Este documento resume as comemorações do centenário da República em Portugal, incluindo eventos realizados por várias federações da Juventude Socialista e a participação da JS nas comemorações oficiais em Lisboa.
João Vieira: Recensão "A caminho da Eurábia? Islamismo e multiculturalismo no...
Js498
1. Viva a República!
Órgão Oficial da Juventude Socialista
JOVEM
SOCIALISTA
nº- 4983 de novembro de 2010
Director Igor Carvalho
Directores-Adjuntos André Valentim, João Correia e Susana Guimarães
Equipa Responsável Alexandra Domingos, Bruno Domingos, Guido Teles,
Mariana Burguette, Marta Pereira, Richard Majid e Vasco Casimiro
Edição comemorativa do Centenário da República
comemorações
Federações da JS comemoram
Centenário da República
Opinião
PensaraRepública
EntreaHistóriaeonossoFuturo
p.07p.02e03
2. p.02 JOVEM SOCIALISTA3 de novembro de 2010
Termó
metro
A República está de parabéns. Nestes
100 anos que celebra, muitas vicissitudes
teve de ultrapassar para ser aquilo que
é, para se afirmar como o melhor sistema
de governo e para dar aos Portugueses a
esperança e a força necessárias para en-
frentar o futuro.
Centenário
da República
Escola Pública
A Escola Pública é uma das grandes vi-
tórias da República e, podemos afirmar,
do Partido Socialista. Temos um hoje um
parque escolar renovado, aberto às novas
tecnologias, ao conhecimento e à inovação.
É um investimento em bens de mérito, o
qual trará resultados daqui a uns anos.
Um líder que
não é líder
Pedro Passos Coelho tem tido uma pres-
tação medíocre à frente do PSD. Não re-
úne o consenso dentro do partido, é fre-
quentemente desmentido, trabalha para
as estatísticas e tem afirmações que não
são consentâneas com o grave momento
económico que o país vive. É caso para
se dizer que parece um Coelho que ainda
está à espera da Alice...ou tentar apren-
der a ser um líder.
A china está a pressionar os governos eu-
ropeus através do seu corpo diplomático
para que a cerimónia que premiou o dissi-
dente Chinês Liu Xiaobo com o Nobel da
Paz não se realize. Nas últimas semanas
Pequim tem se aproximado de Oslo atra-
vés dos Embaixadores, de forma a obrigá-
los a recuar na sua decisão.
china
porJoão Correia
joaocorreia@juventudesocialista.org
No mês de Outubro várias concelhias
da FAUL organizaram eventos
comemorativos do Centenário da República.
FAUL Comemora
A
FAUL organizou no dia
6 um debate sobre esta
efeméride na Secção do
PS Olivais. Teve como
moderador o Presiden-
te da JS FAUL, João
António e contou com
a presença de João
Proença (Secretário-
Geral da UGT), Maria Máxima Vaz (Profª Doutora em
História) e Duarte Carreira (Coordenador do Núcleo
JS Olivais). Desde o conteúdo da própria revolução
até às Políticas Sociais Socialistas da 1ª República, o
debate passou pelos principais momentos da instaura-
ção da República bem como dos seus primeiros anos.
A concelhia de Lisboa organizou no dia 3 um roteiro
republicano pretendendo simbolizar o início da Revo-
lução Republicana, que começou exactamente neste
dia, através de um passeio pela cidade, relembrando
alguns pontos-chave da revolução. A concelhia de
Cascais iniciou um Ciclo de Debates no dia 4, com a
deputada do PS na AR Sofia Cabral, subordinando o
primeiro debate à “Participação Cívica dos Jovens”,
na Escola Secundária Ibn Mucana. Por sua vez a con-
celhia de Sintra promoveu no dia 11 um debate sobre
o mesmo tema, na Escola Secundária Leal da Câmara,
tendo como orador Duarte Cordeiro, deputado do PS
na AR. Estas duas concelhias aproveitaram as co-
memorações do Centenário da República junto dos
alunos do Ensino Secundário de forma a sensibilizar
os jovens para a importância da sua participação na
sociedade enquanto cidadãos.
