Guidon TEXTO CARLA MENDES DATA DA REPORTAGEM 08/2007 Trilobites na mão de Niède Guidon, 2007 Arqueologia Brasil
  • 3.
  • 4. Parque Nacional Serra da Capivara, 2007 Foto: Joana Barros
  • 6. Toca do Sítio do Meio, terceira missão franco-brasileira 1978 Foto: arquivo Fumdham
  • 7. Niède Guidon / PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA, BRASIL / FUNDAÇÃO MUSEU DO HOMEM AMERICANO, BRASIL TEXTO CARLA MENDES, AGÊNCIA LUSA Às seis horas da manhã, Niède Guidon já vencer subidas e descidas íngremes para está a guiar o seu 4x4 pelas estradas de terra orientar o trabalho de técnicos e alunos. do sertão brasileiro rumo às escavações que Faz isso todos os dias. coordena. Aos 75 anos, a arqueóloga pau- Niède Guidon é um exemplo de tenaz lista, que pôs por terra teorias tradicionais dedicação à ciência e ao desenvolvimento. sobre a presença do homem nas Américas, É uma pessoa que faz a diferença. Deter- está em plena actividade. É o trabalho que minada e objectiva, empenha-se a fundo lhe dá mais prazer na vida. Pesquisadora em tudo o que faz. Com o seu trabalho, incansável, nem mesmo os dois joelhos mudou a vida de muitas pessoas numa das com parafusos, devido a fracturas sofridas regiões mais pobres do Brasil, no interior há dez anos, a impedem de ir ao campo e do Nordeste. A guardiã do tesouro arqueológico tatus, macacos, onças, periquitos, cobras, «A arqueologia muitas vezes destrói tudo em aranhas, roedores e anfíbios. A vida ador- que o homem moderno acredita. É muito mecida parece acordar. divertido quando a ciência destrói uma Foi nesta região que Niède Guidon crença. É um passo à frente. E, como cien- encontrou as provas da mais antiga pre- tista, se alguém me provar que uma teoria sença humana nas Américas. A sua equipa minha está errada agradeço, porque estou escavou, na década de 1970, cerca de 1200 procurando a realidade, não um sonho. metros cúbicos na Toca do Boqueirão da Mas tem de o provar», diz-nos. Pedra Furada — um dos mais de mil e Durante os seus largos anos de pes- trezentos sítios arqueológicos que hoje quisas, Niède Guidon destruiu várias encontramos ali — um lugar imponente, crenças sobre o homem americano. Foi marcado pela presença de dois grandes um trabalho árduo no estado do Piauí, no blocos de rocha que se desmoronaram da coração do chamado Polígono das Secas, imensa escarpa. A impressão de estarmos a uma região sujeita a estiagens prolonga- entrar numa grande boca inspirou o nome das, que duram até nove meses por ano. deste abrigo pré-histórico, onde os nossos A falta de chuvas torna a paisagem um antepassados deixaram centenas de pintu- manto esbranquiçado1, um emaranhado ras rupestres. Estas não podem ser datadas de ramos retorcidos, salpicado por plantas em laboratórios, porque não contêm espinhosas e recortado por desfiladeiros material orgânico. Contudo, a datação por gigantescos. Apesar do aspecto seco, todas Carbono-14 de alguns dos objectos encon- as plantas estão vivas. Quando chega a trados nas escavações do abrigo remonta a chuva, as árvores cobrem-se de folhas e a 57 000 anos BP2. vegetação torna-se exuberante. A fauna «Ficou assim comprovado que os ho- acompanha a transformação, revelando mens já estavam no continente americano a sua diversidade. São papa-formigas, bem antes do que se postulava. E mais: 1. A vegetação predominante é a caatinga, que significa mato 2. Sigla do inglês Before Present, «Antes do Presente», escala branco na língua indígena tupi-guarani. usada pela Arqueologia e outras disciplinas científicas para datar eventos do passado em relação à data presente.
  • 8. NIÈDE GUIDON, ARQUEOLOGIA, p21 Foto: Juliano Gouveia Niède Guidon, 2007 esses homens não poderiam ter vindo da do Homo sapiens para as Américas vindo América do Norte, porque, naquela altura, de África ou da Europa. A hipótese defende esta região estava coberta de gelo até à zona que o sistema de correntes marítimas e da Florida. Definitivamente, Pedra Furada, ventos terá favorecido possíveis travessias no Parque Nacional Serra da Capivara é hoje do oceano Atlântico em embarcações rudi- o sítio com as mais antigas evidências de mentares, oceano esse que na altura seria ocupação humana na América», explica- bem menos profundo, ficando pontuado de -nos a arqueóloga. ilhas que facilitariam essa passagem. Uma Na avaliação de Guidon, a teoria pre- possibilidade é a de o Homo sapiens ter valente até então sobre a chegada do chegado à América proveniente da Penín- Homo sapiens ao continente americano sula Ibérica ou das ilhas ao sul, próximas carecia de dados. A hipótese era que há da costa de Marrocos, levado pela corrente 12 000 anos, data correspondente ao das Canárias até à corrente do Golfo. Outra período final da última grande glaciação via possível, segundo Niède Guidon, que terrestre, grupos de caçadores teriam poderia explicar a antiguidade da presença chegado à América pelo estreito de Behring. humana no Nordeste do Brasil, é o per- Saindo da Ásia, o homem teria atraves- curso que segue pela costa oeste de África, sado a pé essa nova «ponte» de gelo que utilizando a corrente de Benguela e depois ligava a Sibéria ao Alasca, acompanhando a corrente equatorial do Golfo da Guiné, manadas de mamutes. Dos planaltos norte- até à costa nordestina do Brasil. -americanos, os grupos teriam então inicia- Estas conjecturas não excluem a hipótese do a sua migração rumo ao Sul, espalhando- da existência de outros caminhos da Ásia -se pelas Américas. para as Américas, como o colar das ilhas O trabalho da cientista mostrou, no Aleútas, um arquipélago a sudoeste do entanto, que a pré-história terá sido ou- Alasca, as ilhas da Malásia, da Indonésia tra. Embora a passagem pelo estreito de e da Oceânia. As vias de acesso abriam- Behring continue válida, os novos dados -se e fechavam-se segundo as oscilações indicam que houve uma primeira migração climáticas e podem ter sido utilizadas em