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Licenciatura em Biologia Celular e Molecular

          Fisiologia Celular

         Professora Teresa Moura
        Professora Teresa Catarino



   Fisiologia do Coração




                                   Trabalho realizado por:
                                      Joana Gigante,    nº   16714
                                     Mafalda Santos,    nº   15695
                                      Mário Siqueira,   nº   16642
                                     Miguel Carinhas,   nº   17839



        FCT, 6 de Outubro de 2004
Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração                                                                     Outubro 2004




                                                          Índice


Introdução..................................................................................................................... 3
Anatomia ...................................................................................................................... 4
Actividade Eléctrica...................................................................................................... 5
ECG.............................................................................................................................. 8
Actividade Mecânica..................................................................................................... 8
Rendimento Cardíaco.................................................................................................... 9
Músculo do Coração ................................................................................................... 11
Bibliografia................................................................................................................. 12




Introdução



                                                                                                                             12
Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração                         Outubro 2004


       Este resumo pretende ser uma orientação para o seminário e não um
trabalho sobre o tema apresentado, tendo como base a bibliografia
apresentada.

        O Homem é constituído por uma rede de sistemas complexos
interligados entre si coordenados principalmente pelo sistema nervoso e ligados
pelo sistema cardiovascular.

       Ao longo dos seminários viajar-se-á ao longo dos vários sistemas que
constituem o ser humano focalizando essencialmente a fisiologia dos órgãos
que os constituem e a forma como tudo se integra no organismo.

      O sistema cardiovascular humano e de todos os mamíferos é o mais
complexo dos seres vivos conferindo-lhes a capacidade de manutenção da
temperatura corporal independentemente do ambiente que os envolve.

       O coração, como principal órgão do sistema cardiovascular, é em grande
parte responsável por esta característica fazendo o transporte de O2 e outros
nutrientes às células, permitindo também a eliminação das suas toxinas.

       O coração funciona então como o órgão regulador, a “bomba” que
mantém o sistema em funcionamento que, com dois sistemas fechados de
vasos e a sua anatomofisiologia específica formam a pequena circulação,
circulação em que o sangue vai aos pulmões oxigenar, e a grande circulação,
circulação sistémica que se baseia no transporte do sangue aos órgãos.

       Para melhor compreensão deste tema, decidiu-se dividi-lo por pontos
que abrangem sucintamente a complexidade da fisiologia cardíaca, e que serão
tratados no decorrer da apresentação do seminário.




                                                                           12
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Anatomia

        Este órgão sofreu uma grande evolução ao longo do tempo podendo
observar-se as várias fases da sua existência analisando não só o
desenvolvimento embrionário do Homem como as várias ordens de animais que
o antecedem na sua árvore filogenética como os répteis e os anfíbios.
        Maioritariamente são os mamíferos os seres que possuem o coração com
quartro cavidades individualizadas. Assim, o coração é uma estrutura complexa
que se localiza na cavidade torácica, constituído por dois ventrículos e duas
aurículas que funcionam como duas bombas independentes em que o lado
direito (aurícula direita + ventrículo direito) coordena a circulação pulmonar em
que o sangue é rico em CO2 e toxinas e pobre em O2 (sangue venoso), e o lado
esquerdo responsável pela circulação sistémica caracterizada pelo sangue rico
em O2 (sangue arterial).
        A existência de válvulas entre as aurículas e os ventrículos impedem o
retrocesso do fluxo de sangue (tricúspide no lado direito e a bicúspide no lado
esquerdo), não havendo mistura de sangues pela existência de uma divisão
longitudinal dos dois lados, o septo (Fig. 1).




           Fig 1. Anatomia do coração




       Todo o coração encontra-se rodeado por um saco de dupla membrana, o
saco pericardial, que, para além de assegurar a posição apropriada do coração
no peito, é segregado um líquido, o fluido pericardial, que, encontrando-se
entre as membranas, previne a fricção entre as duas camadas (em casos de
Pericardite, há uma inflamação do saco pericardial levando a que ocorra uma
dolorosa fricção entre as duas membranas, por infecção viral ou bacteriana).




                                                                             12
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Actividade Eléctrica




                                            Fig 2. Localização das células autorítmicas




       O coração é composto na quase
totalidade por células musculares
cardiacas contracteis que funcionam de
forma semelhante ao músculo
esquelético. Contudo, ao contrário do
músculo esquelético, o músculo cardíaco
não é estimulado directamente pelo sistema nervos. Existe um pequeno
número de células cardiacas que têm a capacidade de gerar o seu próprio
potencial de acção, e esse sinal é transmitido em cadeia por todo o coração –
células autorítmicas – (actividade de pacemaker) fazendo contrair o tecido
muscular cardíaco.