porAlexandra Domingos
alexandradomingos@juventudesocialista.org
5 de Outubro
A
Juventude Socialista fez-se representar nas comemorações
oficiais do Centenário da República, no dia 5 de Outubro de
2010, na Câmara Municipal de Lisboa, pelo Secretário-Geral,
Pedro Delgado Alves, por vários Secretários Nacionais que se
associaram ao evento, bem como por muitos militantes das federações limítrofes, que não deixaram de marcar
presença no aniversário dos primeiros 100 anos do regime republicano. A cerimónia contou com a presença das
principais figuras do Estado e de rostos ilustres de vários quadrantes da vida política, cultural e social, tendo sido
marcado por intervenções do Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da Repúbli-
ca, Artur Santos Silva, do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, do Primeiro-Ministro José
Sócrates e do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.
A Praça do Município e a varanda dos Paços do Concelho foram ainda palco de um espectáculo evocativo da
Implantação da República, os Bigodes na República, promovido pelo grupo “O Bando”.
JS marcou presença nas comemorações
oficiais do Centenário da República
3. p.03JOVEM SOCIALISTA 3 de novembro de 2010
editorial
porSusana Guimarães susanaguimaraes@juventudesocialista.org
Igor carvalho
Director do Jovem Socialista
igorcarvalho@juventudesocialista.org
Passaram 100 anos de república. Mas será
que todos temos a mesma visão sobre o conceito
republicano de um estado? Certamente que não…
Continuam a existir e coexistir manifestações do
pensamento livre e da crítica ao republicanismo.
Se para uns esta é a melhor forma de estado, para
outros talvez não. Contudo, não podemos de forma
alguma ignorar as conquistas que a Implantação da
República nos trouxe. Desde logo a escola pública,
a laicização do estado, a flexibilização partidária ou
até mesmo o alargamento do direito de voto.
Ganhámos nas
medidas de carác-
ter social e laboral
com a introdução do
direito à greve, da
redução das horas
de trabalho diário
e do descanso se-
manal obrigatório.
A gratuitidade e a
obrigatoriedade do
ensino, juntamente
com a abertura de
novas escolas fez
com que a escola
pública fosse uma
realidade que hoje
é vista pela socie-
dade como um dado
adquirido. Algo que alguns (nós sabemos quem)
tentam de forma dissimulada acabar.
Nem tudo foi perfeito, e houve apenas uma
mulher a votar nas eleições para a Assembleia
Constituinte de 1911, Carolina Beatriz Ângelo, que
excepcionalmente teve capacidade eleitoral por
evocar a sua qualidade de chefe de família, numa
altura em não havia sufrágio universal.
O combate ao analfabetismo foi uma priorida-
de e foram feitas reformas com a vista à melhoria
das condições de vida das populações.
Se isto não chegar para percebermos o porquê
de termos que honrar um marco tão importante para
a História Portuguesa, vejamos que a constituição
passou a estabelecer a divisão tripartida dos pode-
res e a hereditariedade vitalícia acabou, o que em
bom rigor significa que em vez de um rei temos um
Presidente da República
eleito pelos Portugue-
ses livres e com po-
der de escolha.
Se o Presiden-
te actual foi uma
boa escolha, bem...
isso poderá ser um
bom tema para escre-
ver num próximo
Editorial.
Viva a
República!
A passagem da
Monarquia para
a República tem
na sua essência
a mudança, e
é precisamente
essa mudança
que deve ser tida
como basilar
em relação a
este período.
“A República veio dizer que somos todos iguais sem pri-
vilégios assentes no nascimento ou no berço. Veio também
afirmar que somos livres para exercer a nossa opinião, e
que todos os homens e mulheres podem aspirar à chefia
do Estado, ou a exercer um cargo público, o que vem
ao encontro de outra conquista que é a possibilidade de
fazermos serviço público em prol do nosso semelhante
e do bem comum” arrebatando, deste modo, a plateia e
deixando novamente viva a chama dos princípios da li-
berdade, igualdade e fraternidade.
