O documento discute a cognição incorporada e a comunicação no trabalho. Apresenta um debate entre o construtivismo e o objetivismo e como a noção de mente incorporada pode contribuir para a ergonomia. Também aborda como a ação incorporada gera um mundo comum e linguagem que permitem o entendimento mútuo entre os trabalhadores.
Cognição incorporada e comunicação na atividade de trabalho
1. Universidade de São Paulo
Escola Politécnica da USP
Departamento de Engenharia de Produção
EMBODIMENT: COGNIÇÃO INCORPORADA E
COMUNICAÇÃO NA ATIVIDADE DE TRABALHO:
Contribuições da noção de mente incorporada na
Ergonomia
Um debate entre construtivismo (Dewey; Schön)
X
Objetivismo (cogitivismo, realismo representativo)
Prof. Dr. Gilbert Cardoso Bouyer
UFOP
2. Objetivismo: pautado na racionalidade técnica, solução de
problemas e comunicação consistem em aplicações de planos
e fórmulas predefinidas
X
Construtivismo: base do EMBODIMENT - solução de problemas
e comunicação se constroem na ação): Epistemologia
construtivista (incorporada) da prática – (Dewey e Schön):
pragmatismo norte-americano
3. CONTRIBUIÇÃO AO PROJETO DA TAREFA
Mudar a forma de gestão da empresa e de Organização do
Trabalho
PROJETO TRADICIONAL DA TAREFA PROJETO PROPOSTO TAREFA
“Eu transmito informação, “Eu crio espaço, você atua
você processa e faz” e reflete-na-ação; dialoga
com a situação e contribui
na construção da solução”
-Objetivismo
-Construtivismo
-Realismo representativo
X -Pragmatismo (DEWEY)
- Cognitivismo - Embodied-enactive
approach
-Representação,
-Cognição situada, mente
transmissão de informação, incorporada, reflexão-na-
racionalidade técnica ação
4. INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA FUNDAMENTAL
A noção de mundo comum no trabalho: “construção da objetividade;
Socialmente partilhado; interface entre percepção e cognição” (PASTRÉ)
Linguagem e
Intercompreensão
Atuação na
Percepção Atividade de
Interação intersubjetiva e Trabalho
comunicacional
SUJEITO CAPAZ
Umwelt (Uexküll, 1992;
M-Ponty, 2005)
M.C.: articula AÇÃO – PERCEPÇÃO – CONCEITUALIZAÇÃO (Pastré)
M.C
“Le monde commun; sujet avec son vécu, son histoire...”
5. PROBLEMÁTICA FUNDAMENTAL
LACUNA ONTOLÓGICA
Linguagem Linguagem
Operacional Projeto-Conc
SUJEITO CAPAZ PCx PCy SUJEITO CAPAZ
Umwelt-x Do Dc Umwelt-y
•P. exemplo: “mundo dos instrutores” x “mundo dos condutores” (Pastré,2005,
pág. 106); [caso da usina nuclear]
•Problemas de intercompreensão
•Noções de falha, erro ... Fator humano (DEJOURS, 1997)
•Problemas de consenso, compreensão, legitimidade na linguagem
6. Do: domínio de distinções OPERACIONAL
Do
X
Dc: domínio de distinções de CONCEPÇÃO
Dc
As dificuldades de entendimento mútuo ocorrem quando o
“mundo da vida” – “Le monde commun” Do – Domínio de
atuação dos operadores (dotado de códigos de linguagem
próprios não formalizados e não legitimados
epistemologicamente) SE DEPARA COM:
X
O mundo racionalizado: Dc (instrumentalizado,
formalizado e explicitamente normativo) ou domínio de
atuação da atividade projetiva e do trabalho prescrito –
conceptores e/ou projetistas que acabam por projetar o
trabalho e as tarefas. Estruturas modernas de consciência
normativa profunda (HABERMAS)
7. A LACUNA NA LINGUAGEM
“A pergunta seria se dois profissionais poderiam sair desses
pontos de partida divergentes e atingir uma compreensão
convergente” (Schön, 2000).
