Nanopartículas combatem microrganismos e melhoram a eficiência de adesivos.
Reportagem da Revista Pesquisa FAPESP sobre empresas que utilizam nanomateriais em seus produtos, destacando a Novelprint.
Nanotecnologia combate microrganismos em adesivos e equipamentos
1. [ NaNotecNologia ]
Inovação
em pequena
escala
Nanopartículas combatem
microrganismos e melhoram
a eficiência de adesivos
Marcos de Oliveira
P
artículas com nanotecnologia que do nanotecnológico. Várias empresas
destroem bactérias da superfície no mundo já utilizam essa tecnologia,
de instrumentos odontológicos principalmente para revestimento bac-
ou que garantem adesivos mais tericida de produtos. O mercado de na-
transparentes e eficientes já são norrevestimento e nanoadesivos atingiu
realidade no Brasil. De tamanho a marca em vendas mundiais de US$ 2
equivalente a 1 milímetro divi- bilhões em 2009, de acordo com a em-
dido por 1 milhão de vezes, essas partí- presa de pesquisa de mercado norte-
culas, quando incorporadas a materiais -americana BCC Research. Segundo a
como plásticos ou pinceladas em forma consultoria, a previsão para o mercado
de solução ou, ainda, em filmes chama- desse setor nanotecnológico será de US$
dos de coatings aplicados sobre metais, 18 bilhões em 2015. Nesse mercado está
promovem uma série de benefícios para a empresa brasileira Nanox, de São Car-
os consumidores. A função mais rele- los, no interior paulista, uma spin-off
vante é em relação à saúde dos usuários surgida em 2004 de dois institutos de
por meio da reação que nanopartículas química, um da Universidade Federal de
de prata provocam na parede celular das São Carlos (UFSCar) e outro da Uni-
bactérias, eliminando-as e evitando pos- versidade Estadual Paulista (Unesp), em
síveis contaminações, além de deixar as Araraquara, em dois grupos de pesquisa
superfícies limpas e sem cheiro ruim de que trabalham cooperativamente e são
forma permanente. São novos materiais integrantes do Centro Multidisciplinar
ligados ao campo da nanotecnologia, para o Desenvolvimento de Materiais
segmento tecnológico interdisciplinar Cerâmicos (CMDMC), um dos Centros
que despontou para o mercado na pri- de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid)
meira década deste século. Na realidade, da FAPESP, coordenado pelo professor
o que muda em relação à prata é sua Elson Longo.
industrialização em escala nanométrica No ano passado, 40% das vendas da
PasieKa/scieNce PHoto librarY
em nível molecular, porque esse metal Nanox seguiram para o México e Esta-
é utilizado na medicina, para a cura de dos Unidos como matéria-prima para
feridas, desde a Antiguidade. ser incorporada a vários tipos de peças
Pelo conhecimento anterior, não é plásticas e metálicas da linha premium
de estranhar que a prata tenha sido um das geladeiras das marcas General Elec-
dos primeiros componentes do mun- tric (GE) e Mabe, como dispensadores
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2. tecnologia
de água, gavetas e prateleiras que evitam ao colocar a mão na boca do paciente e
a contaminação cruzada entre alimen- depois pegar o motorzinho ou ajustar
tos, formação de mau cheiro e bolores. a iluminação sobre a cadeira odonto-
“A tecnologia age contra vários micror- lógica, não corre o risco de transferir
ganismos como bactérias e fungos”, diz bactérias para o paciente seguinte. Esses
Daniel Minozzi, um dos três sócios da equipamentos odontológicos com na-
Nanox. O faturamento da empresa atin- notecnologia já são exportados para Itá-
giu R$ 2,1 milhões em 2010, ante R$ 1,3 lia, Espanha, Portugal, Polônia, África
milhão em 2009. A tecnologia da Nanox, do Sul, China, Tailândia e todos os paí-
chamada de NanoxClean, na forma de ses da América Latina. Cerca de 20% do
filmes finos para aplicação em metais, faturamento de R$ 100 milhões da Dabi
também está desde 2010 em todos os vem das exportações. “Não conhecemos
equipamentos odontológicos produ- nenhum tipo de equipamento com essa
zidos pela Dabi Atlante, uma empresa tecnologia no mundo, mesmo nos Esta-
100% nacional fundada em 1945. “De- dos Unidos e Europa”, diz Biagi.