N
o dia 5 de
Outubro de
1911, em
Alenquer,
teve lugar
o primeiro
almoço de
c o m e m o -
ração da república, por iniciativa de
Bernardino Machado, dado que um
ano antes, passando por Alenquer a
caminho da capital, tomara conheci-
mento da declaração realizada por José
Relvas na varanda dos paços de conce-
lho, em Lisboa.
Decorridos longos anos o camara-
da Teófilo Carvalho dos Santos, um dos
fundadores do PS, recuperou a tradição
que por sua iniciativa manteve viva a
chama dos ideais republicanos, nos
corações daqueles que acreditavam
ser possível transformar a realidade
assistida durante o Estado Novo. As-
sim, após a revolução de Abril, coube à concelhia do PS
Alenquer dar seguimento ao já tradicional jantar.
No ano presente, ano em que se comemora o Cente-
nário da República, o convidado de honra foi Pedro Del-
gado Alves, Secretário-Geral da JS e contou ainda com a
presença do Presidente da FRO, Carlos Granadas. Numa
sala com mais de 70 jovens a Juventude Socialista marcou
presença e assegurou a vitalidade e continuidade desta
tradição, que caracteriza a data, tendo sido este evento
concluído com uma intervenção brilhante e inspiradora
do Secretário-Geral.
No seu discurso, Pedro Delgado Alves, proferiu:
N
o passado dia 1 de Outubro de 2010, em Leiria, no bar Alinha-
var, a Federação da JS Leiria inaugurou um ciclo de conferên-
cias relativo ao tema “100 Anos da República em Portugal”.
Este ciclo de conferências tem como objectivos primordiais
comemorar e evocar o Centenário da República, fomentar o debate e refle-
xão sobre o ideário Republicano, bem como honrar a memória de todos os
intervenientes que estiveram na base desta Revolução.
Nesta primeira tertúlia os convidados foram o Professor Amadeu Carva-
lho Homem e o Dr. Acácio de Sousa, tendo como moderador da conferência
Diogo Coelho, Presidente da Federação da JS Leiria.
O Secretário-Geral da JS, Pedro Delgado Alves, esteve presente nesta
conferência dando também o seu contributo para a discussão sobre um tema
que lhe é bastante caro, a Implantação da República.
FRO comemora
a República com
jantar em Alenquer
inaugurou ciclo de conferências
“100 Anos de República em Portugal”
Federação da JS Leiria
porMariana Burguette
marianaburguette@juventudesocialista.org
4. Conferência sobre Emprego Jovem em roma
ECOSy· Young European Socialists
p.04
Realizou-se
nos passados
dias 15, 16 e 17,
em Roma,
a Conferência
sobre Emprego
Jovem
N
o passado dia 12 de Outubro, em
Nova Iorque, Portugal foi eleito
para um mandato de dois anos
como membro não permanente do
Conselho de Segurança da Organização das Na-
ções Unidas (ONU). O Conselho de Segurança
(CS) é o órgão da ONU que detém responsabi-
lidades no âmbito da manutenção da paz e da
segurança mundial e é composto por quinze
membros: cinco permanentes com direito de veto
– China, Estados Unidos, França, Reino Unido
e Rússia – e dez não permanentes.
Portugal foi eleito com 150 votos na ter-
ceira ronda de votações, após a desistência do
Canadá, tendo também sido eleita a Alemanha
na primeira ronda. Esta foi a quarta candidatura
de Portugal a um lugar como membro não per-
manente do Conselho de Segurança da ONU. A
primeira, em 1960, foi retirada a pouco tempo
da votação face aos poucos apoios conseguidos.
