Formação Escola Tereza Francescutti - Níveis de Interação disicplinar
Ensino de acordeon com software
1. FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ARTES DE MONTENEGRO - FUNDARTE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL – UERGS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA
ADRIANO JOSÉ PERSCH
O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
um estudo de caso utilizando o software Encore
MONTENEGRO – RS
2006
2. ADRIANO JOSÉ PERSCH
O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
um estudo de caso utilizando o software Encore
Monografia apresentada como exigência para
conclusão do curso de Graduação em Música:
Licenciatura à Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de
Montenegro.
Orientadora: Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel
Montenegro
2006
3. ADRIANO JOSÉ PERSCH
O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
um estudo de caso utilizando o software Encore
Monografia apresentada como exigência para
conclusão do curso de Graduação em Música:
Licenciatura à Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de
Montenegro.
Banca examinadora
__________________________________________________________
Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel (Orientadora)
__________________________________________________________
Profª. Dra. Maria Cecília de Araújo Torres
__________________________________________________________
Profª. Ms. Júlia Maria Hummes
__________________________________________________________
Profª. Ms. Lélia Negrini Diniz
Montenegro, 24 de novembro de 2006
4. Dedico este trabalho a memória de meus pais,
Roque José Persch e Maria Erica Persch.
5. AGRADECIMENTOS
Aos professores e funcionários da FUNDARTE.
À professora Cristina Rolim Wolffenbüttel, pela sua sensibilidade, seu
conhecimento, paciência e sabedoria em orientar-me nesta pesquisa.
À banca examinadora formada pelas professoras Maria Cecília de Araújo
Torres, Júlia Maria Hummes e Lélia Negrini Diniz, por suas contribuições e valiosos
comentários.
Aos amigos Maykel Andriotti e Rinaldo Colisse.
A todos os meus alunos, com os quais aprendo muito.
Aos amigos André Machado, Daniel Castilhos, Fernando Santos e Luciano
Rhoden, pela compreensão e apoio.
6. Com as palavras todo cuidado é pouco,
mudam de opinião como as pessoas.
José Saramago
7. RESUMO
Este estudo teve como objetivo investigar as contribuições do uso de software
Encore na educação musical, tendo em vista o ensino particular de acordeon para
alunos iniciantes. Esses objetivos foram respaldados nas seguintes questões de
pesquisa: Quais as maiores dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore
auxilia no aprendizado do acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias
na educação musical? A metodologia utilizada foi o estudo de caso, sendo as
técnicas de pesquisa a observação participante e a entrevista semi-estruturada.
Para compreender o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na
educação, empreguei como referencial teórico os trabalhos de pesquisadores como
Pablos (2006) e Sancho (2006). Além desses estudos, também procurei
transversalisar a análise, utilizando as pesquisas de Fritsch et al. (2003), Ficheman
et al. (2003), e Krüger (2006).
Palavras-chave: tecnologia em educação musical, espaços de aprendizagem, ensino
de acordeon.
8. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM ........................................................................... 13
2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL ......................................................... 15
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 19
3.1 Estudo de caso ........................................................................................ 19
3.2 Observação participante .......................................................................... 21
3.3 A entrevista semi-estruturada .................................................................. 22
3.4 Os entrevistados................ ...................................................................... 24
3.5 Procedimentos de análise de dados ........................................................ 25
4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 27
4.1 Professores de acordeon ......................................................................... 27
4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon ....................................... 28
CONCLUSÃO .................... ..................................................................................... 33
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 36
APÊNDICE A - Partitura musical com uso de cores ................................................ 38
APÊNDICE B – Roteiro da entrevista semi-estruturada ........................................... 39
APÊNDICE C – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 40
APÊNDICE D – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 41
ANEXO A – Endereços de sites com partituras gratuitas ........................................ 43
9. INTRODUÇÃO
A pesquisa que resultou neste trabalho teve como ponto de partida
questionamentos e procedimentos que poderiam vir a auxiliar minha atuação nas
aulas particulares de acordeon, além de colaborar para um melhor entendimento e
aproveitamento dos alunos em suas práticas e estudos no instrumento.
A idéia de propor um mecanismo de ensino de música com auxilio de um
software partiu da minha própria experiência em sala de aula onde, em muitos
momentos, senti a necessidade de um aprimoramento, com mais freqüência e
continuidade para com os alunos nas práticas do instrumento e questões teóricas.
Realizando, então, uma reflexão na minha formação e trajetória como
professor de acordeon, surgiu uma inquietação e necessidade de buscar ações e
pesquisas para ampliar meu conjunto metodológico docente. Ao reavivar estas
memórias, deparei-me com meu começo na aprendizagem do acordeon, no qual
passei por consideráveis problemas e dificuldades, que ora encontro nos meus
alunos na fase iniciante. Geralmente, estas dificuldades se apresentam através do
repertório, falta de gravações, partituras, leitura de partituras, dificuldades rítmicas,
“motivações”, além da falta de tempo dos alunos para a prática.
10. 10
Outra questão que me chama atenção relaciona-se aos alunos particulares.
Suas aulas práticas são individuais e ocorrem uma vez por semana, resultando por
não terem as aulas teóricas de percepção, aulas em grupo e práticas de música de
câmara.
