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Outubro de 2018
Memória, Cidade
Marize Bastos da Cunha
A destruição do passado- ou melhor, dos mecanismos
sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das
gerações passadas- é um dos fenômenos mais
característicos e lúgubres do final do século XX. Quase
todos os jovens de hoje crescem numa espécie de
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o passado público da época em que vivem. Por isso, os
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Durante muito tempo acreditei que a casa da memória, era como
um antigo barraco, na ponta de um morro, calmo e frio:
Memória era aquilo do passado que fica congelado. É sempre o
que foi. Quem já fui. Aquilo que fomos, ou o que morremos. A
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A memória e a mudança histórica
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“marginalizados”, seja pelos processos
políticos e econômicos, que se traduziram no
chamado neoliberalismo, reproduzindo em
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Memória, identidade e cidadania
n Do vínculo com o passado se extrai a força
para formação de identidade
n Memória como alimento que permite a
constituição de novas identidades
n Memória como resistência à pulverização
n Está na raiz de movimentos identitários
(sociais e/ou políticos) e de afirmação de novas
subjetividades, de novas cidadanias.
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A memória busca reabilitar “a periferia e a
marginalidade”, e “entra em disputa”, num
terreno de conflito e competição entre memórias
concorrentes (Michael Pollack)
Exemplos: resgate de experiências marginais ou
historicamente traumáticas, localizadas fora das fronteiras
ou na periferia da história oficial ou dominante; estudos
sobre as vítimas do nazismo; anos da ditadura militar;
estudos sobre a escravidão; estudos sobre grupos sociais
atingidos por processos de violência, expropriação.
n Preocupação com a memória histórica é um
fenômeno que vem caracterizando o trabalho
de várias instituições, ONG´s, diversos grupos
sociais.
n Iniciativas destinadas à criação de centros de
memória, projetos de revitalização de sítios
históricos, rurais e urbanos, ou de memória
institucional, núcleos de documentação e
pesquisa, museus, programas de história,
elaboração de vídeos e documentários.
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n Memória individual: a recordação de uma
pessoa só se torna fato social quando ela a
expressa verbalmente para alguém.
n Memória coletiva: pertence a um determinado
grupo, assegurando coesão e solidariedade a
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etc)
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n Acontecimentos vividos pessoalmente
n Vividos “por tabela”, ou seja vividos pelo
grupo ou coletividade da qual a pessoa se sente
pertencer; “memória herdada”.
n Memória constituída por personagens
(encontrados pessoalmente e “por tabela”.)
n Os lugares de memória: ligados à lembrança,
“lugares de comemoração”.
O esquecimento
n Construção de memória implica em escolhas
entre os fatos do passado que devem/podem ser
lembrados; fatos “esquecidos”, o “não dito”.
n “Projetos de esquecimento”: fatos que não
devem ser lembrados, sob pena de ameaçar a
unidade do grupo, questionando sua identidade.
n Processos de repressão e violência social e
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A memória e os desafios no
mundo atual: ética e utopia
n Função ética
Diante dos desafios do mundo atual,
particularmente aqueles que dizem respeito à
falta de projetos de futuro, a memória cumpre
a função de atualizar as lembranças agindo.
Lembramos menos para conhecer do que para
agir
“Direito à memória” e “dever de memória”
n Memória e utopia
Representa um contraponto à timidez,
recuo ou crise das utopias racionalistas.
A memória apontando os lugares de
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A memória como alimento para agregação
As lembranças grupais se apóiam umas às
outras formando um sistema que subsiste
enquanto puder sobreviver a memória grupal.
Se por acaso, esquecemos, não basta que os
outros testemunhem o que  vivemos. É preciso
mais: é preciso estar sempre confrontando,
comunicando e recebendo impressões para que
nossas lembranças ganhem consistência
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nesses variados territórios da cidade, como muitos
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rica e fortemente mobilizadora, de regenerar o
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conhecemos. E uma condição para prosseguir o
trabalho no qual estamos empenhados, de colaborar
no processo de democratização de nosso país,
reduzindo a desigualdade característica da estrutura
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Eu tenho uma partícula de
cada um: a fala, as
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já tive junto a outras
pessoas. É por isso que nós
temos memória, né?”
