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Curso de História da FUNEDI/UEMG Divinópolis – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010
ediotiral
Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro
de /2010 – Editor deste número: João Ricardo Ferreira Pires (coordenador do curso de His-
tória) – Projeto gráfico/editorial e diagramação: Daniela Couto – Ilustrações: Arnaldo Pires
Bessa – Revisão: Elvis Gomes (Assessoria de Comuni-
cação da FUNEDI/UEMG) – Contatos: (37) 3229-3569 –
historia.ised@funedi.edu.br – Avenida Paraná, 3001, bairro
Jardim Belvedere, CEP 35501-170 – Divinópolis (MG)
EXPEDIENTE
Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010
5 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010
6
Informes
Por uma história das coisas
Aproveitando o tema geral dos
nossos trabalhos interdisciplinares
– cultura material, gostaria de fa-
zer um pequeno exercício de olhar
para as coisas que não olhamos. Meu
objetivo com isso é incentivar a todos os
alunos na feitura de seus trabalhos e de-
fender um olhar diferente sobre as coisas
que nos rodeiam, um olhar que estranhe
essas coisas, um olhar que não as consi-
dere naturais, mas que faça perguntas, que
questione, pois essa é nossa função pri-
meira como historiador.
Então, os objetos, as coisas que nos
cercam em todos os ambientes da nossa
vida possuem histórias. Qual é a histó-
ria, por exemplo, da cadeira? Qual é a
história, por exemplo, do clip? Tentarei
apontar alguns caminhos para se chegar
à história desses objetos banais.
Primeiro ponto: o espaço sociocultu-
ral que torna possível o nascimento das
coisas, ou seja, a partir de onde nasce a
necessidade dos objetos. Podemos pensar
que as coisas são inventadas para atender
uma determinada necessidade que as pes-
soas se deparam num determinado mo-
mento. Essa necessidade nascerá das ca-
racterísticas socioculturais, e a invenção
de determinada coisa acompanhará essas
características.
Segundo ponto possível de se fazer
uma história: os materiais de que é com-
posta a coisa inventada. Não é por acaso
que as coisas são feitas de barro, de ferro
ou de qualquer outro material. Isso pode
estar associado à presença ou não desses
materiais na sociedade que inventou o
objeto. Pode ser associado também às
práticas de uso desse determinado mate-
rial anteriores à invenção.
Um terceiro ponto possível de se fa-
zer uma história seria a questão da téc-
nica e da tecnologia. Qual é a técnica
necessária à invenção das coisas? Ela
existia antes? Como essa técnica foi
aproveitada na invenção de um deter-
minado objeto?
Um quarto ponto seria a evolução de
seu uso, ou seja, um objeto pode ser in-
ventado para um determinado uso e, com
o passar dos tempos, ser utilizado para
outros fins, ou mesmo seu uso permane-
cer o mesmo mais adaptado às transfor-
mações do meio.
Um quinto ponto possível de se pro-
duzir história seria a simbologia, a ico-
nografia dos objetos. Estes possuem uma
forma, possuem um desenho que muitas
vezes atende à funcionalidade, mas que
também pode ter valores estéticos, valo-
res simbólicos. Ligado a esse quinto pon-
to, podemos apontar a questão da histó-
ria do design, área tão pouco frequentada
por nós, historiadores, mas que poderia
render bons frutos.
Um sexto ponto seria a história da cir-
culação das coisas: aqui podemos reti-
rar excelentes informações sobre a eco-
nomia, a sociedade e a cultura das regi-
ões onde os objetos em questão circu-
lam. Aqui, podemos estudar o consumo
dessas coisas, que é uma forma de cir-
culação econômica.
Acho melhor ir encerrando esses pe-
quenos e despretensiosos comentários,
pois alongaríamos demais. Ficam como
dicas de possíveis perguntas a serem fei-
tas às coisas. Espero que tenha contribu-
ído para vocês pensarem os trabalhos in-
terdisciplinares e, para finalizar, duas di-
cas de leitura:
PETROSKI, Henry. Evolução das coi-
sas úteis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2007.
ROCHE, Daniel. História das coisas
banais: nascimento do consumo nas so-
ciedades do século XVII ao XIX. Tradu-
ção de Ana Maria Scherer. Rio de Janei-
ro: Rocco, 2000.
João Ricardo Ferreira Pires
professor e coordenador do curso de
História da FUNEDI/UEMG
BERMAN, Marshall. Tudo que é só-
lido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Cia. das
Letras, 1986.
O livro analisa experiências, meios, au-
tores e obras modernas do Fausto de Goe-
the até as artes plásticas dos anos 1970.Tem
partes primorosas, como a análise de Fausto
fomentador: o destruidor do antigo e, ao
mesmo tempo, criador do novo. No segun-
do capítulo, ele analisa o pensamento de
Marx,temalgunsinsightsinteressantes,mas
éopiorcapítulodaobrainteira.Bermannão
atinge nesse capítulo a plasticidade e a coe-
rência que teve nos outros capítulos. O ter-
ceiro capítulo é dos que eu mais gosto. Inti-
tula-se “Baudelaire: o modernismo nas
ruas”. Excelente análise de como Baudelai-
re capta os gritos e olhos da rua, da multi-
dão, um dos primeiros grandes efeitos per-
versosdaurbanizaçãoeindustrializaçãoque
a Europa vivia à sua época. Baudelaire, se-
gundo Berman, capta as fraturas e divisões
sociais que a modernização econômica e
social gerou. Depois vem o capítulo sobre
os russos que o autor chama de modelo do
subdesenvolvimento:aquelasregiõesqueno
processo de modernização permaneciam
subservientes à outra região. Foi o caso da
RússiadesdeoséculoXVIIIeduranteoXIX
inteiro. O autor começa a tratar do que exis-
te de moderno em Pushkin, Dostoievski,
Gogol e outros, falando na linha do subde-
senvolvimento, de uma modernidade ainda
incompleta nesses autores e sua sociedade.
