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ESPECIAL 
Uma Abordagem Voltada à Automação Industrial 
Julio Cezar Adamowski 
Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos 
Escola Politécnica da USP 
Celso Massatoshi Furukawa 
Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos 
Escola Politécnica da USP 
A Mecatrônica pode ser definida como a integração de Me-cânica, 
Eletrônica e Computação de forma concorrente. Essa 
combinação tem possibilitado a simplificação dos sistemas 
mecânicos, a redução de tempos de desenvolvimento e custos, 
e a obtenção de produtos com elevado grau de flexibilidade e 
capacidade de adaptação a diferentes condições de operação. 
Os conceitos de Mecatrônica podem ser empregados numa vasta 
gama de aplicações, sendo que este artigo é focado na área de 
Automação Industrial. 
INTRODUÇÃO 
MECATRÔNICA 
O mundo vem presenciando nos 
últimos anos o avanço vertiginoso da 
Microeletrônica, num ritmo que até o 
momento não tem dado sinais de 
desaceleração. Como resultado, são 
obtidos circuitos eletrônicos cada vez 
mais rápidos e poderosos, mas para-doxalmente 
cada vez menores, mais 
baratos e econômicos. Associados di-retamente 
à Microeletrônica, o com-putador 
digital e as Ciências da Com-putação 
também se desenvolvem ra-pidamente, 
num círculo virtuoso em 
que computadores mais poderosos 
favorecem o desenvolvimento de apli-cações 
mais complexas, que por sua 
vez exigem cada vez mais poder 
computacional. 
Apesar desses resultados estarem 
causando uma ampla revolução 
tecnológica na Engenharia e na 
sociedade em geral, quando são asso-ciados 
à sistemas mecânicos é que se 
observa um maior impacto nos sistemas 
produtivos e no cotidiano das pessoas. 
Não é de hoje que componentes 
eletrônicos (tais como sensores, 
atuadores eletro-mecânicos e circui-tos 
de controle) são utilizados no con-trole 
e acionamento de sistemas me-cânicos. 
No entanto, foi o recente de-senvolvimento 
dos circuitos integrados 
que possibilitou a produção em larga 
escala e baixo custo de micropro-cessadores 
dedicados conhecidos 
como microcontroladores. Hoje esses 
dispositivos eletrônicos estão presen-tes 
não apenas em máquinas e equi-pamentos 
industriais mas também nos 
automóveis, nas máquinas de lavar 
roupas, nos sistemas de ar condicio-nado, 
aparelhos de vídeo, etc. Os sis-temas 
mecânicos sofreram profundas 
modificações conceituais com a incor-poração 
da capacidade de proces-samento, 
o que permitiu torná-los mais 
rápidos, eficientes e confiáveis, a cus-tos 
cada vez menores. 
No Japão, a combinação bem su-cedida 
de Mecânica, Eletrônica e 
Processamento Digital em produtos de 
consumo recebeu o cognome de 
Mecatrônica no final da década de 70. 
A figura 1 representa de forma gené-rica 
um sistema mecatrônico. Os 
sensores captam as informações do 
mundo físico que são processadas 
digitalmente, resultando em ações de 
controle. O sistema de controle age 
sobre o sistema físico através de 
atuadores. Disto resulta um sistema 
realimentado, que pode representar 
sistemas com níveis variados de com-plexidade. 
Essa combinação pode gerar uma 
gama muito ampla de aplicações, de 
tal forma que o termo Mecatrônica 
pode ser interpretado de formas dife-rentes 
dependendo da aplicação em 
questão. Este artigo tem seu foco na 
Automação Industrial, com particular 
ênfase na indústria de manufatura. 
Este é o foco adotado no curso de 
Engenharia Mecânica com habilitação 
em Automação e Sistemas da Escola 
Politécnica da USP (EPUSP), com o 
qual os autores se encontram envol-vidos 
(Cozman, 2000). 
MECATRÔNICA 
Muitos engenheiros consideram 
que a Mecatrônica surgiu com o de-senvolvimento 
dos robôs. Os projetos 
na área de Robótica impulsionaram o 
desenvolvimento de outras áreas, tais 
como o controle realimentado a partir 
da fusão de informações sensoriais, 
tecnologias de sensores e atuadores, 
8 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001
ESPECIAL 
Figura 1 - Sistema mecatrônico. 
programação de alto nível, cinemática 
e dinâmica. O grande avanço na área 
de Robótica somente foi possível com 
o surgimento do microprocessador, 
pois o controle de trajetória dos robôs 
articulados envolve cálculos complica-dos 
que devem ser realizados em tem-po 
real. 