Nas outras duas candidaturas, Portugal foi eleito,
ocupando o lugar de membro não permanente
nos biénios de 1979-80 e de 1997-98.
O facto de Portugal ter desenvolvido uma
intensa actividade diplomática nos últimos qua-
tro anos, nomeadamente com o exercício da Pre-
sidência do Conselho da União da Europeia no
segundo semestre de 2007, com a Presidência
da Comunidade dos Países de Língua Portu-
guesa (CPLP) de 2008 a 2010, e, mais recen-
temente, com a preparação para a recepção da
Cimeira da Nato, em Lisboa, no próximo mês
de Novembro, também não foi ignorado pelos
apoios da comunidade internacional.
A experiência adquirida nos vários sectores
da agenda internacional, as provas de credibili-
dade e seriedade dadas por Luís Amado, pelo
trabalho da sua equipa ministerial e por todos os
diplomatas portugueses foram fundamentais para
merecer a confiança da comunidade internacio-
nal. De relevar também as parcerias estratégicas
essenciais para garantir apoios à candidatura,
entre as quais destacamos os países da CPLP, a
cooperação ibero-americana e o historial de de-
fesa dos interesses africanos (com a organização
de cimeiras UE-África em 2000 e 2007).
Será uma oportunidade para Portugal ter
um papel relevante em todas as questões de
preservação e consolidação da paz internacio-
nal, bem como a possibilidade de dar voz aos
problemas dos países com maiores dificuldades
de desenvolvimento e menos avançados.
Esta eleição repre-
senta uma vitória
da diplomacia
portuguesa e é
um momento de
reconhecimento
e afirmação do
prestígio do nosso
país no panorama
internacional.
D
urante 3 dias houve oportuni-
dade de ouvir e debater com
oradores de renome, como
Philip Cordery (Secretário-
Geral do Partido Socialista
Europeu), Maria João Rodri-
gues (Presidente do Grupo de
Alto nível sobre Mobilidade
na Europa) ou Paola Concia (Eurodeputada e Membro
da Rainbow Rose), Massimo D’Alema, (ex-presidente do
governo italiano) e a Zita Gurmai (presidente das Mu-
lheres do PSE).
Os temas abordados foram o Direito ao Trabalho, a
Educação como factor inseparável da questão da em-
pregabilidade, a melhoria das condições de trabalho no
que concerne a estágios não remunerados ou contratos
a termo e ainda a necessidade imperiosa de acabar com
as discriminações laborais seja em relação a jovens, a
homossexuais ou discriminações baseadas no género.
Durante a conferência foi também apresentada a Cam-
panha temática “Talking About my Generation”, que visa
divulgar as preocupações dos Jovens Socialistas Europeus
relativamente às questões ligadas ao Emprego Jovem.
No fim da Conferência foi adoptada uma decla-
ração, com o mesmo título da Campanha, na qual os
Jovens Socialistas Europeus pugnam pelo Direito ao
Trabalho e pelo fim da precariedade laboral, defenden-
do que todos os jovens até aos 25 anos deverão encon-
trar-se a estudar, a realizar um estágio remunerado ou
a trabalhar, e que os Estados devem adoptar medidas
para a promoção dessa realidade. Sendo o Emprego e
a Educação indissociáveis, esta deverá ser gratuita e
a Ecosy pretende ver reduzido o abandono escolar no
secundário para 0%.
A JS fez-se representar nestes dois eventos pelo
Secretário Geral, Pedro Delgado Alves, também Vice-
Presidente da ECOSY, pela Secretária Nacional para as
Relações Internacionais, Mafalda Serrasqueiro e ainda
pelos Secretários Nacionais Hugo Costa e João António.
Portugal eleito para o Conselho
de Segurança da ONU
150 votos a favor elegeram Portugal novamente como um dos dez
membros não permanentes do Conselho de Segurança da Nações Unidas
porVasco Miguel Casimiro
vascocasimiro@juventudesocialista.org
JOVEM SOCIALISTA3 de novembro de 2010
5. p.05
D
epois da eleição no
último Congresso Na-
cional, a Comissão
Politica Nacional reu-
niu pela primeira vez,
em Leira, no passado
dia 10 de Outubro.
