4. Ministério da Educação
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Secretaria de Educação a Distância
Programa Nacional de Formação Continuada
a Distância nas Ações do FNDE
5. Módulo Introdutório
Oreste Preti
Adalberto Domingos da Paz
Élida Maria Loureiro Lino
Programa Nacional de Formação Continuada a Distância nas Ações do FNDE
MEC / FNDE - SEED
Brasília, 2006
6. Supervisão e acompanhamento Projeto gráfico e diagramação
Renato Silveira Souza Monteiro Virtual Publicidade
Cecília Guy Dias
Ilustrações
Revisão Zubartez
Matheus Ferreira
Impressão e acabamento
Lucy Ferreira Azevedo
Cromos Gráfica
P942m Preti, Oreste
Módulo Introdutório / Oreste Preti, Adalberto Domingos da Paz,
Élida Maria Loureiro Lino. – Brasília : MEC, FNDE, SEED, 2006.
92 p. : il. color. – (Formação pela Escola)
1. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). 2.
Financiamento da educação. 3. Políticas públicas – Educação. 4.
Programas e ações – FNDE. 5. Formação continuada a distância –
FNDE. 6. Formação pela Escola – FNDE. I. Paz, Adalberto
Domingos da. II. Lino, Élida Maria Loureiro. I. Título. II. Série.
CDU 37.014.543
7. Sumário
Plano de curso _________________________________________________________________________________ 5
Para começo de conversa ________________________________________________________________________ 7
Unidade I – Políticas públicas na área social _________________________________________________________13
Unidade II – Políticas para a Educação Básica _______________________________________________________23
Unidade III – Financiamento da Educação Básica ____________________________________________________37
Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas públicas educacionais ____________________________55
Unidade V – Os Programas do FNDE _______________________________________________________________67
Retomando a conversa inicial ____________________________________________________________________79
Nossa conversa não se encerra ___________________________________________________________________83
Referências Bibliográficas _____________________________________________________________________86
Glossário __________________________________________________________________________________87
8.
9. Plano de curso
Módulo Introdutório: O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e o Apoio às Políticas Públicas para a Educação
Básica.
Carga horária: 40 horas
Objetivos do Módulo Unidade III – Financiamento da Educação Básica
:: Compreender o sentido das políticas públicas na área so- Objetivos específicos:
cial e, particularmente, no campo da educação, em se tra- :: identificar a legislação que garante recursos financeiros e
tando de uma sociedade capitalista; o montante para a educação definido por essas leis;
:: Conhecer as fontes de financiamento da Educação Básica
e os mecanismos para que a comunidade faça o acompa- :: explicar o que é o Fundo de Manutenção e Desenvolvi-
nhamento e o controle social dos recursos destinados à mento do Ensino Fundamental e Valorização do Magisté-
educação; rio (FUNDEF) e definir a sua função.
:: Reconhecer o papel social do Fundo Nacional de Desen-
Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas
volvimento da Educação no apoio às políticas públicas
públicas para a Educação
para a Educação Básica, mediante a implementação de
diferentes programas e ações. Objetivos específicos:
:: definir controle social;
Conteúdo Programático
:: descrever o papel dos conselhos no controle social;
Unidade I – Políticas públicas na área social
:: conhecer os diferentes conselhos no âmbito dos progra-
Objetivos específicos:
mas do FNDE.
:: definir sociedade, estado, governo e políticas públicas;
:: compreender o sentido das políticas públicas no campo Unidade V – Os programas do FNDE
social.
Objetivos específicos:
Unidade II – Políticas para a Educação Básica
Introdutório
:: explicar a função principal do FNDE na implementação de
Objetivos específicos: políticas públicas para a educação;
:: definir globalização e neoliberalismo; :: apontar os principais Programas do Fundo Nacional de
:: reconhecer as atuais políticas educacionais no Brasil. Desenvolvimento da Educação.
5
10.
11. Para começo de conversa
Boas-vindas
Prezado cursista,
Bem-vindo ao Programa FormAção pela Escola. Trata-se de uma iniciativa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), em parceria com a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação (SEED/MEC), para
que você e sua comunidade escolar possam conhecer melhor os programas desenvolvidos pelo FNDE e o papel desses
programas na concretização dos objetivos da política educacional brasileira.
A expectativa é que o FormAção pela Escola prepare cidadãos que atuem em parceria com o governo, de modo a buscar a
melhoria da escola, facilitando o acesso, a permanência e o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos matriculados nos
diferentes níveis e modalidades de ensino.
Você está de parabéns por se inscrever nesse programa. Isso demonstra seu desejo de participar ainda mais do cotidiano
de sua comunidade. Por intermédio da sua atuação nas ações e programas do governo federal, exercendo o “controle social” ,
não restam dúvidas de que os recursos de nossos impostos, destinados à educação, serão mais bem utilizados e quem ganha
somos todos nós, a comunidade local, a sociedade e o Brasil, com escolas de qualidade para formar e desenvolver seu povo.
Estas ações e programas financiados pelo FNDE, somados ao projeto pedagógico das escolas e ao plano de educação do seu
Introdutório
município, podem transformar a educação de nosso país.
Boas-vindas também à capacitação referente ao Módulo Introdutório que proporcionará conhecimentos sobre políticas
públicas educacionais implementadas pelo governo federal.
7
12. Temáticas
Sua formação continuada, então, tem início com esse Módulo, que tratará das seguintes temáticas:
Unidade I – Políticas públicas na área social
Unidade II – Políticas para a educação
Unidade III – Financiamento da Educação Básica
Unidade IV – O controle social no âmbito das políticas públicas para a educação
Unidade V – Os programas do FNDE
Na primeira Unidade, discutiremos um pouco o conceito Na quarta Unidade, trataremos de questões relacionadas
e o sentido das políticas públicas no campo social – com que com a democracia participativa, com a efetivação do contro-
finalidade são executadas, a que segmentos da sociedade le social e trataremos, ainda, dos principais conselhos gesto-
visam a atender prioritariamente e qual o projeto de res de políticas públicas que dizem respeito aos programas
sociedade que elas procuram concretizar. e ações do FNDE.
Na segunda Unidade, focaremos as políticas para a
educação implementadas nos últimos anos no Brasil, Finalmente, na quinta Unidade, lhe será proporcionada
buscando compreendê-las dentro da atual conjuntura social uma visão dos programas e ações do FNDE e, de maneira
e econômica, identificando os aspectos legais em que se mais particular, daqueles que fazem parte do programa For-
sustentam e as ações executadas a partir dessas políticas. mAção pela Escola, que são: o Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE), o Programa Nacional de Apoio ao Transporte
Para implementar e dar suporte a essas políticas, são
Módulo Introdutório
Escolar (PNATE), o Programa do Livro (PLi), o Programa Nacio-
destinados recursos financeiros em todos os níveis de
nal de Alimentação Escolar (PNAE).
governo (federal, estadual e municipal). Por isso, na terceira
Unidade, trataremos do financiamento da educação, das
obrigações dos gestores na aplicação adequada dos recursos
financeiros e da forma como a comunidade escolar pode
participar no controle social de todo esse processo.
8
13. Objetivos do Módulo
Assim, esperamos que, ao final das atividades deste Módulo Introdutório, você seja capaz de:
:: compreender o sentido das políticas públicas na área social e, particularmente,
no campo da educação, em se tratando de uma sociedade capitalista;
:: conhecer as fontes de financiamento da Educação Básica e os mecanismos
para que a comunidade faça o acompanhamento e o controle social dos
recursos destinados à educação;
:: conhecer a dinâmica dos conselhos que atuam no controle das ações,
programas e projetos educacionais e como se dá a participação da comunidade
nesses conselhos;
:: reconhecer o papel social do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação no apoio às políticas públicas para a Educação Básica, mediante a
implementação de diferentes programas e ações.