senvolvemos com a Nanox a tecnologia Os produtos da Nanox ainda estão
que leva o nome de B-Safe em nossos nos bebedouros de aço inoxidável e
equipamentos”, conta Caetano Biagi, di- plástico da empresa IBBL, de Itu, no
retor industrial da Dabi. A Nanox licen- interior paulista, como bactericida, e
ciou e coordena a produção e aplicação também nos secadores de cabelo e em
do produto. “São mais de 15 materiais chapas de alisamento da Taiff, empresa
com a nossa tecnologia que possuem instalada em São Paulo. Nesses casos,
ação antimicrobial”, diz Daniel. as nanopartículas eliminam micror-
O material com nanotecnologia de ganismos presentes nos jatos de ar ou
prata recobre todos os objetos, como a nas chapas tornando os cabelos mais
cadeira de dentista, o aparelho conhe- limpos, segundo a empresa. O próximo
cido como motorzinho, a luminária e passo da Nanox é o lançamento de um
os instrumentos, mangueiras e ban- produto com partículas com efeito bac-
dejas. “Decidimos colocar em toda a tericida para plásticos que servirá para
linha de produtos como forma de dar confeccionar embalagens para acondi-
maior biossegurança para o dentista e cionar alimentos. “Conseguimos for-
os pacientes, evitando contaminações mular essas partículas nanoestruturadas
cruzadas”, diz Biagi. Assim, um dentista, por meio de um projeto do Programa
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3. ‘
de Subvenção Econômica da Finep [Fi- solução, ao custo de € 1,3 milhão, além
nanciadora de Estudos e Projetos]. Elas de aparelhos para difração de raios X,
podem ser incorporadas em vários tipos fotoluminiscência e outros que atingem
de plástico como polipropileno e PET. Sempre recorremos um total de R$ 10 milhões”, diz. “Tudo
Esse material passou a constar em uma isso para saber se o produto é realmente
lista da Anvisa [Agência Nacional de Vi- às universidades nanométrico e se cumpre as funções a
gilância Sanitária] para uso em contato que se destina. E as empresas não conse-
com alimentos. Isso foi possível depois para consultoria guem comprar esses equipamentos.”
de um estudo, e a comprovação da não Na Nanox, os sócios – Daniel, Luiz
toxicidade e não migração das partícu- e troca de ideias. Gustavo Simões e André Luiz de Araújo
las em plásticos, feito pelo Ital [Instituto – se conheceram no curso de graduação
Tecnológico de Alimentos] e Secretaria Um dos pontos é em química na UFSCar e amadurece-
de Agricultura do estado”, diz Daniel. ram a ideia da empresa no mestrado
a caracterização do na Unesp de Araraquara. “Começamos
O
s usos da nanotecnologia são ilimi- porque tivemos aprovado um projeto
tados e podem abranger de sacos Pipe [Programa Pesquisa Inovativa em
de lixo para área hospitalar a ta- produto, diz Daniel Pequena Empresa da FAPESP] em 2004”,
petes e carpetes onde os ácaros são os diz Daniel. A Nanox surgiu como Scien-
principais inimigos a serem derrotados ce Solution (leia em Pesquisa FAPESP n°
como agentes de alergia. “As partículas 121) e se instalou no Centro Incubador
não matam os ácaros, mas matam as no final do produto, quando nos servi- de Empresas Tecnológicas da Fundação
bactérias e fungos, que são alimentos mos dos microscópios eletrônicos das Parqtec, em São Carlos. Em 2006 mudou
dos ácaros, que, assim, morrem de universidades”, diz Daniel. Os parcei- de nome e recebeu aporte financeiro de
fome.” Daniel imagina que nanopar- ros principais estão ligados à origem uma empresa de capital de risco, o fundo
tículas possam estar também em cami- da empresa na UFSCar e na Unesp, Novarum, do grupo Jardim Botânico
nhões frigoríficos, contêineres e tecla- com os professores Elson Longo e José Investimentos. Embora as partes não
dos de computadores. Uma outra linha Arana Varela, além de outros grupos revelem a quantia, informações de mer-
de produtos da empresa volta-se para da Universidade de São Paulo (USP) e cado indicam um investimento de R$ 1
a construção civil. É uma tecnologia da Universidade Federal do Rio de Ja- milhão. “O aporte e mais a colaboração
que deverá ser lançada neste ano para neiro (UFRJ). “Hoje não adianta fazer do fundo na gestão da empresa, com vi-
esmalte cerâmico de pisos, revestimen- alta tecnologia no Brasil se não se tiver são financeira, além da rede de contatos
tos e louças que possui ação biocida e o apoio da universidade”, diz o professor empresariais são muito importantes”,
está em desenvolvimento há três anos. Elson. “Esses produtos exigem caracte- diz Daniel. Em relação à tecnologia, ele
“É um biocida ativo que pode ser in- rização e laboratórios sofisticados com diz que desde a saída da universidade,
corporado na composição da peça sem equipamentos como microscópios de
alterar o processo de produção atual de varredura de alta resolução que custam
pisos, ladrilhos, pias e louças sanitárias”, € 600 mil, ou de transmissão de alta re- Nanossílica nos
afirma Daniel. A primeira impressão filmes para rótulos
é de que o custo desses produtos com da Novelprint
nanotecnologia é elevado. “Normal-
mente, as empresas não acrescentam
o valor da tecnologia nos preços finais,
mas diminuem a margem e ganham
no marketing, na maior capacidade de
vendas e na competitividade. No caso
dos plásticos, o custo de agregar as par-
tículas representa menos de 10% por
quilo do produto”, explica Daniel.
