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Bernie Madoff Este ex-investidor criou o
maior esquema de pirâmide da história
NOS EUA.
Leia um trecho de O Mago das Mentiras, novo livro da
jornalista americana Diana Henriques sobre Bernie
Madoffm EM 2017.
Bernie Madoff, em 2009: ele chegou a administrar 64,8 bilhões de dólares
São Paulo — O nome de Bernie Madoff é reconhecido e vilificado em
todo o mundo como o representante de uma era egoísta e vergonhosa.
Ele foi deplorado na Suíça e discutido em programas de rádio na
Austrália; causousussurros na China e temores no Golfo Pérsico. Seu
rosto esteve em todos os jornais americanos, foiestampado nas capas
de revistas em meia dúzia de línguas e caricaturado em charges
políticas por toda parte. Mesmo em uma era de hipérboles, a história é
inacreditável: um esquema de pirâmide financeira (também conhecido
pelo nome de esquema Ponzi) de bilhões de dólares que durou décadas,
estendeu-se por todo o globo e atraiu algumas das pessoasmais ricas,
sábias e respeitadas do mundo. Milhares de pessoascomuns também
foram pegas na rede de Madoff — e ficaram completamente
arruinadas. Após a derrocada econômicade 2008, coma desonestidade
e a tramoia sendo expostas no mundo financeiro, nenhum vilão se
tornou a face mais humana do colapso quanto Madoff, talvez porque
seu crime envolvesse muito mais do que a crise. Era um drama em si
mesmo, uma história tão antiga quanto a cobiça e tão comovente
quanto a confiança humana. Subitamente, ricos ficaram pobres, sábios
se viram expostos como tolos e os ponderados foram consumidos pela
raiva.
Durante décadas, Bernie Madoffviveu no centro de uma crescente
rede de mentiras. Em seulongo silêncio desde a prisão em 2008, partes
dessa rede se misturaram a informações errôneas e fofocas maliciosas.
Muitos dessesnós são desfeitos emmeu livro, coma ajuda de novas
informações e análises sobre sua relação coma família e seus
principais investidores, e o envolvimento deles com os crimes. A
história pôde serdetalhada pela primeira vez porque Bernie Madoff
concordouem me recebere falar sobre ela na primeira entrevista que
concedeudesde sua prisão. Num primeiro momento, ele evitou minhas
numerosas solicitações. Mas,quando finalmente se sentoucomigo pela
primeira vez, a conversa durou mais de 2 horas. Madoff revelou
detalhes de sua vida e de sua carreira que estavamnas sombras até
então e falou sobre os pontos fracos de Wall Street. Sua opinião sobre
os efeitos colaterais de seucrime é chocante. Ele sabia que algumas
vítimas haviam conseguido retirar do esquema Ponzi mais do que
haviam investido; as demais não o fizeram, mas receberiamquaisquer
valores que seu maciço caso de falência produzisse. Olhando para esses
dois fatos, Madoffpreviu — para além de toda lógica — que as vítimas
‘se saíram melhor do que se tivesseminvestido no mercado’durante o
colapso de 2008.
Com base nesses detalhes,fica claro que o hábito de iludir começou
mais cedo do que até ele se dá conta. Já em 1962, como ele próprio
admitiu, Bernie Madoff encobriu as grandes perdas que infligiu aos
clientes ao investir de maneira inadequada em açõesde alto risco. Os
lucros falsamente inflados melhoraram sua reputação e lhe trouxeram
mais negócios. No fim da década de 80, ele usava estratégias obscuras
para ajudar seus maiores clientes a driblar o imposto de renda e os
controles sobre moedas estrangeiras, avançando ainda mais na direção
das fronteiras cinzentas da fraude. Após a quebra da bolsa em 1987,
Madoff foi prejudicado pelas retiradas dos investidores mais antigos.
Disse-me que começoua cobrir essasretiradas inoportunas com o
dinheiro dos novos fundos — foi então que seuesquema Ponzi, a
clássicafraude de ‘despir um santo para cobrir outro’, nasceu. Em
1992, estavafalsificando carteiras inteiras de ações, opçõese bônus. No
fim, entre seus clientes fraudados estavamgigantescosinvestidores
institucionais — do banco Santander, na Espanha, ao governo de Abu
Dhabi e bancos privados na Suíça.