       As células autorítmicas estão situadas em nódulos e feixes, em zonas
concretas do coração(Fig 2.): nódulo Sinoauricular (SA), nódulo
Auriculoventricular (AV), feixes de His e fibras Purkinje. Cada uma destas
quatro zonas diferencia-se das outras pela frequência em que gera o potencial
de acção. O nódulo SA é o principal centro de estimulos cardíacos uma vez que
gera potenciais de acção a uma frequência superior (70-80 /min.) a todos os
outros centros, conseguindo assim tomar controle do ritmo cardíaco global
(Nódulo SA – pacemaker cardíaco)

      Quando uma célula (ou fracção de membrana) é submetida a um
estimulo eléctrico (ou potencial de acção) existe uma alteração na polaridade
transmembranar.




                                                                                          12
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Fig 3. Potencial de acção em células           Fig 4. Potencial de acção em células cardíacas
autorítmicas                                   contracteis




        O potencial membranar normal de uma célula em repouso é negativo e
está compreendido entre -90 mV(aprox.) e -60mV(aprox.). Estes valores são
mantidos por vários mecanismos iónicos (diversos tipos de bombas e
transportadores transmembranares) que fazem variar a permeabilidade da
membrana aos diversos iões presentes quer no interior quer no exterior da
célula.
        A velocidade e a forma como decorre o potencial de acção varia
consoante o tipo de célula em estudo: apesar da excitação das células
contracteis cardíacas ser causada por potenciais de acção gerados pelas células
autorítmicas os dois tipos de células apresentam potenciais de acção
distintos (ver tabela 1.).

          CÉLULAS CARDÍACAS                                 CÉLULAS PACEMAKER
             CONTRÁCTEIS
Potencial de acção dividido em 5 fases ( Fig       Potencial de acção dividido em 3 fases (Fig
4.):                                               3.):
         - fase 0: despolarização rápida                   - fase 0: despolarização rápida.
(semelhante à observada em células                         - fase 3: repolarização.
nervosas).                                                 - fase 4: periodo de repouso quase
         - fase 1: repolarização rápida inicial.   inexistente, despolarização lenta até ao limiar
         - fase 2: Plateau, manutenção do          de escitação.
estado de despolarização.
         - fase 3: repolarização rápida até ao     Limiar de excitação a -40 mV
potencial de repouso.
         - fase 4: periodo de repouso              MECANISMOS IÓNICOS (Fig 5.):
(relativamente prolongado) (-90 mV)                I. Principal característica: fase 4 instavél, o
                                                   que leva à substituição do periodo de repouso
Limiar de excitação a -70mV                        por um periodo de despolarização lenta. A

1
  A duração da contracção muscular cardiaca é de cerca de 300ms. Como o periodo refractário é
quase tão longo como a duração da contracção muscular consegue-se garantir que o musculo não é
novamente estimulado sem que antes tenha ocorrido o relaxamento. Em músculo esquelético este
mecanismo não existe e se a célula continuar a ser estimulada sem haver relaxamento celular pode
levar ao tétano muscular – contracção permanente do músculo.


                                                                                                12
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        CÉLULAS CARDÍACAS                             CÉLULAS PACEMAKER
           CONTRÁCTEIS
                                              causa desta característica é o influxo
MECANISMOS IÓNICOS:                           permanente e constante de iões Na+ e a
I. Têm um verdadeiro potencial de repouso     redução da permeabilidade da membrana ao
durante a fase 4. Despolarização lenta.       K+ (que tende a sair menos). O resultado
                                              desta troca é um interior celular cada vez
II. Ao atingir o limiar de excitação abrem-se menos negativo e uma despolarização lenta
canais de Na+ que provocam uma                até ao limiar de excitação.
despolarização rápida até ao pico de potencial.
(semelhança aos neurónios)                      II. Antes de atingir o potencial de -40 mV
                                                abrem-se parte dos canais de Ca2+ (canais de
                       +
III. Os canais de Na fecham-se                  curta duração) que tornam o interior ainda
rapidamente e há uma saída brusca mas           menos negativo.
temporária de K+ . Esta troca leva a um
pequeno mas brusco abaixamento do               III. Ao atingir o limiar de excitação abrem-
potencial membranar (formação do pico).         se os restantes canais de Ca2+ (canais de
                                                longo duração) que aceleram bruscamente o
IV. O fecho dos canais de K+ e a                processo despolarizando completamente
manutenção da abertura de alguns canais de a membrana.
inativação lenta de Ca2+ e Na+ garantem um
lento (250ms)1 repolarizar da membrana          IV. No pico do potencial membranar a
(plateau da fase 2). Característica destas      permeabilidade ao K+ é máxima e por isso
células: periodo rafractário lento. Nos         a saída de K+ do meio intracelular aumenta
neurónios esta repolarização é rápida (1-2ms) bruscamente levando à repolarização da
                                                membrana.
V. Os canais de inativação lenta de Ca2+ e
Na+ são finalmente encerrados e dá-se a
abertura dos canais de K+. Repolarização
brusca e completa até ao potencial de
repouso.