Esse quarto capítulo é fantástico, com as
interpretações a que Berman chega de algu-
mas obras dos autores acima citados. E na
última parte, o modernismo norte-america-
no, o autor pega Nova Iorque como símbo-
lo, tecendo comentários muito bons sobre a
via expressa como conceito condensador
desse modernismo e, também, os gritos nas
ruas como outro conceito condensador da
modernidade do século XX.
O que fica é: mesmo que tudo que é só-
lido se desmanche, tudo que é sagrado se
profane, a busca do homem moderno per-
manece sendo se encontrar, encontrar-se no
redemoinho, acalmar a confusão e veloci-
dade permanente da modernidade. Citan-
do Guimarães Rosa, profundo conhecedor
do misticismo brasileiro, não é o diabo no
meio do redemoinho, somos nós mesmos,
resenha
Tudo que é sólido desmancha no ar
e há várias formas de se acomodar, de se
ajeitar no turbilhão. “E quanto ao dia que
virá depois do amanhã? Thab Hassan, ide-
ólogo do pós-modernismo, lamenta a obs-
tinada recusa da modernidade a se extin-
guir”. Quando terminará o período moder-
no?... É o que desejam os pós-modernos,
mas várias características econômicas e so-
ciais da modernidade são onipresentes no
nosso mundo, algumas promessas da mo-
dernidade ainda não se realizaram e, ape-
nas por isso, não é motivo para jogar o mo-
derno, a modernidade e a modernização no
saco de lixo como teimam em fazer os pós-
modernos. O que Berman quer defender
nessa linhagem da modernidade é que
aqueles que estão à espera do final da era
moderna deverão aguardar um tempo in-
terminável.Aeconomia moderna provavel-
mente continuará em expansão, embora em
novas direções, adaptando-se às crises crô-
nicas de energia e do meio ambiente que o
seu sucesso criou.
As adaptações futuras exigirão grandes
turbulências sociais e políticas; mas a mo-
dernização sempre sobreviveu em meio a
problemas, em uma atmosfera de “incerte-
za e agitações constantes”, em que, como
dizem Marx e Engels no Manifesto Comu-
nista, “todas as relações fixas e congela-
das são suprimidas”. Em tal ambiente, a
cultura da modernidade continuará a de-
senvolver novas visões e expressões de
vida, pois as mesmas tendências econômi-
cas e sociais que incessantemente transfor-
mam o mundo que nos rodeia, tanto para o
bem como para o mal, também transfor-
mam as vidas interiores dos homens e das
mulheres que ocupam esse mundo e o fa-
zem caminhar. O processo de moderniza-
ção, a cultura moderna e o modernismo,
ao mesmo tempo em que nos exploram e
nos atormentam, nos impelem a apreender
e a enfrentar o mundo que esse processo
constrói e a lutar por torná-lo o nosso mun-
do, um mundo melhorado ou, pelo menos,
sempre tentando melhorar.
O livro foi lançado em 1982, subjaz
em todo ele um conjunto pesado de críti-
cas ao pós-modernismo e elogios ao mo-
dernismo. Vale demais a leitura.
João Ricardo Ferreira Pires
professor e coordenador do curso de
História da FUNEDI/UEMG
Congressos
– 26º Simpósio Nacional de História
ANPUH 50 ANOS. Data: 17 a 23 de ju-
lho de 2011. Local: USP. Inscrições: de
1º de janeiro a 21 de março (inscrições
nos Simpósios Temáticos), de 1º de ja-
neiro a 30 de junho (inscrições prévias
nos minicursos) e de 1º de maio a 11 de
julho (inscrições de ouvintes).
– 3º Seminário Dimensões da Política na
História: Culturas Políticas, Relações So-
ciais e Redes de Poder. Data: de 30 de no-
vembro a 2 de dezembro de 2010. Local:
Instituto de Ciências Humanas da Univer-
sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). In-
formações:http://www.ufjf.br/3dimensoes/
– 4º Simpósio de Política e Cultura: Diá-
logos e Interfaces. Data: de 1º a 3 de de-
zembro de 2010. Local: Universidade
Severino Sombra – Campus Vassouras
(USS). Informações: http://www.uss.br/
web/page/simposiopol.asp
– 6º Seminário de Ensino, Pesquisa e Ex-
tensão da FUNEDI/UEMG. Cidades: a
vida urbana entre 1910 e 2010. Local:
Campus da FUNEDI/UEMG Divinópo-
lis. Data: 24 a 26 de novembro de 2010.
Informações: (37) 3229-3500 ou cepe@
funedi.edu.br
– 12ºSemináriodeIniciaçãoCientíficaeEx-
tensão da UEMG. Local: Unidade de Frutal
daUEMG.Datas:17,18e19denovembrode
2010. Informações: http://www.uemg.br/
noticia_detalhe.php? id=3366
Chamadas de artigos
– Revista Emblemas. Tema: “Juventude,
História e Sociedade”. Prazo para envio:
17/12/2010. Informações: http://
www.revistas.ufg.br/index.php/emblemas
– Revista Estudos Históricos FGV.Tema:
“Espaço. Deslocamentos” – N°47. Pra-
zo para envio: 31/12/2010. Informações:
http://cpdoc.fgv.br/revista
–RevistaAntíteses.Tema:“Humorgráfico:
representações e usos”. Prazo para envio:
28/2/2011.Informações:http://www.uel.br/
revistas/uel/index.php/antiteses/index
– Revista Tempos Históricos. Tema: “His-
tória, Cinema e Música”. Prazo para en-
vio: 10/3/2011. Tema: “História e Nature-
za”.Prazoparaenvio:10/8/2011.Informa-
ções:http://e-revista.unioeste.br/index.php/
temposhistoricos/announcement
– Revista História e Perspectivas. Tema:
“História e Literatura”. Prazo para envio:
14/3/2011.Informações:http://www.histo-
riaperspectivas.inhis.ufu.br/viewissue.php
Lançamentos de livros
– DOMINGUES, Beatriz H.; BLASE-
NHEIM, Peter Louis. O código Morse:
ensaios sobre Richard Morse. Belo Ho-
rizonte: Editora UFMG, 2010.
–HESPANHA,AntónioManuel.Asbem-aven-
turanças da inferioridade nas sociedades de
AntigoRegime.SãoPaulo:Annablume,2010.