A escala de seuroubo não tem precedentes. No dia de sua prisão, ele
administrava cerca de 64,8 bilhões de dólares de terceiros. Se
realmente tivesse essedinheiro, seria o maior gestorde investimentos
do mundo — 50% maior do que o gigantescobanco JP MorganChase,
duas vezes maior do que o Goldman Sachs e mais de três vezes maior
do que os fundos do lendário investidor global George Soros. Mas
muito pouco desse dinheiro existia realmente. Madoff falsificava tudo,
dos extratos dos clientes aos relatórios financeiros, numa escala que
supera qualquer outro esquema Ponzi da história. ‘Em 1998, percebi
que jamais sairia livre dessa’, disse durante uma entrevista na prisão.
A elaboraçãodo maior esquema Ponzi da história foi possívelgraças à
Wall Streetque Madoff ajudou a construir. Ele desempenhou um
papel proeminente na modelagemdo mercado moderno. Vislumbrou
tendências, viu oportunidades, ajudou a escreveras regras e incitou as
fraquezas com as quais todos convivemos, mesmo hoje. Foi uma
criatura do mundo que ajudou a criar — um mundo ávido pelo lucro
sem riscos, impaciente comas regulamentações, arrogantemente
seguro do sucesso, lamentavelmente iludido sobre o que poderia dar
errado e indiferente aos danos causados. Que a vida de Madoff
estivesseligada tão intimamente à história de Wall Streetcertamente o
ajudou a sustentarseu crime durante tanto tempo. Se ele foi um mago
perverso, seupoder foi vastamente ampliado pelo fato de todos os
investidores se mudarem para o castelo comele.
Desejo e ilusão
Com seu escopo global, o caso Madoffdeu ao mundo algumas novas e
inquietantes lições sobre um crime muito antigo. Durante a história,
esquemas Ponzi sempre foram ambíguos. Como um roubo, um
esquema Ponzi é uma transferência de riqueza. Mas, ao contrário de
um roubo, a transferência não é apenas da vítima para o vilão, é
também de vítima para vítima. É um crime que, no auge de seu
sucesso, é indolor. Até o dia em que a música para de tocar. Antes
disso, qualquer um que precise retirar o dinheiro pode fazê-lo. E os
outros, aqueles que não retiram seu dinheiro, sentem-se segurosde sua
fortuna, protegidos das ansiedades financeiras do mundo. Sem dúvida,
foi assim que Bernie Madoff conviveu com seucrime, dia após dia. Ele
não via nenhuma ‘vítima’, via apenas ‘beneficiários’. É fácil
compreenderquão sedutorisso pode ser. Até o esquema ser
descoberto, havia só uma possibilidade de que, algum dia, os clientes
seriam prejudicados. E, afinal, Madoff poderia morrer antes disso. Ou
o mundo poderia acabar, como ele imaginou. Ou, melhor ainda, ele
poderia pensar em uma maneira de se livrar.
Esse esquema entregououtra nova e indesejada mensagem. Comsua
habilidade para convencermesmo os mais sofisticados investidores
institucionais, Bernie Madoff revelouquão diabolicamente é difícil
para as agências reguladorasfinanceiras protegeremo público no
século 21. Se a história de Madoff não provar mais nada, ela prova que
os reguladores vivem em um mundo de sonhos, muito diferente do
mundo de sonhos dos investidores. Os reguladores acreditamem
ceticismo, mas a maioria dos investidores deseja simplicidade. Se os
reguladores encontramalguém afirmando ter um investimento
lucrativo e seguro que sempre sobe quando o restante desce, eles
querem levá-lo ao tribunal; os investidores querem levá-lo para jantar.
Os reguladores acreditamnas letras miúdas dos prospectos. Os
investidores nunca leem as letras miúdas — nunca. Em razão desse
conflito, o escândaloMadofflevou quase todos em Washingtona fazer
as perguntas erradas:como melhorar o mundo dos reguladores? Como
fazer com que um regime regulatório baseado emletras miúdas
funcione melhor? As perguntas que deveriam ter sido feitas eram:
como melhorar o mundo dos investidores? Que tipo de regime
funciona em um mundo no qual ninguém lê as letras miúdas e no qual
investir é quase sempre um salto no escuro?
A lição do caso Madoffé clara: o regime de ‘total transparência’, que
há mais de 75 anos produz documentos com letras miúdas para os
investidores, não funciona — e não apenas porque a SEC (a comissão
de valores mobiliários americana)falhou em investigaras denúncias
que recebeu. Não funciona porque não reflete a maneira como os
investidores tomam as decisões. Não foia falta de informações que
infligiu as perdas catastróficasàs vítimas de Madoff. O que deu errado
foi a rejeição dos princípios básicos do investimento: altos retornos
estão ligados a altos riscos;jamais se deve colocartodos os ovos em
uma única cesta;jamais se deve investir em algo que não se consegue
entender. As vítimas de Madoff falharam em compreender que
ninguém deve entregartodo o dinheiro a alguém apenas porque confia
nesse alguémou porque uma pessoa que admirava confiava nele.