Presidida pelo
nosso Secretário-Geral, Pedro Delgado Al-
ves, a reunião trouxe à discussão a Revisão
Constitucional.
Como membro do grupo de revisão constitu-
cional do PS, o nosso camarada Pedro Delgado
Alves fez a apresentação daquela que iria ser a
metodologia adoptada pelo Partido para trabalhar
o documento, deixando claro que este não é o
momento para o país discutir um documento tão
importante como a CRP.
Para a análise da situação política, o Se-
cretário-geral da JS tomou novamente a palavra
transmitindo a sua preocupação com a possibili-
dade de não aprovação do Orçamento de Estado
e consequentemente com os impactos que isso
poderia ter nos juros da dívida pública.
Vários comissários tomaram a palavra para
transmitir a sua opinião, tendo todos transmitido
uma mensagem de preocupação, não só pelo mo-
mento de crise que o país atravessa, mas também
pelas posições recentes tomadas pelo PSD, que
em nada contribuem para melhorar a situação.
porAndré Valentim
andrevalentim@juventudesocialista.org
T
endo em vista a reactivação de todas as estru-
turas federativas, nos termos previstos no n.º5
do Artigo 82.º dos Estatutos da JS, conjugado
com o n.º 3 do Artigo 30.º do Regulamento
Eleitoral Geral dos Núcleos, Concelhias e Federações da
JS, o Secretariado Nacional, reunido em 26 de Setembro
de 2010, deliberou, por unanimidade, nomear Comissões
Administrativas para os distritos de Bragança, Portalegre e
Viana do Castelo. Esta deliberação foi tomada com vista à
promoção e realização de Convenção Federativa e eleição
de novos órgãos federativos nos distritos acima referidos,
tendo sido decidida a seguinte composição para cada uma
das Comissões Administrativas:
Comissários reuniram no passado dia
10 de Outubro para discutir a Revisão
Constitucional e Orçamento de Estado.
Comissão Política
Nacional reuniu
em Leiria
Secretariado Nacional
nomeou Comissões
Administrativas
para os distritos de
Bragança, Portalegre
eViana do Castelo
Bragança
Presidente
Ivo Oliveira
·
Vogais
Nuno Miranda
e José Aires
Portalegre
Presidente
Hugo Costa
·
Vogais
Fábio Cid
e António Pista
Viana do
Castelo
Presidente
João Silva
·
Vogais
Carlos Granadas
e Tiago Gonçalves
Comissões
Administrativas
JOVEM SOCIALISTA 3 de novembro de 2010
6. { 1911 } 19/Abril · 19: É proclamada a Lei da Separação da
Igreja do Estado em Portugal, pela acção de Afonso Costa
26/Maio · José Relvas, Ministro da Fazenda, publicar o
decreto com força de Lei, que altera sistema monetário
criando o Escudo como unidade monetária
28/Maio · Eleições para a Assembleia Constituinte.
19/Junho · Aprovação da nova Bandeira Nacional.
12/Agosto · Aprovação da primeira Constituição da
Republica Portuguesa.
24/Agosto · Manuel de Arriaga é eleito o primeiro presi-
dente constitucional da Republica Portuguesa
4/Setembro · João Chagas assume a chefia do primeiro
Governo Constitucional
p.06
A
presente cronologia inicia-se com a
criação do primeiro Partido Socia-
lista Português, em 1875. Escolhi
essa data não apenas por afinidades
ideológicas. Na verdade, esse Parti-
do Socialista, de Antero e de Fon-
tana, de que somos herdeiros, foi o
primeiro partido organizado a defender a República, apesar
de nunca ter tido a pujança social e eleitoral, na época, do
futuro Partido Republicano. Por outro lado, a eleição de uma
Assembleia Constituinte, na qual pela primeira vez se utilizou
o método de hondt por exemplo, correspondeu à estabilização
possível das novas instituições da República, constituindo o
fim de um ciclo o início de outro. Entendemos, assim, ter-
minar esta cronologia em 1911, com a eleição do primeiro
governo constitucional, liderado por João Chagas.