Segundo Schweitzer da ETH de 
Zurich (1996), Mecatrônica é uma área 
interdisciplinar que combina a Enge-nharia 
Mecânica, a Engenharia Ele-trônica 
e Ciências da Computação. 
Van Brussel, da Universidade Ca-tólica 
de Leuven (1996), considera 
Mecatrônica como a combinação de 
Engenharia Mecânica, Engenharia de 
Controle, Microeletrônica e Ciência da 
Computação, numa abordagem de en-genharia 
concorrente, isto é, deve-se 
ter uma visão simultânea das possibi-lidades 
nas diferentes disciplinas en-volvidas, 
em contraste com as abor-dagens 
tradicionais que geralmente 
tratam os problemas separadamente. 
Salminen, da empresa FIMET da 
Finlândia (1992), define Mecatrônica 
como sendo a combinação de mecâ-nica 
e eletrônica para melhorar a ope-ração 
em vários aspectos, aumentar 
a segurança e reduzir custos de má-quinas 
e equipamentos. Presume-se 
que o autor considera a Computação 
como parte da Eletrônica. 
Acar, da Universidade de 
Loughborough na Inglaterra (1996), 
considera a Mecatrônica como uma 
filosofia de projeto, baseada na 
integração de Microeletrônica, Com-putação 
e Controle em Sistemas 
Mecânicos, para se obter a melhor 
solução de projeto e produtos com 
um certo grau de “inteligência” e “fle-xibilidade”. 
Existem vários outros artigos que 
discutem a definição de Mecatrônica 
(Ashley, 1997), porém verifica-se que 
o ponto comum à maioria das abor-dagens 
é, mais que a simples soma, 
a integração de diferentes tecnologias. 
A partir de meados da década de 
80, países como Austrália, Japão, 
Coréia do Sul, além de alguns países 
Europeus, iniciaram a criação de cur-sos 
de graduação e pós-graduação 
voltados ao ensino multidisciplinar de 
Mecatrônica (Acar, 1997). 
Nos Estados Unidos não foram 
criados cursos específicos de Enge-nharia 
Mecatrônica, porém foram 
introduzidas, nos currículos dos cur-sos 
de graduação, disciplinas que 
apresentam o conceito de Mecatrônica 
(Ashley, 1997). Na grande maioria das 
Faculdades de Engenharia dos 
E.U.A., as modificações foram feitas 
nos cursos de Engenharia Mecâni-ca, 
com disciplinas que abordam a 
integração de Mecânica, Eletrônica 
e Computação, para o desenvolvi-mento 
de componentes e máquinas. 
Na Finlândia foi introduzido em 
1987 um programa especial de pes-quisa 
em Mecatrônica com a partici-pação 
de quatro universidades técni-cas. 
Este programa contou com um 
orçamento de 6,5 milhões de dólares 
até 1990, e a participação de aproxi-madamente 
80 indústrias atuando em 
setores estratégicos (máquinas para 
fabricação de papel, telefonia móvel, 
máquinas florestais, robôs especiais) 
(Salminen, 1996). O programa atingiu 
o objetivo de difundir os conceitos de 
Mecatrônica nas indústrias e em 1995 
um novo programa foi introduzido, com 
horizonte de quatro anos e um orça-mento 
de 20 milhões de dólares, en-volvendo 
universidades, centros de 
pesquisa e indústrias, com novos te-mas 
na área de Mecatrônica. 
Na Inglaterra, a comunidade envol-vida 
com Mecatrônica só recebeu 
aceitação oficial em 1990 com a cria-ção 
de um Fórum de Mecatrônica 
apoiado pelo IEE (Institute of Electrical 
Enginners) e o MechE (Institute of 
Mechanical Engineers) (Hewit, 1996). 
No Brasil, o primeiro curso de gra-duação 
em Mecatrônica surgiu no fi-nal 
da década de 80, como uma inicia-tiva 
pioneira da Escola Politécnica da 
USP. O curso, denominado Automação 
e Sistemas, foi implementado no De-partamento 
de Engenharia Mecânica, 
aproveitando-se o núcleo do curso de 
Engenharia Mecânica, ao qual se in-troduziram 
disciplinas novas de Ele-trônica 
e Computação (Cozman, 
2000). Este curso foi iniciado em 1988 
e já formou cerca de 450 engenheiros 
até o final de 2000. 