Comecei, então, a utilizar nas aulas que realizo em minha casa, um
software para edição de partituras, chamado Encore1. Sugeri aos alunos iniciantes,
que possuem computador, a instalação do mesmo em seus aparelhos. Durante
algumas aulas reservamos instantes para conversarmos, esclarecendo dúvidas e
estudando o funcionamento básico do programa incluindo digitação, busca,
salvamento e armazenamento de dados, entre outros. Também disponibilizei para
os alunos algumas apostilas, contendo informações sobre o programa, a fim de
levarem para suas casas.
Neste editor de partituras, as músicas são escritas e enviadas por correio
eletrônico ou disquete para os alunos. Eles podem, assim, manusear o programa
ouvindo as peças, extraindo e ouvindo as vozes em separado, variando o
andamento, modificando os timbres, executando a música no instrumento,
juntamente com o computador, além de introduzir notas ou acordes no arranjo.
Como o acordeon trabalha com duas vozes e duas pautas (clave de sol e clave de
fá), o aluno tem a oportunidade de selecionar no programa uma voz, deixando em
silêncio a outra, e com o instrumento executar esta voz.
1
GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
11. 11
Pablos (2006) aponta que as tecnologias podem facilitar a personalização
dos procedimentos de acesso à informação, bem como flexibilizar os processos de
aprendizagem. O pesquisador segue sua argumentação, explicando que as
alternativas como o ensino bimodal2 “permitem minimizar as limitações de tempo e
espaço que exige o ensino convencional” (PABLOS, 2006, p. 73).
Portanto, a idéia que permeia o uso do editor de partituras, parte da
possibilidade de oportunizar a autonomia aos alunos para com seus estudos fora
das aulas, sem a presença do professor. Isto alarga a possibilidade para “que o
educando vá assumindo o papel de sujeito da produção de sua inteligência e não
apenas o de recebedor3 da que lhe seja transferida pelo professor” (FREIRE, 2004,
p. 124). A autonomia do aprendiz “vai se constituindo na experiência de várias,
inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” (FREIRE, 2004, p.107) e, em “certo
momento, assumindo a autoria também do conhecimento do objeto” (FREIRE, 2004,
p. 124).
Cria-se uma variedade grande de possibilidades e interação, onde o
aprendizado da teoria musical poderá ser abordado, pois o programa o auxilia na
escrita e no entendimento. As composições podem ser ouvidas em casa, já que
muitas vezes os estudantes não dispõem de gravações das músicas. Os alunos que
ainda não dominam a leitura da partitura musical convencional, ou mesmo os que
sentem dificuldades em realizá-la, podem acompanhar a partitura sendo executada
no programa, inclusive selecionando trechos que ainda não estão memorizados.
2
Consiste em combinar o trabalho presencial em aula ou laboratório com ensino a distância.
(PABLOS, 2006, p. 73).
3
Grifo do autor.
12. 12
Também se abre uma janela de pesquisa na qual, de posse deste editor de
partituras, o estudante poderá encontrar na internet inúmeros sites de partituras para
fazer download para posteriormente serem tocadas, com possibilidades para ouvi-
las, modificá-las e executá-las.
Nesse sentido, torna-se relevante desenvolver um trabalho objetivando
investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente dos
editores musicais, e tendo em vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes.
13. 13
1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM
Os motivos que levam os alunos a optarem pelo estudo do acordeon em
aulas particulares são vários. Dentre estes podem ser citados a busca por um
repertório variado e, com isso, não se submetendo a um programa da instituição,
maleabilidade dos horários, esperando por encontrar maior liberdade para os
estudos, sem testes ou menos cobranças que num estabelecimento formal.
Praticamente todos os alunos que atendo em casa são adultos, profissionais
liberais, e que possuem um escasso tempo para poderem se dedicar à prática do
instrumento. Além disso, muitas vezes eles não apresentam a pretensão de se
profissionalizarem. Neste contexto, Bozzetto (2004, p. 32) afirma que “o acordo entre
o professor e aluno precisa ser formado a partir tanto dos objetivos quanto das
possibilidades de cada um”. Outras funções do professor particular são apontadas
por Bozzetto, quando a pesquisadora argumenta a respeito dos
alunos de qualquer idade e nível de conhecimento, que têm como objetivo
que o aluno conquiste sua autonomia artística e intelectual, que participe da
vida cultural de seu contexto e que a música, da forma que for possível,
faça sentido em sua vida, mesmo quando o aluno decidir parar de estudar.
(BOZZETTO, 2004, p. 32).
14. 14
Transformar o ambiente familiar em espaço de trabalho requer negociações e
limites, “principalmente quando existem outras pessoas dividindo e compartilhando o
mesmo espaço físico” (BOZZETTO, 2004, p.33).
Atualmente, segundo minhas pesquisas, o acordeon não possui nenhum
estabelecimento formal reconhecido por instituições oficiais que regulamentem e
fiscalizem seu ensino. Então, os espaços de ensino geralmente acontecem em
escolas e em conservatórios - através de cursos livres - além de espaços informais.
Mas, a grande parcela de estudantes acaba por procurar professores particulares.
Isto gera um distanciamento da classe, sem opções de compartilhar e trocar
informações com colegas de profissão.
Nesse contexto, surgem as seguintes questões: Quais as maiores
dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore auxilia no aprendizado do
acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias na educação musical?
Estas questões remetem à necessidade do empreendimento de uma
investigação em torno do assunto. Nesse sentido, esta pesquisa tem por objetivo
geral investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente
dos editores musicais, tendo em vista o ensino particular de acordeon para alunos
iniciantes.
