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1

OTÁVIO LUIZ MACHADO
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA
UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS
ESSENCIAIS DA SUA TRAJETÓRIA, DAS LUTAS
SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA REPRESSÃO
(1954-1986) [VOLUME 1]
2

Otávio Luiz Machado

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA
UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS
ESSENCIAIS DA SUA TRAJETÓRIA, DAS LUTAS
SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA REPRESSÃO
(1954-1986) [VOLUME 1]

Frutal-MG
Editora Prospectiva
2013
3

PRODUÇÃO DO LIVRO
Revisão: Otávio Luiz Machado
Capa: Ed. Prospectiva/design
Crédito das imagens da capa: recortes de documentos completos
citados no miolo do livro
_______________________________________
Machado, Otávio Luiz. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA
UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS ESSENCIAIS DA SUA
TRAJETÓRIA, DAS LUTAS SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA
REPRESSÃO (1954-1986) [VOLUME 1]/ Otávio Luiz Machado. –
Frutal-MG: Prospectiva, 2013.

ISBN: 978-85-67463-39-1
1. Educação – Jovens. 2. Democracia. 3. Formação Cidadã; 4. Trajetória;
5. Direitos Humanos.
CDU316.6:378.4
-----------------------------------------------------------------------

Editora Prospectiva
CARTAS PARA: Caixa Postal 01, 38200-000, Frutal-MG
Tel: (34) 9668-9575
E-mail: editoraprospectiva@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/editoraprospectiva?fref=ts
Para baixar livros: http://pt.slideshare.net/editoraprospectiva/documents
4

AGRADECIMENTOS

Dedicamos nosso trabalho a todos
e todas que somaram, que sonharam
e torceram para que pudéssemos
chegar ao ponto de evolução positiva
de

toda

uma

verdadeira

obra

coletiva. Que novos trabalhos se
beneficiem dos Documentos e da
trilha iniciada com nossos projetos.
5

SUMÁRIO
ANO DE 1954 ...........................................................................
ANO DE 1958 ...........................................................................
ANO DE 1959 ...........................................................................
ANO DE 1960 ...........................................................................
ANO DE 1961 ...........................................................................
ANO DE 1962 ...........................................................................
ANO DE 1963 ...........................................................................
ANO DE 1964 ...........................................................................
ANO DE 1965 ...........................................................................
ANO DE 1966 ...........................................................................
ANO DE 1967 ...........................................................................
ANO DE 1968 ...........................................................................
ANO DE 1969 ...........................................................................
ANO DE 1971 ...........................................................................
ANO DE 1972 ...........................................................................
ANO DE 1973 ...........................................................................
6

ANO DE 1974 ...........................................................................
ANO DE 1976 ...........................................................................
ANO DE 1981 ...........................................................................
ANO DE 1986 ...........................................................................
7

APRESENTAÇÃO
A

minha

satisfação

na

disponibilização

de

Documentos que retratam aspectos da história dos jovens
no Brasil não vem de hoje. Como desenvolvo um
trabalho que vem de algum tempo relacionado à
reconstituição

histórica

dos

jovens,

principalmente

quando o acesso às informações era uma barreira quase
intransponível, fui adiante e acabei tendo o privilégio de
conhecer muitas pessoas, de adentrar em arquivos
geralmente intocados e de formar uma rede de
pesquisadores, de personagens da história aqui retratada
e organizar trabalhos que a cada dia se tornam mais
conhecidos e citados em monografias de graduação,
dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros,
artigos ou papers científicos, etc.
8

O presente livro possui um paralelo com outra
publicação

anterior

intitulada

DOCUMENTOS

FUNDAMENTAIS PARA A HISTÓRIA DOS JOVENS
EM

PERNAMBUCO:

APONTAMENTOS

PARA

A

NECESSIDADE DE COMISSÕES DA VERDADE NAS
UNIVERSIDADES PERNAMBUCANAS [VOLUME 1],
que

aqui

é

novamente

contemplada

com

uma

documentação rara e de difícil acesso que trata
especificamente da nossa Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Ela pode ser acessada aqui:
http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livrocom-documentos-juventudes-pe-verso-18-dez-2012kkkkk
Outros livros que trabalhamos afincamente na sua
produção

também

registram

cenas

dos

jovens

universitários da UFPE e de outros grupos sociais que
também merecem ser citados por aqui:

1) Protestos Públicos e outras cenas de cidadania, Recife,
2012:
9

http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/protest
os-pblicos-e-outras-cenas-de-cidadania-recife-2012-deotvio-luiz-machado

2) Cenas cotidianas da UFPE, 2011-2012:
http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livrocenas-cotidianas-da-ufpe-2011-2012-de-otvio-luizmachado

3) Aspectos da história dos jovens em Recife pós anos
1960:
http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livroaspectos-da-histria-dos-jovens-em-recife-ps-anos-1960organizado-por-otvio-luiz-machado

Os próprios volumes de ASPECTOS DA HISTÓRIA
DAS JUVENTUDES BRASILEIRAS (1930-1985): UM
RESGATE HISTÓRICO SEM PÁGINA VIRADA
trazem documentação referente à UFPE, que podem ser
consultadas e baixadas aqui:
10

http://www.slideshare.net/otavioluizmachado

A obra agora apresentada surge quando o assunto da
reconstituição histórica do período do golpe civil-militar
(1964-1985) está na ordem do dia com a Comissão
Nacional da Verdade que, no seu primeiro balanço acerca
dos principais locais de realização de tortura, identificou
como centros utilizados pela repressão dois locais nos
quais

se

localizam

universidades:

as

cidades

universitárias nas quais se encontram a UFPE e a UFRRJ.
É fato que os estudantes estão entre os grupos sociais
mais reprimidos pelos militares e seus serviçais da
sociedade civil, tendo sidos alvos “encaminhados” para
as prisões, as torturas, os inquéritos forjados que os
desqualificavam

moralmente

(atingindo

contra

a

dignidade humana) e a morte.
Por isso que o livro tem uma atenção especial para
com os estudantes, mas não se resumindo a eles; também
professores e técnicos não ficam de fora, seja relacionado
11

ao tema da repressão, seja relacionado à rotina
universitária, à burocracia e à sociabilidade universitária.
A coleta dos Documentos ocorreu quando preparava
um pré-projeto para o mestrado em Sociologia na UFPE,
ao mesmo tempo em que desenvolvia o PROENGE
(PROJETO

A

ENGENHARIA

NACIONAL,

OS

ESTUDANTES E A EDUCAÇÃO SUPERIOR – 1930-85).
Os principais contributos oriundos da dissertação podem
ser

consultados

no

livro

MOVIMENTOS

ESTUDANTIS, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A
CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PAÍS, que pode
ser acessado aqui:
http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livromovimentos-estudantis-formao-profissional-e-aconstruo-de-um-projeto-de-pas-de-otvio-luiz-machado

Como recorte temporal, o período de 1958 à 1975 é
muito mais contemplado, embora a documentação
chegou ao ano de 1986, conforme explico mais adiante na
apresentação.
12

Os Documentos contemplam inicialmente a famosa
greve da Escola de Engenharia de Pernambuco da então
Universidade do Recife (UR), em 1958, indo aos
documentos que tratam da finalização do processo de
anistia do famoso educador Paulo Freire na UFPE, no
ano de 1986.
No meio desse intervalo 1958-1985 encontram-se
Documentos que tratam de pessoas também muito
conhecidas na educação brasileira, como Darcy Ribeiro e
Newton Sucupira, cada qual identificado no seu lugar
social e diante das circunstâncias impostas pelo contexto
da ditadura civil-militar em pleno curso.
Uma documentação anterior ao golpe de 1964
também é muito importante para se compreender a
atuação dos estudantes da Universidade, como é o caso
do ofício datado de 10 de janeiro de 162 em que o
Presidente do DCE (Marco Maciel) solicita ao Reitor da
UFPE

(dentre

outras

reivindicações)

“a

imediata

aquisição de uma séde própria para o Diretório Central
dos Estudantes da Universidade do Recife”. E justifica:
13

“Ressalte-se que no mesmo local, comprovadamente
insuficiente, estão também situadas a União dos
Estudantes de Pernambuco e a Federação Acadêmica
Pernambucana de Esportes”. Trata aí dos exíguos
espaços utilizados pela representação dos estudantes nos
prédios próprios da Universidade.
Em ofício ao Reitor da então Universidade do Recife
de 17 de setembro de 1962, o Presidente do Diretório
Acadêmico de Farmácia, Tarcísio de Oliveira, solicita
passagens para que três estudantes pudessem participar
do III Congresso Nacional de Estudantes de Farmácia,
que aconteceria de 23 a 29 de setembro daquele ano, em
Ouro Preto-MG. No temário do Congresso que foi
anexado

vários

temas

muito

instigantes

estavam

presentes, como “A profissão e a revolução brasileira” e
“Engajamentos prioritários do profissional em vista a
realidade nacional em fase de transformação da ordem
atual”.
14

Também se encontram Documentos que tratam da
relação da burocracia universitária entre si ou com
órgãos externos, como é o caso do influente IV Exército.
A documentação iniciada a partir do golpe civilmilitar de 1964 passa a apresentar um novo sentido à
relação direta da administração central no expurgo de
qualquer iniciativa de contestação pelos estudantes, sem
contar os atos comemorativos da burocracia universitária
em favor da chamada “revolução democrática de 31 de
março de 1964”.
Aqui também publicamos alguns ofícios enviados à
reitoria da então Universidade do Recife (a atual UFPE)
pelo Instituto de Ciências Políticas e Sociais, dirigido pelo
Professor Palhares Moreira Reis, inclusive solicitando
parcerias, como foi no caso da publicação do estudo de
autoria do Professor Lourival Vilanova intitulado “o ato
institucional e sua legitimidade”, tratando da análise do
primeiro ato publicado pelos golpistas de 1964 com uma
visão condescendente com ele.
15

Não é diferente a atividade publicista do escritor
Gilberto Freyre em defesa do golpe de 1964, como ficou
tratado no seu artigo para os Diários Associados
intitulado “O caso da Universidade do Recife”.
No artigo Freyre pede a demissão do Reitor da
Universidade do Recife, até então ocupado pelo Professor
João Alfredo, afirmando que “foi como brasileiro
identificado com os desígnios cívicos daquele movimento
não consigo compreender a permanência do Professor
João Alfredo da Costa Lima como Reitor da Universidade
do Recife”, com a seguinte justificativa:
“Repudiou o Reitor infelizmente comprometido, não por
conivência, mas por complacência, com tal infiltração
comunista, ou para-comunista, na Universidade sob seu
comando, esses seus erros? Reconheceu-os clara e
humildemente após o 31 de março? Proclamou-se
culpado e arrependido dentro, quer das normas cristãs,
quer das da técnica russa de arrependimento, de
confissão, de autocrítica? Promoveu uma nítida
manifestação de solidariedade da Universidade d Recife
ao movimento de 31 de março e de regozijo com o seu
16

triunfo? Que me conste – infelizmente, não. Apenas
destituiu de seus comandos os mais escandalosos
“ativistas” a serviço do comunismo ou do paracomunismo dentro da Universidade. Continua, assim,
Sua Magnificência quase de todo responsável por
complacências
que
vinham
que
vinham
descaracterizando e até degradando a Universidade do
Recife”.
Com esse gesto, somado a tantos outros que
tomaram conta da então da Universidade do Recife, o
Reitor

foi

deposto

pelo

chamado

Comando

Revolucionário, com uma pressão extraordinária para a
sua renúncia, passando a ocupar o comando da Reitoria o
Professor Newton Maia.
Também podemos perceber nos Documentos alguma
resistência interna contra os desmandos vindos de fora
da Universidade no sentido de perseguir estudantes,
como o do Professor Antônio Figueira em defesa dos
acadêmicos do curso de Medicina, sem contar a própria
Documentação dos estudantes em diversos momentos do
livro que ilustram sua reação ao autoritarismo.
17

Os Documentos que chamam muito a atenção são de
1969, como é o caso de um datado de 04 de fevereiro de
1969, que é uma correspondência do diretor da FOUFPE
(Professor Henrique Freire de Barros) ao Chefe da Sessão
de Assistência aos estudantes da UFPE, na qual responde
a uma circular comunicando que parte da diretoria do
Diretório Acadêmico (D.A.) foi suspensa por “serem
agitadores”, ressaltando que “fato êste comunicado ao
magnífico reitor e às autoridades militares”.
Era rotina os diretores das unidades acadêmicas da
UFPE informar à Reitoria quem eram os membros das
entidades estudantis. Em ofício de 12 de setembro de
1969, por exemplo, o diretor do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas (o CFCH) encaminha ao Diretor da
Divisão de Expediente Escolar, os nomes dos novos
componentes do D.A., que tinha como presidente o
jovem estudante Gildo Marçal Brandão, posteriormente
professor e um brilhante intelectual da Universidade de
São Paulo (USP).
18

