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FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ARTES DE MONTENEGRO - FUNDARTE
  UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL – UERGS
     CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA




                ADRIANO JOSÉ PERSCH




O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
     um estudo de caso utilizando o software Encore




                    MONTENEGRO – RS
                          2006
ADRIANO JOSÉ PERSCH




O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
     um estudo de caso utilizando o software Encore




                     Monografia apresentada como exigência para
                     conclusão do curso de Graduação em Música:
                     Licenciatura à Universidade Estadual do Rio
                     Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de
                     Montenegro.



                    Orientadora: Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel




                       Montenegro
                           2006
ADRIANO JOSÉ PERSCH




   O ensino particular de acordeon auxiliado por computador:
        um estudo de caso utilizando o software Encore



                          Monografia apresentada como exigência para
                          conclusão do curso de Graduação em Música:
                          Licenciatura à Universidade Estadual do Rio
                          Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de
                          Montenegro.




                         Banca examinadora


__________________________________________________________
         Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel (Orientadora)


__________________________________________________________
              Profª. Dra. Maria Cecília de Araújo Torres


__________________________________________________________
                    Profª. Ms. Júlia Maria Hummes


__________________________________________________________
                     Profª. Ms. Lélia Negrini Diniz


                Montenegro, 24 de novembro de 2006
Dedico este trabalho a memória de meus pais,
Roque José Persch e Maria Erica Persch.
AGRADECIMENTOS


        Aos professores e funcionários da FUNDARTE.

        À professora Cristina Rolim Wolffenbüttel, pela sua sensibilidade, seu

conhecimento, paciência e sabedoria em orientar-me nesta pesquisa.

        À banca examinadora formada pelas professoras Maria Cecília de Araújo

Torres, Júlia Maria Hummes e Lélia Negrini Diniz, por suas contribuições e valiosos

comentários.

        Aos amigos Maykel Andriotti e Rinaldo Colisse.

        A todos os meus alunos, com os quais aprendo muito.

        Aos amigos André Machado, Daniel Castilhos, Fernando Santos e Luciano

Rhoden, pela compreensão e apoio.
Com as palavras todo cuidado é pouco,
mudam de opinião como as pessoas.


                       José Saramago
RESUMO



Este estudo teve como objetivo investigar as contribuições do uso de software
Encore na educação musical, tendo em vista o ensino particular de acordeon para
alunos iniciantes. Esses objetivos foram respaldados nas seguintes questões de
pesquisa: Quais as maiores dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore
auxilia no aprendizado do acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias
na educação musical? A metodologia utilizada foi o estudo de caso, sendo as
técnicas de pesquisa a observação participante e a entrevista semi-estruturada.
Para compreender o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na
educação, empreguei como referencial teórico os trabalhos de pesquisadores como
Pablos (2006) e Sancho (2006). Além desses estudos, também procurei
transversalisar a análise, utilizando as pesquisas de Fritsch et al. (2003), Ficheman
et al. (2003), e Krüger (2006).


Palavras-chave: tecnologia em educação musical, espaços de aprendizagem, ensino
de acordeon.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9

1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM ........................................................................... 13

2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL ......................................................... 15

3 METODOLOGIA ................................................................................................... 19
     3.1 Estudo de caso ........................................................................................ 19
     3.2 Observação participante .......................................................................... 21
     3.3 A entrevista semi-estruturada .................................................................. 22
     3.4 Os entrevistados................ ...................................................................... 24
     3.5 Procedimentos de análise de dados ........................................................ 25

4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 27
     4.1 Professores de acordeon ......................................................................... 27
     4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon ....................................... 28

CONCLUSÃO .................... ..................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 36

APÊNDICE A - Partitura musical com uso de cores ................................................ 38
APÊNDICE B – Roteiro da entrevista semi-estruturada ........................................... 39
APÊNDICE C – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 40
APÊNDICE D – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 41
ANEXO A – Endereços de sites com partituras gratuitas ........................................ 43
INTRODUÇÃO



        A pesquisa que resultou neste trabalho teve como ponto de partida

questionamentos e procedimentos que poderiam vir a auxiliar minha atuação nas

aulas particulares de acordeon, além de colaborar para um melhor entendimento e

aproveitamento dos alunos em suas práticas e estudos no instrumento.



        A idéia de propor um mecanismo de ensino de música com auxilio de um

software partiu da minha própria experiência em sala de aula onde, em muitos

momentos, senti a necessidade de um aprimoramento, com mais freqüência e

continuidade para com os alunos nas práticas do instrumento e questões teóricas.



        Realizando, então, uma reflexão na minha formação e trajetória como

professor de acordeon, surgiu uma inquietação e necessidade de buscar ações e

pesquisas para ampliar meu conjunto metodológico docente. Ao reavivar estas

memórias, deparei-me com meu começo na aprendizagem do acordeon, no qual

passei por consideráveis problemas e dificuldades, que ora encontro nos meus

alunos na fase iniciante. Geralmente, estas dificuldades se apresentam através do

repertório, falta de gravações, partituras, leitura de partituras, dificuldades rítmicas,

“motivações”, além da falta de tempo dos alunos para a prática.
10



            Outra questão que me chama atenção relaciona-se aos alunos particulares.

Suas aulas práticas são individuais e ocorrem uma vez por semana, resultando por

não terem as aulas teóricas de percepção, aulas em grupo e práticas de música de

câmara.



            Comecei, então, a utilizar nas aulas que realizo em minha casa, um

software para edição de partituras, chamado Encore1. Sugeri aos alunos iniciantes,

que possuem computador, a instalação do mesmo em seus aparelhos. Durante

algumas aulas reservamos instantes para conversarmos, esclarecendo dúvidas e

estudando o funcionamento básico do programa incluindo digitação, busca,

salvamento e armazenamento de dados, entre outros. Também disponibilizei para

os alunos algumas apostilas, contendo informações sobre o programa, a fim de

levarem para suas casas.



            Neste editor de partituras, as músicas são escritas e enviadas por correio

eletrônico ou disquete para os alunos. Eles podem, assim, manusear o programa

ouvindo as peças, extraindo e ouvindo as vozes em separado, variando o

andamento, modificando os timbres, executando a música no instrumento,

juntamente com o computador, além de introduzir notas ou acordes no arranjo.

Como o acordeon trabalha com duas vozes e duas pautas (clave de sol e clave de

fá), o aluno tem a oportunidade de selecionar no programa uma voz, deixando em

silêncio a outra, e com o instrumento executar esta voz.




1
    GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
11



           Pablos (2006) aponta que as tecnologias podem facilitar a personalização

dos procedimentos de acesso à informação, bem como flexibilizar os processos de

aprendizagem. O pesquisador segue sua argumentação, explicando que as

alternativas como o ensino bimodal2 “permitem minimizar as limitações de tempo e

espaço que exige o ensino convencional” (PABLOS, 2006, p. 73).



           Portanto, a idéia que permeia o uso do editor de partituras, parte da

possibilidade de oportunizar a autonomia aos alunos para com seus estudos fora

das aulas, sem a presença do professor. Isto alarga a possibilidade para “que o

educando vá assumindo o papel de sujeito da produção de sua inteligência e não

apenas o de recebedor3 da que lhe seja transferida pelo professor” (FREIRE, 2004,

p. 124). A autonomia do aprendiz “vai se constituindo na experiência de várias,

inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” (FREIRE, 2004, p.107) e, em “certo

momento, assumindo a autoria também do conhecimento do objeto” (FREIRE, 2004,

p. 124).



           Cria-se uma variedade grande de possibilidades e interação, onde o

aprendizado da teoria musical poderá ser abordado, pois o programa o auxilia na

escrita e no entendimento. As composições podem ser ouvidas em casa, já que

muitas vezes os estudantes não dispõem de gravações das músicas. Os alunos que

ainda não dominam a leitura da partitura musical convencional, ou mesmo os que

sentem dificuldades em realizá-la, podem acompanhar a partitura sendo executada

no programa, inclusive selecionando trechos que ainda não estão memorizados.



2
  Consiste em combinar o trabalho presencial em aula ou laboratório com ensino a distância.
(PABLOS, 2006, p. 73).
3
  Grifo do autor.
12



        Também se abre uma janela de pesquisa na qual, de posse deste editor de

partituras, o estudante poderá encontrar na internet inúmeros sites de partituras para

fazer download para posteriormente serem tocadas, com possibilidades para ouvi-

las, modificá-las e executá-las.



        Nesse sentido, torna-se relevante desenvolver um trabalho objetivando

investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente dos

editores musicais, e tendo em vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes.
13




1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM



        Os motivos que levam os alunos a optarem pelo estudo do acordeon em

aulas particulares são vários. Dentre estes podem ser citados a busca por um

repertório variado e, com isso, não se submetendo a um programa da instituição,

maleabilidade dos horários, esperando por encontrar maior liberdade para os

estudos, sem testes ou menos cobranças que num estabelecimento formal.



        Praticamente todos os alunos que atendo em casa são adultos, profissionais

liberais, e que possuem um escasso tempo para poderem se dedicar à prática do

instrumento. Além disso, muitas vezes eles não apresentam a pretensão de se

profissionalizarem. Neste contexto, Bozzetto (2004, p. 32) afirma que “o acordo entre

o professor e aluno precisa ser formado a partir tanto dos objetivos quanto das

possibilidades de cada um”. Outras funções do professor particular são apontadas

por Bozzetto, quando a pesquisadora argumenta a respeito dos



                     alunos de qualquer idade e nível de conhecimento, que têm como objetivo
                     que o aluno conquiste sua autonomia artística e intelectual, que participe da
                     vida cultural de seu contexto e que a música, da forma que for possível,
                     faça sentido em sua vida, mesmo quando o aluno decidir parar de estudar.
                     (BOZZETTO, 2004, p. 32).
14



       Transformar o ambiente familiar em espaço de trabalho requer negociações e

limites, “principalmente quando existem outras pessoas dividindo e compartilhando o

mesmo espaço físico” (BOZZETTO, 2004, p.33).



         Atualmente, segundo minhas pesquisas, o acordeon não possui nenhum

estabelecimento formal reconhecido por instituições oficiais que regulamentem e

fiscalizem seu ensino. Então, os espaços de ensino geralmente acontecem em

escolas e em conservatórios - através de cursos livres - além de espaços informais.

Mas, a grande parcela de estudantes acaba por procurar professores particulares.

Isto gera um distanciamento da classe, sem opções de compartilhar e trocar

informações com colegas de profissão.



         Nesse contexto, surgem as seguintes questões: Quais as maiores

dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore auxilia no aprendizado do

acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias na educação musical?