15. 15
2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL
A inserção de tecnologia no estudo, pesquisa, aprendizagem e avaliação
musical ainda apresentam restrições por parte de muitos professores. Essa
perspectiva é enfatizada por Fritsch et al., que apontam que “essa resistência ainda
é compreensível quando parte de pessoas das ciências humanas e das artes, como
é o caso da música, que possuem pouco contato com recursos tecnológicos” (2003,
p. 141). Porém, Krüger (2006, p.79) destaca um importante dado para o uso de
tecnologias atualmente na educação musical brasileira, trazendo à tona que ainda é
pouco comum devido aos custos dos equipamentos (computadores, softwares,
provedor de internet, etc.), apoio técnico freqüente e capacitação docente.
Conforme Krüger (2006), a educação musical tem sido provocada a passar
por uma cadeia de modificações. A autora segue afirmando que as
novas Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC – desafiam-nos a
transformar nossos conceitos educacionais, nossas perspectivas didáticas,
nos constrangem a rever e completar nossa formação, nos levam a refletir
sobre as novas possibilidades e exigências quanto às interações com
nossos alunos e colegas. (KRÜGER, 2006, p. 75).
Somando-se a essa idéia, Pablos (2006) confirma que a inclusão das novas
tecnologias digitais pode exercer um papel fundamental na inovação das funções
16. 16
docentes (e também na criação das novas formas de pesquisa). Nesse sentido, para
Pablos, trata-se de
flexibilizar os processos de aprendizagem aproveitando ao máximo os
recursos das tecnologias digitais como a internet. Hoje é possível relativizar
os condicionantes de tempo e espaço. Trata-se de acumular experiência e
se arriscar a mudar modelos, rotinas e formas de trabalho baseados em
conceitos e procedimentos em alguns casos seculares e, portanto,
vinculados a modelos talvez atualmente defasados. (PABLOS, 2006, p. 73).
Um aspecto a ser questionado na perspectiva da presença e auxílio de
tecnologias no uso educativo reside no fato de que sua utilização não significa, por si
mesmos, uma garantia de qualidade, tal qual “uma oferta pedagógica” (PABLOS,
2006, p. 73). Necessitamos estar atentos às novas tecnologias, para que as
mesmas não se transformem em meras transposições de livros-texto ou exercícios,
bem como “para que concepções educativo-musicais já em desuso não sejam
novamente instituídas e divulgadas com uma nova roupagem pelo simples fato de
estarem disponíveis em uma nova mídia” (KRÜGER, 2006, p. 76).
Portanto, amparado pelo discurso de Krüger (2006) e Pablos (2006),
acredito que o processo de educação, em qualquer área, possa lançar mão de todo
tipo de recurso que facilite a aquisição do conhecimento. Cabe ao educador
identificar, com a mente aberta e sem preconceitos, a cada momento, qual tipo de
material pedagógico é o mais indicado para ajudar a atingir a um determinado
objetivo. A informática, bem como a internet, são hoje ferramentas que funcionam
como facilitadoras do “acesso ao conteúdo educativo” (FLORES, 2002, p.16). O que
vai ao encontro da proposição de Pablos (2006, p. 74), que argumenta a respeito de
que “a contribuição mais significativa das tecnologias, [...] é a capacidade para
intervir como mediadoras nos processos de aprendizagem”. Nesse sentido, são
17. 17
indispensáveis para o professor que queira ampliar seus instrumentos pedagógicos.
Vale salientar que o professor precisa estar em constante atualização e
aperfeiçoamento nas questões tecnológicas.
Deve-se entender que a implementação de novas tecnologias no ensino
musical, como defendem Fritsch et tal. (2004), não pode e não deve substituir o
educador, mas sim, necessita ser vista como mais uma possibilidade para auxiliar o
professor na prática do ensino. Comunga desta mesma opinião Esteve (2004), que
acrescenta que o uso dessas novas tecnologias não suporia prescindir do professor,
ao contrário, permitiria que ele se centrasse nas tarefas mais importantes
que pode desempenhar, e nas quais é absolutamente imprescindível:
ensinar ao aluno o valor do que é aprendido, ajuda-lo a relacionar a nova
aprendizagem com aprendizagens anteriores, e integrar as novas
aprendizagens nos esquemas conceituais com os quais vive sua vida e
interpreta os acontecimentos do mundo que o rodeia. (ESTEVE, 2004, p.
184).
Este mesmo autor segue considerando e validando a importância da
presença e mediação do professor no ensino/aprendizagem do aluno.
o professor será imprescindível para ensinar o aluno a aprender por si
mesmo, o que supõe iniciá-lo no uso dessas tecnologias como meio de
aprendizagem, e fazê-lo compreender o que pode esperar delas e o que
não pode encontrar nelas. (ESTEVE, 2004, p. 184).
A respeito dos níveis de utilização de softwares na educação musical,
Fritsch et al. (2004) apresentam o seguinte:
1. O uso de software musical em geral (editores de partituras,
seqüenciadores, etc.) como ferramenta educativa, embora não tenha sido
criado especificamente com este objetivo em mente;
18. 18
2. O uso de software especificamente educativo-musical (treinamento
auditivo, tutores teóricos musicais, etc.), criado especificamente para
educação musical; e
3. A programação sônica, que permite aos músicos a criação de seu
próprio software, adaptando a uma estratégia de ensino particular ou para
situações de ensino específicas que envolvam programação de
computadores (ensino de composição eletroacústica, por exemplo).