Um Documento de 14 de março de 1969, que foi
assinado pelo oficial de Relações Públicas do IV Exército,
Major Marcello Alves Carneiro de Menezes, ao Reitor da
UFPE,

trata

comemorar

da

“determinação

condignamente

o

governamental
5º

aniversário

de
da

Revolução Democrática de 1964”, busca se informar qual
ou quais cerimônias nesse sentido para a semana de 24 a
31 de março de 1969, “consagrada àquele evento histórico
de tão grande significado para o povo brasileiro”.
Não foram poucas as respostas dos mais diversos
órgãos da UFPE dando conhecimento ao Reitor de que tal
“determinação

governamental”

seria

devidamente

cumprida, como o ofício de 21 de março de 1969, quando
o chefe da Secção de Rádio, Roberto Maia Martins,
comunica ao magnífico reitor a programação da Rádio
Universitária “como parte das comemorações do quinto
aniversário da Revolução de 31 de março”.
O coordenador executivo da Televisão Universitária,
Professor Manuel Caetano Queiroz de Andrade remete,
em 21 de março de 1969, ao Reitor da UFPE, “a
19

programação especial do 5º aniversário da REVOLUÇÃO
DEMOCRÁTICA de 1964”.
Em ofício de 30 de janeiro de 1969, o Diretor da
Faculdade de Educação da UFPE, Professor Newton Lins
Buarque Sucupira encaminha ao Reitor da UFPE “o
material anexo, constante de pincéis, tintas, pixe e
panfletos da U.E.P., apreendido nesta Faculdade”.
Em ofício de 25 de março o Professor Sucupira
encaminha novamente um material anexado “constante
de panfletos, apreendidos nesta Faculdade”. Ambos
foram encaminhados pelo Reitor da UFPE para a 7ª
Região Militar, e, conforme despacho do próprio Reitor
no Documento, orienta o Diretor da Faculdade para a
“abertura

de

sindicância

para

apurar

as

responsabilidades”.
A Cruzada Democrática Feminina de Pernambuco
também foi muito contemplada na Documentação
recebida pelo Reitor da UFPE, como o ofício que ela
enviou datado de 25 de novembro de 1969 e assinada
pela sua presidente, Cristina Azevedo, com o envio do
20

texto da coluna da Cruzada no Jornal do Commercio (JC)
divulgando o concurso sobre a “bandeira do Brasil”.
Um precioso Documento que veio do exterior em
favor de ex-ministro da Educação e Professor também
possui alto grau de relevância para se entender as
mobilizações produzidas de fora para dentro no combate
à ditadura vigente.
É o caso do ofício do Reitor da Universidad de La
Republica, Oscar J. Maggiolo, ao Reitor da UFPE, em 16
de

março

de

1969,

no

qual

visa

“expressarlela

preocupación de la Universidad de La Republica ante la
prision del Profesor brasileño Darcy Ribeiro, decretada
por

el

Gobierno

del

Brasil”.

O despacho nesse

Documento pela reitoria da UFPE foi simplesmente
“arquive-se”,

não

identificando

nenhum

encaminhamento ou publicidade do ofício no âmbito da
UFPE.
O objetivo de disponibilizar os Documentos na sua
forma quase bruta veio no sentido de que as pessoas
possam conhecer a história da UFPE por meio de fontes
21

primárias, favorecendo sua compreensão para uma
questão que até hoje é fundamental, que é o acesso à
verdade e à memória.
A

EDITORA

PROSPECTIVA

fica

honrada

de

propiciar aos leitores textos e Documentos especialmente
editados para um público interessado em conhecer
melhor o Brasil. É o que nos move, o que nos anima. O
interesse público em primeiro lugar!
Como parte de uma

coleção, a

análise dos

Documentos são encontradas parcialmente nesse livro,
embora é importante reconhecer que nos outros livros as
informações

se

completam

e

o

foco

analítico

é

complementado com o registro documental que aqui é
direcionado.
22

INTRODUÇÃO:
MOVIMENTO
ESTUDANTIL E A
DITADURA MILITAR
DE 1964

1

1

O texto de introdução do presente livro foi reproduzido de
um dos capítulos da minha dissertação de mestrado. Ver
em: MACHADO, Otávio Luiz Machado. Formação
profissional, ensino superior e a construção da profissão do
engenheiro pelos movimentos estudantis de engenharia: a
experiência a partir da Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Pernambuco (1958-1975). Recife:
PPGS/UFPE, 2008.
23

Movimento Estudantil e a ditadura
militar de 1964
O golpe civil-militar de 1964 provocou a interrupção
da efervescência vivida pelos estudantes universitários
até então. Além do fechamento de entidades estudantis, a
prisão dos principais líderes estudantis nos primeiros
dias do golpe, as universidades conviveram a partir daí
com inúmeros IPMs (Inquéritos Policiais Militares)
buscando averiguar possíveis crimes contra a “segurança
nacional”.
Por outro lado, o período compreendido entre 1964 e
1975 foi extremamente profícuo em termos de propostas
ou mesmo de medidas para a reformulação do ensino
superior, como o Plano Nacional de Educação (1965), o
Acordo Mec-Usaid, a CPI da Educação Superior, a
Comissão Meira Mattos, o Grupo de Trabalho da
Reforma Universitária, a Lei Suplicy e o Decreto-Lei 477.
É óbvio que a participação dos estudantes nas decisões
24

sobre os assuntos políticos e universitários foi então
muito limitada, dadas as ameaças e as repressões, mesmo
assim o movimento estudantil procurou debater alguns
temas, como a democratização do acesso à universidade.
O aumento de vagas que vinha sendo reivindicado
fora estipulado no Plano Nacional de Educação de 1962.
Este plano foi revisto pelo
CFE (Conselho Federal de Educação), seu autor, em
1965. No tocante ao ensino superior, a revisão
mantinha os objetivos anteriores de se admitir nesse
grau, em 1970, pelo menos a metade dos concluintes
do grau médio em 1969, assim como de se manter pelo
menos 30% de professores e alunos em regime de
tempo integral (CUNHA, 1988, p. 73)2.

2

CUNHA, Luís Antônio. A Universidade Reformanda: O
golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1988.
25

Vale lembrar que Goulart já havia decretado a
duplicação de vagas das escolas superiores das áreas de
saúde e tecnologia, sobretudo Medicina e Engenharia,
intento que foi seguido no Plano Nacional de Educação
produzido pelo MEC e pelo CFE, em 1965. O MEC
“passou

a

induzir

as

universidades

federais

e

aumentarem as vagas, principalmente nas grandes
cidades e nos cursos de medicina e engenharia” (idem, p.
88).
Assim, a expansão das vagas e a reforma do ensino
superior estiveram fortemente presentes nas políticas
públicas de 1964-1975. A educação, que adquiriu um
importante papel no processo de desenvolvimento desde
os anos 1950, foi associada fortemente após 1964 “às
necessidades presentes e futuras de mão de obra
qualificada” (CANUTO, 1987, p. 26)3.
Para Canuto (1987, p. 28), o período 1965-1975 foi
marcado pelo processo de unificação e centralização dos
CANUTO, Vera. “Projetos Institucionais e conjuntura
política”. Comunicações Pimes, n. 31, UFPE/PIMPES, 1987.
3
26

aparelhos de Estado, cujo resultado no ambiente interno
das universidades como a UFPE, por exemplo, foi a
marca da manutenção do poder institucional em mãos de
um mesmo grupo, que possivelmente incluía a Escola de
Engenharia de Pernambuco, sobretudo sob a hegemonia
do discurso tecnocratizante e elitista dos órgãos
superiores.
Outras iniciativas, como a Lei Suplicy (nº. 4.464, de
9/11/1964), por outra parte, representaram grande
quebra da espinha dorsal do movimento estudantil,
como

diria

Fernandes

(1995,

p.19)4.

A

nova

regulamentação das entidades estudantis representava o
cerceamento da liberdade de atuação desde que seus
estatutos teriam que estar em consonância com as
determinações ministeriais, representando redefinição de
suas atribuições.

FERNANDES, Florestan . “Texto de palestra de Florestan
na UFU”. In: Homenagem a Florestan Fernandes,
Uberlândia, CDHIS/ADUFU/SINTET/UFU, 1995.
4
27

Para

Florestan

Fernandes

(1978,

p.

38),

a

Universidade foi confrontada pelo golpe de 1964, cujo
“sistema de poder respondeu esmagando os defensores
da causa da reforma universitária e apropriando-se da
bandeira da reforma universitária para realizá-la às
avessas”. Além disso, para ele, o aumento da população
escolar ocorreu “porque os militares usaram a técnica de
inundar as universidades com estudantes jovens, novos
para quebrar a espinha dorsal do antigo movimento
estudantil e a rebelião estudantil” (FERNANDES, 1995, p.
19).
Os movimentos estudantis no pós-1964 ganharam
novas dimensões nas pautas de reivindicação e nas
formas de produção de debates. O ponto comum de
todas as entidades estudantis existentes era o combate à
ditadura, embora a divergência quanto às formas de luta
produzisse uma grande divisão no movimento estudantil
brasileiro. Mesmo com a repressão, as entidades
estudantis de base continuaram realizando um trabalho
visando atender ao conjunto dos estudantes, como parte
28

de apoio acadêmico aos estudantes, produção de eventos
culturais, esportes, jornais, jornal-mural, trotes etc.
Embora

a

luta

pela

mudança

da

formação

profissional fosse dada por meio do combate ao Acordo
Mec-Usaid, mais verbas, mais vagas (sobretudo para
atender aos “excedentes”) e o alargamento da oferta de
cursos para atender às expectativas dos novos postos de
trabalho,

cremos

que

o

conteúdo

da

formação

profissional continuou a estar presente no debate da luta
contra o sistema educacional da ditadura, o que
significou duas formas de luta: a) lutas específicas e; b)
luta política.
Haveria uma resposta aos anseios imediatos dos
estudantes por meio de lutas específicas, bem como uma
luta política, a ser travada contra a própria ditadura que,
em alguns casos, tornou-se a luta principal, pois não
bastava exigir uma universidade adequada dentro de um
sistema repressor.
O não atendimento a questões que afligiam setores
médios da sociedade, como a expansão das vagas e a
29

atualização do ensino superior, produziu uma tensão
entre a ditadura e tal segmento social a partir de 1967,
expressa na questão dos “excedentes”, e também
fortaleceu o próprio movimento estudantil. Foram
restabelecidos os vínculos que haviam sido perdidos
entre o movimento estudantil e os estudantes na luta pela
expansão das vagas, a partir da sua politização tendo
como foco a repressão da ditadura militar.
Um conjunto de fatores, portanto, afligiam os
estudantes e criaram bandeiras de lutas do movimento
estudantil no pós-1964:
O problema dos excedentes, a falta de verbas, a
modernização autoritária do ensino acenada com os
acordos

MEC-USAID

governamentais,

o

e

com

arcaísmo

outras
das

iniciativas
instituições

universitárias anterior a 1964, a crise econômica
geradora de arrocho salarial e de estreitamento das
oportunidades, de trabalho até mesmo para os formados,
a chamada "crise da cultura burguesa", a política
30

repressiva da ditadura contra os estudantes e suas
entidades - tudo isso contribuía para criar uma
insatisfação estudantil sem precedentes e para a
retomada da antiga bandeira de luta pela Reforma
Universitária, ligada ao projeto de ascensão social pela
educação, de camadas urbanas nos anos anteriores a
1964. A luta contra os acordos MEC-USAID, por
exemplo, unia tanto aqueles setores da liderança
estudantil que privilegiavam a luta contra a ditadura,
caso da AP (os acordos eram vistos como expressão do
imperialismo, representado pela ditadura militar),
quanto os setores da vanguarda estudantil, que
buscavam a ponte entre as reivindicações específicas e as
políticas, bem como boa parte da massa dos estudantes,
menos ou mais politizados, que viam nas reformas
indicadas pelos acordos uma clara deturpação da
Reforma Universitária idealizada (RIDENTI, 1993, p.
128-129)5.

5

RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira.
São Paulo: Editora Unesp, 1993.
31

A busca da maior democratização do ensino superior
brasileiro

tem

raízes

sociais

e

está

associada

à

consolidação do sistema capitalista tardio quando a
formação profissional de nível superior se transforma em
fator

decisivo

de

participação

no

processo

de

modernização do país. Nesse contexto ser estudante
significava

maiores

chances

de

galgar

posições

privilegiadas no mercado de trabalho.
Para Florestan Fernandes (1978, p. 38)6, conforme
mencionado, a Universidade foi confrontada pelo golpe
de 1964, cujo “sistema de poder respondeu esmagando os
defensores

da

causa

da

reforma

universitária

e

apropriando-se da bandeira da reforma universitária
para realizá-la às avessas”.
Em 1965 houve algumas passeatas promovidas a
partir de algumas universidades contra a chamada Lei
Suplicy. Mas o movimento estudantil nacional apenas
conseguiu se reafirmar em julho de 1966, a partir de Belo
6

FERNANDES, Florestan. A Condição do Sociólogo. São
Paulo: Hucitec, 1978.
32

Horizonte, com a realização do 28º Congresso Nacional
de Estudantes da UNE, que apesar de oficialmente
extinta pelo regime militar, funcionava com o apoio dos
órgãos estudantis e realizava suas reuniões e eleições
clandestinamente. Impedido de todas as formas pelo
aparato da repressão, o Congresso foi realizado com o
apoio dos padres franciscanos num convento.
Para Poerner (1979, p. 274)7, em 1966, o resultado do
Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em
Belo Horizonte, foi fundamental para o lançamento de
uma palavra de ordem contrária à política educacional
do

governo

e

contra

o

próprio

governo,

que

desencadearia em setembro de 1966 protestos nas ruas de
diversas cidades brasileiras contra a cobrança das
anuidades e o atentado às liberdades democráticas
expressos na repressão policial.