Esses objetivos foram elaborados considerando que a Para alimentar nossa conversa, no tópico Nossa Conversa
finalidade principal do Programa FormAção pela Escola é não se Encerra Aqui, ao final desse Módulo Introdutório, você
possibilitar a você e à comunidade escolar não somente o encontrará indicação de obras e de sítios na Internet, relacio-
conhecimento das políticas educacionais e seus programas, nados aos temas que aqui serão tratados, pelos quais poderá
mas sensibilizá-los a participar da construção da cidadania navegar e pesquisar.
de maneira efetiva, para que atuem com consciência e espíri- Você,certamente,dará continuidade a sua formação política,
to crítico e colaborativo nos programas do FNDE e nos rumos à construção de sua cidadania, buscando pessoalmente mais
da educação na sua região e no País. informações, lendo outros textos, conversando com outras
pessoas, participando de discussões e fóruns, promovendo
Transformar a escola que temos em uma escola de quali- encontros com especialistas, etc.
dade não é tarefa somente de um governo. Cabe a to-
dos nós, enquanto cidadãos, tornarmos isso possível pelo
conhecimento mais aprofundado das políticas educacio-
Introdutório
nais, das metas a serem alcançadas e dos programas im-
plementados e pela participação efetiva na implantação
e no acompanhamento dessas ações.
9
14. Problematizando mais executar o convênio, pois os recursos eram insuficientes
Não se preocupe. Não quere- para tantas necessidades educacionais, como: transporte, estra-
das, merenda, material didático, ampliação da rede física das es-
colas, pagamento de professores, etc. Ele não queria ser acusado,
posteriormente, pelo Tribunal de Contas, por falhar com a “Lei da
Por que iniciar sua formação continua- Responsabilidade Fiscal” gastando acima do estabelecido.
,
da com este Módulo Introdutório? Qual a Nós, representantes do Ministério da Educação, fomos ao muni-
importância em ampliar sua visão e com-
cípio. À noite, num salão ajeitado, com simplicidade, para o en-
preensão sobre as políticas e ações que
contro e iluminado pelas luzes fracas produzidas por motores
um determinado governo implementa?
a diesel, encontramos o prefeito, os secretários de administra-
Qual o papel que você deve desempe-
nhar, como cidadão, nesse contexto?
ção e de educação, professores das redes municipal e estadu-
al, os tutores, os alunos matriculados no curso de Pedagogia e
algumas pessoas da comunidade, curiosas por saber o que ali
mos que você responda de ime- se passava. Ouvimos calmamente a exposição dos presentes. O
diato a essas questões. Temos certeza de prefeito, apoiado pelo secretário de finanças, afirmava que os
que, ao longo do curso, as respostas serão construídas. Porém, recursos financeiros para a educação eram muito escassos para
não duvidamos de que outras interrogações surgirão. atender à crescente demanda de matrículas, de construção de
No início dessa nossa conversa, queremos lhe propor um salas de aula e de contratação de professores. Informou que
desafio. Ajude-nos a resolver a seguinte situação: o município recebia dinheiro do FUNDEF, que esses recursos
eram insuficientes e não podiam ser utilizados para custear cur-
so superior. O secretário de educação, por sua vez, alegava não
Um prefeito assumiu um município recém-emancipado, lá na re- possuir competência para administrar esses recursos, ficando a
gião Leste de Mato Grosso, em uma área de recente ocupação e cargo do secretário de administração e do prefeito a decisão de
com fluxo intenso de imigrantes. Durante seu primeiro ano de como aplicá-los. Sua preocupação era com o trabalho pedagó-
gestão o número de matrículas no Ensino Fundamental da rede gico, mas solicitava, dos presentes, sugestões e apoio para en-
municipal cresceu de maneira vertiginosa: de 400 matrículas, caminhar projetos ao MEC com o objetivo de conseguir libera-
efetuadas no ano anterior, para 1.200. O secretário de educação, ção de mais verbas. Os professores, no entanto, discordavam do
em um primeiro momento, efetuou a contratação de novos pro- prefeito quanto ao fato de não haver dinheiro suficiente para
fessores para atender ao número crescente de alunos. Preocu-
Módulo Introdutório
a educação, mas, ao mesmo tempo, desconheciam o balancete
pado com a questão da qualificação, em entendimento com o da prefeitura, o montante de dinheiro disponível a ser aplicado
prefeito e por pressão dos professores, solicitou à Universidade na educação e da existência ou não de mecanismos para con-
Federal de Mato Grosso (UFMT) a abertura de 100 vagas para o trole dos gastos públicos. Simplesmente, afirmavam seu direito
curso de Licenciatura em Pedagogia, na modalidade a distância. de cursar gratuitamente a graduação pretendida, pois os gesto-
Foi assinado convênio entre a UFMT e a prefeitura. Os professo- res municipais haviam se comprometido com a oferta do curso.
res fizeram o vestibular e se matricularam, mas o curso não pôde Como resolver esse problema?
começar. O prefeito havia recuado alegando que não poderia
10
15. Se você estivesse naquela região, que caminhos você encontraria e sugeriria para solucionar
o impasse?
Pense sobre esse assunto, durante a leitura das unidades.
Esperamos que o Módulo Introdutório possa motivá-lo a expandir seus conhecimentos e
contribua para sua caminhada no FormAção pela Escola.
Essa caminhada não pode ser individual, um compromisso apenas seu. Procure envolver
mais pessoas aí em seu município, em sua escola, em seu local de trabalho, etc.
Que ela se torne uma caminhada coletiva.
Então, vamos começar.
Boa leitura e muita disposição nesse início de curso.
Introdutório
11
19. Introdução Leia, então, essa breve anedota que nos chegou pelo
Anedota:
Nesta unidade queremos lhe propor que faça como a águia correio eletrônico há muito tempo, em fevereiro de 1999.
narração curta de fato
que voa alto para melhor enxergar o que acontece lá embaixo, histórico, curioso ou
divertido.
no vale, ou como uma gaivota observando o que acontece na
praia, no mar. Certamente, você já deve ter subido um morro, Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e
estava resolvido a encontrar meios de solucioná-los. Passava dias
ou ter ido até o terraço de um prédio ou ter voado de avião. O
em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas.
que acontece? Você consegue ver muito mais no alto, do que
estando em um lugar mais baixo, não é verdade? Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu “santuário” deci-
,
dido a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrup-
Lá de cima você tem uma visão panorâmica, enxerga mais ção, insistiu para que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo
longe. Vê estradas, pontes, rios, casas, a direção que os veícu- que o filho não lhe obedecia, o pai procurou algo que pudesse
los tomam, identifica áreas com características comuns, per- ocupar e distrair o filho. De repente deparou-se com o mapa do
cebe como os bairros estão interligados e separados ao mes- mundo, e pensou: “É isso” .
mo tempo. Seu olhar se expande e você se surpreende ao ver Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pe-
como é sua cidade, o local em que você mora, não é? daços e, junto com um rolo de fita adesiva, o entregou ao filho,
dizendo:
Por isso, acreditamos ser importante que você amplie sua vi-
são sobre as ações que determinado governo – Você gosta de quebra-cabeças, não é? Então vou dar-lhe o
mundo para consertar. Aqui está o mundo, todo quebrado. Veja
implementa durante sua gestão, para
se consegue consertá-lo bem direitinho. Faça tudo sozinho.
compreender suas políticas. Isso
Calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Pas-
lhe permitirá entender e intervir
sados quinze minutos, ouviu a voz do filho, que o chamava cal-
de maneira efetiva nos progra-
mamente:
mas do FNDE em que você está
– Papai, papai, já fiz tudo. Consegui terminar todinho.
inserido e contribuirá com sua ci-
Políticas públicas na área social
dadania. A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria im-
possível, na sua idade, ter conseguido recompor um mapa que
jamais havia visto.