– MESQUITA, Daniel. Descobrimentos
de Capistrano: a História do Brasil “a
grandes traços e largas malhas”. Rio de
Janeiro: Apicuri/Ed. PUC-RIO, 2010.
– PAIVA, Adriano Toledo. Indígenas e
os processos de conquista dos sertões de
Minas Gerais (1767-1813). Belo Hori-
zonte: Argvmentvm, 2010.
Uma juventude que fez
revoluções, acabou com
ditaduras, extinguiu as amarras
morais, cantou as mais
belas músicas, escreveu as
mais belas poesias?
O que há de perdido nisso?
“
”
Os costumes vão
sendo alterados
paulatinamente, e a
adesão a atitudes,
valores e ideário mais
modernos vai toman-
do corpo na incipiente
nação brasileira
“
”
“
”
o sentido específico da
diferença, da alteridade e
da identidade, aos homens
do passado, esse diálogo
oferece igualmente a
esperança de sobreviverem
à sua finitude
Esse diálogo
promovido pelo
historiador oferece
aos homens do presente uma
interlocução, um conforto,
melhor localização
de si no tempo
“
”
Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010
2 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 3 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010
4
artigo
A educação feminina no Brasil
no século XIX através da cultura impressa
A imprensa brasileira floresceu após
a Independência, orientada pelas
Luzes e pela Razão, tão difundidas
no século XVIII. Os jornais passa-
ram, a partir daí, a serem vistos como fon-
tes de informação e também de conheci-
mento. Muitas vezes o jornalista foi con-
fundido com o educador, professor, por
promover a leitura, a reflexão. O jornal,
nesse contexto, atuou como um promotor
da educação pública, divulgando ações,
valorizando as atividades escolares e, so-
bretudo, destacando a profissão de profes-
sora no Brasil Império.
É preciso lembrar que, até aproxima-
damente 1808, as mulhe-
res estiveram fora das sa-
las de aula, excluídas do
processo educacional, e a
única educação recebida
até então era a de dentro
de casa, em geral, volta-
da aos afazeres domésti-
cos, como os cuidados
com a casa, crianças, bor-
dados, culinária. Com a
vinda da Corte, isso muda
um pouco de figura. Os costumes vão sen-
do alterados paulatinamente, e a adesão a
atitudes, valores e ideário mais modernos
vai tomando corpo na incipiente nação bra-
sileira. Entre tais mudanças de atitudes,
insere-se o papel da mulher na sociedade,
a necessidade de instrução, inclusive para
atender às necessidades de se apresentar
bem nos salões, teatros, reuniões, que en-
tão passaram a fazer parte da vida social
no Rio de Janeiro já nas primeiras déca-
das do século XIX. Tais alterações nos
papéis com relação às figurações sociais
estão relacionadas em grande medida à
distinção entre o espaço público e o pri-
vado, incentivadas desde o século XVIII.
Uma releitura será feita a partir de en-
tão sobre a família, o papel feminino, a
cidadania, a educação, especialmente atra-
vés da leitura de periódicos diversos e de
alguns poucos destinados ao público fe-
minino. A mulher passa aos poucos a ser
vista como um ser político importante,
capaz de formar futuros cidadãos.
Entre alguns jornais voltados a este pú-
blico específico, a psicóloga e doutora em
Educação Mônica Yumi Jinzenji pesqui-
sou especialmente Mentor das Brasileiras
– no seu livro Imprensa e Educação da
Mulher no Século XIX – primeiro periódi-
co dedicado às mulheres, produzido em
Minas Gerais, mais especificamente em
São João Del-Rei, lançado em 30 de no-
vembro de 1829 e que circularia até 1º de
junho de 1832. Tal periódico, redigido por
José Alcibíades Carneiro, tinha o propó-
sito de promover a instrução e o entrete-
nimento das mulheres, auxiliando-as na
formação de uma boa mãe e cidadã, atri-
butos imprescindíveis às mulheres de en-
tão. Suas matérias, de acordo com a pes-
quisadora, enalteciam as
virtudes, os valores mo-
rais apregoados à época,
bem como valorizava o
papel de gestora da vida
familiar e da educadora
fundamental das futuras
gerações. Por ter essa co-
notação social e política,
dava menor valor à moda
ou às coisas que ele con-
siderava futilidades do
gênero. Pelo que consta, suas leitoras co-
bravam notícias sobre a moda da Corte,
ao que seu redator, a contragosto, cedeu
às inúmeras pressões, inserindo algumas
notas que se referiam aos trajes mais usa-
dos no Rio de Janeiro, bem como as co-
res, os adereços e a influência da Corte
francesa sobre nossos costumes.
O cenário da educação brasileira deste
período é restrito, mas de forma alguma
desprezível. Muitas são as mulheres que
se destacaram em concursos para profes-
soras em escolas, os chamados exames pú-
blicos, e muito provavelmente foram as
primeiras a ter direito a uma profissão, a
exercer um importante papel social no es-
paço público, antes reservado exclusiva-
mente aos homens. Em uma sociedade
completamente patriarcal, algumas notá-
veis figuras femininas tiveram sua chan-
ce, oportunidade de trabalhar, se instruir,
educar, dando impulso a uma nova cultu-
ra e sociedade em construção.
Karin Amaral
8º período de História
artigo
Há algum tempo, estava eu sentada
na sala de espera em um consultório,
quando um senhor de mais idade
olhou para o livro em minhas mãos e
me perguntou:
– O que você está lendo?
Mostrei-lhe a capa do livro (Apologia
da História ou Ofício de Historiador de
Marc Bloch) e respondi:
– Um livro de História.
De repente, ele sorriu e disse:
– Hummm.... História é? Por acaso
você faz faculdade de História?
– Faço sim.
– E por que você escolheu fazer His-
tória?
Neste momento, o doutor me chamou
e eu apenas despedi-me daquele senhor.
Mas aquela conversa me fez questionar o
porquê que eu fazia
História. De uma coi-
sa eu tinha certeza,
que eu gostava desde
muito tempo, mas
nunca tinha parado
para pensar qual era
o motivo que me le-
vava a gostar tanto.