         Estas questões remetem à necessidade do empreendimento de uma

investigação em torno do assunto. Nesse sentido, esta pesquisa tem por objetivo

geral investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente

dos editores musicais, tendo em vista o ensino particular de acordeon para alunos

iniciantes.
15




2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL



        A inserção de tecnologia no estudo, pesquisa, aprendizagem e avaliação

musical ainda apresentam restrições por parte de muitos professores. Essa

perspectiva é enfatizada por Fritsch et al., que apontam que “essa resistência ainda

é compreensível quando parte de pessoas das ciências humanas e das artes, como

é o caso da música, que possuem pouco contato com recursos tecnológicos” (2003,

p. 141). Porém, Krüger (2006, p.79) destaca um importante dado para o uso de

tecnologias atualmente na educação musical brasileira, trazendo à tona que ainda é

pouco comum devido aos custos dos equipamentos (computadores, softwares,

provedor de internet, etc.), apoio técnico freqüente e capacitação docente.



        Conforme Krüger (2006), a educação musical tem sido provocada a passar

por uma cadeia de modificações. A autora segue afirmando que as



                      novas Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC – desafiam-nos a
                      transformar nossos conceitos educacionais, nossas perspectivas didáticas,
                      nos constrangem a rever e completar nossa formação, nos levam a refletir
                      sobre as novas possibilidades e exigências quanto às interações com
                      nossos alunos e colegas. (KRÜGER, 2006, p. 75).



        Somando-se a essa idéia, Pablos (2006) confirma que a inclusão das novas

tecnologias digitais pode exercer um papel fundamental na inovação das funções
16



docentes (e também na criação das novas formas de pesquisa). Nesse sentido, para

Pablos, trata-se de



                      flexibilizar os processos de aprendizagem aproveitando ao máximo os
                      recursos das tecnologias digitais como a internet. Hoje é possível relativizar
                      os condicionantes de tempo e espaço. Trata-se de acumular experiência e
                      se arriscar a mudar modelos, rotinas e formas de trabalho baseados em
                      conceitos e procedimentos em alguns casos seculares e, portanto,
                      vinculados a modelos talvez atualmente defasados. (PABLOS, 2006, p. 73).



        Um aspecto a ser questionado na perspectiva da presença e auxílio de

tecnologias no uso educativo reside no fato de que sua utilização não significa, por si

mesmos, uma garantia de qualidade, tal qual “uma oferta pedagógica” (PABLOS,

2006, p. 73).    Necessitamos estar atentos às novas tecnologias, para que as

mesmas não se transformem em meras transposições de livros-texto ou exercícios,

bem como “para que concepções educativo-musicais já em desuso não sejam

novamente instituídas e divulgadas com uma nova roupagem pelo simples fato de

estarem disponíveis em uma nova mídia” (KRÜGER, 2006, p. 76).



        Portanto, amparado pelo discurso de Krüger (2006) e Pablos (2006),

acredito que o processo de educação, em qualquer área, possa lançar mão de todo

tipo de recurso que facilite a aquisição do conhecimento. Cabe ao educador

identificar, com a mente aberta e sem preconceitos, a cada momento, qual tipo de

material pedagógico é o mais indicado para ajudar a atingir a um determinado

objetivo. A informática, bem como a internet, são hoje ferramentas que funcionam

como facilitadoras do “acesso ao conteúdo educativo” (FLORES, 2002, p.16). O que

vai ao encontro da proposição de Pablos (2006, p. 74), que argumenta a respeito de

que “a contribuição mais significativa das tecnologias, [...] é a capacidade para

intervir como mediadoras nos processos de aprendizagem”. Nesse sentido, são
17



indispensáveis para o professor que queira ampliar seus instrumentos pedagógicos.

Vale salientar que o professor precisa estar em constante atualização e

aperfeiçoamento nas questões tecnológicas.



        Deve-se entender que a implementação de novas tecnologias no ensino

musical, como defendem Fritsch et tal. (2004), não pode e não deve substituir o

educador, mas sim, necessita ser vista como mais uma possibilidade para auxiliar o

professor na prática do ensino. Comunga desta mesma opinião Esteve (2004), que

acrescenta que o uso dessas novas tecnologias não suporia prescindir do professor,



                     ao contrário, permitiria que ele se centrasse nas tarefas mais importantes
                     que pode desempenhar, e nas quais é absolutamente imprescindível:
                     ensinar ao aluno o valor do que é aprendido, ajuda-lo a relacionar a nova
                     aprendizagem com aprendizagens anteriores, e integrar as novas
                     aprendizagens nos esquemas conceituais com os quais vive sua vida e
                     interpreta os acontecimentos do mundo que o rodeia. (ESTEVE, 2004, p.
                     184).



      Este mesmo autor segue considerando e validando a importância da

presença e mediação do professor no ensino/aprendizagem do aluno.



                     o professor será imprescindível para ensinar o aluno a aprender por si
                     mesmo, o que supõe iniciá-lo no uso dessas tecnologias como meio de
                     aprendizagem, e fazê-lo compreender o que pode esperar delas e o que
                     não pode encontrar nelas. (ESTEVE, 2004, p. 184).




        A respeito dos níveis de utilização de softwares na educação musical,

Fritsch et al. (2004) apresentam o seguinte:



                      1.    O uso de software musical em geral (editores de partituras,
                      seqüenciadores, etc.) como ferramenta educativa, embora não tenha sido
                      criado especificamente com este objetivo em mente;
18


                        2.    O uso de software especificamente educativo-musical (treinamento
                        auditivo, tutores teóricos musicais, etc.), criado especificamente para
                        educação musical; e
                        3.    A programação sônica, que permite aos músicos a criação de seu
                        próprio software, adaptando a uma estratégia de ensino particular ou para
                        situações de ensino específicas que envolvam programação de
                        computadores (ensino de composição eletroacústica, por exemplo).
                        (FRITSCH et al., 2004, p. 3).



      Particularmente, nesta pesquisa, procurei utilizar a análise do nível 1 de

Fritsch et al., no que diz respeito ao uso de software musical em geral como

ferramenta educativa.



        O Encore, um dos softwares existentes no mercado para a criação e edição

de partituras, por exemplo, serve para


                     editar e imprimir partituras, permitindo a inserção de notas tanto com o
                     mouse como pela execução diretamente em instrumento MIDI. A gravação
                     e execução em tempo real da música por meio de instrumento MIDI são
                     características interessantes. Além disso, permite importar arquivos-padrão
                     do formato MIDI gerados por outros programas. Geralmente possuem
                     bastante flexibilidade, permitindo escolher tipos de pautas (normal,
                     tablatura, ritmo), símbolos musicais, múltiplas vozes por pauta etc., além de
                     oferecer recursos para a edição da letra da música. Há também facilidades
                     para se acessar e extrair partes da partitura e a impressão, em geral, pode
                     ser dimensionada e configurada pelo usuário. (FRITSCH, 2003, p. 146).



        Sendo um software para edição gráfica, o Encore oferece recursos de

manipulação de objetos gráficos – signos musicais (pautas, claves, figuras rítmicas,

cifras, andamentos, etc.). Outra possibilidade do Encore é a utilização de cores

diferentes em objetos ou símbolos da partitura, o que facilita a visualização dos

mesmos durante o processo de edição da partitura, ou mesmo funciona para

destacar, valorizar e apreciar alguma passagem ou trecho da música (ver

APÊNDICE A).
19




3 METODOLOGIA



        Esta pesquisa, que teve por proposta investigar os efeitos do uso de

software na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em

vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes, utilizou como método de pesquisa

o estudo de caso, sendo empregadas como técnicas de pesquisa a observação

participante dos alunos durante as aulas e a entrevista semi-estruturada.



        Através de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas e, após a transcrição

dos dados coletados, passei à análise dos mesmos, procurando descobrir e

aprimorar a eficácia e contribuição do software no aprendizado musical.



        Sobre o método de pesquisa utilizado, qual seja, o estudo de caso, passo a

explicar a seguir.



        3.1 Estudo de caso



        O estudo de caso versa em uma exposição meticulosa, profunda e
demarcada do tema proposto, constituindo e delimitando, assim, uma unidade.
Lüdke e Andrë afirmam que o
20


                         caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente
                         definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é
                         ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio e singular. (LUDKE;
                         ANDRË, 1986, p.17).



             Outra ponderação a ser feita, relaciona-se ao fato de que, mesmo o

investigador partindo de alguns pressupostos teóricos iniciais, “ele procurará se

manter constantemente atento a novos elementos que poderão emergir como

importantes durante o estudo” (LUDKE; ANDRË, 1986, p.18). O estudo de caso

pode ser usado para determinar e investigar, então, se as proposições de uma teoria

ou tópico empírico estão corretas, seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-

estabelecidos.



                         O quadro teórico inicial servirá assim de esqueleto, de estrutura básica a
                         partir da qual novos aspectos poderão ser detectados, novos elementos ou
                         dimensões poderão ser acrescentados, na mediada que o estudo avance.
                         (LUDKE; ANDRË, 1986, p.18).



             Após a seleção e delimitação do caso fez-se necessário reunir informações

com o trabalho de campo específico e proceder às análises sobre os elementos

determinados a partir dos quais se possa compreender.



                         O trabalho de campo visa reunir e organizar um conjunto comprobatório de
                         informações. A coleta de informações em campo pode exigir negociações
                         prévias para se aceder a dados que dependem de anuência de hierarquias
                         rígidas ou da cooperação das pessoas informantes. As informações são
                         documentadas, abrangendo qualquer tipo de informação disponível, escrita,
                         oral, gravada, filmada que se preste para fundamentar o relatório4 do caso
                         que será, por sua vez, objeto de análise crítica pelos informantes ou por
                         qualquer interessado. (CHIZZOTTI, 2005, p.103).



             Desta forma, esta estratégia de pesquisa, o estudo de caso, proporcionou

um contato direto com os alunos. Além disso, possibilitou uma melhor compreensão



4
    Grifo do autor.
21



e delimitação das possíveis melhoras no uso do software para com o ensino de

acordeon.



        A fim de coletar os dados necessários para esta investigação utilizei duas

técnicas de pesquisa, a observação participante e a entrevista semi-estruturada.

Sobre as mesmas, passo a tecer explicações.



        3.2 Observação participante



        A justificativa para a realização das observações que realizei durante as

aulas de acordeon que ministrei para os alunos investigados, estão em consonância

com as proposições de Chizzotti (2005), que as designa de observação participante.