Uma cronologia da
fundação da República
porJosé Raimundo Noras
{ 1875 } Criação do
Partido Socialista Portu-
guês (de tendência repu-
blicana) por Antero de
Quental e José Fontana.
{ 1878 } Outubro ·
Eleição do 1.º deputado
republicano, Rodrigues
de Freitas, pelo círculo do
Porto. Primeiras tentativas
de Organização do Partido
Republicano Português.
{ 1880 } Comemora-
ções do tricentenário da
morte de Camões, pri-
meira grande aparição
pública do movimento
Republicano.
{ 1882 } Celebrações do Centenário Pombalino promo-
vidas por movimentos anti-clericais e republicanos
{ 1883 } Realização do Congresso da Comissão Organi-
zadora do Partido Republicano
{ 1886 } Início do diferendo colonial com a Inglaterra
devido ao antagonismo ente o “mapa cor-de-rosa”
português e o programa colonial de Cecil Rodhes.
{ 1890 } 11/Janeiro · Ultimato inglês a Por-
tugal devido as pretensões coloniais sobre
os territórios entre Angola e Moçambique.
1/Maio · Primeira comemoração do dia do
trabalhador.
Outubro · Alfred Keil compõe a portuguesa,
com letra de Henrique Lopes de Mendonça.
{ 1891 } 31/Janeiro · Primeira tentativa
gorada de implantação de República, na
janela da câmara do Porto, Alves dos Reis
chega a proclamar a República. Abafada
a revolta a Portuguesa ganha estatuto de
música proibida.
Outubro · O estado português declara-se insol-
vente devido à crise económica mundial.
{ 1897 } Agosto · Criação de Carbonária Portuguesa,
associação paralela da Maçonaria.
{ 1905 } 7/Dezembro · Brito Camacho funda o jornal
republicano A Luta
{ 1906 } 19/Agosto · Eleição de deputados republicanos
por Lisboa.
29/Setembro · No Parlamento Afonso Costa profere a polé-
mica frase: “Por menos do que fez o Sr. D. Carlos rolou no
cadafalso a cabeça de Luís XV.
Novembro · No Parlamento rebenta o escândalo dos
“adiantamentos à coroa”.
{ 1907 } 12/Abril · Início do período de ditadura de João
Franco.
{ 1908 } 1/Fevereiro · Regicídio, D. Carlos e o príncipe
herdeiro, Luís Filipe, são assassinados em Lisboa
Com apenas 18 anos D. Manuel II sobe ao trono
Queda do governo de João Franco.
{ 1909 } 5/Abril · O partido republicano elege sete depu-
tados para o Parlamento Português
25/Abril · 10º Congresso do Partido Republicano em
Setúbal onde é eleito o novo Directório
com a missão de proclamar a República.
{ 1910 } Julho · Embaixada republicana
de José Relvas e Magalhães Lima junto dos
governos francês e Inglês
3/Outubro · Assassinato do líder republicano e
médico Miguel Bombarda por um paciente
tresloucado.
3,4 e 5 de Outubro · Revolução Republicana
na grande Lisboa e no Porto.