Assim, esperamos que ao final dessa
Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo
unidade você seja capaz de:
de que veria um trabalho digno de uma criança.
:: definir sociedade, Estado, governo e Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços
políticas públicas; haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possí-
vel? Como o menino havia sido capaz?
:: compreender o sentido das políti-
cas públicas no campo social. – Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conse-
guiu?
15
20. – Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou
o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a É importante que você aprenda a fazer uma leitura das políticas
figura de um homem. Quando você me deu o mundo para con- de um governo. Para isso, tente entender qual é o projeto de
sertar, eu até tentei, mas não consegui. Foi então que me lem- sociedade que ele deseja construir, quem se beneficia com
brei do homem. Então, virei os recortes e comecei a consertar o essas políticas, que grupos o estão apoiando etc.
homem que eu já conheço bem. Quando consegui consertar
o homem, virei do outro lado e vi que dessa forma eu havia Só, assim, sua intervenção será eficiente e alcançará as
consertado o mundo. mudanças desejadas.
Precisamos ter clareza quanto ao mundo que desejamos
Essa anedota pode nos dizer uma coisa bem simples. Se para nós e para nossos filhos – qual o projeto de sociedade
você quer participar do “conserto” do mundo, a partir do seu está sendo implementado pelos governos que se sucedem no
local de trabalho, do seu município, da sua escola. poder. É importante que possamos nos envolver nessa missão,
na arrumação do quebra-cabeça desse mundo desarrumado.
Somente com essa compreensão é que podemos juntar os
pedaços (programas, ações, propostas, projetos, etc.), uni-los,
dando-lhes sentido e direção na construção de uma socieda-
de humanizada e solidária. Portanto, é fundamental compre-
ender o que está se passando em nosso país, no mundo, no
campo das políticas sociais e, em nosso caso particular, nas
políticas educacionais.
Assim, sua intervenção nesses programas e ações do FNDE
será mais clara, mais objetiva e possibilitará que as mudanças
aconteçam.
A finalidade dos programas do FNDE não é, apenas,
levar recursos financeiros para dentro da escola para
serem utilizados adequadamente, mas também propiciar
Módulo Introdutório
formação cidadã à comunidade escolar.
Portanto, leia com muita atenção essa unidade, pois lhe
servirá de base para discutir o conteúdo das próximas.
Vamos, então, buscar compreender a sociedade em que
vivemos.
16
21. 1. Sociedade, Estado e governo
Você deve ter lido, ouvido falar, ou assistido ao filme que narra as aventuras de “Robinson Crusoé” o único sobrevivente de um
,
naufrágio. Salvou-se e foi atirado pelas ondas a uma ilha tropical. Durante muitos anos viveu sozinho, na companhia de animais...
Viveu do jeito que bem quis até ser encontrado por um navio e regressar ao seu país de origem. Essa obra, do escritor inglês
Daniel Defoe (1660-1731), é um clássico da literatura mundial e foi adaptado ao português por Monteiro Lobato (1882-1948).
Pois bem, a situação desse náufrago não é algo comum. Não vivemos sozinhos. Vivemos em comunidades, pequenas ou
grandes, cada uma com seus costumes, sua cultura, suas normas, sua maneira de viver e de se organizar. E, nelas, existem
pessoas com hábitos, gostos, vontades e sonhos diferentes. Você consegue imaginar como seria o mundo se cada um fizesse
o que bem desejasse e impusesse aos outros sua maneira de pensar e viver?
A ciência História nos conta um pouco da trajetória da hu-
manidade na construção de diferentes tipos e modelos de
sociedade (tribal, feudal, capitalista). No diálogo estabeleci-
do nesta unidade procuraremos compreender o que se pas-
sa atualmente em nossa sociedade, que se organiza sob os
cuidados de um Estado e de um governo.
Você sabe a diferença entre Estado e governo?
O Estado é identificado como o conjunto de instituições
Para que as pessoas pudessem viver juntas,em comunidade, permanentes, como:
o homem se organizou de diversas maneiras, produzindo,
assim, sua cultura, seus valores e buscando diferentes meios
para sobreviver. O Poder Legislativo (o Congresso Nacional – que elabora as leis
Políticas públicas na área social
que regem nossa vida social);
A sociedade é resultante do “agrupamento” de indi- O Poder Executivo (o governo – que coloca em prática essas
víduos que se organizam, a partir de objetivos, valores e leis e administra os negócios públicos);
normas comuns, e que se relacionam para produzir seus O Poder Judiciário (os tribunais – para julgar e aplicar as leis a
meios e condições de vida, num processo dinâmico, em casos particulares);
contínua transformação.
As Forças Armadas e a polícia (para impor a exigência do
Trata-se, pois de “organização dinâmica” construída
, cumprimento das leis), etc.
pelos homens em relações recíprocas e com a natureza,
em determinados momentos históricos.
O filme Robinson Crusoé – de Luis Buñuel – 1952, 89 min.
17
22. Portanto, quando falamos em Estado, de maneira genérica, da propriedade privada, capta recursos, por meio de impos-
no singular e iniciado com letra maiúscula, estamos nos refe- tos, por exemplo, e os investe no desenvolvimento econômi-
rindo ao conjunto de instituições responsáveis pela “ordem” co para garantir a manutenção do sistema social.
na sociedade e pelo “bem comum” dos cidadãos. Quando fa-
lamos de maneira particular, também com letra maiúscula, O Estado existe nas sociedades que estabelecem a
nos referimos a uma região do nosso país, a um dos Estados diferença entre governantes e governados, uma dife-
da República brasileira. rença institucionalizada, regulamentada por leis.
Não confunda os vários significados da palavra “estado”
. Nas sociedades indígenas brasileiras, por exemplo,
Vejamos os diversos significados da palavra, encontrados em que não existe esta diferença, não há Estado.
no Dicionário Michaelis, 2000:
:: O primeiro sentido (Estado) é o empregado no sentido de Mas, quem vai viabilizar o funcionamento das instituições
“nação politicamente organizada por leis próprias” . e dos poderes públicos que compõem o Estado? Quem vai
:: O segundo corresponde à Unidade da Federação, à divi- dirigir a sociedade?
são territorial do Brasil, como, por exemplo, o Estado do
Piauí, ou os Estados do Ceará, de Goiás, do Rio Grande do
Sul, do Rio de Janeiro. É o governo. Ao desempenhar as funções de
dirigente do Estado, o governo é o responsável
:: Finalmente, um terceiro sentido diz respeito à idéia de de- pelo planejamento e condução de determinadas
terminada situação, como por exemplo, o “estado” em que políticas e do conjunto de programas e ações,
se encontram as rodovias brasileiras. durante certo período.
Preste atenção, então, a esse exemplo: “O atendimento Portanto, o governo é transitório e é formado por
ao estado de saúde dos cidadãos residentes em todos os grupos que se alternam no poder, enquanto o
Estados da Federação é uma das obrigações do Estado”. Estado é permanente e é composto por instituições
que são estáveis.
Percebeu as diferenças?
As instituições que compõem o Estado visam, fundamen-
Módulo Introdutório
talmente, a fazer com que as pessoas convivam bem em so- Em outras palavras, o Estado, com suas instituições, per-
ciedade, isto é, que seja mantida a “ordem social” e haja certo manece, mas o governo muda constantemente e, com ele, as
“bem-estar” Por isso, a função do Estado não se limita a ser
. formas de conduzir a política e a economia do país. Aquilo
mediador de possíveis conflitos entre as instituições e a de que para um governo era prioritário pode deixar de ser para
atuar na política, no interior da sociedade. Estende sua ação outro; o que estava sendo executado pode ser abandonado.
no campo da economia. Além de se colocar como protetor Por que isso acontece?