Aquela conversa des-
pertou em mim uma curiosidade: quais ra-
zões levam os homens a mergulharem no
mundo da História?
O homem em sua trajetória pela vida
(no espaço e no tempo) deixa vestígios,
marcas e sinais que, ao serem encontra-
dos pelo historiador,
se transformam em
verdadeiros portais.
Portais que possibili-
tam uma viagem do
presente para o passa-
do e do passado para
presente, em busca de
responder a questões
surgidas em um con-
texto no qual o historiador encontra-se in-
serido. Ginzburg compara o historiador
com um caçador que está sempre à procu-
ra de vestígios, sinais, marcas e rastros que
o homem tenha deixado.Ao encontrar tais
vestígios, o historiador seleciona-os, ana-
lisa-os e parte para a escrita da História.
Mas por que fazemos História?
Por que
fazemos História?
Na trajetória da História, podemos per-
ceber que, em meio a lutas entre paradig-
mas e tendências, todos procuraram e pro-
curam entender a existência humana em
um tempo e espaço. Procuram encontrar
um caminho no qual possam ter acesso aos
homens do passado e, de certa forma, ten-
tar compreender o presente, saciar a curi-
osidade humana e encontrar meios nos
quais possam transitar entre o passado e
presente. Como disse José Carlos Reis, em
História entre a Filosofia e a Ciência, “o
historiador é nada mais nada menos do que
um mediador de um diálogo, de um deba-
te, entre os homens passados, cuja presen-
ça torna-se viva, e os homens presentes,
que se sentem menos solitários e despro-
tegidos. Esse diálogo promovido pelo his-
toriador oferece aos homens do presente
uma interlocução, um
conforto, melhor localiza-
ção de si no tempo, o sen-
tido específico da diferen-
ça, da alteridade e da
identidade, aos homens
do passado, esse diálogo
oferece igualmente a es-
perança de sobreviverem
à sua finitude”.
Michel De Certeau disse uma vez: “Eu
me interrogo sobre a enigmática relação
que mantenho com a sociedade presente e
com a morte, através da mediação das ati-
vidades técnicas”. Quando eu li esta fra-
se, percebi que eu sinto o mesmo e sei que
essa questão sempre me
impulsionará a buscar res-
postas. Buscando compre-
ender qual o motivo que
me levou a gostar de His-
tória, deparei-me com vá-
rios. Percebi também que
o ofício de historiador é
mesmo o que eu quero se-
guir, apesar de sua com-
plexidade e de seus problemas, pois a cada
dia mais eu me encanto com a atividade
de navegar no tempo, do presente para o
passado, do passado para o presente e, se
a vida permitir, do presente para o futuro.
Carla Fonseca de Morais
4º período de História
artigo
Deixe-os em paz
Estavam,sentadosemroda,Judas,Sade,
Rosa, Raul, Chico e Frida. Em meio ao
círculo,umapequenafogueiraqueapla-
cava o frio e, na mão de um deles, um
violão que alimentava a imaginação e dava o
tom das melodias nostálgicas, românticas, sa-
tíricas, alternativas e psicodélicas. Regados à
cerveja, drogas, vinho e música, a noite era
interminável ao pé do calvário.
Ao levantar os primeiros raios de sol
daquela manhã, pouco após os jovens irem
para suas casas, ou talvez para uma taber-
na onde pudessem satisfazer seus desejos
devassos, Jesus, num grande bocejar, abre
os olhos, remove os cravos das mãos, dos
pés, desce da cruz e, num gesto de pregui-
ça e de noite mal dormida, encosta-se na
cruz ao lado.Apanha
um cigarro no chão e
acende-o no resquí-
cio de fogueira que
ainda havia nos pés
de sua cruz. Volta a
encostar-se na cruz
ao lado, olha pra
cima, e diz: “Está
vendo, Dimas? Depois de tudo que eu e
meu pai fizemos, ainda tenho que aguen-
tar esse tipo de pessoa. Não têm casas nem
camas, é o que parece, já que passam as
noites a me aborrecer. Não trabalham, não
tenho dúvidas, uma vez que vão se embo-
ra quando a hora é aquela em que todos já
estão a se dirigir pro trabalho”. “Mas o
que de tão bom o senhor e vosso pai fize-
ram?”, pergunta Dimas. “Pelo que me cons-
ta, a sabedoria adquirida, vosso pai, o deus,
escolheu, aleatoriamente, um povo, em de-
trimento de outros vários, prometeu a esse
povo uma terra que jorrava leite e mel, mas
antes o fez passar por desertos, exílios, pra-
gas, sofrimentos e testou, de maneira in-
fantil, egoísta e mesquinha, a fé de um ho-
mem ordenando-o que matasse seu próprio
filho.Aseu povo dava a vitória, a outros, a
derrota sangrenta, sofrida, sem chance de
salvação ou arrependimento”.
“Quer que eu continue?”, indagou Di-
mas a Jesus, que, nesse momento, num tra-
go profundo, extinguia por completo o ci-
garro. “Não”, disse Jesus, “sei perfeitamen-
te essa história, mas lhe digo uma coisa,
isso tudo foi pra glória de meu pai que criou
o céu e a terra e...”. “Pode parar por ai que
já sei essa ladainha”, interrompeu Dimas
e continuou que salvou seu povo e o en-
viou para a redenção de seus pecados, cujo
sinal é a morte na cruz e blá, blá, blá. “Não
precisas repetir o que vens dizendo já há
dois mil anos. Mas está vendo no chão
aquela poça de vômito, aquelas guimbas
de cigarro, as garrafas, os preservativos?”,
perguntou Dimas a Jesus. “Claro que es-
tou”, respondeu. “Veja bem, isso é o sím-
bolo de uma juventude perdida, sem rumo,
sem... opa, espere aí um pouco”, interrom-
peu novamente Dimas, “perdida e sem
rumo? Uma juventude que fez revoluções,
acabou com ditaduras, extinguiu as amar-
ras morais, cantou as mais belas músicas,
escreveu as mais belas poesias? O que há
de perdido nisso? Pelo
contrário, eles se en-
contraram como seres
humanos e estão liber-
tando o mundo dos en-
sinamentos de seu pai,
aquele velho careta, e
das palavras de ordem
dos velhos mal amados
que comandam sua igreja”.