7

POERNER, Arthur José. O poder jovem. História da
participação política dos estudantes brasileiros. 2a ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
33

A UNE organizou no dia 22 de setembro de 1966 o
movimento que ficou conhecido como o Dia Nacional da
Luta contra a Ditadura. Durante este mês vários
protestos ocorreram em várias partes do país, tendo
ocasionado em Belo Horizonte o cerco aos estudantes no
prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal
de Minas (UFMG).
Em 1967, no 29º Congresso da UNE, o contexto foi
marcado por uma crítica ao “reformismo”. Para Martins
Filho,
Nessa reunião expressou-se pela primeira vez, no plano
da entidade nacional, o crescimento das correntes
opositoras à Ação Popular, obrigando-a a compartilhar
a diretoria eleita naquele conclave com militantes das
Dissidências comunistas e da POLOP. Ao mesmo
tempo, no final dos trabalhos, ficariam evidentes as
dificuldades em conciliar as propostas daquelas que
64viriam a ser, em 1968, as duas ‘posições’ estudantis.
Neste sentido, a Ação Popular divulgou como a “Carta
34

Política” da UNE um documento que expressava as
suas propostas, enquanto as publicações estudantis
vinculadas às Dis-POLOP estamparam um texto com
proposições diferentes. O 29º Congresso terminou,
assim, com dois documentos ‘oficiais’ (MARTINS
FILHO, 1987, p. 177-178)8.
A luta política contra a ditadura militar voltou a
predominar no discurso do movimento estudantil e os
slogans “abaixo a ditadura” ou “abaixo o imperialismo
yankee” simbolizaram o novo movimento estudantil
oriundo da resistência aos desmandos do regime militar
nos espaços universitários.
À parte das disputas internas do movimento
estudantil, a luta contra a política educativa do regime
militar passou a unificar os diversos setores do
movimento estudantil, o que significava que por dentro
das universidades começava a surgir uma organização
8

MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento estudantil e
ditadura militar: 1964-1968. Campinas: Papirus, 1987.
35

com força suficiente para mobilizar forças contra o
regime político vigente.
Ao mesmo tempo em que lideranças de certos setores
do movimento estudantil recolocavam o debate sobre a
reforma universitária na ordem do dia, o regime militar
fechava os canais de participação aos estudantes na
construção da reforma universitária, até
porque as entidades estudantis estavam impedidas de
debater livremente e militantes estudantis continuavam a
ser perseguidos.
36

O movimento estudantil e ensino
superior entre 1968 e 1975
O movimento estudantil estava sem condições de ver
atendidas suas reivindicações mínimas pelo Governo,
nem pelas diretorias das faculdades e reitorias. Por outro
lado, o crescimento vertiginoso do mercado de trabalho
não era acompanhado do debate de novas propostas de
formação profissional.
Sem condições de dar respostas aos problemas
universitários, impedidos de debater o país e tendo-se
iniciado um processo de desvalorização do diploma
universitário, haja vista que o número de profissionais
formados superava a demanda do mercado de trabalho,
o

movimento

estudantil

viu-se

diante

de

uma

contradição: foi autor de um projeto de reforma
universitária mas foi rejeitado quando o Governo
resolveu fazê-la, pois
37

...a pressão pela Reforma Universitária acaba sendo
assumida pela própria Instituição (Universidade) e pelo
Governo,

alterando

o

conteúdo

proposto

pelos

estudantes no seu movimento. E esta Reforma, marcada
que foi pelo golpe de 1964, acaba voltando-se contra o
movimento estudantil que gerou (SOUZA MARTINS,
1976, p. 119)9.
A

abordagem

da

formação

profissional

pelos

estudantes estava voltada para o seu futuro. Ora, no
presente, o acesso à universidade não mais garantia
futuro promissor, o regime militar impossibilitava sua
intervenção nos temas referentes à formação profissional
e

não

permitia

o

debate

sobre

o

processo

de

transformação da sociedade brasileira, suas bandeiras de
lutas tradicionais, todos esses elementos conduziram o
movimento estudantil a sofrer um enorme refluxo.

SOUZA MARTINS, Heloísa T. “Movimento Estudantil e
Reforma Universitária”. Contexto, n. 1, nov. 1976, p. 119131.
9
38

Diante desse quadro restou-lhe a luta pela derrubada
da ditadura militar como único caminho de sua
participação política. Apesar disso a UEE-MG realizou o
“Seminário MEC-USAID”, em junho de 1968, com o
intuito de retomar o debate sobre a ”infiltração
imperialista” no ensino brasileiro. Afirmava que o acordo
MEC-USAID - juntamente com a política educacional da
ditadura – seriam contrários aos interesses nacionais e
promoveriam

“a

adequação

da

universidade

aos

interesses do imperialismo” (Documento Seminário
MEC-USAID, UEE/MG, junho de 1968). O caminho
apontado era o de “levar a todos a necessidade de
organização da luta contra a dominação exercida sôbre os
estudantes e o povo pelo imperialismo e a ditadura de
seus

aliados

brasileiros”

(idem).

Tal

evento

foi

preparatório para o Congresso da UEE/MG, realizado
entre 30 de setembro e 1º de outubro do mesmo e o 30º
Congresso da UNE.
39

Por outro lado, em 1968, período marcado por uma
onda

mundial

de

revoltas

(GROPPO,

2005)10,

o

movimento estudantil brasileiro se integrou às rebeldias
juvenis

do

planeta.

Passou

a

conhecer

outros

movimentos existentes no mundo, a eles se associar e
desenvolver movimentos locais com uma visão global e
com desejos libertários em comum.
O imperialismo norte-americano (que estava sendo
observado por imagens no mundo todo com a Guerra do
Vietnã), a solidariedade à Revolução Cubana e a posição
a favor independência política e econômica dos países da
América

Latina

foram

questões

que

mobilizaram

bastante, assim como o questionamento acerca dos
valores

da

sociedade

comportamento

político,

burguesa
o

estilo

e
de

industrial.
vida

e

O
as

preocupações dos atores sociais daquele período estavam
identificados com a quebra de valores, tabus e dissolução
10

GROPPO, Luis Antônio. Uma onda mundial de revoltas.
Movimentos estudantis de 1968. Piracicaba: Editora
Unimep, 2005a.
40

do sistema capitalista vigente. Questionava-se desde a
ordem estabelecida que tentava justificar as guerras a
uma série de formas de opressão, como o machismo. A
desinstitucionalização da vida privada foi marcada pelo
questionamento do casamento, por exemplo. O forte
desejo de liberdade foi marcado com a revolução sexual.
Uma das pixações em um dos muros de Paris expressa
muito bem tal aspecto: “Quanto mais amor eu faço, mais
vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais
revolução faço, maior vontade eu tenho de fazer amor”
(GROPPO, 2005a).
A influência dos movimentos libertários em várias
partes do mundo – sobretudo os revolucionários de
Cuba, Vietnam, Argélia, e China, fazia da revolução uma
bandeira ou lema. O assassinato do jovem secundarista
Edson Luís, no Restaurante Calabouço do Rio de Janeiro
reacendeu o movimento estudantil e sensibilizou as
classes médias contra uma ditadura que estendia a lógica
da

violência

trabalhadores.

física

para

além

da

repressão

aos
41

Uma das frases presentes nas faixas durante o
enterro do jovem era: “Mataram um estudante, podia ser
seu filho”. Para lideranças do movimento estudantil da
época

no

Rio

de

Janeiro,

a

morte

do

jovem

desencadeando reações estudantis como indica um dos
entrevistados da pesquisa:
No Brasil, 68 iniciou-se com a morte do Edson Luis. Foi
um momento em que a repressão ficou meio paralisada,
pois ela também se assustou com o que aconteceu. A
morte do estudante não foi algo programado. Foi mais
um acidente de trabalho, de certa forma previsível
dentro de uma cultura repressiva que tratava na
porrada e na violência qualquer reivindicação ou
protesto. Assim, num momento de tensão e de
descontrole, alguém na polícia passou do ponto. E o
assassinato do Edson Luís deu uma largada muito forte
para o movimento estudantil em 68, especialmente no
Rio de Janeiro, embora tenha havido manifestações de
42

protesto em todo o país, imediatamente (Depoimento de
Franklin Martins a Otávio Luiz Machado).
Para Franklin Martins, os episódios de protesto
contra a morte de Edson Luís culminaram na mudança
do perfil de ação até então apresentado pelo movimento:
A manifestação transcorreu no meio de uma porradaria
muito grande no centro da cidade. Foi uma manifestação
muito dura e violenta. E olha que ainda eram
manifestações do tipo em que a gente ia e apanhava. Nós
sabíamos que íamos levar porrada e realmente
levávamos. Em seguida, teve a missa de 7º missa, onde
foram registradas aquelas fotos famosas da cavalaria
subindo a Candelária e batendo nos estudantes com
sabre. Esses episódios marcaram o fim de um período do
movimento estudantil, aquele em que a gente ia para as
manifestações apanhar sem revidar. Naquele instante, já
tínhamos uma boa organização, trabalhávamos com
grupos estruturados que respondiam a um comando,
43

mas ainda não estavam dadas as condições para um
enfrentamento. Então, quando a polícia chegava, ou
corríamos ou apanhávamos. No máximo, quando caia
uma menina no meio deles, a gente ia lá e tirava. Mas
ainda era uma coisa assim: a polícia estava no direito
dela de bater e a gente no dever de apanhar. A partir daí,
começou a mudar (...) E aí que começa a porrada em
cima da polícia. Os estudantes jogam pedras em cima da
polícia e carros sendo virados e queimados. Eu me
lembro de uma cena que eu nunca vi uma foto. Foi
quando um estudante pegou uma pá numa obra, bateu
num cavalariano e, quando ele desmontou e caiu no
chão, todos partiram pra cima dele. E os outros policiais
não vieram atrás, porque eles começaram a ficar
desnorteados. Então começou a ter reação forte dos
estudantes. Foi uma virada importante.
Franklin Martins admite que a desmobilização do
movimento estudantil não ocorreu com o Congresso de
Ibiúna, mas com o momento em que a polícia começou a
44

partir para cima dos estudantes e revidar sua nova
postura:
A partir da passeata dos 100 mil todas as manifestações
do Rio de Janeiro passam a ser dissolvidas à bala. Eu
pessoalmente fui alvo duas vezes de tiros à queima
roupa. Era para ter morrido. Uma vez eu estava
puxando uma passeata no Largo do São Francisco e um
policial veio me prender. Mas eu estava pendurado
num poste e a minha segurança não deixou. E começou
um tiroteio. E eu só vi balas num vidro de uma vitrine
atrás travadas de bala. Outra vez fui numa
manifestação em frente a UFRJ, na Urca, num
movimento junto com a Medicina, que também foi
dissolvida à bala. Eu tenho as fotos do pessoal atirando
nesse episódio. A repressão mudou de patamar. (...)
Ibiúna já está dentro de um ponto na curva na
mudança de patamar. Quando mudou de patamar e
passou a dissolver à bala, o que aconteceu? A massa de
estudantes recuou. Ela queria lutar, mas ela não queria
45

arriscar a vida. Então o movimento estudantil já
começa a bater no muro em agosto, que foi um mês em
que o Vladimir foi preso no Rio de Janeiro. E aí eu
assumo a presidência da UME, porque era um dos vicepresidentes. E todas aquelas manifestações pela
libertação de Vladimir são reprimidas à bala.
Até então o movimento estudantil incluiu os
problemas da sociedade nas suas bandeiras de lutas,
politizando o debate sobre a questão educacional. As
diversas teses preparatórias para o Congresso de Ibiúna
deixam perceber que todas as bandeiras estavam
voltadas para a derrubada da ditadura e o imperialismo
norte-americano.
Numa das teses, “Programa para o Movimento
Estudantil”, o movimento estudantil era considerado
“um setor da classe média com reivindicações específicas
ao nível de uma melhor formação profissional e do
desenvolvimento de suas capacidades criativas, porém
46

com contradições com o imperialismo e a ditadura ao
nível

do

empobrecimento

e

da

restrição

das

oportunidades de trabalho para a classe média” e que
“qualquer

mudança

realmente

qualitativa

da

universidade dependerá da transformação radical das
estruturas

sócio-econômicas

da

sociedade.