“A vantagem do ponto de vista construtivista é que ele é
adequado à nossa experiência de desentendimento mútuo...
quanto mais trabalhamos na tentativa de entender uns aos
outros, mais profundamente experimentamos as diferenças entre
nossas maneiras de ver as coisas” (Schön, 2000)
ENTENDIMENTO MÚTUO: Um entrar no universo do outro através
da reflexão-na-ação e assim passar do desentendimento ao
entendimento mútuo (Schön, 2000)
8. SOLUÇÃO DA LACUNA ONTOLÓGICA
Reflexão na Ação ou Diálogo com a Situação (SCHÖN, 2000)
Diálogo com a situação
Reflexão na ação
(SCHÖN, 2000)
Do Dc
Reflexão-na-ação: 1 + 2 + 3 em consonância entre operador e conceptor
1 – Ação exploratória: para ver o que dela deriva
2 – Experimentos para teste de ações: produção de mudança desejada
3 – Teste de hipóteses: diferenciação de hipóteses conflitantes
9. •A ação incorporada é condição necessária para o
estabelecimento do entendimento mútuo na
linguagem – percepção comum
•A HISTÓRIA DE INCORPORAÇÃO e a ação incorporada
são condições suficientes para explicar a maior eficiência
no controle de processo contínuo de produção
• O “Agir comunicativo” de Habermas não consegue
comunicativo
explicar as situações de intercompreensão e nem as
situações de fratura (Winograd & Flores):
Tese: Inversão do eixo habermasiano:
[comunicação-ação] x [ação incorporada-comunicação]
incorporada
10. carne (corpo)-abstração: o paradigma do
embodiment: incorporação; mente incorporada
• O manuseio dos códigos de linguagem na dimensão
semântica da ação no trabalho, bem como as chamadas
atividades cognitivas superiores, são sustentadas por
ação incorporada no contexto das situações de trabalho
EMBODIED-SCHEMATA – IMAGE-SCHEMATA
Sujeito capaz (Rabardel & Pastré, 2005)
– É “Instrumentalizado” pela história de incorporação geradora
dos esquemas incorporados de ação (embodied-schemata)
11. Ação, Linguagem e Trabalho
• A AÇÃO INCORPORADA gera ontologicamente os
instrumentos incorporados que criam um “mundo
comum”, uma linguagem operatória própria e as
condições para o entendimento mútuo entre os
agentes situados num mesmo domínio de atuação
(Do≅ Do; Dc≅ Dc).
Dc
PERCEPÇÃO COMUM;
AÇÃO PERCEPTIVAMENTE ORIENTADA (Merleau-Ponty)
INTERCOMPREENSÃO
(Do≅ Do; Dc≅ Dc).
Dc
12. Linguagem – Intercompreensão
Umwelt – mundo comum – campo de atuação
Aquisição de esquemas, instrumentos Sujeito Capaz
Atuação – Mente incorporada – Embodiment: cognição é
ação
13. QUEDA DA NOÇÃO DE REPRESENTAÇÃO MENTAL
O mundo de percepções não é o mesmo para
operadores dotados de esquemas distintos – Não há
estímulos universais – O estímulo é reformulado pela
estrutura interna do agente, conforme as noções de
agente
forma e organização de Merleau-Ponty
Nunca uma “representação” é igual a outra – Não há
inputs nem outputs porque o operador não é um
processador de informações.
informações
Há, de fato, mundos distintos de atuação-incorporação:
embodiment
“Há, na cognição, uma representação que é sem
representação” (PESCHL, 2000).
14. “É como se o corpo do operador, seus músculos,
seus nervos e estruturas aferentes e sensoriais se
estendessem por toda a planta, por meio de
recursos diferenciados de comunicação extra-sala
de controle, os quais, de fato, tornam o operador
como um “corpo estendido e situado” sobre a
situado
refinaria, sobre a fábrica de cimento, sobre a
usina:
corpo que reconstrói e reorganiza os sinais do
processo a todo momento, e os “reformula”
numa função de re-enquadramento segundo sua
estrutura e sua organização interna (corpo
fenomenal) formada por esquemas incorporados
para a ação e “image-schemata” adquiridos
image-schemata
em sua história de AÇÃO INCORPORADA na
área, história carnal na planta” (BOUYER, 2008).
15. AGRADECIMENTO:
AO PROFESSOR DR. LAERTE IDAL SZNELWAR:
• confiança no meu trabalho
• apoio incondicional nos momentos de crise existencial
• coerência, presteza e disponibilidade nas diversas
fases de orientação
• pela solidariedade e amizade