O historiador Roberto Carlos Reis defende a criação de uma federação portuguesa e posteriormente ibérica de organizações de recriações históricas para fortalecer o setor e promover o turismo. Sua pesquisa sobre o impacto da Viagem Medieval em Santa Maria da Feira mostrou benefícios econômicos locais, ainda que visitantes raramente pernoitem na região. Ele sugere mais coordenação entre entidades e foco no rigor histórico.
1. Historiador defende criação
de federação de recriações históricas
Santa Maria da Feira Roberto Carlos Reis fala, mesmo, de um projecto à escala ibérica, que ajude a potenciar eventos
como a Viagem Medieval, que tem mexido com a economia local
Alberto Oliveira e Silva
A criação de “uma espécie de
Federação Portuguesa das Or-ganizações
de Recriações His-tóricas”,
que, posteriormente,
venha a ganhar “uma dimensão
ibérica”, é defendida pelo his-toriador
santamariano Roberto
Carlos Reis.
O doutorando em “Turismo,
Lazer e Cultura” na Faculdade
de Letras da Universidade de
Coimbra e professor convidado
da “Universidad Rey Juan Car-los,
de Madrid, vê o reforço das
capacidades organizativas das
várias recriações históricas
existentes no país como a única
forma de consolidar uma “in-dústria”
apontada como passí-vel
de ser “fio condutor e plata-forma
para a divulgação dos re-cursos
turísticos” nacionais.
No âmbito do seu doutora-mento,
Roberto Carlos Reis tem
vindo a estudar o impacto das re-criações
históricas nas economias
locais, emespecialda ViagemMe-dieval
na economia do Concelho
de Santa Maria da Feira.
Neste caso, e reportando-se
às edições de 2012 e 2013, en-trevistou
384 visitantes, 278 par-ticipantes
e 383 residentes.
E “a maioria dos responden-tes
concordou que o evento
atrai mais investimento, pro-move
o comércio e indústria lo-cais,
aumenta os meios recrea-tivos
e de lazer, recupera o ar-tesanato
e incentiva a restaura-ção
dos edifícios históricos”.
Acrescenta que a criação de
postos de trabalho, o melhora-mento
de infra-estruturas pú-blicas
e a sensibilização para as
questões ambientais também
foram apontados como aspec-tos
positivos decorrentes da
realização do evento. O histo-riador
diz ter identificado em-presários
que adaptaram e al-teraram
estruturalmente a sua
actividade, bem como micro-empresas
que foram criadas
em função da sua participação
neste evento.
Questionado sobre que tipo
de empresas têm sido criadas
em Santa Maria da Feira, por
força da Viagem Medieval, as-sinala
SEGUNDA-FEIRA | 11 AGO 2014 | 15
REGIÃO DAS BEIRAS
grupos de animação –
“seguramente”, acentua -, mas
também casas ligadas ao sector
da restauração, como o “Museu
da Fogaça”.
Aponta, ainda, o exemplo da
conquista da independência
por parte de Estrela Melo, artesã
regional, que, após ligação de
anos a uma grande firma do
sector do calçado, se abalançou
a carreira própria, “criando ar-tesanato
de referência”.
O aumento do congestiona-mento
e do tráfego, a falta de
rigor histórico e o aumento
da poluição ambiental foram
apontados pelos responden-tes
como impactos negativos
do grande evento de verão do
município santamariano. Ro-berto
Carlos Reis opina que
“está por alcançar o objectivo
turístico da estadia” dos visitan-tes
da Viagem, já que, na sua
grande maioria, não pernoitam
no concelho.
Deixa um conjunto de suges-tões,
entre as quais avultam a
necessidade de uma coordena-ção
entre as entidades nacionais
que promovem recriações his-tóricas,
uma aposta determi-nada
no rigor histórico das en-cenações
e a “dinamização de
uma Escola de Artes, vocacio-nada
para cursos de teatro me-dieval,
escola de música medie-val,
festival de música medieval
e gastronomia medieval”. |
Grupo de
investigação
em Valladolid
O historiador feirense
salienta que já existe na
Península um grupo de
investigação sobre re-criações
históricas, que
tem base na “Universi-dade
Europeia Miguel
de Cervantes” de Valla-dolid,
em Espanha.
Este grupo é coorde-nado
pelo professor
Carlos Belloso, que con-vidou
Roberto Carlos
Reis para o integrar, vi-sando
o estudo das re-criações
organizadas e
encenadas no nosso
país. |
Historiador vinca importância do rigor histórico das encenações
D.R.