A

Universidade Popular será fruto da atuação do governo
popular revolucionário no âmbito do ensino superior”.
Nessa

perspectiva

é

possível

interpretar

a

constituição da Comissão Meira Mattos para resolver
dois problemas do regime militar: o impasse da reforma
universitária e a presença do movimento estudantil em
oposição aos militares. Desta forma, a Comissão
presidida pelo General Carlos de Meira Mattos, que
trabalhou no período de 11 de janeiro a 08 de abril de
1968, teve como objetivos: 1) fornecer parecer sobre as
reivindicações, teses e sugestões referentes às atividades
estudantis;

2)

planejar

e

propor

possibilitassem

melhor

aplicação

medidas
das

que

diretrizes

governamentais no setor estudantil; 3) supervisionar e
47

coordenar

a

delegação

do Ministro de

revelavam

a

execução dessas

preocupação

diretrizes,

mediante

Estado. Tais

objetivos

com

a

politização

da

universidade, vista como impedindo o enfrentamento
adequado da questão da educação. “A Comissão Meira
Mattos, assumindo suas finalidades e em consonância
com a ideologia do poder vigente, teve como maior
preocupação

propor

medidas

que

servissem

de

instrumentos de aceleração do desenvolvimento e de
acesso social, vinculando a educação às exigências do
processo técnico e econômico-social do país (FÁVERO,
1991, p. 58)11.
Esse projeto de reforma universitária tem sido
interpretado como modernização do ensino superior
então vigente:

11

FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Da
Universidade “modernizada” à Universidade disciplinada:
Atcon e Meira Mattos. São Paulo: Cortez/Autores
Associados, 1991.
48

...a modernização do ensino superior empreendida pela
reforma universitária de 1968 destinava-se a colocar a
universidade a serviço da produção prioritária de uma
nova força de trabalho requisitada pelo capital
monopolista organizado nas formas estatal e privada
“multinacional” (CUNHA, 1983, p. 12)12.
A efetivação da modernização do ensino superior,
nos moldes pretendidos pelo regime militar, implicava,
no entanto, no disciplinamento do segmento que mais
havia a havia reivindicado – o movimento estudantil.
Para um ex-aluno da Escola de Engenharia de
Pernambuco em 1968:
Vale dizer que os militares tinham um projeto de
nação e a universidade tinha seu papel de destaque
nesse projeto. Os militares sabiam da importância dos
12

CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade crítica: o ensino
superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1983.
49

investimentos na educação superior, principalmente
na área cientifica e tecnológica para aspirar uma
soberania no cenário internacional. Esse projeto não
foi posto adiante e até hoje não se fez outro. O que é
lamentável, pois não se faz um projeto de nação sem
antes ter um projeto de universidade (Depoimento de
Jader Nunes de Oliveira a Otávio Luiz Machado).
O novo modelo de ensino superior implantado em
1968 foi baseado no sistema de departamentos, na
profissionalização do corpo docente e teve repercussão
na formação dos engenheiros, pela criação de novas
especialidades.
A ênfase no caráter técnico do ensino superior foi
vista como empreitada negativa para a universidade na
perspectiva

de

Florestan

Fernandes:

“As

classes

burguesas, principalmente certo nível de empresários,
dos militares, da burocracia, da tecnocracia, estavam
identificados

com

esse

objetivo.

Criaram

uma
50

universidade despolitizada, uma universidade acrítica,
uma universidade técnica” (idem, p. 181).
Outras medidas do governo ainda atingiriam a
universidade. O AI-5, promulgado em dezembro de 1968,
reafirmava as intenções do golpe de 1964 como a da “a
modernização conservadora da economia, concentradora
de riquezas e considerada pela classe dirigente como a
única saída viável para superar a crise vivida em meados
da década de 60” (RIDENTI, 1993, p. 30). O Decreto-Lei
477, de 26 de fevereiro de 1969, tornava as universidades
um espaço limitado para a discussão política e o combate
à ditadura brasileira. Para Freitag (1980, p. 132)13, as duas
medidas criadas pelo regime militar foram fundamentais
para

reforçar

a

clássica

mensagem

dos

regimes

autoritários de que “estudante deve apenas estudar”: “Se
fizer política e não conseguir satisfazer os requisitos de
uma média mínima, pode ser jubilado; se consegue

FREITAG, Barbara. Escola, Estado e Sociedade. 6ª ed. São
Paulo: Moraes, 1986.
13
51

conciliar estudos e atividade política, pode ser desligado
da universidade pelo 477”.
Nesse contexto, o período de 1969 pode ser visto
como o de desmantelamento final do movimento
estudantil, pois o fechamento de diversos diretórios que
apontavam alguma resistência ao regime militar somouse às prisões dos líderes estudantis após o Congresso da
UNE em outubro de 1968.
O AI-5 representou uma medida adotada pela
ditadura para reaver seu domínio que estava sendo
perdido pela resistência dos opositores, pela falta de
apoio da classe média e pelas próprias divergências
internas dos comandantes da ditadura, que demonstrava
a
prevalência da força política da “linha dura” nos rumos
do golpe.
Analisando o movimento estudantil dos anos 1970, é
observado que aliado às reivindicações e denúncias de
aspectos administrativos há a emergência de novas
52

práticas políticas tal como indicada por Mirza Pellicciotta
(2008, p. 179-180)14:
Lidar com a transformação, em si mesma, do movimento
estudantil brasileiro na década de 1970 significa, neste
caso, lidar com a emergência de uma dimensão
“alternativa” de perspectivas e experiências coletivas
muito cara à análise do contemporâneo – tanto em
relação à reforma (tecnocrática) da Universidade,
quanto no aspecto de uma cultura de massas, ou ainda
das mudanças (significativas) do mercado de trabalho e
inserção profissional – que por diversos meios têm lugar
entre as alterações de forma de organização deste
movimento.
Se não estava sendo possível participar do debate
sobre a reforma universitária – que tinha sido uma
“Mobilizações estudantis nos anos 1970”. In: Otávio Luiz
Machado e Luís Antônio Groppo (orgs). Juventude e
Movimento Estudantil Brasileiro: Ontem e Hoje. Recife:
Editora UFPE, 2008, p. 179-213.
14
53

alavanca para acionar um movimento estudantil de
grande envergadura em décadas anteriores -, a estratégia
utilizada pelos estudantes no movimento estudantil entre
1969 e 1975 foi a de focar nos problemas internos da sua
profissão de forma desligada dos problemas políticos,
além de trazer temas culturais de forma sutil para o
interior dos centros e diretórios acadêmicos, como forma
de animar o debate.
Por esse motivo,
Na medida em que os estudantes perdem o lugar e o
papel representativo nas estruturas de poder da
Universidade e se vêem obrigados a defender um lugar
social através da luta pela qualificação profissional, o
movimento ganha uma fisionomia mais efêmera,
fragmentária e variada. No mesmo sentido, as
movimentações são forçadas a criar, em um misto de
temor e fragilidade, as suas novas condições de luta
política (idem, p. 187).
54

É dentro dessas novas condições de luta que se pode
observar

o

debate

específico

sobre

a

formação

profissional ressurgir, que havia desaparecido após o
golpe de abril de 1964. O seminário de estudantes de
Engenharia, no início de novembro de 1970, em
Florianópolis, pode ser considerado a retomada de um
debate sobre a profissão do engenheiro e o reinício da
participação dos estudantes no movimento estudantil de
forma mais organizada.
No 1º SERS (Seminário da Região Sul), que debateu o
desenvolvimento da tecnologia nacional, a situação do
ensino de Engenharia, a função da Universidade, o
estágio e o mercado de trabalho para engenheiros e a
representação estudantil, os estudantes puderam iniciar a
reorganizar uma pauta de discussão do movimento de
Engenharia, com a intenção de trazer o movimento
estudantil como ator social importante na vida nacional.
No 2º SERS, em junho de 1972 na cidade de Porto
Alegre, participaram não apenas escolas da Região Sul,
mas de outras regiões, pois tornava-se
55

... cada vez mais clara a importância destes encontros,
como forma de quebrar o isolamento entre os
estudantes

que

se

caracterizava

desde

1968,

propiciando oportunidades de serem examinadas e
comparadas diferentes realidades de nossas escolas e
ocasiões para que os problemas comuns fossem
amplamente debatidos, e as lutas, que conduzissem às
soluções procuradas, encaminhadas conjuntamente
(Suplemento os Seminários de Engenharia, janeiro de
1974).
Para Fernando Peregrino, então líder estudantil no
D.A. de Engenharia na UFF, foi no 2º SERGS, em 1972, o
movimento estudantil de Engenharia começou a trazer
questões mais específicas além da luta política de
combate à ditadura, prevalecendo as questões internas
dos cursos:
56

Em Porto Alegre, a pauta do seminário eram
reivindicações típicas dos estudantes de engenharia,
como melhor ensino, melhores professores, mais
laboratórios, tecnologia nacional e, evidentemente,
algumas bandeiras pelo fim da ditadura, fim do decreto
288 e do decreto 477. Foi um seminário de caráter
nacional que somava mais de 600 estudantes,
considerado um número muito bom para os limites da
época. Estávamos reunidos sob um clima de terror
durante vários dias e sob ameaça de prisões.
Conseguimos manter o seminário e concluí-lo
aprovando muitas teses e bandeiras. Conseguimos
ultrapassar os limites de nossas organizações locais
nos estados e faculdades e criamos laços e mecanismos
de organização com companheiros dos demais estados.
Foi sem dúvida uma vitória marcante que mais tarde
repercutiria na reorganização da UNE (Depoimento
de Fernando Peregrino a Otávio Luiz Machado).
57

Para Antônio Kandir (2004, p.311-312)15, que estudou
Engenharia na Escola Politécnica da USP, também
ganhou corpo no debate a questão econômica:
Desde que entrei para a universidade, comecei a
participar do movimento estudantil. O espaço de
discussão política era bastante restrito naquele tempo,
por isso discutíamos muito as questões econômicas. Aí
entrou o trabalho do Fishlow. Passamos a discutir o
crescimento da desigualdade que, obviamente, era um
tema polêmico e importante na luta política. Como
militante do movimento estudantil, eu também debatia
esses temas e comecei a me interessar e a gostar de
economia. Contribuiu para isso o meu orientador na
graduação, Afonso Celso Fleury, que sempre trabalhou
em temas ligados à produtividade, à ciência e à
tecnologia.
KANDIR, Antônio. “Depoimento”. In: IPEA 40 Anos
apontando caminhos: Depoimentos ao CPDOC, Rio de
Janeiro, Editora da FGV, 2004, p. 311-323. Disponível em
http://getinternet.ipea.gov.br/livro40anos/arquivo_complet
o.pdf. Consultado em 25/03/2008.
15
58

Mas o que marcou o reencontro dos estudantes de
Engenharia com os seus problemas específicos de sua
profissão foi o 1º SNEE (Seminário Nacional de
Engenharia), que aconteceu na Escola Politécnica de São
Paulo, em 1973, que discutiu: 1) Ensino e Pesquisa; 2)
Mercado de Trabalho e Estágio; 3) Representação
Estudantil.
O Documento-Síntese do 1º SNEE chamou-nos a
atenção para o seguinte. Nos congressos nacionais de
estudantes de Engenharia (CNEE) dos anos 1950 os
estudantes buscavam criar um mercado profissional para
os engenheiros através de uma formação especializada
nos mais diversos campos da Engenharia, discutindo
currículos a partir de instâncias universitárias e entre
estudantes em congressos de professores e diretores. Nos
SNEE, dos anos 1970, a preocupação voltou-se para o
questionamento da formação profissional restrita aos
ditames do mercado que estava constituído no Brasil. O
conteúdo da formação profissional vigente, para os
59

estudantes, não estava interligado às problemáticas
levantadas no interior das universidades, mas as escolas
estavam apenas “formando profissionais pedidos e
exigidos pelo atual Mercado de Trabalho” (Suplemento os
Seminários de Engenharia, janeiro de 1974).
Ao buscarmos analisar o contexto histórico da
entrada do debate sobre formação profissional pelo
movimento estudantil, o objetivo foi o de fazer a relação
entre as transformações no mundo social mais amplo e as
novas

competências

requeridas

da

profissão

de

Engenharia com o avanço do movimento estudantil no
debate sobre a realidade brasileira.
Vale lembrar que, enquanto hoje “a escolaridade já
não se afigura mais como elemento garantidor da entrada
no mundo do trabalho, especialmente se considerarmos o
ingresso no mercado formal de ocupações e as posições
dos

estratos

menos

privilegiados

da

sociedade,

exatamente aqueles que têm acesso tardiamente aos
degraus mais elevados do sistema de ensino” (SPOSITO,
60

2005, p. 205)16, no período analisado, a juventude
universitária que tinha a universidade como a última
etapa preparatória para a entrada no mundo adulto,
também a tinha como canal de ascensão social.
O que se pode concluir é que, na luta pela
transformação
específicas

do

da

sociedade

brasileira,

movimento

as

estudantil

pautas

estiveram

fortemente focadas na reforma do ensino e na questão da
formação profissional no final dos anos 1950, e a partir
daí passaram a estar mais associadas com uma luta
política

a

medida

reivindicações

que

estudantis

o

compromisso

acabou

por

com

abranger

as
a

sociedade como um todo, porque adquiriu dimensão
social a vinculação do jovem universitário ao processo de

SPOSITO, Marilia Pontes. “Indagações sobre as relações
entre juventude e a escola no Brasil. Institucionalização
Tradicional e Novos Significados”. Jovenes – Revista de
Estudios sobre Juventud, Edição: ano 9, núm. 22, México,
DF, janeiro-junho 2005, p.p 201-227.
16
61

consolidação

e

expansão

da

ordem

competitiva

(FORACCHI, 1972, p. 123)17.