18
23. Numa coletividade, diferentes grupos se organizam e lu- Mas como isso acontece?
tam por seus interesses; uns buscam impor aos outros suas
vontades, sua maneira de pensar e de viver, acreditando ser Pelo menos de duas maneiras. Utilizam os meios de comu-
nicação para divulgar seu projeto, seu programa de governo,
isso o mais correto ou natural. Um desses grupos, via proces-
suas idéias e o que vêm realizando. Fazem críticas, muitas ve-
so eleitoral ou pela força, conquista o posto de comando do
zes, ao projeto do governo anterior e colocam em destaque
país, assumindo o governo. os aspectos positivos do novo projeto. Com isso, esperam
Um governo, ao assumir o controle do Estado, tem um convencer a sociedade a apoiá-los.
projeto político de sociedade a implementar. Projeto esse Uma outra maneira é propor reformas econômicas, políticas
que foi discutido e negociado com diferentes setores (em- e sociais, e conceber e implementar novos programas e ações
presários, sindicalistas, associações, produtores, entre outros) que beneficiem a sociedade, que promovam o bem-estar
e partidos que o apoiaram, por exemplo, durante a campa- comum.
nha eleitoral.
A função principal do Estado é o bem comum
Esse projeto, portanto, representa os interesses de grupos e a do governo é a direção política e econômica
particulares, como eles pensam sobre diferentes assuntos: a desse Estado.
forma como a sociedade deveria ser organizada, como a vida
econômica deveria ser conduzida, que tipo de ações deveriam Portanto, não é somente no campo da economia que
ser implementadas junto à sociedade. o governo age. Ele busca intervir também no campo
das políticas sociais, por exemplo, no que diz respeito às
desigualdades, no sentido de fazer uma redistribuição dos
É importante que você aprenda a fazer benefícios sociais produzidos coletivamente por meio do
uma leitura das políticas de um governo. trabalho de todos os cidadãos.
Políticas públicas na área social
Para isso, tente entender qual é o projeto
de sociedade que ele deseja construir, É nesse momento que surgem as políticas públicas,
quem se beneficia com essas políticas, que sobretudo no campo social. Por meio delas, os grupos que
grupos o estão apoiando etc. estão no governo propõem e implementam programas
e ações que beneficiam setores “menos favorecidos” Com
.
isso esperam também levar a sociedade a apoiar seu
Os grupos que assumem o governo fazem de tudo para governo e aceitar o projeto de sociedade que eles querem
que seu projeto de sociedade, não somente seja consolidado e implementar.
atenda seus interesses mas também seja aceito pelo conjunto
Atividade 1
de cidadãos.
19
24. Política é um conjunto
2. As políticas públicas sociais os cidadãos e não a esta ou aquela pessoa, ou a interesses
de intenções, de ações
particulares. Assim, esse atendimento quanto ao que vem a
e de recursos necessári- ser “público” é de responsabilidade do Estado.
os para se atingir deter-
minados objetivos.
O que vêm a ser Políticas Encontramos em livros e dicionários inúmeras definições
Públicas? E as políticas sociais para “políticas públicas” mas que possuem os seguintes
,
para que servem? aspectos comuns:
:: as atividades de um governo ao longo do tempo;
:: as medidas tomadas pela sociedade política para realizar
Há pouco falamos sobre Estado e governo. Pois bem, polí- um projeto de sociedade;
tica é um termo que tem mais de 2.500 anos, vem da língua :: as intenções que dirigem as ações de um governo na bus-
grega e significa “a arte de governar um Estado, uma cidade” . ca de soluções aos problemas públicos, de atendimento a
Para os gregos “polis” significava cidade. Em latim, a palavra demandas vindas de grupos específicos da sociedade.
correspondente é civitas, da qual derivou a palavra portu-
Dessa forma:
guesa cidadão. Político e cidadão, assim, são sinônimos, sig-
nificam a mesma coisa. Interessante, não é? Portanto, todo
cidadão é, por natureza, ”um ser político” e a política seria a As políticas são denominadas ”públicas” por-
arte de governar os cidadãos, ou melhor, a capacidade da “ci- que devem atingir todo o público. O governo
dade” se autogovernar, isto é, dos cidadãos elaborarem suas tem a responsabilidade de garantir que essas
leis e governarem a si próprios. políticas beneficiem efetivamente a todas as
Daí a necessidade de as políticas públicas serem pensadas, camadas da população.
não como programas ou ações de determinado governo
para um determinado período, mas como função e ação Porém, outra questão a ser levada em conta não é o que o
do Estado, de algo a ser implementado e concretizado governo faz, mas também o que ele não faz. Sim, pois quando
independentemente de quem está no governo, visando ao um governo deixa de fazer algo está sinalizando que aquilo
bem-comum. não é tão importante ou prioritário para ele.
Módulo Introdutório
Em resumo, podemos dizer que Políticas Públicas são:
Mas, por que a denominação de públicas?
Público é uma palavra também derivada da língua latina tudo o que um governo decide fazer,
e significa “o que é de interesse comum, o que é de todos, faz ou deixa de fazer em relação às
o que é de propriedade do Estado” Assim, as políticas são
. necessidades dos cidadãos.
denominadas de públicas porque visam a atender a todos
20
25. Num sentido mais geral do termo, podemos entender so a bens e serviços fundamentais que asseguram a qualida-
política também como as decisões tomadas por determinado de de vida. Nos países em que as desigualdades são maiores,
grupo para realizar, por exemplo, seu projeto comunitário, ou isto é, em que existe um pequeno grupo com grandes posses
educacional – como o Projeto Político-pedagógico. e uma parcela grande da população com pouco, ou nenhum,
acesso a esses bens e serviços, os governos buscam, geral-
As políticas públicas podem ser sociais porque têm como
mente, amenizá-las por meio de políticas públicas sociais.
finalidade desenvolver programas e ações voltadas para
setores específicos da sociedade que se encontram em Nesse sentido, as políticas públicas sociais podem
situação de grande desigualdade e não possuem um padrão ser entendidas como tendo funções redistributivas e
de vida digno de um ser humano. Pois, é dever do Estado compensatórias.
dar condições básicas de cidadania a esses que vivem em A função redistribuitiva diz respeito à distribuição de
desigualdade. parte do que é produzido pela sociedade aos menos
Houve fases da história em que o Estado interveio de ma- favorecidos. Em outras palavras, significa retirar dos bens
neira mais decisiva para diminuir as desigualdades produzi- e serviços, especialmente por meio de impostos, recursos
das pelo desenvolvimento socioeconômico. Essa intervenção financeiros para atender ao conjunto dos cidadãos mais
foi conseqüência das pressões efetuadas pelos movimentos necessitados. O Imposto de Renda é considerado uma forte
populares que buscavam maior participação na política, por política redistribuitiva.
meio da eleição de seus representantes, e que lutavam pelos Outro exemplo de políticas redistributivas é o Programa
seus direitos fundamentais. de Garantia de Renda Mínima (PGRM), aprovado pelo Se-
nado Federal, em 1991. Este consiste na instituição de uma
Atividade 2a renda mínima como direito básico de cidadania. Sua imple-
mentação foi pensada como estratégia para se mudar uma
Políticas públicas na área social
prática política tradicional que utilizava as políticas públicas
Nós vivemos numa sociedade chamada capitalista, que se em benefício individual ou partidário.
caracteriza pela divisão entre os que são proprietários dos
Em outras situações, essas políticas sociais têm caráter
meios de produção (terra, fábricas, instalações, equipamen-
compensatório, isto é, promovem programas emergenciais
tos, máquinas, mão-de-obra), que são, portanto, possuidores
para atender a grupos sociais específicos (desempregados,
de “capital” e os que não são proprietários. Ou seja, se carac-
negros, índios, analfabetos, excluídos, etc.) como, por
teriza pela divisão entre patrões e empregados.
exemplo, o salário desemprego, as cotas para negros para
Essa divisão provoca desigualdades sociais, maiores ou me- ingresso na universidade. Outro exemplo é o Programa
nores, dependendo do processo histórico de lutas de grupos Comunidade Solidária, criado, em 1995, para combater a
organizados (sindicatos, associações, partidos) para ter aces- fome e a pobreza.