CONCEITOS DE MECATRÔNICA 
Atualmente a Mecatrônica é enten-dida 
como uma filosofia relacionada 
à aplicação combinada de conheci-mentos 
de áreas tradicionais como a 
Engenharia Mecânica, Eletrônica e 
Computação de forma integrada e 
concorrente, conforme mostra a figu-ra 
2. Uma combinação para ser con-corrente 
deve extrair o que há de mais 
adequado em cada uma das áreas, de 
tal forma que o resultado final é mais 
do que a simples soma de tais es-pecialidades, 
mas sim uma sinergia 
entre elas. 
O conceito de Mecatrônica repre-senta 
a combinação adequada de ma-teriais 
(resistência dos materiais, com-portamento 
térmico, etc.), mecanis-mos 
(cinemática, dinâmica), sensores, 
atuadores, eletrônica e processamen-to 
digital (controle, processamento de 
sinais, simulação, projeto auxiliado por 
computador), possibilitando as seguin-tes 
características: 
a) No projeto 
· Simplificação do sistema me-cânico; 
· Redução de tempo e de custo de 
desenvolvimento; 
MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 9
ESPECIAL 
Figura 2 - Uma representação esquemática da Mecatrônica. 
· facilidade de se introduzir modi-ficações 
ou novas capacidades; 
· flexibilidade para receber futu-ras 
modificações ou novas funciona-lidades. 
b) No produto: 
· flexibilidade de operação: 
programabilidade; 
· inteligência: capacidade para 
sensoriar e processar informações 
para se adaptar a diferentes condições 
de operação; 
· auto-monitoração e prevenção 
ativa de acidentes; 
· auto-diagnóstico em caso de 
falhas; 
· redução do custo de manuten-ção 
e consumo de energia; 
· elevado grau de precisão e 
confiabilidade. 
Vejamos alguns exemplos de como 
esses resultados são possíveis, den-tro 
da área de Automação Industrial. 
Sistemas tais como máquinas fer-ramentas 
e máquinas de manufatura 
em geral eram compostos por meca-nismos 
para sincronização de movi-mentos 
e normalmente acionados por 
um só atuador (em geral, um motor 
elétrico). A grande complexidade dos 
mecanismos exigia precisão elevada 
para diminuir folgas e dispositivos de 
lubrificação para reduzir atritos. Essas 
máquinas sofreram um grande desen-volvimento, 
com a introdução do con-trole 
numérico computadorizado 
(CNC), possibilitando a obtenção de 
peças com formas tridimensionais 
complexas. Os Controladores Lógicos 
Programáveis (CLP) possibilitaram 
grandes modificações na indústria 
com a automação de processos, me-lhorando 
o desempenho e a qualida-de 
dos produtos. 
A utilização de mecanismos elás-ticos 
tem se tornado uma realidade 
e possibilita a eliminação de juntas 
articuladas, por exemplo. Estrutu-ras 
flexíveis podem ser controladas, 
através de sensores e atuadores 
montados ao longo dessas estrutu-ras, 
passando a apresentar compor-tamentos 
desejados, como por 
exemplo, maior rigidez e eliminação 
de modos de vibração. 
As aplicações de computação em 
Engenharia Mecânica evoluíram a par-tir 
do início da década de 80 com a 
evolução vertiginosa do poder de 
processamento dos computadores, 
acompanhado por um imenso declínio 
de preços. Antes disso, programas 
para análise estrutural, térmica ou flui-da 
eram rodados em computadores 
tipo main frame com entrada de da-dos 
em cartões perfurados e saídas 
em forma de listagens. Atualmente 
esses programas de análise oferecem 
excelentes interfaces gráficas para o 
usuário, tanto relacionadas à entrada 
de dados como apresentação dos re-sultados. 
Hoje, modelos matemáticos 
sofisticados e cada vez mais comple-xos 
podem ser simulados mesmo em 
computadores pessoais. 
NÍVEIS 
Para alguns, Mecatrônica é o con-ceito 
de engenharia integrada que uti-liza 
CAD e CAM para gerar um produ-to 
complexo como, por exemplo, um 
robô. Um engenheiro de produção, 
por outro lado, pode entender a 
Mecatrônica como sendo a imple-mentação 
de um sistema flexível de 
manufatura. Um engenheiro, ao pro-jetar 
uma câmara de vídeo, pode 
entendê-la como a utilização de ele-trônica 
numa aplicação Mecânica. Já 
um engenheiro químico pode enten-der 
a Mecatrônica como o controle de 
um processo químico utilizando 
sensores e atuadores, controlados por 
um processador digital. Provavelmen-te 
todos estão corretos, pois a 
Mecatrônica está presente em diferen-tes 
níveis. 