Com tantos lançamentos e possibi-
lidades de aplicações nanotecnológicas,
a empresa, que tem a concorrência de
outras estrangeiras, algumas já instala-
das no Brasil, como a norte-americana
Microban, não deixa de ter um conta-
to mais próximo com as universidades
brasileiras. “Sempre nos valemos das
eDuarDo cesar
universidades para consultoria e tro-
ca de ideias. Um ponto recorrente é a
caracterização no desenvolvimento e
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4. a evolução dentro da empresa foi gran-
rorivalDo camargo e ricarDo traNquiliN / cmDmc
de: “75% do nosso tempo é dedicado ao
desenvolvimento de produtos e novas
aplicações. São 20 funcionários, com
profissionais com graduação, mestrado
e dois com doutorado, além do presi-
dente Luiz Gustavo”.
O
utra empresa brasileira que incor-
porou nanotecnologia em seus pro-
dutos foi a Novelprint, de São Paulo,
empresa de porte médio especializada
em rótulos e etiquetas autoadesivas, além
de fabricar máquinas de rotulagem, para
grandes empresas como Nestlé, Bayer,
Indústrias Muller, Heliar, Monsanto,
Texaco e Cervejaria Kaiser, desde 1958.
A Novelprint já está fornecendo a seus
clientes materiais autoadesivos que con-
têm nanomateriais, como nanossílica,
para, por exemplo, garrafas de vidro de
cervejas e bebidas ice. Essas nanopartícu- Nanopartículas de prata
las são translúcidas e permitem produzir obtidas em microscópio
rótulos mais transparentes e com melhor eletrônico de varredura e
E
coloridas artificialmente
adesão às garrafas e a materiais plásticos, mbora real o sucesso de empresas
garantindo maior resistência ao material. como Novelprint, Nanox e Dabi
Os nanomateriais aplicados a uma das Atlante, ainda falta um cenário no
camadas dos rótulos e etiquetas permite país mais favorável aos produtos com
também que se utilize menos cola. “Re- “Meu pai [Jeffrey Arippol, presi- nanotecnologia incorporada. “Falta
duzimos um terço da quantidade da cola, dente da empresa] já imaginava ade- informação para as empresas, porque
de 20 a 30 gramas por metro quadrado sivos com nanotecnologia em 2004, muitos empresários não sabem o que é
(g/m2), para 10 g/m2 com a nanossílica”, principalmente para baterias de carro a nanotecnologia, além de um melhor
diz Derick Arippol, diretor técnico da e vasilhames de óleo automotivo que intercâmbio com as universidades”, diz
Novelprint, empresa que sempre pro- apresentavam problemas de aderên- José Ricardo Roriz Coelho, diretor do
curou desenvolver tecnologias próprias, cia”, diz Derick, um físico que chegou a Departamento de Competitividade e
contando atualmente com 95 patentes montar uma start-up (empresa inician- Tecnologia da Federação das Indús-
no Brasil, sendo 4 sobre nanomateriais, te) em computação gráfica nos Estados trias do Estado de São Paulo (Fiesp),
além de 3 nos Estados Unidos. Unidos, mas preferiu voltar ao Brasil e que também é presidente da Associa-
trabalhar na empresa familiar. A con- ção Brasileira da Indústria do Plástico
cretização de um projeto nanotecno- (Abiplast) e presidente da empresa
lógico aconteceu em 2005, quando a Vitopel, a maior produtora de filmes
Os PrOjetOs empresa foi procurada pela Finep. A para embalagem da América Latina.
agência estatal ofereceu a oportunidade Outro fator apontado por ele é a re-
1. aplicação de coating cerâmico dentro do Programa Pró-Inovação e gulamentação de produtos nanotec-
em superfícies metálicas –
n° 2004/08778-1
dois anos depois a Novelprint já oferta- nológicos que entram em contato com
2. coatings nanoestruturados va produtos com nanotecnologia. Para alimentos e bebidas, nas embalagens,
transparentes aplicados a materiais executar esse projeto a empresa con- por exemplo. “Na Vitopel desenvol-
vítreos – n° 2005/55876-1 tratou dois recém-doutores do Insti- vemos uma embalagem plástica com
tuto de Química da USP, que haviam nanopartículas de prata incorporada
modAlIdAdE
trabalhado com nanotecnologia na que aumenta em até 70% o tempo de
1. e 2. Pesquisa inovativa em
Pequenas empresas (Pipe)
universidade, mas não com adesivos validade de uma verdura na prateleira”,
ou rótulos. “Eles, dentro dos laborató- diz José Ricardo. “Mas, como não há
CoordEnAdorES rios da empresa e com a colaboração uma regulamentação da Anvisa, não
1. luiz gustavo simões – Nanox da universidade, identificaram qual temos segurança jurídica de que essas
2. andré luiz de araújo – Nanox material deveria ser usado, fizeram partículas nano não fazem mal à saúde
as formulações e processos até o pro- quando em contato direto com alimen-
InvEStImEnto
duto final”, explica Simon Bahbouth, tos e não podemos colocar o produto
1. r$ 475.248,48 (FaPesP)
2. r$ 384.415,00 (FaPesP) diretor da Radeco, consultoria que no mercado. Além disso faltam forne-
assessora a Novelprint. cedores locais de nanopartículas.” n
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