21
26. Reflita bem
Em síntese
Essas ações são um dever do Estado. Ele não está fazendo
Chegamos, assim, ao final da primeira unidade deste módu-
caridade.
lo. Espera-se que agora tenha ficado mais claro o seu enten-
Está tirando do cofre público recursos produzidos por todos dimento sobre políticas públicas, que são ações adotadas
os cidadãos e utilizando-os para atender às necessidades por determinado governo para concretizar seu projeto de
da maioria da população. sociedade, buscando atender aos interesses e necessidades
Trata-se de um direito. dos cidadãos. Elas contribuem para que a sociedade se or-
ganize em função de um projeto político, durante determi-
nado período de tempo.
Porém, a finalidade central das políticas públicas é garantir
Relembrando, a organização geral que permanece, com
aos cidadãos direitos que lhes foram negados anteriormente
seus poderes, instituições e representações, é chamada de
como, por exemplo, o direito à saúde, à educação. Estado. A organização temporal, provisória, composta por
grupos que se sucedem no poder, dirigindo e administrando
Atividades 2b · 2c a sociedade durante determinado período de tempo, é
chamada de governo.
Essa unidade tratou de temas importantes, mas complexos
Mas como o governo implementa suas políticas públicas? que exigem leitura mais aprofundada da realidade política,
Como faz a “distribuição” de bens e serviços? A partir de que social e econômica. Por isso, o convidamos a expandir seus
critérios? De onde vai tirar recursos para sustentar e viabilizar conhecimentos por meio de leituras da bibliografia sugerida
seus programas e ações? Em que consistem as políticas ao final do Módulo, no tópico Nossa Conversa não se Encerra
públicas no campo social? Aqui.
São questões que iremos tratar nas próximas unidades.
Pois bem, as áreas que fazem parte das políticas públicas so-
ciais são, entre outras: educação, saúde, previdência, habita-
ção e saneamento. O que nos interessa analisar na próxima
Módulo Introdutório
unidade são as políticas sociais no campo da educação, pois
é nesse segmento que o FNDE atua.
22
29. Introdução
Vimos na unidade anterior que o Estado, por meio do governo que está no poder, tem a
possibilidade de desenvolver políticas sociais redistributivas e compensatórias no sentido de
suavizar, de diminuir um pouco, as desigualdades presentes na nossa sociedade.
Este papel do Estado vem se modificando, sobretudo a partir da década
de 1970, quando o mundo passou por uma crise econômica que acabou
afetando o campo das políticas sociais e, conseqüentemente,
aquelas relacionadas com a área educacional.
Por isso, nesta Unidade, conversaremos um pouco sobre
as políticas públicas educacionais, especificamente aquelas
voltadas para a Educação Básica.
Assim, esperamos que, ao final dessa unidade, você
seja capaz de:
:: definir globalização e neoliberalismo;
:: reconhecer as atuais políticas educacionais no
Brasil.
Trataremos, inicialmente, de dois termos muito conhecidos
Políticas para a Educação Básica
e que se referem diretamente ao que discutíamos na unida-
de anterior com relação às políticas sociais: globalização e
neoliberalismo.
Você sabe o que significam?
25
30. No Brasil, 7,8% o índice
1. Globalização e neoliberalismo A globalização é muito mais do que as tecnologias de
de desemprego (IBGE,
informação e comunicação. Olhe ao seu redor. Componentes
2002). Nesses últimos anos, vivenciamos situações interessantes de sua televisão e geladeira, provavelmente, foram importados,
Fala-se em mais de 1 e preocupantes, ao mesmo tempo: e o bolo ou o pão “francês” que está comendo, foi feito com
,
bilhão de desemprega-
do, no mundo. :: crise econômica nos países capitalistas, levando-os a bus- farinha vinda da Argentina, por exemplo. Você pode estar
car uma reestruturação da economia em escala planetária; usando um relógio fabricado na China e calçando tênis vindo
:: mudanças nas tecnologias de produção, na informática e de Hong-Kong, ou do Paraguai. O que você encontra nos
Global – por atingir o na comunicação, acelerando a produtividade no trabalho; supermercados ou nas lojas de um shopping na sua cidade
globo, o planeta pode ser encontrado nos supermercados ou nas lojas dos
:: integração nas relações econômicas, comercias e financei-
shoppings espalhados pelo mundo.
ras, entre mercados produtores e mercados consumidores
de diferentes países, etc.
Estes fatores, além de elevar de forma alarmante as taxas
de desemprego, têm propiciado a globalização da economia,
da ciência, da tecnologia e da cultura. O que isso significa?
Globalização vem da palavra globo, isto é, o planeta em que
vivemos. Dá a idéia de algo que atinge o mundo todo, que che-
ga a todos os habitantes. Pense um pouco sobre o que acontece
no seu dia-a-dia. Você fica sabendo de fatos ocorridos em outra
região do Brasil, ou mesmo em outros países. Acompanha os
acontecimentos no Iraque, no Japão, na Austrália. Assiste, tran-
qüilamente em sua casa, à novela e ao noticiário transmitidos a
partir de São Paulo ou Rio de Janeiro, por exemplo. Não é só isso. Há uma padronização, também, dos produtos
e uma estratégia mundialmente unificada de marketing
A notícia do assassinato do presidente norte-america- – de propaganda. Não é isso o que acontece, por exemplo,
no Abraham Lincoln, em 1865, levou 13 dias para cruzar com os tênis da empresa Nike, ou os hambúrgueres da rede
o Atlântico e chegar à Europa. A queda da Bolsa de Valo- McDonald´s?
Módulo Introdutório
res de Hong Kong (outubro-novembro, de 1997) levou
13 segundos para cair como um raio sobre São Paulo e Globalização é um processo que ocorre nos mais diferentes
Tóquio, Nova York e Tel-Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. campos da nossa vida. Significa que os países estão se
Eis ao vivo e a cores, a globalização. tornando cada vez mais interligados na economia, no
(Clovis Rossi – do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo. comércio, nas finanças e na cultura. Implica uniformização
In: www.iis.com.br/~rbsoares) de padrões econômicos e culturais.
26
31. Isso não significa que esse processo seja algo novo, pois a dominação política e econômica e a apropriação de riquezas
Intercâmbio: São as
de uns poucos países sobre os demais são características da modernidade, no mundo ocidental, desde o século XV. Você se trocas intelectuais, cul-
lembra das grandes navegações, das viagens terrestres e marítimas de países da Europa, como Inglaterra, Espanha e Portugal, turais ou comerciais,
realizadas entre dife-
para conquistas comerciais, em busca de especiarias e de metais preciosos? rentes países.