FORACCHI, Marialice Mencarini. A juventude na
sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972.
17
62

[1954]
63
64
65

[1958]
66
67
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Livro elementos constitutivos para uma história da ufpe vol 1 parte 1

  • 1. 1 OTÁVIO LUIZ MACHADO ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS ESSENCIAIS DA SUA TRAJETÓRIA, DAS LUTAS SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA REPRESSÃO (1954-1986) [VOLUME 1]
  • 2. 2 Otávio Luiz Machado ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS ESSENCIAIS DA SUA TRAJETÓRIA, DAS LUTAS SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA REPRESSÃO (1954-1986) [VOLUME 1] Frutal-MG Editora Prospectiva 2013
  • 3. 3 PRODUÇÃO DO LIVRO Revisão: Otávio Luiz Machado Capa: Ed. Prospectiva/design Crédito das imagens da capa: recortes de documentos completos citados no miolo do livro _______________________________________ Machado, Otávio Luiz. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA UMA HISTÓRIA DA UFPE: DOCUMENTOS ESSENCIAIS DA SUA TRAJETÓRIA, DAS LUTAS SOCIAIS, DA BUROCRACIA E DA REPRESSÃO (1954-1986) [VOLUME 1]/ Otávio Luiz Machado. – Frutal-MG: Prospectiva, 2013. ISBN: 978-85-67463-39-1 1. Educação – Jovens. 2. Democracia. 3. Formação Cidadã; 4. Trajetória; 5. Direitos Humanos. CDU316.6:378.4 ----------------------------------------------------------------------- Editora Prospectiva CARTAS PARA: Caixa Postal 01, 38200-000, Frutal-MG Tel: (34) 9668-9575 E-mail: editoraprospectiva@gmail.com Facebook: https://www.facebook.com/editoraprospectiva?fref=ts Para baixar livros: http://pt.slideshare.net/editoraprospectiva/documents
  • 4. 4 AGRADECIMENTOS Dedicamos nosso trabalho a todos e todas que somaram, que sonharam e torceram para que pudéssemos chegar ao ponto de evolução positiva de toda uma verdadeira obra coletiva. Que novos trabalhos se beneficiem dos Documentos e da trilha iniciada com nossos projetos.
  • 5. 5 SUMÁRIO ANO DE 1954 ........................................................................... ANO DE 1958 ........................................................................... ANO DE 1959 ........................................................................... ANO DE 1960 ........................................................................... ANO DE 1961 ........................................................................... ANO DE 1962 ........................................................................... ANO DE 1963 ........................................................................... ANO DE 1964 ........................................................................... ANO DE 1965 ........................................................................... ANO DE 1966 ........................................................................... ANO DE 1967 ........................................................................... ANO DE 1968 ........................................................................... ANO DE 1969 ........................................................................... ANO DE 1971 ........................................................................... ANO DE 1972 ........................................................................... ANO DE 1973 ...........................................................................
  • 6. 6 ANO DE 1974 ........................................................................... ANO DE 1976 ........................................................................... ANO DE 1981 ........................................................................... ANO DE 1986 ...........................................................................
  • 7. 7 APRESENTAÇÃO A minha satisfação na disponibilização de Documentos que retratam aspectos da história dos jovens no Brasil não vem de hoje. Como desenvolvo um trabalho que vem de algum tempo relacionado à reconstituição histórica dos jovens, principalmente quando o acesso às informações era uma barreira quase intransponível, fui adiante e acabei tendo o privilégio de conhecer muitas pessoas, de adentrar em arquivos geralmente intocados e de formar uma rede de pesquisadores, de personagens da história aqui retratada e organizar trabalhos que a cada dia se tornam mais conhecidos e citados em monografias de graduação, dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros, artigos ou papers científicos, etc.
  • 8. 8 O presente livro possui um paralelo com outra publicação anterior intitulada DOCUMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A HISTÓRIA DOS JOVENS EM PERNAMBUCO: APONTAMENTOS PARA A NECESSIDADE DE COMISSÕES DA VERDADE NAS UNIVERSIDADES PERNAMBUCANAS [VOLUME 1], que aqui é novamente contemplada com uma documentação rara e de difícil acesso que trata especificamente da nossa Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela pode ser acessada aqui: http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livrocom-documentos-juventudes-pe-verso-18-dez-2012kkkkk Outros livros que trabalhamos afincamente na sua produção também registram cenas dos jovens universitários da UFPE e de outros grupos sociais que também merecem ser citados por aqui: 1) Protestos Públicos e outras cenas de cidadania, Recife, 2012:
  • 9. 9 http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/protest os-pblicos-e-outras-cenas-de-cidadania-recife-2012-deotvio-luiz-machado 2) Cenas cotidianas da UFPE, 2011-2012: http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livrocenas-cotidianas-da-ufpe-2011-2012-de-otvio-luizmachado 3) Aspectos da história dos jovens em Recife pós anos 1960: http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livroaspectos-da-histria-dos-jovens-em-recife-ps-anos-1960organizado-por-otvio-luiz-machado Os próprios volumes de ASPECTOS DA HISTÓRIA DAS JUVENTUDES BRASILEIRAS (1930-1985): UM RESGATE HISTÓRICO SEM PÁGINA VIRADA trazem documentação referente à UFPE, que podem ser consultadas e baixadas aqui:
  • 10. 10 http://www.slideshare.net/otavioluizmachado A obra agora apresentada surge quando o assunto da reconstituição histórica do período do golpe civil-militar (1964-1985) está na ordem do dia com a Comissão Nacional da Verdade que, no seu primeiro balanço acerca dos principais locais de realização de tortura, identificou como centros utilizados pela repressão dois locais nos quais se localizam universidades: as cidades universitárias nas quais se encontram a UFPE e a UFRRJ. É fato que os estudantes estão entre os grupos sociais mais reprimidos pelos militares e seus serviçais da sociedade civil, tendo sidos alvos “encaminhados” para as prisões, as torturas, os inquéritos forjados que os desqualificavam moralmente (atingindo contra a dignidade humana) e a morte. Por isso que o livro tem uma atenção especial para com os estudantes, mas não se resumindo a eles; também professores e técnicos não ficam de fora, seja relacionado
  • 11. 11 ao tema da repressão, seja relacionado à rotina universitária, à burocracia e à sociabilidade universitária. A coleta dos Documentos ocorreu quando preparava um pré-projeto para o mestrado em Sociologia na UFPE, ao mesmo tempo em que desenvolvia o PROENGE (PROJETO A ENGENHARIA NACIONAL, OS ESTUDANTES E A EDUCAÇÃO SUPERIOR – 1930-85). Os principais contributos oriundos da dissertação podem ser consultados no livro MOVIMENTOS ESTUDANTIS, FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PAÍS, que pode ser acessado aqui: http://www.slideshare.net/otavioluizmachado/livromovimentos-estudantis-formao-profissional-e-aconstruo-de-um-projeto-de-pas-de-otvio-luiz-machado Como recorte temporal, o período de 1958 à 1975 é muito mais contemplado, embora a documentação chegou ao ano de 1986, conforme explico mais adiante na apresentação.
  • 12. 12 Os Documentos contemplam inicialmente a famosa greve da Escola de Engenharia de Pernambuco da então Universidade do Recife (UR), em 1958, indo aos documentos que tratam da finalização do processo de anistia do famoso educador Paulo Freire na UFPE, no ano de 1986. No meio desse intervalo 1958-1985 encontram-se Documentos que tratam de pessoas também muito conhecidas na educação brasileira, como Darcy Ribeiro e Newton Sucupira, cada qual identificado no seu lugar social e diante das circunstâncias impostas pelo contexto da ditadura civil-militar em pleno curso. Uma documentação anterior ao golpe de 1964 também é muito importante para se compreender a atuação dos estudantes da Universidade, como é o caso do ofício datado de 10 de janeiro de 162 em que o Presidente do DCE (Marco Maciel) solicita ao Reitor da UFPE (dentre outras reivindicações) “a imediata aquisição de uma séde própria para o Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Recife”. E justifica:
  • 13. 13 “Ressalte-se que no mesmo local, comprovadamente insuficiente, estão também situadas a União dos Estudantes de Pernambuco e a Federação Acadêmica Pernambucana de Esportes”. Trata aí dos exíguos espaços utilizados pela representação dos estudantes nos prédios próprios da Universidade. Em ofício ao Reitor da então Universidade do Recife de 17 de setembro de 1962, o Presidente do Diretório Acadêmico de Farmácia, Tarcísio de Oliveira, solicita passagens para que três estudantes pudessem participar do III Congresso Nacional de Estudantes de Farmácia, que aconteceria de 23 a 29 de setembro daquele ano, em Ouro Preto-MG. No temário do Congresso que foi anexado vários temas muito instigantes estavam presentes, como “A profissão e a revolução brasileira” e “Engajamentos prioritários do profissional em vista a realidade nacional em fase de transformação da ordem atual”.
  • 14. 14 Também se encontram Documentos que tratam da relação da burocracia universitária entre si ou com órgãos externos, como é o caso do influente IV Exército. A documentação iniciada a partir do golpe civilmilitar de 1964 passa a apresentar um novo sentido à relação direta da administração central no expurgo de qualquer iniciativa de contestação pelos estudantes, sem contar os atos comemorativos da burocracia universitária em favor da chamada “revolução democrática de 31 de março de 1964”. Aqui também publicamos alguns ofícios enviados à reitoria da então Universidade do Recife (a atual UFPE) pelo Instituto de Ciências Políticas e Sociais, dirigido pelo Professor Palhares Moreira Reis, inclusive solicitando parcerias, como foi no caso da publicação do estudo de autoria do Professor Lourival Vilanova intitulado “o ato institucional e sua legitimidade”, tratando da análise do primeiro ato publicado pelos golpistas de 1964 com uma visão condescendente com ele.
  • 15. 15 Não é diferente a atividade publicista do escritor Gilberto Freyre em defesa do golpe de 1964, como ficou tratado no seu artigo para os Diários Associados intitulado “O caso da Universidade do Recife”. No artigo Freyre pede a demissão do Reitor da Universidade do Recife, até então ocupado pelo Professor João Alfredo, afirmando que “foi como brasileiro identificado com os desígnios cívicos daquele movimento não consigo compreender a permanência do Professor João Alfredo da Costa Lima como Reitor da Universidade do Recife”, com a seguinte justificativa: “Repudiou o Reitor infelizmente comprometido, não por conivência, mas por complacência, com tal infiltração comunista, ou para-comunista, na Universidade sob seu comando, esses seus erros? Reconheceu-os clara e humildemente após o 31 de março? Proclamou-se culpado e arrependido dentro, quer das normas cristãs, quer das da técnica russa de arrependimento, de confissão, de autocrítica? Promoveu uma nítida manifestação de solidariedade da Universidade d Recife ao movimento de 31 de março e de regozijo com o seu
  • 16. 16 triunfo? Que me conste – infelizmente, não. Apenas destituiu de seus comandos os mais escandalosos “ativistas” a serviço do comunismo ou do paracomunismo dentro da Universidade. Continua, assim, Sua Magnificência quase de todo responsável por complacências que vinham que vinham descaracterizando e até degradando a Universidade do Recife”. Com esse gesto, somado a tantos outros que tomaram conta da então da Universidade do Recife, o Reitor foi deposto pelo chamado Comando Revolucionário, com uma pressão extraordinária para a sua renúncia, passando a ocupar o comando da Reitoria o Professor Newton Maia. Também podemos perceber nos Documentos alguma resistência interna contra os desmandos vindos de fora da Universidade no sentido de perseguir estudantes, como o do Professor Antônio Figueira em defesa dos acadêmicos do curso de Medicina, sem contar a própria Documentação dos estudantes em diversos momentos do livro que ilustram sua reação ao autoritarismo.
  • 17. 17 Os Documentos que chamam muito a atenção são de 1969, como é o caso de um datado de 04 de fevereiro de 1969, que é uma correspondência do diretor da FOUFPE (Professor Henrique Freire de Barros) ao Chefe da Sessão de Assistência aos estudantes da UFPE, na qual responde a uma circular comunicando que parte da diretoria do Diretório Acadêmico (D.A.) foi suspensa por “serem agitadores”, ressaltando que “fato êste comunicado ao magnífico reitor e às autoridades militares”. Era rotina os diretores das unidades acadêmicas da UFPE informar à Reitoria quem eram os membros das entidades estudantis. Em ofício de 12 de setembro de 1969, por exemplo, o diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (o CFCH) encaminha ao Diretor da Divisão de Expediente Escolar, os nomes dos novos componentes do D.A., que tinha como presidente o jovem estudante Gildo Marçal Brandão, posteriormente professor e um brilhante intelectual da Universidade de São Paulo (USP).