(FRITSCH et al., 2004, p. 3).
Particularmente, nesta pesquisa, procurei utilizar a análise do nível 1 de
Fritsch et al., no que diz respeito ao uso de software musical em geral como
ferramenta educativa.
O Encore, um dos softwares existentes no mercado para a criação e edição
de partituras, por exemplo, serve para
editar e imprimir partituras, permitindo a inserção de notas tanto com o
mouse como pela execução diretamente em instrumento MIDI. A gravação
e execução em tempo real da música por meio de instrumento MIDI são
características interessantes. Além disso, permite importar arquivos-padrão
do formato MIDI gerados por outros programas. Geralmente possuem
bastante flexibilidade, permitindo escolher tipos de pautas (normal,
tablatura, ritmo), símbolos musicais, múltiplas vozes por pauta etc., além de
oferecer recursos para a edição da letra da música. Há também facilidades
para se acessar e extrair partes da partitura e a impressão, em geral, pode
ser dimensionada e configurada pelo usuário. (FRITSCH, 2003, p. 146).
Sendo um software para edição gráfica, o Encore oferece recursos de
manipulação de objetos gráficos – signos musicais (pautas, claves, figuras rítmicas,
cifras, andamentos, etc.). Outra possibilidade do Encore é a utilização de cores
diferentes em objetos ou símbolos da partitura, o que facilita a visualização dos
mesmos durante o processo de edição da partitura, ou mesmo funciona para
destacar, valorizar e apreciar alguma passagem ou trecho da música (ver
APÊNDICE A).
19. 19
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa, que teve por proposta investigar os efeitos do uso de
software na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em
vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes, utilizou como método de pesquisa
o estudo de caso, sendo empregadas como técnicas de pesquisa a observação
participante dos alunos durante as aulas e a entrevista semi-estruturada.
Através de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas e, após a transcrição
dos dados coletados, passei à análise dos mesmos, procurando descobrir e
aprimorar a eficácia e contribuição do software no aprendizado musical.
Sobre o método de pesquisa utilizado, qual seja, o estudo de caso, passo a
explicar a seguir.
3.1 Estudo de caso
O estudo de caso versa em uma exposição meticulosa, profunda e
demarcada do tema proposto, constituindo e delimitando, assim, uma unidade.
Lüdke e Andrë afirmam que o
20. 20
caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente
definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é
ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio e singular. (LUDKE;
ANDRË, 1986, p.17).
Outra ponderação a ser feita, relaciona-se ao fato de que, mesmo o
investigador partindo de alguns pressupostos teóricos iniciais, “ele procurará se
manter constantemente atento a novos elementos que poderão emergir como
importantes durante o estudo” (LUDKE; ANDRË, 1986, p.18). O estudo de caso
pode ser usado para determinar e investigar, então, se as proposições de uma teoria
ou tópico empírico estão corretas, seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-
estabelecidos.
O quadro teórico inicial servirá assim de esqueleto, de estrutura básica a
partir da qual novos aspectos poderão ser detectados, novos elementos ou
dimensões poderão ser acrescentados, na mediada que o estudo avance.
(LUDKE; ANDRË, 1986, p.18).
Após a seleção e delimitação do caso fez-se necessário reunir informações
com o trabalho de campo específico e proceder às análises sobre os elementos
determinados a partir dos quais se possa compreender.
O trabalho de campo visa reunir e organizar um conjunto comprobatório de
informações. A coleta de informações em campo pode exigir negociações
prévias para se aceder a dados que dependem de anuência de hierarquias
rígidas ou da cooperação das pessoas informantes. As informações são
documentadas, abrangendo qualquer tipo de informação disponível, escrita,
oral, gravada, filmada que se preste para fundamentar o relatório4 do caso
que será, por sua vez, objeto de análise crítica pelos informantes ou por
qualquer interessado. (CHIZZOTTI, 2005, p.103).
Desta forma, esta estratégia de pesquisa, o estudo de caso, proporcionou
um contato direto com os alunos. Além disso, possibilitou uma melhor compreensão
4
Grifo do autor.
21. 21
e delimitação das possíveis melhoras no uso do software para com o ensino de
acordeon.
A fim de coletar os dados necessários para esta investigação utilizei duas
técnicas de pesquisa, a observação participante e a entrevista semi-estruturada.
Sobre as mesmas, passo a tecer explicações.
3.2 Observação participante
A justificativa para a realização das observações que realizei durante as
aulas de acordeon que ministrei para os alunos investigados, estão em consonância
com as proposições de Chizzotti (2005), que as designa de observação participante.
Segundo seus estudos, a observação participante é “obtida por meio do contato
direto do pesquisador com fenômeno observado, para recolher as ações dos atores
em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista”
(CHIZZOTTI, 2005, p. 90). Também é importante destacar que, conforme Yin (2005),
é a competência de compreender o fato do ponto de vista de alguém que está
inserido no estudo de caso, podendo produzir um retrato cuidadoso do
acontecimento.
A observação participante é uma modalidade especial de observação na
qual você não é apenas um observador passivo. Em vez disso, você pode
assumir uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de
fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. (YIN, 2005, p 121).
Andrë (1985) explica que a observação participante é assim denominada,
porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de influência
22. 22
mútua com a circunstância estudada, “afetando-a e sendo por ela afetado” (ANDRË,
1995, p. 28).