Tabela 1. Comparação da forma de propagação do potencial de acção de células pacemaker e
células cardíacas contrácteis.
       Comparando os sinais que dão origem ao potencial de acção nas células
autorítmicas e nas células musculares cardiacas podemos verificar que
enquanto que nas primeiras é o influxo estável e constante de Na+ o principal
responsável pela formação do potencial de acção, nas outras células este papel
cabe à entrada de Ca2+ na célula (tal como em células musculares
esqueléticas).
       Quando se dá a passagem do potencial de acção pelos tubulos
transversais induz-se a entrada de Ca2+ na célula de origem extracelular que
por sua vez provoca a abertura de canais na superficie dos reticulos
sarcoplasmaticos libertando ainda mais Ca2+ armazenado na célula. Desta
forma a concentração de Ca2+ aumenta globalmente no citosol fazendo
accionar o mecanismo de contracção da célula. Esta concentração e origem
múltipla do Ca2+ permite não só aumentar o potencial de acção das células
cardiacas (plateau da fase 2) como permite ainda prolongar o tempo de
contracção muscular. Só assim é possível assegurar o tempo necessário para
que o coração possa bombear o sangue completamente.




                                                                                        12
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  Fig 5. Trocas iónicas durante o potencial de acção em células
  autorítmicas                                                           Finalmente, podemos
                                                                  observar que a concentração
                                                                  de K+ e Ca2+ é, pela
                                                                  intervenção nos vários
                                                                  mecanismos iónicos,
                                                                  crucial,quer a concentração
                                                                  intracelularquer extracelular.
                                                                  Qualquer alteração nas
                                                                  concentrações pode alterar a
                                                                  permeabilidade da membrana
                                                                  para os iões intervenientes
                                                                  podendo levar a arítmias.




ECG

       O ECG baseia-se no registo da actividade eléctrica do coração que se
propaga até à superfície corporal acabando por acompanhar a actividade
mecânica do mesmo. Este registo centra-se nos processos de excitação e
repolarização que ocorrem a nível da membrana das células musculares
cardíacas, tal como referido anteriormente, produzindo traçados de variações
de voltagem que reflectem os eventos associados ao ciclo mecânico cardíaco. A
actividade eléctrica registada tem como base os doze eléctrodos colocados em
diferentes pontos do corpo de modo a conferir uma base comum para
comparação e proporcionar o reconhecimento de desvios da normalidade.

O traçado do electrocardiograma, em condições normais, inclui as ondas
representadas na figura Y.




                                                                                             12
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                                                    Fig 6.
                                                    Ondas P – despolarização auricular
                                                    Complexo QRS – despolarização ventricular
                                                    Ondas T – despolarização ventricular




        O ECG é normalmente utilizado para diagnóstico de problemas cardíacos tais
como arritmias, insuficiências cardíacas, danos no músculo cardíaco, etc., pela análise
do seu traçado.




Actividade Mecânica

       Consiste em períodos alternados de sístole (contracção e “enchimento”)
e diástole (relaxamento e esvaziamento) que são iniciados pelo ciclo eléctrico
rítmico e que controla o fluxo sanguíneo que passa pelo coração. Todo este
processo leva a que o sangue siga o seu percurso na circulação pulmonar e
sistémica, no sentido indicado pelo esquema (Fig. 7).




                                   Fig. 7 – Circulação pulmonar e circulação sistémica

                                          O som que se associa ao batimento
                                   cardíaco não é mais que o som do fecho das
                                   válvulas do coração, sendo a primeira “batida”
                                   o som do fecho das válvulas AV no decorrer da
                                   sístole ventricular (válvulas tricúspide e
                                   bicúspide), e a segunda “batida” o som do
                                   fecho das válvulas da artéria pulmonar e aorta
                                   (válvulas semilunares) no decorrer da diástole