“Mas você não entende, Dimas? Deus
ama tantos seus filhos que lhes permitem
passar por sofrimentos para que possam
ver que a verdadeira alegria está no todo
-poderoso”. “Pois bem, Jesus”, disse Di-
mas em tom de fim de conversa, “é por
esse discurso fajuto que os rapazes que
cá vêm para se divertirem são como são,
escolheram viver livres a sofrerem e es-
perar por uma salvação que ninguém pode
afirmar se é verdadeira ou mentirosa. En-
tão, pra fim de papo, deixe-os em paz, des-
canse meus ouvidos, eles nem mesmo
creem que tu és filho de deus. Na verda-
de, não creem nem mesmo que o senhor
vosso pai, o deus, existe. São felizes, ao
contrário daqueles quem vêm ali à frente
para rezar, com caras de sofrimento e de
desejos reprimidos. Sobe logo nessa cruz,
faz cara de sofredor que talvez esses dei-
xem ao pé da cruz um pedaço de Big Mac,
um resto de Coca-Cola e umas moedas
pra pinga, porque também, sem a cacha-
ça, ninguém aguenta essa situação”.
Valter Bernardo
8º período de História

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  • 1. Curso de História da FUNEDI/UEMG Divinópolis – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 ediotiral Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro de /2010 – Editor deste número: João Ricardo Ferreira Pires (coordenador do curso de His- tória) – Projeto gráfico/editorial e diagramação: Daniela Couto – Ilustrações: Arnaldo Pires Bessa – Revisão: Elvis Gomes (Assessoria de Comuni- cação da FUNEDI/UEMG) – Contatos: (37) 3229-3569 – historia.ised@funedi.edu.br – Avenida Paraná, 3001, bairro Jardim Belvedere, CEP 35501-170 – Divinópolis (MG) EXPEDIENTE Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 5 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 6 Informes Por uma história das coisas Aproveitando o tema geral dos nossos trabalhos interdisciplinares – cultura material, gostaria de fa- zer um pequeno exercício de olhar para as coisas que não olhamos. Meu objetivo com isso é incentivar a todos os alunos na feitura de seus trabalhos e de- fender um olhar diferente sobre as coisas que nos rodeiam, um olhar que estranhe essas coisas, um olhar que não as consi- dere naturais, mas que faça perguntas, que questione, pois essa é nossa função pri- meira como historiador. Então, os objetos, as coisas que nos cercam em todos os ambientes da nossa vida possuem histórias. Qual é a histó- ria, por exemplo, da cadeira? Qual é a história, por exemplo, do clip? Tentarei apontar alguns caminhos para se chegar à história desses objetos banais. Primeiro ponto: o espaço sociocultu- ral que torna possível o nascimento das coisas, ou seja, a partir de onde nasce a necessidade dos objetos. Podemos pensar que as coisas são inventadas para atender uma determinada necessidade que as pes- soas se deparam num determinado mo- mento. Essa necessidade nascerá das ca- racterísticas socioculturais, e a invenção de determinada coisa acompanhará essas características. Segundo ponto possível de se fazer uma história: os materiais de que é com- posta a coisa inventada. Não é por acaso que as coisas são feitas de barro, de ferro ou de qualquer outro material. Isso pode estar associado à presença ou não desses materiais na sociedade que inventou o objeto. Pode ser associado também às práticas de uso desse determinado mate- rial anteriores à invenção. Um terceiro ponto possível de se fa- zer uma história seria a questão da téc- nica e da tecnologia. Qual é a técnica necessária à invenção das coisas? Ela existia antes? Como essa técnica foi aproveitada na invenção de um deter- minado objeto? Um quarto ponto seria a evolução de seu uso, ou seja, um objeto pode ser in- ventado para um determinado uso e, com o passar dos tempos, ser utilizado para outros fins, ou mesmo seu uso permane- cer o mesmo mais adaptado às transfor- mações do meio. Um quinto ponto possível de se pro- duzir história seria a simbologia, a ico- nografia dos objetos. Estes possuem uma forma, possuem um desenho que muitas vezes atende à funcionalidade, mas que também pode ter valores estéticos, valo- res simbólicos. Ligado a esse quinto pon- to, podemos apontar a questão da histó- ria do design, área tão pouco frequentada por nós, historiadores, mas que poderia render bons frutos. Um sexto ponto seria a história da cir- culação das coisas: aqui podemos reti- rar excelentes informações sobre a eco- nomia, a sociedade e a cultura das regi- ões onde os objetos em questão circu- lam. Aqui, podemos estudar o consumo dessas coisas, que é uma forma de cir- culação econômica. Acho melhor ir encerrando esses pe- quenos e despretensiosos comentários, pois alongaríamos demais. Ficam como dicas de possíveis perguntas a serem fei- tas às coisas. Espero que tenha contribu- ído para vocês pensarem os trabalhos in- terdisciplinares e, para finalizar, duas di- cas de leitura: PETROSKI, Henry. Evolução das coi- sas úteis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo nas so- ciedades do século XVII ao XIX. Tradu- ção de Ana Maria Scherer. Rio de Janei- ro: Rocco, 2000. João Ricardo Ferreira Pires professor e coordenador do curso de História da FUNEDI/UEMG BERMAN, Marshall. Tudo que é só- lido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Cia. das Letras, 1986. O livro analisa experiências, meios, au- tores e obras modernas do Fausto de Goe- the até as artes plásticas dos anos 1970.Tem partes primorosas, como a análise de Fausto fomentador: o destruidor do antigo e, ao mesmo tempo, criador do novo. No segun- do capítulo, ele analisa o pensamento de Marx,temalgunsinsightsinteressantes,mas éopiorcapítulodaobrainteira.Bermannão atinge nesse