Neste artigo são definidos os se-guintes 
níveis: 
· Componente (por exemplo, circui-tos 
integrados, sensores, atuadores, 
mecanismos); 
· Máquina (máquinas de usi-nagem, 
medição, inspeção, movimen-tação, 
embalagem); 
· Sistema (FMS - flexible manu-facturing 
system, FAS - factory 
automation system, CIM - computer 
integrated manufacturing). 
10 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001
ESPECIAL 
A atuação profissional nos diferen-tes 
níveis está relacionada com o grau 
de compreensão exigido dos fenôme-nos 
físicos envolvidos: quanto mais 
próximo, maior deve ser o domínio 
sobre eles. O nível de componente 
exige o maior grau de domínio, en-quanto 
que o nível de sistema requer 
o menor. Desta forma, conforme nos 
distanciamos do nível físico, diminui-se 
a complexidade física envolvida 
devido ao aumento do nível de abs-tração. 
Por outro lado aumenta tam-bém 
a complexidade lógica do siste-ma, 
exigindo maior poder de pro-cessamento 
para lidar com uma mai-or 
quantidade de informação. É o que 
ilustra a figura 3. 
No caso de um sensor de tempe-ratura, 
por exemplo, precisamos ter 
conhecimento dos fenômenos físicos 
que podem ser utilizados para reali-zar 
a medida (variação de resistência, 
dilatação térmica, junção termo-par, 
etc), as vantagens e desvantagens de 
cada um, as condições em que a me-dida 
deverá ser feita (tempo de res-posta, 
faixa de temperatura, precisão 
e condições ambientais adversas), e 
a eletrônica necessária para con-dicionar 
o sinal e permitir a sua leitu-ra. 
No caso extremo do projeto de um 
sensor desse tipo, a informação de-sejada 
é o valor real de uma tempera-tura, 
e seu processamento envolve a 
transdução para um sinal elétrico. 
No noutro extremo, um sistema de 
automação de fábrica (FAS) deve li-dar 
com informações bastante abstra-tas, 
tais como adequação de esto-ques, 
capacidade produtiva das má-quinas, 
previsões de demanda, esca-las 
de manutenção, possibilidade de 
falhas, limites de consumo de energia, 
etc. A geração de um planejamento 
otimizado de produção (o que produ-zir, 
quando e como) e o posterior con-trole 
da produção (com correções ocor-rendo 
ao longo do trabalho) exige o 
conhecimento preciso e instantâneo de 
todas estas variáveis e de muitas ou-tras 
mais, além de envolver algoritmos 
sofisticados para tomada de decisões. 
DISCUSSÃO 
O ponto importante do conceito e 
da filosofia de Mecatrônica é a combi-nação 
concorrente da Mecânica, Ele-trônica 
e Computação, de forma inte-grada 
para se obter, no produto, ca-racterísticas, 
tais como, flexibilidade e 
inteligência, e no projeto, sistemas me-cânicos 
mais simples, redução de cus-tos 
e facilidade para se introduzir 
modificações. 
Os grandes desafios impostos pela 
Mecatrônica são: atualização constan-te 
e projetos visando a integração de 
conhecimentos de diferentes áreas.Os 
meios de comunicação têm acompa-nhado 
esta evolução e a Internet tem 
possibilitado consulta rápida a forne-cedores 
e fabricantes de componen-tes, 
máquinas e sistemas. A integra-ção, 
sendo uma característica dos pro-jetos 
em Mecatrônica, exige do pro-fissional 
não apenas um conhecimen-to 
técnico abrangente, mas também 
a habilidade para trabalhar em equi-pe, 
uma vez que seria muito difícil um 
único profissional ter domínio total 
sobre todas as áreas envolvidas. 
O rápido desenvolvimento científi-co 
e tecnológico que estamos presen-ciando 
inviabiliza a formação de pro-fissionais 
com profundo domínio de 
todas as especialidades que com-põem 
a Mecatrônica, exigindo que a 
educação ocorra de forma continu-ada 
mesmo após a conclusão do 
curso. l 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
1. Acar M., Parkin R.M., 
Engineering Education for Mecha-tronics, 
IEEE Transactions on Indus-trial 
Electronics, vol. 43, no. 1, p.106- 
112, 1996. 
2. Acar M., Mechatronics 
Challenge for the Higher Education 
World, IEEE Transactions on 
Components, Packing, and Manu-facturing 
Technology, vol. 20, no. 1, 
p.14-20, 1997. 
3. Ashley S., Getting a Hold on 
Mechatronics, Mechanical Enginee-ring 
, ASME, maio de 97, p. 60-63, 
1997. 