Segundo seus estudos, a observação participante é “obtida por meio do contato

direto do pesquisador com fenômeno observado, para recolher as ações dos atores

em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista”

(CHIZZOTTI, 2005, p. 90). Também é importante destacar que, conforme Yin (2005),

é a competência de compreender o fato do ponto de vista de alguém que está

inserido no estudo de caso, podendo produzir um retrato cuidadoso do

acontecimento.



                    A observação participante é uma modalidade especial de observação na
                    qual você não é apenas um observador passivo. Em vez disso, você pode
                    assumir uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de
                    fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. (YIN, 2005, p 121).



        Andrë (1985) explica que a observação participante é assim denominada,

porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de influência
22



mútua com a circunstância estudada, “afetando-a e sendo por ela afetado” (ANDRË,

1995, p. 28).



        Utilizei a observação participante porque, estando em contato direto com os

alunos durante as aulas, obtive um acesso privilegiado podendo, assim, captar

vários detalhes, situações ou elementos diretamente ligados à realidade do contexto.



        Além da observação participante, minha pesquisa pode ser ampliada

através da realização de entrevistas com meus alunos. Sobre esta técnica de

pesquisa, particularmente sobre a entrevista semi-estruturada, explico mais

detalhadamente a seguir.



        3.3 A entrevista semi-estruturada


        Conforme Yin (2005), a técnica da entrevista configura-se como uma “das

mais importantes fontes de informações para um estudo de caso” (YIN, 2005, p.

116). Consiste numa coleta de dados com uma ou mais pessoas, tendo por objetivo

levantar maiores informações para a compreensão e análise do objeto de estudo.

Colabora, assim, para ampliar, aprofundar, conhecer e esclarecer as opiniões do

entrevistado; além disso, auxilia no levantamento de suposições e aferições, tendo

em vista o referencial teórico, assinalando para o caminho pretendido.



        A entrevista semi-estruturada é uma técnica de pesquisa que propõe

questionamentos, procurando obter os dados a respeito do tema pesquisado. Além

disso, baseia-se, apenas, em uma ou poucas questões/guias, quase sempre

abertas. Nem todas as perguntas elaboradas são utilizadas durante a realização da
23



entrevista, também sendo possível introduzir outras questões que surgem de acordo

com o que acontece no processo em relação às informações que se deseja obter.



                     Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que
                     parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses,
                     que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de
                     interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
                     recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante,
                     seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas
                     experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a
                     participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 1987, p.
                     146).



        O roteiro que elaborei para a realização das entrevistas foi baseado em

questões diversas, dentre as quais os dados de identificação, a idade que o aluno

iniciou seus estudos musicais, bem como o tempo em que o aluno estuda o

acordeon. Complementei as questões, incluindo as perguntas acerca dos

professores com os quais o aluno estudou, as dificuldades apresentadas no

instrumento, além das opiniões do aluno sobre o Encore e o aprendizado do

acordeon (ver APÊNDICE B).



        A entrevista foi realizada individualmente, sendo que investiguei dois alunos

que estudam o instrumento há mais de um ano. Utilizei-me do registro sonoro da

gravação, através da fita-cassete. Posteriormente, as duas gravações foram

transcritas, a fim de serem utilizadas para a análise e tranversalização dos dados.



        Após ter tecido comentários sobre o método utilizado nesta investigação,

bem como das duas técnicas empregadas passo, a seguir, a apresentar algumas

informações sobre os entrevistados nesta pesquisa.
24



        3.4 Os entrevistados


        Para a escolha dos entrevistados procurei contemplar e definir alunos

particulares de acordeon que já estudam comigo há, pelo menos, um ano. Para

tanto, foram selecionados dois adultos jovens que possuem atividades e profissões

distintas. Ambos iniciaram o estudo do acordeon na fase adulta, e dispõem de pouco

tempo para a prática e para o estudo de música.



        Por motivos éticos, informei aos entrevistados que seus depoimentos seriam

tratados com sigilo. Após a realização das entrevistas, realizei suas transcrições e

entreguei-as para os entrevistados, a fim que pudessem ler, analisar, reestruturar o

que achassem necessário, ampliando, corrigindo ou modificando trechos das

mesmas. Segundo Alberti (2004), com esse procedimento, “o entrevistado tem a

possibilidade de rever o que falou, fazer novas considerações, ampliar outras e, se

achar conveniente, alterar algumas passagens” (ALBERTI, 2004, p. 228). Em

relação aos nomes, desde os primeiros contatos, até a realização das entrevistas,

ambos fizeram questão de ser identificados pelo primeiro nome.



        O primeiro entrevistado foi Maykel, que possui 27 anos. Atualmente, ele

trabalha na área da informática, prestando serviços de manutenção e suporte de

computadores para empresas. Está cursando a faculdade de Ciências Econômicas.



        Rinaldo, o segundo entrevistado, tem 39 anos. Ele trabalha como Gerente

de Vendas em uma empresa, e é estudante de Gestão Financeira.
25



         Quanto ao local das entrevistas, as duas ocorreram em minha residência,

por escolha e sugestão dos próprios entrevistados. A entrevista com o Maykel

aconteceu logo após a sua aula de acordeon. Rinaldo, por sua vez, preferiu realizá-

la em momento diferente de sua aula.



         A opção por incluir estes dois alunos na pesquisa deveu-se, também, ao

fato de ambos participarem de uma aula semanal com duração de sessenta minutos,

onde é também necessário trabalhar neste período de tempo as questões relativas

ao instrumento, técnica e repertório, à teoria e à percepção musical.



         Conhecidas as informações relativas ao método, técnicas de pesquisa, além

dos entrevistados, explico como foi minha opção pelos procedimentos de análise de

dados.



         3.5 Procedimentos de análise de dados



         Análise de dados serviu para objetivar e organizar o material até então

coletado. Após a transcrição das entrevistas dos dois alunos, realizei várias leituras

e anotações relevantes para a análise, sentindo-me mais familiarizado com as

informações até então reunidas. Também destaquei trechos e frases que pudessem

vir a contribuir para o entendimento do tema pesquisado.



         Em alguns trechos isolados dos discursos houve a necessidade de uma

pequena revisão do texto original, para a retirada de alguns clichês da oralidade e

obter uma fluência e auxiliar na compreensão, sem o intuito de modificar ou alterar

qualquer aspecto ao que tange ao conteúdo fornecido pelo entrevistado.
26



        De posse destas informações, cruzei os dados obtidos através da

observação participante com os das entrevistas semi-estruturadas, assim como ao

referencial teórico que utilizei ao longo deste trabalho, entre eles Fritsch et al.

(2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006) e Pablos (2006), com

os quais dialogo e apresento os resultados que obtive em minha pesquisa empírica.
27




4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS


          A partir desse momento, passo a dialogar com os dois entrevistados,

mostrando os depoimentos que emergiram nas entrevistas juntamente com as

observações e percepções que fui notando e acumulando durante o período em que

utilizei o programa Encore como complemento do estudo do acordeon desses

alunos.



          4.1 Professores de acordeon



          Neste   subcapítulo    apresento      dados      referentes     às    respostas      dos

entrevistados sobre os professores de acordeon com os quais já estudaram.

Apresento, também, informações sobre as maiores dificuldades que os alunos

alegam possuir na execução do acordeon.



          Maykel nunca havia tocado acordeon, e iniciou seus estudos de instrumento

comigo (Adriano Persch), há cerca de um ano. Revelou que recebeu instruções

iniciais para identificar os diversos mecanismos e componentes do acordeon e seu

funcionamento, conforme revelou em sua fala.



                      identificação e posição das notas no teclado, identificação dos baixos e
                      acordes, o uso de sustenidos e bemóis e também a importância de um bom
                      controle no fole [...] comecei a receber as primeiras partituras para executar
                      as músicas propostas. (MAYKEL, 03 nov. 2006).
28



            Rinaldo freqüentou aulas de acordeon durante sete meses, no ano de 1989,

na cidade de Porto Alegre/RS. Após este período, interrompeu seus estudos. Muitos

anos depois, retomou seus estudos no instrumento na mesma escola, porém com

outra professora. Atualmente Rinaldo retornou aos estudos do acordeon comigo.



            Ambos revelaram nas entrevistas – o que também pude observar através

das observações em aula - que suas maiores dificuldades no instrumento

relacionam-se à coordenação motora.



                           Creio que a coordenação entre os baixos e o teclado5 foi a minha maior
                           dificuldade. (MAYKEL, 03 nov. 2006).



            Outra dificuldade observada por Rinaldo refere-se à divisão do ritmo na mão

esquerda, quando ambas as mãos estão tocando. Para ele,



                           acertar o ritmo da baixaria6, e acertar o tempo da nota, que as vezes eu não
                           consigo fazer a divisão certas das notas, elas ficam misturadas. (RINALDO,
                           03 nov. 2006).



          As informações apresentadas anteriormente pelos alunos indicam a

necessidade do empreendimento de ações pedagógicas que venham ao encontro

de suas dificuldades, buscando alternativas de ensino. Escolhi, para esta finalidade,

valer-me do uso de tecnologias, principalmente do Encore.



            4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon




5
    Baixos tocados pela mão esquerda e teclado pela mão direita.
6
    Baixos.
29



        Neste capítulo insiro as informações fornecidas pelos entrevistados a

respeito do Encore como apoio no ensino e aprendizagem do acordeon.



        Para Rinaldo, o uso do Encore nas aulas não presenciais auxiliou na escuta

das músicas, pois a possibilidade de ouvir as duas vozes em separado trouxe uma

compreensão e maior clareza no entendimento da peça, bem como a leitura da

partitura convencional juntamente com sua escrita e símbolos.



                    Ele auxilia na parte de escutar. Quando tu pegas o ritmo da música, deixa
                    só a baixaria ou só as notas do teclado do piano. Então isso aí ele facilita
                    bastante. Fica mais claro, ele te dá como vou dizer, ele te dá o tempo da
                    nota na verdade. Você consegue ver o tempo certo nota, ele dá o espaço,
                    que é uma coisa que se tu esta tocando errado, nele tu consegue tirar a
                    dúvida. Com o Encore melhorou muito, por que antes eu tocava, o que é
                    que acontecia, uma coisa é ter a partitura, e tu pegar ela e ler para tocar.
                    Uma coisa é colocar ela no Encore e ter uma noção de como ela é tocada,
                    esta é uma grande diferença, por que tu consegue fazer a diferença se tu
                    esta indo no caminho certo ou pelo caminho errado, isso eu acho que é um
                    grande facilitador por que ele te mostra o certo na realidade. (RINALDO, 03
                    nov. 2006).