  • 18. 18 Um Documento de 14 de março de 1969, que foi assinado pelo oficial de Relações Públicas do IV Exército, Major Marcello Alves Carneiro de Menezes, ao Reitor da UFPE, trata comemorar da “determinação condignamente o governamental 5º aniversário de da Revolução Democrática de 1964”, busca se informar qual ou quais cerimônias nesse sentido para a semana de 24 a 31 de março de 1969, “consagrada àquele evento histórico de tão grande significado para o povo brasileiro”. Não foram poucas as respostas dos mais diversos órgãos da UFPE dando conhecimento ao Reitor de que tal “determinação governamental” seria devidamente cumprida, como o ofício de 21 de março de 1969, quando o chefe da Secção de Rádio, Roberto Maia Martins, comunica ao magnífico reitor a programação da Rádio Universitária “como parte das comemorações do quinto aniversário da Revolução de 31 de março”. O coordenador executivo da Televisão Universitária, Professor Manuel Caetano Queiroz de Andrade remete, em 21 de março de 1969, ao Reitor da UFPE, “a
  • 19. 19 programação especial do 5º aniversário da REVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA de 1964”. Em ofício de 30 de janeiro de 1969, o Diretor da Faculdade de Educação da UFPE, Professor Newton Lins Buarque Sucupira encaminha ao Reitor da UFPE “o material anexo, constante de pincéis, tintas, pixe e panfletos da U.E.P., apreendido nesta Faculdade”. Em ofício de 25 de março o Professor Sucupira encaminha novamente um material anexado “constante de panfletos, apreendidos nesta Faculdade”. Ambos foram encaminhados pelo Reitor da UFPE para a 7ª Região Militar, e, conforme despacho do próprio Reitor no Documento, orienta o Diretor da Faculdade para a “abertura de sindicância para apurar as responsabilidades”. A Cruzada Democrática Feminina de Pernambuco também foi muito contemplada na Documentação recebida pelo Reitor da UFPE, como o ofício que ela enviou datado de 25 de novembro de 1969 e assinada pela sua presidente, Cristina Azevedo, com o envio do
  • 20. 20 texto da coluna da Cruzada no Jornal do Commercio (JC) divulgando o concurso sobre a “bandeira do Brasil”. Um precioso Documento que veio do exterior em favor de ex-ministro da Educação e Professor também possui alto grau de relevância para se entender as mobilizações produzidas de fora para dentro no combate à ditadura vigente. É o caso do ofício do Reitor da Universidad de La Republica, Oscar J. Maggiolo, ao Reitor da UFPE, em 16 de março de 1969, no qual visa “expressarlela preocupación de la Universidad de La Republica ante la prision del Profesor brasileño Darcy Ribeiro, decretada por el Gobierno del Brasil”. O despacho nesse Documento pela reitoria da UFPE foi simplesmente “arquive-se”, não identificando nenhum encaminhamento ou publicidade do ofício no âmbito da UFPE. O objetivo de disponibilizar os Documentos na sua forma quase bruta veio no sentido de que as pessoas possam conhecer a história da UFPE por meio de fontes
  • 21. 21 primárias, favorecendo sua compreensão para uma questão que até hoje é fundamental, que é o acesso à verdade e à memória. A EDITORA PROSPECTIVA fica honrada de propiciar aos leitores textos e Documentos especialmente editados para um público interessado em conhecer melhor o Brasil. É o que nos move, o que nos anima. O interesse público em primeiro lugar! Como parte de uma coleção, a análise dos Documentos são encontradas parcialmente nesse livro, embora é importante reconhecer que nos outros livros as informações se completam e o foco analítico é complementado com o registro documental que aqui é direcionado.
  • 22. 22 INTRODUÇÃO: MOVIMENTO ESTUDANTIL E A DITADURA MILITAR DE 1964 1 1 O texto de introdução do presente livro foi reproduzido de um dos capítulos da minha dissertação de mestrado. Ver em: MACHADO, Otávio Luiz Machado. Formação profissional, ensino superior e a construção da profissão do engenheiro pelos movimentos estudantis de engenharia: a experiência a partir da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco (1958-1975). Recife: PPGS/UFPE, 2008.
  • 23. 23 Movimento Estudantil e a ditadura militar de 1964 O golpe civil-militar de 1964 provocou a interrupção da efervescência vivida pelos estudantes universitários até então. Além do fechamento de entidades estudantis, a prisão dos principais líderes estudantis nos primeiros dias do golpe, as universidades conviveram a partir daí com inúmeros IPMs (Inquéritos Policiais Militares) buscando averiguar possíveis crimes contra a “segurança nacional”. Por outro lado, o período compreendido entre 1964 e 1975 foi extremamente profícuo em termos de propostas ou mesmo de medidas para a reformulação do ensino superior, como o Plano Nacional de Educação (1965), o Acordo Mec-Usaid, a CPI da Educação Superior, a Comissão Meira Mattos, o Grupo de Trabalho da Reforma Universitária, a Lei Suplicy e o Decreto-Lei 477. É óbvio que a participação dos estudantes nas decisões
  • 24. 24 sobre os assuntos políticos e universitários foi então muito limitada, dadas as ameaças e as repressões, mesmo assim o movimento estudantil procurou debater alguns temas, como a democratização do acesso à universidade. O aumento de vagas que vinha sendo reivindicado fora estipulado no Plano Nacional de Educação de 1962. Este plano foi revisto pelo CFE (Conselho Federal de Educação), seu autor, em 1965. No tocante ao ensino superior, a revisão mantinha os objetivos anteriores de se admitir nesse grau, em 1970, pelo menos a metade dos concluintes do grau médio em 1969, assim como de se manter pelo menos 30% de professores e alunos em regime de tempo integral (CUNHA, 1988, p. 73)2. 2 CUNHA, Luís Antônio. A Universidade Reformanda: O golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
  • 25. 25 Vale lembrar que Goulart já havia decretado a duplicação de vagas das escolas superiores das áreas de saúde e tecnologia, sobretudo Medicina e Engenharia, intento que foi seguido no Plano Nacional de Educação produzido pelo MEC e pelo CFE, em 1965. O MEC “passou a induzir as universidades federais e aumentarem as vagas, principalmente nas grandes cidades e nos cursos de medicina e engenharia” (idem, p. 88). Assim, a expansão das vagas e a reforma do ensino superior estiveram fortemente presentes nas políticas públicas de 1964-1975. A educação, que adquiriu um importante papel no processo de desenvolvimento desde os anos 1950, foi associada fortemente após 1964 “às necessidades presentes e futuras de mão de obra qualificada” (CANUTO, 1987, p. 26)3. Para Canuto (1987, p. 28), o período 1965-1975 foi marcado pelo processo de unificação e centralização dos CANUTO, Vera. “Projetos Institucionais e conjuntura política”. Comunicações Pimes, n. 31, UFPE/PIMPES, 1987. 3
  • 26. 26 aparelhos de Estado, cujo resultado no ambiente interno das universidades como a UFPE, por exemplo, foi a marca da manutenção do poder institucional em mãos de um mesmo grupo, que possivelmente incluía a Escola de Engenharia de Pernambuco, sobretudo sob a hegemonia do discurso tecnocratizante e elitista dos órgãos superiores. Outras iniciativas, como a Lei Suplicy (nº. 4.464, de 9/11/1964), por outra parte, representaram grande quebra da espinha dorsal do movimento estudantil, como diria Fernandes (1995, p.19)4. A nova regulamentação das entidades estudantis representava o cerceamento da liberdade de atuação desde que seus estatutos teriam que estar em consonância com as determinações ministeriais, representando redefinição de suas atribuições. FERNANDES, Florestan . “Texto de palestra de Florestan na UFU”. In: Homenagem a Florestan Fernandes, Uberlândia, CDHIS/ADUFU/SINTET/UFU, 1995. 4
  • 27. 27 Para Florestan Fernandes (1978, p. 38), a Universidade foi confrontada pelo golpe de 1964, cujo “sistema de poder respondeu esmagando os defensores da causa da reforma universitária e apropriando-se da bandeira da reforma universitária para realizá-la às avessas”. Além disso, para ele, o aumento da população escolar ocorreu “porque os militares usaram a técnica de inundar as universidades com estudantes jovens, novos para quebrar a espinha dorsal do antigo movimento estudantil e a rebelião estudantil” (FERNANDES, 1995, p. 19). Os movimentos estudantis no pós-1964 ganharam novas dimensões nas pautas de reivindicação e nas formas de produção de debates. O ponto comum de todas as entidades estudantis existentes era o combate à ditadura, embora a divergência quanto às formas de luta produzisse uma grande divisão no movimento estudantil brasileiro. Mesmo com a repressão, as entidades estudantis de base continuaram realizando um trabalho visando atender ao conjunto dos estudantes, como parte
  • 28. 28 de apoio acadêmico aos estudantes, produção de eventos culturais, esportes, jornais, jornal-mural, trotes etc. Embora a luta pela mudança da formação profissional fosse dada por meio do combate ao Acordo Mec-Usaid, mais verbas, mais vagas (sobretudo para atender aos “excedentes”) e o alargamento da oferta de cursos para atender às expectativas dos novos postos de trabalho, cremos que o conteúdo da formação profissional continuou a estar presente no debate da luta contra o sistema educacional da ditadura, o que significou duas formas de luta: a) lutas específicas e; b) luta política. Haveria uma resposta aos anseios imediatos dos estudantes por meio de lutas específicas, bem como uma luta política, a ser travada contra a própria ditadura que, em alguns casos, tornou-se a luta principal, pois não bastava exigir uma universidade adequada dentro de um sistema repressor. O não atendimento a questões que afligiam setores médios da sociedade, como a expansão das vagas e a
  • 29. 29 atualização do ensino superior, produziu uma tensão entre a ditadura e tal segmento social a partir de 1967, expressa na questão dos “excedentes”, e também fortaleceu o próprio movimento estudantil. Foram restabelecidos os vínculos que haviam sido perdidos entre o movimento estudantil e os estudantes na luta pela expansão das vagas, a partir da sua politização tendo como foco a repressão da ditadura militar. Um conjunto de fatores, portanto, afligiam os estudantes e criaram bandeiras de lutas do movimento estudantil no pós-1964: O problema dos excedentes, a falta de verbas, a modernização autoritária do ensino acenada com os acordos MEC-USAID governamentais, o e com arcaísmo outras das iniciativas instituições universitárias anterior a 1964, a crise econômica geradora de arrocho salarial e de estreitamento das oportunidades, de trabalho até mesmo para os formados, a chamada "crise da cultura burguesa", a política
  • 30. 30 repressiva da ditadura contra os estudantes e suas entidades - tudo isso contribuía para criar uma insatisfação estudantil sem precedentes e para a retomada da antiga bandeira de luta pela Reforma Universitária, ligada ao projeto de ascensão social pela educação, de camadas urbanas nos anos anteriores a 1964. A luta contra os acordos MEC-USAID, por exemplo, unia tanto aqueles setores da liderança estudantil que privilegiavam a luta contra a ditadura, caso da AP (os acordos eram vistos como expressão do imperialismo, representado pela ditadura militar), quanto os setores da vanguarda estudantil, que buscavam a ponte entre as reivindicações específicas e as políticas, bem como boa parte da massa dos estudantes, menos ou mais politizados, que viam nas reformas indicadas pelos acordos uma clara deturpação da Reforma Universitária idealizada (RIDENTI, 1993, p. 128-129)5. 5 RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: Editora Unesp, 1993.
  • 31. 31 A busca da maior democratização do ensino superior brasileiro tem raízes sociais e está associada à consolidação do sistema capitalista tardio quando a formação profissional de nível superior se transforma em fator decisivo de participação no processo de modernização do país. Nesse contexto ser estudante significava maiores chances de galgar posições privilegiadas no mercado de trabalho. Para Florestan Fernandes (1978, p. 38)6, conforme mencionado, a Universidade foi confrontada pelo golpe de 1964, cujo “sistema de poder respondeu esmagando os defensores da causa da reforma universitária e apropriando-se da bandeira da reforma universitária para realizá-la às avessas”. Em 1965 houve algumas passeatas promovidas a partir de algumas universidades contra a chamada Lei Suplicy. Mas o movimento estudantil nacional apenas conseguiu se reafirmar em julho de 1966, a partir de Belo 6 FERNANDES, Florestan. A Condição do Sociólogo. São Paulo: Hucitec, 1978.