4 de Outubro · Suicídio do Almirante Cândido
dos Reis
5/Outubro · 9h - Proclamação da República
Portuguesa, na varanda da Câmara de Lisboa
Postal com a República
e o mapa de Portugal –
propaganda republicana
Colecção Particular
1875 a 1911
José Relvas
proclama a
República
Fotografia
de Joshua
Benoliel, 1910
Arquivo
Municipal de
Lisboa
Constituição
Republicana
de 1911
Col. Particular
Republicanos honram a Bandeira
Fotografia de autor anónimo com
mulher a empunhar a Bandeira
Arquivo da Casa dos Patudos
Cinzeiro com as
cores da República
- propaganda
republicana
Porcelana de
Gustavo Manuel
Bordalo Pinheiro
Casa dos Patudos
JOVEM SOCIALISTA3 de novembro de 2010
7. Com este pequeno artigo pre-
tendemos dar a conhecer, de forma
breve, a Revolução Republicana
de 1910 e os valores que a motiva-
ram, sem esquecer que vivemos no
século XXI e é necessário, mais
do que nunca, promover a apro-
ximação da política ao idealismo
que muitas vezes o pragmatismo
do quotidiano subjuga ou tende a
desvalorizar. As ideias não devem
servir apenas para justificar ac-
ções; as ideias devem servir para
iluminar e dirigir as acções.
E foi isso mesmo que acon-
teceu na madrugada do dia 3 de
Outubro de 1910.
Pelas 8h00 da noite desse mes-
mo dia deu-se uma reunião na Rua
de Esperança, em Lisboa, que con-
gregou a liderança política dos re-
publicanos. Lá estava representado
o Directório do Partido Republicano
Português, a Comissão de Resistên-
cia criada pelo Grémio Lusitano e
alguns oficiais do Exército e da
Armada. O Almirante Cândido dos
Reis, Chefe Militar da Revolução,
insistiu para que o levantamento
não fosse uma vez mais adiado,
devendo as tropas comprometidas
com os revolucionários subleva-
rem-se pela 1h00 da madrugada.
A essa mesma hora, um pu-
nhado de homens armados, ini-
ciou a sublevação militar, apoiada
por núcleos civis constituídos por
Carbonários. Pouco tempo chegou
para se perceber que dos muitos
regimentos do Exército compro-
metidos com os republicanos,
apenas dois, Artilharia 1 e Infan-
taria 16, cumpriram com a palavra
dada e saíram dos quartéis para
dar início à Revolução.
No seio da Armada, bem
polvilhada com a cartilha repu-
blicana e revolucionária, a dimen-
são do levantamento foi maior,
sublevando-se à hora combinada
o Quartel de Marinheiros e dois
dos cruzadores ancorados no Tejo,
o S. Rafael e o Adamastor.
Os regimentos sublevados
viram-se obrigados a adoptar uma
posição defensiva na actual Praça
do Marquês de Pombal, conhecida
como a Rotunda, e durante todo
o dia 4 e noite de 5 de Outubro
sofreram ataques por parte das
forças leais à Monarquia, muito
mais significativas em número
mas muito mais fracas na convic-
ção de defender um regime em
notória decadência.
A discrepância numérica entre
as forças em conflito era tão grande
que muitos republicanos da primei-
ra hora julgaram a Revolução ma-
lograda. O próprio Almirante Reis
suicida-se ao julgar a Revolução
traída pelos que haviam faltado
à palavra de honra. O comando
das forças republicanas em terra
é entregue a um simples oficial
subalterno, o Comissário Naval
António Machado Santos, futuro
Herói da Rotunda, e é em grande
parte graças à sua determinação
que os republicanos superam as
horas mais negras da Revolução.
Mas na noite de dia 4 o cruza-
dor D. Carlos, navio almirante da
Armada de Guerra, cai nas mãos
dos republicanos, invertendo o
curso dos acontecimentos. A par-
tir desse momento a Monarquia
temeu o iminente desembarque
dos marinheiros na cidade de
Lisboa, que apoiado pelo fogo
da artilharia dos navios podia ter
consequências devastadoras.
Ao amanhecer do dia 5 de
Outubro estava criado um impas-
se militar. Os republicanos, com
forças superiores no Tejo, ameaça-
vam com o desembarque dos mari-
nheiros que tardava em acontecer;
os monárquicos, com forças muito
superiores em terra mostravam-se
descoordenados e apáticos face
aos acontecimentos.