        O depoimento de Maykel, por sua vez, acrescentou que o Encore ajudou-o

na fase inicial, principalmente na escrita convencional de partituras, onde pode

relacionar um som com a escrita. Ele ainda acrescentou que quando começou a

estudar acordeon apresentava receios quanto à dificuldade de aprender a ler uma

partitura o que, de certo modo, é bastante comum. Com esta ferramenta, segundo

suas informações, pôde desmistificar esta imagem e perceber o quanto é importante

a escrita musical. Neste sentido, este depoimento vai ao encontro das pesquisas de

Souza (1998). Segundo a pesquisadora,



                    A importância da notação musical pode ser vista não só na função da
                    reprodução como também na de auxílio para um ouvir musical consciente,
                    preocupado com os meios técnicos utilizados pelo compositor, a estruturada
                    obra, o acompanhamento consciente do movimento e as curvas de tensão.
                    Ela pode, além disso, servir de ajuda para tirar a música de seu tempo
30


                        como, por exemplo, ouvir trechos, analisar, novamente ouvir seu todo. [...] a
                        notação musical torna a música mais compreensível, ao apresentar o seu
                        lado matemático, ajudando a perceber sua estrutura e organização.
                        (SOUZA, 1998, p. 210).



            Com o passar do tempo, Maykel buscou inúmeras partituras na internet em

sites (ver ANEXO A) que disponibilizam gratuitamente várias músicas, de diversos

gêneros musicais e instrumentos. Com este material que pesquisava na Internet,

percebi o quanto auxiliava-o em sua prática instrumental, além de ajudá-lo na leitura

musical. Isto devia-se ao fato de que ele possuía uma autonomia na escolha destas

músicas, o que ocorria por afinidade, gosto ou desafio de tocar uma peça que

apresentava uma dificuldade maior na execução. Muitas das partituras, ele mesmo

as trazia para serem estudadas em aula, e aproveitadas para compor seu repertório.

Neste sentido, Sancho (2006) corrobora dizendo que é de importância fundamental

o investimento nas tecnologias digitais, pois estaríamos contribuindo com o

desenvolvimento da “autonomia dos estudantes para gerenciar sua educação, para

que possam aprender perguntando e respondendo os desafios educativos e

formativos da sociedade atual” (SANCHO, 2006, p. 31). A mesma autora considera

que a



                        aprendizagem se baseia na troca e na cooperação, no enfrentamento de
                        riscos, na elaboração de hipóteses, no contraste, na argumentação, no
                        reconhecimento do outro e na aceitação da diversidade vê nos sistemas
                        informáticos, na navegação7 pela informação e na ampliação da
                        comunicação com pessoas e instituições geograficamente distantes a
                        respostas às limitações do espaço escolar. (SANCHO, 2006, p. 21).



            Nos dois depoimentos constatei outro ponto relevante a respeito da escrita e

audição imediata, o que é possível realizar com o Encore. Neste Maykel considera




7
    Grifo da autora.
31


                     importante a possibilidade de escrever e ao mesmo tempo ouvir o que está
                     sendo realizado. No processo de aprendizagem, essa funcionalidade tem
                     uma contribuição significativa. (MAYKEL, 03 nov. 2006).



        Rinaldo, por sua vez, acrescenta que atualmente é um desafio escrever no

Encore, mas acredita ser importante conseguir transcrever as músicas para o

programa.



                    importante no Encore é o desafio de transpor as músicas pra ele [...] ou tu
                    fazer alguma coisa diferente nele. Tu tens uma música e de repente vamos
                    botar esta nota, alguma coisa, pra ver se ela muda ou fica um arranjo
                    melhor ou não. (RINALDO, 03 nov. 2006).



        Um posicionamento que chamou minha atenção foi quando Rinaldo

comentou a respeito do desconhecimento do Encore por parte de estudantes de

música, músicos e professores de sua convivência.



                    Eu acho que o Encore é uma grande ferramenta, mas é pouco divulgado,
                    que tem pessoas que tocam na minha família e aprendem por partitura
                    também e já são professores e o Encore parece que foi uma grande
                    novidade quando falei para eles. Eu acho que ele deveria ser muito mais
                    divulgado. (RINALDO, 03 nov. 2006).



        A postura de desconhecimento e resistência com relação ao uso das

tecnologias é um tema abordado pelos estudiosos. Kassner denomina de tecnofobia

as atitudes de receios em utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação

(TIC), ou mesmo em participar em projetos de pesquisa nesta área (KASSNER apud

FICHEMAN, et al., 2003, p.161).



        Nesse sentido, é relevante pensar na inclusão desse assunto no que tange

aos novos papéis que o professor deve assumir na atualidade. Além disso, é

necessário ter em vista as necessidades que o mesmo necessita buscar para poder
32



empregar as ferramentas existentes. Além disso, urge uma maior reflexão sobre o

assunto, incluindo o entendimento dos propósitos, compreensão e integração das

atividades dos recursos.
33




CONCLUSÃO



        O presente trabalho pretendeu investigar os efeitos do uso de software

Encore na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em vista

o ensino particular de acordeon para alunos iniciantes. Esta pesquisa foi estruturada

a partir do método de estudo de caso, tendo como técnicas de pesquisa a

observação participante e a realização de entrevistas semi-estruturadas.



        Depois de realizadas as entrevistas e efetuadas as suas transcrições,

juntamente com os dados da observação participante, consegui ampliar e

compreender melhor esta situação do uso de um software como suporte para o

ensino e o estudo do acordeon e educação musical dos alunos. Para a

fundamentação teórica selecionei autores que estão em sintonia com esta proposta,

entre eles Fritsch et al. (2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006)

e Pablos (2006).



        O uso de recursos tecnológicos, como o computador e a internet, não só

desperta nos alunos o interesse em estudar, mas também os prepara para a

integração com a atual sociedade altamente tecnológica em que vivemos. Quando o

professor insere a tecnologia em sala de aula, acaba por perder o status de única
34



fonte do conhecimento, passando a ser um colaborador no processo de descoberta

e aquisição de conhecimento.



      A introdução da tecnologia e, nesse caso, do computador, começa a apontar

para um novo processo de ensino e aprendizagem: a construção do conhecimento

pelo próprio aluno passa, assim, a ser “uma nova oportunidade para repensar e

melhorar a educação” (SANCHO, 2006, p. 19). As relações entre professor e aluno

são modificadas, e as responsabilidades individuais aumentam, sendo necessário

que, tanto alunos, quanto professores, se envolvam no processo, tomando a

iniciativa de participarem da construção do conhecimento.



      Mesmo o Encore não sendo um software especificamente projetado para o

ensino do acordeon, serviu-me de suporte para o desenvolvimento desta pesquisa, o

que se apresentou nas falas dos alunos. Segundo os mesmos – Rinaldo e Maykel –

o Encore constituiu-se em uma importante alternativa e estratégia no aprendizado. A

rápida resposta dada pelas ferramentas e pelo programa auxiliou na condução da

aprendizagem, produtividade e autonomia dos alunos.



      Há que se salientar a urgência quanto aos professores inteirarem-se das TIC,

pois eles – nós – teremos que “redesenhar seu papel e sua responsabilidade na

escola atual” (SANCHO, 2006, p. 36). Destaco, também, a importância quanto ao

acordeon, onde a formação e atualização pedagógica e metodológica carecem de

esforços significativos e melhorias, esta realidade não pode deixar de ser

contemplada e inserida por seus agentes, fundamentalmente podendo ser uma
35



ferramenta para obter um benefício especificamente motivador, educativo e

formativo para o aluno e professor.



        O término desta pesquisa aponta para a necessidade de uma ampliação,

aperfeiçoamento e avaliação da presença das tecnologias de informação e

comunicação no ensino. Esta pesquisa poderá ser ampliada sendo então focado nos

professores de acordeon. Buscando esclarecer questões como: Onde os

professores aprenderam ou aprendem atualmente acordeon? Onde buscam

aperfeiçoamento, atualização e materiais didáticos? A tecnologia em que e como

poderá auxiliar na formação, metodologia e avaliação do professor de acordeon?



      Tenho consciência de que o assunto não foi, absolutamente, esgotado.

Porém, para a finalidade desta pesquisa, bem como ao seu propósito, acredito que

tenha conseguido alcançar o intento.
36




                                 REFERÊNCIAS



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CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 7.ed. São Paulo:
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GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
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KRÜGER, S. E. Educação musical apoiada pelas novas Tecnologias de
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qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, p. 11-24.

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In: SANCHO, Juana M. et al. Tecnologias para transformar a educação.
Traduzido por: Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 15-41.

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YIN, R. K. Estudo de caso: planejamentos e métodos. Traduzido por: Daniel
Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
38



APÊNDICE A – Partitura musical com uso de cores
39



        APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada



                      DADOS DE IDENTIFICAÇÂO



1) Nome completo:
2) Idade:
3) Endereço:


                       ROTEIRO DE QUESTÕES



1) Com que idade começaste a tocar acordeon? Com quem aprendeste? E
   como aprendeste?
2) Quais tuas maiores dificuldades no instrumento?
3) O uso do Encore auxilia no teu aprendizado? Por quê?
4) O ritmo (divisão) e leitura musical ficam mais claros com o Encore?
5) Qual outro elemento consideras importante no uso do Encore?
6) Poderias descrever teu processo de aprendizagem no acordeon com auxílio
   do Encore?
7) Gostarias de abordar sobre mais algum aspecto que avalias relevante para
   o tema?
40



APÊNDICE C – Exemplo de partitura editada no Encore
41




APÊNDICE D – Exemplo de partitura editada no Encore
42




ANEXOS
43




           ANEXO A – Endereços de sites com partituras gratuitas



A Agenda do Samba & Choro, o melhor da cultura brasileira. Disponível em:
<http://www.samba-choro.com.br/> Acesso em: 14 nov. 2006

Clavedesul. Disponível em: <http://pessoal.portoweb.com.br/clavedesul/> Acesso
em: 14 nov. 2006.

Partituras Encore. Disponível em: <http://www.partiturasencore.com/> Acesso em:
10 nov. 2006.

Partituras Solano Music.com Disponível em: <http://www.solanomusic.com/> Acesso
em: 10 nov. 2006.