Utilizei a observação participante porque, estando em contato direto com os
alunos durante as aulas, obtive um acesso privilegiado podendo, assim, captar
vários detalhes, situações ou elementos diretamente ligados à realidade do contexto.
Além da observação participante, minha pesquisa pode ser ampliada
através da realização de entrevistas com meus alunos. Sobre esta técnica de
pesquisa, particularmente sobre a entrevista semi-estruturada, explico mais
detalhadamente a seguir.
3.3 A entrevista semi-estruturada
Conforme Yin (2005), a técnica da entrevista configura-se como uma “das
mais importantes fontes de informações para um estudo de caso” (YIN, 2005, p.
116). Consiste numa coleta de dados com uma ou mais pessoas, tendo por objetivo
levantar maiores informações para a compreensão e análise do objeto de estudo.
Colabora, assim, para ampliar, aprofundar, conhecer e esclarecer as opiniões do
entrevistado; além disso, auxilia no levantamento de suposições e aferições, tendo
em vista o referencial teórico, assinalando para o caminho pretendido.
A entrevista semi-estruturada é uma técnica de pesquisa que propõe
questionamentos, procurando obter os dados a respeito do tema pesquisado. Além
disso, baseia-se, apenas, em uma ou poucas questões/guias, quase sempre
abertas. Nem todas as perguntas elaboradas são utilizadas durante a realização da
23. 23
entrevista, também sendo possível introduzir outras questões que surgem de acordo
com o que acontece no processo em relação às informações que se deseja obter.
Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que
parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses,
que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante,
seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas
experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a
participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 1987, p.
146).
O roteiro que elaborei para a realização das entrevistas foi baseado em
questões diversas, dentre as quais os dados de identificação, a idade que o aluno
iniciou seus estudos musicais, bem como o tempo em que o aluno estuda o
acordeon. Complementei as questões, incluindo as perguntas acerca dos
professores com os quais o aluno estudou, as dificuldades apresentadas no
instrumento, além das opiniões do aluno sobre o Encore e o aprendizado do
acordeon (ver APÊNDICE B).
A entrevista foi realizada individualmente, sendo que investiguei dois alunos
que estudam o instrumento há mais de um ano. Utilizei-me do registro sonoro da
gravação, através da fita-cassete. Posteriormente, as duas gravações foram
transcritas, a fim de serem utilizadas para a análise e tranversalização dos dados.
Após ter tecido comentários sobre o método utilizado nesta investigação,
bem como das duas técnicas empregadas passo, a seguir, a apresentar algumas
informações sobre os entrevistados nesta pesquisa.
24. 24
3.4 Os entrevistados
Para a escolha dos entrevistados procurei contemplar e definir alunos
particulares de acordeon que já estudam comigo há, pelo menos, um ano. Para
tanto, foram selecionados dois adultos jovens que possuem atividades e profissões
distintas. Ambos iniciaram o estudo do acordeon na fase adulta, e dispõem de pouco
tempo para a prática e para o estudo de música.
Por motivos éticos, informei aos entrevistados que seus depoimentos seriam
tratados com sigilo. Após a realização das entrevistas, realizei suas transcrições e
entreguei-as para os entrevistados, a fim que pudessem ler, analisar, reestruturar o
que achassem necessário, ampliando, corrigindo ou modificando trechos das
mesmas. Segundo Alberti (2004), com esse procedimento, “o entrevistado tem a
possibilidade de rever o que falou, fazer novas considerações, ampliar outras e, se
achar conveniente, alterar algumas passagens” (ALBERTI, 2004, p. 228). Em
relação aos nomes, desde os primeiros contatos, até a realização das entrevistas,
ambos fizeram questão de ser identificados pelo primeiro nome.
O primeiro entrevistado foi Maykel, que possui 27 anos. Atualmente, ele
trabalha na área da informática, prestando serviços de manutenção e suporte de
computadores para empresas. Está cursando a faculdade de Ciências Econômicas.
Rinaldo, o segundo entrevistado, tem 39 anos. Ele trabalha como Gerente
de Vendas em uma empresa, e é estudante de Gestão Financeira.
25. 25
Quanto ao local das entrevistas, as duas ocorreram em minha residência,
por escolha e sugestão dos próprios entrevistados. A entrevista com o Maykel
aconteceu logo após a sua aula de acordeon. Rinaldo, por sua vez, preferiu realizá-
la em momento diferente de sua aula.
A opção por incluir estes dois alunos na pesquisa deveu-se, também, ao
fato de ambos participarem de uma aula semanal com duração de sessenta minutos,
onde é também necessário trabalhar neste período de tempo as questões relativas
ao instrumento, técnica e repertório, à teoria e à percepção musical.
Conhecidas as informações relativas ao método, técnicas de pesquisa, além
dos entrevistados, explico como foi minha opção pelos procedimentos de análise de
dados.
3.5 Procedimentos de análise de dados
Análise de dados serviu para objetivar e organizar o material até então
coletado. Após a transcrição das entrevistas dos dois alunos, realizei várias leituras
e anotações relevantes para a análise, sentindo-me mais familiarizado com as
informações até então reunidas. Também destaquei trechos e frases que pudessem
vir a contribuir para o entendimento do tema pesquisado.