Esse processo se manteve acanhado até a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), quando um conjunto de transformações
tecnológicas, econômicas e sociais impulsionou o modo de produção capitalista. Entretanto, foi a partir da crise econômica da
década de 1970 que o processo de globalização ganhou força e se expandiu, graças, também, ao desenvolvimento tecnológico, Nessa lógica de mer-
cado, privado passou
dos meios de transporte e de comunicação. a significar “eficiência”
e público como inefici-
Mas, preste bem atenção. A globalização atinge os países de maneira diferente, pois os intercâmbios, como as relações ente, um desperdício
comerciais ou culturais, por exemplo, são desiguais. Há países que exportam muito mais que outros; há países que crescem social.
economicamente com esse comércio globalizado, enquanto outros empobrecem. O que se tem constatado é que os países
ricos ficam mais ricos e os pobres, mais pobres. Indústrias e fábricas estrangeiras empresas multinacionais e transnacionais
instalam-se em diversos países, como acontece no Brasil, levando, muitas vezes, as empresas nacionais à falência, provocando
desemprego de milhões de trabalhadores.
Grandes mobilizações, como a greve na Coréia do Sul, a mobiliza-
ção dos mineiros alemães e dos trabalhadores franceses e belgas
da Renault revelam que os trabalhadores não estão dispostos a
arcar com os custos da globalização.
(Luiz R. Lopes - www.iis.com.br/~rbsoares)
E o que se diz sobre isso? Qual a explicação que você costuma ouvir?
Políticas para a Educação Básica
Que as empresas nacionais têm que se modernizar, ser competitivas e que os trabalhadores têm que se requalificar, desen-
volver novas habilidades, não é?
E que você pensa sobre isso? Concorda com essas explicações?
Essa nova ordem global que está em processo e tem por base o poder econômico, ao invés do político, desloca a discussão
sobre relações de poder para questões técnicas, de gerenciamento eficaz de recursos humanos e financeiros.
É uma discussão baseada no discurso neoliberal, adotado por organismos internacionais – como o Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) – para defender a globalização econômica, finan-
ceira e comercial. É importante, então, que você entenda esse pensamento neoliberal, pois ele tem levado o Estado a mudar
sua postura em relação às políticas sociais.
Mas, o que é o neoliberalismo e o que defende em relação às políticas públicas?
27
32. 1.1. Estado do Bem-Estar ou do mal-estar social?
Com a recuperação da economia pós-guerra (II Guerra Mundial, 1939-45), foi criado,
inicialmente na Inglaterra, um novo modelo de Estado, chamado de Estado do Bem-Estar Social
ou Assistencialista, definido como aquele que garante tipos mínimos de renda, alimentação,
saúde, habitação e educação a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político.
Essa forma de Estado, que rapidamente se espalhou por toda Europa, passou a criar empre-
sas estatais para intervir diretamente na economia e no desenvolvimento do país, atuando,
sobretudo, em áreas nas quais a iniciativa privada não investia, mas que o Estado considerava
de interesse para a nação. Além disso, tomou para si a tarefa de cuidar dos setores “menos pri-
Indivíduo: considera-
vilegiados” oferecendo serviços de assistência e de proteção. Por isso, foi chamado também de
,
do isoladamente em Estado Previdenciário, pois buscava “prover” ou seja, providenciar aquilo que estava em falta,
,
relação a uma coletivi-
dade; independente. oferecendo o que as pessoas necessitavam mais. Isso acabou elevando significativamente os
gastos públicos.
Porém, a crise econômica que se instaurou na década de 1970, e que atingiu o mundo globa-
lizado, trouxe, como conseqüência imediata, a redução dos gastos nas áreas sociais (particular-
mente na saúde e educação), além da diminuição de postos no mercado de trabalho.
É nesse contexto que surge a “onda neoliberal” defendendo a idéia de Estado Mínimo
ou, como muitos autores preferem, Estado do mal-estar social. A lógica do pensamento
neoliberal é reduzir os gastos públicos, ou seja, diminuir a participação financeira do Estado no
fornecimento de serviços sociais. Isso ajudaria a combater o déficit fiscal do Estado, possibilitaria
a redução de impostos e a conseqüente elevação dos índices de investimento privado. Assim,
a economia voltaria a crescer, novos empregos seriam gerados, a renda do trabalhador seria
elevada e, dessa forma, os serviços públicos de assistência social passariam a ser desnecessários
(PAULA, 1998, p. 53).
Módulo Introdutório
Por isso, o neoliberalismo, essa nova (neo) versão do liberalismo, é a favor da não intervenção
do Estado no campo da economia, dando liberdade à iniciativa privada para cuidar dos serviços
sociais. As políticas públicas sociais, então, passaram a ser formuladas com base em duas
palavras de ordem: redução (dos gastos públicos) e privatização. Lembra-se, por exemplo, dos
processos de privatização de empresas estatais brasileiras que ofereciam serviços de energia,
de saneamento e de comunicação?
28
33. O neoliberalismo defende a não intervenção do Estado na condução da economia,
nas relações patrão-empregado e na oferta de serviços à sociedade, entre outros.
A palavra-chave do neoliberalismo, então, é mercado. É este que deve regular as relações entre
os indivíduos (outra palavra-chave), entre compradores e vendedores e não mais o Estado.
Nesse tipo de sociedade, tudo deveria funcionar como num jogo, em que há regras e cabe
aos jogadores respeitá-las. Nada mais. O juiz (que seria o Estado) encontra-se presente para
fazer com que essas regras sejam acatadas e punir os transgressores. Não pode tomar partido
de uns, senão desequilibra o jogo. Você já observou o que acontece quando um juiz de futebol
parece apitar a favor de um dos times? Acaba por atrapalhar o espetáculo, não é?
As mudanças efetivas na maneira do Estado entender seu papel na mediação dos conflitos
de interesses e, ainda, as mudanças na forma de atuação na regulação da sociedade afetaram,
também, o campo das políticas educacionais.
As políticas educacionais definem o que fazer e, ainda, como fazer e
quais recursos utilizar, para que o direito à educação seja possibilitado
a todos os cidadãos.
Políticas para a Educação Básica
Como isso ocorre?
É do que trataremos a seguir.
Atividade 3
29
34. 2. As políticas educacionais
Você conhece as bases que dão suporte ao governo para definir suas políticas para a
educação?
Vejamos, resumidamente, as principais:
A Constituição Federal (CF 1988): os Arts. 205 a 214 definem os princípios nos quais deve se
basear o ensino em nosso país e, a partir dos quais, as políticas educacionais devem ser elaboradas
em todos os níveis: federal, estadual e municipal.
A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – 1996): fruto da conciliação, da
busca de um consenso sobre um projeto nacional de educação, situa a escola no centro das ações
pedagógicas, administrativas e financeiras. Ela estabelece os fins, os princípios, os rumos, os objeti-
Estatísticas educacionais:
www.inep.gov.br vos, os direitos, etc. da educação (as diretrizes) e diz respeito à organização e ao funcionamento da
educação (as bases), tratando, ainda, dos meios utilizados para alcançar os fins pretendidos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN – 1997): constituem referencial de qualidade
para a Educação Básica. Foram elaborados para orientar e garantir a coerência dos investimen-
tos no sistema educacional, oferecendo uma proposta curricular flexível a ser implementada de
acordo com as realidades regionais e locais.
O Plano Nacional de Educação (PNE – 2001-2010): previsto no Art. 87 da LDB, com diretrizes
e metas para 10 anos, em sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, da
Organização das Nações Unidas (ONU). O PNE é um instrumento global de orientação das
políticas educacionais no país.
O Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério
(FUNDEF): destina recursos para o financiamento do Ensino Fundamental “com o objetivo de
assegurar a universalização de seu atendimento e a remuneração condigna do magistério”
Módulo Introdutório
(Art. 60/CF-88 – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Em breve se transformará
em FUNDEB, ampliando sua atuação para toda a Educação Básica.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB): é um sistema de avaliação implemen-
tado em 1995 e que, a partir de 2005, passou a ser organizado por dois processos de avaliação:
a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(ANRESC). Sua função é mensurar, isto é, medir a qualidade da educação no Brasil, produzindo
30
35. uma base de informações sobre o aprendizado, a gestão e as são instrumentos fundamentais para a promoção da justiça
relações sociais e pedagógicas de cada comunidade escolar. social e da democratização da sociedade e da escola.