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Ensino de acordeon com software

  • 1. FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ARTES DE MONTENEGRO - FUNDARTE UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL – UERGS CURSO DE GRADUAÇÃO EM MÚSICA: LICENCIATURA ADRIANO JOSÉ PERSCH O ensino particular de acordeon auxiliado por computador: um estudo de caso utilizando o software Encore MONTENEGRO – RS 2006
  • 2. ADRIANO JOSÉ PERSCH O ensino particular de acordeon auxiliado por computador: um estudo de caso utilizando o software Encore Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura à Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de Montenegro. Orientadora: Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel Montenegro 2006
  • 3. ADRIANO JOSÉ PERSCH O ensino particular de acordeon auxiliado por computador: um estudo de caso utilizando o software Encore Monografia apresentada como exigência para conclusão do curso de Graduação em Música: Licenciatura à Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/Fundação Municipal de Artes de Montenegro. Banca examinadora __________________________________________________________ Profª. Ms. Cristina Rolim Wolffenbüttel (Orientadora) __________________________________________________________ Profª. Dra. Maria Cecília de Araújo Torres __________________________________________________________ Profª. Ms. Júlia Maria Hummes __________________________________________________________ Profª. Ms. Lélia Negrini Diniz Montenegro, 24 de novembro de 2006
  • 4. Dedico este trabalho a memória de meus pais, Roque José Persch e Maria Erica Persch.
  • 5. AGRADECIMENTOS Aos professores e funcionários da FUNDARTE. À professora Cristina Rolim Wolffenbüttel, pela sua sensibilidade, seu conhecimento, paciência e sabedoria em orientar-me nesta pesquisa. À banca examinadora formada pelas professoras Maria Cecília de Araújo Torres, Júlia Maria Hummes e Lélia Negrini Diniz, por suas contribuições e valiosos comentários. Aos amigos Maykel Andriotti e Rinaldo Colisse. A todos os meus alunos, com os quais aprendo muito. Aos amigos André Machado, Daniel Castilhos, Fernando Santos e Luciano Rhoden, pela compreensão e apoio.
  • 6. Com as palavras todo cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas. José Saramago
  • 7. RESUMO Este estudo teve como objetivo investigar as contribuições do uso de software Encore na educação musical, tendo em vista o ensino particular de acordeon para alunos iniciantes. Esses objetivos foram respaldados nas seguintes questões de pesquisa: Quais as maiores dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore auxilia no aprendizado do acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias na educação musical? A metodologia utilizada foi o estudo de caso, sendo as técnicas de pesquisa a observação participante e a entrevista semi-estruturada. Para compreender o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na educação, empreguei como referencial teórico os trabalhos de pesquisadores como Pablos (2006) e Sancho (2006). Além desses estudos, também procurei transversalisar a análise, utilizando as pesquisas de Fritsch et al. (2003), Ficheman et al. (2003), e Krüger (2006). Palavras-chave: tecnologia em educação musical, espaços de aprendizagem, ensino de acordeon.
  • 8. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9 1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM ........................................................................... 13 2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL ......................................................... 15 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 19 3.1 Estudo de caso ........................................................................................ 19 3.2 Observação participante .......................................................................... 21 3.3 A entrevista semi-estruturada .................................................................. 22 3.4 Os entrevistados................ ...................................................................... 24 3.5 Procedimentos de análise de dados ........................................................ 25 4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................... 27 4.1 Professores de acordeon ......................................................................... 27 4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon ....................................... 28 CONCLUSÃO .................... ..................................................................................... 33 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 36 APÊNDICE A - Partitura musical com uso de cores ................................................ 38 APÊNDICE B – Roteiro da entrevista semi-estruturada ........................................... 39 APÊNDICE C – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 40 APÊNDICE D – Exemplo de partitura editada no Encore ........................................ 41 ANEXO A – Endereços de sites com partituras gratuitas ........................................ 43
  • 9. INTRODUÇÃO A pesquisa que resultou neste trabalho teve como ponto de partida questionamentos e procedimentos que poderiam vir a auxiliar minha atuação nas aulas particulares de acordeon, além de colaborar para um melhor entendimento e aproveitamento dos alunos em suas práticas e estudos no instrumento. A idéia de propor um mecanismo de ensino de música com auxilio de um software partiu da minha própria experiência em sala de aula onde, em muitos momentos, senti a necessidade de um aprimoramento, com mais freqüência e continuidade para com os alunos nas práticas do instrumento e questões teóricas. Realizando, então, uma reflexão na minha formação e trajetória como professor de acordeon, surgiu uma inquietação e necessidade de buscar ações e pesquisas para ampliar meu conjunto metodológico docente. Ao reavivar estas memórias, deparei-me com meu começo na aprendizagem do acordeon, no qual passei por consideráveis problemas e dificuldades, que ora encontro nos meus alunos na fase iniciante. Geralmente, estas dificuldades se apresentam através do repertório, falta de gravações, partituras, leitura de partituras, dificuldades rítmicas, “motivações”, além da falta de tempo dos alunos para a prática.
  • 10. 10 Outra questão que me chama atenção relaciona-se aos alunos particulares. Suas aulas práticas são individuais e ocorrem uma vez por semana, resultando por não terem as aulas teóricas de percepção, aulas em grupo e práticas de música de câmara. Comecei, então, a utilizar nas aulas que realizo em minha casa, um software para edição de partituras, chamado Encore1. Sugeri aos alunos iniciantes, que possuem computador, a instalação do mesmo em seus aparelhos. Durante algumas aulas reservamos instantes para conversarmos, esclarecendo dúvidas e estudando o funcionamento básico do programa incluindo digitação, busca, salvamento e armazenamento de dados, entre outros. Também disponibilizei para os alunos algumas apostilas, contendo informações sobre o programa, a fim de levarem para suas casas. Neste editor de partituras, as músicas são escritas e enviadas por correio eletrônico ou disquete para os alunos. Eles podem, assim, manusear o programa ouvindo as peças, extraindo e ouvindo as vozes em separado, variando o andamento, modificando os timbres, executando a música no instrumento, juntamente com o computador, além de introduzir notas ou acordes no arranjo. Como o acordeon trabalha com duas vozes e duas pautas (clave de sol e clave de fá), o aluno tem a oportunidade de selecionar no programa uma voz, deixando em silêncio a outra, e com o instrumento executar esta voz. 1 GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
  • 11. 11 Pablos (2006) aponta que as tecnologias podem facilitar a personalização dos procedimentos de acesso à informação, bem como flexibilizar os processos de aprendizagem. O pesquisador segue sua argumentação, explicando que as alternativas como o ensino bimodal2 “permitem minimizar as limitações de tempo e espaço que exige o ensino convencional” (PABLOS, 2006, p. 73). Portanto, a idéia que permeia o uso do editor de partituras, parte da possibilidade de oportunizar a autonomia aos alunos para com seus estudos fora das aulas, sem a presença do professor. Isto alarga a possibilidade para “que o educando vá assumindo o papel de sujeito da produção de sua inteligência e não apenas o de recebedor3 da que lhe seja transferida pelo professor” (FREIRE, 2004, p. 124). A autonomia do aprendiz “vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas” (FREIRE, 2004, p.107) e, em “certo momento, assumindo a autoria também do conhecimento do objeto” (FREIRE, 2004, p. 124). Cria-se uma variedade grande de possibilidades e interação, onde o aprendizado da teoria musical poderá ser abordado, pois o programa o auxilia na escrita e no entendimento. As composições podem ser ouvidas em casa, já que muitas vezes os estudantes não dispõem de gravações das músicas. Os alunos que ainda não dominam a leitura da partitura musical convencional, ou mesmo os que sentem dificuldades em realizá-la, podem acompanhar a partitura sendo executada no programa, inclusive selecionando trechos que ainda não estão memorizados. 2 Consiste em combinar o trabalho presencial em aula ou laboratório com ensino a distância. (PABLOS, 2006, p. 73). 3 Grifo do autor.
  • 12. 12 Também se abre uma janela de pesquisa na qual, de posse deste editor de partituras, o estudante poderá encontrar na internet inúmeros sites de partituras para fazer download para posteriormente serem tocadas, com possibilidades para ouvi- las, modificá-las e executá-las. Nesse sentido, torna-se relevante desenvolver um trabalho objetivando investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente dos editores musicais, e tendo em vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes.
  • 13. 13 1 ESPAÇOS DE APREDIZAGEM Os motivos que levam os alunos a optarem pelo estudo do acordeon em aulas particulares são vários. Dentre estes podem ser citados a busca por um repertório variado e, com isso, não se submetendo a um programa da instituição, maleabilidade dos horários, esperando por encontrar maior liberdade para os estudos, sem testes ou menos cobranças que num estabelecimento formal. Praticamente todos os alunos que atendo em casa são adultos, profissionais liberais, e que possuem um escasso tempo para poderem se dedicar à prática do instrumento. Além disso, muitas vezes eles não apresentam a pretensão de se profissionalizarem. Neste contexto, Bozzetto (2004, p. 32) afirma que “o acordo entre o professor e aluno precisa ser formado a partir tanto dos objetivos quanto das possibilidades de cada um”. Outras funções do professor particular são apontadas por Bozzetto, quando a pesquisadora argumenta a respeito dos alunos de qualquer idade e nível de conhecimento, que têm como objetivo que o aluno conquiste sua autonomia artística e intelectual, que participe da vida cultural de seu contexto e que a música, da forma que for possível, faça sentido em sua vida, mesmo quando o aluno decidir parar de estudar. (BOZZETTO, 2004, p. 32).