E, contudo, foi isso que milhões de pessoas fizeram. Não consultamos
as letras miúdas para decidir se confiamos em alguém. Consultamos
nossos amigos,familiares, colegasde trabalho, filhos, pais, conhecidos
ricos, experiências passadas e, porfim, nossos instintos. E, como Bernie
Madoff descobriu, uma vez que a confiança é conquistada, ela protege
o trapaceiro. Mais regras e mais letras miúdas não farão muito para
impedir o próximo Bernie Madoff. O que funcionaria? Este poderia
ser um exercício para as novas gerações. Talvezdevamos fazer com
que os investidores estudem e passemem um teste antes de se arriscar.
Ou talvez seja uma questão de tornar as penas, mesmo para as
menores infrações, tão draconianas que Wall Streetpoliciará a si
mesma, denunciando os suspeitos e protegendo os investidores de seus
piores instintos. Penalidades sérias, como a perda da liberdade ou
danos significativos à carreira, podem ser mais efetivas do que criar
mais regras mais enfáticas e aplicadas por mais inspetores
inexperientes.
O ponto aqui não é defender uma ou outra reforma, mas procurar
soluçõesfora da caixa que de fato corrijam aquilo que deu errado no
escândalo Madoffe não sejamsimplesmente melhorias do regime de
letras miúdas. Sem treinamento, todos superestimamos nossa
capacidade de -detectarriscos e reconhecercriminosos no mercado.
Essa é a difícil lição do caso Madoffque nenhum de nós quer aceitar.
Todos investimos na fé. Todos acreditamos que a confiança é tudo de
que precisamos — na verdade, a maioria de nós não tem tempo nem
informação suficiente para se apoiarem algo além da confiança. Se os
reguladores e os criadores de políticas não reconheceremisso, sua
abordagemdo crônico problema das fraudes no mercado será limitada
e ineficaz.”
FONTE; http://exame.abril.com.br/revista-exame/este-ex-investidor-criou-o-
maior-esquema-de-piramide-da-historia/

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O maior esquema Ponzi da história

  • 1. Bernie Madoff Este ex-investidor criou o maior esquema de pirâmide da história NOS EUA. Leia um trecho de O Mago das Mentiras, novo livro da jornalista americana Diana Henriques sobre Bernie Madoffm EM 2017. Bernie Madoff, em 2009: ele chegou a administrar 64,8 bilhões de dólares São Paulo — O nome de Bernie Madoff é reconhecido e vilificado em todo o mundo como o representante de uma era egoísta e vergonhosa. Ele foi deplorado na Suíça e discutido em programas de rádio na Austrália; causousussurros na China e temores no Golfo Pérsico. Seu rosto esteve em todos os jornais americanos, foiestampado nas capas de revistas em meia dúzia de línguas e caricaturado em charges
  • 2. políticas por toda parte. Mesmo em uma era de hipérboles, a história é inacreditável: um esquema de pirâmide financeira (também conhecido pelo nome de esquema Ponzi) de bilhões de dólares que durou décadas, estendeu-se por todo o globo e atraiu algumas das pessoasmais ricas, sábias e respeitadas do mundo. Milhares de pessoascomuns também foram pegas na rede de Madoff — e ficaram completamente arruinadas. Após a derrocada econômicade 2008, coma desonestidade e a tramoia sendo expostas no mundo financeiro, nenhum vilão se tornou a face mais humana do colapso quanto Madoff, talvez porque seu crime envolvesse muito mais do que a crise. Era um drama em si mesmo, uma história tão antiga quanto a cobiça e tão comovente quanto a confiança humana. Subitamente, ricos ficaram pobres, sábios se viram expostos como tolos e os ponderados foram consumidos pela raiva. Durante décadas, Bernie Madoffviveu no centro de uma crescente rede de mentiras. Em seulongo silêncio desde a prisão em 2008, partes dessa rede se misturaram a informações errôneas e fofocas maliciosas. Muitos dessesnós são desfeitos emmeu livro, coma ajuda de novas informações e análises sobre sua relação coma família e seus principais investidores, e o envolvimento deles com os crimes. A história pôde serdetalhada pela primeira vez porque Bernie Madoff concordouem me recebere falar sobre ela na primeira entrevista que concedeudesde sua prisão. Num primeiro momento, ele evitou minhas numerosas solicitações. Mas,quando finalmente se sentoucomigo pela primeira vez, a conversa durou mais de 2 horas. Madoff revelou detalhes de sua vida e de sua carreira que estavamnas sombras até então e falou sobre os pontos fracos de Wall Street. Sua opinião sobre os efeitos colaterais de seucrime é chocante. Ele sabia que algumas vítimas haviam conseguido retirar do esquema Ponzi mais do que haviam investido; as demais não o fizeram, mas receberiamquaisquer valores que seu maciço caso de falência produzisse. Olhando para esses dois fatos, Madoffpreviu — para além de toda lógica — que as vítimas