capítulo a plasticidade e a coe- rência que teve nos outros capítulos. O ter- ceiro capítulo é dos que eu mais gosto. Inti- tula-se “Baudelaire: o modernismo nas ruas”. Excelente análise de como Baudelai- re capta os gritos e olhos da rua, da multi- dão, um dos primeiros grandes efeitos per- versosdaurbanizaçãoeindustrializaçãoque a Europa vivia à sua época. Baudelaire, se- gundo Berman, capta as fraturas e divisões sociais que a modernização econômica e social gerou. Depois vem o capítulo sobre os russos que o autor chama de modelo do subdesenvolvimento:aquelasregiõesqueno processo de modernização permaneciam subservientes à outra região. Foi o caso da RússiadesdeoséculoXVIIIeduranteoXIX inteiro. O autor começa a tratar do que exis- te de moderno em Pushkin, Dostoievski, Gogol e outros, falando na linha do subde- senvolvimento, de uma modernidade ainda incompleta nesses autores e sua sociedade. Esse quarto capítulo é fantástico, com as interpretações a que Berman chega de algu- mas obras dos autores acima citados. E na última parte, o modernismo norte-america- no, o autor pega Nova Iorque como símbo- lo, tecendo comentários muito bons sobre a via expressa como conceito condensador desse modernismo e, também, os gritos nas ruas como outro conceito condensador da modernidade do século XX. O que fica é: mesmo que tudo que é só- lido se desmanche, tudo que é sagrado se profane, a busca do homem moderno per- manece sendo se encontrar, encontrar-se no redemoinho, acalmar a confusão e veloci- dade permanente da modernidade. Citan- do Guimarães Rosa, profundo conhecedor do misticismo brasileiro, não é o diabo no meio do redemoinho, somos nós mesmos, resenha Tudo que é sólido desmancha no ar e há várias formas de se acomodar, de se ajeitar no turbilhão. “E quanto ao dia que virá depois do amanhã? Thab Hassan, ide- ólogo do pós-modernismo, lamenta a obs- tinada recusa da modernidade a se extin- guir”. Quando terminará o período moder- no?... É o que desejam os pós-modernos, mas várias características econômicas e so- ciais da modernidade são onipresentes no nosso mundo, algumas promessas da mo- dernidade ainda não se realizaram e, ape- nas por isso, não é motivo para jogar o mo- derno, a modernidade e a modernização no saco de lixo como teimam em fazer os pós- modernos. O que Berman quer defender nessa linhagem da modernidade é que aqueles que estão à espera do final da era moderna deverão aguardar um tempo in- terminável.Aeconomia moderna provavel- mente continuará em expansão, embora em novas direções, adaptando-se às crises crô- nicas de energia e do meio ambiente que o seu sucesso criou. As adaptações futuras exigirão grandes turbulências sociais e políticas; mas a mo- dernização sempre sobreviveu em meio a problemas, em uma atmosfera de “incerte- za e agitações constantes”, em que, como dizem Marx e Engels no Manifesto Comu- nista, “todas as relações fixas e congela- das são suprimidas”. Em tal ambiente, a cultura da modernidade continuará a de- senvolver novas visões e expressões de vida, pois as mesmas tendências econômi- cas e sociais que incessantemente transfor- mam o mundo que nos rodeia, tanto para o bem como para o mal, também transfor- mam as vidas interiores dos homens e das mulheres que ocupam esse mundo e o fa- zem caminhar. O processo de moderniza- ção, a cultura moderna e o modernismo, ao mesmo tempo em que nos exploram e nos atormentam, nos impelem a apreender e a enfrentar o mundo que esse processo constrói e a lutar por torná-lo o nosso mun- do, um mundo melhorado ou, pelo menos, sempre tentando melhorar. O livro foi lançado em 1982, subjaz em todo ele um conjunto pesado de críti- cas ao pós-modernismo e elogios ao mo- dernismo. Vale demais a leitura. João Ricardo Ferreira Pires professor e coordenador do curso de História da FUNEDI/UEMG Congressos – 26º Simpósio Nacional de História ANPUH 50 ANOS. Data: 17 a 23 de ju- lho de 2011. Local: USP. Inscrições: de 1º de janeiro a 21 de março (inscrições nos Simpósios Temáticos), de 1º de ja- neiro a 30 de junho (inscrições prévias nos minicursos) e de 1º de maio a 11 de julho (inscrições de ouvintes). – 3º Seminário Dimensões da Política na História: Culturas Políticas, Relações So- ciais e Redes de Poder. Data: de 30 de no- vembro a 2 de dezembro de 2010. Local: Instituto de Ciências Humanas da Univer- sidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). In- formações:http://www.ufjf.br/3dimensoes/ – 4º Simpósio de Política e Cultura: Diá- logos e Interfaces. Data: de 1º a 3 de de- zembro de 2010. Local: Universidade Severino Sombra – Campus Vassouras (USS). Informações: http://www.uss.br/ web/page/simposiopol.asp – 6º Seminário de Ensino, Pesquisa e Ex- tensão da FUNEDI/UEMG. Cidades: a vida urbana entre 1910 e 2010. Local: Campus da FUNEDI/UEMG Divinópo- lis. Data: 24 a 26 de novembro de 2010. Informações: (37) 3229-3500 ou cepe@ funedi.edu.br – 12ºSemináriodeIniciaçãoCientíficaeEx- tensão da UEMG. Local: Unidade de Frutal daUEMG.Datas:17,18e19denovembrode 2010. Informações: http://www.uemg.br/ noticia_detalhe.php? id=3366 Chamadas de artigos – Revista Emblemas. Tema: “Juventude, História e Sociedade”. Prazo para envio: 17/12/2010. Informações: http:// www.revistas.ufg.br/index.php/emblemas – Revista Estudos Históricos FGV.Tema: “Espaço. 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Descobrimentos de Capistrano: a História do Brasil “a grandes traços e largas malhas”. Rio de Janeiro: Apicuri/Ed. PUC-RIO, 2010. – PAIVA, Adriano Toledo. Indígenas e os processos de conquista dos sertões de Minas Gerais (1767-1813). Belo Hori- zonte: Argvmentvm, 2010.