  • 14. 14 Transformar o ambiente familiar em espaço de trabalho requer negociações e limites, “principalmente quando existem outras pessoas dividindo e compartilhando o mesmo espaço físico” (BOZZETTO, 2004, p.33). Atualmente, segundo minhas pesquisas, o acordeon não possui nenhum estabelecimento formal reconhecido por instituições oficiais que regulamentem e fiscalizem seu ensino. Então, os espaços de ensino geralmente acontecem em escolas e em conservatórios - através de cursos livres - além de espaços informais. Mas, a grande parcela de estudantes acaba por procurar professores particulares. Isto gera um distanciamento da classe, sem opções de compartilhar e trocar informações com colegas de profissão. Nesse contexto, surgem as seguintes questões: Quais as maiores dificuldades para aprender acordeon? O que o Encore auxilia no aprendizado do acordeon? Qual a importância e inserção das tecnologias na educação musical? Estas questões remetem à necessidade do empreendimento de uma investigação em torno do assunto. Nesse sentido, esta pesquisa tem por objetivo geral investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em vista o ensino particular de acordeon para alunos iniciantes.
  • 15. 15 2 TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO MUSICAL A inserção de tecnologia no estudo, pesquisa, aprendizagem e avaliação musical ainda apresentam restrições por parte de muitos professores. Essa perspectiva é enfatizada por Fritsch et al., que apontam que “essa resistência ainda é compreensível quando parte de pessoas das ciências humanas e das artes, como é o caso da música, que possuem pouco contato com recursos tecnológicos” (2003, p. 141). Porém, Krüger (2006, p.79) destaca um importante dado para o uso de tecnologias atualmente na educação musical brasileira, trazendo à tona que ainda é pouco comum devido aos custos dos equipamentos (computadores, softwares, provedor de internet, etc.), apoio técnico freqüente e capacitação docente. Conforme Krüger (2006), a educação musical tem sido provocada a passar por uma cadeia de modificações. A autora segue afirmando que as novas Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC – desafiam-nos a transformar nossos conceitos educacionais, nossas perspectivas didáticas, nos constrangem a rever e completar nossa formação, nos levam a refletir sobre as novas possibilidades e exigências quanto às interações com nossos alunos e colegas. (KRÜGER, 2006, p. 75). Somando-se a essa idéia, Pablos (2006) confirma que a inclusão das novas tecnologias digitais pode exercer um papel fundamental na inovação das funções
  • 16. 16 docentes (e também na criação das novas formas de pesquisa). Nesse sentido, para Pablos, trata-se de flexibilizar os processos de aprendizagem aproveitando ao máximo os recursos das tecnologias digitais como a internet. Hoje é possível relativizar os condicionantes de tempo e espaço. Trata-se de acumular experiência e se arriscar a mudar modelos, rotinas e formas de trabalho baseados em conceitos e procedimentos em alguns casos seculares e, portanto, vinculados a modelos talvez atualmente defasados. (PABLOS, 2006, p. 73). Um aspecto a ser questionado na perspectiva da presença e auxílio de tecnologias no uso educativo reside no fato de que sua utilização não significa, por si mesmos, uma garantia de qualidade, tal qual “uma oferta pedagógica” (PABLOS, 2006, p. 73). Necessitamos estar atentos às novas tecnologias, para que as mesmas não se transformem em meras transposições de livros-texto ou exercícios, bem como “para que concepções educativo-musicais já em desuso não sejam novamente instituídas e divulgadas com uma nova roupagem pelo simples fato de estarem disponíveis em uma nova mídia” (KRÜGER, 2006, p. 76). Portanto, amparado pelo discurso de Krüger (2006) e Pablos (2006), acredito que o processo de educação, em qualquer área, possa lançar mão de todo tipo de recurso que facilite a aquisição do conhecimento. Cabe ao educador identificar, com a mente aberta e sem preconceitos, a cada momento, qual tipo de material pedagógico é o mais indicado para ajudar a atingir a um determinado objetivo. A informática, bem como a internet, são hoje ferramentas que funcionam como facilitadoras do “acesso ao conteúdo educativo” (FLORES, 2002, p.16). O que vai ao encontro da proposição de Pablos (2006, p. 74), que argumenta a respeito de que “a contribuição mais significativa das tecnologias, [...] é a capacidade para intervir como mediadoras nos processos de aprendizagem”. Nesse sentido, são
  • 17. 17 indispensáveis para o professor que queira ampliar seus instrumentos pedagógicos. Vale salientar que o professor precisa estar em constante atualização e aperfeiçoamento nas questões tecnológicas. Deve-se entender que a implementação de novas tecnologias no ensino musical, como defendem Fritsch et tal. (2004), não pode e não deve substituir o educador, mas sim, necessita ser vista como mais uma possibilidade para auxiliar o professor na prática do ensino. Comunga desta mesma opinião Esteve (2004), que acrescenta que o uso dessas novas tecnologias não suporia prescindir do professor, ao contrário, permitiria que ele se centrasse nas tarefas mais importantes que pode desempenhar, e nas quais é absolutamente imprescindível: ensinar ao aluno o valor do que é aprendido, ajuda-lo a relacionar a nova aprendizagem com aprendizagens anteriores, e integrar as novas aprendizagens nos esquemas conceituais com os quais vive sua vida e interpreta os acontecimentos do mundo que o rodeia. (ESTEVE, 2004, p. 184). Este mesmo autor segue considerando e validando a importância da presença e mediação do professor no ensino/aprendizagem do aluno. o professor será imprescindível para ensinar o aluno a aprender por si mesmo, o que supõe iniciá-lo no uso dessas tecnologias como meio de aprendizagem, e fazê-lo compreender o que pode esperar delas e o que não pode encontrar nelas. (ESTEVE, 2004, p. 184). A respeito dos níveis de utilização de softwares na educação musical, Fritsch et al. (2004) apresentam o seguinte: 1. O uso de software musical em geral (editores de partituras, seqüenciadores, etc.) como ferramenta educativa, embora não tenha sido criado especificamente com este objetivo em mente;
  • 18. 18 2. O uso de software especificamente educativo-musical (treinamento auditivo, tutores teóricos musicais, etc.), criado especificamente para educação musical; e 3. A programação sônica, que permite aos músicos a criação de seu próprio software, adaptando a uma estratégia de ensino particular ou para situações de ensino específicas que envolvam programação de computadores (ensino de composição eletroacústica, por exemplo). (FRITSCH et al., 2004, p. 3). Particularmente, nesta pesquisa, procurei utilizar a análise do nível 1 de Fritsch et al., no que diz respeito ao uso de software musical em geral como ferramenta educativa. O Encore, um dos softwares existentes no mercado para a criação e edição de partituras, por exemplo, serve para editar e imprimir partituras, permitindo a inserção de notas tanto com o mouse como pela execução diretamente em instrumento MIDI. A gravação e execução em tempo real da música por meio de instrumento MIDI são características interessantes. Além disso, permite importar arquivos-padrão do formato MIDI gerados por outros programas. Geralmente possuem bastante flexibilidade, permitindo escolher tipos de pautas (normal, tablatura, ritmo), símbolos musicais, múltiplas vozes por pauta etc., além de oferecer recursos para a edição da letra da música. Há também facilidades para se acessar e extrair partes da partitura e a impressão, em geral, pode ser dimensionada e configurada pelo usuário. (FRITSCH, 2003, p. 146). Sendo um software para edição gráfica, o Encore oferece recursos de manipulação de objetos gráficos – signos musicais (pautas, claves, figuras rítmicas, cifras, andamentos, etc.). Outra possibilidade do Encore é a utilização de cores diferentes em objetos ou símbolos da partitura, o que facilita a visualização dos mesmos durante o processo de edição da partitura, ou mesmo funciona para destacar, valorizar e apreciar alguma passagem ou trecho da música (ver APÊNDICE A).
  • 19. 19 3 METODOLOGIA Esta pesquisa, que teve por proposta investigar os efeitos do uso de software na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em vista o ensino de acordeon para alunos iniciantes, utilizou como método de pesquisa o estudo de caso, sendo empregadas como técnicas de pesquisa a observação participante dos alunos durante as aulas e a entrevista semi-estruturada. Através de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas e, após a transcrição dos dados coletados, passei à análise dos mesmos, procurando descobrir e aprimorar a eficácia e contribuição do software no aprendizado musical. Sobre o método de pesquisa utilizado, qual seja, o estudo de caso, passo a explicar a seguir. 3.1 Estudo de caso O estudo de caso versa em uma exposição meticulosa, profunda e demarcada do tema proposto, constituindo e delimitando, assim, uma unidade. Lüdke e Andrë afirmam que o
  • 20. 20 caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio e singular. (LUDKE; ANDRË, 1986, p.17). Outra ponderação a ser feita, relaciona-se ao fato de que, mesmo o investigador partindo de alguns pressupostos teóricos iniciais, “ele procurará se manter constantemente atento a novos elementos que poderão emergir como importantes durante o estudo” (LUDKE; ANDRË, 1986, p.18). O estudo de caso pode ser usado para determinar e investigar, então, se as proposições de uma teoria ou tópico empírico estão corretas, seguindo-se um conjunto de procedimentos pré- estabelecidos. O quadro teórico inicial servirá assim de esqueleto, de estrutura básica a partir da qual novos aspectos poderão ser detectados, novos elementos ou dimensões poderão ser acrescentados, na mediada que o estudo avance. (LUDKE; ANDRË, 1986, p.18). Após a seleção e delimitação do caso fez-se necessário reunir informações com o trabalho de campo específico e proceder às análises sobre os elementos determinados a partir dos quais se possa compreender. O trabalho de campo visa reunir e organizar um conjunto comprobatório de informações. A coleta de informações em campo pode exigir negociações prévias para se aceder a dados que dependem de anuência de hierarquias rígidas ou da cooperação das pessoas informantes. As informações são documentadas, abrangendo qualquer tipo de informação disponível, escrita, oral, gravada, filmada que se preste para fundamentar o relatório4 do caso que será, por sua vez, objeto de análise crítica pelos informantes ou por qualquer interessado. (CHIZZOTTI, 2005, p.103). Desta forma, esta estratégia de pesquisa, o estudo de caso, proporcionou um contato direto com os alunos. Além disso, possibilitou uma melhor compreensão 4 Grifo do autor.
  • 21. 21 e delimitação das possíveis melhoras no uso do software para com o ensino de acordeon. A fim de coletar os dados necessários para esta investigação utilizei duas técnicas de pesquisa, a observação participante e a entrevista semi-estruturada. Sobre as mesmas, passo a tecer explicações. 3.2 Observação participante A justificativa para a realização das observações que realizei durante as aulas de acordeon que ministrei para os alunos investigados, estão em consonância com as proposições de Chizzotti (2005), que as designa de observação participante. Segundo seus estudos, a observação participante é “obtida por meio do contato direto do pesquisador com fenômeno observado, para recolher as ações dos atores em seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista” (CHIZZOTTI, 2005, p. 90). Também é importante destacar que, conforme Yin (2005), é a competência de compreender o fato do ponto de vista de alguém que está inserido no estudo de caso, podendo produzir um retrato cuidadoso do acontecimento. A observação participante é uma modalidade especial de observação na qual você não é apenas um observador passivo. Em vez disso, você pode assumir uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados. (YIN, 2005, p 121). Andrë (1985) explica que a observação participante é assim denominada, porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de influência