Em alguns trechos isolados dos discursos houve a necessidade de uma
pequena revisão do texto original, para a retirada de alguns clichês da oralidade e
obter uma fluência e auxiliar na compreensão, sem o intuito de modificar ou alterar
qualquer aspecto ao que tange ao conteúdo fornecido pelo entrevistado.
26. 26
De posse destas informações, cruzei os dados obtidos através da
observação participante com os das entrevistas semi-estruturadas, assim como ao
referencial teórico que utilizei ao longo deste trabalho, entre eles Fritsch et al.
(2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006) e Pablos (2006), com
os quais dialogo e apresento os resultados que obtive em minha pesquisa empírica.
27. 27
4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS
A partir desse momento, passo a dialogar com os dois entrevistados,
mostrando os depoimentos que emergiram nas entrevistas juntamente com as
observações e percepções que fui notando e acumulando durante o período em que
utilizei o programa Encore como complemento do estudo do acordeon desses
alunos.
4.1 Professores de acordeon
Neste subcapítulo apresento dados referentes às respostas dos
entrevistados sobre os professores de acordeon com os quais já estudaram.
Apresento, também, informações sobre as maiores dificuldades que os alunos
alegam possuir na execução do acordeon.
Maykel nunca havia tocado acordeon, e iniciou seus estudos de instrumento
comigo (Adriano Persch), há cerca de um ano. Revelou que recebeu instruções
iniciais para identificar os diversos mecanismos e componentes do acordeon e seu
funcionamento, conforme revelou em sua fala.
identificação e posição das notas no teclado, identificação dos baixos e
acordes, o uso de sustenidos e bemóis e também a importância de um bom
controle no fole [...] comecei a receber as primeiras partituras para executar
as músicas propostas. (MAYKEL, 03 nov. 2006).
28. 28
Rinaldo freqüentou aulas de acordeon durante sete meses, no ano de 1989,
na cidade de Porto Alegre/RS. Após este período, interrompeu seus estudos. Muitos
anos depois, retomou seus estudos no instrumento na mesma escola, porém com
outra professora. Atualmente Rinaldo retornou aos estudos do acordeon comigo.
Ambos revelaram nas entrevistas – o que também pude observar através
das observações em aula - que suas maiores dificuldades no instrumento
relacionam-se à coordenação motora.
Creio que a coordenação entre os baixos e o teclado5 foi a minha maior
dificuldade. (MAYKEL, 03 nov. 2006).
Outra dificuldade observada por Rinaldo refere-se à divisão do ritmo na mão
esquerda, quando ambas as mãos estão tocando. Para ele,
acertar o ritmo da baixaria6, e acertar o tempo da nota, que as vezes eu não
consigo fazer a divisão certas das notas, elas ficam misturadas. (RINALDO,
03 nov. 2006).
As informações apresentadas anteriormente pelos alunos indicam a
necessidade do empreendimento de ações pedagógicas que venham ao encontro
de suas dificuldades, buscando alternativas de ensino. Escolhi, para esta finalidade,
valer-me do uso de tecnologias, principalmente do Encore.
4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon
5
Baixos tocados pela mão esquerda e teclado pela mão direita.
6
Baixos.
29. 29
Neste capítulo insiro as informações fornecidas pelos entrevistados a
respeito do Encore como apoio no ensino e aprendizagem do acordeon.
Para Rinaldo, o uso do Encore nas aulas não presenciais auxiliou na escuta
das músicas, pois a possibilidade de ouvir as duas vozes em separado trouxe uma
compreensão e maior clareza no entendimento da peça, bem como a leitura da
partitura convencional juntamente com sua escrita e símbolos.
Ele auxilia na parte de escutar. Quando tu pegas o ritmo da música, deixa
só a baixaria ou só as notas do teclado do piano. Então isso aí ele facilita
bastante. Fica mais claro, ele te dá como vou dizer, ele te dá o tempo da
nota na verdade. Você consegue ver o tempo certo nota, ele dá o espaço,
que é uma coisa que se tu esta tocando errado, nele tu consegue tirar a
dúvida. Com o Encore melhorou muito, por que antes eu tocava, o que é
que acontecia, uma coisa é ter a partitura, e tu pegar ela e ler para tocar.
Uma coisa é colocar ela no Encore e ter uma noção de como ela é tocada,
esta é uma grande diferença, por que tu consegue fazer a diferença se tu
esta indo no caminho certo ou pelo caminho errado, isso eu acho que é um
grande facilitador por que ele te mostra o certo na realidade. (RINALDO, 03
nov. 2006).
O depoimento de Maykel, por sua vez, acrescentou que o Encore ajudou-o
na fase inicial, principalmente na escrita convencional de partituras, onde pode
relacionar um som com a escrita. Ele ainda acrescentou que quando começou a
estudar acordeon apresentava receios quanto à dificuldade de aprender a ler uma
partitura o que, de certo modo, é bastante comum. Com esta ferramenta, segundo
suas informações, pôde desmistificar esta imagem e perceber o quanto é importante
a escrita musical. Neste sentido, este depoimento vai ao encontro das pesquisas de
Souza (1998). Segundo a pesquisadora,
A importância da notação musical pode ser vista não só na função da
reprodução como também na de auxílio para um ouvir musical consciente,
preocupado com os meios técnicos utilizados pelo compositor, a estruturada
obra, o acompanhamento consciente do movimento e as curvas de tensão.