  • 2. Uma juventude que fez revoluções, acabou com ditaduras, extinguiu as amarras morais, cantou as mais belas músicas, escreveu as mais belas poesias? O que há de perdido nisso? “ ” Os costumes vão sendo alterados paulatinamente, e a adesão a atitudes, valores e ideário mais modernos vai toman- do corpo na incipiente nação brasileira “ ” “ ” o sentido específico da diferença, da alteridade e da identidade, aos homens do passado, esse diálogo oferece igualmente a esperança de sobreviverem à sua finitude Esse diálogo promovido pelo historiador oferece aos homens do presente uma interlocução, um conforto, melhor localização de si no tempo “ ” Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 2 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 3 Boletim informativo do curso de História da FUNEDI/UEMG – Ano 4 – Nº 14 – Novembro/2010 4 artigo A educação feminina no Brasil no século XIX através da cultura impressa A imprensa brasileira floresceu após a Independência, orientada pelas Luzes e pela Razão, tão difundidas no século XVIII. Os jornais passa- ram, a partir daí, a serem vistos como fon- tes de informação e também de conheci- mento. Muitas vezes o jornalista foi con- fundido com o educador, professor, por promover a leitura, a reflexão. O jornal, nesse contexto, atuou como um promotor da educação pública, divulgando ações, valorizando as atividades escolares e, so- bretudo, destacando a profissão de profes- sora no Brasil Império. É preciso lembrar que, até aproxima- damente 1808, as mulhe- res estiveram fora das sa- las de aula, excluídas do processo educacional, e a única educação recebida até então era a de dentro de casa, em geral, volta- da aos afazeres domésti- cos, como os cuidados com a casa, crianças, bor- dados, culinária. Com a vinda da Corte, isso muda um pouco de figura. Os costumes vão sen- do alterados paulatinamente, e a adesão a atitudes, valores e ideário mais modernos vai tomando corpo na incipiente nação bra- sileira. Entre tais mudanças de atitudes, insere-se o papel da mulher na sociedade, a necessidade de instrução, inclusive para atender às necessidades de se apresentar bem nos salões, teatros, reuniões, que en- tão passaram a fazer parte da vida social no Rio de Janeiro já nas primeiras déca- das do século XIX. Tais alterações nos papéis com relação às figurações sociais estão relacionadas em grande medida à distinção entre o espaço público e o pri- vado, incentivadas desde o século XVIII. Uma releitura será feita a partir de en- tão sobre a família, o papel feminino, a cidadania, a educação, especialmente atra- vés da leitura de periódicos diversos e de alguns poucos destinados ao público fe- minino. A mulher passa aos poucos a ser vista como um ser político importante, capaz de formar futuros cidadãos. Entre alguns jornais voltados a este pú- blico específico, a psicóloga e doutora em Educação Mônica Yumi Jinzenji pesqui- sou especialmente Mentor das Brasileiras – no seu livro Imprensa e Educação da Mulher no Século XIX – primeiro periódi- co dedicado às mulheres, produzido em Minas Gerais, mais especificamente em São João Del-Rei, lançado em 30 de no- vembro de 1829 e que circularia até 1º de junho de 1832. Tal periódico, redigido por José Alcibíades Carneiro, tinha o propó- sito de promover a instrução e o entrete- nimento das mulheres, auxiliando-as na formação de uma boa mãe e cidadã, atri- butos imprescindíveis às mulheres de en- tão. Suas matérias, de acordo com a pes- quisadora, enalteciam as virtudes, os valores mo- rais apregoados à época, bem como valorizava o papel de gestora da vida familiar e da educadora fundamental das futuras gerações. Por ter essa co- notação social e política, dava menor valor à moda ou às coisas que ele con- siderava futilidades do gênero. Pelo que consta, suas leitoras co- bravam notícias sobre a moda da Corte, ao que seu redator, a contragosto, cedeu às inúmeras pressões, inserindo algumas notas que se referiam aos trajes mais usa- dos no Rio de Janeiro, bem como as co- res, os adereços e a influência da Corte francesa sobre nossos costumes. O cenário da educação brasileira deste período é restrito, mas de forma alguma desprezível. Muitas são as mulheres que se destacaram em concursos para profes- soras em escolas, os chamados exames pú- blicos, e muito provavelmente foram as primeiras a ter direito a uma profissão, a exercer um importante papel social no es- paço público, antes reservado exclusiva- mente aos homens. Em uma sociedade completamente patriarcal, algumas notá- veis figuras femininas tiveram sua chan- ce, oportunidade de trabalhar, se instruir, educar, dando impulso a uma nova cultu- ra e sociedade em construção. Karin Amaral 8º período de História artigo Há algum tempo, estava eu sentada na sala de espera em um consultório, quando um senhor de mais idade olhou para o livro em minhas mãos e me perguntou: – O que você está lendo? Mostrei-lhe a capa do livro (Apologia da História ou Ofício de Historiador de Marc Bloch) e respondi: – Um livro de História. De repente, ele sorriu e disse: – Hummm.... História é? Por acaso você faz faculdade de História? – Faço sim. – E por que você escolheu fazer His- tória? Neste momento, o doutor me chamou e eu apenas despedi-me daquele senhor. Mas aquela conversa me fez questionar o porquê que eu fazia História. De uma coi- sa eu tinha certeza, que eu gostava desde muito tempo, mas nunca tinha parado para pensar qual era o motivo que me le- vava a gostar tanto. Aquela conversa des- pertou em mim uma curiosidade: quais ra- zões levam os homens a mergulharem no mundo da História? O homem em sua trajetória pela vida (no espaço e no tempo) deixa vestígios, marcas e sinais que, ao serem encontra- dos pelo historiador, se transformam em verdadeiros portais. Portais que possibili- tam uma viagem do presente para o passa- do e do passado para presente, em busca de responder a questões surgidas em um con- texto no qual o historiador encontra-se in- serido. Ginzburg compara o historiador com um