4. Cozman F.G., Furukawa C.M., A 
Reestruturação Curricular do Curso de 
Mecatrônica da Escola Politécnica, 
Anais do COBENGE 2000, Ouro Pre-to, 
MG, out. 2000. 
5. Hewit, J.R. & King, T.G., 
Mechatronics Design for Product 
Enhancement, IEEE/ASME Transac-tions 
on Mechatronics, vol. 1, no. 2, 
p.111-119, 1996. 
6. Salminen V., Ten Years of 
Mechatronics Research and Industri-al 
Applications in Finland, IEEE/ASME 
Transactions on Mechatronics, vol. 1, 
no. 2, p.103-105, 1996. 
7. Van Brussel H.M.J., Mecha-tronics 
– A Powerful Concurrent 
Engineering Framework, IEEE/ASME 
Transactins on Mechatronics, vol. 1, no. 
2, p.127-136. 
Figura 3 - A complexidade física é maior no nível de componente, enquanto que a complexidade 
lógica é maior no nível de sistema 
MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 11

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Abordagem voltada à automação industrial

  • 1. ESPECIAL Uma Abordagem Voltada à Automação Industrial Julio Cezar Adamowski Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos Escola Politécnica da USP Celso Massatoshi Furukawa Professor Doutor do Departamento de Engenharia Mecatrônica e de Sistemas Mecânicos Escola Politécnica da USP A Mecatrônica pode ser definida como a integração de Me-cânica, Eletrônica e Computação de forma concorrente. Essa combinação tem possibilitado a simplificação dos sistemas mecânicos, a redução de tempos de desenvolvimento e custos, e a obtenção de produtos com elevado grau de flexibilidade e capacidade de adaptação a diferentes condições de operação. Os conceitos de Mecatrônica podem ser empregados numa vasta gama de aplicações, sendo que este artigo é focado na área de Automação Industrial. INTRODUÇÃO MECATRÔNICA O mundo vem presenciando nos últimos anos o avanço vertiginoso da Microeletrônica, num ritmo que até o momento não tem dado sinais de desaceleração. Como resultado, são obtidos circuitos eletrônicos cada vez mais rápidos e poderosos, mas para-doxalmente cada vez menores, mais baratos e econômicos. Associados di-retamente à Microeletrônica, o com-putador digital e as Ciências da Com-putação também se desenvolvem ra-pidamente, num círculo virtuoso em que computadores mais poderosos favorecem o desenvolvimento de apli-cações mais complexas, que por sua vez exigem cada vez mais poder computacional. Apesar desses resultados estarem causando uma ampla revolução tecnológica na Engenharia e na sociedade em geral, quando são asso-ciados à sistemas mecânicos é que se observa um maior impacto nos sistemas produtivos e no cotidiano das pessoas. Não é de hoje que componentes eletrônicos (tais como sensores, atuadores eletro-mecânicos e circui-tos de controle) são utilizados no con-trole e acionamento de sistemas me-cânicos. No entanto, foi o recente de-senvolvimento dos circuitos integrados que possibilitou a produção em larga escala e baixo custo de micropro-cessadores dedicados conhecidos como microcontroladores. Hoje esses dispositivos eletrônicos estão presen-tes não apenas em máquinas e equi-pamentos industriais mas também nos automóveis, nas máquinas de lavar roupas, nos sistemas de ar condicio-nado, aparelhos de vídeo, etc. Os sis-temas mecânicos sofreram profundas modificações conceituais com a incor-poração da capacidade de proces-samento, o que permitiu torná-los mais rápidos, eficientes e confiáveis, a cus-tos cada vez menores. No Japão, a combinação bem su-cedida de Mecânica, Eletrônica e Processamento Digital em produtos de consumo recebeu o cognome de Mecatrônica no final da década de 70. A figura 1 representa de forma gené-rica um sistema mecatrônico. Os sensores captam as informações do mundo físico que são processadas digitalmente, resultando em ações de controle. O sistema de controle age sobre o sistema físico através de atuadores. Disto resulta um sistema realimentado, que pode representar sistemas com níveis variados de com-plexidade. Essa combinação pode gerar uma gama muito ampla de aplicações, de tal forma que o termo Mecatrônica pode ser interpretado de formas dife-rentes dependendo da aplicação em questão. Este artigo tem seu foco na Automação Industrial, com particular ênfase na indústria de manufatura. Este é o foco adotado no curso de Engenharia Mecânica com habilitação em Automação e Sistemas da Escola Politécnica da USP (EPUSP), com o qual os autores se encontram envol-vidos (Cozman, 2000). MECATRÔNICA Muitos engenheiros consideram que a Mecatrônica surgiu com o de-senvolvimento dos robôs. Os projetos na área de Robótica impulsionaram o desenvolvimento de outras áreas, tais como o controle realimentado a partir da fusão de informações sensoriais, tecnologias de sensores e atuadores, 8 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001