É uma ferramenta útil para decisões pedagógicas e de gestão
no interior de cada escola e para políticas educacionais nos Os recursos disponíveis no orçamento do FNDE foram
níveis municipal, estadual e federal. O Instituto Nacional de executados, em 2005, por meio de 16 programas e
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC) 107 ações de atividades fins, isto é, ações diretamente
é o responsável por sua aplicação. voltadas para a educação.
As escolas do seu município participaram Agora, o que esses programas e ações têm em comum?
dessa avaliação? Eles apontam para que direção, para que tipo de educação e
de sociedade?
Você conhece os resultados?
Atividade 4a
O Plano Plurianual (PPA - 2004-2007): é um conjunto
de programas governamentais com a finalidade de 2.1. Críticas ao sistema educacional
concretizar o projeto do governo, nas diversas áreas sociais. O neoliberalismo, ao se tornar pensamento condutor da
Por exemplo, no caso do atual governo, o PPA é norteado economia e da política no Brasil, introduziu, na educação, um
pela inclusão social e pela desconcentração da renda. Assim, novo discurso e novas práticas pedagógicas.
no âmbito educacional, visa ao acesso de todos à educação
de qualidade, em todas as etapas e em todos os níveis e
Políticas para a Educação Básica
modalidades de ensino. Propõe programas e ações, tais como:
Brasil Escolarizado, Brasil Alfabetizado, Desenvolvimento
da Educação Profissional e Tecnológica, Brasil Quilombola,
Identidade Étnica e Patrimônio Cultural dos Povos Indígenas
e Programa Nacional da Juventude.
Entretanto, não são apenas os programas citados que
configuram o rumo das políticas educacionais. Ações como
o Livro Didático, Dinheiro Direto na Escola, Aceleração da
Aprendizagem, Informatização das Escolas Públicas, Ali-
mentação Escolar, Escola Aberta, Fundescola III, entre outras,
31
36. Segundo esse pensamento, o sistema educacional público brasileiro é “improdutivo” isto é, ine-
,
ficiente em sua função de ensinar, pois apresenta altas taxas de evasão e reprovação. Essa inefici-
ência existe, no entender dos neoliberais, devido aos seguintes fatores:
:: a escola é incapaz de se organizar e se adequar aos novos tempos. Sua gestão não acompanha
os novos métodos introduzidos na empresa privada, que têm funcionado muito bem;
:: o corpo docente é desqualificado e está acomodado, seguro em seu emprego, não sentindo
necessidade de renovação e inovação em seu trabalho;
:: as organizações de classe (sindicatos e associações) são muito corporativistas, só lutam por
questões salariais e não aceitam as mudanças necessárias.
Por isso, a escola pública é apontada como ineficiente e incompetente em sua função básica
de ensinar e preparar o aluno para o mercado de trabalho.
Atividade 4b
O (mal) funcionamento da escola é reduzido a uma
questão de gerência, de controle da qualidade.
A solução, segundo o neoliberalismo, estaria na condução de uma reforma administrativa
para tornar a escola eficiente, competitiva e capaz de formar profissionais qualificados para o
mercado de trabalho.
Módulo Introdutório
Para isso, o Estado necessita estabelecer mecanismos de controle e avaliação dos serviços edu-
cacionais que devem estar articulados e subordinados às necessidades do mercado de trabalho.
32
37. 2.2. A reforma educacional
Surge daí a necessidade de uma reforma no campo da educação, ou seja, da implementação
de políticas educacionais que orientem as escolas na oferta de seus serviços educacionais,
seguindo o modelo das empresas privadas, com controle e avaliação da qualidade dos serviços
prestados. Reformas educacionais foram iniciadas em diversos países da Europa, na década de
1980 e, aqui no Brasil, na década seguinte. Algumas palavras passaram a ser utilizadas com
muita ênfase no discurso dessas reformas e na formulação das políticas educacionais:
descentralização, autonomia, gestão democrática, participação, qualidade,
qualificação, valorização do magistério, competência, eqüidade, etc.
Essas palavras não foram criadas pelo pensamento neoliberal. Muitas delas são bandeiras de
lutas levantadas pela comunidade educativa há muito tempo. Você tem de prestar atenção ao
sentido que o pensamento neoliberal dá a essas palavras.
Um outro aspecto importante a ser conhecido, para melhor entendermos o rumo das políticas
educacionais em nosso país, é o fato delas caminharem na direção dada pelo Banco Mundial, que
incentiva a privatização da Educação Básica (do Ensino Superior, então, nem se fala!), definindo
padrões de eficiência nos sistemas de ensino e na gestão dos recursos destinados à educação.
Políticas para a Educação Básica
Banco Mundial
Criado em 1944, após a Segunda Guerra Mundial, é o maior provedor de créditos para
países em desenvolvimento, com graves problemas sociais.
Por emprestar dinheiro, sente-se no direito de intervir e participar de decisões sobre políti-
cas sociais e, de maneira especial, de formular as políticas educacionais, na América Latina.
No Brasil, é o principal financiador das ações do Fundo de Fortalecimento da Escola
(FUNDESCOLA), projeto atualmente gerido pelo FNDE.
33
38. 2.3. Avaliando a reforma :: em 2003, 97,2% das crianças entre 7 e 14 anos estavam
matriculadas no Ensino Fundamental, ou seja, o acesso
www.obancomundial.
org encontrava-se praticamente universalizado;
:: de acordo com o IBGE, a taxa de analfabetismo sofreu
queda nos últimos anos: de 14,7%, em 1996, para 13,6%,
Prefeitura é o edifício, em 2000 e 11,4% em 2004.
o local onde o prefeito
exerce suas funções.
Município é uma área
As importantes alterações apresentadas pelos dados esta-
territorial gerida por tísticos educacionais, na última década, podem ser percebi-
munícipes, por cidadãos.
das como conseqüência da proposta de descentralização e o
conseqüente processo de municipalização da educação. Os
municípios começaram a ganhar certa autonomia pedagó-
Instituto Brasileiro de gica e financeira no campo da educação.
Geografia e Estatística
(IBGE)
Municipalizar significa que prefeitura municipal
Vejamos, inicialmente, alguns aspectos positivos da refor- e comunidade são co-responsáveis pela presta-
ma educacional proposta e implementada pelo pensamento ção de serviços, como o da educação.
neoliberal e o redimensionamento provocado nas políticas Significa a população organizada, participando
educacionais, nesses últimos anos, aqui no Brasil. ativamente da ação do poder público local.
No início da década de 1990, as estatísticas educacionais É um processo de auto-gestão competente e
situavam o Brasil em colocações muito incômodas. Nosso eficiente dos serviços sociais básicos.
país ocupava os últimos lugares, quando comparados com
países vizinhos da América Latina (Argentina, Chile, México,
A escola sofreu modificações em sua organização pedagó-
Colômbia, Costa Rica), em questões como: taxas altas de anal-
gica e administrativa, dentre as quais: a introdução da gestão
fabetismo, índices alarmantes de evasão, repetência e crian-
democrática e de conselhos escolares (envolvendo a partici-
ças fora da escola. Essas estatísticas educacionais começaram
Módulo Introdutório
pação da comunidade), a elaboração do próprio projeto po-
a melhorar:
lítico-pedagógico, a adequação do currículo e do calendário
:: entre 1994-98, o Ensino Médio expandiu as matrículas em escolar às necessidades específicas da localidade.