  • 32. 32 Horizonte, com a realização do 28º Congresso Nacional de Estudantes da UNE, que apesar de oficialmente extinta pelo regime militar, funcionava com o apoio dos órgãos estudantis e realizava suas reuniões e eleições clandestinamente. Impedido de todas as formas pelo aparato da repressão, o Congresso foi realizado com o apoio dos padres franciscanos num convento. Para Poerner (1979, p. 274)7, em 1966, o resultado do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Belo Horizonte, foi fundamental para o lançamento de uma palavra de ordem contrária à política educacional do governo e contra o próprio governo, que desencadearia em setembro de 1966 protestos nas ruas de diversas cidades brasileiras contra a cobrança das anuidades e o atentado às liberdades democráticas expressos na repressão policial. 7 POERNER, Arthur José. O poder jovem. História da participação política dos estudantes brasileiros. 2a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
  • 33. 33 A UNE organizou no dia 22 de setembro de 1966 o movimento que ficou conhecido como o Dia Nacional da Luta contra a Ditadura. Durante este mês vários protestos ocorreram em várias partes do país, tendo ocasionado em Belo Horizonte o cerco aos estudantes no prédio da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas (UFMG). Em 1967, no 29º Congresso da UNE, o contexto foi marcado por uma crítica ao “reformismo”. Para Martins Filho, Nessa reunião expressou-se pela primeira vez, no plano da entidade nacional, o crescimento das correntes opositoras à Ação Popular, obrigando-a a compartilhar a diretoria eleita naquele conclave com militantes das Dissidências comunistas e da POLOP. Ao mesmo tempo, no final dos trabalhos, ficariam evidentes as dificuldades em conciliar as propostas daquelas que 64viriam a ser, em 1968, as duas ‘posições’ estudantis. Neste sentido, a Ação Popular divulgou como a “Carta
  • 34. 34 Política” da UNE um documento que expressava as suas propostas, enquanto as publicações estudantis vinculadas às Dis-POLOP estamparam um texto com proposições diferentes. O 29º Congresso terminou, assim, com dois documentos ‘oficiais’ (MARTINS FILHO, 1987, p. 177-178)8. A luta política contra a ditadura militar voltou a predominar no discurso do movimento estudantil e os slogans “abaixo a ditadura” ou “abaixo o imperialismo yankee” simbolizaram o novo movimento estudantil oriundo da resistência aos desmandos do regime militar nos espaços universitários. À parte das disputas internas do movimento estudantil, a luta contra a política educativa do regime militar passou a unificar os diversos setores do movimento estudantil, o que significava que por dentro das universidades começava a surgir uma organização 8 MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento estudantil e ditadura militar: 1964-1968. Campinas: Papirus, 1987.
  • 35. 35 com força suficiente para mobilizar forças contra o regime político vigente. Ao mesmo tempo em que lideranças de certos setores do movimento estudantil recolocavam o debate sobre a reforma universitária na ordem do dia, o regime militar fechava os canais de participação aos estudantes na construção da reforma universitária, até porque as entidades estudantis estavam impedidas de debater livremente e militantes estudantis continuavam a ser perseguidos.
  • 36. 36 O movimento estudantil e ensino superior entre 1968 e 1975 O movimento estudantil estava sem condições de ver atendidas suas reivindicações mínimas pelo Governo, nem pelas diretorias das faculdades e reitorias. Por outro lado, o crescimento vertiginoso do mercado de trabalho não era acompanhado do debate de novas propostas de formação profissional. Sem condições de dar respostas aos problemas universitários, impedidos de debater o país e tendo-se iniciado um processo de desvalorização do diploma universitário, haja vista que o número de profissionais formados superava a demanda do mercado de trabalho, o movimento estudantil viu-se diante de uma contradição: foi autor de um projeto de reforma universitária mas foi rejeitado quando o Governo resolveu fazê-la, pois
  • 37. 37 ...a pressão pela Reforma Universitária acaba sendo assumida pela própria Instituição (Universidade) e pelo Governo, alterando o conteúdo proposto pelos estudantes no seu movimento. E esta Reforma, marcada que foi pelo golpe de 1964, acaba voltando-se contra o movimento estudantil que gerou (SOUZA MARTINS, 1976, p. 119)9. A abordagem da formação profissional pelos estudantes estava voltada para o seu futuro. Ora, no presente, o acesso à universidade não mais garantia futuro promissor, o regime militar impossibilitava sua intervenção nos temas referentes à formação profissional e não permitia o debate sobre o processo de transformação da sociedade brasileira, suas bandeiras de lutas tradicionais, todos esses elementos conduziram o movimento estudantil a sofrer um enorme refluxo. SOUZA MARTINS, Heloísa T. “Movimento Estudantil e Reforma Universitária”. Contexto, n. 1, nov. 1976, p. 119131. 9
  • 38. 38 Diante desse quadro restou-lhe a luta pela derrubada da ditadura militar como único caminho de sua participação política. Apesar disso a UEE-MG realizou o “Seminário MEC-USAID”, em junho de 1968, com o intuito de retomar o debate sobre a ”infiltração imperialista” no ensino brasileiro. Afirmava que o acordo MEC-USAID - juntamente com a política educacional da ditadura – seriam contrários aos interesses nacionais e promoveriam “a adequação da universidade aos interesses do imperialismo” (Documento Seminário MEC-USAID, UEE/MG, junho de 1968). O caminho apontado era o de “levar a todos a necessidade de organização da luta contra a dominação exercida sôbre os estudantes e o povo pelo imperialismo e a ditadura de seus aliados brasileiros” (idem). Tal evento foi preparatório para o Congresso da UEE/MG, realizado entre 30 de setembro e 1º de outubro do mesmo e o 30º Congresso da UNE.
  • 39. 39 Por outro lado, em 1968, período marcado por uma onda mundial de revoltas (GROPPO, 2005)10, o movimento estudantil brasileiro se integrou às rebeldias juvenis do planeta. Passou a conhecer outros movimentos existentes no mundo, a eles se associar e desenvolver movimentos locais com uma visão global e com desejos libertários em comum. O imperialismo norte-americano (que estava sendo observado por imagens no mundo todo com a Guerra do Vietnã), a solidariedade à Revolução Cubana e a posição a favor independência política e econômica dos países da América Latina foram questões que mobilizaram bastante, assim como o questionamento acerca dos valores da sociedade comportamento político, burguesa o estilo e de industrial. vida e O as preocupações dos atores sociais daquele período estavam identificados com a quebra de valores, tabus e dissolução 10 GROPPO, Luis Antônio. Uma onda mundial de revoltas. Movimentos estudantis de 1968. Piracicaba: Editora Unimep, 2005a.
  • 40. 40 do sistema capitalista vigente. Questionava-se desde a ordem estabelecida que tentava justificar as guerras a uma série de formas de opressão, como o machismo. A desinstitucionalização da vida privada foi marcada pelo questionamento do casamento, por exemplo. O forte desejo de liberdade foi marcado com a revolução sexual. Uma das pixações em um dos muros de Paris expressa muito bem tal aspecto: “Quanto mais amor eu faço, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais revolução faço, maior vontade eu tenho de fazer amor” (GROPPO, 2005a). A influência dos movimentos libertários em várias partes do mundo – sobretudo os revolucionários de Cuba, Vietnam, Argélia, e China, fazia da revolução uma bandeira ou lema. O assassinato do jovem secundarista Edson Luís, no Restaurante Calabouço do Rio de Janeiro reacendeu o movimento estudantil e sensibilizou as classes médias contra uma ditadura que estendia a lógica da violência trabalhadores. física para além da repressão aos
  • 41. 41 Uma das frases presentes nas faixas durante o enterro do jovem era: “Mataram um estudante, podia ser seu filho”. Para lideranças do movimento estudantil da época no Rio de Janeiro, a morte do jovem desencadeando reações estudantis como indica um dos entrevistados da pesquisa: No Brasil, 68 iniciou-se com a morte do Edson Luis. Foi um momento em que a repressão ficou meio paralisada, pois ela também se assustou com o que aconteceu. A morte do estudante não foi algo programado. Foi mais um acidente de trabalho, de certa forma previsível dentro de uma cultura repressiva que tratava na porrada e na violência qualquer reivindicação ou protesto. Assim, num momento de tensão e de descontrole, alguém na polícia passou do ponto. E o assassinato do Edson Luís deu uma largada muito forte para o movimento estudantil em 68, especialmente no Rio de Janeiro, embora tenha havido manifestações de
  • 42. 42 protesto em todo o país, imediatamente (Depoimento de Franklin Martins a Otávio Luiz Machado). Para Franklin Martins, os episódios de protesto contra a morte de Edson Luís culminaram na mudança do perfil de ação até então apresentado pelo movimento: A manifestação transcorreu no meio de uma porradaria muito grande no centro da cidade. Foi uma manifestação muito dura e violenta. E olha que ainda eram manifestações do tipo em que a gente ia e apanhava. Nós sabíamos que íamos levar porrada e realmente levávamos. Em seguida, teve a missa de 7º missa, onde foram registradas aquelas fotos famosas da cavalaria subindo a Candelária e batendo nos estudantes com sabre. Esses episódios marcaram o fim de um período do movimento estudantil, aquele em que a gente ia para as manifestações apanhar sem revidar. Naquele instante, já tínhamos uma boa organização, trabalhávamos com grupos estruturados que respondiam a um comando,
  • 43. 43 mas ainda não estavam dadas as condições para um enfrentamento. Então, quando a polícia chegava, ou corríamos ou apanhávamos. No máximo, quando caia uma menina no meio deles, a gente ia lá e tirava. Mas ainda era uma coisa assim: a polícia estava no direito dela de bater e a gente no dever de apanhar. A partir daí, começou a mudar (...) E aí que começa a porrada em cima da polícia. Os estudantes jogam pedras em cima da polícia e carros sendo virados e queimados. Eu me lembro de uma cena que eu nunca vi uma foto. Foi quando um estudante pegou uma pá numa obra, bateu num cavalariano e, quando ele desmontou e caiu no chão, todos partiram pra cima dele. E os outros policiais não vieram atrás, porque eles começaram a ficar desnorteados. Então começou a ter reação forte dos estudantes. Foi uma virada importante. Franklin Martins admite que a desmobilização do movimento estudantil não ocorreu com o Congresso de Ibiúna, mas com o momento em que a polícia começou a
  • 44. 44 partir para cima dos estudantes e revidar sua nova postura: A partir da passeata dos 100 mil todas as manifestações do Rio de Janeiro passam a ser dissolvidas à bala. Eu pessoalmente fui alvo duas vezes de tiros à queima roupa. Era para ter morrido. Uma vez eu estava puxando uma passeata no Largo do São Francisco e um policial veio me prender. Mas eu estava pendurado num poste e a minha segurança não deixou. E começou um tiroteio. E eu só vi balas num vidro de uma vitrine atrás travadas de bala. Outra vez fui numa manifestação em frente a UFRJ, na Urca, num movimento junto com a Medicina, que também foi dissolvida à bala. Eu tenho as fotos do pessoal atirando nesse episódio. A repressão mudou de patamar. (...) Ibiúna já está dentro de um ponto na curva na mudança de patamar. Quando mudou de patamar e passou a dissolver à bala, o que aconteceu? A massa de estudantes recuou. Ela queria lutar, mas ela não queria
  • 45. 45 arriscar a vida. Então o movimento estudantil já começa a bater no muro em agosto, que foi um mês em que o Vladimir foi preso no Rio de Janeiro. E aí eu assumo a presidência da UME, porque era um dos vicepresidentes. E todas aquelas manifestações pela libertação de Vladimir são reprimidas à bala. Até então o movimento estudantil incluiu os problemas da sociedade nas suas bandeiras de lutas, politizando o debate sobre a questão educacional. As diversas teses preparatórias para o Congresso de Ibiúna deixam perceber que todas as bandeiras estavam voltadas para a derrubada da ditadura e o imperialismo norte-americano. Numa das teses, “Programa para o Movimento Estudantil”, o movimento estudantil era considerado “um setor da classe média com reivindicações específicas ao nível de uma melhor formação profissional e do desenvolvimento de suas capacidades criativas, porém
  • 46. 46 com contradições com o imperialismo e a ditadura ao nível do empobrecimento e da restrição das oportunidades de trabalho para a classe média” e que “qualquer mudança realmente qualitativa da universidade dependerá da transformação radical das estruturas sócio-econômicas da sociedade. A Universidade Popular será fruto da atuação do governo popular revolucionário no âmbito do ensino superior”. Nessa perspectiva é possível interpretar a constituição da Comissão Meira Mattos para resolver dois problemas do regime militar: o impasse da reforma universitária e a presença do movimento estudantil em oposição aos militares. Desta forma, a Comissão presidida pelo General Carlos de Meira Mattos, que trabalhou no período de 11 de janeiro a 08 de abril de 1968, teve como objetivos: 1) fornecer parecer sobre as reivindicações, teses e sugestões referentes às atividades estudantis; 2) planejar e propor possibilitassem melhor aplicação medidas das que diretrizes governamentais no setor estudantil; 3) supervisionar e