                                                                                         12
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Rendimento Cardíaco

        O rendimento cardíaco é o volume de sangue bombeado por ventrículo
num minuto, e é determinado pelo ritmo cardíaco (batimentos do coração por
minuto) e pelo volume sistólico (volume de sangue bombeado por batimento).
        O coração bate constantemente e bombeia o sangue através do corpo
numa média de 72 batimentos por minuto, fazendo, assim, circular uma média
de 9 000 litros por dia. O ritmo cardíaco e a quantidade de sangue bombeado
varia com as diferentes necessidades do organismo. O coração bombeia
aproximadamente cinco litros de sangue por minuto quando se está em
descanso. Contudo, quando se está em actividade, o coração pode aumentar o
seu rendimento para 15-25 litros por minuto
        O rendimento cardíaco pode sofrer grandes alterações características de
situações de descanso em oposição a situações de máxima actividade. Esta
diferença entre o rendimento cardíaco de um corpo em descanso e o volume
máximo de sangue que o coração é capaz de bombear (situações limite)
denomina-se de reserva cardíaca.
        Estas alterações no rendimento cardíaco dever-se-ão a alterações nos
seus determinantes, ou seja, no ritmo cardíaco e no stroke volume.
        As variações a nível do ritmo cardíaco devem-se essencialmente à
influência do sistema nervoso autónomo no nódulo sinoatrial (o pacemaker do
coração) visto anteriormente.
        As duas divisões do sistema nervoso autónomo, parassimpático e
simpático, têm efeitos antagónicos quanto ao ritmo cardíaco. Enquanto o
parassimpático provoca um abrandamento no ritmo cardíaco, o simpático é
responsável pelo seu aumento.
        Quando há um aumento na actividade do parassimpático é libertado, um
neurotransmissor, a Acetilcolina, que se ligará a receptores nas células do
nódulo sinoatrial, nestas encontram-se canais de potássio sensíveis à mesma
que fecharam mais lentamente, aumentando a permeabilidade do nódulo
sinoatrial a K+. Assim as células hiperpolarizam (tornam-se mais negativas no
interior) levando a célula a demorar mais tempo a atingir o limite, baixando o
ritmo cardíaco. Associa-se então o sistema parassimpático ao controle do
coração em situações de descanso.
        Como já vimos o efeito do sistema simpático é antagónico ao do
parassimpático, assim a substância libertada para a estimulação do nódulo
sinoatrial neste caso, é a norepinefrina, que diminui a permeabilidade da
membrana celular ao potássio, pois acelera a inactivação dos canais do mesmo,
aumenta assim a sua taxa de despolarização atingindo o limite mais
rapidamente. É por os iões de K+ não saírem em tão grande número da célula
que o efeito de despolarização aumenta, no entanto para este aumento
também contribui o aumento de permeabilidade ao cálcio promovido pela
fosforilação dos seus canais, atingindo-se assim o limite mais rapidamente,
sendo os potenciais de acção gerados mais frequentemente. O efeito do
sistema simpático é ligado a situações de esforço físico e emergência.
        O stroke volume é influenciado por dois tipos de controlo, o controlo
intrínseco (relacionado com a quantidade de sangue venoso que regressa ao
coração) e o controlo extrínseco (associado à estimulação do sistema simpático


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Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração                          Outubro 2004


ao coração). No entanto ambos os controlos servem para aumentar a
quantidade de sangue bombeado por um ventrículo num batimento,
aumentando a força de contracção do coração.
       O controlo intrínseco não é mais que a relação directa entre o volume
final da diástole (volume de sangue nos ventrículos mesmo antes da sístole) e o
stroke volume (volume de sangue bombeado por batimento), este controlo
depende da relação comprimento-tensão do músculo cardíaco. Assim, ao
receber maior volume de sangue venoso vindo da circulação sistémica, as fibras
musculares cardíacas tornam-se mais distendidas, pois verificar-se-á um
preenchimento diastólico maior (mais sangue que regressa ao coração). Assim,
quando estas mesmas fibras se contraem para realizar a sístole, fazem-no com
mais força, se a força de contracção aumenta, aumenta consequentemente o
volume de sangue bombeado no batimento (stroke volume).
        Este controlo intrínseco é resumido na Lei do Coração de Frank-Starling
que diz: “O coração normalmente bombeia todo o sangue que a ele regressa;
aumentar a quantidade de sangue venoso que regressa ao coração implica
aumentar o volume de sangue bombeado por batimento.”

       Como o próprio nome indica o controlo extrínseco é desencadeado por
factores exteriores ao coração, dois dos mais importantes são a estimulação do
sistema simpático e a epinefrina, que aumentam a contractabilidade do coração
(força de contracção para qualquer volume no final da diástole). Este aumento
na força de contracção do coração deve-se ao aumento de Ca2+ no citosol
promovido pela epinefrina libertada nos nervos terminais do sistema simpático,
                                        que permite às fibras do miocárdio
                                        distenderem e assim gerar mais força
                                        aquando do bombeamento (relação
                                        comprimento-tensão). No entanto, a
                                        estimulação do simpático não aumenta
                                        o stroke volume apenas porque
                                        aumenta a força de contracção
                                        cardíaca, mas também porque faz com
                                        que a quantidade de sangue venoso
                                        que chega ao coração seja maior
                                        também, pois constringe as veias, que
consequentemente comprimi o sangue que irá mais rapidamente para o
coração.
       Como vimos, o rendimento cardíaco é determinado por dois factores:
ritmo cardíaco e stroke volume, que por sua vez são controlados por
mecanismos diferentes, com actuação de substâncias e sistemas diferentes. No
entanto todo este funcionamento tende para que um estado de equilíbrio seja
encontrado, e o coração consiga responder quer às situações de maior
relaxamento e descanso, quer às situações de intensa actividade física e stress.



Músculo do Coração




                                                                            12
Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração                             Outubro 2004


       Nesta última parte da exposição analisamos a parte muscular do
coração.
       O músculo cardíaco denomina-se miocárdio. O músculo cardíaco é
estriado, onde as células que o constituem, denominadas cardiomiócitos,
apresentam sarcómeros tal como as do músculo esquelético.
       Os parâmetros utilizados para caracterizar o músculo cardíaco são a
força, encurtamento e velocidade de encurtamento, trabalho e potência.