  • 22. 22 mútua com a circunstância estudada, “afetando-a e sendo por ela afetado” (ANDRË, 1995, p. 28). Utilizei a observação participante porque, estando em contato direto com os alunos durante as aulas, obtive um acesso privilegiado podendo, assim, captar vários detalhes, situações ou elementos diretamente ligados à realidade do contexto. Além da observação participante, minha pesquisa pode ser ampliada através da realização de entrevistas com meus alunos. Sobre esta técnica de pesquisa, particularmente sobre a entrevista semi-estruturada, explico mais detalhadamente a seguir. 3.3 A entrevista semi-estruturada Conforme Yin (2005), a técnica da entrevista configura-se como uma “das mais importantes fontes de informações para um estudo de caso” (YIN, 2005, p. 116). Consiste numa coleta de dados com uma ou mais pessoas, tendo por objetivo levantar maiores informações para a compreensão e análise do objeto de estudo. Colabora, assim, para ampliar, aprofundar, conhecer e esclarecer as opiniões do entrevistado; além disso, auxilia no levantamento de suposições e aferições, tendo em vista o referencial teórico, assinalando para o caminho pretendido. A entrevista semi-estruturada é uma técnica de pesquisa que propõe questionamentos, procurando obter os dados a respeito do tema pesquisado. Além disso, baseia-se, apenas, em uma ou poucas questões/guias, quase sempre abertas. Nem todas as perguntas elaboradas são utilizadas durante a realização da
  • 23. 23 entrevista, também sendo possível introduzir outras questões que surgem de acordo com o que acontece no processo em relação às informações que se deseja obter. Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 1987, p. 146). O roteiro que elaborei para a realização das entrevistas foi baseado em questões diversas, dentre as quais os dados de identificação, a idade que o aluno iniciou seus estudos musicais, bem como o tempo em que o aluno estuda o acordeon. Complementei as questões, incluindo as perguntas acerca dos professores com os quais o aluno estudou, as dificuldades apresentadas no instrumento, além das opiniões do aluno sobre o Encore e o aprendizado do acordeon (ver APÊNDICE B). A entrevista foi realizada individualmente, sendo que investiguei dois alunos que estudam o instrumento há mais de um ano. Utilizei-me do registro sonoro da gravação, através da fita-cassete. Posteriormente, as duas gravações foram transcritas, a fim de serem utilizadas para a análise e tranversalização dos dados. Após ter tecido comentários sobre o método utilizado nesta investigação, bem como das duas técnicas empregadas passo, a seguir, a apresentar algumas informações sobre os entrevistados nesta pesquisa.
  • 24. 24 3.4 Os entrevistados Para a escolha dos entrevistados procurei contemplar e definir alunos particulares de acordeon que já estudam comigo há, pelo menos, um ano. Para tanto, foram selecionados dois adultos jovens que possuem atividades e profissões distintas. Ambos iniciaram o estudo do acordeon na fase adulta, e dispõem de pouco tempo para a prática e para o estudo de música. Por motivos éticos, informei aos entrevistados que seus depoimentos seriam tratados com sigilo. Após a realização das entrevistas, realizei suas transcrições e entreguei-as para os entrevistados, a fim que pudessem ler, analisar, reestruturar o que achassem necessário, ampliando, corrigindo ou modificando trechos das mesmas. Segundo Alberti (2004), com esse procedimento, “o entrevistado tem a possibilidade de rever o que falou, fazer novas considerações, ampliar outras e, se achar conveniente, alterar algumas passagens” (ALBERTI, 2004, p. 228). Em relação aos nomes, desde os primeiros contatos, até a realização das entrevistas, ambos fizeram questão de ser identificados pelo primeiro nome. O primeiro entrevistado foi Maykel, que possui 27 anos. Atualmente, ele trabalha na área da informática, prestando serviços de manutenção e suporte de computadores para empresas. Está cursando a faculdade de Ciências Econômicas. Rinaldo, o segundo entrevistado, tem 39 anos. Ele trabalha como Gerente de Vendas em uma empresa, e é estudante de Gestão Financeira.
  • 25. 25 Quanto ao local das entrevistas, as duas ocorreram em minha residência, por escolha e sugestão dos próprios entrevistados. A entrevista com o Maykel aconteceu logo após a sua aula de acordeon. Rinaldo, por sua vez, preferiu realizá- la em momento diferente de sua aula. A opção por incluir estes dois alunos na pesquisa deveu-se, também, ao fato de ambos participarem de uma aula semanal com duração de sessenta minutos, onde é também necessário trabalhar neste período de tempo as questões relativas ao instrumento, técnica e repertório, à teoria e à percepção musical. Conhecidas as informações relativas ao método, técnicas de pesquisa, além dos entrevistados, explico como foi minha opção pelos procedimentos de análise de dados. 3.5 Procedimentos de análise de dados Análise de dados serviu para objetivar e organizar o material até então coletado. Após a transcrição das entrevistas dos dois alunos, realizei várias leituras e anotações relevantes para a análise, sentindo-me mais familiarizado com as informações até então reunidas. Também destaquei trechos e frases que pudessem vir a contribuir para o entendimento do tema pesquisado. Em alguns trechos isolados dos discursos houve a necessidade de uma pequena revisão do texto original, para a retirada de alguns clichês da oralidade e obter uma fluência e auxiliar na compreensão, sem o intuito de modificar ou alterar qualquer aspecto ao que tange ao conteúdo fornecido pelo entrevistado.
  • 26. 26 De posse destas informações, cruzei os dados obtidos através da observação participante com os das entrevistas semi-estruturadas, assim como ao referencial teórico que utilizei ao longo deste trabalho, entre eles Fritsch et al. (2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006) e Pablos (2006), com os quais dialogo e apresento os resultados que obtive em minha pesquisa empírica.
  • 27. 27 4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS A partir desse momento, passo a dialogar com os dois entrevistados, mostrando os depoimentos que emergiram nas entrevistas juntamente com as observações e percepções que fui notando e acumulando durante o período em que utilizei o programa Encore como complemento do estudo do acordeon desses alunos. 4.1 Professores de acordeon Neste subcapítulo apresento dados referentes às respostas dos entrevistados sobre os professores de acordeon com os quais já estudaram. Apresento, também, informações sobre as maiores dificuldades que os alunos alegam possuir na execução do acordeon. Maykel nunca havia tocado acordeon, e iniciou seus estudos de instrumento comigo (Adriano Persch), há cerca de um ano. Revelou que recebeu instruções iniciais para identificar os diversos mecanismos e componentes do acordeon e seu funcionamento, conforme revelou em sua fala. identificação e posição das notas no teclado, identificação dos baixos e acordes, o uso de sustenidos e bemóis e também a importância de um bom controle no fole [...] comecei a receber as primeiras partituras para executar as músicas propostas. (MAYKEL, 03 nov. 2006).
  • 28. 28 Rinaldo freqüentou aulas de acordeon durante sete meses, no ano de 1989, na cidade de Porto Alegre/RS. Após este período, interrompeu seus estudos. Muitos anos depois, retomou seus estudos no instrumento na mesma escola, porém com outra professora. Atualmente Rinaldo retornou aos estudos do acordeon comigo. Ambos revelaram nas entrevistas – o que também pude observar através das observações em aula - que suas maiores dificuldades no instrumento relacionam-se à coordenação motora. Creio que a coordenação entre os baixos e o teclado5 foi a minha maior dificuldade. (MAYKEL, 03 nov. 2006). Outra dificuldade observada por Rinaldo refere-se à divisão do ritmo na mão esquerda, quando ambas as mãos estão tocando. Para ele, acertar o ritmo da baixaria6, e acertar o tempo da nota, que as vezes eu não consigo fazer a divisão certas das notas, elas ficam misturadas. (RINALDO, 03 nov. 2006). As informações apresentadas anteriormente pelos alunos indicam a necessidade do empreendimento de ações pedagógicas que venham ao encontro de suas dificuldades, buscando alternativas de ensino. Escolhi, para esta finalidade, valer-me do uso de tecnologias, principalmente do Encore. 4.2 O Encore como auxílio no estudo do acordeon 5 Baixos tocados pela mão esquerda e teclado pela mão direita. 6 Baixos.
  • 29. 29 Neste capítulo insiro as informações fornecidas pelos entrevistados a respeito do Encore como apoio no ensino e aprendizagem do acordeon. Para Rinaldo, o uso do Encore nas aulas não presenciais auxiliou na escuta das músicas, pois a possibilidade de ouvir as duas vozes em separado trouxe uma compreensão e maior clareza no entendimento da peça, bem como a leitura da partitura convencional juntamente com sua escrita e símbolos. Ele auxilia na parte de escutar. Quando tu pegas o ritmo da música, deixa só a baixaria ou só as notas do teclado do piano. Então isso aí ele facilita bastante. Fica mais claro, ele te dá como vou dizer, ele te dá o tempo da nota na verdade. Você consegue ver o tempo certo nota, ele dá o espaço, que é uma coisa que se tu esta tocando errado, nele tu consegue tirar a dúvida. Com o Encore melhorou muito, por que antes eu tocava, o que é que acontecia, uma coisa é ter a partitura, e tu pegar ela e ler para tocar. Uma coisa é colocar ela no Encore e ter uma noção de como ela é tocada, esta é uma grande diferença, por que tu consegue fazer a diferença se tu esta indo no caminho certo ou pelo caminho errado, isso eu acho que é um grande facilitador por que ele te mostra o certo na realidade. (RINALDO, 03 nov. 2006). O depoimento de Maykel, por sua vez, acrescentou que o Encore ajudou-o na fase inicial, principalmente na escrita convencional de partituras, onde pode relacionar um som com a escrita. Ele ainda acrescentou que quando começou a estudar acordeon apresentava receios quanto à dificuldade de aprender a ler uma partitura o que, de certo modo, é bastante comum. Com esta ferramenta, segundo suas informações, pôde desmistificar esta imagem e perceber o quanto é importante a escrita musical. Neste sentido, este depoimento vai ao encontro das pesquisas de Souza (1998). Segundo a pesquisadora, A importância da notação musical pode ser vista não só na função da reprodução como também na de auxílio para um ouvir musical consciente, preocupado com os meios técnicos utilizados pelo compositor, a estruturada obra, o acompanhamento consciente do movimento e as curvas de tensão. Ela pode, além disso, servir de ajuda para tirar a música de seu tempo