  • 2. ESPECIAL Figura 1 - Sistema mecatrônico. programação de alto nível, cinemática e dinâmica. O grande avanço na área de Robótica somente foi possível com o surgimento do microprocessador, pois o controle de trajetória dos robôs articulados envolve cálculos complica-dos que devem ser realizados em tem-po real. Segundo Schweitzer da ETH de Zurich (1996), Mecatrônica é uma área interdisciplinar que combina a Enge-nharia Mecânica, a Engenharia Ele-trônica e Ciências da Computação. Van Brussel, da Universidade Ca-tólica de Leuven (1996), considera Mecatrônica como a combinação de Engenharia Mecânica, Engenharia de Controle, Microeletrônica e Ciência da Computação, numa abordagem de en-genharia concorrente, isto é, deve-se ter uma visão simultânea das possibi-lidades nas diferentes disciplinas en-volvidas, em contraste com as abor-dagens tradicionais que geralmente tratam os problemas separadamente. Salminen, da empresa FIMET da Finlândia (1992), define Mecatrônica como sendo a combinação de mecâ-nica e eletrônica para melhorar a ope-ração em vários aspectos, aumentar a segurança e reduzir custos de má-quinas e equipamentos. Presume-se que o autor considera a Computação como parte da Eletrônica. Acar, da Universidade de Loughborough na Inglaterra (1996), considera a Mecatrônica como uma filosofia de projeto, baseada na integração de Microeletrônica, Com-putação e Controle em Sistemas Mecânicos, para se obter a melhor solução de projeto e produtos com um certo grau de “inteligência” e “fle-xibilidade”. Existem vários outros artigos que discutem a definição de Mecatrônica (Ashley, 1997), porém verifica-se que o ponto comum à maioria das abor-dagens é, mais que a simples soma, a integração de diferentes tecnologias. A partir de meados da década de 80, países como Austrália, Japão, Coréia do Sul, além de alguns países Europeus, iniciaram a criação de cur-sos de graduação e pós-graduação voltados ao ensino multidisciplinar de Mecatrônica (Acar, 1997). Nos Estados Unidos não foram criados cursos específicos de Enge-nharia Mecatrônica, porém foram introduzidas, nos currículos dos cur-sos de graduação, disciplinas que apresentam o conceito de Mecatrônica (Ashley, 1997). Na grande maioria das Faculdades de Engenharia dos E.U.A., as modificações foram feitas nos cursos de Engenharia Mecâni-ca, com disciplinas que abordam a integração de Mecânica, Eletrônica e Computação, para o desenvolvi-mento de componentes e máquinas. Na Finlândia foi introduzido em 1987 um programa especial de pes-quisa em Mecatrônica com a partici-pação de quatro universidades técni-cas. Este programa contou com um orçamento de 6,5 milhões de dólares até 1990, e a participação de aproxi-madamente 80 indústrias atuando em setores estratégicos (máquinas para fabricação de papel, telefonia móvel, máquinas florestais, robôs especiais) (Salminen, 1996). O programa atingiu o objetivo de difundir os conceitos de Mecatrônica nas indústrias e em 1995 um novo programa foi introduzido, com horizonte de quatro anos e um orça-mento de 20 milhões de dólares, en-volvendo universidades, centros de pesquisa e indústrias, com novos te-mas na área de Mecatrônica. Na Inglaterra, a comunidade envol-vida com Mecatrônica só recebeu aceitação oficial em 1990 com a cria-ção de um Fórum de Mecatrônica apoiado pelo IEE (Institute of Electrical Enginners) e o MechE (Institute of Mechanical Engineers) (Hewit, 1996). No Brasil, o primeiro curso de gra-duação em Mecatrônica surgiu no fi-nal da década de 80, como uma inicia-tiva pioneira da Escola Politécnica da USP. O curso, denominado Automação e Sistemas, foi implementado no De-partamento de Engenharia Mecânica, aproveitando-se o núcleo do curso de Engenharia Mecânica, ao qual se in-troduziram disciplinas novas de Ele-trônica e Computação (Cozman, 2000). Este curso foi iniciado em 1988 e já formou cerca de 450 engenheiros até o final de 2000. CONCEITOS DE MECATRÔNICA Atualmente a Mecatrônica é enten-dida como uma filosofia relacionada à aplicação combinada de conheci-mentos de áreas