  • 47. 47 coordenar a delegação do Ministro de revelavam a execução dessas preocupação diretrizes, mediante Estado. Tais objetivos com a politização da universidade, vista como impedindo o enfrentamento adequado da questão da educação. “A Comissão Meira Mattos, assumindo suas finalidades e em consonância com a ideologia do poder vigente, teve como maior preocupação propor medidas que servissem de instrumentos de aceleração do desenvolvimento e de acesso social, vinculando a educação às exigências do processo técnico e econômico-social do país (FÁVERO, 1991, p. 58)11. Esse projeto de reforma universitária tem sido interpretado como modernização do ensino superior então vigente: 11 FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Da Universidade “modernizada” à Universidade disciplinada: Atcon e Meira Mattos. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.
  • 48. 48 ...a modernização do ensino superior empreendida pela reforma universitária de 1968 destinava-se a colocar a universidade a serviço da produção prioritária de uma nova força de trabalho requisitada pelo capital monopolista organizado nas formas estatal e privada “multinacional” (CUNHA, 1983, p. 12)12. A efetivação da modernização do ensino superior, nos moldes pretendidos pelo regime militar, implicava, no entanto, no disciplinamento do segmento que mais havia a havia reivindicado – o movimento estudantil. Para um ex-aluno da Escola de Engenharia de Pernambuco em 1968: Vale dizer que os militares tinham um projeto de nação e a universidade tinha seu papel de destaque nesse projeto. Os militares sabiam da importância dos 12 CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade crítica: o ensino superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.
  • 49. 49 investimentos na educação superior, principalmente na área cientifica e tecnológica para aspirar uma soberania no cenário internacional. Esse projeto não foi posto adiante e até hoje não se fez outro. O que é lamentável, pois não se faz um projeto de nação sem antes ter um projeto de universidade (Depoimento de Jader Nunes de Oliveira a Otávio Luiz Machado). O novo modelo de ensino superior implantado em 1968 foi baseado no sistema de departamentos, na profissionalização do corpo docente e teve repercussão na formação dos engenheiros, pela criação de novas especialidades. A ênfase no caráter técnico do ensino superior foi vista como empreitada negativa para a universidade na perspectiva de Florestan Fernandes: “As classes burguesas, principalmente certo nível de empresários, dos militares, da burocracia, da tecnocracia, estavam identificados com esse objetivo. Criaram uma
  • 50. 50 universidade despolitizada, uma universidade acrítica, uma universidade técnica” (idem, p. 181). Outras medidas do governo ainda atingiriam a universidade. O AI-5, promulgado em dezembro de 1968, reafirmava as intenções do golpe de 1964 como a da “a modernização conservadora da economia, concentradora de riquezas e considerada pela classe dirigente como a única saída viável para superar a crise vivida em meados da década de 60” (RIDENTI, 1993, p. 30). O Decreto-Lei 477, de 26 de fevereiro de 1969, tornava as universidades um espaço limitado para a discussão política e o combate à ditadura brasileira. Para Freitag (1980, p. 132)13, as duas medidas criadas pelo regime militar foram fundamentais para reforçar a clássica mensagem dos regimes autoritários de que “estudante deve apenas estudar”: “Se fizer política e não conseguir satisfazer os requisitos de uma média mínima, pode ser jubilado; se consegue FREITAG, Barbara. Escola, Estado e Sociedade. 6ª ed. São Paulo: Moraes, 1986. 13
  • 51. 51 conciliar estudos e atividade política, pode ser desligado da universidade pelo 477”. Nesse contexto, o período de 1969 pode ser visto como o de desmantelamento final do movimento estudantil, pois o fechamento de diversos diretórios que apontavam alguma resistência ao regime militar somouse às prisões dos líderes estudantis após o Congresso da UNE em outubro de 1968. O AI-5 representou uma medida adotada pela ditadura para reaver seu domínio que estava sendo perdido pela resistência dos opositores, pela falta de apoio da classe média e pelas próprias divergências internas dos comandantes da ditadura, que demonstrava a prevalência da força política da “linha dura” nos rumos do golpe. Analisando o movimento estudantil dos anos 1970, é observado que aliado às reivindicações e denúncias de aspectos administrativos há a emergência de novas
  • 52. 52 práticas políticas tal como indicada por Mirza Pellicciotta (2008, p. 179-180)14: Lidar com a transformação, em si mesma, do movimento estudantil brasileiro na década de 1970 significa, neste caso, lidar com a emergência de uma dimensão “alternativa” de perspectivas e experiências coletivas muito cara à análise do contemporâneo – tanto em relação à reforma (tecnocrática) da Universidade, quanto no aspecto de uma cultura de massas, ou ainda das mudanças (significativas) do mercado de trabalho e inserção profissional – que por diversos meios têm lugar entre as alterações de forma de organização deste movimento. Se não estava sendo possível participar do debate sobre a reforma universitária – que tinha sido uma “Mobilizações estudantis nos anos 1970”. In: Otávio Luiz Machado e Luís Antônio Groppo (orgs). Juventude e Movimento Estudantil Brasileiro: Ontem e Hoje. Recife: Editora UFPE, 2008, p. 179-213. 14
  • 53. 53 alavanca para acionar um movimento estudantil de grande envergadura em décadas anteriores -, a estratégia utilizada pelos estudantes no movimento estudantil entre 1969 e 1975 foi a de focar nos problemas internos da sua profissão de forma desligada dos problemas políticos, além de trazer temas culturais de forma sutil para o interior dos centros e diretórios acadêmicos, como forma de animar o debate. Por esse motivo, Na medida em que os estudantes perdem o lugar e o papel representativo nas estruturas de poder da Universidade e se vêem obrigados a defender um lugar social através da luta pela qualificação profissional, o movimento ganha uma fisionomia mais efêmera, fragmentária e variada. No mesmo sentido, as movimentações são forçadas a criar, em um misto de temor e fragilidade, as suas novas condições de luta política (idem, p. 187).
  • 54. 54 É dentro dessas novas condições de luta que se pode observar o debate específico sobre a formação profissional ressurgir, que havia desaparecido após o golpe de abril de 1964. O seminário de estudantes de Engenharia, no início de novembro de 1970, em Florianópolis, pode ser considerado a retomada de um debate sobre a profissão do engenheiro e o reinício da participação dos estudantes no movimento estudantil de forma mais organizada. No 1º SERS (Seminário da Região Sul), que debateu o desenvolvimento da tecnologia nacional, a situação do ensino de Engenharia, a função da Universidade, o estágio e o mercado de trabalho para engenheiros e a representação estudantil, os estudantes puderam iniciar a reorganizar uma pauta de discussão do movimento de Engenharia, com a intenção de trazer o movimento estudantil como ator social importante na vida nacional. No 2º SERS, em junho de 1972 na cidade de Porto Alegre, participaram não apenas escolas da Região Sul, mas de outras regiões, pois tornava-se
  • 55. 55 ... cada vez mais clara a importância destes encontros, como forma de quebrar o isolamento entre os estudantes que se caracterizava desde 1968, propiciando oportunidades de serem examinadas e comparadas diferentes realidades de nossas escolas e ocasiões para que os problemas comuns fossem amplamente debatidos, e as lutas, que conduzissem às soluções procuradas, encaminhadas conjuntamente (Suplemento os Seminários de Engenharia, janeiro de 1974). Para Fernando Peregrino, então líder estudantil no D.A. de Engenharia na UFF, foi no 2º SERGS, em 1972, o movimento estudantil de Engenharia começou a trazer questões mais específicas além da luta política de combate à ditadura, prevalecendo as questões internas dos cursos:
  • 56. 56 Em Porto Alegre, a pauta do seminário eram reivindicações típicas dos estudantes de engenharia, como melhor ensino, melhores professores, mais laboratórios, tecnologia nacional e, evidentemente, algumas bandeiras pelo fim da ditadura, fim do decreto 288 e do decreto 477. Foi um seminário de caráter nacional que somava mais de 600 estudantes, considerado um número muito bom para os limites da época. Estávamos reunidos sob um clima de terror durante vários dias e sob ameaça de prisões. Conseguimos manter o seminário e concluí-lo aprovando muitas teses e bandeiras. Conseguimos ultrapassar os limites de nossas organizações locais nos estados e faculdades e criamos laços e mecanismos de organização com companheiros dos demais estados. Foi sem dúvida uma vitória marcante que mais tarde repercutiria na reorganização da UNE (Depoimento de Fernando Peregrino a Otávio Luiz Machado).
  • 57. 57 Para Antônio Kandir (2004, p.311-312)15, que estudou Engenharia na Escola Politécnica da USP, também ganhou corpo no debate a questão econômica: Desde que entrei para a universidade, comecei a participar do movimento estudantil. O espaço de discussão política era bastante restrito naquele tempo, por isso discutíamos muito as questões econômicas. Aí entrou o trabalho do Fishlow. Passamos a discutir o crescimento da desigualdade que, obviamente, era um tema polêmico e importante na luta política. Como militante do movimento estudantil, eu também debatia esses temas e comecei a me interessar e a gostar de economia. Contribuiu para isso o meu orientador na graduação, Afonso Celso Fleury, que sempre trabalhou em temas ligados à produtividade, à ciência e à tecnologia. KANDIR, Antônio. “Depoimento”. In: IPEA 40 Anos apontando caminhos: Depoimentos ao CPDOC, Rio de Janeiro, Editora da FGV, 2004, p. 311-323. Disponível em http://getinternet.ipea.gov.br/livro40anos/arquivo_complet o.pdf. Consultado em 25/03/2008. 15
  • 58. 58 Mas o que marcou o reencontro dos estudantes de Engenharia com os seus problemas específicos de sua profissão foi o 1º SNEE (Seminário Nacional de Engenharia), que aconteceu na Escola Politécnica de São Paulo, em 1973, que discutiu: 1) Ensino e Pesquisa; 2) Mercado de Trabalho e Estágio; 3) Representação Estudantil. O Documento-Síntese do 1º SNEE chamou-nos a atenção para o seguinte. Nos congressos nacionais de estudantes de Engenharia (CNEE) dos anos 1950 os estudantes buscavam criar um mercado profissional para os engenheiros através de uma formação especializada nos mais diversos campos da Engenharia, discutindo currículos a partir de instâncias universitárias e entre estudantes em congressos de professores e diretores. Nos SNEE, dos anos 1970, a preocupação voltou-se para o questionamento da formação profissional restrita aos ditames do mercado que estava constituído no Brasil. O conteúdo da formação profissional vigente, para os
  • 59. 59 estudantes, não estava interligado às problemáticas levantadas no interior das universidades, mas as escolas estavam apenas “formando profissionais pedidos e exigidos pelo atual Mercado de Trabalho” (Suplemento os Seminários de Engenharia, janeiro de 1974). Ao buscarmos analisar o contexto histórico da entrada do debate sobre formação profissional pelo movimento estudantil, o objetivo foi o de fazer a relação entre as transformações no mundo social mais amplo e as novas competências requeridas da profissão de Engenharia com o avanço do movimento estudantil no debate sobre a realidade brasileira. Vale lembrar que, enquanto hoje “a escolaridade já não se afigura mais como elemento garantidor da entrada no mundo do trabalho, especialmente se considerarmos o ingresso no mercado formal de ocupações e as posições dos estratos menos privilegiados da sociedade, exatamente aqueles que têm acesso tardiamente aos degraus mais elevados do sistema de ensino” (SPOSITO,
  • 60. 60 2005, p. 205)16, no período analisado, a juventude universitária que tinha a universidade como a última etapa preparatória para a entrada no mundo adulto, também a tinha como canal de ascensão social. O que se pode concluir é que, na luta pela transformação específicas do da sociedade brasileira, movimento as estudantil pautas estiveram fortemente focadas na reforma do ensino e na questão da formação profissional no final dos anos 1950, e a partir daí passaram a estar mais associadas com uma luta política a medida reivindicações que estudantis o compromisso acabou por com abranger as a sociedade como um todo, porque adquiriu dimensão social a vinculação do jovem universitário ao processo de SPOSITO, Marilia Pontes. “Indagações sobre as relações entre juventude e a escola no Brasil. Institucionalização Tradicional e Novos Significados”. Jovenes – Revista de Estudios sobre Juventud, Edição: ano 9, núm. 22, México, DF, janeiro-junho 2005, p.p 201-227. 16
  • 61. 61 consolidação e expansão da ordem competitiva (FORACCHI, 1972, p. 123)17. FORACCHI, Marialice Mencarini. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972. 17
  • 63. 63
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