  • 3. ‘se saíram melhor do que se tivesseminvestido no mercado’durante o colapso de 2008. Com base nesses detalhes,fica claro que o hábito de iludir começou mais cedo do que até ele se dá conta. Já em 1962, como ele próprio admitiu, Bernie Madoff encobriu as grandes perdas que infligiu aos clientes ao investir de maneira inadequada em açõesde alto risco. Os lucros falsamente inflados melhoraram sua reputação e lhe trouxeram mais negócios. No fim da década de 80, ele usava estratégias obscuras para ajudar seus maiores clientes a driblar o imposto de renda e os controles sobre moedas estrangeiras, avançando ainda mais na direção das fronteiras cinzentas da fraude. Após a quebra da bolsa em 1987, Madoff foi prejudicado pelas retiradas dos investidores mais antigos. Disse-me que começoua cobrir essasretiradas inoportunas com o dinheiro dos novos fundos — foi então que seuesquema Ponzi, a clássicafraude de ‘despir um santo para cobrir outro’, nasceu. Em 1992, estavafalsificando carteiras inteiras de ações, opçõese bônus. No fim, entre seus clientes fraudados estavamgigantescosinvestidores institucionais — do banco Santander, na Espanha, ao governo de Abu Dhabi e bancos privados na Suíça. A escala de seuroubo não tem precedentes. No dia de sua prisão, ele administrava cerca de 64,8 bilhões de dólares de terceiros. Se realmente tivesse essedinheiro, seria o maior gestorde investimentos do mundo — 50% maior do que o gigantescobanco JP MorganChase, duas vezes maior do que o Goldman Sachs e mais de três vezes maior do que os fundos do lendário investidor global George Soros. Mas muito pouco desse dinheiro existia realmente. Madoff falsificava tudo, dos extratos dos clientes aos relatórios financeiros, numa escala que supera qualquer outro esquema Ponzi da história. ‘Em 1998, percebi que jamais sairia livre dessa’, disse durante uma entrevista na prisão. A elaboraçãodo maior esquema Ponzi da história foi possívelgraças à Wall Streetque Madoff ajudou a construir. Ele desempenhou um papel proeminente na modelagemdo mercado moderno. Vislumbrou tendências, viu oportunidades, ajudou a escreveras regras e incitou as
  • 4. fraquezas com as quais todos convivemos, mesmo hoje. Foi uma criatura do mundo que ajudou a criar — um mundo ávido pelo lucro sem riscos, impaciente comas regulamentações, arrogantemente seguro do sucesso, lamentavelmente iludido sobre o que poderia dar errado e indiferente aos danos causados. Que a vida de Madoff estivesseligada tão intimamente à história de Wall Streetcertamente o ajudou a sustentarseu crime durante tanto tempo. Se ele foi um mago perverso, seupoder foi vastamente ampliado pelo fato de todos os investidores se mudarem para o castelo comele. Desejo e ilusão Com seu escopo global, o caso Madoffdeu ao mundo algumas novas e inquietantes lições sobre um crime muito antigo. Durante a história, esquemas Ponzi sempre foram ambíguos. Como um roubo, um esquema Ponzi é uma transferência de riqueza. Mas, ao contrário de um roubo, a transferência não é apenas da vítima para o vilão, é também de vítima para vítima. É um crime que, no auge de seu sucesso, é indolor. Até o dia em que a música para de tocar. Antes disso, qualquer um que precise retirar o dinheiro pode fazê-lo. E os outros, aqueles que não retiram seu dinheiro, sentem-se segurosde sua fortuna, protegidos das ansiedades financeiras do mundo. Sem dúvida, foi assim que Bernie Madoff conviveu com seucrime, dia após dia. Ele não via nenhuma ‘vítima’, via apenas ‘beneficiários’. É fácil compreenderquão sedutorisso pode ser. Até o esquema ser descoberto, havia só uma possibilidade de que, algum dia, os clientes seriam prejudicados. E, afinal, Madoff poderia morrer antes disso. Ou o mundo poderia acabar, como ele imaginou. Ou, melhor ainda, ele poderia pensar em uma maneira de se livrar. Esse esquema entregououtra nova e indesejada mensagem. Comsua habilidade para convencermesmo os mais sofisticados investidores institucionais, Bernie Madoff revelouquão diabolicamente é difícil para as agências reguladorasfinanceiras protegeremo público no século 21. Se a história de Madoff não provar mais nada, ela prova que os reguladores vivem em um mundo de sonhos, muito diferente do