tradicionais como a Engenharia Mecânica, Eletrônica e Computação de forma integrada e concorrente, conforme mostra a figu-ra 2. Uma combinação para ser con-corrente deve extrair o que há de mais adequado em cada uma das áreas, de tal forma que o resultado final é mais do que a simples soma de tais es-pecialidades, mas sim uma sinergia entre elas. O conceito de Mecatrônica repre-senta a combinação adequada de ma-teriais (resistência dos materiais, com-portamento térmico, etc.), mecanis-mos (cinemática, dinâmica), sensores, atuadores, eletrônica e processamen-to digital (controle, processamento de sinais, simulação, projeto auxiliado por computador), possibilitando as seguin-tes características: a) No projeto · Simplificação do sistema me-cânico; · Redução de tempo e de custo de desenvolvimento; MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 9
  • 3. ESPECIAL Figura 2 - Uma representação esquemática da Mecatrônica. · facilidade de se introduzir modi-ficações ou novas capacidades; · flexibilidade para receber futu-ras modificações ou novas funciona-lidades. b) No produto: · flexibilidade de operação: programabilidade; · inteligência: capacidade para sensoriar e processar informações para se adaptar a diferentes condições de operação; · auto-monitoração e prevenção ativa de acidentes; · auto-diagnóstico em caso de falhas; · redução do custo de manuten-ção e consumo de energia; · elevado grau de precisão e confiabilidade. Vejamos alguns exemplos de como esses resultados são possíveis, den-tro da área de Automação Industrial. Sistemas tais como máquinas fer-ramentas e máquinas de manufatura em geral eram compostos por meca-nismos para sincronização de movi-mentos e normalmente acionados por um só atuador (em geral, um motor elétrico). A grande complexidade dos mecanismos exigia precisão elevada para diminuir folgas e dispositivos de lubrificação para reduzir atritos. Essas máquinas sofreram um grande desen-volvimento, com a introdução do con-trole numérico computadorizado (CNC), possibilitando a obtenção de peças com formas tridimensionais complexas. Os Controladores Lógicos Programáveis (CLP) possibilitaram grandes modificações na indústria com a automação de processos, me-lhorando o desempenho e a qualida-de dos produtos. A utilização de mecanismos elás-ticos tem se tornado uma realidade e possibilita a eliminação de juntas articuladas, por exemplo. Estrutu-ras flexíveis podem ser controladas, através de sensores e atuadores montados ao longo dessas estrutu-ras, passando a apresentar compor-tamentos desejados, como por exemplo, maior rigidez e eliminação de modos de vibração. As aplicações de computação em Engenharia Mecânica evoluíram a par-tir do início da década de 80 com a evolução vertiginosa do poder de processamento dos computadores, acompanhado por um imenso declínio de preços. Antes disso, programas para análise estrutural, térmica ou flui-da eram rodados em computadores tipo main frame com entrada de da-dos em cartões perfurados e saídas em forma de listagens. Atualmente esses programas de análise oferecem excelentes interfaces gráficas para o usuário, tanto relacionadas à entrada de dados como apresentação dos re-sultados. Hoje, modelos matemáticos sofisticados e cada vez mais comple-xos podem ser simulados mesmo em computadores pessoais. NÍVEIS Para alguns, Mecatrônica é o con-ceito de engenharia integrada que uti-liza CAD e CAM para gerar um produ-to complexo como, por exemplo, um robô. Um engenheiro de produção, por outro lado, pode entender a Mecatrônica como sendo a imple-mentação de um sistema flexível de manufatura. Um engenheiro, ao pro-jetar uma câmara de vídeo, pode entendê-la como a utilização de ele-trônica numa aplicação Mecânica. Já um engenheiro químico pode enten-der a Mecatrônica como o controle de um processo químico utilizando sensores e atuadores, controlados por um processador digital. Provavelmen-te todos estão corretos, pois a Mecatrônica está presente em diferen-tes níveis. Neste artigo são definidos os se-guintes níveis: · Componente (por exemplo, circui-tos integrados, sensores, atuadores, mecanismos); · Máquina (máquinas de usi-nagem, medição, inspeção, movimen-tação, embalagem); · Sistema (FMS - flexible manu-facturing system, FAS - factory automation system, CIM - computer integrated manufacturing). 10 MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001