37%;
Houve, ainda, melhoria na qualificação dos profissionais da
:: durante o mesmo período, houve crescimento de 35% de educação, com projetos como o Programa de Formação de
alunos que concluíram o Ensino Fundamental; Professores em Exercício (ProFormação), qualificando em ní-
34
39. vel de Ensino Médio (Magistério), e o ProLicenciatura (licen- educação. O SAEB apontou, entre 1995 e 2001, queda nos
ciaturas a distância), qualificando em nível superior. níveis de aprendizado, no desempenho dos alunos em
Língua Portuguesa e Matemática, com disparidades entre
Segundo os dados do Censo do Professor, realizado em
regiões e estados e, também, entre alunos de origens
1997, no Brasil:
sociais diferentes. Houve ligeira melhoria em 2003.
:: 1.617.611 professores trabalhavam na Educação Básica; :: A descentralização não se realizou de maneira
desses, 822.655 (50,9%) não possuíam titulação em nível completa. As decisões mais importantes costumam ser
superior; tomadas no âmbito federal, são centralizadas, cabendo
:: 616.956 atuavam nos primeiros quatro anos do Ensino aos municípios e às unidades escolares apenas a
Fundamental; desses, 457.282 (74,2%) não tinham curso execução de propostas curriculares, programas e
superior. ações. Assim, não houve municipalização dos serviços
educacionais, como pretendido, mas um processo de
O ProFormação já qualificou mais de 30 mil professores “prefeiturização” As ações e as responsabilidades para
.
em exercício e os cursos de licenciatura a distância vêm aten-
com o ensino foram descentralizadas, ficaram a cargo
dendo a cerca de cem mil professores do Ensino Fundamen-
da prefeitura, mas os recursos e a definição de políticas
tal. Certamente, os dados a serem divulgados pelo relatório
do Censo dos Profissionais do Magistério da Educação Bá- educacionais continuaram centralizados, sob o controle
sica, que o INEP realizou em 2004, apontarão a melhoria na do governo federal. No município, muitas vezes, esse
qualificação dos profissionais da educação. mesmo processo de “prefeiturização” acontece. Há uma
centralização administrativa (nas mãos do prefeito) que
Os recursos destinados por lei à Educação Básica foram impede a participação e o controle social organizado
assegurados por decretos e são aplicados mediante a criação por parte da comunidade, dos munícipes.
de mecanismos específicos para chegarem às unidades es-
colares, como é o caso do FUNDEF e os Programas do FNDE
Políticas para a Educação Básica
(Dinheiro Direto na Escola, Alimentação Escolar, Transporte
do Escolar, etc.). Democracia e descentralização são duas faces
da mesma moeda: o processo de construção da
A escola passou a ser o centro das políticas educacionais e cidadania.
das ações governamentais.
Pois, uma democracia é real e efetiva quando os
Por outro lado, há alguns aspectos negativos nessas cidadãos participam das decisões que dizem
políticas educacionais, sobre os quais é bom você refletir um respeito à sua vida pessoal e coletiva.
pouco, tais como: Por isso, uma verdadeira “municipalização” exige
:: aumento do número de vagas na oferta da Educação gestão democrática.
Básica não acompanhou a qualidade nos serviços da
35
40. :: A falta de valorização do professor ainda está presente Por isso, a intervenção dos cidadãos, individualmente ou
na sociedade brasileira. Existe um longo caminho em grupo, é fundamental para a construção de uma sociedade
a percorrer para que realmente o profissional da justa, igualitária e solidária. A educação, então, pode vir a
educação seja valorizado e possa realizar seu trabalho desempenhar papel importante na conscientização dos
em melhores condições, com infra-estrutura adequada cidadãos e na introdução de práticas educativas que levem à
e salários condizentes com sua formação e com a transformação da atual sociedade.
importância social de sua ação educativa. Mas como garantir o direito à educação e propiciar uma
:: Os recursos financeiros ainda são insuficientes para formação escolar que provoque mudanças sociais?
atender à quantidade e à qualidade de uma educação
Um dos caminhos é alocar e empregar bem os recursos
voltada para a formação de cidadãos.
financeiros destinados à educação. É disso que iremos tratar
A qualidade da educação está diretamente ligada à na próxima unidade.
distribuição dos recursos materiais. Os recursos não são
a garantia automática de qualidade na educação, mas,
sem eles, uma educação de qualidade não se viabiliza. Em síntese
Nessa segunda unidade, fizemos um percurso rápido sobre
alguns temas fundamentais para compreensão da atual
Atividade 4c política educacional. Estudamos a influência do pensamento
neoliberal no campo da economia, que proporcionou
Como superar isso? outra direção às políticas sociais nesse mundo globalizado.
Vimos na unidade anterior que as políticas públicas no Em seguida, analisamos os reflexos desse pensamento na
campo social definem o modelo de sociedade que determina- educação, especialmente no que diz respeito aos documentos
do governo deseja construir. Porém, sua definição e execução oficiais que tratam da educação e da gestão da escola,
apresentando aspectos positivos e negativos da reforma
não podem ser simplesmente deixadas na mão do governo e
educacional, implementada no Brasil pelos governos que se
dos políticos, ainda mais hoje, com a forte influência do pensa- sucedem no poder, sobretudo, nesses últimos anos.
mento neoliberal na política e na economia de nosso país.
Aprofunde seus conhecimentos por meio de leituras da
Módulo Introdutório
Dados de uma pesquisa de opinião pública realizada pelo bibliografia sugerida ao final do Módulo, no tópico Nossa
IBOPE, a pedido da ONG Ação Educativa, em novembro de Conversa não se Encerra Aqui.
2003, mostram que:
:: 44% dos brasileiros dizem crer que de fato influenciam as
políticas públicas e, entre estes, 68% acham que o fazem
apenas ao votarem no dia das eleições.
(Disponível em www.patri.com.br; acesso em 20/10/05)
36
43. Introdução
O Estado para realizar suas políticas no campo social e, no nosso caso, na área da educação, disponibiliza recursos financeiros
para manutenção e desenvolvimento do sistema educacional nos níveis federal, estadual e municipal.
Daí a importância de você saber quantos são os recursos e como chegam à sua região e ao seu município para que crianças,
jovens e adultos possam ter acesso à educação.
Por isso, nesta Unidade, iremos conversar um pouco sobre o financiamento da educação, especificamente, no âmbito da
Educação Básica.
Esperamos que, ao final dessa Unidade, você seja capaz de:
:: identificar a legislação que garante recursos financeiros para a educação e o
montante definido por essas leis;
:: explicar o que é o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF) e definir a sua função.
Você deve ter ouvido muito, em discursos de políticos e governantes, que a educação é fundamental para o desenvolvimento
do País e que se deve dar prioridade a esta área social. É essencial que os investimentos sejam ampliados para que melhorem as
condições de funcionamento das escolas e de trabalho dos professores.
Você sabe qual o montante de dinheiro que seu município tem
à disposição para aplicar na educação e o quanto destes recur-
Financiamento da Educação básica
sos é investido? Você sabe de onde vêm e como são arrecadados
e contabilizados? Será que os investimentos são suficientes para a
oferta de uma educação de qualidade?
Como está vendo, há muita coisa importante a ser discutida nesta Unidade ou, pelo menos, a ser apontada para que você
procure aprofundar mais ainda seus conhecimentos sobre o financiamento da educação. Assim, você poderá contribuir para
solução de situações problemáticas, como a vivenciada por aquela comunidade da região Leste de Mato Grosso, mencionada
no tópico “Problematizando” deste Módulo, lembra-se?
Vamos, então, sobrevoar essa temática?
39