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Por isso, na favela a memória é ativa. É
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  • 1. Outubro de 2018 Memória, Cidade Marize Bastos da Cunha
  • 2. A destruição do passado- ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas- é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso, os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Eric Hobsbawn
  • 3. Durante muito tempo acreditei que a casa da memória, era como um antigo barraco, na ponta de um morro, calmo e frio: Memória era aquilo do passado que fica congelado. É sempre o que foi. Quem já fui. Aquilo que fomos, ou o que morremos. A memória tinha a cara de museu: espaço em que quadros, objetos, fotos, vídeos e músicas, despertam a emoção da lembrança. Sendo assim, a memória precisa de um tempo estático: passado. Um lugar: Calmo. Um rosto: sério, ou no máximo, com um sorrio metade triste, metade saudoso. E um tempo verbal: o pretérito, melhor dizendo, a vida que, como o último trem, partiu e não voltará mais. A memória, assim entendida, é o que desperta a lembrança e a congela e a guarda nos museus: sejam eles os clássicos, com os dinossauros, sejam os modernos: com os vídeos, roupas, e barracos. Mc Raphael Calazans
  • 4. A memória e a mudança histórica O mundo em deslocamento: globalização (novas formas de sociabilidade do trabalho, novas formas de comunicação, d e s l o c a m e n t o s p o p u l a c i o n a i s e desenraízamentos) conflitos políticos e religiosos guerras que trazem extermínio e grandes migrações
  • 7. Desafio de construir ou reconstruir identidades pulverizadas, seja pelas configurações político-sociais que produziram os dramas das m i n o r i a s é t n i c a s e d o s d i v e r s o s “marginalizados”, seja pelos processos políticos e econômicos, que se traduziram no chamado neoliberalismo, reproduzindo em escala ampliada a imagem do “excluído”.
  • 9. Memória, identidade e cidadania n Do vínculo com o passado se extrai a força para formação de identidade n Memória como alimento que permite a constituição de novas identidades n Memória como resistência à pulverização n Está na raiz de movimentos identitários (sociais e/ou políticos) e de afirmação de novas subjetividades, de novas cidadanias.
  • 10. Batalhas da memória A memória busca reabilitar “a periferia e a marginalidade”, e “entra em disputa”, num terreno de conflito e competição entre memórias concorrentes (Michael Pollack) Exemplos: resgate de experiências marginais ou historicamente traumáticas, localizadas fora das fronteiras ou na periferia da história oficial ou dominante; estudos sobre as vítimas do nazismo; anos da ditadura militar; estudos sobre a escravidão; estudos sobre grupos sociais atingidos por processos de violência, expropriação.
  • 11. n Preocupação com a memória histórica é um fenômeno que vem caracterizando o trabalho de várias instituições, ONG´s, diversos grupos sociais. n Iniciativas destinadas à criação de centros de memória, projetos de revitalização de sítios históricos, rurais e urbanos, ou de memória institucional, núcleos de documentação e pesquisa, museus, programas de história, elaboração de vídeos e documentários.
  • 12. As várias memórias n Memória individual: a recordação de uma pessoa só se torna fato social quando ela a expressa verbalmente para alguém. n Memória coletiva: pertence a um determinado grupo, assegurando coesão e solidariedade a seus componentes (gênero, etnia, grupo social etc) n Memória nacional: unificadora e integradora, procurando a harmonia e sublimando o conflito.