caçador que está sempre à procu- ra de vestígios, sinais, marcas e rastros que o homem tenha deixado.Ao encontrar tais vestígios, o historiador seleciona-os, ana- lisa-os e parte para a escrita da História. Mas por que fazemos História? Por que fazemos História? Na trajetória da História, podemos per- ceber que, em meio a lutas entre paradig- mas e tendências, todos procuraram e pro- curam entender a existência humana em um tempo e espaço. Procuram encontrar um caminho no qual possam ter acesso aos homens do passado e, de certa forma, ten- tar compreender o presente, saciar a curi- osidade humana e encontrar meios nos quais possam transitar entre o passado e presente. Como disse José Carlos Reis, em História entre a Filosofia e a Ciência, “o historiador é nada mais nada menos do que um mediador de um diálogo, de um deba- te, entre os homens passados, cuja presen- ça torna-se viva, e os homens presentes, que se sentem menos solitários e despro- tegidos. Esse diálogo promovido pelo his- toriador oferece aos homens do presente uma interlocução, um conforto, melhor localiza- ção de si no tempo, o sen- tido específico da diferen- ça, da alteridade e da identidade, aos homens do passado, esse diálogo oferece igualmente a es- perança de sobreviverem à sua finitude”. Michel De Certeau disse uma vez: “Eu me interrogo sobre a enigmática relação que mantenho com a sociedade presente e com a morte, através da mediação das ati- vidades técnicas”. Quando eu li esta fra- se, percebi que eu sinto o mesmo e sei que essa questão sempre me impulsionará a buscar res- postas. Buscando compre- ender qual o motivo que me levou a gostar de His- tória, deparei-me com vá- rios. Percebi também que o ofício de historiador é mesmo o que eu quero se- guir, apesar de sua com- plexidade e de seus problemas, pois a cada dia mais eu me encanto com a atividade de navegar no tempo, do presente para o passado, do passado para o presente e, se a vida permitir, do presente para o futuro. Carla Fonseca de Morais 4º período de História artigo Deixe-os em paz Estavam,sentadosemroda,Judas,Sade, Rosa, Raul, Chico e Frida. Em meio ao círculo,umapequenafogueiraqueapla- cava o frio e, na mão de um deles, um violão que alimentava a imaginação e dava o tom das melodias nostálgicas, românticas, sa- tíricas, alternativas e psicodélicas. Regados à cerveja, drogas, vinho e música, a noite era interminável ao pé do calvário. Ao levantar os primeiros raios de sol daquela manhã, pouco após os jovens irem para suas casas, ou talvez para uma taber- na onde pudessem satisfazer seus desejos devassos, Jesus, num grande bocejar, abre os olhos, remove os cravos das mãos, dos pés, desce da cruz e, num gesto de pregui- ça e de noite mal dormida, encosta-se na cruz ao lado.Apanha um cigarro no chão e acende-o no resquí- cio de fogueira que ainda havia nos pés de sua cruz. Volta a encostar-se na cruz ao lado, olha pra cima, e diz: “Está vendo, Dimas? Depois de tudo que eu e meu pai fizemos, ainda tenho que aguen- tar esse tipo de pessoa. Não têm casas nem camas, é o que parece, já que passam as noites a me aborrecer. Não trabalham, não tenho dúvidas, uma vez que vão se embo- ra quando a hora é aquela em que todos já estão a se dirigir pro trabalho”. “Mas o que de tão bom o senhor e vosso pai fize- ram?”, pergunta Dimas. “Pelo que me cons- ta, a sabedoria adquirida, vosso pai, o deus, escolheu, aleatoriamente, um povo, em de- trimento de outros vários, prometeu a esse povo uma terra que jorrava leite e mel, mas antes o fez passar por desertos, exílios, pra- gas, sofrimentos e testou, de maneira in- fantil, egoísta e mesquinha, a fé de um ho- mem ordenando-o que matasse seu próprio filho.Aseu povo dava a vitória, a outros, a derrota sangrenta, sofrida, sem chance de salvação ou arrependimento”. “Quer que eu continue?”, indagou Di- mas a Jesus, que, nesse momento, num tra- go profundo, extinguia por completo o ci- garro. “Não”, disse Jesus, “sei perfeitamen- te essa história, mas lhe digo uma coisa, isso tudo foi pra glória de meu pai que criou o céu e a terra e...”. “Pode parar por ai que já sei essa ladainha”, interrompeu Dimas e continuou que salvou seu povo e o en- viou para a redenção de seus pecados, cujo sinal é a morte na cruz e blá, blá, blá. “Não precisas repetir o que vens dizendo já há dois mil anos. Mas está vendo no chão aquela poça de vômito, aquelas guimbas de cigarro, as garrafas, os preservativos?”, perguntou Dimas a Jesus. “Claro que es- tou”, respondeu. “Veja bem, isso é o sím- bolo de uma juventude perdida, sem rumo, sem... opa, espere aí um pouco”, interrom- peu novamente Dimas, “perdida e sem rumo? Uma juventude que fez revoluções, acabou com ditaduras, extinguiu as amar- ras morais, cantou as mais belas músicas, escreveu as mais belas poesias? O que há de perdido nisso? Pelo contrário, eles se en- contraram como seres humanos e estão liber- tando o mundo dos en- sinamentos de seu pai, aquele velho careta, e das palavras de ordem dos velhos mal amados que comandam sua igreja”. “Mas você não entende, Dimas? Deus ama tantos seus filhos que lhes permitem passar por sofrimentos para que possam ver que a verdadeira alegria está no todo -poderoso”. “Pois bem, Jesus”, disse Di- mas em tom de fim de conversa, “é por esse discurso fajuto que os rapazes que cá vêm para se divertirem são como são, escolheram viver livres a sofrerem e es- perar por uma salvação que ninguém pode afirmar se é verdadeira ou mentirosa. En- tão, pra fim de papo, deixe-os em paz, des- canse meus ouvidos, eles nem mesmo creem que tu és filho de deus. Na verda- de, não creem nem mesmo que o senhor vosso pai, o deus, existe. São felizes, ao contrário daqueles quem vêm ali à frente para rezar, com caras de sofrimento e de desejos reprimidos. Sobe logo nessa cruz, faz cara de sofredor que talvez esses dei- xem ao pé da cruz um pedaço de Big Mac, um resto de Coca-Cola e umas moedas pra pinga, porque também, sem a cacha- ça, ninguém aguenta essa situação”. Valter Bernardo 8º período de História