Ela pode, além disso, servir de ajuda para tirar a música de seu tempo
30. 30
como, por exemplo, ouvir trechos, analisar, novamente ouvir seu todo. [...] a
notação musical torna a música mais compreensível, ao apresentar o seu
lado matemático, ajudando a perceber sua estrutura e organização.
(SOUZA, 1998, p. 210).
Com o passar do tempo, Maykel buscou inúmeras partituras na internet em
sites (ver ANEXO A) que disponibilizam gratuitamente várias músicas, de diversos
gêneros musicais e instrumentos. Com este material que pesquisava na Internet,
percebi o quanto auxiliava-o em sua prática instrumental, além de ajudá-lo na leitura
musical. Isto devia-se ao fato de que ele possuía uma autonomia na escolha destas
músicas, o que ocorria por afinidade, gosto ou desafio de tocar uma peça que
apresentava uma dificuldade maior na execução. Muitas das partituras, ele mesmo
as trazia para serem estudadas em aula, e aproveitadas para compor seu repertório.
Neste sentido, Sancho (2006) corrobora dizendo que é de importância fundamental
o investimento nas tecnologias digitais, pois estaríamos contribuindo com o
desenvolvimento da “autonomia dos estudantes para gerenciar sua educação, para
que possam aprender perguntando e respondendo os desafios educativos e
formativos da sociedade atual” (SANCHO, 2006, p. 31). A mesma autora considera
que a
aprendizagem se baseia na troca e na cooperação, no enfrentamento de
riscos, na elaboração de hipóteses, no contraste, na argumentação, no
reconhecimento do outro e na aceitação da diversidade vê nos sistemas
informáticos, na navegação7 pela informação e na ampliação da
comunicação com pessoas e instituições geograficamente distantes a
respostas às limitações do espaço escolar. (SANCHO, 2006, p. 21).
Nos dois depoimentos constatei outro ponto relevante a respeito da escrita e
audição imediata, o que é possível realizar com o Encore. Neste Maykel considera
7
Grifo da autora.
31. 31
importante a possibilidade de escrever e ao mesmo tempo ouvir o que está
sendo realizado. No processo de aprendizagem, essa funcionalidade tem
uma contribuição significativa. (MAYKEL, 03 nov. 2006).
Rinaldo, por sua vez, acrescenta que atualmente é um desafio escrever no
Encore, mas acredita ser importante conseguir transcrever as músicas para o
programa.
importante no Encore é o desafio de transpor as músicas pra ele [...] ou tu
fazer alguma coisa diferente nele. Tu tens uma música e de repente vamos
botar esta nota, alguma coisa, pra ver se ela muda ou fica um arranjo
melhor ou não. (RINALDO, 03 nov. 2006).
Um posicionamento que chamou minha atenção foi quando Rinaldo
comentou a respeito do desconhecimento do Encore por parte de estudantes de
música, músicos e professores de sua convivência.
Eu acho que o Encore é uma grande ferramenta, mas é pouco divulgado,
que tem pessoas que tocam na minha família e aprendem por partitura
também e já são professores e o Encore parece que foi uma grande
novidade quando falei para eles. Eu acho que ele deveria ser muito mais
divulgado. (RINALDO, 03 nov. 2006).
A postura de desconhecimento e resistência com relação ao uso das
tecnologias é um tema abordado pelos estudiosos. Kassner denomina de tecnofobia
as atitudes de receios em utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), ou mesmo em participar em projetos de pesquisa nesta área (KASSNER apud
FICHEMAN, et al., 2003, p.161).
Nesse sentido, é relevante pensar na inclusão desse assunto no que tange
aos novos papéis que o professor deve assumir na atualidade. Além disso, é
necessário ter em vista as necessidades que o mesmo necessita buscar para poder
32. 32
empregar as ferramentas existentes. Além disso, urge uma maior reflexão sobre o
assunto, incluindo o entendimento dos propósitos, compreensão e integração das
atividades dos recursos.
33. 33
CONCLUSÃO
O presente trabalho pretendeu investigar os efeitos do uso de software
Encore na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em vista
o ensino particular de acordeon para alunos iniciantes. Esta pesquisa foi estruturada
a partir do método de estudo de caso, tendo como técnicas de pesquisa a
observação participante e a realização de entrevistas semi-estruturadas.
Depois de realizadas as entrevistas e efetuadas as suas transcrições,
juntamente com os dados da observação participante, consegui ampliar e
compreender melhor esta situação do uso de um software como suporte para o
ensino e o estudo do acordeon e educação musical dos alunos. Para a
fundamentação teórica selecionei autores que estão em sintonia com esta proposta,
entre eles Fritsch et al. (2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006)
e Pablos (2006).
O uso de recursos tecnológicos, como o computador e a internet, não só
desperta nos alunos o interesse em estudar, mas também os prepara para a
integração com a atual sociedade altamente tecnológica em que vivemos. Quando o
professor insere a tecnologia em sala de aula, acaba por perder o status de única
34. 34
fonte do conhecimento, passando a ser um colaborador no processo de descoberta
e aquisição de conhecimento.
A introdução da tecnologia e, nesse caso, do computador, começa a apontar
para um novo processo de ensino e aprendizagem: a construção do conhecimento
pelo próprio aluno passa, assim, a ser “uma nova oportunidade para repensar e
melhorar a educação” (SANCHO, 2006, p. 19). As relações entre professor e aluno
são modificadas, e as responsabilidades individuais aumentam, sendo necessário
que, tanto alunos, quanto professores, se envolvam no processo, tomando a
iniciativa de participarem da construção do conhecimento.