                                             Fig.8 - Cardiomiócitos




       O músculo cardíaco é abastecido com oxigénio e nutrientes a partir do
sangue posto em circulação (circulação coronária) e não por difusão do sangue
nas paredes do coração. A circulação coronária pode ser afectada pela
formação de placas arteroescleróticas. A causa para a formação destas não é
bem conhecida mas admite-se que está relacionado com a proporção do
colesterol trasnportado por HDL (Lipoproteinas de alta densidade) e LDL
(Lipoproteinas de baixa densidade)




Bibliografia


[1] CORREIA, Pedro Pezarat, ESPANHA, Margarida, OLIVEIRA, Raul, PASCOAL,
Augusto Gil, SILVA, Paulo Armada da, Anatomofisiologia (2001), Tomo III –
Função da Vida Orgânica Interna, Universidade Técnica de Lisboa – Faculdade
de Motricidade Humana, Ciências da Motricidade, FMH Edições


[2] Human Physiology, Chapter 9 – Cardiac Physiology, pg. 289-321,




                                                                              12

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Fisiologia do Coração: Atividade Elétrica e Mecânica

  • 1. Licenciatura em Biologia Celular e Molecular Fisiologia Celular Professora Teresa Moura Professora Teresa Catarino Fisiologia do Coração Trabalho realizado por: Joana Gigante, nº 16714 Mafalda Santos, nº 15695 Mário Siqueira, nº 16642 Miguel Carinhas, nº 17839 FCT, 6 de Outubro de 2004
  • 2. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Índice Introdução..................................................................................................................... 3 Anatomia ...................................................................................................................... 4 Actividade Eléctrica...................................................................................................... 5 ECG.............................................................................................................................. 8 Actividade Mecânica..................................................................................................... 8 Rendimento Cardíaco.................................................................................................... 9 Músculo do Coração ................................................................................................... 11 Bibliografia................................................................................................................. 12 Introdução 12
  • 3. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Este resumo pretende ser uma orientação para o seminário e não um trabalho sobre o tema apresentado, tendo como base a bibliografia apresentada. O Homem é constituído por uma rede de sistemas complexos interligados entre si coordenados principalmente pelo sistema nervoso e ligados pelo sistema cardiovascular. Ao longo dos seminários viajar-se-á ao longo dos vários sistemas que constituem o ser humano focalizando essencialmente a fisiologia dos órgãos que os constituem e a forma como tudo se integra no organismo. O sistema cardiovascular humano e de todos os mamíferos é o mais complexo dos seres vivos conferindo-lhes a capacidade de manutenção da temperatura corporal independentemente do ambiente que os envolve. O coração, como principal órgão do sistema cardiovascular, é em grande parte responsável por esta característica fazendo o transporte de O2 e outros nutrientes às células, permitindo também a eliminação das suas toxinas. O coração funciona então como o órgão regulador, a “bomba” que mantém o sistema em funcionamento que, com dois sistemas fechados de vasos e a sua anatomofisiologia específica formam a pequena circulação, circulação em que o sangue vai aos pulmões oxigenar, e a grande circulação, circulação sistémica que se baseia no transporte do sangue aos órgãos. Para melhor compreensão deste tema, decidiu-se dividi-lo por pontos que abrangem sucintamente a complexidade da fisiologia cardíaca, e que serão tratados no decorrer da apresentação do seminário. 12
  • 4. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Anatomia Este órgão sofreu uma grande evolução ao longo do tempo podendo observar-se as várias fases da sua existência analisando não só o desenvolvimento embrionário do Homem como as várias ordens de animais que o antecedem na sua árvore filogenética como os répteis e os anfíbios. Maioritariamente são os mamíferos os seres que possuem o coração com quartro cavidades individualizadas. Assim, o coração é uma estrutura complexa que se localiza na cavidade torácica, constituído por dois ventrículos e duas aurículas que funcionam como duas bombas independentes em que o lado direito (aurícula direita + ventrículo direito) coordena a circulação pulmonar em que o sangue é rico em CO2 e toxinas e pobre em O2 (sangue venoso), e o lado esquerdo responsável pela circulação sistémica caracterizada pelo sangue rico em O2 (sangue arterial). A existência de válvulas entre as aurículas e os ventrículos impedem o retrocesso do fluxo de sangue (tricúspide no lado direito e a bicúspide no lado esquerdo), não havendo mistura de sangues pela existência de uma divisão longitudinal dos dois lados, o septo (Fig. 1). Fig 1. Anatomia do coração Todo o coração encontra-se rodeado por um saco de dupla membrana, o saco pericardial, que, para além de assegurar a posição apropriada do coração no peito, é segregado um líquido, o fluido pericardial, que, encontrando-se entre as membranas, previne a fricção entre as duas camadas (em casos de Pericardite, há uma inflamação do saco pericardial levando a que ocorra uma dolorosa fricção entre as duas membranas, por infecção viral ou bacteriana). 12