  • 4. ESPECIAL A atuação profissional nos diferen-tes níveis está relacionada com o grau de compreensão exigido dos fenôme-nos físicos envolvidos: quanto mais próximo, maior deve ser o domínio sobre eles. O nível de componente exige o maior grau de domínio, en-quanto que o nível de sistema requer o menor. Desta forma, conforme nos distanciamos do nível físico, diminui-se a complexidade física envolvida devido ao aumento do nível de abs-tração. Por outro lado aumenta tam-bém a complexidade lógica do siste-ma, exigindo maior poder de pro-cessamento para lidar com uma mai-or quantidade de informação. É o que ilustra a figura 3. No caso de um sensor de tempe-ratura, por exemplo, precisamos ter conhecimento dos fenômenos físicos que podem ser utilizados para reali-zar a medida (variação de resistência, dilatação térmica, junção termo-par, etc), as vantagens e desvantagens de cada um, as condições em que a me-dida deverá ser feita (tempo de res-posta, faixa de temperatura, precisão e condições ambientais adversas), e a eletrônica necessária para con-dicionar o sinal e permitir a sua leitu-ra. No caso extremo do projeto de um sensor desse tipo, a informação de-sejada é o valor real de uma tempera-tura, e seu processamento envolve a transdução para um sinal elétrico. No noutro extremo, um sistema de automação de fábrica (FAS) deve li-dar com informações bastante abstra-tas, tais como adequação de esto-ques, capacidade produtiva das má-quinas, previsões de demanda, esca-las de manutenção, possibilidade de falhas, limites de consumo de energia, etc. A geração de um planejamento otimizado de produção (o que produ-zir, quando e como) e o posterior con-trole da produção (com correções ocor-rendo ao longo do trabalho) exige o conhecimento preciso e instantâneo de todas estas variáveis e de muitas ou-tras mais, além de envolver algoritmos sofisticados para tomada de decisões. DISCUSSÃO O ponto importante do conceito e da filosofia de Mecatrônica é a combi-nação concorrente da Mecânica, Ele-trônica e Computação, de forma inte-grada para se obter, no produto, ca-racterísticas, tais como, flexibilidade e inteligência, e no projeto, sistemas me-cânicos mais simples, redução de cus-tos e facilidade para se introduzir modificações. Os grandes desafios impostos pela Mecatrônica são: atualização constan-te e projetos visando a integração de conhecimentos de diferentes áreas.Os meios de comunicação têm acompa-nhado esta evolução e a Internet tem possibilitado consulta rápida a forne-cedores e fabricantes de componen-tes, máquinas e sistemas. A integra-ção, sendo uma característica dos pro-jetos em Mecatrônica, exige do pro-fissional não apenas um conhecimen-to técnico abrangente, mas também a habilidade para trabalhar em equi-pe, uma vez que seria muito difícil um único profissional ter domínio total sobre todas as áreas envolvidas. O rápido desenvolvimento científi-co e tecnológico que estamos presen-ciando inviabiliza a formação de pro-fissionais com profundo domínio de todas as especialidades que com-põem a Mecatrônica, exigindo que a educação ocorra de forma continu-ada mesmo após a conclusão do curso. l REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Acar M., Parkin R.M., Engineering Education for Mecha-tronics, IEEE Transactions on Indus-trial Electronics, vol. 43, no. 1, p.106- 112, 1996. 2. Acar M., Mechatronics Challenge for the Higher Education World, IEEE Transactions on Components, Packing, and Manu-facturing Technology, vol. 20, no. 1, p.14-20, 1997. 3. Ashley S., Getting a Hold on Mechatronics, Mechanical Enginee-ring , ASME, maio de 97, p. 60-63, 1997. 4. Cozman F.G., Furukawa C.M., A Reestruturação Curricular do Curso de Mecatrônica da Escola Politécnica, Anais do COBENGE 2000, Ouro Pre-to, MG, out. 2000. 5. Hewit, J.R. & King, T.G., Mechatronics Design for Product Enhancement, IEEE/ASME Transac-tions on Mechatronics, vol. 1, no. 2, p.111-119, 1996. 6. Salminen V., Ten Years of Mechatronics Research and Industri-al Applications in Finland, IEEE/ASME Transactions on Mechatronics, vol. 1, no. 2, p.103-105, 1996. 7. Van Brussel H.M.J., Mecha-tronics – A Powerful Concurrent Engineering Framework, IEEE/ASME Transactins on Mechatronics, vol. 1, no. 2, p.127-136. Figura 3 - A complexidade física é maior no nível de componente, enquanto que a complexidade lógica é maior no nível de sistema MECATRÔNICA ATUAL Nº1/OUTUBRO-NOVEMBRO/2001 11