Mesmo o Encore não sendo um software especificamente projetado para o
ensino do acordeon, serviu-me de suporte para o desenvolvimento desta pesquisa, o
que se apresentou nas falas dos alunos. Segundo os mesmos – Rinaldo e Maykel –
o Encore constituiu-se em uma importante alternativa e estratégia no aprendizado. A
rápida resposta dada pelas ferramentas e pelo programa auxiliou na condução da
aprendizagem, produtividade e autonomia dos alunos.
Há que se salientar a urgência quanto aos professores inteirarem-se das TIC,
pois eles – nós – teremos que “redesenhar seu papel e sua responsabilidade na
escola atual” (SANCHO, 2006, p. 36). Destaco, também, a importância quanto ao
acordeon, onde a formação e atualização pedagógica e metodológica carecem de
esforços significativos e melhorias, esta realidade não pode deixar de ser
contemplada e inserida por seus agentes, fundamentalmente podendo ser uma
35. 35
ferramenta para obter um benefício especificamente motivador, educativo e
formativo para o aluno e professor.
O término desta pesquisa aponta para a necessidade de uma ampliação,
aperfeiçoamento e avaliação da presença das tecnologias de informação e
comunicação no ensino. Esta pesquisa poderá ser ampliada sendo então focado nos
professores de acordeon. Buscando esclarecer questões como: Onde os
professores aprenderam ou aprendem atualmente acordeon? Onde buscam
aperfeiçoamento, atualização e materiais didáticos? A tecnologia em que e como
poderá auxiliar na formação, metodologia e avaliação do professor de acordeon?
Tenho consciência de que o assunto não foi, absolutamente, esgotado.
Porém, para a finalidade desta pesquisa, bem como ao seu propósito, acredito que
tenha conseguido alcançar o intento.
36. 36
REFERÊNCIAS
ALBERTI, V. Manual da história oral. 2. ed. rev. e atual Rio de Janeiro: FGV, 2004.
ANDRÉ, M. E. D. A. Diferentes tipos de pesquisa qualitativa. In: _____. Etnografia
da prática escolar. São Paulo: Papirus, 1995, p. 27-33.
BOZZETTO, A. Ensino particular de música: práticas e trajetórias de
professores de piano. Porto Alegre: UFRGS/FUNDARTE, 2004.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 7.ed. São Paulo:
Cortez, 2005.
ESTEVE, J. M. A terceira revolução educacional: a educação na sociedade do
conhecimento. Traduzido por: Cristina Antunes. São Paulo: Moderna, 2004.
FLORES, L. V. Conceitos e tecnologias para educação musical baseadas na
Web. Porto Alegre: UFRGS, 2002. Dissertação (Mestrado Computação), Programa
de Pós-Graduação em Computação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2002.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
FRITSCH, E. F. et al. Educação musical auxiliada por computador: algumas
considerações e experiências. Porto Alegre: CINTED-UFRGS, 2 n. 1, mar. 2004.
Disponível em: Acesso em: 12 out. 2006.
FRITSCH, E. F. et al. Software musical e sugestões de aplicação em aulas de
música. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEM, L. (org). Ensino de música: propostas
para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 141-157.
FICHEMAN, I. et al. Dos receios à exploração das possibilidades: formas de uso de
software educativo-musical. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. (orgs.). Ensino de
música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna,
2003. p. 158-175.
GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
37. 37
KRÜGER, S. E. Educação musical apoiada pelas novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC): pesquisas, práticas e formação de docentes.
ABEM, Porto Alegre, v. 14, p. 75-89, mar. 2006.
LUDKE, M.; ANDRË, M. E. D. A. Abordagens qualitativas de pesquisa: a pesquisa
etnográfica e o estudo de caso. In:______. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, p. 11-24.
PABLOS, J. de. A visão disciplinar no espaço das tecnologias da informação e
comunicação. In: SANCHO, Juana M. et al. Tecnologias para transformar a
educação. Traduzido por: Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 63-83.
SANCHO, J. M. De tecnologias da informação e comunicação a recursos educativos.
In: SANCHO, Juana M. et al. Tecnologias para transformar a educação.
Traduzido por: Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 15-41.
SCHMELING, A. Cantar com as mídias eletrônicas: um estudo de caso com
jovens. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Dissertação (Mestrado em Música), Programa
de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Música, Instituto de Artes,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
SOUZA, J. Sobre as múltiplas formas de ler e escrever música. In: Neves I. (Orgs.).
Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, 1998, p. 205-214.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação: São Paulo: Atlas, 1987.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamentos e métodos. Traduzido por: Daniel
Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
39. 39
APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada
DADOS DE IDENTIFICAÇÂO
1) Nome completo:
2) Idade:
3) Endereço:
ROTEIRO DE QUESTÕES
1) Com que idade começaste a tocar acordeon? Com quem aprendeste? E
como aprendeste?
2) Quais tuas maiores dificuldades no instrumento?
3) O uso do Encore auxilia no teu aprendizado? Por quê?
4) O ritmo (divisão) e leitura musical ficam mais claros com o Encore?
5) Qual outro elemento consideras importante no uso do Encore?
6) Poderias descrever teu processo de aprendizagem no acordeon com auxílio
do Encore?
7) Gostarias de abordar sobre mais algum aspecto que avalias relevante para
o tema?