  • 5. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Actividade Eléctrica Fig 2. Localização das células autorítmicas O coração é composto na quase totalidade por células musculares cardiacas contracteis que funcionam de forma semelhante ao músculo esquelético. Contudo, ao contrário do músculo esquelético, o músculo cardíaco não é estimulado directamente pelo sistema nervos. Existe um pequeno número de células cardiacas que têm a capacidade de gerar o seu próprio potencial de acção, e esse sinal é transmitido em cadeia por todo o coração – células autorítmicas – (actividade de pacemaker) fazendo contrair o tecido muscular cardíaco. As células autorítmicas estão situadas em nódulos e feixes, em zonas concretas do coração(Fig 2.): nódulo Sinoauricular (SA), nódulo Auriculoventricular (AV), feixes de His e fibras Purkinje. Cada uma destas quatro zonas diferencia-se das outras pela frequência em que gera o potencial de acção. O nódulo SA é o principal centro de estimulos cardíacos uma vez que gera potenciais de acção a uma frequência superior (70-80 /min.) a todos os outros centros, conseguindo assim tomar controle do ritmo cardíaco global (Nódulo SA – pacemaker cardíaco) Quando uma célula (ou fracção de membrana) é submetida a um estimulo eléctrico (ou potencial de acção) existe uma alteração na polaridade transmembranar. 12
  • 6. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Fig 3. Potencial de acção em células Fig 4. Potencial de acção em células cardíacas autorítmicas contracteis O potencial membranar normal de uma célula em repouso é negativo e está compreendido entre -90 mV(aprox.) e -60mV(aprox.). Estes valores são mantidos por vários mecanismos iónicos (diversos tipos de bombas e transportadores transmembranares) que fazem variar a permeabilidade da membrana aos diversos iões presentes quer no interior quer no exterior da célula. A velocidade e a forma como decorre o potencial de acção varia consoante o tipo de célula em estudo: apesar da excitação das células contracteis cardíacas ser causada por potenciais de acção gerados pelas células autorítmicas os dois tipos de células apresentam potenciais de acção distintos (ver tabela 1.). CÉLULAS CARDÍACAS CÉLULAS PACEMAKER CONTRÁCTEIS Potencial de acção dividido em 5 fases ( Fig Potencial de acção dividido em 3 fases (Fig 4.): 3.): - fase 0: despolarização rápida - fase 0: despolarização rápida. (semelhante à observada em células - fase 3: repolarização. nervosas). - fase 4: periodo de repouso quase - fase 1: repolarização rápida inicial. inexistente, despolarização lenta até ao limiar - fase 2: Plateau, manutenção do de escitação. estado de despolarização. - fase 3: repolarização rápida até ao Limiar de excitação a -40 mV potencial de repouso. - fase 4: periodo de repouso MECANISMOS IÓNICOS (Fig 5.): (relativamente prolongado) (-90 mV) I. Principal característica: fase 4 instavél, o que leva à substituição do periodo de repouso Limiar de excitação a -70mV por um periodo de despolarização lenta. A 1 A duração da contracção muscular cardiaca é de cerca de 300ms. Como o periodo refractário é quase tão longo como a duração da contracção muscular consegue-se garantir que o musculo não é novamente estimulado sem que antes tenha ocorrido o relaxamento. Em músculo esquelético este mecanismo não existe e se a célula continuar a ser estimulada sem haver relaxamento celular pode levar ao tétano muscular – contracção permanente do músculo. 12
  • 7. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 CÉLULAS CARDÍACAS CÉLULAS PACEMAKER CONTRÁCTEIS causa desta característica é o influxo MECANISMOS IÓNICOS: permanente e constante de iões Na+ e a I. Têm um verdadeiro potencial de repouso redução da permeabilidade da membrana ao durante a fase 4. Despolarização lenta. K+ (que tende a sair menos). O resultado desta troca é um interior celular cada vez II. Ao atingir o limiar de excitação abrem-se menos negativo e uma despolarização lenta canais de Na+ que provocam uma até ao limiar de excitação. despolarização rápida até ao pico de potencial. (semelhança aos neurónios) II. Antes de atingir o potencial de -40 mV abrem-se parte dos canais de Ca2+ (canais de + III. Os canais de Na fecham-se curta duração) que tornam o interior ainda rapidamente e há uma saída brusca mas menos negativo. temporária de K+ . Esta troca leva a um pequeno mas brusco abaixamento do III. Ao atingir o limiar de excitação abrem- potencial membranar (formação do pico). se os restantes canais de Ca2+ (canais de longo duração) que aceleram bruscamente o IV. O fecho dos canais de K+ e a processo despolarizando completamente manutenção da abertura de alguns canais de a membrana. inativação lenta de Ca2+ e Na+ garantem um lento (250ms)1 repolarizar da membrana IV. No pico do potencial membranar a (plateau da fase 2). Característica destas permeabilidade ao K+ é máxima e por isso células: periodo rafractário lento. Nos a saída de K+ do meio intracelular aumenta neurónios esta repolarização é rápida (1-2ms) bruscamente levando à repolarização da membrana. V. Os canais de inativação lenta