  • 13. Da memória individual à memória coletiva Os personagens e os fatos sociais
  • 15. Os lugares de memória
  • 16. Ocupação Exército , 2010 Desabamento no Alemão, temporal dezembro de 2013
  • 17. Manifestação assassinato de Paulo Roberto, Manguinhos, 2013 Manifestação Manguinhos, Mães de Manguinhos 2014
  • 18. Manifestação contra o assassinato de Marcos Heleno (Markin) no Alemão, 2014
  • 22. Construção da Ponte Rio Niterói
  • 23. "PM prende favelados pelo pescoço, um tipo inusitado de ‘algema’", Jornal do Brasil, 1982, Foto de Luiz Morier
  • 24. Elementos constitutivos da memória n Acontecimentos vividos pessoalmente n Vividos “por tabela”, ou seja vividos pelo grupo ou coletividade da qual a pessoa se sente pertencer; “memória herdada”. n Memória constituída por personagens (encontrados pessoalmente e “por tabela”.) n Os lugares de memória: ligados à lembrança, “lugares de comemoração”.
  • 25. O esquecimento n Construção de memória implica em escolhas entre os fatos do passado que devem/podem ser lembrados; fatos “esquecidos”, o “não dito”. n “Projetos de esquecimento”: fatos que não devem ser lembrados, sob pena de ameaçar a unidade do grupo, questionando sua identidade. n Processos de repressão e violência social e política: sofrimento e ressentimento.
  • 26. A memória e os desafios no mundo atual: ética e utopia n Função ética Diante dos desafios do mundo atual, particularmente aqueles que dizem respeito à falta de projetos de futuro, a memória cumpre a função de atualizar as lembranças agindo. Lembramos menos para conhecer do que para agir “Direito à memória” e “dever de memória”
  • 27. n Memória e utopia Representa um contraponto à timidez, recuo ou crise das utopias racionalistas. A memória apontando os lugares de realização histórica. Construção de mitos idenditários que tem informado as ações de reconhecimento social e político.
  • 28. A memória como alimento para agregação As lembranças grupais se apóiam umas às outras formando um sistema que subsiste enquanto puder sobreviver a memória grupal. Se por acaso, esquecemos, não basta que os outros testemunhem o que  vivemos. É preciso mais: é preciso estar sempre confrontando, comunicando e recebendo impressões para que nossas lembranças ganhem consistência Eclea Bosi
  • 29. 2002 Oficina Condutores de Memória Recordando a História, Chácara do Céu, Tijuca
  • 30. 2013 Vamos Desenrolar, Memória Complexo do Alemão Discutindo Memória do Alemão
  • 31. Encontro de discussão sobre remoções , 2013 Ocupa Borel, 2012
  • 32. Arte feita por grafiteiros da zona norte, em homenagem aos que se foram nesta guerra sem fim, Alemão, 2018
  • 33. Recuperar a memória da experiência compartilhada nesses variados territórios da cidade, como muitos grupos estão fazendo é uma forma, fundamental, rica e fortemente mobilizadora, de regenerar o tecido social tão esgarçado pelas razões que conhecemos. E uma condição para prosseguir o trabalho no qual estamos empenhados, de colaborar no processo de democratização de nosso país, reduzindo a desigualdade característica da estrutura urbana carioca. Luiz Antônio Machado
  • 34. Eu tenho uma partícula de cada um: a fala, as orientações que eu já ouvi, as capacitações que eu já participei, as coisas que eu já tive junto a outras pessoas. É por isso que nós temos memória, né?” Rosana, educadora nas favelas da Grande Tijuca Arquivo Condutores de Memória
  • 35. Por isso, na favela a memória é ativa. É bandeira de reivindicação do direito à vida. Ela recusa depositar num espaço a saudade e as lembranças. Não é possível ter passado, para quem não consegue garantir o futuro. Por isso o lugar da memória na favela é o presente. Um presente dado à vida. Mc Raphael Calazans
  • 36. Entrevista com Alan Brum, 1998
  • 37. Espaço criado pelo Raízes em Movimento a partir de escombros das obras do PAC, Avenida Central, Atual Praça Verde
  • 38. O que a memória nos diz? O que diz aos territórios de periferia? O que diz à cidade?