  • 30. 30 como, por exemplo, ouvir trechos, analisar, novamente ouvir seu todo. [...] a notação musical torna a música mais compreensível, ao apresentar o seu lado matemático, ajudando a perceber sua estrutura e organização. (SOUZA, 1998, p. 210). Com o passar do tempo, Maykel buscou inúmeras partituras na internet em sites (ver ANEXO A) que disponibilizam gratuitamente várias músicas, de diversos gêneros musicais e instrumentos. Com este material que pesquisava na Internet, percebi o quanto auxiliava-o em sua prática instrumental, além de ajudá-lo na leitura musical. Isto devia-se ao fato de que ele possuía uma autonomia na escolha destas músicas, o que ocorria por afinidade, gosto ou desafio de tocar uma peça que apresentava uma dificuldade maior na execução. Muitas das partituras, ele mesmo as trazia para serem estudadas em aula, e aproveitadas para compor seu repertório. Neste sentido, Sancho (2006) corrobora dizendo que é de importância fundamental o investimento nas tecnologias digitais, pois estaríamos contribuindo com o desenvolvimento da “autonomia dos estudantes para gerenciar sua educação, para que possam aprender perguntando e respondendo os desafios educativos e formativos da sociedade atual” (SANCHO, 2006, p. 31). A mesma autora considera que a aprendizagem se baseia na troca e na cooperação, no enfrentamento de riscos, na elaboração de hipóteses, no contraste, na argumentação, no reconhecimento do outro e na aceitação da diversidade vê nos sistemas informáticos, na navegação7 pela informação e na ampliação da comunicação com pessoas e instituições geograficamente distantes a respostas às limitações do espaço escolar. (SANCHO, 2006, p. 21). Nos dois depoimentos constatei outro ponto relevante a respeito da escrita e audição imediata, o que é possível realizar com o Encore. Neste Maykel considera 7 Grifo da autora.
  • 31. 31 importante a possibilidade de escrever e ao mesmo tempo ouvir o que está sendo realizado. No processo de aprendizagem, essa funcionalidade tem uma contribuição significativa. (MAYKEL, 03 nov. 2006). Rinaldo, por sua vez, acrescenta que atualmente é um desafio escrever no Encore, mas acredita ser importante conseguir transcrever as músicas para o programa. importante no Encore é o desafio de transpor as músicas pra ele [...] ou tu fazer alguma coisa diferente nele. Tu tens uma música e de repente vamos botar esta nota, alguma coisa, pra ver se ela muda ou fica um arranjo melhor ou não. (RINALDO, 03 nov. 2006). Um posicionamento que chamou minha atenção foi quando Rinaldo comentou a respeito do desconhecimento do Encore por parte de estudantes de música, músicos e professores de sua convivência. Eu acho que o Encore é uma grande ferramenta, mas é pouco divulgado, que tem pessoas que tocam na minha família e aprendem por partitura também e já são professores e o Encore parece que foi uma grande novidade quando falei para eles. Eu acho que ele deveria ser muito mais divulgado. (RINALDO, 03 nov. 2006). A postura de desconhecimento e resistência com relação ao uso das tecnologias é um tema abordado pelos estudiosos. Kassner denomina de tecnofobia as atitudes de receios em utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), ou mesmo em participar em projetos de pesquisa nesta área (KASSNER apud FICHEMAN, et al., 2003, p.161). Nesse sentido, é relevante pensar na inclusão desse assunto no que tange aos novos papéis que o professor deve assumir na atualidade. Além disso, é necessário ter em vista as necessidades que o mesmo necessita buscar para poder
  • 32. 32 empregar as ferramentas existentes. Além disso, urge uma maior reflexão sobre o assunto, incluindo o entendimento dos propósitos, compreensão e integração das atividades dos recursos.
  • 33. 33 CONCLUSÃO O presente trabalho pretendeu investigar os efeitos do uso de software Encore na educação musical, particularmente dos editores musicais, tendo em vista o ensino particular de acordeon para alunos iniciantes. Esta pesquisa foi estruturada a partir do método de estudo de caso, tendo como técnicas de pesquisa a observação participante e a realização de entrevistas semi-estruturadas. Depois de realizadas as entrevistas e efetuadas as suas transcrições, juntamente com os dados da observação participante, consegui ampliar e compreender melhor esta situação do uso de um software como suporte para o ensino e o estudo do acordeon e educação musical dos alunos. Para a fundamentação teórica selecionei autores que estão em sintonia com esta proposta, entre eles Fritsch et al. (2003), Ficheman et al. (2003), Krüger (2006), Sancho (2006) e Pablos (2006). O uso de recursos tecnológicos, como o computador e a internet, não só desperta nos alunos o interesse em estudar, mas também os prepara para a integração com a atual sociedade altamente tecnológica em que vivemos. Quando o professor insere a tecnologia em sala de aula, acaba por perder o status de única
  • 34. 34 fonte do conhecimento, passando a ser um colaborador no processo de descoberta e aquisição de conhecimento. A introdução da tecnologia e, nesse caso, do computador, começa a apontar para um novo processo de ensino e aprendizagem: a construção do conhecimento pelo próprio aluno passa, assim, a ser “uma nova oportunidade para repensar e melhorar a educação” (SANCHO, 2006, p. 19). As relações entre professor e aluno são modificadas, e as responsabilidades individuais aumentam, sendo necessário que, tanto alunos, quanto professores, se envolvam no processo, tomando a iniciativa de participarem da construção do conhecimento. Mesmo o Encore não sendo um software especificamente projetado para o ensino do acordeon, serviu-me de suporte para o desenvolvimento desta pesquisa, o que se apresentou nas falas dos alunos. Segundo os mesmos – Rinaldo e Maykel – o Encore constituiu-se em uma importante alternativa e estratégia no aprendizado. A rápida resposta dada pelas ferramentas e pelo programa auxiliou na condução da aprendizagem, produtividade e autonomia dos alunos. Há que se salientar a urgência quanto aos professores inteirarem-se das TIC, pois eles – nós – teremos que “redesenhar seu papel e sua responsabilidade na escola atual” (SANCHO, 2006, p. 36). Destaco, também, a importância quanto ao acordeon, onde a formação e atualização pedagógica e metodológica carecem de esforços significativos e melhorias, esta realidade não pode deixar de ser contemplada e inserida por seus agentes, fundamentalmente podendo ser uma
  • 35. 35 ferramenta para obter um benefício especificamente motivador, educativo e formativo para o aluno e professor. O término desta pesquisa aponta para a necessidade de uma ampliação, aperfeiçoamento e avaliação da presença das tecnologias de informação e comunicação no ensino. Esta pesquisa poderá ser ampliada sendo então focado nos professores de acordeon. Buscando esclarecer questões como: Onde os professores aprenderam ou aprendem atualmente acordeon? Onde buscam aperfeiçoamento, atualização e materiais didáticos? A tecnologia em que e como poderá auxiliar na formação, metodologia e avaliação do professor de acordeon? Tenho consciência de que o assunto não foi, absolutamente, esgotado. Porém, para a finalidade desta pesquisa, bem como ao seu propósito, acredito que tenha conseguido alcançar o intento.
  • 36. 36 REFERÊNCIAS ALBERTI, V. Manual da história oral. 2. ed. rev. e atual Rio de Janeiro: FGV, 2004. ANDRÉ, M. E. D. A. Diferentes tipos de pesquisa qualitativa. In: _____. Etnografia da prática escolar. São Paulo: Papirus, 1995, p. 27-33. BOZZETTO, A. Ensino particular de música: práticas e trajetórias de professores de piano. Porto Alegre: UFRGS/FUNDARTE, 2004. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2005. ESTEVE, J. M. A terceira revolução educacional: a educação na sociedade do conhecimento. Traduzido por: Cristina Antunes. São Paulo: Moderna, 2004. FLORES, L. V. Conceitos e tecnologias para educação musical baseadas na Web. Porto Alegre: UFRGS, 2002. Dissertação (Mestrado Computação), Programa de Pós-Graduação em Computação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 30. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. FRITSCH, E. F. et al. Educação musical auxiliada por computador: algumas considerações e experiências. Porto Alegre: CINTED-UFRGS, 2 n. 1, mar. 2004. Disponível em: Acesso em: 12 out. 2006. FRITSCH, E. F. et al. Software musical e sugestões de aplicação em aulas de música. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEM, L. (org). Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 141-157. FICHEMAN, I. et al. Dos receios à exploração das possibilidades: formas de uso de software educativo-musical. In: HENTSCHKE, L.; DEL BEN, L. (orgs.). Ensino de música: propostas para pensar e agir em sala de aula. São Paulo: Moderna, 2003. p. 158-175. GVOX. Disponível em: <http://www.gvox.com/> Acesso em: 30 out. 2006.
  • 37. 37 KRÜGER, S. E. Educação musical apoiada pelas novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): pesquisas, práticas e formação de docentes. ABEM, Porto Alegre, v. 14, p. 75-89, mar. 2006. LUDKE, M.; ANDRË, M. E. D. A. Abordagens qualitativas de pesquisa: a pesquisa etnográfica e o estudo de caso. In:______. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986, p. 11-24. PABLOS, J. de. A visão disciplinar no espaço das tecnologias da informação e comunicação. In: SANCHO, Juana M. et al. Tecnologias para transformar a educação. Traduzido por: Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 63-83. SANCHO, J. M. De tecnologias da informação e comunicação a recursos educativos. In: SANCHO, Juana M. et al. Tecnologias para transformar a educação. Traduzido por: Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 15-41. SCHMELING, A. Cantar com as mídias eletrônicas: um estudo de caso com jovens. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Dissertação (Mestrado em Música), Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Música, Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. SOUZA, J. Sobre as múltiplas formas de ler e escrever música. In: Neves I. (Orgs.). Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1998, p. 205-214. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação: São Paulo: Atlas, 1987. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamentos e métodos. Traduzido por: Daniel Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
  • 38. 38 APÊNDICE A – Partitura musical com uso de cores
  • 39. 39 APÊNDICE B - Roteiro da entrevista semi-estruturada DADOS DE IDENTIFICAÇÂO 1) Nome completo: 2) Idade: 3) Endereço: ROTEIRO DE QUESTÕES 1) Com que idade começaste a tocar acordeon? Com quem aprendeste? E como aprendeste? 2) Quais tuas maiores dificuldades no instrumento? 3) O uso do Encore auxilia no teu aprendizado? Por quê? 4) O ritmo (divisão) e leitura musical ficam mais claros com o Encore? 5) Qual outro elemento consideras importante no uso do Encore? 6) Poderias descrever teu processo de aprendizagem no acordeon com auxílio do Encore? 7) Gostarias de abordar sobre mais algum aspecto que avalias relevante para o tema?
  • 40. 40 APÊNDICE C – Exemplo de partitura editada no Encore
  • 41. 41 APÊNDICE D – Exemplo de partitura editada no Encore
  • 43. 43 ANEXO A – Endereços de sites com partituras gratuitas A Agenda do Samba & Choro, o melhor da cultura brasileira. Disponível em: <http://www.samba-choro.com.br/> Acesso em: 14 nov. 2006 Clavedesul. Disponível em: <http://pessoal.portoweb.com.br/clavedesul/> Acesso em: 14 nov. 2006. Partituras Encore. Disponível em: <http://www.partiturasencore.com/> Acesso em: 10 nov. 2006. Partituras Solano Music.com Disponível em: <http://www.solanomusic.com/> Acesso em: 10 nov. 2006.