de Ca2+ e Na+ são finalmente encerrados e dá-se a abertura dos canais de K+. Repolarização brusca e completa até ao potencial de repouso. Tabela 1. Comparação da forma de propagação do potencial de acção de células pacemaker e células cardíacas contrácteis. Comparando os sinais que dão origem ao potencial de acção nas células autorítmicas e nas células musculares cardiacas podemos verificar que enquanto que nas primeiras é o influxo estável e constante de Na+ o principal responsável pela formação do potencial de acção, nas outras células este papel cabe à entrada de Ca2+ na célula (tal como em células musculares esqueléticas). Quando se dá a passagem do potencial de acção pelos tubulos transversais induz-se a entrada de Ca2+ na célula de origem extracelular que por sua vez provoca a abertura de canais na superficie dos reticulos sarcoplasmaticos libertando ainda mais Ca2+ armazenado na célula. Desta forma a concentração de Ca2+ aumenta globalmente no citosol fazendo accionar o mecanismo de contracção da célula. Esta concentração e origem múltipla do Ca2+ permite não só aumentar o potencial de acção das células cardiacas (plateau da fase 2) como permite ainda prolongar o tempo de contracção muscular. Só assim é possível assegurar o tempo necessário para que o coração possa bombear o sangue completamente. 12
  • 8. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Fig 5. Trocas iónicas durante o potencial de acção em células autorítmicas Finalmente, podemos observar que a concentração de K+ e Ca2+ é, pela intervenção nos vários mecanismos iónicos, crucial,quer a concentração intracelularquer extracelular. Qualquer alteração nas concentrações pode alterar a permeabilidade da membrana para os iões intervenientes podendo levar a arítmias. ECG O ECG baseia-se no registo da actividade eléctrica do coração que se propaga até à superfície corporal acabando por acompanhar a actividade mecânica do mesmo. Este registo centra-se nos processos de excitação e repolarização que ocorrem a nível da membrana das células musculares cardíacas, tal como referido anteriormente, produzindo traçados de variações de voltagem que reflectem os eventos associados ao ciclo mecânico cardíaco. A actividade eléctrica registada tem como base os doze eléctrodos colocados em diferentes pontos do corpo de modo a conferir uma base comum para comparação e proporcionar o reconhecimento de desvios da normalidade. O traçado do electrocardiograma, em condições normais, inclui as ondas representadas na figura Y. 12
  • 9. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Fig 6. Ondas P – despolarização auricular Complexo QRS – despolarização ventricular Ondas T – despolarização ventricular O ECG é normalmente utilizado para diagnóstico de problemas cardíacos tais como arritmias, insuficiências cardíacas, danos no músculo cardíaco, etc., pela análise do seu traçado. Actividade Mecânica Consiste em períodos alternados de sístole (contracção e “enchimento”) e diástole (relaxamento e esvaziamento) que são iniciados pelo ciclo eléctrico rítmico e que controla o fluxo sanguíneo que passa pelo coração. Todo este processo leva a que o sangue siga o seu percurso na circulação pulmonar e sistémica, no sentido indicado pelo esquema (Fig. 7). Fig. 7 – Circulação pulmonar e circulação sistémica O som que se associa ao batimento cardíaco não é mais que o som do fecho das válvulas do coração, sendo a primeira “batida” o som do fecho das válvulas AV no decorrer da sístole ventricular (válvulas tricúspide e bicúspide), e a segunda “batida” o som do fecho das válvulas da artéria pulmonar e aorta (válvulas semilunares) no decorrer da diástole 12
  • 10. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Rendimento Cardíaco O rendimento cardíaco é o volume de sangue bombeado por ventrículo num minuto, e é determinado pelo ritmo cardíaco (batimentos do coração por minuto) e pelo volume sistólico (volume de sangue bombeado por batimento). O coração bate constantemente e bombeia o sangue através do corpo numa média de 72 batimentos por minuto, fazendo, assim, circular uma média de 9 000 litros por dia. O ritmo cardíaco e a quantidade de sangue bombeado varia com as diferentes necessidades do organismo. O coração bombeia aproximadamente cinco litros de sangue por minuto quando se está em descanso. Contudo, quando se está em actividade, o coração pode aumentar o seu rendimento para 15-25 litros por minuto O rendimento cardíaco pode sofrer grandes alterações características de situações de descanso em oposição a situações de máxima actividade. Esta diferença entre o rendimento cardíaco de um corpo em descanso e o volume máximo de sangue que o coração é capaz de bombear (situações limite) denomina-se de reserva cardíaca. Estas alterações no rendimento cardíaco dever-se-ão a alterações nos seus determinantes, ou seja, no ritmo cardíaco e no stroke volume. As variações a nível do ritmo cardíaco devem-se essencialmente à influência do sistema nervoso autónomo no nódulo sinoatrial (o pacemaker do coração) visto anteriormente. As duas divisões do sistema nervoso autónomo, parassimpático e simpático, têm efeitos antagónicos quanto ao ritmo cardíaco. Enquanto o parassimpático provoca um abrandamento no ritmo cardíaco, o simpático é responsável pelo seu aumento. Quando há um aumento na actividade do parassimpático é libertado, um neurotransmissor, a Acetilcolina, que