Felizmente, a solução políti-
ca abriu caminho à pacificação do
conflito.
O diplomata alemão exigiu
às duas partes em conflito um
armistício para evacuação dos
cidadãos estrangeiros da cidade,
ao mesmo tempo que o bom povo
de Lisboa invadiu as ruas dando
vivas à República e quebrando a
ordem no meio dos militares leais
à Monarquia. Machado Santos,
aproveitando a situação, dirigiu-
se ao Quartel-general monárquico
e face ao notório apoio popular
que havia tomado conta da cida-
de reivindicou a sua rendição. Os
militares monárquicos rendiam-se
por fim. No seu grosso, o Exército
não se predispunha a morrer por
um regime político cheio de vícios
e injustiças.
Pelas 9h00 da manhã do dia 5
de Outubro de 1910, das varandas
da Câmara Municipal de Lisboa
a República era proclamada ao
país.
O Partido Socialista e a Ju-
ventude Socialista afirmam-se
como herdeiros de parte impor-
tante do legado ideológico dos re-
publicanos originais, seja porque
muitos velhos republicanos parti-
ciparam na génese política do PS
em 1973, seja porque ainda hoje
nos revemos em ideias vanguar-
distas transmitidas na Primeira
República nos campos da Edu-
cação, Saúde, Ensino Superior,
Justiça, Laicidade, entre outros.
O Centenário da Implantação
da República Portuguesa impõe-se
como momento essencial à refle-
xão sobre o passado, sobre a nossa
História, memória e ensinamentos
que podemos daí retirar. E muitas
são decerto as lições, negativas e
positivas, que no campo político
e volvidos 100 anos, ainda não
tivemos capacidade de aprender
ou assimilar. Mas se tal é verdade,
também está criada a oportunidade
de pensarmos sobre o futuro, rein-
ventando uma República de ética,
convicções, valores e princípios
inabaláveis e incorruptíveis que
promova uma maior e mais eficaz
justiça social e renove o ideal
Patriótico em Portugal, que não é
propriedade da Direita conserva-
dora e muito menos incompatível
com o ideário Europeu.
Ninguém pode questionar a
dimensão cosmopolita do ideário
republicano e em 1910 a Repú-
blica representou uma abertura
de Portugal ao mundo. Mas re-
presentou também um acesso de
Patriotismo e a tentativa de pro-
jecção de Portugal para o futuro
enquanto Estado e Nação.
A República baniu os privilé-
gios hereditários e tentou promover
uma transformação acelerada na so-
ciedade portuguesa. Talvez por isso
mesmo tenha caído em desgraça.
Hoje, com a Democracia, as
transformações podem ser mais
consolidadas e os passos mais
seguros. Para que a nossa gera-
ção não corra o risco de deixar
de acreditar em transformações
e mudanças de fundo temos de
ressuscitar o ideal republicano
original, adaptando-o às circuns-
tâncias do nosso tempo.
É tempo de nós Jovens Socia-
listas, voltarmos a nossa atenção
para a construção da ética repu-
blicana, valorizando o sentido de
Estado, o sentido de dever, o amor
à coisa pública, o amor ao bem-
fazer, a administração honesta e
o laicismo.
É tempo de, numa atitude
honrada e bem republicana,
darmos o exemplo não só face ao
combate contra a crise económica
mas também face a uma crise ide-
ológica que se pode abater sobre
o mundo.
Se promovermos o debate de
ideias, tenho a certeza que duran-
te este mandato nacional a ideo-
logia sairá reforçada das sedes da
Juventude Socialista, formando
quadros políticos à altura da Re-
pública em que sonhamos viver.
Entre a História
e o nosso Futuro
Pensar a República
Pelas 9h00 da
manhã do dia 5 de
Outubro de 1910, das
varandas da Câmara
Municipal de Lisboa
a República era
proclamada ao país.
p.07
por Diogo Leão
JOVEM SOCIALISTA 3 de novembro de 2010