  • 5. mundo de sonhos dos investidores. Os reguladores acreditamem ceticismo, mas a maioria dos investidores deseja simplicidade. Se os reguladores encontramalguém afirmando ter um investimento lucrativo e seguro que sempre sobe quando o restante desce, eles querem levá-lo ao tribunal; os investidores querem levá-lo para jantar. Os reguladores acreditamnas letras miúdas dos prospectos. Os investidores nunca leem as letras miúdas — nunca. Em razão desse conflito, o escândaloMadofflevou quase todos em Washingtona fazer as perguntas erradas:como melhorar o mundo dos reguladores? Como fazer com que um regime regulatório baseado emletras miúdas funcione melhor? As perguntas que deveriam ter sido feitas eram: como melhorar o mundo dos investidores? Que tipo de regime funciona em um mundo no qual ninguém lê as letras miúdas e no qual investir é quase sempre um salto no escuro? A lição do caso Madoffé clara: o regime de ‘total transparência’, que há mais de 75 anos produz documentos com letras miúdas para os investidores, não funciona — e não apenas porque a SEC (a comissão de valores mobiliários americana)falhou em investigaras denúncias que recebeu. Não funciona porque não reflete a maneira como os investidores tomam as decisões. Não foia falta de informações que infligiu as perdas catastróficasàs vítimas de Madoff. O que deu errado foi a rejeição dos princípios básicos do investimento: altos retornos estão ligados a altos riscos;jamais se deve colocartodos os ovos em uma única cesta;jamais se deve investir em algo que não se consegue entender. As vítimas de Madoff falharam em compreender que ninguém deve entregartodo o dinheiro a alguém apenas porque confia nesse alguémou porque uma pessoa que admirava confiava nele. E, contudo, foi isso que milhões de pessoas fizeram. Não consultamos as letras miúdas para decidir se confiamos em alguém. Consultamos nossos amigos,familiares, colegasde trabalho, filhos, pais, conhecidos ricos, experiências passadas e, porfim, nossos instintos. E, como Bernie Madoff descobriu, uma vez que a confiança é conquistada, ela protege o trapaceiro. Mais regras e mais letras miúdas não farão muito para
  • 6. impedir o próximo Bernie Madoff. O que funcionaria? Este poderia ser um exercício para as novas gerações. Talvezdevamos fazer com que os investidores estudem e passemem um teste antes de se arriscar. Ou talvez seja uma questão de tornar as penas, mesmo para as menores infrações, tão draconianas que Wall Streetpoliciará a si mesma, denunciando os suspeitos e protegendo os investidores de seus piores instintos. Penalidades sérias, como a perda da liberdade ou danos significativos à carreira, podem ser mais efetivas do que criar mais regras mais enfáticas e aplicadas por mais inspetores inexperientes. O ponto aqui não é defender uma ou outra reforma, mas procurar soluçõesfora da caixa que de fato corrijam aquilo que deu errado no escândalo Madoffe não sejamsimplesmente melhorias do regime de letras miúdas. Sem treinamento, todos superestimamos nossa capacidade de -detectarriscos e reconhecercriminosos no mercado. Essa é a difícil lição do caso Madoffque nenhum de nós quer aceitar. Todos investimos na fé. Todos acreditamos que a confiança é tudo de que precisamos — na verdade, a maioria de nós não tem tempo nem informação suficiente para se apoiarem algo além da confiança. Se os reguladores e os criadores de políticas não reconheceremisso, sua abordagemdo crônico problema das fraudes no mercado será limitada e ineficaz.” FONTE; http://exame.abril.com.br/revista-exame/este-ex-investidor-criou-o- maior-esquema-de-piramide-da-historia/