se ligará a receptores nas células do nódulo sinoatrial, nestas encontram-se canais de potássio sensíveis à mesma que fecharam mais lentamente, aumentando a permeabilidade do nódulo sinoatrial a K+. Assim as células hiperpolarizam (tornam-se mais negativas no interior) levando a célula a demorar mais tempo a atingir o limite, baixando o ritmo cardíaco. Associa-se então o sistema parassimpático ao controle do coração em situações de descanso. Como já vimos o efeito do sistema simpático é antagónico ao do parassimpático, assim a substância libertada para a estimulação do nódulo sinoatrial neste caso, é a norepinefrina, que diminui a permeabilidade da membrana celular ao potássio, pois acelera a inactivação dos canais do mesmo, aumenta assim a sua taxa de despolarização atingindo o limite mais rapidamente. É por os iões de K+ não saírem em tão grande número da célula que o efeito de despolarização aumenta, no entanto para este aumento também contribui o aumento de permeabilidade ao cálcio promovido pela fosforilação dos seus canais, atingindo-se assim o limite mais rapidamente, sendo os potenciais de acção gerados mais frequentemente. O efeito do sistema simpático é ligado a situações de esforço físico e emergência. O stroke volume é influenciado por dois tipos de controlo, o controlo intrínseco (relacionado com a quantidade de sangue venoso que regressa ao coração) e o controlo extrínseco (associado à estimulação do sistema simpático 12
  • 11. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 ao coração). No entanto ambos os controlos servem para aumentar a quantidade de sangue bombeado por um ventrículo num batimento, aumentando a força de contracção do coração. O controlo intrínseco não é mais que a relação directa entre o volume final da diástole (volume de sangue nos ventrículos mesmo antes da sístole) e o stroke volume (volume de sangue bombeado por batimento), este controlo depende da relação comprimento-tensão do músculo cardíaco. Assim, ao receber maior volume de sangue venoso vindo da circulação sistémica, as fibras musculares cardíacas tornam-se mais distendidas, pois verificar-se-á um preenchimento diastólico maior (mais sangue que regressa ao coração). Assim, quando estas mesmas fibras se contraem para realizar a sístole, fazem-no com mais força, se a força de contracção aumenta, aumenta consequentemente o volume de sangue bombeado no batimento (stroke volume). Este controlo intrínseco é resumido na Lei do Coração de Frank-Starling que diz: “O coração normalmente bombeia todo o sangue que a ele regressa; aumentar a quantidade de sangue venoso que regressa ao coração implica aumentar o volume de sangue bombeado por batimento.” Como o próprio nome indica o controlo extrínseco é desencadeado por factores exteriores ao coração, dois dos mais importantes são a estimulação do sistema simpático e a epinefrina, que aumentam a contractabilidade do coração (força de contracção para qualquer volume no final da diástole). Este aumento na força de contracção do coração deve-se ao aumento de Ca2+ no citosol promovido pela epinefrina libertada nos nervos terminais do sistema simpático, que permite às fibras do miocárdio distenderem e assim gerar mais força aquando do bombeamento (relação comprimento-tensão). No entanto, a estimulação do simpático não aumenta o stroke volume apenas porque aumenta a força de contracção cardíaca, mas também porque faz com que a quantidade de sangue venoso que chega ao coração seja maior também, pois constringe as veias, que consequentemente comprimi o sangue que irá mais rapidamente para o coração. Como vimos, o rendimento cardíaco é determinado por dois factores: ritmo cardíaco e stroke volume, que por sua vez são controlados por mecanismos diferentes, com actuação de substâncias e sistemas diferentes. No entanto todo este funcionamento tende para que um estado de equilíbrio seja encontrado, e o coração consiga responder quer às situações de maior relaxamento e descanso, quer às situações de intensa actividade física e stress. Músculo do Coração 12
  • 12. Fisiologia Celular: Fisiologia do Coração Outubro 2004 Nesta última parte da exposição analisamos a parte muscular do coração. O músculo cardíaco denomina-se miocárdio. O músculo cardíaco é estriado, onde as células que o constituem, denominadas cardiomiócitos, apresentam sarcómeros tal como as do músculo esquelético. Os parâmetros utilizados para caracterizar o músculo cardíaco são a força, encurtamento e velocidade de encurtamento, trabalho e potência. Fig.8 - Cardiomiócitos O músculo cardíaco é abastecido com oxigénio e nutrientes a partir do sangue posto em circulação (circulação coronária) e não por difusão do sangue nas paredes do coração. A circulação coronária pode ser afectada pela formação de placas arteroescleróticas. A causa para a formação destas não é bem conhecida mas admite-se que está relacionado com a proporção do colesterol trasnportado por HDL (Lipoproteinas de alta densidade) e LDL (Lipoproteinas de baixa densidade) Bibliografia [1] CORREIA, Pedro Pezarat, ESPANHA, Margarida, OLIVEIRA, Raul, PASCOAL, Augusto Gil, SILVA, Paulo Armada da, Anatomofisiologia (2001), Tomo III – Função da Vida Orgânica Interna, Universidade Técnica de Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana, Ciências da Motricidade, FMH Edições [2] Human Physiology, Chapter 9 – Cardiac Physiology, pg. 289-321, 12